ISSN 1679-5954 Revista da Associação Brasileira de Ensino Odontológico - volume 9 - número 1 - janeiro/junho - 2009 REVISTA DA ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico ABENO volume 9 número 1 janeiro/junho 2009 Associação Brasileira de Ensino Odontológico ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico Copyright © Associação Brasileira de Ensino Odontológico, 2005 Todos os direitos reservados . Proibida a reprodução no todo ou em parte, por qualquer meio, sem autorização da ABENO . Catalogação-na-publicação (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo) Revista da ABENO/Associação Brasileira de Ensino Odontológico . – Vol . 1, n . 1, (jan .-dez . 2001) . – São Paulo : ABENO, 2001Semestral ISSN# 1679-5954 A partir de 2005, vol . 5, n . 1, a publicação passa a ser semestral . 1 . Odontologia (Periódicos) I . Associação Brasileira de Ensino Superior (São Paulo) II . ABENO CDD 617 .6 BLACK D05 ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico DirEtoriA (2006 a 2010) Presidente Alfredo Júlio Fernandes Neto Vice-Presidente Orlando Ayrton de Toledo Secretário geral Odorico Coelho da Costa Neto 1º Secretário Vanderlei Luis Gomes tesoureiro geral Ricardo Alves Prado 1º tesoureiro Sérgio de Freitas Pedrosa CoNSELHo FiSCAL Eduardo Gomes Seabra (Presidente) Luiz Alberto Plácido Penna Maria da Glória Chiarello Matos Omar Zina Rita de Cássia Martins Moraes ASSESSorES Do PrESiDENtE Antonio Cesar Perri de Carvalho Elen Marise de Oliveira Oleto Horácio Faig Leite José Dilson Vasconcelos de Menezes José Galba de Meneses Gomes José Thadeu Pinheiro Luiza Isabel Taveira da Rocha Mario Uriarte Neto Oscar Faciola Pessoa Reinaldo Brito e Dias Ricardo Prates Macedo ComiSSão DE ENSiNo Elaine Bauer Veeck (Presidente) Cresus Vinícius Depes de Gouveia Efigenia Ferreira e Ferreira Léo Kriger Nilce Emy Tomita Rui Vicente Oppermann ComiSSão DE PÓS-grADuAÇão Sigmar de Mello Rode (Presidente) Adair Luis Stefanello Busato Ana Cristina Barreto Bezerra Antônio de Lisboa Lopes Costa Célio Percinoto Hilda Maria Montes R . de Souza Isabela Almeida Pordeus José Carlos Pereira Lino João da Costa Nilza Pereira da Costa Samuel Jorge Moyses ComiSSão DE ComuNiCAÇão Vera Lúcia Silva Resende (Presidente) Ângelo Giuseppe Roncalli C . Oliveira Cléo Nunes de Souza Nelson Rubens Mendes Loretto Sumário Publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Editor Científico Vera Lúcia Silva Resende (UFMG) Editores Adjuntos Ângelo Guiseppe Roncalli C. Oliveira (UFRN) Kátia Regina Hostilio Cervantes Dias (UFRJ/UERJ) Luísa Isabel Taveira Rocha (UFG) Nelson Rubens Mendes Loretto (UPE) Conselho Editorial Adair Luis Stefanello Busato (ULBRA-RS) Ana Christina Claro Neves (UNITAU) Ana Cristina Barreto Bezerra (UCB) Ana Isabel Fonseca Scavuzzi (UNIME/UEFS) Antonio César Perri de Carvalho Antônio de Lisboa Lopes Costa (UFRN) Arnaldo de França Caldas Júnior (UPE) Carlos de Paula Eduardo (FO-USP) Carlos Estrela (UFG) Célio Jesus do Prado (UFU) Célio Percinoto (FOA-UNESP) Cresus Vinícius Depes de Gouveia (UFF) Eduardo Batista Franco (FOB-USP) Eduardo Dias de Andrade (UNICAMP) Eduardo Gomes Seabra (UFRN) Efigenia Ferreira e Ferreira (UFMG) Elaine Bauer Veeck (PUC-RS) Elen Marise de Oliveira Oleto (UFMG) Gersinei Carlos de Freitas (UFG) Hilda Maria Montes Ribeiro de Souza (UERJ) Horácio Faig Leite (FOSJC-UNESP) Isabela Almeida Pordeus (UFMG) Jesus Djalma Pécora (FORP-USP) João Humberto Antoniazzi (FO-USP) José Carlos Pereira (FOB-USP) José Luiz Lage-Marques (FO-USP) José Ranali (UNICAMP) José Thadeu Pinheiro (UFPE) Léo Kriger (PUC-PR) Liliane Soares Yurgel (PUC-RS) Lino João da Costa (UFPB) Luiz Alberto Plácido Penna (UNIMES) Luiz Clovis Cardoso Vieira (UFSC) Manuel Damião de Sousa Neto (UNAERP) Marco Antonio Campagnoni (FOAR-UNESP) Maria Celeste Morita (UEL) Maria da Gloria Chiarello Matos (FORP-USP) Maria da Graça Kfouri Lopes (UnicenP) Maria Ercília de Araújo (FO-USP) Nilce Emy Tomita (FOB-USP) Nilza Pereira da Costa (PUC-RS) Omar Zina (UNIVAG) Oscar Faciola Pessoa (UFPA) Raphael Carlos Comelli Lia (FEB-SP) Ricardo Prates Macedo (ULBRA-RS) Rui Vicente Oppermann (UFRS) Samuel Jorge Moyses (PUC-PR) Sigmar de Melo Rode (FOSJC-UNESP) Simone Tetu Moysés (UFPar) Vanderlei Luís Gomes (UFU) Vania Ditzel Westphallen (PUC-PR) Indexação A Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico está indexada nas seguintes bases de dados: BBO - Bibliografia Brasileira de Odontologia; LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde. v. 9, n. 1, janeiro/junho - 2009 Artigos Avaliação da importância do exame clínico para os alunos do curso de graduação da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - UNESP Evaluation of the importance of clinical examination for the undergraduate course students at São José dos Campos School of Dentistry - UNESP Glauber Marsi, Ana Cristina Mengue, Fernanda Bertini, Luiz Antônio Guimarães Cabral, Janete Dias Almeida. . . . . . . . . . . . . 5 Concepções de Avaliação da Aprendizagem: um estudo da perspectiva de docentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará Learning evaluation conceptions: a study from the perspective of the faculty of the Dentistry Course of the Pará University Center Jader Moreira da Silva, Otília Maria Lúcia Barbosa Seiffert, Oscar Faciola Pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O processo ensino-aprendizagem na percepção do graduando de odontologia The education and learning process as perceived by undergraduate dentistry students Nemre A. Saliba, Suzely A. S. Moimaz, Cristina B. Fadel, Livia S. Bino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM Diagnosis of biosafety in the clinics of the UFSM dentistry school Clacir Londero Zenkner, João Hélvio Righi de Oliveira, Claudia Londero Pagliarin, Fernando Branco Barletta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 A ética em pesquisa com seres humanos pelas lentes do cinema Ethics in clinical research through movies Ana Cristina Kovalik, Letícia Antonelo Campos, Driellen Christine Zarpellon, Juliana Schaia Rocha, Márcia Thaís Pochapski, Fábio André Santos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 A prática do processamento radiográfico em odontologia: uma análise qualitativa The radiographic processing practice in dentistry: a qualitative analisys Naiara Leites Larentis, Carlos Eduardo Winck Mahl, Alcebíades Nunes Barbosa, Vania Regina Camargo Fontanella, Airton Pozo de Matos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Revista da ABENO • 8(2):3-4 3 Perfil dos alunos de graduação envolvidos em projetos de Iniciação Científica na área de Bioquímica no período de 2006-2008 Publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Profile of undergraduate students involved in Scientific Initiation projects in the area of Biochemistry between 2006 and 2008 Flávia Godoy Iano, Amanda de Souza Almeida, Marília Afonso Rabelo Buzalaf, Rodrigo Cardoso de Oliveira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Estudo de caso como estratégia de ensinagem e avaliação na disciplina Saúde Coletiva do curso de Odontologia da UNIVALI Case study as a strategy for teaching and evaluation in the discipline of Public Health at the Dental School of UNIVALI Rubens Nazareno Garcia, Emerson da Silveira, Cristina Henschel de Matos, Tatiana Mezadri, Rosangela Aparecida Borba, Roberto Rogério Molleri, Raphael Nunes Bueno, Mário Uriarte Neto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Variabilidade na detecção das lesões cariosas e planos de tratamento para superfícies oclusais entre acadêmicos do último ano de um curso de odontologia Variability in caries detection and treatment plans for occlusal surfaces among undergraduate senior dental students Renato Pereira da Silva, Miguel Morano-Júnior, Fábio Luiz Mialhe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 A formação do cirurgião-dentista nos cursos de odontologia do Ceará Dentist’s training in Ceará dentistry courses Filomena Maria da Costa Pinheiro, Silvia Maria Nóbrega-Therrien. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 A formação e o novo perfil do docente universitário The education and new profile of university teaching staff Daniela Goursand, Saul Martins Paiva, Maria de Lourdes Rocha de Lima. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Conceito de saúde: a percepção de docentes e acadêmicos do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) - UNIVALI The concept of health: perceptions of teachers and students of the Dentistry Program of the University of Vale do Itajaí (SC) - UNIVALI Elisabete Rabaldo Bottan, Gregory Hacke Azambuja, Marcela Müller Silva, Luciane Campos, Eliane Garcia da Silveira, Mário Uriarte Neto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 Apêndices Índice de artigos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Normas para apresentação de originais. . 4 Revista da ABENO • 8(2):3-4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 Avaliação da importância do exame clínico para os alunos do curso de graduação da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos UNESP Glauber Marsi*, Ana Cristina Mengue*, Fernanda Bertini**, Luiz Antônio Guimarães Cabral***, Janete Dias Almeida*** *Cirurgiões-Dentistas, Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, FOSJC-UNESP **Cirurgiã-Dentista, Mestre e Aluna do Curso de Pós graduação, nível Doutorado, FOSJC-UNESP, Programa de Pós Graduação em Biopatologia (Departamento de Biociências e Diagnóstico Oral) ***Professores Adjuntos da Disciplina de Semiologia, FOSJC-UNESP, Programa de Pós Graduação em Biopatologia (Departamento de Biociências e Diagnóstico Oral) Resumo O exame físico e a anamnese são etapas primordiais, além de fundamentais em qualquer área de saúde, visando diagnósticos precisos e tratamentos adequados. O objetivo desse estudo foi avaliar a importância dada pelos alunos, quanto ao processo diagnóstico. 150 alunos voluntários foram avaliados através de um questionário, considerando a importância dada ao exame físico pormenorizado e à anamnese. Os resultados foram analisados por estatística descritiva. 45,6% dos voluntários deixaram de fazer algum tipo de pergunta; 3,88% dos alunos do Noturno e 26,21% do Integral não costumam explicar aos seus pacientes a importância da anamnese; sendo que 66,99% dos alunos costumam avaliar o sistema estomatognático como um todo; e somente 47,57% destes sentem-se motivados a realizar o exame físico extra e intrabucal completo nas clínicas. Frente aos resultados verifica-se a necessidade de novos estudos utilizando outros métodos de avaliação, incluindo avaliações da prática clínica, para o aperfeiçoamento do processo ensinos/ aprendizado. Descritores Exame Clínico. Anamnese. Diagnóstico. Pesquisa. A observação de algum indício de doença (sinal e/ ou sintoma) é o que leva o paciente, na maioria dos casos, a procurar um profissional da saúde (Kerr et al.,1977; Yellowitz et al.,1998; Smith et al., 2000; Tommasi, 2002), cabendo a este último a responsabilidade quanto a elucidação do diagnóstico, aplicação dos recursos terapêuticos pertinentes e acompanhamento do paciente (Kerr et al.,1977; Zegarelli et al., 1978; Yellowitz et al.,1998; Smith et al., 2000; Tommasi, 2002) No que tange ao diagnóstico, ou a elaboração do diagnóstico diferencial, é de suma importância que o profissional atenha-se ao exame clínico, não só quanto as alterações físicas presentes, bem como à anamnese, valorizando também a história médica (Kerr et al.,1977; Amiel et al.,1997; Smith et al., 2000; Mossey et al.,2001; Tommasi, 2002). Nos casos de alterações nas estruturas bucais e/ ou anexas, cabe ao cirurgião dentista a identificação e o diagnóstico (Kerr et al.,1977; Yellowitz et al.,1998; Smith et al., 2000; Mossey et al.,2001; Burzynski et al.,2002; Tommasi, 2002). O exame clínico das estruturas do complexo maxilo-mandibular e anexos deve ser sistemático, ordenado e completo, possibilitando averiguar a presença de alterações nos tecidos duros e moles (Atterbury e Vazirani, 1968; Smith et al., 2000; Tommasi, 2002). Revista da ABENO • 9(1):5-10 5 Avaliação da importância do exame clínico para os alunos do curso de graduação da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos UNESP • Marsi G, Mengue AC, Bertini F, Cabral LAG, Almeida JD Deve o paciente ser conscientizado da necessidade de exames clínicos realizados em espaço máximo de um ano, para permitir a identificação precoce de processos patológicos que venham a se desenvolver (Burzynski et al., 2002; Pedroni et al., 2003). O exame clínico está afeito a dois procedimentos: a anamnese e o exame físico. A anamnese é composta pela identificação do paciente, da queixa principal, da história da doença atual, da história buco-dental, da história médica, dos antecedentes familiares e dos hábitos nocivos e de higiene (Kerr et al.,1977; Zegarelli et al., 1978; Mitchell et al., 1978; Coleman and Nelson,1993; Yellowitz et al.,1998; Smith et al., 2000; Tommasi, 2002). O exame físico é composto pelo aspecto geral do paciente, desde a primeira impressão, e os exames intra e extra-bucais (Kerr et al.,1977; Mitchell et al., 1978; Coleman and Nelson,1993;; Yellowitz et al.,1998; Smith et al., 2000; Tommasi, 2002). A anamnese (ana + amnese) é uma palavra de origem grega, que basicamente significa: “o que não pode ser esquecido”. Esse processo tem início a partir da avaliação da queixa principal, se presente, e evolui paralelamente às observações clínicas presentes. Na prática, a anamnese deve ser encarada como a história evolutiva da doença, desde as suas manifestações prodrômicas (manifestações iniciais ou precursoras de uma doença ou crise) até o estágio em que se encontra o paciente (Smith et al., 2000). Na realização da mesma, o paciente pode referir dados que levem a suspeitar da concomitância de outras patologias, de ordem local ou sistêmicas (Atterbury and Vazirani, 1968; Coleman and Nelson,1993;; Smith et al., 2000; Burzynski et al.,2002). O exame físico pode ou não preceder a anamnese, e tem por objetivo a pesquisa de sinais, que indiquem a presença de alguma alteração patológica, realizado por manobras clássicas, através dos sentidos, a saber: inspeção visual, palpação, percussão, auscultação e olfato (Kerr et al.,1977; Zegarelli et al., 1978; Coleman and Nelson,1993; Burzynski et al.,2002; Smith et al., 2000; Tommasi, 2002). Dessas manobras, considerando-se o complexo maxilo-mandibular, a inspeção visual, direta ou indireta, e a palpação digital são as mais utilizadas (Atterbury and Vazirani, 1968; Mitchell et al., 1978; Smith et al., 2000). Na primeira impressão, ou seja, quando profissional e paciente têm o primeiro contato, são observados: características físicas, tais como o tamanho corporal, as proporções anatômicas, a forma facial, a postura, os movimentos (a maneira como caminha, 6 por exemplo) e outras características que o cirurgiãodentista julgar importantes, além da observação da idade aparente, do sexo, da raça, bem como características psico-emocionais do paciente (Coleman e Nelson, 1993; Nicodemo e Rode, 2002; Tommasi, 2002). No exame extra-bucal devem ser observados pele da face, do pescoço, dos lábios, dos maxilares, presença de linfonodos palpáveis da região e aspectos das glândulas salivares maiores quanto à cor, à forma / simetria e à consistência: (Atterbury and Vazirani, 1968; Kerr et al.,1977; Mitchell et al., 1978; Coleman and Nelson,1993; Yellowitz et al.,1998; Smith et al., 2000). No exame intra-bucal devem ser observados mucosa labial e da bochecha, palato mole e duro, orofaringe, soalho da boca, língua, gengiva, dentes, e rebordo alveolar quanto à cor, à forma / simetria e à consistência: (Atterbury and Vazirani, 1968; Kerr et al.,1977; Mitchell et al., 1978; Zegarelli et al., 1978; Coleman and Nelson,1993; Yellowitz et al.,1998; Smith et al., 2000; Tommasi, 2002). O registro de todas as impressões obtidas através da realização da anamnese e exame clínico apurado fazem parte do processo diagnóstico, o que é esperado em propedêutica estomatológica, que culmina no entendimento sistêmico do processo. Ainda, é um instrumento legal de relevância, sendo, portanto, uma fonte segura para obtenção de dados estatísticos epidemiológicos que auxiliam para conhecer melhor a história natural das doenças (Burzynski et al.,2002; Tommasi, 2002; Pedroni et al.,2003;Jünger et al.,2005). Tendo em vista que o exame físico objetivo e a anamnese corresponderem à etapa primordial (Amiel et al.,1997; Mossey et al.,2001; Burzynski et al.,2002), além de serem fundamentais em qualquer atendimento na área de saúde, este trabalho visa avaliar o grau de aprendizado e a importância dada pelos alunos (Burzynski et al.,2002; McCann et al.,2005; Schoonheim-Klein et al.,2005), que já adquiriram conhecimento quanto ao processo diagnóstico, procurando observar se os mesmos vêm efetivamente praticando o que foi transmitido (Mossey et al.,2001; Burzynski et al.,2002; Jünger et al.,2005; McCann et al.,2005; Schoonheim-Klein et al., 2006). Tal avaliação justifica-se à medida que profissionais graduados não realizam exame clínico pormenorizado, o que pode levar a diagnósticos imprecisos e tratamentos inadequados (Thompson and Boyle, 1996; Amiel et al.,1997; Burzynski et al.,2002; Jünger et al.,2005; McCann et al.,2005; Schoonheim-Klein et al., 2006;). A reflexão quanto ao processo ensino / aprendizagem é neces- Revista da ABENO • 9(1):5-10 Avaliação da importância do exame clínico para os alunos do curso de graduação da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos UNESP • Marsi G, Mengue AC, Bertini F, Cabral LAG, Almeida JD sária para o aperfeiçoamento do mesmo (Boone et al., 2001; Mossey et al.,2001; Remmen et al.,2001; Burzynski et al.,2002; Zartman et al.,2002; Macluskey et al.,2004; Jünger et al.,2005; Schoonheim-Klein et al., 2005; Schoonheim-Klein et al., 2006). Material e Método Voluntários Os alunos do 3° e 4o ano do Curso Integral e 4° e 5° do Curso Noturno da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos – UNESP foram convidados a participar como voluntários desta pesquisa, considerando-se que os mesmos já haviam adquirido conhecimento do processo diagnóstico. Os voluntários que aceitaram participar da pesquisa foram informados sobre os objetivos do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. O trabalho de pesquisa ora apresentado foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos – UNESP, sob protocolo 035/04-PH/ CEP, em anexo. Questionário Os voluntários responderam a um questionário (Anexo A), de 13 perguntas sobre o processo diagnóstico, sendo que cinco perguntas eram de múltipla escolha, sete passíveis de resposta “sim” ou “não” juntamente com um espaço para a justificativa da resposta e apenas uma questão dissertativa. Análise dos Dados Os dados foram analisados usando a distribuição de freqüência das respostas obtidas dos questionários pelo programa computacional MINITAB (versão 12.0, 1998). Foram analisadas as proporções das respostas obtidas, levando em conta o ano e o período que o aluno está cursando. Consideramos o grau de importância dado ao exame físico pormenorizado e à anamnese pelos alunos participantes da pesquisa, de acordo com as respostas representativas inerentes ao processo diagnóstico. Resultados Dos 150 questionários distribuídos para os alunos voluntários, foram respondidos 103, dos quais 77 (74,76%) eram do Curso Integral e apenas 26 (25,24%) do Curso Noturno. Quanto à importância de se fazer uma anamnese completa, todos responderam positivamente. Quando foi perguntado se o aluno deixou de fazer algum tipo de pergunta durante a anamnese por se sentir constrangido ou por não achar importante, 47 alunos (45,6%) entre os Cursos Integral e Noturno responderam sim. Quanto aos itens que seriam importantes conter na ficha clínica, todos tiveram aprovação maior ou igual a 93,2% (96 alunos entre os Cursos Integral e Noturno). Foi relatado por 1 aluno do Curso Integral e 1 aluno do Curso Noturno (correspondentes a 1,94%) que houve 1 paciente que se recusou a responder a toda a anamnese; e 6 alunos do Curso Integral e apenas 1 aluno do Curso Noturno (correspondentes a 6,79%) tiveram pacientes que se recusaram a responder alguma pergunta específica da anamnese. Não costumam explicar aos seus pacientes porque a anamnese deve ser feita 4 alunos do Curso Noturno (3,88%) e 27 alunos do Curso Integral (26,21%). Quando questionado se o aluno considera importante um exame físico apurado com exame intra e extrabucal, 103 alunos (100%) responderam sim. Quanto ao exame físico extrabucal foi observado que apenas 61 alunos (59,22%) consideram a palpação da glândula parótida importante, e 103 alunos (100%).consideram a aferição da pressão arterial importante. Cerca de cinqüenta e cinco alunos (53,39%) responderam que não conseguem realizar adequadamente algumas etapas do exame físico extrabucal, sendo que a palpação de linfonodos e da glândula parótida são as menos executadas durante o exame físico (57,28% e 87,37% respectivamente). Em relação ao exame físico intrabucal, foi constatado que 75 alunos (72,81%) não observam a região da orofaringe, 39 alunos (37,86%) não realizam e sondagem periodontal e 37 alunos (35,92%) não observam o desenvolvimento da oclusão; valores menores ou iguais a 13,59% foram encontrados em relação a não observância dos seguintes itens: mucosa labial (7,76%), mucosa oral (3,88%), palato duro (3,88%), palato mole (12,62%), soalho da boca (13,59%), língua (1,94%), gengiva (1,94%), dentes (1,94%) e rebordo alveolar (9,70%). Em relação à motivação dos alunos em realizar o exame físico extra e intrabucal completo nas clínicas, somente 47,57% (37 alunos do Curso Integral e 12 alunos do Curso Noturno) responderam sim. Discussão Burzynski, et al., 2002 afirmam que ainda existem grandes deficiências quanto ao exame físico na prevenção e controle do câncer bucal, o que mostra a Revista da ABENO • 9(1):5-10 7 Avaliação da importância do exame clínico para os alunos do curso de graduação da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos UNESP • Marsi G, Mengue AC, Bertini F, Cabral LAG, Almeida JD ANEXO A - Questionário 01)Você considera importante fazer a anamnese? ( ) Sim ( ) Não Por quê: 09)Qual desses passos abaixo você realiza durante o exame 02)Marque um X nos itens que você considera ser importante na ficha clínica: ( ) História médica ( ) História da doença atual ( ) História buco-dental ( ) História médica familiar ( ) Hábitos nocivos e higiênicos físico extrabucal nas clínicas da faculdade? ( ) Observação dos aspectos gerais do paciente (ex: porte físico, deambulação, alterações de pele, etc) ( ) Palpação de linfonodos ( ) Palpação da glândula parótida ( ) Verificação do pulso ( ) Verificação da pressão arterial 10)Marque um X nos itens que você considera importante 03)Durante a anamnese você já deixou de fazer algum tipo de pergunta ao paciente por se sentir constrangido ou por não achá-la importante? ( ) Sim ( ) Não 04)Algum paciente que você estava atendendo já se recusou a responder: • a toda a anamnese? ( ) Sim ( ) Não • a alguma pergunta específica da anamnese? ( ) Sim ( ) Não Qual: 05)Você costuma explicar ao paciente porque a anamnese deve ser feita? ( ) Sim ( ) Não 06)Você considera importante um exame físico apurado com exame extrabucal (palpação de linfonodos e da glândula parótida, observação do aspecto geral da face) e exame intrabucal (observação completa e minuciosa dos tecidos moles e duros)? ( ) Sim ( ) Não Por quê: 07)Marque um X nos itens que você considera importante em relação ao exame físico extrabucal: ( ) Verificação do pulso ( ) Verificação da pressão arterial ( ) Observação do aspecto geral da face, cabeça e pescoço ( ) Palpação de linfonodos ( ) Palpação das glândulas salivares maiores 08)Você consegue realizar adequadamente os procedimentos do exame físico extrabucal? Caso responda não, especifique qual o procedimento: ( ) Sim ( ) Não relevância da pesquisa realizada. Considerando que o processo ensino / aprendizagem deve ser implementado, é necessário conhecer as deficiências para a busca de metodologia que possa minimizá-las. 8 Qual: observar em relação ao exame físico intrabucal: ( ) Mucosa labial ( ) Demais mucosas de revestimento bucal ( ) Palato duro ( ) Palato mole ( ) Soalho da boca ( ) Língua ( ) Gengiva ( ) Dentes ( ) Profundidade de sulco ( ) Aspectos oclusais ( ) Rebordo alveolar ( ) Orofaringe 11)Você costuma avaliar o sistema estomatognático como um todo quando você realiza o exame físico intrabucal numa disciplina específica da odontologia (por exemplo: dentística, endodontia, próteses...)? ( ) Sim ( ) Não 12)Qual dos itens abaixo você não costuma observar com freqüência durante os exames físicos intrabucais? ( ) Mucosa labial ( ) Mucosas de revestimento bucal ( ) Palato duro ( ) Palato mole ( ) Orofaringe ( ) Soalho da boca ( ) Língua ( ) Gengiva ( ) Dentes ( ) Profundidade de sulco ( ) Aspectos oclusais ( ) Rebordo alveolar 13)Você se sente motivado a realizar o exame físico extra e intrabucal completo nas clínicas? ( ) Sim ( ) Não Se não, por quê? Apesar de todos os alunos terem respondido que consideram importante realizar a anamnese, alunos do Cursos Integral e Noturno relataram que deixaram de fazer algum tipo de pergunta durante a anamnese Revista da ABENO • 9(1):5-10 Avaliação da importância do exame clínico para os alunos do curso de graduação da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos UNESP • Marsi G, Mengue AC, Bertini F, Cabral LAG, Almeida JD por se sentirem constrangidos ou por não acharem importante. Imprescindível salientar que alguns alunos do Curso Noturno e Integral não costumam explicar aos seus pacientes porque a anamnese deve ser feita. Do mesmo modo, foi verificado por Amiel, et al.,1997, que (75,1%) dos alunos entrevistados não realizam adequadamente a anamnese. Em (2005) Jünger, et al., observaram que a execução inapropriada da anamnese acarreta uma relação profissional / paciente pobre em confiança, concluindo que os mesmos alunos apresentam dificuldades quanto às técnicas clínicas para o diagnóstico. Embora todos os alunos tenham respondido que consideram importante realizar um exame físico apurado, com palpação de linfonodos, da glândula parótida, observação do aspecto geral da face e observação completa e minuciosa dos tecidos moles e duros intrabucais, cerca de (53,39%) responderam que não conseguem realizar adequadamente algumas etapas do exame físico extrabucal. Ainda, em relação ao exame físico extrabucal foi obtido que (87,37%) dos alunos, apesar de responderem que realizam a palpação da glândula parótida, (59,22%) não consideram esta etapa importante, o que se torna relativamete contraditório. Fato incomum foi observado durante a análise dos questionários quando alunos responderam que não costumam observar nem gengivas nem dentes durante o exame clínico intrabucal, o que pode ser devido a uma falta de atenção por parte destes durante a interpretação do mesmo, visto que geralmente estes dois ítens são os mais avaliados durante uma consulta. Quando questionado se o aluno costuma avaliar o sistema estomatognático como um todo, na realização do exame físico intrabucal numa disciplina específica da odontologia (por exemplo: dentística, endodontia, prótese, etc.), 66.99% responderam sim, porém somente 47,57% se sentem motivados em realizá-los de maneira completa nas clínicas. Schoonheim-Klein, et al.,2006 observaram que 81,3% justificativam a não realização de exame completo baseadas na falta de tempo disponível, falta de incentivo por parte dos docentes e fichas clínicas incompletas. À medida que muitos docentes têm um tempo reduzido para o desenvolvimento pleno e necessário entre teoria e clínica, muitos acabam se dedicando a uma anamnese e exame clínico mais específico à disciplina em que atuam, o que leva a uma ficha clínica muitas vezes incompleta sem perguntas e quesitos suficientes para que se tenha uma visão abrangente do estado de saúde do paciente. Os trabalhos de Bo- one, et al.,2001 e Zartman, et al.,2002 revelam que algumas vezes os membros do corpo docente menosprezam a importância do processo diagnóstico em todas as clínicas o que leva a não realização de determinados procedimentos. Remmen, et al.,2001 relataram que alunos que receberam uma educação reformulada submetidos à avaliação, obtiveram melhores resultados em relação àqueles que foram educados pelos métodos tradicionais. Jünger, et al., 2005 verificaram que alunos acompanhados de maneira mais intensa pelo professor acabam por obter melhor desempenho na comunicação durante a anamnese. Macluskey, et al., 2004 e Schoonhein-Klein, et al., 2005 propuseram que seja utilizada uma metodologia unificada de avaliação entre os docentes, evitando dessa forma diferentes resultados em relação a um único ponto, visto que a concepção do aprendizado dos alunos é influenciada pelo método de utilizado (Schoonhein-Klein, et al.,2006). Baseados nos resultados dessa pesquisa, observouse que a anamnese e o exame clínico pormenorizado ainda não são realizados de maneira adequada, muitas vezes devido a uma dificuldade por parte dos alunos, por falta de tempo disponível para a realização do mesmo, falta de incentivo por parte dos docentes e muitas vezes por uma ficha clínica incompleta. Métodos de avaliação longitudinal da performance e evolução clínica individual e em grupo dos alunos em processo de graduação devem ser realizados, visando identificar, reformular e corrigir as áreas deficientes, como foi proposto por Boone, et al.,2001, Mossey, et al.,2001, Remmen, et al.,2001 e Zartman, et al.,2002, Jünger, et al.,2005, McCann, et al.,2005. Conclusão Considerando as limitações do estudo, é possível concluir que são necessários novos estudos utilizando outros métodos de avaliação, incluindo prática clínica, para o aperfeiçoamento do processo ensino/ aprendizado. Abstract Evaluation of the importance of clinical examination for the undergraduate course students at São José dos Campos School of Dentistry UNESP Physical examination and anamnesis are foremost and fundamental in any health area in order to obtain precise diagnosis and suitable treatment. The objective of this study was to evaluate the importance given Revista da ABENO • 9(1):5-10 9 Avaliação da importância do exame clínico para os alunos do curso de graduação da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos UNESP • Marsi G, Mengue AC, Bertini F, Cabral LAG, Almeida JD by the students to the diagnosis process. A total of 150 volunteer students were evaluated through a questionnaire taking into consideration the importance given to detailed physical examination and anamnesis. The results were analyzed by descriptive statistics: 45.6% of the volunteers failed to ask some kind of question; 3.88% of the students from the night course and 26% from the comprehensive course are not used to explaining the importance of anamnesis to their patients; 66.99% of the students are used to evaluating the stomatognathic system as a whole; and only 47.57% of the students feel motivated to perform the complete extra- and intra-oral physical examination in the clinic. In view of the results, we can see that there is a need for new studies using other evaluation methods, including evaluation of clinical practice, in order to improve the teaching/learning processes. Descriptors Clinical Examination. Anamnesis. Diagnosis Research. § disease, diagnosis and treatment for medical students and doctors in the United Kingdom. Br J Oral Maxillofac Surg. 2005; 43(1):61-4. 10. Mitchell, DF.; Standish, SM.; Fast, TB. Oral Diagnosis/Oral Medicine – 3rd ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1978. 11- Mossey, PA.; Newton, JP.; Stirrups, DR. Scope of the OSCE in the assessment of clinical skills in dentistry. British Dental Journal 2001;190(6):.323-26. 12. Nicodemo, D.; Rode, SM. Orientações psicológicas para o manejo clínico dos pacientes com indicação de prótese ocular. RPG – Revista de Pós-Graduação 2002;.9(3,):224-31. 13. Pedroni, CR.; de Oliveira, AS.; Guaratini, MI. Prevalence study of signs and symptoms of temporomandibular disorders in university students. 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Training in oral 10 Revista da ABENO • 9(1):5-10 Recebido em 07/04/2009 Aceito em 29/06/2009 Concepções de Avaliação da Aprendizagem: um estudo da perspectiva de docentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará Jader Moreira da Silva*, Otília Maria Lúcia Barbosa Seiffert**, Oscar Faciola Pessoa*** *Professor Mestre do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará **Professora Doutora do Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde – CEDESS da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP ***Professor Doutor da Disciplina de Endodontia do Curso de Odontologia do CESUPA RESUMO O propósito deste artigo é apresentar resultados parciais de um estudo sobre concepções e práticas de avaliação de aprendizagem de docentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará - CESUPA. O objetivo principal é analisar as concepções e significados atribuídos pelos docentes às atividades avaliativas discentes. O percurso metodológico compreendeu uma revisão bibliográfica sobre avaliação do processo-ensino aprendizagem, a seleção de depoimentos oriundos de questionário semi-estruturado aplicado junto a 16 docentes do Curso de Odontologia; sistematização, análise e discussão dos resultados, orientadas pela técnica de análise de conteúdo. Os resultados revelam o predomínio de uma concepção formativa de suas práticas avaliativas, além da presença de uma prática docente mais crítica e transformadora. DESCRITORES Avaliação da Aprendizagem. Avaliação Formativa. Curso de Odontologia. Educação em Odontologia. CESUPA. N o intuito de transformar o ambiente de formação em espaços dinâmicos e participativos, necessário se faz compreender dentre os muitos aspectos do trabalho pedagógico docente, o papel da avaliação da aprendizagem. Neste sentido, deve-se reconhecer a premissa que a reflexão sobre o processo de formação demanda considerar que a avaliação do discente pode favorecer a coleta de evidências sobre a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, do projeto político pedagógico, e, conseqüente, sinalizações para a transformação necessária. Conhecer os fundamentos que orientam as práticas avaliativas projetadas e executadas por docentes, pode corresponder a um referencial para tomada de decisões por parte da instituição formadora, do professor e do estudante. Assim sendo, se estará oportunizando a esses atores sociais a análise e compreensão de um dos aspectos importantes do/no processo de formação, ou seja, a oportunidade de verificar se os objetivos propostos no projeto político pedagógico estão qualitativamente sendo atingidos. Partindo desta orientação, a seguinte questão norteou este estudo: O que é avaliação para você? Buscar respostas a esta indagação e socializar os resultados representam compromisso de poder oferecer possíveis subsídios às instituições formadoras de odontólogos à medida que se possa induzir reflexões e debates sobre o trabalho docente. Neste sentido, o objetivo principal deste trabalho é analisar as concepções de avaliação de docentes de Odontologia do Centro Universitário do Pará (CESUPA), apreendendo o seu significado no âmbito da formação profissional de um Cirurgião Dentista. Revista da ABENO • 9(1):11-6 11 Concepções de Avaliação da Aprendizagem: um estudo da perspectiva de docentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará • Silva JM, Seiffert OMLB, Pessoa OF METODOLOGIA O processo de desenvolvimento deste estudo compreendeu momentos distintos, porém interligados. A revisão bibliográfica sobre avaliação do processo ensino-aprendizagem constituindo-se num marco do ponto de partida da investigação e uma referência contínua ao levantamento, análise e discussão de informações sobre a avaliação do discente em diferentes atividades curriculares. Para o levantamento dos dados empíricos, ou seja, das concepções de professores, foram utilizadas as respostas de um questionário semi-estruturado, elaborado por uma especialista em Avaliação Educacional, cujo objetivo foi coletar informações sobre as práticas avaliativas em diferentes Cursos de Graduação do CESUPA. A aplicação se efetivou na fase inicial de uma Oficina de Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem, realizada em janeiro de 2005, junto aos professores da área de Ciências da Saúde da instituição. Em se tratando do Curso de Odontologia, participaram 39% (16) de um total de 41 professores. A etapa analítica compreendeu a leitura das respostas, dimensionamento de eixos temáticos a partir dessa leitura, escolha de depoimentos correspondentes aos eixos temáticos contemplados, bem como a análise e discussão dos dados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Analisar ao trabalho pedagógico docente, principalmente quando se trata de pares, merece inicialmente considerar a intenção em fazê-lo. Sabe-se que qualquer exposição pública de opiniões, concepções ou detalhes de nossa prática docente cotidiana em ambientes de formação pode deixar transparecer alguns momentos e movimentos da realidade que não se deseja enfrentar e/ou expor. Entretanto, este trabalho não tem o propósito de mostrar incertezas, inseguranças, dúvidas e os anseios, ou até as posições firmes e seguras de muitos professores experientes na instituição, mas sim, apresentar uma análise descritiva das concepções manifestadas pelos docentes, procurando dessa forma mobilizar reflexões sobre os depoimentos, na perspectiva de contribuir para essa busca constante e contínua pelo aperfeiçoamento da formação profissional superior através da auto-avaliação. Por tanto, a intenção neste momento é colocar em foco a palavra do professor, considerando-a como manifestação do cotidiano acadêmico, logo, reveladora de possíveis evidências sobre idéias e práticas que se desenvolvem e acontecem no espaço de formação do odontólogo. 12 Considerando a abrangência das respostas emitidas no questionário no que se refere à avaliação do processo ensino-aprendizagem, vários foram os aspectos abordados pelos docentes. No entanto, neste trabalho serão apenas considerados os depoimentos que entendemos manifestar as concepções sobre avaliação. Concepção é o “ato ou efeito de conceber, gerar ou de formar idéias”.5 A concepção de avaliação da aprendizagem determina uma série de diferenciados caminhos a percorrer na avaliação e no trabalho pedagógico como um todo.2 Desta forma, os professores devem estar conscientes das concepções que regem suas ações.8 As diversas concepções de avaliações da aprendizagem indicam vários procedimentos e conseqüências pedagógicas, pessoais e sociais em seus grupos de trabalho.3 Por tanto, assumi-las como ponto de reflexão implica considerar a possibilidade de desvelar evidências acerca das atividades da vida acadêmica e pessoal, pois orientam as ações das pessoas nas suas relações com outras pessoas, ou seja, com o mundo social concreto. As respostas dos docentes revelaram um elevado grau de homogeneidade e consistência, convergindo para duas modalidades avaliativas: • Formativa e • Somativa. Concepção Formativa Percebe-se uma relação, em sua maioria, direta com um processo de construção e que é parte integrante do processo de ensino-aprendizagem, além de subsidiar o alcance dos objetivos propostos pelo curso e pelas disciplinas, como expressam as respostas a seguir: “É um processo que visa colaborar com o ensino-aprendizado.” “É um item necessário e indispensável do processo ensinoaprendizagem.” “Processo continuado que deve ser usado para tentar comprovar se o processo de ensinagem terá bons resultados.” “Um processo contínuo, complexo e susceptível a diferentes formas interferência. Deve ser baseado no binômio professor-aluno, objetivando mensurar qualitativa e quantitativamente o processo ensino-aprendizagem. Contudo respeitando as especificidades do grupo em que é aplicado e sujeito a constantes processos de transformação.” “É o processo que permite traçar o perfil do aluno a partir Revista da ABENO • 9(1):11-6 Concepções de Avaliação da Aprendizagem: um estudo da perspectiva de docentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará • Silva JM, Seiffert OMLB, Pessoa OF Poder-se-ia dizer que a aprendizagem, de acordo com a corrente construtivista, é processo ativo e de construção do sujeito, complexo, integral e se conforma a partir das estruturas conceituais prévias. A aprendizagem, por conseguinte, é uma entendimento imediato pelo aluno das noções em estudo, ou no entendimento de todos em tempos equivalentes. Essencialmente, porque não há paradas ou retrocessos nos caminhos da aprendizagem. Todos os aprendizes estarão sempre evoluindo, mas em diferentes ritmos e por caminhos singulares e únicos. O olhar do professor precisará abranger a diversidade de traçados, provocando-os a prosseguir sempre.8 “construção por meio da qual se modifica a estrutura da “Elemento do processo de ensino-aprendizagem que deve mente, alcançando assim uma maior diversidade, comple- fornecer dados sobre a evolução, crescimento ou não do xidade e integração, cada nova reestruturação implica uma aluno frente aos objetivos da disciplina, além de promover volta mais acima no espiral do conhecimento”.6 o encaminhamento a recuperação do conhecimento que de atividades variadas levando em conta a participação dos alunos e sua aprendizagem.” faltou atingir.” Nesta direção, a aprendizagem proporciona ao estudante a oportunidade de ser árbitro de sua própria formação, o qual lhe permite conhecer seus avanços e suas limitações.15 As práticas de avaliação devem ser integradas ao processo de facilitação-aprendizagem para que os participantes possam cumprir exitosamente com as atividades que desejam empreender dentro de sua área de formação. Desta maneira, assume-se uma avaliação comprometida não só com seus resultados, bem como com o processo de formação do ser que se está preparando mediante a metacognição e a autorregulação da aprendizagem.6 “Um processo de construção contínuo onde o professor ajuda a fazer os alicerces com conhecimentos sólidos para a vida profissional” “É um processo de construção” “Processo constante de transformação e construção.” O ser humano age em função de construir resultados. Para tanto, pode agir aleatoriamente ou de modo planejado. Agir aleatoriamente significa “ir fazendo as coisas”, sem ter clareza de onde se quer chegar; agir de modo planejado significa estabelecer fins e construí-los por meio de uma ação intencional. Avaliação poderia ser compreendida como uma crítica do percurso de uma ação, seja ela curta, seja prolongada. Enquanto o planejamento dimensiona o que se vai construir, a avaliação subsidia essa construção, porque fundamenta novas decisões.11 Assim, ao querermos efetivar ações construtivistas no nosso processo avaliativo, tornam-se necessários planejamento criterioso e conhecimento prévio para que possamos lidar com situações diversas durante o desenvolvimento de nosso trabalho em sala de aula. O processo avaliativo não deve estar centrado no Esta resposta traduz idéia defendida por Loureiro10 (2006), quando aponta que a avaliação tem como objetivo básico um processo contínuo durante todo o desenvolvimento de uma atividade curricular, favorecendo o diagnostico e regulação do processo ensino-aprendizagem, redirecionando-o quando necessário, e a identificação de necessidades de mudanças, devendo propiciar ao docente uma concreta retroalimentação. Neste sentido, o papel do educador será o de intervir no processo de aprendizagem, com responsabilidade e comprometimento. Ajudar o aluno a apropriar-se do conhecimento construído, de lhe dar significação, de gerir diferenças, de problematizar, de motivar, de provocar; enfim, de dar condições ao indivíduo de desenvolver um pensamento e um discurso próprios.12 Dessa forma, o professor deve observar e registrar suas impressões, orientando e indicando ajustes e possibilidades de melhoria do trabalho que os estudantes desenvolvem.14 “Para mim, avaliação é e deveria ser um comportamento de atenção para os resultados de seu trabalho como professor em relação aos alunos e uma análise da ação de cada aluno em relação ao conhecimento que você transfere para ele, ou tenta transferir, para atingir um objetivo: formar um profissional competente e, na área da saúde, também com atuação humanizada, respeitando o seu instrumento de trabalho que é o outro ser humano, normal ou com deficiências.” No complexo processo de ensino-aprendizagem deve considerar a diversidade dos educandos, pois o processo avaliativo acompanha o caráter dinâmico e espiralados da construção do conhecimento, assumindo diferentes dimensões e significados a cada Revista da ABENO • 9(1):11-6 13 Concepções de Avaliação da Aprendizagem: um estudo da perspectiva de docentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará • Silva JM, Seiffert OMLB, Pessoa OF etapa dessa construção. A relação professor/aluno, via avaliação, é complexa e multidimensional à medida que representa, permanentemente, enviar e traduzir mensagens por ambas as partes. Cada um deles estará sempre interpretando o que observa do outro, tanto em relação ao processo de aprender, quanto ao próprio conteúdo de aprendizagem.8 Avaliar para promover suscita, portanto, anotações significativas sobre o que se observa do aluno ao longo do processo – significado este que deve corresponder ao conjunto de suas aprendizagens, de suas condutas, de seus relacionamentos. Pode-se perceber, a partir daí, a incongruência e fragilidade dos registros em graus numéricos ou conceitos classificatórios no processo avaliativo.8 “É a forma de se constatar o alcance dos objetivos traçados pelo avaliador, que de alguma maneira conduziu uma tarefa necessária para implantar um pensamento, uma conduta ou até a procura de idéias coerentes com o seu papel de educador” “Processo em que verificamos o desenvolvimento da disciplina, no olhar do professor e do aluno, um instrumento importante para verificar se os objetivos propostos foram alcançados e tentar identificar porque não foram alcançados”. Alguns docentes do Curso de Odontologia do CESUPA percebem a avaliação como processo que favorece ou facilita o alcance dos objetivos do processo de ensino-aprendizagem. Há o reconhecimento que a avaliação seja intimamente articulada com os objetivos-conteúdos-métodos expressos no plano de ensino. Os objetivos explicitam conhecimentos, habilidades e atitudes, cuja compreensão, assimilação e aplicação, por meio de métodos adequados, devem manifestar-se em resultados obtidos nos exercícios, provas, conversação didática, trabalho independente etc. Assim, é indispensável a explicitação clara dos objetivos, pois os estudantes precisam saber por que e para que estão trabalhando e no que estão sendo avaliados.9 Ainda nesta modalidade formativa, alguns professores indicam a importância de se abranger a dimensão afetiva (atitudes) no processo de avaliação. As respostas que se aproximam a esta abordagem foram: “Do ponto de minha disciplina, português instrumental, a avaliação deve levar o aluno a ter uma postura segura em relação a si e, principalmente uma visão solidária e consciente do mundo em que vivemos.” 14 “Representa uma forma de continuar a transmissão de conhecimentos. Significa aproveitar as aptidões de cada aluno. Como se trata de turmas heterogêneas a avaliação deve ser de processos diferentes, desta forma aproveita as aptidões e estímulos na busca de situações onde pode existir alguma ‘adversidade’.” A avaliação de atitudes ainda permanece sendo a dimensão insuficientemente privilegiada nas práticas avaliativas, sendo considerados os aspectos menos observados pelos docentes em seu processo de facilitação da aprendizagem e que a dificuldade pode ser explicada pelo fato da atitude envolver comportamentos e experiências de caráter subjetivo que exigem juízos avaliativos qualitativos, que dificultam o estabelecimento de valores numéricos ou notas.8 Porém, ao ser considerar o aluno como um todo, a avaliação de atitudes deverá ser privilegiada. Entretanto, existem atitudes inerentes ao próprio conhecimento de uma determinada habilidade ou experiência, atitudes estas que devem ter maior significação no processo avaliativo, tais como participação, disciplina, relacionamento, dentre outras.1 A facilitação das atitudes leva a desenvolver e fortalecer aquelas que permitam fomentar ao participante, entre outros aspectos, o respeito, a solidariedade e a cooperação e minimizar as negativas como o individualismo, a intolerância ao trabalho coletivo e o egoísmo. É importante assinalar que o docente tem um papel fundamental na promoção e divulgação de atitudes positivas nos estudantes e ele pode lograr através de a)proporcionar uma mensagem persuasiva; b)a modelagem de atitudes e c) a indução de dissonância entre os componentes cognitivo, afetivo e de conduta.15 Assim, parece mais importante promover as atitudes continuadamente, verificando sua incorporação pelo aluno, do que simplesmente registrá-las por meio de uma nota.1 Os depoimentos analisados oferecem, desta forma, uma percepção significativamente positiva em relação a avanços sobre o pensamento dos docentes acerca da importância de que os processos avaliativos devem ser contínuos, formativos, participativos, emancipatórios ou construtivistas. É de valiosa importância que esta avaliação formativa seja implantada em todas as disciplinas, pois apresenta uma orientação coletiva diferenciada voltada Revista da ABENO • 9(1):11-6 Concepções de Avaliação da Aprendizagem: um estudo da perspectiva de docentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará • Silva JM, Seiffert OMLB, Pessoa OF para a valorização do processo de aprendizagem. Se esta orientação não for implementada coletivamente, corre-se o risco de a avaliação formativa ser esvaziada na comparação com a forma tradicional de se avaliar com provas e trabalhos em momentos específicos.12 Concepção Somativa Alguns docentes associam a avaliação da aprendizagem com procedimentos que visem a medição ou verificação. Esta concepção encontra consonância com a matriz epistemológica objetivista ou positivista que valoriza testes, questões de múltipla escolha, dentre outros. Estes achados coincidem com as observações encontradas por Freitas5 (2005) quando pesquisou este tipo de concepção com egressos-docentes de um curso de formação didático-pedagógica da área de saúde, ressaltando que esses ainda expressam conceitos estreitos sobre avaliação compreendendo-a como um julgamento definitivo do aluno. Nessa visão, os docentes perdem a oportunidade de realizar uma avaliação contínua do estudante ao longo do período de formação. Os registros a seguir revelam a presença desse referencial entre alguns professores: “É medir a capacidade de aprendizagem do aluno e a capacidade do professor de ensinar.” “É um momento de verificação do processo ensino-aprendizagem que permite ao professor e aluno a sedimentação do conhecimento.” A natureza epistemológica do modelo objetivista fragmenta a realidade e pressupõe, erroneamente, que a totalidade pode ser concebida por associações de elementos parciais, os quais, desde que somados e interligados, têm, em tese, condições de explicar o todo.4 Tal premissa ainda orienta as práticas avaliativas em diversas atividades curriculares no âmbito do ensino superior. Ao se refletir sobre a prática da medição e verificação, percebe-se que alguns fatores parecem contribuir para a manutenção de tal concepção: • a autonomia didática dos professores, decorrente de suas especializações em determinadas disciplinas e/ou áreas de pesquisa, que dificulta a articulação necessária entre os docentes, sinalizando a necessidade de uma reflexão conjunta sobre essa questão; e • a natureza da formação didática dos professores, que se revela, na maioria das vezes, por um quadro de ausência absoluta de aprofundamento teórico em avaliação educacional.7 Somando-se a isto, o estabelecimento da avaliação formal nessa perspectiva se insere no processo de criação de um sistema centralizado de ensino, como parte do movimento de racionalização dos processos sociais, que levou ao conceito de exame a se consolidar como medida educacional.3 Cabe ressaltar que no século XX evidencia-se a preocupação especialmente com a medida educacional, representadas pela construção de instrumentos, como provas estandardizadas capazes de revelar cientificamente os interesses, atitudes, capacidades, desenvolvimento, progresso, rendimento e inteligência dos estudantes. Essa prática se apóia essencialmente no estabelecimento de um padrão que serve como termo de comparação, diferenciação, classificação e exclusão.4 Este modelo tem como metas o controle e a classificação dos indivíduos a partir da estandardização de instrumentos e critérios que atuam no sentido de homogeneizar comportamentos, atitudes e conhecimentos, consolidando a concepção de unicidade de significados. O projeto de avaliação, em suas diversas formulações práticas, fica demarcado por uma concepção que associa a aprendizagem à memorização e à repetição do ensinado.3 É no trabalho pedagógico orientado por essa abordagem que se situa a maior incidência de desgaste na relação professor/aluno. Verdadeiras guerras podem surgir quando o objetivo maior é uma nota, ou seja, passar ou não passar. Tal posição coloca-se do lado oposto da aprendizagem significativa, onde o professor, como facilitador, não será mais o intocável e sim o amigo ou colega, comprometido com a formação de um profissional. Muitos estudiosos contemporâneos (Arroyo, Demo, Estrela, Hadji, Luckesi, Macedo, Perrenoud, Vasconcellos, Zabala e muitos outros) apontam em uníssono a preocupação em superar o viés positivista e classificatório das práticas avaliativas escolares, retomando-as em seu sentido ético, de juízo consciente de valor, de respeito às diferenças, de compromisso com a aprendizagem para todos e a formação da cidadania.8 CONCLUSÃO O estudo permite evidenciar avanços quanto a percepção de docentes acerca da avaliação da aprendizagem que se realiza no Curso de Odontologia do CESUPA. Os resultados apontam para a ênfase que é dada à concepção formativa e a movimentos de afastamento da perspectiva centrada no aspecto somativo do dempenho do estudante. Isto sinaliza um avanço importante que abre portas para a melhoria do tra- Revista da ABENO • 9(1):11-6 15 Concepções de Avaliação da Aprendizagem: um estudo da perspectiva de docentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará • Silva JM, Seiffert OMLB, Pessoa OF balho docente, com desdobramentos na formação profissional do odontólogo. liação do Rendimento Escolar. 5ª ed. Capinas: Papirus, 1995. 5. Freitas, Maria A. O. Pós-graduação e formação docente: a experiência da disciplina de formação didático-pedagógica em ABSTRACT Learning evaluation conceptions: a study from the perspective of the faculty of the Dentistry Course of the Pará University Center The objective of the present study was to consider the evaluation practices of the Dentistry Course of the Pará University Center (CESUPA). The main purpose was to analyze conceptions and meanings attributed by the faculty to their evaluation practices. The methodological process involved a bibliographic review of higher education teaching, emphasizing both national and international scientific productions, particularly texts on the learning evaluation and specifically on the teaching of dentistry; a questionnaire applied to 16 professors from different years of the Dentistry Course; systematization of data; and analysis and discussion of the results through content analysis. The results revealed the predominance of a formative conception of their evaluation practices. saúde na UNIFESP. 2005. 128f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade Federal de São Pulo, São Paulo, 2005. 6. Garzón, C.; Vivas, M. Una didáctica constructivista en el aula universitaria. Revista Educere,. Mérida: Facultad de Humanidades, Universidad de Los Andes 1999; 3(5). 7. Hoffmann, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora: uma relação dialógica na construção do conhecimento. São Paulo: FDE, 1994; Série idéias(22): 51-59. 8. Hoffmann, Jussara. 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Nesse contexto, a avaliação do ensino assume papel importante, pois fornece informações fundamentais para o processo de readequação do ensino. O objetivo deste estudo foi analisar os dados da avaliação realizada na Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP com relação ao processo ensino-aprendizagem, na percepção dos graduandos (n = 367). Foi utilizado um questionário no qual o aluno expressava suas opiniões de acordo com o grau de concordância, nas categorias: Concorda (C), Indeciso (I) e Discorda (D), sobre informações pertinentes ao objetivo do curso, ensino, aprendizagem, questões psicosociais e ambiente educacional. Os resultados mostraram que para os alunos (75,25%) os objetivos a serem atingidos no curso são bem esclarecidos, o ensino os ajuda a desenvolverem a autoconfiança (70,8%) e os encoraja a serem aprendizes (63,5%). Assim como, consideram (67,5%) estar sendo bem preparados para a profissão. Para grande parte (39,8%) o ensino é centrado no professor e discordam que o tempo de ensino é bem utilizado (49,5%). Conclui-se que o processo ensino-aprendizagem foi satisfatoriamente classificado, no entanto, ressalta-se a necessidade de uma avaliação do papel docente e um melhor aproveitamento do tempo de ensino, proporcionando um ambiente educacional mais motivador e adequado que contribuirá de forma significativa para o aprendizado. Descritores Educação Superior. Ensino. Odontologia. A aprendizagem é um processo dinâmico que se inicia ao nascimento e que induz o ser humano a adquirir novas condutas de comportamento e pensamento. Visto que, todo ser humano aprende e, através do aprendizado, desenvolve comportamentos que o possibilitam viver, e que todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da aprendizagem, como uma modificação do comportamento, com um sentido adaptação ou ajustamento.4 De fato a educação é altamente complexa e alia-se a fatores indiretos como hereditariedade e ambiente social, que por sua vez, modulam os mecanismos de assimilação de valores. Entretanto nada é mais decisivo na vida de um ser humano do que as interações que partem desde o berço materno com repercussões no seu crescimento físico até que se alcance a plenitude do intelecto pessoal.4 É comum utilizar-se dos termos “ensino” e “apren- Revista da ABENO • 9(1):17-23 17 O processo ensino-aprendizagem na percepção do graduando de odontologia • Marques LB dizagem” para fazer referência ao processo “ensinar” e “aprender”, e raramente fica nítido que essas palavras referem-se a um processo, e não simplesmente a coisas estáticas, ou ainda, que correspondem a dois processos distintos, independentes ou separados, na verdade, ensinar e aprender interagem resultando num processo único. Pois, ensinar não se trata apenas de transmitir um conhecimento e aprender não seria somente adquiri-lo. Definições como as que estão em um dicionário, onde ensinar é “dar instrução”, “doutrinar”, “mostrar com ensinamento”, “demonstrar”, “instruir” e etc., além de serem incompletas, são meras sinonímias que se assemelham com o que muitos profissionais da educação pensam sobre o ato de ensinar. Essas expressões são compatíveis ao q pode ser definido como uma “concepção bancária de educação”, onde o papel do aluno é limitado a receber depósitos, guardar e arquivar, preocupando-se basicamente com a transmissão do conhecimento e com a experiência do professor, não permitindo o desenvolvimento de uma prática educacional adequada, sem atentar para os aprendizes enquanto pessoas que fazem parte de um contexto maior.6,7 Da mesma forma acontece ao se tentar definir “aprender”. O processo ensinar-aprender, como uma interação do ensinar e do aprender, referem-se respectivamente, ao que faz um professor e ao que acontece com o aluno como decorrência desse fazer do professor. A aprendizagem efetiva do aluno fundamentalmente, fica mais evidenciada pela mudança de seu comportamento e, portanto, as alterações de suas relações com o meio, ressaltando que não é apenas o que o aluno faz ou passa a fazer, mas como ele passa a se relacionar que de fato mostram o que ele está produzindo de transformações nesse meio. Normalmente, isso está também relacionado dentre outras coisas, a questões não apenas do ambiente educacional, mas ao meio em que está inserido o aluno, onde ele vive, com quem se relaciona e como se relaciona, e ainda, suas características próprias (idade, habilidades, interesses, características físicas e biológicas).3,5 Os aspectos da situação na qual o aluno se encontra, nem sempre são percebidos pelo professor, identificar esses aspectos, também ajuda nesse processo. Surgem então, algumas exigências que um professor precisa atender para poder realizar, de fato, um ensino, ou obter uma aprendizagem de outra pessoa.3,5 Vale ressaltar ainda que, os recursos de ensino disponíveis também podem influenciar o processo ensino-aprendizagem, afetando as características das ações de ensino desse professor. Um planejamento 18 deve superar ou ir além das limitações existentes, mas precisa estar apoiado no que existe como ponto de partida para superá-los. Os prejuízos sociais para quem “não aprende” ou “não sabe”, são óbvios, pois o aluno não se encontra preparado para lidar com as diversas situações que possam ocorrer e nem mesmo será capaz de transformar a realidade do meio em que vive. Daí, a grande importância da educação, e com ela, o processo ensino-aprendizagem, na vida de uma pessoa. Um processo de humanização está baseado exatamente na capacidade de uma pessoa poder interagir com o seu meio, e essa capacidade também pode constituir o que é objetivo do ensino.3,5 Nesse contexto, a avaliação do ensino assume papel importante, pois fornece informações fundamentais para o processo de readequação e reestruturação do ensino.9 Além disso, pode possibilitar a percepção dos aspectos pessoais do aluno, que quando tardiamente identificados podem levar não apenas a problemas de aprendizado ou desgaste do aluno como também ao do profissional, pelo maior tempo de trabalho despendido, além maiores custos para tentar solucionar problemas, entre outros. O objetivo deste estudo foi analisar os dados da avaliação institucional realizada na Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP com relação ao processo ensino-aprendizagem, na percepção dos acadêmicos de odontologia. MÉTODOS Participaram do estudo 367 alunos do 1° ao 4° ano e do 1° ao 6° ano dos cursos de graduação, diurno e noturno, respectivamente, regularmente matriculados na Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP. O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi um questionário no qual o aluno expressava suas opiniões de acordo com o grau de concordância, em três categorias: Concorda (C), Indeciso (I) e Discorda (D), contendo as seguintes variáveis: informações pertinentes ao objetivo do curso, ensino, aprendizagem, questões psico-sociais do aluno e o ambiente educacional. O questionário de avaliação, com 50 questões fechadas, foi preenchido pelos alunos, voluntariamente. Para criação de um banco de dados, tabulação dos resultados, análise estatística e posterior obtenção das freqüências, utilizou-se o Epi Info 6.02. RESULTADOS Do total de alunos de graduação (n = 367) que participaram do estudo, 62,1% eram do sexo feminino e Revista da ABENO • 9(1):17-23 O processo ensino-aprendizagem na percepção do graduando de odontologia • Marques LB 37,9% do sexo masculino. Dentre os quais, 22,6% são do 1° ano da faculdade de odontologia, 14,7% do 2° ano, 25,9% do 3°, 24,5% do 4°, 7,4% do 5°, 4,6% do 6°. Os resultados mostraram que 75,25% dos alunos concordam que os objetivos a serem atingidos no curso estão bem esclarecidos, 9,5% discordam, 14,4% não têm certeza e 0,8% não responderam. Grande parte dos alunos, 60% relatam que o trabalho desenvolvido no ano anterior foi um bom preparo para a aprendizagem no ano seguinte, 15,5% não concordaram e 22,9% ficaram indecisos; 1,6% não responderam. A maioria, 56,7% não concorda que a grade horária é bem esquematizada para o curso, 27,8% concordam e 15,5 % ficaram indecisos. Do total de alunos, 64% concordam que são capazes de se concentrar bem durante o curso, 15,2% não concordam, 20,4% ficaram indecisos e 0,3 não responderam. No que se refere ao ensino, 70,8%, concordam que ele os ajuda a desenvolver a autoconfiança, 17,7% ficaram indecisos e 10,9% não concordam, 0,5% não responderam. Boa parte dos alunos, 63,5%, concorda que o ensino os encoraja a serem aprendizes, no entanto, 15,3% ficaram indecisos, 14,2% discordam e 7,1% não responderam. Grande parte, 49,5% discordam que o tempo de ensino é bem utilizado, 27,2% dos alunos concordam que o ensino é sempre estimulante, porém 47,7% discordam e 24,8% ficaram indecisos; 0,3% não responderam (Gráfico 1). 79,5% dos alunos concordam que o ensino os ajuda a desenvolver sua competência, 11,1% não concordam, 9,1% não têm certeza e 0,3% não responderam. Dentre os entrevistados, 39,8% concordam que o ensino é muito centrado no professor, mas 52,3% discordam ou estão indecisos e 7,9% não responderam (Gráfico 2). Ao responderem se o ensino é centrado no aluno e que o mesmo tem participação ativa, 51,2% concordam, 31,1% discordam e 17,7% estão indecisos. Os alunos opinaram ainda se estão sendo capacitados a memorizar tudo que precisam (Gráfico 3). Em relação ao ambiente educacional, 55,6% dos alunos concordam que o ambiente os motiva a querer aprender, 17,7% ficaram indecisos e 19,6% discordam; 7,1% não responderam. A grande maioria, 68,2% concordam que a atmosfera durante as aulas é boa, 18% discordam, 13,4% não têm certeza e 0,5% não responderam; 52,6% concordam que a atmosfera durante os seminários é bastante aconchegante, 30% discordam, 16,3% não têm certeza e 1,1% não responderam; para 52% dos graduandos a satisfação de estar na faculdade sobrepuja o estresse do curso, 27% não concordam, D = 0,30% D = 7,90% A = 27,20% B = 23,40% A = 39,80% B = 47,70% C = 28,90% C = 24,80% A: Concordam B: Discordam A: Concordam B: Discordam C: Indecisos C: Indecisos D: Não responderam D: Não responderam Gráfico 1 - Distribuição Percentual das respostas dos alunos quanto ao fato do ensino ser estimulante. Gráfico 2 - Distribuição Percentual das respostas dos alunos quanto ao fato do ensino ser muito centrado no professor. D = 0,50% D = 7,10% B = 12,80% B = 26,40% A = 40,10% C = 10,10% A = 70% C = 33,00% A: Concordam B: Discordam A: Concordam B: Discordam C: Indecisos D: Não responderam C: Indecisos D: Não responderam Gráfico 3 - Distribuição Percentual das respostas dos alu- nos quanto ao fato de estarem sendo capacitados a memorizar tudo que precisam. Gráfico 4 - Distribuição Percentual das respostas dos alu- nos quanto ao fato de que o que têm para aprender ser relevante para a carreira de um profissional da saúde. Revista da ABENO • 9(1):17-23 19 O processo ensino-aprendizagem na percepção do graduando de odontologia • Marques LB Tabela 1 - Distribuição percentual das respostas dos alunos quanto às suas questões de ordem psico-social. Variáveis Categorias Vida social boa Moradia satisfatória Sente-se só freqüentemente Sente-se bem socialmente na classe Concordam 85,9% 78,3% 30,8% 75,2% Não concordam 7,3% 7,6% 54,8% 13,1% Indecisos 6,3% 6,5% 13,6% 11,4% Não responderam 0,5% 7,6% 0,8% 0,3% 13,9% não têm certeza e 7,1% não responderam. Dentre os entrevistados, 67,5% concordam que estão sendo bem preparados para a profissão, enquanto que 12% não concordam e 19,9% ficaram indecisos, apenas 0,5% não responderam. 70% dos alunos concordam que muito do que têm a aprender lhes parece relevante para a carreira de um profissional da saúde, 12,8% discordam, 10,10% ficaram indecisos e 7,1% não responderam (Gráfico 4). Para 57,2% dos entrevistados há estímulo suficiente para que participem de atividades, 25,4% discordam, 16,9% ficaram indecisos e 0,5% não responderam. A maioria dos alunos, 61%, concordam que têm no curso oportunidades de desenvolver suas habilidades em solucionar problemas, 15,5% não concordam e 15,5% ficaram indecisos. 8% dos alunos não responderam a essa questão. E 52% dos graduandos concordam que existem oportunidades para que desenvolvam habilidades de comunicação interpessoal, 24,6% não concordam, 22,9% não têm certeza e 0,5% não responderam. No que tange a questão psico-social dos alunos entrevistados, a maioria concordou que tem uma vida social boa (85,9%); 78,3% consideram sua moradia boa; grande parte (75,2%) concorda que se sente socialmente bem na sua classe. 54,8% não concordam que sentem-se só com freqüência, enquanto 45,2% não concordam ou estão indecisos ou não responderam (Tabela 1). A grande maioria dos alunos (62,9%) não concorda que exista um bom suporte ao aluno com estresse, mas 25,3% ficaram indecisos, 11,5% concordam que tenha e 0,3% não responderam. DISCUSSÃO A prática diária demonstra, geralmente, a ocorrência de um ensino centrado na figura do professor, que detém a autonomia do conhecimento, gerando estratégias repetitivas, em geral com aulas expositivas, criando como conseqüência um fluxo unilateral de 20 comunicação, dificultando o desenvolvimento do pensamento crítico por parte do aprendiz, que na maioria das vezes assimila o que lhe é imposto, sem fazer muitos questionamentos.13 A avaliação realizada por este estudo demonstrou que, segundo o Gráfico 2, para a maioria dos alunos da Faculdade de Odontologia de Araçatuba o ensino é centrado no professor, e boa parte ficou indecisa, e mesmo quando depararam-se com a questão relativa ao ensino centrado no aluno, 48,8 % discordaram ou ficaram indecisos, apesar de 52, 2% ter concordado, o que evidencia que de fato a presença, ainda, de um tipo de educação que caracteriza o ensino tradicional, impedindo frequentemente o discente de ter criatividade, iniciativa, assumir responsabilidades e ter direção própria. De um modo geral, desta forma, gerase um aluno passivo, memorizador de conceitos abstratos e sem preparo para resolver questões práticas, fundamentadas na realidade em que vive. Como também pode ser observado no Gráfico 3. Atualmente, com os valores sendo repensados e as transformações ocorrendo aceleradamente, não é possível manter os moldes tradicionais de ensino, pois estes deixam de corresponder às necessidades atuais do discente. Deve-se ter como objetivo prepará-lo para atuar no mundo em transformação, e para tanto se faz necessário considerar o desenvolvimento da capacidade crítica dessa pessoa, a fim de instrumentalizá-lo. O momento histórico, econômico e social em que se vive, exige do profissional um perfil mais crítico, arrojado e perspicaz.13 Principalmente na área da saúde, que através de uma prática mais humanizada e menos mecanicista ou voltada para atender às demandas de mercado, coloca o homem como centro do processo de construção da cidadania, comprometida e integrada à realidade social e epidemiológica, às políticas sociais e de saúde, oportunizando a formação profissional contextualizada e transformadora.10 Vale ressaltar que é inegável a influência que o cenário sócio-político exrece sobre o ensino, no âmbito Revista da ABENO • 9(1):17-23 O processo ensino-aprendizagem na percepção do graduando de odontologia • Marques LB das políticas educacionais3,5,11,12 e na própria relação entre as pessoas envolvidas, principalmente no relacionamento professor-aluno, influência esta fundamental no processo ensino-aprendizagem. Destacando que é preocupação das Diretrizes Curriculares a questão da metodologia de ensino-aprendizagem,8 que deve sempre propiciar aos alunos uma participação ativa nesse processo.3 Por outro lado, apesar de os alunos demonstrarem através dos resultados certa divisão quanto em quem realmente está centrado o ensino. Na avaliação geral, eles mostram, em sua maioria, que o ensino os ajuda a desenvolver a auto-confiança, os encoraja a ser aprendizes, além de ser bem utilizado e os ajudar a desenvolver a competência. Em geral, muitos concordaram que os objetivos a serem atingidos no curso estão bem esclarecidos, que o trabalho desenvolvido no ano anterior foi um bom preparo para a aprendizagem do ano subseqüente, e que são capazes de concentrarem-se bem durante o curso. O processo ensino-aprendizagem é complexo, e apresenta várias variáveis, principalmente quando se pensa em qualidade. Uma delas, a comunicação, é elemento indispensável neste processo, visto que para ensinar é preciso comunicar-se, tornando o processo ensino-aprendizagem pautado pela troca de conhecimentos e experiências dos sujeitos envolvidos.14 Os resultados mostraram que 52% dos graduandos concordam que existem oportunidades para que desenvolvam habilidades de comunicação interpessoal, no entanto, 48% não concordam, não têm certeza ou não responderam. Essa é uma questão complicada, pois sendo o ato de ensinar, um ato de comunicação, de partilha de idéias, sentimentos, crenças ou valores próprios da cultura de um grupo social,14 não se restringindo aos muros da faculdade ou escola, a comunicação deve ser melhor praticada e priorizada. Visto que o ensino é considerado há muito tempo como o principal sistema de preservação do patrimônio cultural de um grupo, transmitindo-o aos novos integrantes e inserindo-os na vida comum.14 Na área odontológica, as novas diretrizes curriculares aprovadas pela Resolução CNE/CES 3/2002,12 propõem que: “o Curso de Graduação em odontologia tem como perfil do formando egresso/profissional o Cirurgião-Dentista, com formação generalista, humanista crítico, reflexivo, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade”.5,8 Sendo então, de suma importância o papel da universidade na formação de profissionais na área da saúde, assumindo o professor papel de destaque.5 De acordo com o Gráfico 4, a grande maioria (70%) dos alunos concordam que muito do que têm a aprender é relevante para a carreira de um profissional da saúde. Assim como, também 67,5% concordam que estão sendo bem preparados para a profissão, e, 61% concordam que têm no curso oportunidades de desenvolver suas habilidades em solucionar problemas. A Tabela 1 mostra fatores relacionados à questão psicosocial dos alunos, dentre os quais: moradia, solidão, vida social e relação com outros colegas de classe. Sabe-se que a aprendizagem é o processo pelo qual o comportamento se modifica em decorrência de experiências, não se restringindo à assimilação de conteúdos ou técnicas, mas também a sentimentos e emoções.14 Portanto, aspectos relacionados à situação psicosocial do aluno, são de grande relevância, embora nem sempre sejam notados pelo professor. Identificá-los, também ajuda nesse processo, permitindo que o aprendizado não seja comprometido, ou mesmo, que diversas alterações acabem conseqüentemente agravando o problema, através do desgaste físico e emocional do aluno, ocasionando cansaço, desânimo, diminuição da autoconfiança e estresse. A grande maioria dos alunos (62,9%) nesse estudo não concorda que exista um bom suporte ao aluno com estresse na FOA-UNESP. Sem conhecer a realidade com a qual o aluno deve estar apto a lidar, o desempenho que é capaz de apresentar e o que ele consegue obter como resultados, o professor corre o risco de, por ignorá-los, apenas apresentar informações e cobrar a adesão do aluno, como se apenas fornecer informações e agir segundo receitas prontas, fossem as verdadeiras características que definem “ensinar”. Dentre os alunos entrevistados, observa-se que 56,7% não concordam que a grade horária é bem esquematizada para o curso, enquanto 43,3% concordam ou ficaram indecisos. E ainda, 50,1% concordam que o tempo de ensino é bem utilizado, porém 49,8% discordam (30,2%), não têm certeza (19,3%), ou não responderam (0,3%). Antes da extinção do currículo mínimo, a carga horária mínima para o curso de Revista da ABENO • 9(1):17-23 21 O processo ensino-aprendizagem na percepção do graduando de odontologia • Marques LB odontologia deveria ser de 3.600 horas, distribuídas em 4 anos.1 Com a flexibilização curricular proporcionada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação,3,5,11,12 atualmente as faculdades de odontologia de um modo geral têm cursos com duração de 4 e 5 anos.8 Na definição do Conselho Nacional de Educação a carga horária mínima do curso de odontologia, passa a ser de competência da instituição que os oferece, mas “com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação”.1 Todavia, é sabido que durante a elaboração do projeto de Diretrizes Curriculares ocorreu importante discussão em função da tendência em se ampliar a carga horária dos cursos de odontologia, havendo então, proposta de aumento da carga horária mínima para 4.500 horas, o que elevaria também a duração do curso para 10 semestres,1 o que de fato já é a carga horária média dos cursos de odontologia distribuídos no país. O Gráfico 1 mostra que é possível observar que os alunos encontram-se de fatos divididos ou confusos com os diferentes aspectos do ensino. Mostrando que apesar da maioria concordar que o ensino é estimulante, boa parte destes alunos não tem certeza. O mesmo acontece, em relação ao ambiente educacional, onde 55,6% dos alunos concordam que o ambiente os motiva a querer aprender, enquanto 44,4% discordam, ficaram indecisos ou não responderam. Assim como, 52% dos graduandos concordam que a satisfação de estar na faculdade sobrepuja o estresse do curso, enquanto 48% não concordam, não têm certeza ou não responderam. E apesar da maioria concordar que a atmosfera durante as aulas é boa, ao serem opinarem sobre a atmosfera durante os seminários, houve uma pequena diferença entre os que concordam que ela é aconchegante (52,6%) e os que discordam, estão indecisos ou não responderam (47,4%). Isso reflete exatamente o fato de que o saber deve ser construído sob forma processual,13 onde professor e aluno assumam posições diferentes, mas ocupem o mesmo nível na relação instituída, produzindo juntos o conhecimento. Logo, As estratégias de ensino devem sempre ter uma abordagem humanística,2 onde o professor deve criar condições facilitadoras para que o aluno aprenda, estimulando sua curiosidade, encorajando-o a escolher seus próprios interesses, 22 desde que seja auto-disciplinado, responsável por suas opções e crítico diante das problemáticas do futuro, oportunizando ainda, sua participação ativa na formação e construção do programa de ensino do qual faz parte. O aluno, por sua vez, é respeitado no processo de auto-realização com o uso pleno de suas potencialidades e capacidades, o que provavelmente facilita todo o processo de ensino-aprendizagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo ensino-aprendizagem, de uma forma geral, foi considerado satisfatório pelos alunos, no entanto, observou-se a necessidade de melhorar algumas questões como aproveitamento do tempo de ensino, proporcionando um ambiente educacional mais motivador e adequado, o que contribuirá de forma significativa para o melhor aproveitamento do aprendizado, desenvolvendo ainda mais a autoconfiança do discente, preparando-o adequadamente para o mercado de trabalho. Ressaltando-se ainda que é importante uma avaliação da postura do docente no que se refere à ação em termos de sua propriedade e adequação aos fins educacionais, no sentido de assumir a mediação do conhecimento de modo a este ser partilhado na relação que estabelece com o aluno, e não centrado no docente. ABSTRACT The education and learning process as perceived by undergraduate dentistry students Learning is a continuous process that induces the human being to acquire new ways of thinking and behaving, and the university is an essential part of this constant learning process. At present, Dentistry courses are undergoing a process of restructuring to comply with the National Curricular Guidelines. In this context, the evaluation of teaching takes on an important role, because it provides basic information needed for the process of realigning teaching. The aim of this study was to analyze the data obtained from the evaluation carried out in the School of Dentistry of Araçatuba-UNESP regarding the teaching-learning process, as perceived by the undergraduate students (n=367). In the questionnaire applied, the student expressed his opinions according to extent of agreement, in the following categories: Agrees (C), Undecided (I) and Disagrees (D) on the information relevant to course objective, teaching, learning, psychosocial issues and educational environment. The results showed that in the opinion of the students (75.25 %), the objectives to be achieved in the course Revista da ABENO • 9(1):17-23 O processo ensino-aprendizagem na percepção do graduando de odontologia • Marques LB are explained well, the teaching offered helps them develop self-confidence (70.8 %) and encourages them as learners (63.5 %). They also think (67.5 %) that they are well prepared for their profession. Most (39.8 %) feel that the teaching offered is centered on the teacher and they disagree that teaching time is used well (49.5 %). It can be concluded that the teaching-learning process was classified satisfactorily; however, it should be stressed that the role of professors needs to be evaluated, and that teaching time should be used better in order to provide a more motivated and suitable educational environment that will contribute significantly to the learning process. em Odontologia. Revista da ABENO 2002; 2(1): 31-4. 6. Freire, P. Extensão ou Comunicação. 12 a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1977. 7. Freire, P. Pedagogia do Oprimido. 45 a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2006. 8. Garbin CAS, Saliba NA, Moimaz SAS, Santos KT. O papel da universidade na formação de profissionais da saúde. Revista da ABENO 2006; 6(1): 6-10. 9. Loureiro RMT, Saliba NA, Moimaz SAS, Ono R. Avaliação do desempenho do docente com a participação do corpo discente no ensino superior. Revista da ABENO 2006; 6(2): 119-22. 10. Moysés ST, Moysés SJ, Kriger L, Schmitt EJ. Humanizando a educação em Odontologia. 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Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação Recebido em 07/04/2009 Aceito em 29/06/2009 Revista da ABENO • 9(1):17-23 23 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM Clacir Londero Zenkner*, João Hélvio Righi de Oliveira**, Claudia Londero Pagliarin***, Fernando Branco Barletta**** * Mestre em Engenharia de produção pela UFSM, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação da Universidade Luterana do Brasil ** Doutor em Engenharia de Produçaõ e Professor do Programa do Pós-Graduação de Engenahria de Produção da UFSM *** Mestre em Odontologia pela ULBRA, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação da Universidade Luterana do Brasil **** Doutor em Endodontia pela USP e Professor de Graduação e PósGraduação da ULBRA RESUMO A odontologia é uma profissão que oferece vários riscos, dentre eles os agentes biológicos constituem uma séria ameaça à saúde do profissional, paciente e equipe. Aprender a controlar estes riscos é uma meta a alcançar, e a educação para isto deve ser iniciada ainda na vida acadêmica. Este estudo foi realizado no curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM e teve como objetivo fazer um diagnóstico de biossegurança. Este diagnóstico foi feito por meio da aplicação de um check list que avaliou as ações desenvolvidas pelos acadêmicos (através da observação e de uma entrevista). Os dados coletados foram analisados e representados através de tabelas e gráficos. Concluiu-se que falta para os acadêmicos um maior comprometimento com relação às medidas de controle de infecção, que seria apropriada a inclusão da disciplina de biossegurança e ergonomia e que a estrutura física das clínicas deve ser adequada às exigências legais para facilitar a atuação de maneira mais ergonômica colaborando para reduzir os riscos ocupacionais. Descritores Biossegurança. Odontologia. Gestão de Risco. INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA Controlar os riscos ocupacionais presentes em qualquer atividade é um desafio e na odontologia esta situação não é diferente. 24 Vários estudiosos classificam e dividem estes elementos patogênicos denominando-os de Agentes Causais de Doenças Ocupacionais. Entre eles podemos citar os físicos, químicos, biológicos, mecânicos, ergonômicos e de acidentes. Dentre eles, os agentes biológicos constituem uma série ameaça à saúde tanto do profissional, paciente e sua equipe. Nesse caso, controlar estes riscos, para que fiquem dentro de valores tolerados é uma meta a alcançar. Hoje, em virtude da existência de pacientes portadores das mais variadas doenças infecto-contagiosas, há necessidade de uma prática efetiva de controle dos riscos para evitar as diferentes formas de contaminação, que tanto o profissional quanto sua equipe está sujeito. A odontologia, como não poderia deixar de ser, vem acompanhando estas transformações e buscando mudanças em relação a conduta dos profissionais no que se refere às precauções universais para o controle de infecções.Desta forma, a biossegurança assumiu um papel de fundamental importância na odontologia moderna. Segundo Lima & Ito (1992) biossegurança em odontologia é um conjunto de procedimentos adaptados no consultório com o objetivo de dar proteção e segurança ao paciente, ao profissional e sua equipe. Preocupados com os procedimentos necessários à prevenção de possíveis contaminantes, diversas instituições e órgãos como os Centers for Diseases Control (CDC), a American Dental Association (ADA) e Revista da ABENO • 9(1):24-33 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM • Zenkner CL, Oliveira JHR, Pagliarin CL, Barletta FB o Ministério da Saúde (MS), dentre outros, vem desenvolvendo e aprimorando uma extensa variação de normas de procedimentos com o intuito de melhorar o efeito e a eficácia de intervenções da saúde pública. Junto à biossegurança, a ergonomia, vem auxiliar na detecção das condições e atos inseguros e, a partir daí, proporcionar conforto e qualidade de vida no ambiente de trabalho. Segundo Iida (2001, p. 78), “o conhecimento das situações perigosas e o desenvolvimento de comportamento para evitá-las podem diminuir significantemente os acidentes”. Acrescenta este autor que para estabelecer as práticas seguras no trabalho é necessário, em primeiro lugar, identificar as situações de risco. Somente identificando as situações de risco, é que será possível a viabilização de propostas e recomendações para o efetivo controle e redução da intensidade dos agentes agressivos presentes nos locais de trabalho. De acordo com Barros (1991) o trabalho deve ser condição de desenvolvimento mental e instrumento de auto-realização profissional e não um meio para auto-destruição. Complementa ainda o autor que, os cientistas da Sociedade Européia de Ergonomia Odontológica provaram que é possível trabalhar com prazer e segurança. Para isto, torna-se necessário o conhecimento dos riscos que a profissão impõe e saber como preveni-los. É a partir do conhecimento dos riscos ocupacionais que se pode estudar os fatores que podem levar à ocorrência de incidentes e acidentes no trabalho. A prevenção dos riscos ocupacionais é de suma importância para o desenvolvimento do trabalho e está diretamente relacionada à sua qualidade. Neste trabalho, será abordada a exposição ocupacional aos agentes biológicos, que é considerada como a principal fonte de risco à saúde dos profissionais da odontologia. De acordo com Estrela (2003) riscos biológicos são aqueles relacionados a agentes potencialmente patogênicos que podem causar doenças. A equipe odontológica está sujeita ao contato com diversas doenças infecciosas, sendo algumas de origem bacteriana (como a tuberculose, sífilis, difteria), enquanto outras, etiologicamente são relacionadas à atividade de vírus (herpes, varicela, herpes-zoster, mononucleose infecciosa, papiloma, caxumba, sarampo, rubéola, síndrome da rubéola congênita, hepatites virais e AIDS). Dentre as patologias acima citadas, destacam-se entre as doenças de transmissão ocupacional em odontologia a hepatite B, como a de maior risco de contaminação; o herpes, a de maior freqüência e a AIDS que, apesar do risco ocupacional ser pequeno, é a que mais amedronta os profissionais na adoção de medidas de biossegurança, Ministério da Saúde11 (2000). Este artigo, baseado em capítulo da dissertação, de Zenkner (2006), tem como objetivo fazer um diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. MÉTODOS A amostra deste estudo constituiu-se de 123 alunos matriculados em 5 disciplinas do curso de Odontologia da UFSM (dentistica II, endodontia II, periodontia II, prótese parcial fixa II e clínica integrada III). Os dados foram coletados através da aplicação de um check list (adaptado do check list desenvolvido por De Paula (2003) com o objetivo de fazer um diagnóstico de biossegurança, ou seja, a verificação da adequação do curso ao cumprimento das normas de controle de infecção denominadas “precaução padrão”. O check list utilizado écomposto por dois grupos: • Grupo I: Este check list está composto por 16 questões, onde os aspectos a serem observados são referentes ao controle de infecção e relaciona-se especificamente a práticas pessoais e operacionais, ou seja, às precauções básicas de atendimento que mais influenciam a transmissão da infecção cruzada durante o atendimento. • Grupo II: Este check list refere-se à saúde e segurança no trabalho, onde as questões são direcionadas às barreiras de proteção, que são recursos físicos responsáveis por bloquear os agentes infectantes minimizando a possibilidade de contaminação e os riscos biológicos durante o atendimento. Fazem parte deste check list 20 questões, sendo que as 12 primeiras foram respondidas mediante a observação aos acadêmicos e as restantes em entrevista com eles. A coleta de dados somente foi iniciada após o recebimento do parecer favorável fornecido pelo Comitê de Ética na Pesquisa com seres humanos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), após a autorização do coordenador do curso de Odontologia, após a autorização dos chefes do departamento de odontologia restauradora e estomatologia e do Revista da ABENO • 9(1):24-33 25 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM • Zenkner CL, Oliveira JHR, Pagliarin CL, Barletta FB Quadro 1 - Higienização das mãos. Higienização das mãos Clínicas Número de observaçãoes Dentística II 22 Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II 25 27 24 25 Total 123 % dos que lavam as mãos antes de iniciar o atendimento 0% 0% % 0% 4% 0,8% % dos que lavam as mãos ao término do atendimento 0% 0% 0% 0% 0% 0% % dos que lavam as mãos antes de calçar as luvas 0% 0% 11,11% 0% 4% 3,25% 36% 37,03% 16% 27,64% % dos que lavam as mãos após de retirar as luvas 13,64% 33,33% Quadro 2 - Uso das luvas. Uso das luvas Clínicas Número de observações Dentística II Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II 22 25 27 24 25 % dos que usam luvas novas a cada paciente 100% 100% 100% 100% 100% % dos que tocam objetos de uso comum com luvas 100% 100% 100% 100% consentimento livre e esclarecido dos professores e alunos. Os dados foram processados e analisados utilizando-se da estatística descritiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO Depois de aplicados os check list relativos ao controle de infecção (CI) e saúde e segurança no trabalho (SST) nas cinco disciplinas que foram selecionadas para compor a amostra,os resultados obtidos foram: Controle da infecção A seqüência de questões a seguir diz respeito à higienização das mãos do aluno na ocasião do atendimento ao paciente. Os resultados referentes a essas questões encontram-se agrupadas no Quadro 1. Analisando o Quadro 1, constatou-se que apenas 0,8% dos alunos observados lavam as mãos antes de iniciar o atendimento, e nenhum as lava ao término do atendimento. Somente 3,25% (4 alunos) dos alunos observados lavam as mãos antes de calçar as luvas. Também foi observado que a porcentagem de alunos que lavam as mãos após a retirada das luvas é muito baixa e que a mesma não é realizada de maneira ade26 77,78% Total 123 100% 95,12% quada. A falta de adesão dos profissionais da saúde à higiene das mãos tem sido estudada em diversas partes do mundo. Sabe-se que a anti-sepsia das mãos é considerada a ação isolada mais importante no controle de infecções em serviços de saúde por reduzir o risco de transmissão de microrganismos para pacientes e profissionais (CDC, 2003). As perguntas seguintes tratam do uso das luvas e os resultados encontrados estão dispostos no Quadro 2. Como mostra o Quadro 2, a totalidade dos alunos observados usa luvas novas a cada novo atendimento. Durante o atendimento praticamente todos tocam objetos de uso comum, tais como maçaneta da porta, telefone, fichas, etc, com as luvas. É muito freqüente o aluno tocar a própria máscara (retira e recoloca durante o atendimento), os óculos de proteção e os seus pertences quando da necessidade de pegar algum material de uso clínico, o que pode acarretar a sua auto-contaminação. Apenas 22,22% (6 alunos) do total observado, tomam o cuidado de não tocar objetos ao seu redor com as luvas de atendimento. Pela observação, isto foi possível, pois os mesmos estavam trabalhando em duplas (um prestando o aten- Revista da ABENO • 9(1):24-33 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM • Zenkner CL, Oliveira JHR, Pagliarin CL, Barletta FB Quadro 3 - EPIs fora da clínica. Uso de avental, equipamentos de proteção individual (epi) fora da clínica Dentística II Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II Total Número de observações 22 25 27 24 25 123 Nº de usuários de avental fora da clínica 17 25 25 10 6 83 % dos que usam avental fora da clínica 77,27% 95,59% 41,66% Nº de usuários de EPIs fora da clínica 17 24 10 % dos que usam EPIs fora da clínica 77,27% 88,89% 41,66% Clínicas 100% 25 100% 24% 6 24% 67,48% 82 66,67% Quadro 4 - Uso de jóias. Uso de jóias durante o atendimento Clínicas Número de observações Nº de usuários de jóias durante o atendimento Dentística II Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II Total 22 25 27 24 25 123 8 11 9 21 6 55 Quadro 5 - Uso do isolamento absoluto. Uso do isolamento absoluto Dentística II Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II Total Número de observações 22 25 27 24 25 123 Nº de usuários de isolamento absoluto durante o atendimento 22 2 14 24 – 62 Clínicas dimento e outro auxiliando). As luvas representam um papel fundamental na proteção do profissional, devendo ser usadas em todos os procedimentos. O profissional deve evitar tocar objetos fora da área de intervenção para prevenir a transmissão e disseminação de patógenos, comprometendo o controle de infecção, Estrela,6 2003. As questões 7 e 8 referem-se ao hábito do acadêmico deixar as clínicas usando os equipamentos de proteção individual (EPI). Os resultados desses dados encontram-se apresentados no Quadro 3. Pode-se observar que há uma porcentagem muito alta de alunos, que ao sair da clínica não retiram seus EPIs. Este hábito é desaconselhável, pois os EPIs funcionam como um meio de transporte de microrganismos constituindo risco de infecção para toda a equipe e também para familiares, Ministério da Saúde,11 2000. Ao ser observado o item 9, referente ao uso de jóias (anel, brincos, etc), detectou-se que do total de alunos observados, 44,71%, fazem uso de algum ornamento o que pode funcionar como um meio de transporte de microrganismos. Os anéis, além de servir de reservatório de patógenos podem danificar as luvas ficando o profissional exposto à saliva, sangue e demais fluidos orgânicos. No Quadro 4 consta o número total de usuários de jóias durante o atendimento. Quando foi observado se os acadêmicos lavam, descontaminam e esterilizam os materiais em áreas separadas (item 10), constatou-se que a totalidade dos alunos observados em todas as clínicas não executa estes procedimentos, isto porque as clínicas não possuem área de expurgo separada, tendo somente a central de esterilização. Das sete clínicas que o curso dispõe, apenas quatro apresentam sinalização das Revista da ABENO • 9(1):24-33 27 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM • Zenkner CL, Oliveira JHR, Pagliarin CL, Barletta FB Quadro 6 - Proteção na ponta das canetas. Uso de proteção na ponta das canetas Dentística II Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II Número de observações 22 25 27 24 25 123 Nº de usuários de proteção na ponta das canetas 19 18 21 24 23 105 % de uso de proteção na ponta das canetas 86,36% 72% 77,78% Clínicas 100% 92% Total 85,36% Quadro 7 - Tratamento dado as superfícies. Proteção de superfícies / desinfecção de superfícies Dentística II Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II Número de observações 22 25 27 24 25 123 Nº de usuários de proteção de superfícies 22 23 23 24 24 116 92% 85,18% 80,00% 66,66% Clínicas % uso de proteção de superfícies % desinfecção das superfícies entre atendimentos 100% 59,10% áreas para limpeza e desinfecção. Mas, muitas vezes, em virtude da localização das pias destinadas à limpeza e desinfecção ou ao não funcionamento delas, os acadêmicos acabam lavando seu instrumental na pia destinada à lavagem das mãos. Achados semelhantes também foram relatados por Tipple (2000), que constatou que a maioria dos alunos observados (97,4%) lavavam seus instrumentos nas mesmas pias onde lavavam as mãos. O resultado referente à Questão 11, que trata do uso do isolamento absoluto (IA), encontra-se no Quadro 5. Observou-se que o mesmo foi usado sempre que havia indicação. Estes achados estão de acordo com a recomendação de diversos órgãos de saúde (Ministério da Saúde, CDC, etc) que preconizam o uso do IA, para auxiliar na redução do número microrganismos a serem espalhados no ambiente durante o atendimento do paciente. Na Questão 12, que aborda o uso de proteção na ponta das canetas, os resultados da observação estão detalhados no Quadro 6, e mostram que 14,64% (18 alunos) dos alunos não fazem uso desta proteção a qual tem uma importância muito grande, pois diminui o risco de infecção cruzada entre pacientes. Observou-se que a totalidade dos alunos usa instrumental estéril para cada paciente. Os resultados referentes às questões seguintes, 28 100% 58,33% Total 96% 94,30% 40,00% 60,97% referentes ao tratamento dado às superfícies, estão expressos no Quadro 7. Observou-se que 94,30% dos alunos fizeram uso das barreiras de proteção das superfícies. Esta é uma medida importante, pois previne a contaminação das superfícies, particularmente daquelas de difícil limpeza (CDC, 2003). Foi observada a utilização do filme de PVC como o material de proteção das superfícies. A importância do uso de barreiras de superfícies foi comprovada através de vários trabalhos, entre eles um estudo experimental realizado em 1962, no qual foi utilizada a bactéria Serratia marcescens como indicador. Neste estudo foi possível evidenciar a presença do microorganismo a uma distância de dois metros da fonte, após ter sido acionada a alta rotação com água. Achados semelhantes também foram comprovados por Ramos14 (1997) o qual constatou que mesmo num procedimento odontológico simples, grande quantidade de respingos são lançados sobre várias superfícies inclusive em equipos vizinhos (quando não existe barreira física entre eles). Quando observamos se as superfícies são desinfetadas entre os atendimentos encontramos que 60,97% dos alunos realizam este procedimento. Eles fazem a desinfecção quando chegam à clínica, antes da colocação das barreiras (preparação do ambiente). No Revista da ABENO • 9(1):24-33 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM • Zenkner CL, Oliveira JHR, Pagliarin CL, Barletta FB Quadro 8 - Uso de equipamentos de proteção individual. Uso de equipamentos de proteção individual (epi) Clínicas Nº de observações Dentística II Prótese parcial fixa II Clínica integrada 22 25 % usuários de máscara 100% 100% % usuários de gorro 100% 100% % usuários de avental fechado 100% 84% 40,74% % usuários de luvas 100% 100% 96,30% 41% 20% 33,33% % usuários de óculos de proteção entanto, comprovou-se pela observação que a desinfecção, não raras vezes, era realizada de maneira incorreta, onde algumas superfícies como cadeira e unidade auxiliar raramente são desinfetadas. Igualmente se observou que na quase totalidade das clínicas, as cadeiras odontológicas ainda são recobertas pelo plástico que vem da fábrica, deixando a superfície não lisa, facilitando desta forma a retenção de contaminantes. A adoção da desinfecção das superfícies é essencial na prevenção da infecção cruzada, pois, de acordo com trabalho realizado por Rabello (2004) onde analisou a presença de bactérias em superfícies do ambiente clínico odontológico, obteve como resultado que das 96 amostras de superfícies 85% das bancadas apresentaram crescimento bacteriano,o que também ocorreu em 50% das seringas tríplices, 75% das alças de refletor e 42% dos saca-brocas. Couto et al. (1999) enfatizam a importância e a necessidade da limpeza e desinfecção das superfícies, justificando que alguns tipos de microrganismos entre eles o vírus da hepatite B, podem sobreviver por até alguns dias permitindo risco de infecção. Recomendam então, os autores, que após cada sessão clínica as superfícies devem ser cuidadosamente desinfetadas. Nas clínicas pesquisadas não foi observada a lavagem e desinfecção das cuspideiras entre os atendimentos. Este procedimento foi executado ao final do turno de trabalho pelas funcionárias de serviços gerais. Quando os alunos foram observados quanto à realização da desinfecção de moldes, observou-se que a mesma foi realizada sempre que houve necessidade. Todavia, constatou-se que a desinfecção não era realizada da maneira preconizada, uma vez que o tempo necessário de imersão para que ocorra a desinfecção 27 Endodontia II Periodontia II Total 24 25 96,30% 100% 100% 99,20% 92,60% 100% 100% 98,40% 100% 82,93% 100% 99,20% 95,83% 100% 41,67% 44,00% 123 35,77% não era respeitado, provavelmente por pressa do aluno em concluir os seus afazeres. A desinfecção após as moldagens é necessária, para evitar que seja enviado ao laboratório de prótese dental material contaminado com bactérias, vírus ou fungos. Este procedimento previne a infecção cruzada entre dentistas, auxiliares, protéticos e pacientes (Ministério da Saúde, 2000). É importante destacar que durante as observações evidenciou-se que todos os acadêmicos usam artigos descartáveis para cada paciente (CI18), cumprindo desta forma as normas de controle de infecção. A questão que avaliou o uso da descontaminação prévia da boca do paciente mostrou que esta prática só é executada quando da realização de procedimentos cirúrgicos. Nenhuma evidência científica indica que bochechos antes dos procedimentos previnam infecções clínicas entre profissionais de saúde bucal ou pacientes, mas estudos demonstraram que bochechos antes dos procedimentos com um produto antimicrobiano (ex.: digluconato de clorexidine, óleos essenciais ou PVPI) podem reduzir o nível de microrganismos orais em aerossóis e respingos gerados durante procedimentos dentais de rotina com instrumentos rotatórios (ex.: peças de mão ou raspadores ultrasônicos) (CDC, 2003). Saúde e segurança no trabalho As 5 primeiras questões são a respeito do uso dos EPIs (máscara, gorro, avental fechado, luvas, óculos de proteção) durante o atendimento ao paciente. A íntegra dos resultados encontra-se no Quadro 8. Os resultados referentes à Questão 1 mostram que 99,20% do total de alunos observados fazem uso da máscara, embora quase a totalidade dos mesmos a retiram e recolocam-na várias vezes durante o atendimento com as mãos enluvadas, procedimento este Revista da ABENO • 9(1):24-33 29 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM • Zenkner CL, Oliveira JHR, Pagliarin CL, Barletta FB contra-indicado pelas normas de biossegurança. De acordo com o CDC (2003), a máscara cirúrgica protege contra microrganismos gerados pelo jato de ar com uma eficiência de filtragem de bactérias maior que 95% e também protege os profissionais de partículas de aerossóis que podem conter patógenos sanguíneos ou outros microrganismos infecciosos. A Questão 2 refere-se ao uso do gorro onde observou-se que 99,20% dos alunos fazem uso do mesmo. Esta medida tem por finalidade proteger os cabelos contra respingos provenientes da boca do paciente, quando do uso de peças de mão. Se o gorro não for usado, os respingos precipitam-se sobre os cabelos servindo como meio de contaminação tanto para outros pacientes como também para familiares. Enquanto as normas para controle de infecção e acidentes recomendam a utilização de aventais de mangas longas, os resultados deste trabalho evidenciaram que 17,07% dos acadêmicos observados utilizam aventais de mangas curtas durante as sessões de trabalho clínico. Esta é uma constatação relevante. Garcia & Blank (2005) relataram que o uso de aventais de manga longa associou-se a uma menor incidência na ocorrência de lesões percutâneas afetando braço e antebraço de cirurgiões dentistas. O uso de luvas foi observado em 99,20% da amostra, sendo que somente um acadêmico executou procedimentos clínicos sem luvas. Elas constituem uma proteção fundamental para o profissional evitar contato com saliva, sangue, fluidos orgânicos ou mucosas, devendo ser usadas em qualquer situação clínica. O resultado referente a Questão 5 que trata do uso de óculos de proteção mostrou-nos que somente 35,77% dos acadêmicos fazem uso dos mesmos (44 alunos dos 123 observados). Dos 79 alunos que não usam óculos de proteção, 22 fazem uso dos óculos de grau. Também foi constatado que os acadêmicos retiram freqüentemente os óculos com as mãos enluvadas, e após um período recolocam-nos. Os óculos protetores devem ser usados para todos os procedimentos com a finalidade de proteger os olhos de traumas mecânicos, contaminação microbiana e substâncias químicas que possam atingi-los. Sabe-se que é possível desenvolver a hepatite B após uma contaminação através da via ocular. Os mais indicados são os que possuem vedação periférica. Os óculos comuns não oferecem proteção adequada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000). Na Questão 6 onde foi avaliado se os alunos reencapam agulhas, constatou-se que dos 123 alunos observados 75 anestesiaram seus pacientes, sendo que 30 74 reencaparam as agulhas de maneira inadequada. O reencape é indicado pelas normas para evitar acidentes ocupacionais, mas não se deve reencapar agulhas usadas usando as duas mãos ou qualquer outra técnica, que envolva o direcionamento da ponta da agulha para qualquer parte do corpo. Deve-se evitar dobrar, quebrar ou remover agulhas antes do descarte. Para reencapar devemos utilizar a técnica de uma só mão ou um dispositivo mecânico para segurar a capa enquanto se encapa a agulha. Deve-se considerar que um acidente com perfurocortante pode resultar na aquisição de doenças. Mesmo que o risco de adquirir hepatite B, C e AIDS seja considerado pequeno na odontologia, sabe-se que é possível a transmissão com apenas uma exposição e que o risco é acrescido depois de repetidas exposições (CDC, 2003). Quanto a Questão 7, que trata do descarte de materiais perfurocortantes em recipientes de paredes rígidas, os resultados encontrados mostram que somente um aluno não realizou este procedimento. Observou-se que os dispositivos usados para descartar objetos perfurocortantes nas clínicas são garrafas de álcool vazias e que em alguns casos encontravam-se excessivamente cheias, provalvelmente indicando falta de prontidão em substituí-los. De acordo com o manual de condutas do Ministério da Saúde (2000) os objetos perfurocortantes devem ser descartados imediatamente após o uso, em recipientes estanques, rígidos e com tampa. Devem ser identificados com o símbolo infectante e material perfurocortante. Na Questão 8, que observou se os acadêmicos utilizam luvas emborrachadas grossas para a limpeza dos instrumentais, detectou-se que 100% da amostra não aderiram ao seu uso. Dos 123 acadêmicos observados 60 (48,78%) utilizam as mesmas luvas usadas durante o atendimento, 57 (46,34%) utilizam luvas novas de procedimento e 6 (4,88%) fazem a limpeza do instrumental sem luvas. As luvas de procedimento não são adequadas para a lavagem do instrumental, pois são muito finas e rompem-se facilmente. Muito menos utilizar para esse fim as mesmas luvas que foram utilizadas para o atendimento. Estudos têm demonstrado que as luvas desenvolvem defeitos entre 30 minutos e 3 horas de uso, dependendo do tipo de luva e do procedimento. Os pesquisadores não determinaram um tempo ótimo para trocar as luvas durante os procedimentos (CDC, 2003). Em estudo desenvolvido por Garcia & Blank (2005) foi detectado que 81,1% das lesões percutâneas em atendentes de consultório odontológico (ACD) e 16,9% em dentistas ocorrem durante a lim- Revista da ABENO • 9(1):24-33 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM • Zenkner CL, Oliveira JHR, Pagliarin CL, Barletta FB Quadro 9 - Número de acidentes com perfuro-cortantes. Acidentes com perfuro-cortantes Clínicas Dentística II Nº alunos observados 22 1 Nº acidentes Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II Total 25 27 24 25 123 6 10 4 3 24 Clínica integrada Endodontia II Periodontia II Quadro 10 - Porcentagem de acadêmicos com esquema vacinal completo. Vacinação contra hepatite B Clínicas Dentística II Prótese parcial fixa II Nº alunos observados 22 25 27 24 25 123 Nº alunos vacinados 11 23 25 23 19 101 % de alunos vacinados 50% 92% 92,60% 95,83% 76% peza do instrumental. As autoras recomendam a implantação de medidas educativas onde seja reforçada a importância do uso de luvas de borracha durante a limpeza do instrumental. Constatou-se pela observação que os acadêmicos não se preocupam em proteger as fichas clínicas contra contaminação durante o atendimento (SST9), onde 100% da amostra procederam da mesma maneira. Na inspeção foram encontrados acadêmicos manipulando as fichas clínicas com as mãos enluvadas do atendimento, fichas colocadas em cima da mesa clínica juntamente com o instrumental e fichas colocadas em cima do paciente, procedimentos esses contraindicados, possibilitando o risco de infecção cruzada. Os resultados referentes à Questão 10 que avaliou se os acadêmicos protegem as películas de radiografia contra contaminação durante o atendimento, mostraram que nenhum aluno observado nas clínicas faz uso da referida proteção. Os filmes radiográficos intra-orais, por entrarem em contato direto com a saliva, membrana mucosa e muitas vezes com sangue, devem ser recorbertos com um invólucro, o qual pode ser filme de PVC, com o objetivo de promover uma barreira protetora que deve ser retirada antes da revelação. No comércio, existe o filme Clin Asept (Kodac) que conta com exclusiva embalagem com película protetora individual que minimiza o risco de contaminação cruzada nos exames intra-orais e no processamento em câmaras escuras ou outros produtos. Na Questão 11, referente ao uso de proteção durante a tomada radiográfica com avental de chumbo e protetor de tireóide, por parte dos acadêmicos, mostrou que as salas de Rx possuem proteção adequadas Total 82,11% contra a radiação. Com relação à Questão 12 (SST12), onde foi observado se os pacientes são protegidos com o uso do avental de chumbo e protetor de tireóide durante o uso do Rx, detectou-se que das clínicas observadas (5 ao todo), quatro não possuem avental de chumbo que contenha a proteção da tireóide. Conseqüentemente, os acadêmicos utilizam os aventais disponíveis, ou seja, sem proteção de tiróide. Os resultados referentes à Questão 13, que trata do recebimento de treinamento em biossegurança, mostraram que 8,31% da amostra não recebeu orientação, enquanto alguns acadêmicos dizem não ter lembrança sobre o treinamento. Muitos acadêmicos responderam que tiveram noções sobre o tema. Na Questão 14, 95,12% dos acadêmicos dizem conhecer os riscos a que estão expostos. No entanto, tal fato não impediu que se detectasse neste trabalho negligência de vários aspectos referentes às normas de biossegurança. Resultados semelhantes foram encontrados por De Paula (2003), onde 100% dos acadêmicos revelaram conhecer os riscos a que estão expostos. A autora detectou importantes descumprimentos dos procedimentos de biossegurança, o que ela associa à falta de capacitação. As questões 15,16 e 17 referem-se sobre os acidentes com perfurocortantes. Analisando o Quadro 9 constata-se que 19,51% (24 acadêmicos) relataram ter sofrido acidentes com perfurocortantes. Nenhum dos acidentes foi notificado, pois o curso, segundo entrevista com o coordenador, não tem controle dos incidentes, acidentes e doenças profissionais. O procedimento utilizado pela disciplina de Endodontia II quando ocorre um acidente com perfurocortante é Revista da ABENO • 9(1):24-33 31 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM • Zenkner CL, Oliveira JHR, Pagliarin CL, Barletta FB Quadro 11 - Atualização da profilaxia anti-tetânica. Profilaxia anti-tetânica Dentística II Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II Total Nº alunos observados 22 25 27 24 25 123 Nº alunos atualizados 20 21 23 19 21 104 % de alunos atualizados 90,90% 84% 92,60% 85,18% 84% Clínicas 84,55% Quadro 12 - Alunos vacinados contra o VHB e os que verificaram a soroconversão. Vacinação contra hepatite B / Verificação da soroconversão para VHB Clínicas Dentística II Prótese parcial fixa II Clínica integrada Endodontia II Periodontia II Total Nº alunos observados 22 25 27 24 25 123 Nº alunos vacinados 11 23 25 23 19 101 % de alunos vacinados 50,00% 92,00% 92,60% 95,83% 76,00% Nº de alunos que verificaram a efetividade da soroconversão 0 % de verificação da soroconversão 0% 5 21,74% encaminhar o paciente juntamente com o acadêmico para o HUSM (Hospital Universitário de Santa Maria) ou para o Hospital de Caridade, para fazer os exames necessários. Segundo indicação do Ministério da Saúde, após a ocorrência de acidentes com perfurocortantes, alguns procedimentos são recomendados: cuidados locais, medidas específicas de quimioprofilaxia para o HIV, medidas específicas de quimioprofilaxia para hepatite B, medidas específicas para hepatite C e registro do acidente de trabalho. Nenhum dos acadêmicos acidentados com perfurocortantes fez uso de quimioprofilaxia. Os resultados referentes à Questão 18, que aborda o esquema de vacinação contra hepatite B, encontrase detalhado no Quadro 10. Detectou-se que 82,11% dos acadêmicos observados apresentam o esquema vacinal completo. Por ser uma doença infecciosa de risco ocupacional reconhecido é recomendado que todos os profissionais e estudantes de odontologia sejam vacinados (Ministério da Saúde, 2000). No Quadro 11 observa-se os resultados encontrados referentes à atualização da profilaxia antitetânica, onde 84,55% dos acadêmicos dizem estar com a profilaxia atualizada. Embora o risco de contrair tétano seja nulo ou insignificante, é recomendado que toda a equipe odontológica mantenha-se com a vacinação 32 7 28,00% 4 17,40% 2 10,53% 82,11% 18 17,82% atualizada por meio de reforços a cada 10 anos (Ministério da Saúde, 2000). A Questão 20 refere-se à verificação da efetividade da soroconversão para o VHB pelo acadêmico, onde pode-se constatar que somente 17,82% (18 alunos) da amostra realizou o referido exame. Durante a entrevista com os acadêmicos, verificou-se que a grande maioria desconhece a necessidade de realização do teste, o que pode ser comprovado pelo baixo número de alunos que o fizeram. O teste é importante, pois mesmo tendo sido administradas as três doses preconizadas, pode ocorrer a não imunização. Neste estudo detectou-se que dos 18 acadêmicos os quais verificaram a efetividade da soroconversão, 1 apresentou resposta negativa (5,55%) que aparentemente parece um percentual baixo, mas em se tratando de saúde não pode ser visto desta maneira. No Quadro 12 temse detalhados os resultados encontrados nas questões 18 e 20. CONCLUSÃO A prática da odontologia expõe o profissional a vários riscos, entre eles destaca-se o risco biológico. Os contatos freqüentes com fluidos corporais, a utilização de instrumentos rotatórios em alta velocidade e geradores de spray, e a proximidade física com o paciente, necessária ao atendimento odontológico, Revista da ABENO • 9(1):24-33 Diagnóstico de biossegurança nas clínicas do curso de odontologia da UFSM • Zenkner CL, Oliveira JHR, Pagliarin CL, Barletta FB são fatores potencializadores dos riscos biológicos. Porém estes riscos podem ser minimizados se o profissional adotar uma prática segura através da implementação das normas de biossegurança em seu trabalho diário. Os cuidados necessários a um atendimento odontológico adequado aos conceitos atuais de biossegurança estão normatizados pelos órgãos competentes, estando estas normas devidamente explicitadas, publicadas em diretrizes e amparadas em legislação específica. Detectou-se a existência de um baixo nível de comprometimento dos acadêmicos com relação às medidas de controle de infecção durante as atividades clínicas. Entende-se que além do conhecimento científico e do treinamento prático para o desempenho de técnicas específicas da profissão, o curso de Odontologia deve ensejar a aquisição e a sedimentação de bons hábitos no que concerne a promoção da saúde e a segurança tanto do futuro cirurgião-dentista quanto daqueles que buscarem seus serviços. sofia correta de trabalho em odontologia. São Paulo: Pancast; 1991. 2. Centers for Disease Control and Prevention. Guidelines for infection control in dental health-care settings. n. RR-17, v. 52. MMWR, Dec. 19 2003. 3. Couto RC, Pedrosa TM, Nogueira JM. Infecção hospitalar: epidemiologia e controle. Rio de Janeiro: Medsi; 1999. 4. De Paula NVK. Diagnóstico de biossegurança em clínica odontológica universitária da universidade paranaense – UNIPAR. Florianópolis; 2003. [Dissertação de Mestrado– Universidade Federal de Santa Catarina]. 5. Discacciati, JAC et al. Verificação da dispersão de respingos durante o trabalho do cirurgião-dentista. Rev.Panam. Salud Pública 1998 fev. 3 (2): 84-87. 6. Estrela C. Controle de infecção em odontologia. São Paulo: Artes Médicas; 2003. 169 p. 7. Garcia LP, Blank VLG. Prevalência de exposições ocupacionais a material biológico em cirurgiões-dentistas e auxiliares de consultório dentário. Cad. Saúde Pública (no prelo) 2005. 8. Iida I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher Ltda; 2001. 9. Lima RC, Victora CG, Agnol MMD, Facchini LA, Fassa AG. ABSTRACT Diagnosis of biosafety in the clinics of the UFSM dentistry school Dentistry is a profession that poses several hazards, including biological agents that constitute a serious threat to the health of the professional, the patient and the team. Learning to manage these hazards is a goal to be achieved and the education needed to do this must begin early in academic life. This study was carried out in the Federal University of Santa Maria (UFSM) and its aim was to perform a diagnosis of biosecurity. This diagnosis was made by applying a check-list that assessed the actions developed by students (through observation plus an interview). The data gathered was analyzed and represented in tables and graphs. It can be concluded that greater commitment to infection-control measures is required, that the discipline of biosecurity and ergonomics (human engineering) should be included in college curriculum, and that the physical structure of clinics should be aligned to legal requirements to make it easier to work more ergnonomically, thus contributing to reducing occupational risks. Percepção de exposição a cargas de trabalho e riscos de acidentes em Pelotas, RS (Brasil). Revista de Saúde Pública 1999 abr.; 2 (33). 10. Lima SNM, Ito II. Controle de infecções no consultório odontológico: sistema BEDA de controle. Ribeirão Preto: Sabi-Atlante; 1992. 11. Ministério da Saúde. Controle de infecções e a prática odontológica em tempos de AIDS. Brasília: Manual de Condutas; 2000. 118 p. 12. Porto MF de S. Análise de riscos nos locais de trabalho: conhecer para transformar. Cadernos de Saúde do Trabalhador 2000. 13. Rabello SB, Godoy CVC, Santos FRW dos. 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Ergonomia I: a eficiência ou rendimento e a filo- Revista da ABENO • 9(1):24-33 Aceito em 29/06/2009 33 A ética em pesquisa com seres humanos pelas lentes do cinema Ana Cristina Kovalik*, Letícia Antonelo Campos*, Driellen Christine Zarpellon*, Juliana Schaia Rocha*, Márcia Thaís Pochapski*, Fábio André Santos* *Universidade Estadual de Ponta Grossa RESUMO O avanço científico que vem ocorrendo no Brasil elevou a necessitada de discussão sobre ética em pesquisa envolvendo seres humanos dentro das instituições de ensino superior. Para isso, a associação entre a arte persuasiva do cinema e a ética em pesquisa tem sido uma metodologia eficaz no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem de alunos de graduação e pós-graduação. Assim, o objetivo deste projeto de extensão foi promover a discussão e o conhecimento sobre a ética em pesquisa envolvendo seres humanos com graduandos, pós-graduandos, professores e servidores públicos da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Os resultados mostraram a efetividade do método, concluindo que os filmes contribuíram satisfatoriamente para o aprendizado e posicionamento ético de todos os participantes. Descritores Bioética. Ética em Pesquisa Clínica. Cinema. S egundo dados disponíveis no site da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) no ano de 2009 o Brasil ocupava a 13ª posição do ranking mundial de produção científica, superando a Holanda e a Rússia e em 2010 formou 17.000 novos doutores. Isso significa que a quantidade e a qualidade das pesquisas científicas no país se elevarão em proporções jamais alcançadas, destacando-se aqui as pesquisas conduzidas em seres humanos.5 A bioética ou ética em pesquisa é um tema de grandes discussões científicas no Brasil. Quase todos os campos disciplinares enfrentam o desafio de aproximar a ética da ciência. Isso não significa que não se fizesse ciência com ética antes da abertura do debate sobre ética em pesquisa, mas esse não era um tema central às comunidades científicas.15, 6, 3 Por outro lado, os filmes constroem representações sociais e influenciam comportamentos. Ao fazê34 lo, podem estar a serviço de certos valores, interesses e concepções do mundo. Mas também podem ser um instrumento poderoso de transformação social, justamente pela prerrogativa que assumem de promover o diálogo e aproximar os espectadores de um contexto vivo e permeado por situações de intensos conflitos muitas vezes pouco discutidos.9,7 A maioria das pessoas vai ao cinema ver um filme que conta uma boa história. Mas, por trás de um bom filme, enredo e estética se articulam para a produção dos sentidos da linguagem cinematográfica. Com a utilização de filmes como recurso complementar à reflexão sobre a ética na pesquisa científica, surge um campo do conhecimento na fronteira da humanidade e da saúde. A linguagem cinematográfica permite uma aproximação intensa, porém sensível, da realidade. Os temas debatidos são inquietantes e estão na agenda de discussões da ciência brasileira: possibilidades e limites do estudo; participação de populações vulneráveis em protocolos médicos. Não há soluções definitivas para esses conflitos que caracterizam a ciência contemporânea. Há caminhos para sairmos à procura de melhores respostas.14,6 A articulação entre a arte e a ética oferece essa oportunidade e demonstra a pertinência da realização deste projeto. Assim, esta proposta se justifica, pois a sensibilização para as questões éticas envolvidas na pesquisa científica é um dos principais desafios da atualidade. O objetivo deste projeto de extensão foi incentivar a reflexão e a discussão sobre a ética em vários aspectos da pesquisa envolvendo seres humanos, como a pesquisa clínica e comportamental, através de sessões com filmes. Metodologia Foram fixados cartazes (Figura 1) nos murais dos cursos de graduação em Odontologia, Farmácia, Biologia, Medicina e Educação Física existente na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Os dados disponíveis eram a sinopse dos filmes, as datas da realização de cada um das três sessões e o local para inscrição. O público alvo eram acadêmicos, professores e servi- Revista da ABENO • 9(1):34-8 A ética em pesquisa com seres humanos pelas lentes do cinema • Kovalik AC, Campos LA, Zarpellon DC, Rocha JS, Pochapski MT, Santos FA dores da instituição, além da comunidade. A participação era gratuita e o número de inscritos foi de 69 indivíduos. Caixas de som foram acopladas a um microcomputador, sendo os filmes projetados em equipamento de multimídia. Os filmes selecionados foram: 1.Experiência (Das Experiment) - ano: 2001 com duração de 119 minutos. O experimento é divulgado em um jornal escrito que oferece como recompensa U$2.000,00 para investigar o comportamento agressivo em um ambiente de prisão simulada. Através de um computador foi realizada a escolha aleatória para designar oito homens como “guardas” e doze homens como “prisioneiros”. Enquanto os prisioneiros ficam trancafiados e são obrigados a obedecer as regras, os guardas são instruídos a manter a ordem. Com o transcorrer dos dias, o poder e a autoridade combatem a rebelião e a desobediência com resultados cada vez mais violentos, apagando a linha entre o que é “real” e o que é o “experimento”. Baseado em uma história real, chamada “Experiência da Prisão de Stanford”. Figura 1 - Folder de divulgação 2.O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener) - ano: 2005 com duração de 129 minutos. Justin Quayle é um diplomata britânico cujo maior interesse é a jardinagem. Quando é escolhido para substituir um colega numa palestra conhece sua futura esposa Tessa, uma ativista dos direitos humanos. Justin é transferido para África onde durante uma viagem de trabalho, ela é assassinada em condições suspeitas e todos tentam convencer o marido de que ela o traía com Arnold, um médico com quem trabalhava. Porém, apesar das ameaças que recebe, Justin insiste em investigar a morte da mulher e descobre que Tessa estava envolvida numa investigação secreta que envolve governos, multinacionais farmacêuticas e testes de medicamentos em seres humanos sem o consentimento destes. Sob o pretexto de prevenir o alastramento da AIDS e distribuir medicamentos gratuitos para o seu tratamento, no Quênia, estava sendo testado um novo medicamento contra a tuberculose cujos graves efeitos adversos eram ocultados. 3.Cobaias (Miss Evers’ Boys) - ano: 1997 com duração de 118 minutos. Em 1932 a sífilis assumia proporções de epidemia nos Estados Unidos, atingindo principalmente a comunidade negra. O governo então implementa um programa de tratamento gratuito para os doentes no hospital Tuskegee, no Alabama. Mas logo as verbas são cortadas e o programa é transformado num estudo que pretende verificar se os negros reagiam à doença da mesma forma que os brancos. Para isso, os pacientes deveriam ser observados e não receber tratamento. Sem ser informados de nada, ao longo de quarenta anos, 600 homens tomaram vitaminas e fortificantes acreditando estar sendo tratados. Em 1972 o caso veio a público e a Comissão de Saúde do Senado americano realizou uma investigação através do depoimento da enfermeira Eunice Evers que trabalhava no projeto. Baseado em uma história real, chamada “Caso Tuskegee”. Cada sessão foi dividida em dois momentos. O 1º momento: assistir aos filmes; 2º momento: debater as impressões extraídas. Para iniciar o 2º momento era solicitado aos participantes que apresentassem suas impressões sobre as narrativas mostradas nos filmes. Posteriormente cada um dos tópicos apontados pelos participantes era discutido e para instigar a reflexão dos itens elencados pelos participantes eram elaboradas perguntas específicas relacionando os filmes com a ética em pesquisa. Para encerrar o encontro, os temas discutidos eram associados ao momento atual da prática de pes- Revista da ABENO • 9(1):34-8 35 A ética em pesquisa com seres humanos pelas lentes do cinema • Kovalik AC, Campos LA, Zarpellon DC, Rocha JS, Pochapski MT, Santos FA Tabela 1 - Distribuição e freqüência dos participantes. Participantes n. Freqüência de Participação (Média ± Desvio padrão) Professores 7 Servidores 8 Alunos de Graduação 7 Masculino 71 ± 30% 6 (86%) 1 (14%) 79 ± 40% 7 (87%) 1 (13%) 90 ± 25% 5 (71%) 2 (29%) Alunos de Pós-graduação 24 76 ± 37% 17 (71%) 7 (29%) Total 46 78 ± 35% 35 (76%) 11 (24%) quisa com seres humanos. Ao final do terceiro encontro ou sessão foi aplicado um questionário que foi respondido de forma voluntária e anônima para coletar informações dos participantes acerca da relevância acadêmica do evento. Resultados Do total de inscritos (n = 69) 46 participaram do projeto. A amostra é descrita na Tabela 1. Um total de 34 (74%) dos participantes respondeu ao questionário de forma voluntária (Tabela 2) e segundo a análise dos dados, 97% dos inscritos consideraram que as atividades desenvolvidas no projeto corresponderam aos objetivos do projeto de extensão. Apenas um participante (3%) considerou que as atividades ficaram abaixo da sua expectativa. Todos informaram que os filmes apresentados possuíam uma temática atual e relevante, contribuindo para a reflexão sobre a ética em pesquisa com seres humanos e para sua formação acadêmica e pessoal. As discussões ao final de cada filme foram consideradas úteis para aprimorar a compreensão e entendimento do assunto. Apenas um participante (3%) mencionou que os debates poderiam ter sido melhores explorados. Apesar de não ter sido incluído no questionário, muitos informaram pessoalmente que atividades desta natureza deveriam ser realizadas com maior freqüência pela instituição. Discussão A utilização de filmes no processo de ensinoaprendizagem tem sido adotada em diferentes áreas de conhecimento desde o ensino fundamental até o universitário. Esta prática favorece o aprendizado em virtude da riqueza de detalhes e linguagem cinematográfica e pela aproximação com a vida real, o que desperta nos alunos o interesse e a participação nas discussões sobre o tema, além de ser um recurso de disponibilidade e acesso fácil.1,7,9 Apesar de não representar a realidade brasileira 36 Gênero Feminino Tabela 2 - Opinião dos participantes acerca da relevância do uso de filmes na discussão da ética em pesquisa com seres humanos. Questões Respostas Sim Não 97% 3% Os filmes apresentados contribuíram para uma reflexão sobre a ética em pesquisa envolvendo seres humanos? 100% 0% Você considera os temas abordados nos filmes atuais e relevantes? 100% 0% Os aspectos levantados nas discussões ao final de cada filme contribuíram para melhorar o seu entendimento sobre o assunto (bioética). 97% 3% 100% 0% As atividades desenvolvidas no projeto corresponderam a suas expectativas? Você considera que atividades desta natureza são úteis em sua formação? em termos de pesquisa envolvendo seres humanos, os filmes foram escolhidos baseados em seu enredo com o intuito de extrair as principais ideias que contrariam as normas às quais uma pesquisa clínica deve estar delineada. Dentre eles, o Código de Nuremberg (1947), a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e a Declaração de Helsinki (1964) que foram formulados após tantas barbáries causadas contra seres humanos, sendo seu objetivo preservar a dignidade humana, a justiça e a equidade.3,10,12,16 No Brasil a discussão sobre a bioética em pesquisa com seres humanos surgiu em meados de 1993 e desde 1996 possui o melhor conjunto de normas e leis em todo o mundo, baseado nas normas e diretrizes acima citadas e na resolução 196/96 no Conselho Nacional de Saúde.2 Porém, não assegura que as pesquisas sejam conduzidas conforme as leis e regras estabelecidas, porque conta apenas com a fidelidade do pesquisador no momento do experimento. Por esse motivo é tão grande o valor de instigar o aluno e a comunidade leiga a desenvolver uma visão crítica e um posicionamento ético.10 A maioria dos alunos e servidores inscritos neste Revista da ABENO • 9(1):34-8 A ética em pesquisa com seres humanos pelas lentes do cinema • Kovalik AC, Campos LA, Zarpellon DC, Rocha JS, Pochapski MT, Santos FA projeto de extensão pertencia ao departamento de Odontologia, porém, alguns alunos do curso de Farmácia e Medicina também fizeram parte da discussão. Através dos dados do questionário, pôde-se observar a elevada significância deste projeto para os graduandos e pós-graduandos da área da saúde, pois a bioética é uma disciplina que os acompanhará como pesquisador e como profissional ao longo de suas carreiras. Desenvolver a conduta ética desde o início da graduação propicia a perpetuação desta ao longo da trajetória profissional destes alunos.11 Muitos não possuíam conhecimento e experiência sobre pesquisa envolvendo seres humanos e puderam concluir este projeto amadurecidos sobre o seu dever em respeitar a dignidade humana diante de pesquisas.3 Além deste aspecto, o momento foi propício para informar o que é CEP e CONEP e sobre como o pesquisador deve elaborar um projeto de pesquisa envolvendo seres humanos. Para alunos pós-graduandos foi importante enfatizar o surgimento e a divulgação de diretrizes éticas e apontar sua responsabilidade como pesquisador no cumprimento dos princípios bioéticos (maleficência, não-maleficência, autonomia, justiça)4,2,13 destacando que até o momento, estes instrumentos não foram totalmente eficazes para garantir a segurança, a integridade e o respeito para com os voluntários que participam de pesquisas clínicas.8,11 A participação dos servidores locais representa a população leiga, ou seja, os possíveis voluntários de uma pesquisa. Com o avanço científico que vem ocorrendo no Brasil é de grande valor que estes cidadãos conheçam as leis e regras que protegem e regularizam a sua participação voluntária em pesquisas científicas. Os tópicos bordados durante as sessões foram: atuação e importância de CEPs, falta do termo de consentimento livre e esclarecido durante a execução das pesquisas, ausência de autonomia dos voluntários, a maleficência causada pela pesquisa, a ambição do pesquisador, uso de placebos e pesquisas patrocinadas por multinacionais. Em todos os filmes foi demonstrada a violação dos princípios bioéticos: beneficência, não-maleficência, justiça e autonomia 14 e suas consequências. sabilidade em preservar a dignidade humana no momento dos experimentos. Aos servidores públicos oportunizou a compreensão sobre a importância da realização de pesquisa com seres humanos para o avanço científico, além da descoberta dos seus direitos casos sejam voluntários em pesquisas. A receptividade do projeto foi excelente, demonstrando por parte dos participantes o desejo de futuros eventos como este para serem debatidos. Abstract Ethics in clinical research through movies The scientific advance that has occurred in Brazil increases the need to discuss ethics in human research within universities and research institutes. With this in mind, the association between the persuasive art of cinema and ethics research has been an effective methodology regarding the teaching and learning of undergraduate and graduate students. The aim of this extramural education project was to promote the discussion and understanding of ethics in human clinical research among undergraduate and graduate students, professors and public servants at Ponta Grossa State University. The results showed the effectiveness of this method. In conclusion, movies can contribute satisfactorily to the ethical learning and positioning of all participants. Descriptors Bioethics. Ethics in Clinic Research. Movies. § Referências 1. Alexander M, Hall MN, Pettice YJ. Cinemeducation: an innovative approach to teaching psychosocial medical care. 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RGO, Porto Alegre. 2008; 56(3):327-332. 12. Nuremberg Code. In: Brandt, K. et al. Complete transcript of the Nuremberg Medical trial. Washington D.C.: National Archives, November 21, 1946 – August 20, 1947. 13. Paiva GJ. Ciência, religião, psicologia: conhecimento e com- 38 Revista da ABENO • 9(1):34-8 A prática do processamento radiográfico em odontologia: uma análise qualitativa Naiara Leites Larentis*, Carlos Eduardo Winck Mahl**, Alcebíades Nunes Barbosa***, Vania Regina Camargo Fontanella****, Airton Pozo de Matos***** * Mestre em Clínicas Odontológicas/Radiologia - UFRGS, Professora do curso de Odontologia da ULBRA-Torres ** Mestre em Clínicas Odontológicas/Radiologia - UFRGS, Professor do curso de Odontologia da ULBRA-Canoas *** Doutor em Dentística pela USP, Professor do curso de Odontologia ULBRA-Canoas **** Doutora em Odontologia pela PUC-RS, Professora dos cursos de Odontologia da UFRGS e ULBRA-Canoas ***** Doutor em Educação e Desenvolvimento Humano pela PUC-RS, Professor do curso de Odontologia e Saúde Coletiva da ULBRA-Canoas e do ISES-Sevigné Resumo Buscando possíveis causas para a falta de qualidade das radiografias realizadas no curso, foram entregues questionários abertos a todos os professores de Odontologia da ULBRA, campus Torres/RS, com 5 questões envolvendo seus conhecimentos sobre processamento radiográfico. Participaram da pesquisa os 16 professores que devolveram o questionário respondido. Utilizou-se para a análise dos dados a Análise de Conteúdo de Bardim, situada no Grupo dos Métodos Lógicos-Semânticos. A organização da análise de dados coletados ocorreu em três momentos: a préanálise, a exploração do material e os tratamentos dos resultados. A grande maioria dos professores que aprendeu a utilizar o método visual na sua graduação (13) continua processando as radiografias da mesma maneira até hoje. Os resultados da pesquisa mostram que não existe uma padronização em relação ao método de processamento utilizado em todas as disciplinas do curso. Além disso, etapas do processamento como o tempo de permanência no fixador, banho final, secagem e armazenagem não foram citadas pela maioria dos professores nos questionários. É necessária a conscientização da importância de ocorrerem mudanças, inicialmente por parte dos professores das diferentes áreas clínicas da Odontologia, para que os alunos possam continuar processando as radiografias, como corretamente ensinado na disciplina de radiologia durante todo o seu curso de graduação e vida profissional, não desprezando nenhuma etapa do processo. Descritores Radiologia. Ensino. Pesquisa Qualitativa. ANTECEDENTES E JUSTIFICATIVA Os benefícios de um exame radiográfico estão fundamentados na sua qualidade, permitindo o correto diagnóstico,1 pois radiografias de qualidade insatisfatória podem interferir na interpretação da imagem, resultando em erros de diagnóstico e, conseqüentemente, no plano de tratamento.2,6 Além de interpretações errôneas, falhas durante a execução da tomada radiográfica ou durante o processamento, manipulação e armazenamento dos filmes radiográficos são causas de repetições do exame, causando maior exposição dos pacientes à radiação, aumento do tempo clínico necessário e custos dispensados.5 O conceito de ALARA (as low as reasonably achievable, tão baixo quanto exeqüível) é sugerido para que a exposição à radiação ionizante associada a radiografias dentárias seja minimizada.4,6,8 Esse conceito não define uma dose de radiação específica, mas alerta que Revista da ABENO • 9(1):39-43 39 A prática do processamento radiográfico em odontologia: uma análise qualitativa • Larentis NL, Carlos Mahl EW, Barbosa AN, Fontanella VRC, Matos AP todas as medidas razoáveis devem ser tomadas para assegurar que as pessoas expostas receberão a menor quantidade de radiação possível.6 Isso porque não existe um limite mínimo de radiação ionizante verdadeiramente inócuo. Qualquer dose, por menor que seja, poderá ser nociva, produzindo mudanças biológicas nos organismos vivos. As doses geralmente empregadas na prática odontológica são consideradas baixas, no entanto não se deve presumir a ausência de danos.7 O processamento radiográfico do filme que contém a imagem latente é um dos principais fatores que podem alterar a qualidade da imagem radiográfica. É crucial que o processamento radiográfico seja realizado sob condições controladas e padronizadas com atenção cuidadosa aos detalhes, objetivando uma imagem de qualidade capaz de nos auxiliar no diagnóstico, planejamento e tratamento das afecções da cavidade bucal.10 Além do método manual, existem vários modelos de processadoras automáticas disponíveis no mercado, as quais transportam o filme por um sistema de rolos, diminuindo o tempo de aquisição de um filme seco. Muitas possuem o sistema daylight, que elimina a necessidade de câmara escura, além de permitir melhor controle nas etapas do processamento. Entretanto, o método automático é oneroso e dificilmente está disponível na prática cínica e nos serviços de saúde.14 Infelizmente, a não rara má condução do processamento é a causa de radiografias apresentarem uma inadequada qualidade para o diagnóstico, não correspondendo ao alto custo dos aparelhos e à habilidade técnica do operador.14 Assim inúmeros estudos apontam o processamento radiográfico como a principal causa de erros em Radiologia Odontológica.9,11 Um fator possivelmente associado a esse problema seja, talvez, a pouca familiaridade de alguns professores de disciplinas clínicas dos cursos de Odontologia com os avanços da Radiologia, os quais, inadvertidamente, transmitem aos alunos conceitos equivocados ou ultrapassados quanto ao processamento radiográfico. Buscando possíveis causas para a falta de qualidade das radiografias realizadas no curso de Odontologia da ULBRA, campus Torres/RS, foram entregues questionários a todos os professores do curso, com o objetivo de avaliar seus conhecimentos sobre processamento radiográfico. METODOLOGIA A pesquisa se caracteriza por ser qualitativa, exploratória e descritiva. O instrumento de coleta de dados foi um questionário aberto entregue a todos os pro40 fessores cirurgiões-dentistas do curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Campus-Torres/RS (28), com cinco questões envolvendo conhecimentos sobre processamento radiográfico. Participaram da pesquisa os 16 professores de diferentes áreas da Odontologia que devolveram o questionário respondido. Não foi permitida a busca de informações sobre o assunto em livros, internet ou qualquer outro meio de pesquisa durante a resposta ao questionário. Utilizou-se para a análise dos dados a Análise de Conteúdo de Bardim (1977).3 A análise situa-se no Grupo dos Métodos Lógicos-Semânticos. A organização da análise de dados coletados ocorreu em três momentos: • a pré-análise, • a exploração do material e • os tratamentos dos resultados: Pré-análise A pré-análise foi a fase de organização propriamente dita. Correspondeu às buscas iniciais, de intuições, de primeiros contatos com os materiais que teve por objetivo sistematizar os “preâmbulos” a serem incorporados para a constituição de um esquema preciso, permitindo o desenvolvimento das operações sucessivas e com vistas à elaboração de um plano de análise. Essa primeira fase implicou na escolha dos documentos a serem submetidos à análise, na formulação das hipóteses e/ou nos objetivos e na elaboração de indicadores que fundamentassem a interpretação final. Correspondeu ao período em que se fez a sistematização das idéias principais lançadas nos questionários, de forma que se conduziu um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas em um plano de análise. Nessa etapa foi desenvolvido: a)primeiro contato com as respostas, conheceu-se o contexto, deixando-se invadir por impressões e orientações (leitura flutuante); b)análise propriamente dita, operacionalizaram-se os processos de codificação, categorização e quantificação dos dados dos questionários; c) tratamento das informações, este relacionado com a determinação de um “código qualitativo” para a sua classificação e tratamento. Exploração do Elemento Essa etapa correspondeu a uma transformação dos dados brutos em três escolhas: • o recorte (escolha das unidades), • a enumeração (escolha das regras de contagem) e Revista da ABENO • 9(1):39-43 A prática do processamento radiográfico em odontologia: uma análise qualitativa • Larentis NL, Carlos Mahl EW, Barbosa AN, Fontanella VRC, Matos AP • a classificação e agregação (escolha das categorias). Para Bardin (1977) essa fase consiste essencialmente de operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas. 3 Tratamento das informações Após a leitura criteriosa dos questionários, foi escolhida a unidade de registro, ou seja, a unidade de significação para codificar e corresponder ao segmento de conteúdo a considerar como unidade base. A categorização foi uma operacionalização de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e reagrupamento segundo analogia. As categorias foram rubricas ou classes, as quais reuniram um grupo de elementos (unidades de registro) sob um título, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos. O processo de categorização comportou duas etapas: a)o inventário, onde se realizou o isolamento dos elementos; b)a classificação foi repartida dos elementos procurando organizar as mensagens. No processo de categorização se utilizou o procedimento de “caixa”3 onde foi fornecido o sistema de categorias e se repartiu da melhor maneira possível os elementos, à medida que foram sendo encontrados. As categorias possuíram as seguintes qualidades: • exclusão mútua (esta condição foi estipulada quando cada elemento não poderia existir em mais de uma divisão); • homogeneidade (um único princípio de classificação devia governar a sua organização); • pertinência (quando a categoria estava adaptada ao material de análise escolhido e quando pertencia ao quadro teórico definido); • objetivo e fidelidade (organização de análise deveria definir claramente as variáveis que tratava, assim como deveria precisar os índices que determinaram a entrada de um elemento numa categoria) e • produtividade (resultados férteis). Foram respeitados os aspectos éticos para a realização da pesquisa, de acordo com a norma 196/96. Assim, todos os professores foram informados da pesquisa e de seus objetivos, concordando com a sua participação. RESULTADOS E DISCUSSÃO O tempo de formado dos professores variou entre 7 a 23 anos, sendo que a maioria possuía mais de 10 anos. A graduação dos professores foi realizada em diferentes universidades, federais, estaduais e particulares e o tempo de experiência docente variou de 3,5 a 8 anos. A partir da análise dos questionários e organização dos dados foi possível avaliar que dos 16 professores que formaram a amostra, 13 aprenderam no seu curso de graduação o método visual de processamento radiográfico, um o método temperatura-tempo e dois os dois diferentes métodos. Foi perguntado para esses professores qual o método de processamento radiográfico que eles utilizavam na prática clínica. A grande maioria dos professores que aprendeu a utilizar o método visual na sua graduação (13) continua processando as radiografias da mesma maneira até hoje. Apenas três professores aprenderam o método visual e hoje processam as radiografias pelo método temperatura-tempo, sendo um deles professor da disciplina de Radiologia e Imaginologia Odontológica. Poucos professores aprenderam o método temperatura-tempo (3) na sua graduação e todos eles passaram a utilizar na sua prática clínica o método de processamento visual de radiografias. Uma possível explicação para isso é o fato de que a lei que estabelece o uso do método temperatura-tempo é recente (Portaria 453, 1998) se compararmos com o tempo de formado dos professores que participaram da pesquisa, mostrando a necessidade de atualização dos mesmos sobre o assunto. Além disso, quando foi solicitado que descrevessem o método utilizado, sete deles não citaram o tempo de imersão do filme na solução fixadora e no banho final, ou porque esqueceram de descrever essa etapa do processamento ou porque não deixam o tempo suficiente do filme nessas soluções com podemos perceber pela frase “imersão no revelador até que se forme a imagem, lavagem em água, imersão no fixador até que a imagem desapareça”. O método temperatura-tempo é o preconizado pela Portaria 453 do Ministério da Saúde13, permitindo radiografias mais padronizadas em relação à sua densidade e de qualidade. O tempo que o filme deve ser imerso no revelador depende da temperatura do líquido, variando de 2,5 a 5 min, de acordo com as Revista da ABENO • 9(1):39-43 41 A prática do processamento radiográfico em odontologia: uma análise qualitativa • Larentis NL, Carlos Mahl EW, Barbosa AN, Fontanella VRC, Matos AP instruções do fabricante (KODAK-http://wwwbr.kodak.com/BR/pt/index.shtml). Pode-se perceber pela frase retirada de um dos questionários “deixo mais ou menos 30 segundos de imersão no revelador” que, na prática clínica, o que ocorre é que, para diminuir esse tempo de permanência do filme no revelador aumenta-se consideravelmente o tempo de exposição à radiação X. Entretanto, por se tratar de uma radiação ionizante, as exposições deveriam ser sempre otimizadas ao valor mínimo necessário para obtenção do objetivo radiológico (diagnóstico e terapêutico), compatível com os padrões aceitáveis de qualidade de imagem.13 Quando foi questionado aos professores se era de seu conhecimento o método de processamento radiográfico que seus alunos realizavam nas clínicas da universidade surgiram frases como “os alunos devem realizar o processamento através do método temperatura-tempo” ou “acho que começam fazendo tempo-temperatura (SIC) [temperatura-tempo] e no decorrer do processo acabam todas as disciplinas do curso. Os alunos aprendem a utilizar o método correto, com um tempo de exposição adequado e, posteriormente, no decorrer do curso, para diminuir o tempo de permanência do filme no revelador aumentam o tempo de exposição do paciente à radiação X. Além disso, as outras etapas do processamento, como o tempo de permanência no fixador, banho final, secagem e armazenagem também devem ser seguidos corretamente e a maioria dos professores nem citaram esses etapas nos questionários. Segundo Pardini, Machado e Watanabe (1999),11 a maioria dos profissionais, na sua rotina clínica, trata esse procedimento radiográfico com certo desprezo, não se preocupando com a temperatura dos líquidos de processamento e, muito menos, com o tempo de passagem do filme por cada substância química. Yokota et al. (1994)13 colocam que as radiografias constituem o complemento mais preciso disponível na Odontologia e são essenciais para a detecção de anormalidades ósseas, pois mudanças na arquitetura do tecido e na progressão da doença podem ser acompanhadas através delas. Quando questionados sobre a importância de se realizar um correto processamento radiográfico, todos os professores concordaram com essa importância através de frases como se valendo do método visual”, “permite melhores condições de interpretação”, “atualmente, para aqueles alunos que cursam Radiologia, após a implementação do novo currículo, tem se exigido “proservação de casos”, “evitar radiografias desnecessárias”, que executem o processamento pelo método temperaturatempo. No entanto, algumas disciplinas ainda fazem o “permite melhor comparação de uma radiografia com a processamento pelo método visual”, outra”, “os alunos que cursam a disciplina de Radiologia executam o método temperatura-tempo, mas algumas disciplinas “permite guardar as radiografias como documento no ainda fazem o processamento pelo método visual”, prontuário”, “creio que a disciplina de Radiologia ensine o método “é um documento jurídico”. tempo-temperatura (SIC) [temperatura-tempo], contudo pelo que vejo no dia-a-dia da clínica creio que os alunos utilizam o método visual”, Entretanto, apesar do conhecimento sobre a importância de exames complementares de qualidade ainda existem muitos problemas em relação à realização de um correto processamento das radiografias. “eles aprendem o método tempo-temperatura (SIC) [temperatura-tempo] e acabam usando o visual”. Isso demonstra que não existe uma padronização em relação ao método de processamento utilizado em 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS Não existe uma padronização de conhecimentos dos professores em relação ao processamento radiográfico no curso de Odontologia da ULBRA/Torres. Revista da ABENO • 9(1):39-43 A prática do processamento radiográfico em odontologia: uma análise qualitativa • Larentis NL, Carlos Mahl EW, Barbosa AN, Fontanella VRC, Matos AP Os alunos aprendem a realizá-lo corretamente na disciplina de Radiologia e Imaginologia Odontológica, mas, ao longo do curso, passam a não seguir corretamente todos os passos necessários para a obtenção de uma radiografia com qualidade que permita um correto diagnóstico. É necessária a conscientização da importância de ocorrerem mudanças, inicialmente por parte dos professores das diferentes áreas de concentração da Odontologia, para que os alunos possam continuar processando as radiografias corretamente durante todo o seu curso de graduação e vida profissional, não desprezando nenhuma etapa do processo. Para permitir que as transformações ocorram, é necessário que os líquidos sejam trocados periodicamente, pois sua degradação pode afetar a qualidade da imagem. A temperatura dos líquidos precisa ser medida diariamente através de termômetros e os cronômetros devem pertencer à lista de material necessário aos alunos de graduação. Além disso, deve existir uma padronização em relação aos conhecimentos dos professores sobre o assunto, para que junto ao corpo docente da disciplina de Radiologia e Imaginologia Odontológica possam melhorar a qualidade do processo. O controle de qualidade das radiografias odontológicas é de responsabilidade dos cirurgiões-dentistas5 e cabe aos professores ensinarem como isso deve ser realizado. tially by the professors from the different clinical areas of dentistry, to ensure that students will learn how to process their radiographs correctly not only in the college course but in their professional life. Descriptors Radiology. Teaching. Qualitative Research. § REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Akarslan, Z. Z. et al. Common Errors on Panoramic Radiographs Taken in a Dental School. J. Contemp. Dent. Pract, Cincinnati, v. 4, n. 2, p. 24-34, May 2003. 2. Alvares, L. C.; Tavano, O. Curso de Radiologia em Odontologia. São Paulo: Santos, 4 ed., 2000. 3. Bardin, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, Ltda., 1977. 4. Farman, A. G.; Parks, E. T. Radiation Safety and Quality Assurance in US Dental Hygiene Programmes, Dentomaxillofac. Radiol., Tokyo, v. 20, n. 3, p. 152-154, Aug. 1991. 5. Kreich, E.M.; Queiroz, M.S.; Sloniak, M.C. Controle de qualidade em radiografias periapicais obtidas no curso de Odontologia daUEPG. Publicatio UEPG-Bilogical and Health Science, v.8, n.1, p.33-45, 2002. 6. Langland, O. E.; Langlais, R. P. Princípios do Diagnóstico por Imagem em Odontologia. São Paulo: Santos, 2002. 7. Mazza, B. U. Proteção Contra Radiações Ionizantes. Rev. Paul. Cir. Dent., São Paulo, v. 18, n. 5, p. 173-179, 1964. 8. Miles, D. A.; Van Dis, M. L.; Razmus, T F. Basic Principies of Oral and Maxillofacial Radiology. Philadelphia: W. B. Saun- Abstract The radiographic processing practice in dentistry: a qualitative analisys Seeking to determine the possible causes for the poor quality of radiographs, open questionnaires were delivered to all professors at the ULBRA Dental School, Torres Campus, with 5 questions on radiographic processing. The respondents of the survey were the 16 professors who answered the questionnaire. Bardim Content Analysis was used to analyze the results. Organization of the results occurred at 3 different stages: pre-analysis, material exploration, and results treatment. Most of the teachers that learned to use the visual method in their college course are still using it. The results of the study show that there is no standardization in the radiographic processing used by the professors of different areas of the course. Moreover, radiographic processing steps, such as fixation time, final bath, drying, and storage, were not mentioned in the answers. There are learning problems among students regarding the radiographic process. It is necessary to recognize the importance of changes, ini- ders, 1992. 9. Nassri, M. R. G. et al. Avaliação da qualidade das radiografias realizadas por alunos da Disciplina de Endodontia da FOUSP. Pesquisa Odontológica Brasileira, 2003. 10. Pardini, L. C. Conteúdo programático de radiologia odontológica: proposta pedagógica. Revista Brasileira de teleodontologia, São Paulo, v.1, n.1, p. 5-8, 2005. 11. Pardini, L. C.; Machado, L.G; Watanabe, P. C. A. Avaliação da qualidade de radiografias obtidas na FOR/USP - Processamento Radiográfico. I Congresso Interno de Pesquisa Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, USP, v. 1. p. 138-138, 1999. 12. Portaria 453 do Ministério da Saúde de 01 de junho de 1998 – http://e-legis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id= 1021 13. Yokota, E. T. et al. Interpretation of periapical lesions using radiovisiography. J. Endod., Baltimore, v. 20, n. 10, p. 490-494, Oct. 1994. 14. Whaites, E. Princípios de Radiologia Odontológica. In: Whaites E., E. Radiografia Panorâmica 3 ed., São Paulo: Artmed, 2003. Revista da ABENO • 9(1):39-43 Recebido em 07/04/2009 Aceito em 29/06/2009 43 Perfil dos alunos de graduação envolvidos em projetos de Iniciação Científica na área de Bioquímica no período de 2006-2008 Flávia Godoy Iano*, Amanda de Souza Almeida**, Marília Afonso Rabelo Buzalaf***, Rodrigo Cardoso de Oliveira**** *Aluna de Doutorado do curso de Estomatologia e Biologia Oral da FOB/USP Faculdade de Odontologia de Bauru, Departamento de Ciências Biológicas/Bioquímica **Aluna de graduação do curso de Odontologia da FOB/USP Faculdade de Odontologia de Bauru, Departamento de Ciências Biológicas/Bioquímica ***Professora Titular do Depto. de Ciências Biológicas/Bioquímica FOB/USP Faculdade de Odontologia de Bauru, Departamento de Ciências Biológicas/Bioquímica ****Professor Associado do Depto. de Ciências Biológicas/Bioquímica FOB/USP Faculdade de Odontologia de Bauru, Departamento de Ciências Biológicas/Bioquímica RESUMO A Bioquímica, como outras áreas básicas, tem se desenvolvido de forma muito rápida e a produção desse conhecimento se deve em grande parte à PósGraduação e à Iniciação Científica (IC). Por isso, nos últimos anos, muitos alunos de graduação têm procurado desenvolver projetos nas disciplinas básicas (histologia, bioquímica, farmacologia e outras), gerando um aumento na procura por projetos de Iniciação Científica. No entanto, o perfil, expectativas e motivações dos alunos que desenvolvem projetos de pesquisa em áreas básicas, bem como qual a visão dos mesmos acerca da contribuição da IC para o seu desenvolvimento acadêmico e profissional não têm sido descritos. Para isso foi proposto um questionário simples, composto de questões de múltipla escolha e questões abertas, que abordaram os motivos que levaram o aluno à procura pelo laboratório de Bioquímica, bem como a visão do aluno acerca da contribuição da experiência advinda da IC para o seu desenvolvimento acadêmico e profissional. Os questionários foram aplicados aos alunos que desenvolveram projetos de IC no Laboratório de Bioquímica do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade 44 de Odontologia de Bauru – Universidade de São Paulo, no período de 2006-2008. Após a análise dos dados obtidos, pode-se concluir que a uma parcela significativa dos alunos que fazem IC (41%) procura esse tipo de projeto para se diferenciar dos demais alunos da graduação. Segundo os entrevistados os conhecimentos adquiridos durante o processo de pesquisa colaboraram para sua formação profissional (100%) e no processo de aprendizagem como um todo. Descritores Ensino. Bioquímica. Aprendizagem. Pesquisa Básica. G rande parte do conhecimento na área de bioquímica tem sido construído ao longo do tempo, essencialmente, a partir da pesquisa.1 Graças ao seu desenvolvimento, facilitando a compreensão de fenômenos celulares e moleculares, boa parte deles pode ser aplicado diretamente ou indiretamente em áreas como Medicina, Agronomia, Odontologia, Fonoaudiologia, Nutrição, dentre outras.2, 3 Especialmente nessas duas últimas décadas, vimos as Ciências Biológicas darem enormes passos como o seqüenciamento completo do genoma humano,4 o surgimento Revista da ABENO • 9(1):44-9 Perfil dos alunos de graduação envolvidos em projetos de Iniciação Científica na área de Bioquímica no período de 2006-2008 • Iano FG, Almeida AS, Buzalaf MAR, Oliveira RC da Engenharia de Tecidos, introduzido por Langer e Vacanti5 (1993) concomitantemente com o uso de células-tronco.6-8 Isto trouxe à área de saúde o poder de usufruir de informações e técnicas não disponíveis anteriormente.6, 9, 10 A Bioquímica tem se desenvolvido de forma muito rápida e a produção desse conhecimento, em vários institutos de pesquisa (principalmente no ambiente universitário) se deve em grande parte à pós-graduação e à Iniciação Científica (principais mecanismos que promovem a pesquisa).1 O caráter simbiôntico das atividades de pesquisa-ensino tem embasado a formação de acadêmicos e se tornado essencial no processo de aprender a aprender. A pesquisa tomada como processo, torna possível um “questionamento reconstrutivo” aliando aspectos ligados à articulação teoria e prática como a produção de inovações e consciência ética,11 permitindo ainda alimentar e atualizar o ensino em relação à realidade do mundo contemporâneo, contemplando a articulação de pensamento e ação.12 No entanto, disciplinas básicas como, por exemplo, a Bioquímica tem apresentado historicamente certa rejeição por parte considerável dos alunos de odontologia e fonoaudiologia, e mesmo de alguns professores de outras áreas,6,13,14 onde o mercado de trabalho teria uma influência exagerada e precipitada na formação de profissionais apenas com habilidades técnicas, mas sem uma formação crítica e autosuficiente.6,15 Essa segunda resistência também tem diminuído à medida que o avanço no campo da ciência (desenvolvimento científico e tecnológico) tem ditado em parte mudanças na necessidade de formação profissional, segundo as normas do próprio mercado de trabalho. Um pequeno, mas bom exemplo disso é o interesse crescente de alunos da graduação que procuram desenvolver projetos de Iniciação Científica (IC) nos laboratórios de disciplinas básicas. No entanto, as expectativas e motivações dos alunos de graduação que desenvolvem projetos de pesquisa em áreas básicas, bem como sua idéia acerca da contribuição da IC para o seu desenvolvimento acadêmico e profissional, não estão bem estabelecidos. Existe a necessidade de registrar essa mudança de comportamento e também compreendê-la de forma integral. O primeiro passo para conseguir um esboço desse fenômeno é traçar o perfil desses alunos de IC, bem como entender suas expectativas e motivos que os levaram à opção de pesquisa numa área básica, que antigamente era até certo ponto negligenciada ou mesmo esquecida pelos profissionais da área da saúde. Assim sendo, é de suma importância entender a visão dos alunos de graduação sobre a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos quando da realização de projetos de IC em disciplinas básicas, em especial a Bioquímica, e entender especialmente as expectativas desses alunos em relação à experiência adquirida durante o desenvolvimento desses projetos. Esses dados poderiam ajudar a entender o que motiva os alunos a procurarem a IC, além de permitir o aprimoramento no processo de pesquisa com base em resultados (dados coletados) concretos e sugestões dos alunos voluntários. O objetivo deste trabalho foi compreender o perfil, as expectativas e fatores de interesse que levam os alunos de Iniciação Científica a buscarem pesquisa na área de Bioquímica, bem como qual a visão dos mesmos acerca da contribuição da Iniciação Científica para o seu desenvolvimento acadêmico e profissional. MATERIAL E MÉTODO Este trabalho foi submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da FOB-USP (Processo número 096/2008) e os voluntários participaram após o consentimento. Foi proposto um questionário simples (Anexo I), composto de questões de múltipla escolha e questões abertas, que abordaram aspectos que levaram o aluno à procura pelo laboratório de Bioquímica. O questionário foi desenvolvido seguindo um modelo proposto anteriormente por (16). Os questionários foram entregues a 14 alunos que desenvolveram projetos de IC no Laboratório de Bioquímica, Faculdade de Odontologia de Bauru – Universidade de São Paulo, no período de 2006-2008. RESULTADOS Dos 14 alunos que receberam o questionário apenas 9 responderam e devolveram o questionário, o que implica em 64,29% do número de questionários entregues. As respostas bem como algumas justificativas são descritas a seguir: 1. Qual(ais) motivo(s) o levou a buscar um projeto de pesquisa no laboratório de Bioquímica? Pudemos observar que os alunos entrevistados buscaram um projeto de pesquisa (IC) no laboratório de Bioquímica por vários fatores, entre eles os mais citados são: a)ter sido o primeiro laboratório a oferecer essa oportunidade, b)por terem interesse na carreira acadêmica, Revista da ABENO • 9(1):44-9 45 Perfil dos alunos de graduação envolvidos em projetos de Iniciação Científica na área de Bioquímica no período de 2006-2008 • Iano FG, Almeida AS, Buzalaf MAR, Oliveira RC c)por terem a intenção de melhorar o currículo d)devido às diferentes linhas de pesquisa do laboratório. 2. Em sua opinião, os conceitos de bioquímica aprendidos terão relevância na sua formação profissional? Por quê? Em relação à segunda pergunta todos os alunos afirmaram que os conceitos de bioquímica aprendidos têm relevância na sua formação profissional, pois afirmam que a disciplina tem correlação com outras disciplinas. “Por ser uma matéria básica, ela serve como alicerce para a compreensão das outras”, respondeu um dos alunos. Além disso, alguns relatam que aprendem conceitos que irão utilizar no consultório. 3. A iniciação científica trouxe alguma contribuição na sua formação? Em caso de resposta afirmativa detalhe um ponto. Todos os entrevistados (100%) reconhecem que a Iniciação Científica trouxe contribuições para a sua formação profissional. Sendo que, os conhecimentos adquiridos durante a IC contribuíram para a sua formação, permitindo o aprofundamento em determinados assuntos, além disso, aumentou a responsabilidade, já que era necessário se cumprir prazos com entrega e relatórios. Foi citado também que a iniciação colaborou com a melhora nas relações sociais promovendo parcerias, e a ajuda financeira também era um incentivo a continuar no meio de pesquisa. 4. Você julga que a pesquisa de IC no Laboratório de Bioquímica colaborou com seu processo de aprendizagem? a)Sim b)Apenas em parte c)Muito pouco d)Em nada Todos os alunos (100%) responderam que sim. 5. A experiência na Iniciação Científica proporcionou o desenvolvimento de integração entre teoria e prática? a)Sim b)Apenas em parte c)Muito pouco d)Em nada Em 77,78% dos questionários avaliados os alunos afirmaram que a IC proporcionou o desenvolvimento de integração entre teoria e prática (alternativa a), e 22,22% dos entrevistados disseram que apenas em 46 parte essa experiência proporcionou a integração entre teoria e prática (alternativa b), o que pode ser verificado no Gráfico 1. 6. Durante o desenvolvimento de seu projeto de pesquisa houve oportunidade de aprendizado sobre exposição oral de trabalhos com normas didáticas e utilização de recursos audiovisuais? a)Sim b)Apenas em parte c)Muito pouco d)Nenhuma oportunidade Para a pergunta número 6, mais da metade (56%) dos alunos afirmaram que tiveram a oportunidade de aprendizado sobre exposição oral de trabalhos com normas didáticas e utilização de recursos audiovisuais, 22% dos alunos responderam que essa oportunidade foi apenas em parte. 11% dos entrevistados relataram que tiveram muito poucas oportunidades e c = 0% d = 0% a: b: c: d: b = 22% Sim Apenas em parte Muito pouco Em nada a = 78% Gráfico 1 - A experiência na Iniciação Científica proporcionou o desenvolvimento de integração entre teoria e prática? d = 11% c =11% a: b: c: d: Sim Apenas em parte Muito pouco Nenhuma oportunidade a = 56% b = 22% Gráfico 2 - Durante o desenvolvimento de seu projeto de pesquisa houve oportunidade de aprendizado sobre exposição oral de trabalhos com normas didáticas e utilização de recursos audiovisuais? Revista da ABENO • 9(1):44-9 Perfil dos alunos de graduação envolvidos em projetos de Iniciação Científica na área de Bioquímica no período de 2006-2008 • Iano FG, Almeida AS, Buzalaf MAR, Oliveira RC os outros 11% dos alunos disseram que não tiveram nenhuma oportunidade (Gráfico 2). 7. Sugestões ou críticas: Na questão de número 7 um aluno sugeriu: “Na graduação, normalmente as matérias básicas são tidas como chatas, monótonas, sem nenhum interesse pelos alunos. Mas eles não fazem idéia de que elas são de grande importância para o entendimento das matérias específicas, seja na escolha de um implante auditivo, seja na escolha de material de implante dentário. Os professores dessa disciplina poderiam enfatizar a importância dos conceitos básicos de bioquímica para o bem das futuras disciplinas ao longo do curso”. DISCUSSÃO Segundo alguns relatos da literatura a Bioquímica tem apresentado historicamente certa rejeição por parte considerável dos alunos de odontologia e fonoaudiologia, e mesmo de alguns professores de outras áreas,6,13,14 onde o mercado de trabalho teria uma influência exagerada e precipitada na formação de profissionais apenas com habilidades técnicas, mas sem uma formação crítica e auto-suficiente.6,15 No entanto, nossos resultados colocam um novo fato que parece atualizar esse panorama. Pelo fato de a Bioquímica ser umas das primeiras disciplinas estudadas e uma das primeiras a oferecer oportunidades de pesquisa, os alunos se interessam e aproveitam para aumentar seu conhecimento dentro do processo de formação de pesquisa. Levando alguns alunos a desenvolverem projetos de pesquisa (IC) na área de Bioquímica, dando a esses alunos (uma pequena parcela dos alunos de graduação do curso) uma maior consciência da aplicabilidade dos conhecimentos da área básica. Assim existe uma motivação, mesmo que extracurricular, para alguns alunos desses cursos. Segundo nossos resultados, durante o andamento da pesquisa os alunos de IC conseguem desenvolver outras habilidades, como exposição em público de trabalhos oralmente e com normas didáticas e utilizando recursos audiovisuais. Esses dados estão de acordo com outros trabalhos que relatam outros benefícios da pesquisa no processo de aprendizagem, articulação entre teoria e prática, etc.11,12 Um fator destacado pela literatura, que teria uma influência exagerada e precipitada na formação de profissionais apenas com habilidades técnicas mas sem uma formação crítica e auto-suficiente, seria o mercado de trabalho.6,15 No entanto, nossos resultados demonstram também a consciência dos alunos de IC sobre a necessidade de desenvolverem uma melhor compreensão dos conhecimentos básicos para aplicação dos protocolos de procedimentos clínicos (“seja escolha de um implante auditivo, seja na escolha de material de implante dentário”). Em adição a esses fatos, notamos que os alunos também enxergam a IC (tomada como experiência em pesquisa, não apenas na área básica) como um diferencial de currículo para o mercado de trabalho ou mesmo na continuidade da vida acadêmica (cursos de pós-graduação). Apesar de a Bioquímica ser uma disciplina da área básica, os alunos que procuraram fazer pesquisas nessa área conseguem compreender a importância desse conhecimento para sua atuação profissional, pois mesmo fazendo cursos como Odontologia e Fonoaudiologia, que tem em sua grande parte atividades práticas, vêem a necessidade deste aprendizado. Especificamente quanto ao interesse dos alunos pela aprendizagem e valorização da disciplina de bioquímica em sua futura profissão, os resultados encontrados no trabalho atual parecem muito similares aos resultados anteriormente descritos na literatura,17,18 onde os alunos acreditam realmente no valor significativo da disciplina de bioquímica em sua atuação profissional, no entanto não sabem responder como isso pode acontecer. Além desse resultado, o desconforto com o sistema de ensino (metodologia de ensino e grade curricular) descrito por parte dos alunos também é referido na literatura.18 CONCLUSÃO Podemos concluir que os alunos que realizam iniciação científica no laboratório de bioquímica buscam conhecimento, oportunidades de desenvolvimento e melhora no currículo. Além disso, os alunos de iniciação científica acreditam na utilização desses conhecimentos em atividades práticas do cotidiano clínico. APOIO FINANCEIRO Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São Paulo. AGRADECIMENTOS Aos alunos de Iniciação Científica que responderam espontaneamente ao questionário. aBSTRACT Profile of undergraduate students involved in Scientific Initiation projects in the area of Biochemistry between 2006 and 2008 Similar to other basic areas, Biochemistry has de- Revista da ABENO • 9(1):44-9 47 Perfil dos alunos de graduação envolvidos em projetos de Iniciação Científica na área de Bioquímica no período de 2006-2008 • Iano FG, Almeida AS, Buzalaf MAR, Oliveira RC ANEXO I UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DISCIPLINA DE BIOQUÍMICA Caro aluno, Solicitamos sua colaboração respondendo este questionário, através do qual você terá oportunidade de exteriorizar sua opinião referente ao desenvolvimento do projeto de pesquisa em Iniciação Científica no Laboratório de Bioquímica. A sinceridade em suas respostas nos é muito valiosa. A sua informação é ANÔNIMA e não há necessidade de assinar. Obrigada pela sua colaboração. Docentes de Bioquímica 1) Qual (ais) motivo (s) o levou a buscar um projeto de pesquisa no laboratório de Bioquímica? 2) Em sua opinião, os conceitos de bioquímica aprendidos terão relevância na sua formação profissional? Por quê? 3) A iniciação científica trouxe alguma contribuição na sua formação? Em caso de resposta afirmativa detalhe um ponto. 4) Você julga que a pesquisa de IC no Laboratório de Bioquímica colaborou com seu processo de aprendizagem? a) Sim b) Apenas em parte c) Muito pouco d) Em nada 5) A experiência na Iniciação Científica proporcionou o desenvolvimento de integração entre teoria e prática? a) Sim b) Apenas em parte c) Muito pouco d) Em nada 6) Durante o desenvolvimento de seu projeto de pesquisa houve oportunidade de aprendizado sobre exposição oral de trabalhos com normas didáticas e utilização de recursos audiovisuais? a) Sim b) Apenas em parte c) Muito pouco d) Nenhuma oportunidade 7) Sugestões ou críticas: veloped very quickly, and the production of knowledge in these areas can be attributed largely to graduate studies and scientific initiation (SI). With this in mind, many undergraduate students have sought to develop projects in basic disciplines (histology, biochemistry, pharmacology and others) in recent years, increasing the demand for Scientific Initiation projects. Nevertheless, the profile, expectations and motivations of students developing research projects in basic areas, as well as their views regarding the contribution of SI toward their academic and professional development has not been related. To this end, a simple questionnaire was proposed, with multiple choice and open questions, addressing the reasons that led students to seek the biochemistry lab and students’ viewpoints regarding the contribution of the experience gained in SI toward their academic and professional development. The questionnaires were applied to students who were developing SI projects in the Biological Sciences Department of the 48 Bauru Dentistry College of São Paulo University between 2006 and 2008. After analyzing the data obtained, we can conclude that a meaningful portion of the students that take SI (41%) seek this type of project to distinguish themselves from other undergraduate students. According to those interviewed, the knowledge acquired during the research process contributed to their professional training (100%) and to the learning process as a whole. DescriPTORS Teaching. Biochemistry. Learning. Basic Research. § REFERÊNCIAS bibliográficas 1. Silva IF, Batista NA. O Ensino de Bioquímica e a Participação Discente na Pesquisa: A Perspectiva Docente Journal [serial on the Internet]. 2004 Date; artigo 2(01/2004): Available from: http://www.ib.unicamp.br/lte/rbebbm/visualizarMaterial. php?idMaterial= 154. Revista da ABENO • 9(1):44-9 Perfil dos alunos de graduação envolvidos em projetos de Iniciação Científica na área de Bioquímica no período de 2006-2008 • Iano FG, Almeida AS, Buzalaf MAR, Oliveira RC 2. Huang PC. 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Revista da ABENO • 9(1):44-9 49 Estudo de caso como estratégia de ensinagem e avaliação na disciplina Saúde Coletiva do curso de Odontologia da UNIVALI Rubens Nazareno Garcia*, Emerson da Silveira**, Cristina Henschel de Matos***, Tatiana Mezadri***, Rosangela Aparecida Borba****, Roberto Rogério Molleri*, Raphael Nunes Bueno*, Mário Uriarte Neto* * Professor do curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí/UNIVALI ** Professor do curso de Medicina da Universidade do Vale do Itajaí/ UNIVALI *** Professora do curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí/ UNIVALI **** Professora do curso de Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí/UNIVALI RESUMO Estudos de caso vêm sendo implantados como prática de ensinagem e avaliação na disciplina Saúde Coletiva do curso de Odontologia da UNIVALI, conjuntamente com os cursos de Enfermagem, Farmácia, Medicina e Nutrição. O objetivo desse estudo é relatar a operacionalização de uma experiência de estudos de caso como forma de ensinagem, avaliação, integração curricular e de ensino-serviço público. A estruturação da proposta aconteceu em quatro etapas, sendo: encontro dos professores da área da saúde coletiva; planejamento docente; aplicação das atividades; e socialização no formato de seminários. Os resultados foram apresentados de duas formas: uma qualitativa informal através do desempenho em grupo nas apresentações dos seminários; e uma quantitativa formal através da avaliação dos portfolios que se apresentaram como facilitadores do processo de aprendizagem ao longo do período. Os resultados sugerem que os estudos de caso podem ser uma excelente ferramenta para ensinagem, avaliação, integração curricular e de ensino-serviço público. Para tanto, as propostas de ação devem ser necessariamente realizadas, sob pena de comprometer todo o processo, além de não contribuir com a efetiva promoção de saúde das famílias envolvidas nos estudos de caso. 50 DESCRITORES Ensino. Estudos de Casos. Saúde Coletiva. A elaboração de estudos de caso vem sendo implantada como prática de ensinagem1 e avaliação na disciplina de Saúde Coletiva do curso de Odontologia, conjuntamente com os cursos de Enfermagem, Farmácia, Medicina e Nutrição, ainda que esses cursos já adotem essa prática de forma sistemática. O estudo de caso é uma ferramenta de investigação que analisa de forma aprofundada determinados indivíduos, grupos ou elementos sociais.13 Observa-se a sua realização freqüente em pesquisas exploratórias, porém, no presente estudo, o assunto é abordado como uma proposta de atuação multidisciplinar, com o intuito de promover uma reflexão sobre a operacionalização montada para utilização dessa ferramenta. Os estudos de caso fundamentam as ações e proporcionam uma assistência individual personalizada, na qual o usuário é visto como um ser dentro de um contexto familiar e comunitário, e não como um conjunto de sinais e sintomas; e proporciona um elo entre as diversas áreas que atuam de forma intervencionista em seus problemas. Proporcionam uma familiarização com a literatura científica, e esse conjunto de dados embasa as suas decisões. Contribui na formação de um corpo concreto de conhecimentos, pois os registros dos estudos de caso podem ser utili- Revista da ABENO • 9(1):50-4 Estudo de caso como estratégia de ensinagem e avaliação na disciplina Saúde Coletiva do curso de Odontologia da UNIVALI • Garcia RN, Silveira E, Matos CH, Mezadri T, Borba RA, Molleri RR, Bueno RN, Uriarte Neto M zados como referência atual e futura, contribuindo para melhorar o desempenho da equipe como um todo.9 Os passos para a operacionalização de um estudo de caso normalmente incluem o planejamento conjunto entre as áreas envolvidas, momento de contextualização da estratégia com o grande grupo, coleta de dados através de instrumentos adequados, que podem ser os instrumentos dos sistemas de informação do Ministério da Saúde (ficha A, B, C, D), prontuários, visitas domiciliares, e entrevistas, entre outros. Na seqüência é feita a análise dos dados, a elaboração de referencial pertinente, e finalmente o planejamento integrado para ações de intervenção.2 Como parte da avaliação, pode ser proposta a elaboração de um portfolio,14 buscando que esta esteja a serviço das aprendizagens, possibilitando compreender a situação de quem aprende, equacionando o seu desempenho, e alimentado por informações dadas pelo docente que auxiliem o aluno a avançar nas suas ações metacognitivas. O portfolio insere-se numa perspectiva crítica que encaminha o aluno a perceber que o entorno (a sala de aula, as relações e os vínculos que estabelece), seja no meio acadêmico ou fora dele, produz sentidos que atravessam a sua forma de aprender. O objetivo desse estudo é relatar a operacionalização de uma experiência de estudos de caso como forma de ensinagem, avaliação, integração curricular e de ensino-serviço público nos cursos de Odontologia, Enfermagem, Farmácia, Medicina e Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). METODOLOGIA O primeiro momento de estruturação da presente proposta ocorreu na Formação Continuada para Docentes da UNIVALI, organizada pelo Centro de Ciências da Saúde (CCS) em fevereiro/2011. Naquela ocasião, uma oficina com os professores dos cursos da área da saúde com envolvimento em Saúde Coletiva contextualizou sobre a Constituição Federal,4 as Diretrizes Curriculares Nacionais,3 os projetos PróSaúde I (2005) e II (2007) – com suas orientações teórico-pedagógicas e os cenários de prática e os programas (2010) que focam o fortalecimento e a implantação do sistema de saúde público vigente no país, como o PET-Saúde, PET-Vigilância Mental, o PET-Vigilância em Saúde, e o Telessaúde, entre outros. Na seqüência, foi apresentada a grade curricular dos cursos da área de saúde, previamente preparada pelo CCS. A discussão desses dados que confrontavam os horários das disciplinas foi fundamental para que os docentes dos cursos envolvidos (Enfermagem, Farmácia, Medicina, Nutrição e Odontologia) escolhessem as quartas-feiras pela manhã para operacionalização de uma proposta de ação multidisciplinar; e essa decisão contemplou os encaminhamentos do evento, que estimulou as ações intercursos, uma prática ampliada e a construção coletiva nos processos de ensinagem e avaliação. O segundo momento foi o encontro de diversos professores dos cursos acima relatados na Unidade de Saúde Familiar e Comunitária (USFC) da UNIVALI, assim como representantes das Estratégias Saúde da Família (ESF) equipes 9, 10 e 18 - para estabelecer uma proposta de ação e agenda conjunta; e ficou acordado a aplicação da ferramenta “estudo de caso”, assim como estabelecido um cronograma conjunto de atividades. Na ocasião o curso de Enfermagem apresentou o documento que poderia ser trabalhado conjuntamente, intitulado “Roteiro e ficha de avaliação do projeto do estudo de caso”, que contém coleta de dados; estabelecimento de diagnósticos, planejamento e prescrição; identificação e análise das redes sociais e cuidadores; levantamento bibliográfico; planejamento; elaboração e registro da evolução do caso; análise da realidade organizacional; análise de indicadores; considerações finais; e referências bibliográficas. O curso de Nutrição apresentou proposta conjunta de pesquisa de prontuário; caracterização da família; avaliação antropométrica; anamnese clínica e alimentar; e orientações gerais com informativos e receitas. E o curso de Odontologia propôs a inclusão de atividades com o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB); com as fichas de cadastramento; mapa inteligente; ecomapa; genograma; e documentação de referência e contra-referência. O terceiro momento aconteceu nos meses de março, abril e maio/2011, quando os docentes, discentes e as equipes da estratégia de saúde da família participaram de atividades conjuntas, que envolveram a apresentação sobre a avaliação dos dados do SIAB, o entendimento das fichas de cadastramento, territorialização e mapa inteligente, prontuários das famílias, boletins de produção, documentos de referência e contra-referência. Avaliaram os históricos das famílias pré-selecionadas pelas equipes de ESF, conheceram o território de cada equipe, visitaram em rodízio as famílias e entregaram uma caracterização sobre as mesmas. Finalizando essa etapa, o grande grupo, de forma multidisciplinar, apresentou seminários com os diagnósticos, potencialidades e fragilidades dos indivíduos e famílias visitadas. Revista da ABENO • 9(1):50-4 51 Estudo de caso como estratégia de ensinagem e avaliação na disciplina Saúde Coletiva do curso de Odontologia da UNIVALI • Garcia RN, Silveira E, Matos CH, Mezadri T, Borba RA, Molleri RR, Bueno RN, Uriarte Neto M O quarto e último momento da proposta de estudo de caso ocorreu no mês de junho/2011, quando o grande grupo socializou, também no formato de seminários, as diversas propostas de ação em relação àqueles indivíduos e famílias a ser desenvolvido em breve, à medida que ocorra a evolução da matriz curricular, que poderá envolver os mesmos discentes, ou eventualmente outros que se engajem no processo. Para agradecer o empenho de todos, na última aula do semestre ocorreu uma confraternização com todas as pessoas citadas anteriormente. RESULTADOS Os resultados obtidos sobre a proposta multidisciplinar dos estudos de caso são apresentados de duas formas (uma qualitativa informal e uma quantitativa formal por meio dos portfolios individuais). A primeira refere-se à percepção docente quanto ao desempenho dos grupos nas apresentações dos seminários realizados no terceiro e quarto momentos, anteriormente relatados – sobre os estudos de casos das famílias pertencentes às equipes de ESF 9, 10 e 18 – que estimularam uma discussão participativa e calorosa sobre o processo em si, e também sobre as propostas de ação. A segunda, por meio da construção de portfolios individuais que se apresentassem como facilitadores da reconstrução e reelaboração, por parte de cada acadêmico, de seu processo de aprendizagem ao longo desse período de ensino. Para os docentes, os portfolios tornaram-se peça documental importante na avaliação, pois estes compilaram todos os trabalhos realizados pelos alunos durante a disciplina. Incluiu registros de visitas, fichas, textos e principalmente ensaios auto-reflexivos que permitiram aos alunos a discussão da experiência dos estudos de caso na disciplina ou no curso como um todo. DISCUSSÃO A participação de acadêmicos da área da saúde, em especial nas disciplinas voltadas à saúde coletiva ou saúde pública, em atividades de ensino, pesquisa e extensão, possibilita o conhecimento e atuação nas dimensões estruturais dos serviços públicos; e faz parte da proposta das diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação e das recomendações da Lei nº. 8080 que regulamenta o Serviço Único de Saúde.5 O ensino universitário constitui um processo de busca, de construção científica e de crítica ao conhecimento produzido, de conscientização de seu papel na construção e transformação da sociedade. Os cursos de graduação na área da saúde estão atualmente 52 pautados em metas para formação de um profissional capacitado para atuar de maneira eficiente dentro do modelo assistencial brasileiro, consciente das necessidades e particularidades da população. Como ator social, este profissional deve ser capaz de articular conhecimentos e promover mudanças em seu ambiente de trabalho.12 Os estudos de caso entram nesse contexto, e quando o discente vivencia, pesquisa e constrói o seu aprendizado sobre o cuidado humano, possibilita-o a desenvolver o exercício profissional futuro. Podem ser classificados em dois tipos:11 • os estudos de caso formais utilizados por pesquisadores para descrever, analisar e entender determinados fenômenos; e • os estudos de caso informais, mais apropriados para a prática clínica, quando se deseja analisar ou descrever uma situação particular, identificar problemas em determinados campos, observar mudanças, explorar as causas, planejar e propor alternativas para a promoção da saúde dos sujeitos envolvidos. O presente estudo propôs relatar a operacionalização de uma experiência de estudos de caso informal, no modelo habitualmente realizado no curso de Enfermagem, com o objetivo de realizar um estudo dos problemas e necessidades de usuários e suas famílias, proporcionando subsídios para que o grande grupo, de forma multidisciplinar, estudasse a melhor estratégia para solucionar ou reverter os problemas identificados. Para tanto, os acadêmicos deveriam ter conhecimentos pertinentes às suas áreas, respeitada a evolução da grade curricular dos diversos cursos, como fisiopatologia das doenças, farmacologia, sinais e sintomas, e fatores socioeconômicos envolvidos no processo saúde-doença. A avaliação qualitativa informal obtida através da apresentação dos seminários compostos por grupos multidisciplinares evidenciou as potencialidades dos alunos na construção dos estudos de caso, que perceberam a atividade como importante no seu desenvolvimento acadêmico. Alguns autores6 destacaram os estudos de caso como uma modalidade da aprendizagem baseada em problemas, uma metodologia na qual a solução de problemas é o ponto principal de sua prática. Esta modalidade estimula os acadêmicos, a partir de uma situação problema, à curiosidade, pesquisa, assimilação do conhecimento e conceitos fundamentais para a prática profissional. Além disso, é uma oportunidade de conhecer nossas situações, Revista da ABENO • 9(1):50-4 Estudo de caso como estratégia de ensinagem e avaliação na disciplina Saúde Coletiva do curso de Odontologia da UNIVALI • Garcia RN, Silveira E, Matos CH, Mezadri T, Borba RA, Molleri RR, Bueno RN, Uriarte Neto M patologias e aspetos que a permeiam. Em concordância com outros relatos,2,13 os estudos de caso possibilitam ao aluno assumir a assistência de forma integral, promovendo o cuidado, o vínculo com o usuário e sua família, além satisfação e crescimento do acadêmico; atitudes observadas nas apresentações dos seminários multidisciplinares de socialização dos estudos de caso. A avaliação quantitativa formal, que aconteceu pela elaboração dos portfolios, emergiu do desejo dos docentes de realizar uma avaliação que promovesse o processo de reflexão sobre as formas de construir o conhecimento, em concordância com a proposta de Rangel et al. (2006).14 A avaliação centrada nos procedimentos verificativos, que tem a prova escrita como registro do que o aluno conseguiu aprender, normalmente não é suficiente para mostrar, tanto a ele como também ao professor, o processo de construção das relações entre os conteúdos propostos e a realidade em que vive. Portanto, o que se pretendeu, ao adotar o portfolio como procedimento também de avaliação, foi buscar uma forma deste estar a serviço da ensinagem1 e da aprendizagem, possibilitando compreender a situação de quem aprende, equacionando o seu desempenho, alimentado por informações dadas pelo docente que auxiliem o aluno a avançar nas suas ações metacognitivas.10 No presente estudo, o portfolio foi recolhido e devolvido nos períodos de avaliação durante o semestre letivo. Antagonicamente aos estudos de Esteban (1999, 2001)7,8 que desvincularam essa produção da visão classificatória e meritocrática, optou-se por atribuir notas que comporam a média final dos acadêmicos. O portfolio, enfim, proporcionou resultados muito valiosos tanto para os acadêmicos como para os professores, enquanto um instrumento de avaliação do docente para a sua disciplina, uma vez que todo avaliador que não é avaliado perde logicamente a condição de avaliador. É fundamental que o acadêmico perceba que avaliar é interrogar e interrogar-se,7 de forma a transformar os resultados alcançados em processos de ação, não em algo finito, mas em produções ativas e mutantes, permeáveis pelo aprendizado ainda desconhecido. ação devem ser necessariamente realizadas, sob pena de comprometer todo o processo, além de não contribuir com a efetiva promoção de saúde das famílias envolvidas nos estudos de caso. ABSTRACT Case study as a strategy for teaching and evaluation in the discipline of Public Health at the Dental School of UNIVALI Case studies have been implemented as a practice for teaching and evaluation in the discipline of Public Health at the Dental School of UNIVALI, together with Nursing, Pharmacy, Medicine and Nutrition courses. The aim of this study was to report on the operationalization of a case study experience in teaching, evaluation, and integration in teaching-public service. The proposal was structured according to four stages, namely: meeting of public health professors, teaching planning, implementation of activities, and socialization by way of seminars. The results were presented in two ways: through the informal qualitative performance of the groups with presentations of seminars, and through a formal quantitative evaluation of the portfolios presented as facilitators of the learning process throughout the period. The results suggested that case studies can be an excellent tool for teaching, evaluation, curriculum integration, and integration of teaching-public service. To this end, the proposed actions must necessarily be taken, the lack of which may compromise the whole process, failing to contribute to the effective promotion of health of the families involved in these case studies. DESCRIPTORS Case Studies. Public Health. Teaching. § REFERÊNCIAS 1. Anastasiou LGC. Metodologia do ensino superior: da prática docente a uma possível teoria pedagógica. Curitiba: IBPEX;1998:193-201. 2. Bocchi SCM, Pessuto J, Dell’aqua MCQ. Modelo operacional do estudo de caso como estratégia de ensino na disciplina de enfermagem médico-cirúrgica: avaliação dos alunos. Rev. Latino-Am Enfermagem 1996;4(3):99-116. 3. Brasil. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Odontologia. Reso- CONCLUSÕES Os resultados apresentados sugerem que os estudos de caso podem ser uma excelente ferramenta para ensinagem, avaliação, integração curricular e de ensino-serviço público. Para tanto, as propostas de lução CNE/CES 3/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 4 de março de 2002. Seção 1, p.10. 4. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. 12ª ed. São Paulo: Editora Rideel;2006. 341 p. 5. Brasil. Lei nº. 8080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre Revista da ABENO • 9(1):50-4 53 Estudo de caso como estratégia de ensinagem e avaliação na disciplina Saúde Coletiva do curso de Odontologia da UNIVALI • Garcia RN, Silveira E, Matos CH, Mezadri T, Borba RA, Molleri RR, Bueno RN, Uriarte Neto M as condições para a promoção, proteção e recuperação da 136 p. saúde, a organização e o funcionamento dos serviços corres- 11. Meyer DE, Waldow VR, Lopes MJM. Marcas da diversidade: pondentes e dá outras providências. Diário Oficial da Repúbli- saberes e fazeres da enfermagem contemporânea. Porto Ale- ca Federativa do Brasil, Brasília, 20 de setembro de 1990. gre: Artes Médicas, 1998. 6. Bufrem LS, Sakakima AM. O ensino, a pesquisa e a aprendiza- 12. Moimaz SAS, Saliba NA, Gabin CAS, Zina KG. Atividades ex- gem baseada em problemas. Transformação 2003;15(3):351-61. tramuros na ótica de egressos do curso de graduação em odon- 7. Esteban MT. Avaliação: uma prática em busca de novos senti- tologia. Revista da ABENO 2008;8(1):23-9. 13. 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Recebido em 07/04/2009 Aceito em 29/06/2009 54 Revista da ABENO • 9(1):50-4 Variabilidade na detecção das lesões cariosas e planos de tratamento para superfícies oclusais entre acadêmicos do último ano de um curso de odontologia Renato Pereira da Silva*, Miguel Morano-Júnior**, Fábio Luiz Mialhe** *Doutorando em Odontologia em Saúde Coletiva – FOP/UNICAMP **Professores Doutores do Departamento de Odontologia Social – FOP/UNICAMP RESUMO As mudanças observadas no padrão de desenvolvimento da cárie dentária têm gerado maiores dificuldades para os profissionais detectarem com precisão a presença e extensão da lesão cariosa e também dúvidas em relação às decisões de tratamento. Apesar da importância do tema, pouco se sabe desta problemática durante o processo de formação dos alunos de cursos de odontologia. Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar a concordância interexaminador acerca da detecção da lesão cariosa e decisão de tratamento para cárie oclusal entre graduandos do último ano de um curso de odontologia. Vinte dentes posteriores permanentes sem cavitações aparentes foram montados em um manequim odontológico e radiografados pela técnica bitewing. Sessenta e um acadêmicos (76,3%) do último período de um curso de odontologia de uma universidade pública do interior do estado de São Paulo avaliaram as superfícies, por meio de exame clínico-radiográfico, realizaram a detecção de cárie e sugeriram um plano de tratamento para cada uma delas. A concordância interexaminador foi obtida a partir da estatística Kappa. Verificou-se que os valores da estatística kappa – concordância interexaminador – para a detecção de cárie (к= 0,54), a determinação de sua atividade (к= 0,50) e para a tomada de decisão clínica (к= 0,52), foi considerada moderada para os critérios avaliados. A modalidade de tratamento não-invasivo mais recomendada foi o selante resinoso (35,31%), enquanto que restaurações com resina fotopolimerizável foi a estratégia invasiva mais recomendada (71,1%), todavia houve diferenças marcantes na tomada de decisão sobre qual estratégia utilizar. Os resultados do presente estudo evidenciam a necessidade da implementação de estratégias de ensino/aprendizagem baseadas em treinamentos/calibrações constantes dos acadêmicos para minimizar estas variações, contribuindo para a formação de um profissional dentro da filosofia de promoção de saúde. O instrumento de coleta de dados do presente estudo mostrou-se ser eficaz e de fácil utilização para se avaliara esta problemática entre os graduandos. (O resumo está com mais de 250 palavras. Há erros de digitação. A conclusão em vermelho não é objeto do estudo) DESCRITORES Educação em Odontologia. Estudantes de Odontologia. Diagnóstico. E studos atestam que a incidência da cárie vem diminuindo em nível mundial, entretanto, as superfícies oclusais continuam a ser as mais afetadas pelo processo carioso, concentrando a maioria das lesões cariosas que se desenvolvem nos indivíduos (Beltran-Aguilar, 1999; Hugosson et al. 2000; Meneghim et al. 2006). Traduzindo-se este dado epidemiológico para a prática clínica, pode-se atestar que o profissional estará se confrontando com uma maior freqüência de situações em que deverá detectar a higidez e planejar procedimentos terapêuticos para estas superfícies. A complexidade da detecção das lesões tem aumentado em função de mudanças no seu padrão atual de desenvolvimento, caracterizado por uma menor prevalência de lesões cariosas cavitadas, uma maior Revista da ABENO • 9(1):55-61 55 Variabilidade na detecção das lesões cariosas e planos de tratamento para superfícies oclusais entre acadêmicos do último ano de um curso de odontologia • Silva RP, Morano-Júnior M, Mialhe FL prevalência de superfícies dentárias com lesões de cárie em estágios iniciais, além de uma considerável prevalência de lesões de “cárie oculta” em dentina, ou seja, as características macromorfológicas das lesões têm se alterado (Ismail, 1997; Oliveira et al., 1999; Pereira et al., 2000; Pitts, 2004; Assaf et al., 2006). Embora novas metodologias mais refinadas para a detecção de lesões cariosas estejam sendo desenvolvidas (Nyvad, 2004; Baelum & Fejerskov, 2005; Assaf et al., 2006), o exame clínico com espelho bucal plano e sonda exploradora ainda são os métodos de detecção de cárie mais utilizados devido a sua baixa complexidade de realização e baixo custo financeiro (Amaral & Silva, 2000). Pesquisas atestam que os cirurgiões-dentistas tendem a manter durante sua vida clínica, os mesmos padrões de tomadas de decisões que praticavam durante seus programas de graduação, evidenciando a importância do processo de formação do aluno na caracterização do futuro profissional (Oliveira et al., 1999; Brennan e Spencer, 2006). Apesar da idiossincrasia do processo de tomada de decisões ser alvo de estudos já há algum tempo, percebe-se que a maioria dos estudos foi realizada com profissionais já formados, não havendo, portanto, avaliações mais específicas voltadas ao estudante de odontologia como objeto de estudo (Bader et al., 1995; Oliveira et al., 1999; Pereira et al. 2000; Mota et al., 2001; Brenann e Spencer, 2006) Com base nesses pressupostos, este estudo teve por objetivo avaliar as tomadas de decisões de um grupo de acadêmicos do último ano de um curso de graduação em Odontologia referente à detecção da cárie e decisão de tratamento para superfícies oclusais. METODOLOGIA Previamente ao início do estudo, o mesmo foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da FOP/Unicamp, sendo aprovado sob protocolo nº. 092/2006. Vinte dentes permanentes (12 molares e 08 prémolares), sem restaurações ou lesões cariosas cavitadas nas superfícies oclusais e proximais, foram selecionados e montados em um manequim odontológicos. O mesmo permanecia em solução salina timolizada quando não estavam sendo examinado, a fim de manter os dentes hidratados. A região posterior do manequim foi radiografada pela técnica bitewing, utilizando, para esse fim, filmes Kodak Ektaspeed Plus e aparelho de Raios X (Spectro 70X Dabi Atlante) apresentando 70Kvp e 8mA, e 0,4 56 segundos. Os filmes foram revelados em processadora automática e montados em cartelas especiais, a fim de permitir a análise radiográfica pelos examinadores. Sessenta e um acadêmicos (76,3% - a perda de sujeitos é superior a 20%: problemas com validade dos resultados) acadêmicos do 4º ano de curso de odontologia do interior do estado de São Paulo, sem treinamento e/ou calibração prévios, selecionados aleatoriamente (qual critério de aleatorização? Qual a razão do número “61” acadêmicos? Houve cálculo amostral?), examinaram as superfícies oclusais dos dentes em questão por meio de exame clínico visual com iluminação artificial, associado ao exame radiográfico bitewing. Não era permitida a utilização da sonda exploradora, a fim de não danificar as superfícies previamente desmineralizadas pelo processo carioso, causando assim, diferenças nas condições de exame de um examinador para outro. No momento do exame, o manequim era posicionado numa cadeira odontológica dentro da clínica de graduação e o processo de detecção e planejamento de tratamento para as superfícies oclusais em questão deveria se basear na simulação que o manequim representava a condição bucal de um indivíduo de 20 anos de idade, com boa higiene bucal e que procurou o consultório odontológico para uma consulta de rotina. Os examinadores deveriam responder: 1) se havia alguma lesão de cárie na superfície avaliada e quantificar sua extensão (esmalte ou dentina); 2) caso presente, se a lesão estava ativa ou inativa; 3) sugerir um plano de tratamento. Os dados foram anotados por um único examinador, que registrou as condições observadas em ficha para registro específica para o estudo ao qual abordava questões relativas à presença e atividade da lesão e prescrição de tratamento adequado (preventivo ou curativo) para as lesões cariosas detectadas. As modalidades de tratamento “acompanhamento (Ac)”, “aplicação tópica de flúor gel (ATF)”, “verniz fluoretado (VF)”, “selante resinoso (SR)” e “selante ionomérico (SI)” foram agrupadas na categoria “procedimentos preventivos”. As modalidades de tratamento “selante invasivo (SINV)”, “restauração em amálgama (RAMAL)”, “restauração em resina composta fotopolimerizável (RRES)”, “restauração em cimento de ionômero de vidro (RI)”, “restauração preventiva (RP)” e “outros materiais (ouro, porcelana, etc.)” foram agrupadas na categoria “procedimentos curativos”. Revista da ABENO • 9(1):55-61 Variabilidade na detecção das lesões cariosas e planos de tratamento para superfícies oclusais entre acadêmicos do último ano de um curso de odontologia • Silva RP, Morano-Júnior M, Mialhe FL Tabela 1 - Detecção de lesões cariosas pelos acadêmicos nos dentes do estudo. Detecção de lesão cariosa Com cárie Dente Sem cárie n % n Com cárie Dente % n Sem cárie % n % 18 36 59,0 25 41,0 38 0 0,0 61 100,0 17 0 0,0 61 100,0 37 19 31,1 42 68,9 16 56 91,8 5 8,2 36 31 50,8 30 49,2 15 6 9,8 55 90,2 35 56 91,8 5 8,2 14 4 6,6 57 93,4 34 9 14,8 52 85,2 24 10 16,4 51 83,6 44 44 72,1 17 27,9 25 0 0,0 61 100,0 45 10 16,4 51 83,6 26 61 100,0 0 0,0 46 55 90,2 6 9,8 27 56 91,8 5 8,2 47 60 98,4 1 1,6 28 30 49,2 31 50,8 48 28 45,9 33 54,1 Tabela 2 - Modalidades de tratamento recomendadas pelos acadêmicos. Modalidades de tratamento Dente Nenhum Preventivo Curativo n % n % n % 18 28 45,9 15 24,6 18 29,5 17 33 54,1 28 45,9 0 0,0 16 12 19,7 1 1,6 48 15 52 85,2 9 14,8 0 14 48 78,7 13 21,3 24 47 77,0 10 16,4 25 56 91,8 3 4,9 26 4 6,6 0 0,0 Dente Nenhum Preventivo Curativo n % n % n % 38 49 80,3 12 19,7 0 0,0 37 38 62,3 18 29,5 5 8,2 78,7 36 32 52,5 18 29,5 11 18,0 0,0 35 24 39,3 10 16,4 27 44,3 0 0,0 34 48 78,7 6 9,8 7 11,5 4 6,6 44 28 45,9 12 19,7 21 34,4 2 3,3 45 35 57,4 20 32,8 6 9,8 57 93,4 46 12 19,7 6 9,8 43 70,5 27 4 6,6 6 9,8 51 83,6 47 5 8,2 3 4,9 53 86,9 28 35 57,4 16 26,2 10 16,4 48 36 59,0 19 31,1 6 9,8 A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva, através de tabelas apresentado as freqüências absolutas (n) e relativas (%). A estatística de concordância Kappa (к) foi utilizada para se verificar a consistência diagnóstica inter-examinador dos acadêmicos (Landis & Koch, 1977). RESULTADOS A Tabela 1 apresenta os registros da detecção de lesão de cárie dentária nas 20 superfícies oclusais dos dentes examinados pelos 61 acadêmicos. Conforme observado na Tabela 1, a variação na detecção de cárie dentária foi nula dentre os acadêmicos somente para os dentes 17, 25 e 38, onde todos consideraram a superfície hígida, representando 15% de todas as superfícies examinadas. A concordância inter-examinador, segundo a estatística Kappa foi regular tanto para a detecção da presença de cárie, quanto para a determinação de sua atividade, apresentado os valores de 0,54 e 0,50, respectivamente. A Tabela 2 apresenta as modalidades de tratamento propostas pelos acadêmicos, a partir da detecção de cárie dentária para cada uma das 20 superfícies oclusais dos dentes do manequim odontológico. A concordância inter-examinador sobre a modalidade de tratamento a ser realizada foi considerada regular (к= 0,52), segundo a estatística Kappa. A Tabela 3 apresenta a porcentagem geral de indicações de tratamentos ou materiais recomendados para cada uma das 20 superfícies oclusais examinadas, evidenciando a alta porcentagem de recomendação Revista da ABENO • 9(1):55-61 57 Variabilidade na detecção das lesões cariosas e planos de tratamento para superfícies oclusais entre acadêmicos do último ano de um curso de odontologia • Silva RP, Morano-Júnior M, Mialhe FL das resinas compostas fotopolimerizáveis como material de escolha para os tratamentos restauradores. A Tabela 4 apresenta a relação entre as decisões diagnósticas e de tratamento realizadas pelos acadêmicos. Verificou-se que uma alta porcentagem de recomendações de tratamentos restauradores para dentes os quais os acadêmicos consideraram como apresentando cárie em nível de esmalte ao exame clínico, evidenciando uma tendência para condutas do tipo invasiva. DISCUSSÃO As discrepâncias observadas entre diferentes acadêmicos relativas ao processo de detecção da doença e seu tratamento é um campo de estudos ainda pouco explorado pela literatura, principalmente a nacional (Silva e Domingues, 1995; Oliveira et al., 1999; Amaral e Silva, 2000) Segundo alguns estudos, estas variações iniciam-se anteriormente ao processo de ensino-aprendizagem, ou seja, o próprio corpo docente de várias instituições não apresenta uma concordância favorável relativa à Tabela 3 - Tratamentos indicados pelos acadêmicos para os dentes em questão. Freqüências Tratamentos propostos n Nada % 626 51,3 0 0,0 Flúor gel 12 1,0 Verniz Fluoretado 12 1,0 201 16,5 Selante invasivo 56 4,6 Restauração em amálgama 50 4,1 263 21,6 0 0,0 Acompanhamento Selante Restauração em resina Restauração com ionômero Restauração preventiva 0 Total 0,0 1220 100 consistência de seus julgamentos clínicos, podendo gerar variações nas modalidades de tratamento posteriormente prescritas pelos alunos. No estudo de Tubert-Jeannin et al. (2004), os autores verificaram, numa amostra 88 professores pertencentes a 16 escolas de odontologia francesas, uma grande disparidade relativa ao limiar para tratamento restaurador em superfícies oclusais e proximais. Para os mesmos autores, as divergências nos currículos das faculdades de odontologia em termos de conteúdo e qualidade de horas da disciplina de cariologia é outro importante fator a ser considerado quando se tenta avaliar as causas de variações entre acadêmicos e profissionais. Entretanto, o simples fato de um conteúdo estar presente na grade curricular também não é certeza de que o mesmo será desenvolvido da melhor forma didático-pedagógica. Brown (2007) verificou entre as 66 (total = 68) escolas de odontologia americanas e canadenses que, em relação ao ensino da prática clínica, 68% destas incluíam a avaliação de risco de cárie no seu currículo e também avaliavam os resultados, mas, somente 65% incluíam procedimentos de remineralização e, destas, 38% reavaliavam a eficácia destas práticas. No presente estudo, em relação ao processo de detecção dos sinais da doença, verificou-se que houve uma unanimidade de percepções somente em 3 dos 20 dentes avaliados pelos acadêmicos, sendo a concordância geral moderada (k= 0,54). Estes valores foram maiores que os observados por Schmage et al. (2003), os quais verificaram valores de concordância de k= 0,21.N No estudo de Silva e Domingues, os autores também observaram uma baixa concordância entre alunos do último ano da graduação, ou seja, a concordância unânime de diagnóstico das superfícies oclusais foi de 11,76%. Com a queda na velocidade de progressão das lesões em muitos países, houve um interesse maior no desenvolvimento de critérios diagnósticos que contemplassem não só a avaliação da presença e extensão da lesão, mas também de sua atividade, pois, Tabela 4 - Relação entre as decisões diagnósticas e de tratamento realizadas pelos acadêmicos. Decisão de Tratamento Detecção cárie 58 Nenhum n Preventivo Restaurador % n % n Total % n % Hígido 471 72,6 152 23,4 26 4 649 100 Cárie esmalte 130 31,8 58 14,2 221 54 409 100 Cárie Dentina 25 15,4 15 9,3 122 75,3 162 100 Revista da ABENO • 9(1):55-61 Variabilidade na detecção das lesões cariosas e planos de tratamento para superfícies oclusais entre acadêmicos do último ano de um curso de odontologia • Silva RP, Morano-Júnior M, Mialhe FL se uma lesão ativa é submetida a medidas preventivas eficazes, a atividade do estado da lesão tenderá a se alterar (Baelum et al. 2003 – este artigo não está referenciado). No presente estudo, o valor de concordância de atividade da lesão foi moderado, com valores da estatística kappa de 0,50. Nyvad et al. (dar espaço)(2003) verificaram que a avaliação da atividade de cárie apresenta uma validade preditiva, ou seja, lesões ativas não-cavitadas apresentam um risco consideravelmente maior de progredir para uma lesão cavitada do que uma lesão inativa não-cavitada, efeito este verificado de forma mais pronunciada em indivíduos que não estavam regularmente expostos aos compostos fluoretados. É importante notar que o processo diagnóstico não é um fim em si mesmo, mas sempre é voltado para a seleção do melhor tratamento (Nyvad, 2004). No presente estudo, verificou-se uma ampla variação nas decisões de tratamento sugeridas pelos acadêmicos, como observada pela tabelas 2 e 3, sendo a concordância moderada em relação ao tipo de tratamento indicado (k= 0,52). Uma alta freqüência de decisões de não se fazer nada (51,3%) foi observada, seguido de decisões de se restaurar com resina (21,6%) e selamento das cicatrículas e fissuras (16,5%). Apesar dos examinadores avaliarem as características da lesão como principal critério para suas tomadas de decisão, em um processo real de tomada de decisão in vivo para a cárie, o profissional deve avaliar o risco social e biológico do paciente, a atividade da doença, a idade do dente e sua morfologia e interpretar de forma fidedigna os resultados dos testes diagnósticos para realizar sua tomada de decisão de tratamento (White e Maupomé, 2003; Pitts, 2004). O emprego de simulações de situações clínicas, por meio de modelos de estudo, manequins odontológicos, entre outros, como estratégia de ensino/ aprendizagem e forma de avaliação de decisões clínicas tem sido proposto em substituição ao paciente in vivo, como uma forma de se disponibilizar um maior número de casos aos alunos de programas de graduação e pós-graduação em odontologia (Bader et al., 1994). Apesar das limitações inerentes de um estudo in vitro, como foi o presente caso, verificou-se claramente que muitos alunos indicaram tratamentos do tipo invasivo para superfícies consideradas por eles como hígidas ou apresentando lesões em nível de esmalte (Tabela 3). Esta tendência de condutas terapêuticas invasivas em alunos de graduação também foi observada em outros estudos (Maupomé, 1998; Oliveira et al.,1999;) Para Baelum & Fejerskov (2003), os tratamentos invasivos devem ser reservados somente para casos onde as intervenções preventivas não sejam aplicáveis, pois qualquer restauração apresenta um período de duração, exigindo-se substituições periódicas por novas restaurações, as quais serão inevitavelmente maiores, contribuindo-se assim, para diminuição da expectativa de vida do dente. Desta forma, verifica-se que o papel de um corpo docente capacitado, coerente e coeso dentro desse processo é muito importante (Oliveira et al., 1999; Tran & Messer, 2003), inflamando discussões entre graduandos, problematizando situações clínicas, estimulando processos hipotético-dedutivos, para se formar profissionais críticos e não meros reprodutores de “scripts” de cárie dentária pré-memorizados e nem supervalorização de procedimentos técnicos invasivos (Bader & Shugars, 1998). Isto é muito importante, pois os tipos de tratamento planejados e inculcados nas atividades clínicas dos alunos durante sua formação parecem apresentar um grau de estabilidade durante o tempo, mantendo-se da mesma forma logo após sua graduação (Brennan e Spencer, 2006). Para isso, as escolas de odontologia devem desenvolver estratégias de ensino-aprendizagem em cariologia, diagnóstico e tratamento da doença cárie baseadas em evidências científicas consistentes e critérios muito bem estabelecidos para que os alunos possam manter certa uniformidade em suas tomadas de decisões, favorecendo o prognóstico de saúde bucal dos pacientes atendidos por eles durante e após a graduação. CONCLUSÕES Verificou-se uma ampla discrepância entre os acadêmicos de odontologia referentes à detecção e planos de tratamento para superfícies oclusais, evidenciando a necessidade de implementação (essa palavra é um neologismo) de estratégias de ensino/aprendizagem baseadas em treinamentos/calibrações constantes, a fim de minimizar estas variações, contribuindo para a formação de um profissional dentro da filosofia de promoção de saúde. ABSTRACT Variability in caries detection and treatment plans for occlusal surfaces among undergraduate senior dental students The changes observed in the pattern of dental caries development have created major difficulties for Revista da ABENO • 9(1):55-61 59 Variabilidade na detecção das lesões cariosas e planos de tratamento para superfícies oclusais entre acadêmicos do último ano de um curso de odontologia • Silva RP, Morano-Júnior M, Mialhe FL professionals to detect the presence and extent of the carious lesion precisely, as well as doubts with regard to decisions about treatment. In spite of the importance of this issue, little is known about this problem in the training process of dentistry course students. Therefore, the object of this study was to assess the inter-examiner agreement about carious lesion detection and the treatment decision about occlusal caries, among undergraduate seniors of the dentistry course. Twenty posterior permanent teeth without apparent cavitations were mounted in a dentistry mannequin and radiographed using the bitewing technique. Sixtyone students (76.3%) in the last year of a dentistry course at a public university in the interior of the state of São Paulo assessed the surfaces by means of clinicalradiographic examination, performed caries detection and suggested a treatment plan for each surface. Inter-examiner agreement was obtained by means of Kappa statistics. It was observed that the kappa statistic values – inter-examiner agreement – for caries detection (к=0.4), the determining of its activity (к=0.50), and the clinical decision making (к=0.52) were considered moderate for the criteria assessed. The most recommended non-invasive treatment was resinous sealing (35.31%), whereas restorations with light polymerizable resin were the most recommended invasive strategy (71.1%); nevertheless, there were marked differences with regard to the decision taken regarding which strategy to use. The results of this study evidenced the need for implementing teaching/learning strategies based on training/constant calibration of academic students to minimize these variations, contributing to a professional education guided by the philosophy of health promotion. The data collection instrument in this study proved efficient and easy to use for assessing this problem among undergraduates. ment decisions. J Public Health Dent 1998;58(3):210-9. 5. Bader JD, Shugars DA, McClure FE. Comparison of restorative treatment recommendations based on patients and patient simulations. Oper Dent 1994; 19(2): 20-25. 6. Baelum V, Fejerskov, O. Caries diagnosis: a mental resting place on the way to intervention? 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Reliability of occlusal Aceito em 29/06/2009 caries estimation by students and clinicians. 81 st General Ses- Revista da ABENO • 9(1):55-61 61 A formação do cirurgião-dentista nos cursos de odontologia do Ceará(a) Filomena Maria da Costa Pinheiro*, Silvia Maria Nóbrega-Therrien** *Cirurgiã-dentista, Mestre em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará **Enfermeira. Profª Adjunta dos Cursos de Enfermagem e Medicina da Universidade Estadual do Ceará e do Mestrado Acadêmico em Educação. Doutora em Sociologia pela Universidade de Salamanca, Espanha Resumo O presente estudo configura-se em uma pesquisa documental no ano de 2006, realizada nos cursos de Odontologia da Universidade Federal do Ceará – UFC e Universidade de Fortaleza – UNIFOR do Estado do Ceará. Procurou-se conhecer os projetos político-pedagógicos – PPP adotados para a formação do cirurgião-dentista nos cursos de graduação; relacionar a estrutura curricular anteriormente adotada nos cursos de graduação com as novas Diretrizes Curriculares propostas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB/96 e identificar as mudanças ocorridas. Os documentos mapeados foram organizados e interpretados utilizando os seguintes tópicos: missão do curso, princípios norteadores, perfil profissiográfico, diretrizes curriculares e estrutura curricular. Constatou-se que os cursos de Odontologia estudados estão realizando suas reformas curriculares procurando se adequar às Novas diretrizes propostas, procurando adequar a formação dos seus profissionais para que atendam às necessidades de saúde da população.Os cursos aqui mapeados e analisados estão passando por um momento histórico de mudança na formação do cirurgião-dentista, enfrentando o desafio de sair de um modelo de ensino centrado no diagnóstico e tratamento das doenças para outro centrado na promoção e prevenção dessas doenças. Descritores Educação em Odontologia. Escolas de Odontologia. Currículo. H á uma homogeneidade do discurso sobre a atual crise da educação e suas causas, assim como a urgência e a inevitabilidade das reformas educacionais orientadas para a melhoria da qualidade da educação pelos sistemas de ensino. Revela Candau1 (1999) que “as ‘palavras de ordem’, isso já em 1998, são as mesmas: descentralização, qualidade, competitividade, eqüidade, reforma curricular, transversalidade, novas tecnologias, dentre outras de caráter secundário”. Assim, a reforma curricular constitui, há bastante tempo, elemento fundamental das estratégias voltadas para a melhoria da qualidade da educação. Neste sentido observamos no cenário que diferentes países vivenciam ou estão em fase de implantação de suas reformas curriculares. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei 9394), de 20 de dezembro de 1996 prevê no seu artigo 12, inciso I, que “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica, ou seja, o seu projeto político-pedagógico-PPP”. A LDB referida, também redimensiona o conceito das instituições de ensino e explicita que está nas mãos dos sujeitos que a fazem, o ato de definir a organização do seu trabalho pedagógico. Nesse sentido, esta atribuição é de grande responsabilidade para as universidades, pois implica a definição dos caminhos Trabalho baseado em dissertação de Mestrado Acadêmico em Saúde Pública da Universidade Estadual do Ceará, defendido em 04/12/2006. (a) 62 Revista da ABENO • 9(1):62-8 A formação do cirurgião-dentista nos cursos de odontologia do Ceará • Pinheiro FMC, Nóbrega-Therrien SM que a instituição vai tomar. Entendemos que o PPP é, portanto, o instrumento que explicita a intencionalidade das IES (Instituição de Ensino Superior), indicando seu rumo, direção e compromisso. Confirma Veiga2 (2002) essa nossa preocupação, indicando que: a elaboração de currículos mais integradores, com o objetivo de formar cidadãos conscientes, éticos, críticos e transformadores. Na perspectiva de Paula e Bezerra4(2003), que caminha nessa lógica de análise, indica que, “[...] o currículo constitui a programação norteadora da “o projeto pedagógico exige profunda reflexão sobre as formação acadêmica, executada mediante o processo edu- finalidades da escola, assim como, a explicitação de seu cacional inerente à aplicação de conteúdos e práticas, com papel social e a clara definição de caminhos, formas ope- a meta primordial de preparar técnica, científica, moral, racionais e ações a serem empreendidas por todos os en- ética, social e intelectualmente os futuros profissionais da volvidos com o processo educativo”. diferentes áreas do conhecimento”. Nessa lógica de entendimento, analisar e compreender o PPP de uma instituição significa conhecer a sua estrutura organizacional, mediante suas características, ou seja, conhecer a estrutura pedagógica, que gestão está sendo praticada, qual a sua lógica interna e funções educativas predominantes; enfim, caracterizar, do modo mais preciso possível, a identidade da instituição. Tal empreendimento exige um estudo mais demorado e localizado. Observa-se que a reforma curricular começa a se impor no âmbito educacional, pois a elaboração do currículo foi quase sempre voltada para a eficiência e eficácia dos procedimentos, com a preocupação de executar as ações, estruturada a grade curricular em disciplinas. Esta característica curricular de organização hierárquica e fragmentada inseriu-se de tal forma no espaço universitário que sua superação não é um caminho fácil. Para romper essa lógica estrutural e organizacional que aqui consideramos tradicional, a proposta é a de que se deve trabalhar o currículo de forma integrada e interdisciplinar, a fim de reduzir o isolamento e a sua fragmentação. Esse entendimento já faz parte de muitos estudiosos da área que caminham na afirmação de que nessa perspectiva, os profissionais das instituições de ensino devem refletir e questionar profundamente os atos de ensinar e aprender que vem sendo realizado até hoje nas instituições educacionais do País. Comenta Aquilante e Tomita3(2005) sobre a questão, que: Na esteira de tal raciocínio, Veiga5 (2000) expressa à idéia de que “o currículo é um importante elemento constitutivo de organização escolar; implicando, necessariamente, a interação entre sujeitos que têm o mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o sustente”. É uma construção social do conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se efetive, bem como, a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los. Neste sentido, o currículo é dinâmico, pois se encontra em constante movimento, passa ideologia e implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da cultura dominante, quanto da cultura popular, ou seja, o currículo expressa uma cultura e não pode ser separado do contexto social, porquanto, é historicamente situado e culturalmente determinado. Nesse entendimento, não pode, por conseguinte, ser reduzido a um documento estático a ser cumprido em cada semestre ou em um ano letivo. Essa compreensão é encontrada, sobretudo em Feuerwerker 6(2002) e Lemos7 (2005). Feuerwerker6 (2002) considera que: “[...] os currículos expressam o modo como uma instituição educacional se vê no mundo, ou seja, qual o seu papel, que relações ela deve estabelecer, quem são os seus inter- “[...] o ponto crucial das reformas foi à dificuldade de locutores, como se concebe o conhecimento (como ele é rompimento com as limitações impostas pela divisão dos produzido, para que serve), como se concebe a educação, conteúdos em disciplinas, pois os professores estão habi- qual o melhor jeito de aprender, como a escola se organi- tuados à compartimentalização do ensino, uma vez que za considerando os elementos anteriores, o papel (e o foram formados dessa maneira”. poder) que cada um tem dentro da escola”. O cenário, entretanto, já evidencia que as propostas de reformas curriculares no Brasil estão buscando Lemos7 (2005) vai mais além dessa compreensão, dizendo que: Revista da ABENO • 9(1):62-8 63 A formação do cirurgião-dentista nos cursos de odontologia do Ceará • Pinheiro FMC, Nóbrega-Therrien SM “[...] o currículo deve ser visto como uma práxis, uma realidade dialética, construída e superada continuamente por seus diferentes atores: alunos, professores, coordena- nesses cursos de graduação com as novas Diretrizes Curriculares propostas pela LDB, identificando as mudanças ocorridas. dores. Sua natureza social e dinâmica implica que é uma realidade passível de verdadeiras mudanças dando-nos a possibilidade real de pensar e construir currículos diferentes dos existentes”. As novas concepções e idéias nesse sentido são necessárias para que a reforma curricular aconteça, uma vez que não basta mudar conteúdos e carga horária de sua estrutura. Pensar e transformar um currículo implica pensar e recriar o curso ou a universidade, numa dinâmica de construção e reconstrução. Editada a nova LDB (Lei 9394/96) foi redimensionado o conceito de escola, prevendo a flexibilização dos currículos de graduação, ultrapassando o modelo de currículo mínimo e atingindo o conceito de projeto político-pedagógico - PPP norteadores dos processos de mudança no interior das IES. Com relação à área odontológica, as indicações propostas nas Novas Diretrizes Curriculares8 (CNE/ CES 1300/2001) para o curso de Odontologia são recentes, do ano de 2001, o que acreditamos ser importante verificar na realidade da formação dos alunos, o que está sendo concretizado ou se concretizando em seus cursos. É um terreno amplo para investigação, a proposta do profissional egresso dos cursos de Odontologia em relação à nova postura, “de compromissos éticos com a sociedade e com o social, ajudando o usuário a viver higidamente”. Entendemos que é urgente também que os sujeitos que trabalham com currículo saibam lidar com suas complexidades, bem como com a sua dinâmica, que direcionam para a qualidade e a natureza das ações formativas inseridas no próprio currículo (MACEDO, 2007)9. Sem essa compreensão, e ação curricular, portanto cuidado na sua elaboração que deve ser coletiva, podemos trazer graves prejuízos socioeducacionais. A partir destas breves considerações se configura como objetivo desse estudo conhecer os projetos político-pedagógicos - PPP adotados para a formação do cirurgião-dentista nos cursos de graduação de odontologia do Estado do Ceará, relacionando-os com a estrutura curricular anteriormente assumida MATERIAL E MÉTODOS Nossa pesquisa se configura como do tipo documental, pois utiliza como fonte de análise os currículos antigos, os projetos político-pedagógicos – PPP adotados para a formação do cirurgião-dentista nos cursos de graduação de odontologia do Estado do Ceará e as Diretrizes Curriculares para estes cursos resultado da nova LDB/96. Os documentos referidos receberam um tratamento analítico com vistas a atingir os objetivos propostos. A unidade geográfica da investigação foi, por um lado, as instituições de ensino superior, Universidade Federal do Ceará-UFC e Universidade de Fortaleza-UNIFOR, com seus cursos de graduação em Odontologia, currículos antigos e PPP. Estas IES foram escolhidas por serem as instituições mais antigas no Estado a possuírem cursos de Odontologia(b) e, terem seus profissionais já atuando no mercado de trabalho. Foi realizado um estudo nos documentos com relação a normatização, currículos anteriores e atuaisPPP utilizados nos referidos cursos, com a finalidade de conhecer a organização e conteúdos do trabalho pedagógico da instituição. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os documentos mapeados (currículos anteriores e atuais-PPP dos cursos de Odontologia da UFC e UNIFOR) foram organizados e interpretados utilizando os seguintes tópicos: missão do curso, princípios norteadores, perfil profissiográfico, diretrizes curriculares e estrutura curricular. 1. Missão do curso Observamos, na missão de cada curso a busca do aumento da dimensão pedagógica do ensino odontológico, abandonando a atitude tecnicista para uma visão holística do ser humano, bem como partindo do individual para atingir o coletivo. Percebemos uma concepção do ideal de sociedade e de homem que se pretende formar, tendo como missão preparar profissionais inseridos em um mundo social e histórico bastante complexo, e, nesse sentido, levando à produção de um conhecimento a partir da realidade, O curso de Odontologia foi criado primeiramente na UFC, em 12/03/1916 e reconhecido pelo Conselho Federal de Educação no dia 31/01/1940, pela lei 5.205 e federalizado em 1950 pela lei 1.254 de 04/12/1950. O curso da UNIFOR iniciou suas atividades no primeiro semestre de 1995 com a Resolução do CFE 04/82, de 03/09/1982, e parecer favorável do CNS em 11/11/93. (b) 64 Revista da ABENO • 9(1):62-8 A formação do cirurgião-dentista nos cursos de odontologia do Ceará • Pinheiro FMC, Nóbrega-Therrien SM propondo-se a preparar indivíduos para uma leitura contextualizada do mundo que os rodeia e de suas necessidades reais. Essa busca evidencia também a identificação do trabalho, que se ancora na saúde coletiva e pública, concretizado cada vez mais a partir de meados da década de 1990 e que, no ano de 2000, se amplia, com a incorporação do cirurgião-dentista às equipes de PSF. Responde também (pelo menos em sua proposta) ao preconizado no texto das Diretrizes Curriculares Nacionais. 2. Princípios norteadores Observamos alguns pontos importantes nos princípios norteadores dos cursos, dentre eles, a integração curricular, abrindo espaço para uma nova organização do processo de trabalho das instituições. Essa integração pode permitir corrigir a segmentação e fragmentação do ensino odontológico, de docentes que trabalham isoladamente, dicotomizando as relações de teoria e prática, ensino-serviço. Outro ponto importante a ser considerado é com relação a compromisso com a educação permanente, seguindo às orientações das Diretrizes Curriculares do Curso de Odontologia. A educação permanente reforça assim a idéia do cuidado com a graduação e encaminha para o desenvolvimento de um sujeito crítico-reflexivo. O curso de Odontologia da UNIFOR referencia como um princípio norteador a disposição permanente para reavaliar premissas e substituir paradigmas, denotando a compreensão da dinâmica da aprendizagem, como visto anteriormente na minha fundamentação teórica a nova concepção, que deve ter a instituição em seu PPP, do eterno diagnóstico, planejamento, repensamento, começo e recomeço, análise e avaliação. O compromisso com a ética, referenciado nos dois projetos pedagógicos, é fortalecido também pela nova implantação da Resolução 169/96 do Conselho Nacional de Saúde(c) mesmo sendo voltada para pesquisa com seres humanos, mas traz à tona a sua importância como importante princípio que deve respaldar uma profissão, uma vez que este profissional a ser formado vai realizar suas atividades referentes à saúde dentro dos princípios éticos que a regem. 3. Perfil profissiográfico Observa-se um redimensionamento do perfil do cirurgião-dentista a ser graduado, em ambas as universidades, seguindo as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Odontologia, que orienta um cirurgião-dentista com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva com compromisso com a saúde, procurando, além da formação técnico-científica (onde havia um excessiva valorização do conhecimento científico e tecnológico), também direcionar a formação de um cirurgião-dentista que atenda melhor as demandas de saúde da população. Isso implica formar profissionais com um perfil capaz de prestar atenção integral mais humanizada, trabalhar em equipe e compreender melhor a realidade em que vive a população. As intenções de perfil contidas nos cursos da UFC e UNIFOR denotam a intencionalidade de mudança dos saberes veiculados por estas instituições de ensino, como acredito que sinalizam Therrien et al.10 (2000): “focalizando a aprendizagem situada, da formação na prática, da reflexão na e sobre a ação como princípio educativo fundante”. Esse entendimento configura o grande desafio do processo educacional, ou seja, o de promover a formação de um indivíduo crítico e reflexivo, constituindo sujeitos que orientam suas ações em suas dimensões sociais, éticas e políticas. 4. Diretrizes curriculares É importante ressaltar a preocupação de ambos os cursos de graduação (UFC e UNIFOR) em seguir as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais, englobando a integração curricular e contextualizado-a na sua realidade e, ainda, a flexibilidade que permite ao aluno desenvolver outras atividades científicas, culturais, etc. Já faz parte do senso comum na área, a idéia de que é de fundamental importância a integração do ensino e é possível fazer um ensino integrado, porém se não houver uma mudança de atitudes e concepções dos docentes, nem sempre este tipo de ensino resultará em uma ação prática integralizada. Outro enfoque que observamos com relação a essas Diretrizes, remete ao fato de que o currículo ser voltado para o perfil epidemiológico da região, com Esta Resolução incorpora, sob a óptica do indivíduo e das coletividades os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, nãomaleficiência, beneficiência e justiça, entre outros, e visa a assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado (Resolução 196/96 do CNS). (c) Revista da ABENO • 9(1):62-8 65 A formação do cirurgião-dentista nos cursos de odontologia do Ceará • Pinheiro FMC, Nóbrega-Therrien SM o ensino dirigido para a comunidade, levando a integração ensino/serviço, tema importante e que foi abordado nas duas instituições de ensino. A realidade mostra, entretanto, que os serviços ainda são pouco utilizados como locais de ensino-aprendizagem, impedindo o aluno de vivenciar sua aprendizagem nos serviços públicos de saúde de sua região, além de negarlhe o contato com a precariedade destes serviços e com as estratégias utilizadas por estes, para o atendimento à saúde da população, o que configura uma fonte rica de aprendizagem, proposta no texto. Cabe salientar que não só a universidade, mas o serviço também pode não compreender também o seu papel de ensinar a prática profissional, necessitando a integração do professor com o dentista inserido no serviço. 5. Estrutura curricular Com as novas Diretrizes Curriculares, os cursos de Odontologia começaram a trabalhar as suas mudanças no sentido de se adequarem a elas. Sabe-se que uma nova proposta curricular configura muitos desafios para a Instituição, pois envolve novos papéis, espaços e relações de poder. Tem-se também conhecimento de que a estrutura curricular apresenta características gerais abrangentes e flexíveis, as disciplinas estão delineadas, mas não estão necessariamente explicitadas como no antigo currículo mínimo. Cada instituição tem autonomia para delinear seu currículo pleno, observando criteriosamente os princípios que a norteiam. Constatamos que houve a flexibilização dos conteúdos (nos dois cursos), com ampla liberdade na composição da carga horária a ser cumprida para facilitar a integralização dos currículos em sua estrutura e com isso permitindo que as instituições ganhassem legitimidade e espaço para executarem as reformas necessárias e se adequarem à realidade na qual estão inseridas. Bem assim, a vinculação de uma quantidade de carga horária para estágios supervisionados que deverá atingir 20% da carga horária total do curso. Outra inovação observada no currículo de ambos os cursos, foi a possibilidade de inclusão de novas disciplinas, como disciplinas na área de saúde bucal coletiva, bem como em área especializada, como Implantodontia, Oclusão, Cariologia e outras, que visam a contemplar o perfil do profissional que a instituição tenciona formar. Na estrutura das disciplinas identificamos a busca de mudança na concepção tradicional de educação, na qual o professor ensina e o aluno aprende, como também, na concepção biologista em saúde, chegan66 do ao conceito ampliado de saúde, na tentativa de superação do modelo flexneriano do ensino odontológico. Essas inovações vinham sendo sugeridas por vários autores, entre eles Melo11(2004), ao compreender que, para haver esta mudança, o aluno deve ser situado como principal agente na produção de seus conhecimentos e o professor como facilitador do processo de ensino-aprendizagem. Na UFC, fica visível o acréscimo das disciplinas na sua nova proposta de PPP, como Cariologia, Escultura Dental, Emergências Odontológicas, Oclusão, Endodontia Laboratorial e Implantodontia. Foi introduzida ainda a disciplina Metodologia Aplicada à Odontologia I e II, que não existia no currículo anterior, com o intuito de preparar o graduando para a pesquisa científica. As disciplinas da área de Prótese Dentária foram reorganizadas e houve a integração das disciplinas Odontopediatria e Ortodontia. Evidenciamos nessa reforma, ainda, incipiente integralização curricular, pois as disciplinas ainda continuam muito departamentalizadas. Na UNIFOR, notamos que a reforma curricular avançou mais na integralização curricular, pois houve integração no ciclo profissionalizante das disciplinas Oclusão, Radiologia, Patologia, Farmacologia, Semiologia, Escultura e outras, que foram dispostas em novas disciplinas, como Iniciação Clínica, Pré-clínica I, II e III, Propedêutica I, II e III, Clínica Odontológica I, II e III, na tentativa de promover essa interação curricular, por meio da articulação de matérias, conteúdos e áreas, pois tradicionalmente a integração do ensino da Odontologia era realizada somente nos dois últimos semestres, sendo feita a antecipação desse processo, procurando ultrapassar a barreira da fragmentação do ensino, que dificulta a atenção integral à saúde. Convém salientar que essa integração também deve ocorrer entre a teoria e a prática, bem como produção de conhecimento integrada à docência e à atenção à saúde. Outro ponto, que podemos considerar, diz respeito à seqüência das disciplinas a serem cursadas de ambos os currículos nos anos apresentados. A idéia de seguimento do ensino, partindo do mais simples para o mais complexo, e não de problematização. Visualizamos a proposta da inserção do aluno na saúde coletiva, procurando instituir uma Odontologia mais social, mudando o referencial do profissional a ser formado, inserindo-o desde cedo na realidade social e nas práticas do serviço público, dispondo a UFC uma carga horária de 23 créditos, com as disciplinas de Saúde Coletiva I e II, Saúde bucal na socie- Revista da ABENO • 9(1):62-8 A formação do cirurgião-dentista nos cursos de odontologia do Ceará • Pinheiro FMC, Nóbrega-Therrien SM dade e Estágios em serviços do SUS I, II e III e a UNIFOR com uma carga horária de 20 créditos, distribuídos em vários semestres nas disciplinas Saúde Bucal Coletiva I, II, III, IV e V. A percepção da Odontologia como prática social e não apenas como exercício técnico-científico, de perceber o homem como um ser social e sair da compreensão somente dele como individual para o ser coletivo está contemplada nos conteúdos curriculares das duas instituições em estudo. Essa proposta pedagógica é indicação de vários autores, entre os quais, Lampert12 (2002) que reporta à necessidade de que se deve engajar o estudante na realidade social, permitindo-lhe compreender as várias dimensões do processo saúde-doença. Foram identificadas nos conteúdos curriculares da UFC propostas de preparação do aluno para as políticas de saúde bucal integrando-se no contexto do Sistema Único de Saúde – SUS de modo mais explícito no texto, o que não foi observado na UNIFOR. Esses estágios oferecidos no serviço público levam o aluno a conhecer todos os níveis de atenção à saúde, aproximando-o da realidade onde vai atuar, aprendendo com ela e nela se inserindo, atitude que segue as orientações das Diretrizes Curriculares do curso, visando à diminuição do distanciamento entre a formação dos recursos humanos e as necessidades do SUS. As disciplinas das áreas humanas e sociais já existiam nos cursos estudados, mas percebe-se a presença de uma concepção da interdisciplinaridade, embora ainda timidamente, buscando o desenvolvimento de uma interação, levando a um enriquecimento mútuo, configurado na superação dos currículos organizados por disciplinas e centrados nos conteúdos. Isto constitui um avanço. É relevante considerar, também, a exigência da elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC como requisito para a graduação, o que trouxe a pesquisa com maior força para conteúdos e disciplinas; embora ainda incipiente, pois a articulação entre ensino e pesquisa ainda tem muito que avançar, como também o tempo a ela dedicado ainda não me parece ser o adequado e necessário. A formação para a pesquisa é também atualmente complementada pelos programas de Iniciação Científica e a formação dos Grupos de Pesquisa. A universidade constitui espaço privilegiado para estimular os alunos à pesquisa, o que proporciona o desenvolvimento do espírito crítico e reflexivo. Considera Demo13 (2005) que: “do ponto de vista epistemológico, saber pensar supõe traquejo metódico para lidar de maneira adequada com o conhecimento e seu processo de construção, desconstrução e reconstrução, enquanto, do ponto de vista da política social, saber pensar é pilastra crucial da cidadania ativa, para saber melhor intervir”. Pertence a Pedro Demo todo um trabalho que evidencia a importância da formação com base em alicerces como a pesquisa, e a pesquisa como principio de formação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os cursos de Odontologia do Brasil apresentam-se em acelerada reorganização de suas práticas, procurando adequar à formação dos seus profissionais para que atendam às necessidades de saúde da população. Os Cursos de Odontologia do Estado do Ceará, da Universidade Federal do Ceará-UFC e Universidade de Fortaleza-UNIFOR, assumiram também o compromisso com esse processo de mudanças. Esta missão constitui tarefa bastante árdua, pois transformar um processo de formação implica mudanças na concepção de perfil de formando, compreensão de saúde, na formulação do saber, nas relações entre professor e aluno, nas práticas docentes e nas relações de poder entre departamentos e disciplinas, entre profissionais e seu pares. Como bem refere Feuerwerker6 (2002), são mudanças profundas que implicam a transformação não somente de concepções e práticas, mas também de relações de poder dentro das universidades, dos serviços de saúde, do território local e também do espaço social, no campo das políticas. Os cursos da UFC e UNIFOR aqui mapeados e analisados estão passando por um momento histórico de mudança na formação do cirurgião-dentista, o que, com certeza, produz conflitos, pois, na busca significativa de opções, os conflitos, as crises, as rupturas e as contradições se explicitam, principalmente entre docentes, o que é esperado, pois faz parte da formação que exige transformação. O desafio está em sair de um modelo de ensino centrado no diagnóstico e tratamento das doenças para outro centrado com fulcro na promoção e prevenção dessas doenças. ABSTRACT Dentist’s training in Ceará dentistry courses The present study constitutes a documental research conducted in the year of 2006, in the dentistry courses of the Universidade Federal do Ceará – UFC and Universidade de Fortaleza – UNIFOR. It sought to learn more about the Political and Teaching Proj- Revista da ABENO • 9(1):62-8 67 A formação do cirurgião-dentista nos cursos de odontologia do Ceará • Pinheiro FMC, Nóbrega-Therrien SM ects (PPP) adopted to train dentists in undergraduate dentistry courses, to relate the curriculum structure previously adopted in the undergraduate courses to the new curriculum guidelines proposed by the Law of Guidelines and Bases of National Education (LDB), and to identify the changes that have occurred. The documents mapped were organized and interpreted using the following topics: mission of the course, guiding principles, professional profile, curriculum guidelines and curriculum structure. It was observed that the dentistry courses are accomplishing their curriculum reforms, seeking to adapt to the new National Curriculum Guidelines, and to adapt the training of their professionals, so that they can assist the population in meeting its health needs. The courses mapped and analyzed here are experiencing a historical moment of change in the dentist’s training, facing the challenge of transitioning from a teaching model centered on the diagnosis and treatment of diseases to another centered on the promotion of health and prevention of these diseases. 4. Paula LM, Bezerra ACB. A estrutura curricular dos cursos de odontologia no Brasil. Revista da ABENO 2003; 3: (1):7-14. 5. Veiga IPA. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. 11.ª ed. Campinas: Papírus; 2000. 6. Feuerwerker LCM. Além do discurso de mudança na educação médica: processos e resultados. São Paulo: Hucitec; Londrina: Rede unida; Rio de Janeiro: Assoc. Bras. de Educação Médica, 2002. 7. Lemos CLS. A implantação das diretrizes curriculares dos cursos de graduação em odontologia no Brasil: algumas reflexões. Revista da ABENO 2005; 5:(1):80-5. 8. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CES 1300/2001, de 4 de dezembro de 2001, que dispõe das Diretrizes dos Cursos DE Graduação em Farmácia e Odontologia. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 dez. 2001. Seção 1, p. 1-25. 9. Macedo RS. Currículo: campo, conceito e pesquisa. PetrópolisRJ: Vozes; 2007. 10. Therrien J, Santos E, Sousa FCL. Racionalidade do Agir docente: elementos para uma análise da formação na prática. In: Therrien J, Damasceno MN (org). Artesãos de um outro ofício: múltiplos saberes e práticas no cotidiano escolar. São Paulo: Descriptors Education, Dental. Schools, Dental. Curriculum. § REFERÊNCIAS Annablume, 2000. 11. Melo MM. As diretrizes curriculares nacionais e os cursos paranaenses de odontologia: processo de construção e perspectivas de implementação. [Dissertação de Mestrado]. Londrina: 1. Candau VM. Reformas educacionais hoje na América Latina. In: Moreira AFB (org). Currículo: políticas e práticas. Campi- Universidade Estadual de Londrina; 2004. 12. Lampert JB. Tendências de mudanças na formação médica no Brasil. São Paulo: Hucitec-Abem; 2002. nas, SP: Papírus; 1999. p. 29-42. 2. Veiga IPA. Perspectivas para reflexão em torno do projeto 13. Demo P. Saber pensar. Revista da ABENO 2005; 5(1): 75-9. político-pedagógico. In: Veiga IPA, Resende LMG(orgs.). Escola: espaço do projeto político-pedagógico. 6ª. ed. CampinasRecebido em 07/04/2009 SP: Papírus; 2002. p. 9-32. 3. Aquilante AG, Tomita NE. O estudante de odontologia e a educação. Revista da ABENO 2005; 5: (1): 6-11. 68 Revista da ABENO • 9(1):62-8 Aceito em 29/06/2009 A formação e o novo perfil do docente universitário Daniela Goursand*, Saul Martins Paiva**, Maria de Lourdes Rocha de Lima*** *Doutoranda em Odontopediatria pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil **Professor Associado do Departamento de Odontopediatria e Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil ***Professora Adjunta R4 da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil RESUMO O presente estudo busca fazer uma revisão bibliográfica da atual situação dos docentes universitários, ou seja, como eles estão sendo formados e qual o seu perfil. Percebe-se que esse assunto é bem discutido na literatura e que mudanças foram ocorrendo a partir da reflexão sobre a prática docente. O que se vê atualmente é a formação de um professor ativo, com ênfase na reflexão de sua prática pedagógica, a prática reflexiva que permite que o mesmo atue e reflita sobre seu próprio trabalho. Descritores Educação Superior. Docentes. Ensino. A educação e a formação do docente universitário são assuntos amplamente discutidos. Os docentes são formados, principalmente, no Ensino Superior, na pós-graduação.4,15 A qualificação dos professores está sendo questionada e a exigência de uma boa formação é cada vez maior. Porém, os currículos estão sendo apontados como os grandes vilões da baixa qualidade do ensino superior, porque tem levado a uma formação especializada e estática.5 Em razão disto, as diretrizes curriculares das Instituições de Ensino Superior (IES) que substituíram os currículos mínimos propostos pelo anterior Conselho Federal de Educação, redefinem o eixo curricular e estão trazendo reformulações, principalmente rumo à flexibilização curricular e à instituição de projetos políticos pedagógicos, que vêm superar os antigos currículos “fechados”, “acabados”, “pré-esta- belecidos”. Nos tempos atuais, a docência universitária deve propiciar a formação do profissional cidadão, devendo-se alterar os projetos político-pedagógicos que privilegiam a formação de técnicos profissionais. O que se espera hoje é que a formação docente seja pautada em uma diretriz político-reflexiva, ou seja, a educação deve ter ênfase na investigação da própria prática, no processo interativo, no diálogo com a situação real, enfim, deve-se formar o professor como prático-reflexivo.5 A EVOLUÇÃO PEDAGÓGICA A pedagogia é a ciência da prática. Ela constitui um campo específico de intervenção profissional na prática social. Essa prática social torna a educação objeto de investigação e exercício profissional, incluindo a docência.9 A pedagogia moderna manifesta-se sobre a arte de ensinar, em que a prática da observação modula a relação ensino-aprendizagem, instaurando o primado da visibilidade.2 Ela é uma reflexão teórica baseada nas práticas educativas e sobre elas.9 Analisando as teorias didáticas do processo ensino-aprendizado, percebemos que em meados da década de 20, surgiu nos Estados Unidos, a chamada Escola Nova, que teve fortes influências no Brasil a partir da década de 30. Essa teoria da escola ativa exigia a formação de mestres cultos, capazes e com espírito criador. Com o avanço da economia desenvolvimentista, na qual predomina a racionalidade técnica, mudanças na formação docente foram ocorrendo. Assim, na década de 60 e 70 valorizava-se o conhecimento, ou seja, os saberes instrumentais da Revista da ABENO • 9(1):69-73 69 A formação e o novo perfil do docente universitário • Goursand D, Paiva SM, Lima MLR prática pedagógica e os aspectos didático-metodológicos ganharam força. A década de 80 se destacou pela crítica à instrumentalização do ensino, propondo-se a nova teoria denominada de sócio-política. Ela visava não só contextualizar historicamente a prática pedagógica como buscava os novos caminhos para empreender a relação teoria e prática nas interações com a sociedade. Os anos 90 foram marcados pela busca de novos enfoques e paradigmas para a compreensão da prática docente e dos saberes dos professores.13 Começam a ser abordadas questões sobre a Escola Progressista. Ela fornecia bases para que o docente fizesse uma reflexão sobre sua própria prática. Para se alcançar a prática reflexiva, o docente deve ser capaz de organizar a pedagogia de uma forma construtiva, de criar condições de aprendizagem, de ser sujeito e objeto de sua prática através da sua realidade de trabalho, da sua atuação.5 Essa tendência reflexiva apresenta-se como um novo paradigma na formação de professores, sedimentando uma política de desenvolvimento pessoal e profissional dos professores e das instituições escolares.13 Nesse modelo de formação busca-se não só preparar o futuro docente como também estimular a participação discente. Esse é o modelo em discussão nos dias atuais, em que a educação tecnológica à distância vem se estruturando. Novo perfil do docente O docente é considerado como mobilizador de saberes profissionais. Sabe-se que ele constrói e reconstrói seus conhecimentos de acordo com as necessidades, as experiências por ele vividas.11 O professor é, antes de tudo, um educador. Seu conceito é aquele que instrui e orienta os estudantes, contribuindo para o desenvolvimento não só dos alunos, como também dos futuros docentes em formação.8 O perfil do docente em formação inicial deve ser pluralista. Ele deve ser capaz de ajudar no desenvolvimento pessoal/intersubjetivo do aluno; deve atuar como facilitador do acesso do aluno ao conhecimento; deve ter profundo conhecimento de sua área de atuação; deve ser analista crítico da sociedade, já que sua atividade profissional nela intervém; deve ser produtor de conhecimento científico e social.9 Ou seja, a atuação docente deve tomar várias direções.10 Fala-se, então, em profissionalidade docente. Ela é um conjunto de habilidades, competências, atitudes e valores que constituem a identidade do ser professor. A competência é uma combinação de conhecimento, motivação e características pessoais que per70 mitem ao indivíduo agir efetivamente frente a uma situação particular.8 Dentre as competências docentes destacam-se o domínio de determinada área do conhecimento, o domínio pedagógico e o exercício da dimensão política.5 A formação por competência indica a necessidade de experiências e oportunidades de ensino-aprendizagem que possibilitem para além do campo cognitivo.6 Para haver competência na prática docente, é preciso que esteja em jogo um repertório de recursos, como conhecimentos, capacidades cognitivas, e capacidades relacionais.5 Com isso, a formação docente deve dar condições de capacitação, qualificação e desenvolvimento para que o processo ensino-aprendizagem seja mais efetivo pedagógica, político e socialmente. O profissionalismo docente implica em um fluxo de movimento contínuo entre formação profissional e exercício de profissão16, além de significar a melhoria do trabalho profissional e da qualidade social do ensino.7 A formação docente A formação inicial é um requisito básico para a profissionalização docente. E essa formação ocorre, principalmente, nas universidades. A qualificação do corpo docente nas IES desenvolve-se basicamente por meio do programa de pós-graduação lato e stricto sensu.16 Isso porque a universidade é o local da produção social do conhecimento, da circulação da produção cultural em diferentes áreas do saber e do permanente exercício da crítica histórico-social.9 Isso deveria garantir a oferta de uma educação básica de qualidade além da formação de quadros profissionais, científicos e culturais, produção de pesquisa e inovação como soluções para os atuais problemas. Mas, para isso, os desequilíbrios regionais precisariam ser resolvidos, além de haver a expansão da oferta de vagas para que se atenda à crescente demanda. Os financiamentos deveriam ser garantidos a fim de se promover uma maior articulação da universidade com outros níveis e modalidades de ensino, além da colaboração de órgãos competentes responsáveis pela política e fomento à ciência e à tecnologia.3 A pós-graduação tornou-se a principal fonte de formação do professorado do ensino superior. Além da formação, ou seja, o ensino, ela objetivava estimular o desenvolvimento da pesquisa científica por meio da preparação adequada de pesquisadores.4 O ensino tradicional nas IES tem sido concebido praticamente sem nenhuma sustentação conceitual e teórica da investigação educativa. Os cursos superiores formavam um profissional pela transmissão de Revista da ABENO • 9(1):69-73 A formação e o novo perfil do docente universitário • Goursand D, Paiva SM, Lima MLR conhecimentos daquele que sabia para aquele que não sabia. A reprodução de vícios e mitos, o empobrecimento do pensamento pedagógico e do interesse e desestímulo de docentes e alunos era evidente.5 A qualidade da formação docente começou, então, a ser questionada. A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) por meio da Comissão Internacional de Estudos sobre a Educação estruturou quatro pilares para o conhecimento, que são: • aprender a conhecer; • aprender a fazer; • aprender a conviver; • aprender a ser. O primeiro – aprender a conhecer – refere-se à capacidade intelectual e aprofundada de assuntos, mostrando a educação como um processo contínuo e permanente. O segundo – aprender a fazer – fundamenta-se na oferta de oportunidades no mundo do trabalho. O terceiro – aprender a conviver – estabelece a cooperação com os outros em todas as atividades humanas. E o quarto pilar – aprender a ser – integra os outros três, para que se criem condições que favoreçam o indivíduo a adquirir autonomia e discernimento. Para que a educação seja estruturada nesses quatro pilares do conhecimento, as finalidades do sistema educacional e as competências docentes não podem estar dissociadas, supondo-se que a prática esteja em consonância com as finalidades sociais da escola.5 Desta forma, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - Lei n°9394/96 - constituiu-se em um marco de referência para o início do processo de reestruturação da educação superior no Brasil. Ela propunha uma nova maneira de conceber a produção do trabalho acadêmico e o atendimento às demandas da sociedade, tomando os sinais de mercado como norteadores para o processo de reestruturação.3 A LDB extinguiu os currículos mínimos, permitiu o surgimento das diretrizes curriculares nacionais que forneceram a cada área de formação profissional as bases para o exercício da profissão e introduziu a avaliação do ensino superior.1 As diretrizes curriculares sinalizaram para uma mudança paradigmática na formação do profissional crítico, capaz de aprender a aprender, de trabalhar em equipe e de levar em conta a realidade social. Começou-se a discutir as reformas curriculares, inclusive na formação docente, definindo o perfil e competências a serem alcançados. Isso incluiria a necessidade de flexibilização dos currícu- los de graduação de forma a permitir projetos pedagógicos inovadores, formando pessoas mais críticas, reflexivas, ativas, dinâmicas e adaptáveis às demandas do mundo do trabalho.5 A formação dos professores é baseada na interação entre ensino e pesquisa. O ensino não se limita mais à transmissão de conhecimentos, mas significa assumir novos parâmetros de ação e avaliação. A pesquisa aparece na literatura internacional recente como uma prática fundamental na formação e no desenvolvimento profissional do professor, assim como nas propostas de reestruturação curricular.5 Ela é importante para desenvolver competências e habilidades que capacitem à geração de novos conhecimentos, novas tecnologias e o desenvolvimento do espírito crítico e reflexivo pelo docente.14 É percebida como um componente curricular essencial na formação do professor em nível universitário na medida em que permite que ele desenvolva sua capacidade pesquisadora (pautada na curiosidade, reflexividade, espírito crítico e criatividade). O conjunto dessas atitudes é que favorecerá o estabelecimento da relação crítica e reflexiva que o professor manterá com o saber e com a sua prática político-pedagógica.15 A indissociabilidade entre ensino e pesquisa transformou os professores universitários em professores pesquisadores.4 Alguns critérios favorecem essa articulação entre o ensino e a pesquisa, que são: a valorização da atuação docente nas atividades de ensino e pesquisa, a integração da graduação com a pós-graduação, o desenvolvimento de projetos de pesquisa interinstitucional e a inclusão da formação acadêmica.13 A pósgraduação passou, então, a exercer duas importantes funções para a universidade: o desenvolvimento da pesquisa e a formação de seus quadros docentes.4 Inserido nessa formação, o saber docente busca dar conta da complexidade e especificidade do saber constituído no (e para o) exercício da atividade e profissão.12 Ele é entendido como aquele formado pela associação, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional, das ciências da educação e da ideologia pedagógica.5 Porém, a prática pedagógica é o campo mais carente quando se fala em profissionalismo na docência.10 O conceito de prática pedagógica reflexiva, nos dias de hoje, é o mais utilizado por pesquisadores e estudiosos no assunto, seja no que se refere à análise do trabalho docente, seja na formação de professores.5 Ela destaca a importância de se pensar a formação do professor numa visão além da acadêmica, englobando o desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional da Revista da ABENO • 9(1):69-73 71 A formação e o novo perfil do docente universitário • Goursand D, Paiva SM, Lima MLR profissão docente.11 Com a introdução de disciplinas como, por exemplo, a Metodologia/Didática do Ensino Superior, a prática pedagógica reflexiva começou a ser enfatizada na formação de professores. Essa disciplina surgiu após a reforma da Lei 5.540 que explicitava a necessidade de capacitação de docentes e visava desenvolver as habilidades técnicas de ensino para ser um bom professor e para garantir a eficácia e eficiência do ensino superior. Ela trata, essencialmente, das tendências pedagógicas, das teorias da aprendizagem, dos métodos ativos de ensino, dos recursos audiovisuais e da avaliação da aprendizagem.10 O ensino da didática através do ensinar-pesquisando e pesquisarensinando gesta um novo modo histórico de fazer ensino, assume uma nova ordem epistemológica e constrói um novo modo de fazer pedagogia. O pesquisar-ensinando e o ensinar-pesquisando tem por objetivo produzir conhecimento de uma maneira nova, como modo de perguntar, questionar, pressupor, associar, relacionar e compreender como ocorre e como se dá o conhecimento em sala de aula, tanto para os alunos como para o professor. A partir da pesquisa, passa-se do conhecimento empírico à cognição reflexiva e crítica.10 Uma das contribuições da introdução dessa disciplina foi a proposta de programas de formação utilizando momentos estruturados da prática pedagógica, com base em três idéias centrais: • o conhecimento na ação, • a reflexão na ação e • a reflexão sobre a reflexão na ação. Esses três processos que se complementam em intervenção racional, compõem o pensamento prático do professor, com os quais ele enfrenta as diferentes situações no cotidiano educativo. Refletindo na e sobre a ação, o professor torna-se um investigador, afastando-se da racionalidade técnica e de regras derivadas de teorias externas, de prescrições curriculares, conhecendo mais profundamente as peculiaridades de seu trabalho e elaborando estratégias de ação mais adequadas.5 O professor é ator no processo de sua formação profissional.1 A tarefa de formar o professor é a transformação sua mentalidade,7 já que é difícil identificar, entre as competências de um professor, aquelas que são separáveis de sua pessoa, pois elas não se limitam àquilo que se adquire na formação profissional, já que toda história social e psicológica do sujeito é formadora.5 72 CONCLUSÃO A formação e o exercício docente devem ser pautados numa prática pedagógica reflexiva. Esse tipo de prática permite que os docentes sejam sujeitos e objetos da formação do professorado, atuem e reflitam sobre a sua prática, conhecendo mais profundamente as sutilezas de seu trabalho. Além disso, permite que os mesmos busquem e desenvolvam habilidades e competências para uma ação mais eficaz e eficiente ao exercício da docência. ABSTRACT The education and new profile of university teaching staff The aim of the present study was to carry out a literature review of the current situation of university teaching staff – how they are receiving their university education and what their profile is. This subject is widely discussed in the literature and changes have been occurring based on reflections regarding the practice of teaching. The profile of the current teaching staff is that of an active professor, with an emphasis on allowing reflection on his/her teaching practice. This reflexive practice allows the professor to act and reflect on his/her own work. Descriptors Higher Education. Teaching Staff. Teaching. § REFERÊNCIAS 1. Carvalho ACP. Planejamento do curso de graduação de Odontologia. Revista da ABENO 2004;4(1):7-13. 2. Carvalho MMC. 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Revista da ABENO • 9(1):69-73 A formação e o novo perfil do docente universitário • Goursand D, Paiva SM, Lima MLR 9. Libâneo JC, Pimenta SG. Formação de profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de mudança. Educação & Sociedade 1999;20(68):239-277. da CAPES e a formação do professor de odontologia numa dimensão crítica. Revista da ABENO 2005;5(1):46-61. 15. Silva WC. Os institutos superiores de educação e as políticas 10. Lima MLR. A formação do professor pesquisador no ensino públicas para a formação dos profissionais da educação no da disciplina Didática do Ensino Superior. In: XII ENDIPE, Brasil. In: Chaves, IM (Org.) Formação de professor: narrando, 2004, Curitiba. Anais do XII ENDIPE 2004;1:1-10. 11. Masetto MT. Docência na universidade. 2ª ed. Campinas: Papirus;1998. 112p. refletindo, intervindo. Rio de Janeiro: Intertexto; 1999. 130p. 16. Vaz de Mello RMA. A formação do docente universitário no contexto da Pós-Graduação. [Doutorado] – Belo Horizonte: 12. 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A pesquisa nos critérios de avaliação Revista da ABENO • 9(1):69-73 Aceito em 29/06/2009 73 Conceito de saúde: a percepção de docentes e acadêmicos do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) - UNIVALI Elisabete Rabaldo Bottan*, Gregory Hacke Azambuja**, Marcela Müller Silva***, Luciane Campos****, Eliane Garcia da Silveira*****, Mário Uriarte Neto****** *Professora das disciplinas de Trabalho de Iniciação Científica e Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí **Acadêmico do Curso de Odontologia e Bolsista do Projeto PróSaúde do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí ***Acadêmica do Curso de Odontologia e Bolsista do Projeto PróSaúde do Curso de Odontologia da do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí ****Professora das disciplinas de Odontologia Social e Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí *****Professora da disciplina de Odontopediatria e Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí ******Coordenador do Curso de Odontologia; Coordenador do Projeto Pró-Saúde do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí Resumo Analisou-se como docentes e acadêmicos do curso de Odontologia da Univali concebem o termo Saúde. Trata-se de pesquisa descritiva, do tipo transversal, mediante coleta de dados primários. A populaçãoalvo foram os 62 docentes e os 252 acadêmicos em atuação no primeiro semestre de 2008. A coleta e análise dos dados foram efetuadas com base em procedimentos metodológicos da pesquisa qualitativa, tendo sido adotados os princípios do Teste de Associação Livre de Palavras, tendo como estímulo indutor a expressão saúde. A categoria conceito ampliado de saúde foi a mais suscitada tanto pelos docentes (57,6%) como pelos acadêmicos (52,1%). Muito embora um alto percentual dos entrevistados tenha manifestado uma compreensão ampliada sobre saúde, enfocando a dimensão político-social e a integração da saúde bucal às demais práticas de saúde coletiva, 74 é necessário que se trabalhe com estes sujeitos no sentido de que todos alcancem esta compreensão. Descritores Educação Superior. Educação em Odontologia. Formação de Recursos Humanos. D iscutir a formação dos profissionais da área da Odontologia a luz das novas Diretrizes Curriculares é uma condição da qual as universidades, atualmente, não podem se furtar. Neste sentido, é importante que se tenha a concreta compreensão de todos os aspectos envolvidos neste processo de mudanças. Alguns estudos centram-se na necessidade de transformação pautados em mudanças no mercado de trabalho e, portanto, na urgência de se contornar as dificuldades quanto à inserção profissional de modo que novas oportunidades sejam criadas. Outros Revista da ABENO • 9(1):74-8 Conceito de saúde: a percepção de docentes e acadêmicos do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) - UNIVALI • Bottan ER, Azambuja GH, Silva MM, Campos L, Silveira EG, Uriarte Neto M trabalhos apontam que há uma crise paradigmática, ou seja, os saberes, há séculos definidos, em relação à Odontologia, não estão satisfazendo às necessidades apresentadas pela sociedade.6,7,16 Na verdade, os dois enfoques não são excludentes. No entanto, para fins deste estudo, realizamos um recorte e, dentre estas duas correntes, destacamos a mudança paradigmática pela qual a Odontologia vem passando. Esta mudança requer novas abordagens pedagógicas e filosóficas na reconstrução da prática e da atuação do futuro cirurgião-dentista. É neste cenário que se encontra o curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí, implantado no primeiro semestre de 1990, sob os princípios legais e filosóficos em vigência à época. Muito embora a proposta curricular aprovada quando da sua implantação, e ainda em vigência, já se apresentasse avançada em muitos aspectos, há que se reconhecer que entre a sua proposição e o momento atual já transcorreram quase vinte anos. Assim, o curso de Odontologia da Univali chegou ao século XXI consolidado, porém atento à evolução dos debates sobre a necessidade de formação de um profissional que responda aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Com as novas demandas frente aos paradigmas de atenção à saúde, a comunidade acadêmica vem discutindo e redesenhando uma nova matriz curricular. Simultaneamente, através do Programa de Formação Continuada, que é mantido pela UnivalI, tem-se promovido um constante diálogo sobre determinados conceitos que foram definidos pela coletividade como sendo fundamentais ao processo de implantação da nova matriz. Estes conceitos foram considerados como as bases sobre as quais deverão ser construídos os quefazeres pedagógicos e, dentre estes conceitos, está o termo Saúde. Considerando-se, pois, a necessidade de se analisar os discursos dos diferentes atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem vivenciado no e pelo curso de Odontologia da Univali, optou-se pela realização de um estudo exploratório para se identificar de que forma estes sujeitos (docentes e discentes) percebem o significado do termo saúde. Método Trata-se de pesquisa descritiva, do tipo transversal, mediante coleta de dados primários. A população-alvo constou de 62 docentes e 252 acadêmicos do curso de Odontologia da UNIVALI, no primeiro semestre de 2008. Para estes dois grupos, foram constituídas amostras não probabilísticas, de modo acidental, com aqueles sujeitos que, por livre e espontânea vontade aceitaram participar da pesquisa. A coleta de dados junto ao grupo de docentes ocorreu em uma única etapa, quando de uma reunião de planejamento no início do semestre letivo. Para o grupo de acadêmicos, efetuou-se a coleta junto a cada uma das nove turmas, em um único dia, no mesmo turno, também, no início do semestre letivo. Os procedimentos de coleta e de análise dos dados foram efetuados com base nos pressupostos da pesquisa qualitativa. Os princípios do Teste de Associação Livre de Palavras,1 tendo como estímulo indutor a expressão saúde, foram adotados para a coleta de dados. E, a análise ocorreu mediante a categorização dos termos evocados. Inicialmente, foi efetuada a leitura flutuante, que consistia na tomada de contato inicial com o material produzido, quando foram identificadas, de modo assistemático, as visões manifestadas pelos pesquisados. Posteriormente, foi realizada a leitura sistemática, com agrupamento por semelhanças de sentido dos termos. Foram definidas duas categorias, a saber: • conceito ampliado de saúde e • conceito reducionista de saúde. Para cada categoria, com auxílio do programa Microsoft Office Excel 2007, calculou-se a freqüência relativa dos termos evocados. Resultados Analisando-se a freqüência de evocação dos termos, observa-se que, de modo geral, entre os sujeitos da pesquisa, a categoria conceito ampliado de saúde obteve 52,9% das evocações, enquanto que a categoria conceito reducionista de saúde atingiu 47,1%. A categoria conceito ampliado de saúde foi a mais suscitada, tanto por docentes como por discentes (Gráfico 1). (%) 80 60 Conceito Ampliado Conceito Reducionista 57,6 52,1 42,4 47,9 40 20 0 Docentes Discentes Gráfico 1 - Distribuição da freqüência relativa da categorias adotadas para a análise do modo como os sujeitos da pesquisa definem o termo saúde. Revista da ABENO • 9(1):74-8 75 Conceito de saúde: a percepção de docentes e acadêmicos do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) - UNIVALI • Bottan ER, Azambuja GH, Silva MM, Campos L, Silveira EG, Uriarte Neto M Quadro 1 - Distribuição da freqüência relativa das expressões que representam a conceituação de saúde de professores e acadêmicos do curso de odontologia da Univali. Conceito ampliado termos evocados % Docente Discente Educação; Informação; Interdisciplinaridade. 26,3 12,3 Qualidade de Vida; Promoção da Saúde. 23,7 62,3 Cidadania; Estado; Democratização; Direito; Conquista. 19,7 6,5 Trabalho; Moradia; Saneamento básico; Condição Econômica. 15,8 6,8 SUS; Acesso; Inclusão; Acolhimento; Integralidade. 14,5 12,1 Conceito reducionista termos evocados %% Docente Discente Bem-estar psico-orgânico; Equilíbrio das funções; Longevidade. 50,0 80,1 Prevenção de doenças; Higiene; Bons hábitos de autocuidado. 39,3 18,5 Competência técnica/ reabilitação. 10,7 1,4 As freqüências obtidas para as expressões que mais se destacaram para as duas categorias de análise, de acordo com o grupo de pesquisados (docentes e acadêmicos), estão dispostas no quadro 1. Discussão Historicamente o desenvolvimento conceitual e metodológico da saúde pública ligado aos avanços das ciências biológicas vem se orientando basicamente por um conceito de saúde que corresponde apenas à ausência de doenças ou à noção de equilíbrio do organismo. As discussões acerca de um conceito ampliado de saúde, a partir da década de 1970, passaram a acontecer de forma mais sistemática.3,5,15 Nesta trajetória, cabe destacar a importância das Conferências Internacionais sobre Promoção da Saúde. As três Conferências realizadas entre 1986 e 1991 (Ottawa, em 1986, Adelaide, em 1988 e Sundsvall, em 1991) estabelecerem as bases conceituais e políticas contemporâneas da promoção da saúde. As Conferências seguintes, de Jacarta, em 1997, e no México, no ano de 2000, enfatizaram a participação popular e do empowerment, mediante instrumentalização dos sujeitos através do acesso à educação e à informação. 76 A promoção de saúde passou, então, a ser concebida como um paradigma que deveria nortear as políticas públicas de saúde, segundo o qual a saúde é compreendida como resultante de um conjunto de fatores individuais e coletivos, sociais, econômicos, políticos, étnicos, religiosos, culturais, psicológicos, biológicos e ambientais, entre outros, interagindo num processo dinâmico e constante. Para se alcançar a mudança paradigmática, é necessário que ocorra a reorientação dos serviços de saúde, o que implica em se pensar a formação dos profissionais da área da saúde. Temos que adotar uma postura abrangente que respeite as peculiaridades culturais e que veja e cuide das pessoas na sua integralidade3-5,9,10,12,14. No entanto, em função do modelo predominantemente biologicista dos currículos praticados pelas escolas formadoras de profissionais para a área da saúde, distribuídas pelo território nacional, dentre as quais nos incluímos, estes marcos conceituais ficaram, por muito tempo, como sendo objeto de discussão, exclusivamente, das disciplinas vinculadas à Saúde Coletiva como, por exemplo, a Odontologia Social e Preventiva. Ao mesmo tempo, as demais disciplinas se eximiam de participar destas discussões por motivos de iam desde o pouco conhecimento, ou não entendimento, a até, por vezes, a descrença na importância da promoção da saúde como filosofia de atuação. Deste modo, a visão de saúde que se construía era dicotômica. De um lado, as disciplinas clínicas enfocando a saúde com base no modelo biologicista, basicamente, intervencionista e terapêutico, que atua sobre a doença, muitas vezes tratando somente a seqüela, com a finalidade da cura ou a redução do dano. Por sua vez, as disciplinas sociais efetivando um discurso e uma prática higiênico-preventivista, denotando um conceito de saúde mais amplo, se comparado àquele do modelo intervencionista-terapêutico, porém, ainda limitado a utilizar os fatores sociais como intervenientes coadjuvantes dos estados de saúdedoença. Esta dualidade ainda persiste em muitos cursos; contudo têm surgido propostas de mudanças com norteador teórico-prático suportado na filosofia da promoção da saúde, que é uma possibilidade real e concreta de melhorar as condições de vida e saúde da população brasileira. No entanto, a implementação destas ações demanda tempo e paciência, pois os resultados deste tipo de atuação são quase sempre visíveis apenas em médio e/ou longo prazo. Revista da ABENO • 9(1):74-8 Conceito de saúde: a percepção de docentes e acadêmicos do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) - UNIVALI • Bottan ER, Azambuja GH, Silva MM, Campos L, Silveira EG, Uriarte Neto M Experiências de Promoção à Saúde são, por vezes, conflituosas, porém colaboram para rupturas de paradigmas, tanto no aparelho institucional público, quanto com relação à complexidade do conjunto dos sujeitos sociais envolvidos, levando à necessidade de desdobramentos que passam pela construção/reconstrução e transformação.2,4,8,10,11,13,14 É neste cenário que estão incluídas as mudanças propostas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Odontologia, o que torna premente a necessidade de rever os conceitos de saúde-doença dos diferentes sujeitos envolvidos na formação profissional, de se compreender saúde no seu sentido holístico, considerando os fatores sociais como determinantes dos processos de promoção e manutenção da saúde dos indivíduos e/ou coletividades. Há que se reconhecer, portanto, que o perfil profissional do cirurgião-dentista, que corresponde às expectativas da atual estrutura socioeconômica do nosso país, implica na formação de um sujeito que seja capaz de compreender um conceito abrangente de saúde.9,14 Um conceito ampliado de saúde é apresentado na Carta de Otawa, em que saúde é a dimensão pela qual um indivíduo ou grupo pode, por um lado, realizar suas aspirações e satisfazer suas necessidades e, por outro, mudar ou enfrentar seu ambiente. No Brasil, a saúde é definida de uma maneira mais ampliada no Relatório Final da 8ª Conferência Nacional de Saúde, que compreende a saúde não como um conceito abstrato, mas um conceito que se constrói no contexto histórico de determinada sociedade e num dado momento de seu desenvolvimento. Em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde.3 Ao se analisar a conceituação elaborada pelos sujeitos desta pesquisa, observou-se que a maioria reportou alguns aspectos ampliados de saúde, mas não na sua totalidade. Para muitos, a saúde está relacionada à qualidade de vida. Mas, também, há um expressivo percentual que fez alusão ao conceito da OMS, que vincula saúde ao bem-estar psico-orgânico, ao equilíbrio e à longevidade. E, observou-se, ainda, a associação entre saúde e prevenção de doenças. O panorama que encontramos quanto à compreensão sobre o termo saúde entre docentes e acadêmicos do curso de odontologia da Univali, não é incomum, tendo em vista, que a distinção entre prevenção, educação para a saúde e promoção de saúde ainda não está muito clara para os profissionais da saúde.5,17 Concorda-se, pois, com Traverso-Yépes18 ao destacar que as dificuldades inerentes à definição conceitual sobre promoção de saúde são decorrentes da própria dificuldade de se definir saúde, não só pelas diferentes dimensões que perpassam o conceito, mas principalmente pelo fato da saúde ser uma experiência individual. O que implica na necessidade de se continuar com as discussões sobre os paradigmas de atenção à saúde vivenciados pela Odontologia, tanto no âmbito da academia como dos serviços, para que as limitações conceituais sejam rompidas definitivamente e, deste modo, seja favorecida a construção de uma autêntica práxis. Considerações Finais A concepção de saúde tecida pela maioria dos sujeitos investigados apresenta-se mesclada entre uma visão ampliada, ancorada nos pressupostos da promoção da saúde, e um conceito fundamentado em uma visão restrita do processo saúde-doença. Sendo assim, torna-se fundamental que se prossiga com o processo de mudança paradigmática para que a totalidade, tanto dos docentes como dos discentes, alcance uma compreensão ampliada de saúdedoença. Esta condição trará um melhor entendimento sobre o processo de promoção da saúde o que, conseqüentemente, se refletirá numa operacionalização eficiente e eficaz dos princípios norteadores do SUS, ampliando a compreensão do processo saúdedoença para além dos limites da boca. Agradecimentos Ao Projeto Pró-Saúde (Ministério da Educação/ Ministério da Saúde) que subsidiou a realização desta pesquisa. Abstract The concept of health: perceptions of professors and students of the Dentistry Program of the University of Vale do Itajaí (SC) - UNIVALI This work analyzes how professors and students of the Dentistry program of UNIVALI view the term Health. It is a cross-sectional-type descriptive research carried out through the collection of primary data. The target population consists of 62 teachers and 252 students in the first semester of 2008. The data were collected and analyzed based on methodological qualitative research, adopting the principles of the Free Word Association Test, using the term “health” as the inducer stimulus. The category of amplified health concept was the most frequently mentioned both by Revista da ABENO • 9(1):74-8 77 Conceito de saúde: a percepção de docentes e acadêmicos do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (SC) - UNIVALI • Bottan ER, Azambuja GH, Silva MM, Campos L, Silveira EG, Uriarte Neto M the professors (57.6%) and by the students (52.1%). Although a high percentage of the interviewees showed a good understanding of health, focusing on its political and social dimensions, and on the integration of oral health in the other collective health practices, it is essential to work with these subjects so that all of them may reach this understanding. 7(1):88-95. 9. Ditterich RG, Portero PP, Schmidt LM. A preocupação social nos currículos de odontologia. Rev. Abeno 2007; 7(1):58-62. 10. Feuerwerker LCM. Educação dos profissionais de saúde hoje problemas, desafios, perspectivas e as propostas do Ministério da Saúde. Rev Abeno 2003; 3:24-7. 11. 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Promoção da saúde, epidemiologia social e capital social: inter-relações e perspectivas para a saúde pú- 1(1):9-23. 6. Costa SM, Bonana PRF, Abreu MHNG, Durães SJA. Represen- blica. Cad. Saúde Pública 2007 Set./Out.; 20(5):1354-60. tação social da Odontologia: uma abordagem qualitativa junto 18. Traverso - Yèpez MA. Dilemas na promoção de saúde no Brasil: aos graduandos da Unimontes. Rev. odonto ciênc. 2008; reflexões em torno da política nacional. Interface – Comunic, 23(3):238-42. Saúde, Educ 2007 Maio/Ago.; 11(22):223 -38. 7. Cristino PS. Clínicas integradas antecipadas: limites e possibilidades. Rev Abeno 2005;5(1):12-8. 8. Cordioli OFG, Batista NA. A graduação em Odontologia na Recebido em 07/04/2009 visão de egressos:propostas de mudanças. Rev Abeno 2005; Aceito em 29/06/2009 78 Revista da ABENO • 9(1):74-8 Índice de artigos v. 9, n. 1, janeiro/junho - 2009 Autores Almeida, Amanda de Souza . . . . . . . . . . 44 Almeida, Janete Dias. . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Azambuja, Gregory Hacke. . . . . . . . . . . . 74 Barbosa, Alcebíades Nunes. . . . . . . . . . . 39 Barletta, Fernando Branco. . . . . . . . . . . 24 Bertini, Fernanda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Bino, Livia S.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 Borba, Rosangela Aparecida. . . . . . . . . . 50 Bottan, Elisabete Rabaldo. . . . . . . . . . . . 74 Bueno, Raphael Nunes. . . . . . . . . . . . . . 50 Buzalaf, Marília Afonso Rabelo. . . . . . . . 44 Cabral, Luiz Antônio Guimarães . . . . . . . 5 Campos, Letícia Antonelo. . . . . . . . . . . . 34 Campos, Luciane. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 Fadel, Cristina B.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Fontanella, Vania Regina Camargo . . . . 39 Garcia, Rubens Nazareno. . . . . . . . . . . . 50 Goursand, Daniela. . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Iano, Flávia Godoy. . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Kovalik, Ana Cristina. . . . . . . . . . . . . . . . 34 Larentis, Naiara Leites. . . . . . . . . . . . . . . 39 Lima, Maria de Lourdes Rocha de. . . . . 69 Mahl, Carlos Eduardo Winck . . . . . . . . . 39 Marsi, Glauber. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Matos, Airton Pozo de. . . . . . . . . . . . . . . 39 Matos, Cristina Henschel de. . . . . . . . . . 50 Mengue, Ana Cristina . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Mezadri, Tatiana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Mialhe, Fábio Luiz. . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Moimaz, Suzely A. S. . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Molleri, Roberto Rogério . . . . . . . . . . . . 50 Morano-Júnior, Miguel . . . . . . . . . . . . . . 55 Nóbrega-Therrien, Silvia Maria. . . . . . . .62 Oliveira, João Hélvio Righi de. . . . . . . . . 24 Oliveira, Rodrigo Cardoso de. . . . . . . . . 44 Pagliarin, Claudia Londero. . . . . . . . . . . 24 Paiva, Saul Martins. . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Pessoa, Oscar Faciola. . . . . . . . . . . . . . . . 11 Pinheiro, Filomena Maria da Costa . . . . 62 Pochapski, Márcia Thaís. . . . . . . . . . . . . 34 Rocha, Juliana Schaia . . . . . . . . . . . . . . . 34 Saliba, Nemre A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Santos, Fábio André. . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Seiffert, Otília Maria Lúcia Barbosa. . . . 11 Silva, Jader Moreira da. . . . . . . . . . . . . . .11 Silva, Marcela Müller. . . . . . . . . . . . . . . . 74 Silva, Renato Pereira da. . . . . . . . . . . . . . 55 Silveira, Eliane Garcia da. . . . . . . . . . . . . 74 Silveira, Emerson da . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Uriarte Neto, Mário. . . . . . . . . . . . . . 50, 74 Zarpellon, Driellen Christine. . . . . . . . . 34 Zenkner, Clacir Londero. . . . . . . . . . . . . 24 Curso de Odontologia. . . . . . . . . . . . . . . 11 Diagnóstico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5, 55 Docentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Educação em Odontologia. . 11, 55, 62, 74 Educação Superior. . . . . . . . . . . . 17, 69, 74 Ensino. . . . . . . . . . . . . . . . 17, 39, 44, 50, 69 Escolas de Odontologia. . . . . . . . . . . . . . 62 Estudantes de Odontologia. . . . . . . . . . . 55 Estudos de Casos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Ética em Pesquisa Clínica . . . . . . . . . . . . 34 Exame Clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Formação de Recursos Humanos. . . . . . 74 Gestão de Risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Odontologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17, 24 Pesquisa Básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Pesquisa Qualitativa. . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Radiologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39 Saúde Coletiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Dental Students. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Dentistry. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17, 24 Diagnosis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5, 55 Education, Dental . . . . . . . . . . . . . . . 62, 74 Education, Higher. . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 Ethics in Clinic Research. . . . . . . . . . . . . 34 Formative Evaluation. . . . . . . . . . . . . . . . 11 Higher Education . . . . . . . . . . . . . . . 17, 69 Human Resources Formation. . . . . . . . . 74 Learning Evaluation . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Learning . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Movies. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Public Health. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Qualitative Research . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Radiology. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Research. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Risk Management . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Schools, Dental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Teaching Staff. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Teaching. . . . . . . . . . . . . . 17, 39, 44, 50, 69 Descritores Anamnese. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Avaliação da Aprendizagem . . . . . . . . . . 11 Avaliação Formativa. . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Bioética. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Bioquímica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Biossegurança. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 CESUPA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Cinema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Currículo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Descriptors Anamnesis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Basic Research. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Biochemistry. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Bioethics. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Biosecurity . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Case Studies. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 CESUPA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Clinical Examination. . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Curriculum. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Dental Education. . . . . . . . . . . . . . . . 11, 55 Dental Faculty . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Revista da ABENO • 9(1):79 79 Normas para apresentação de originais I.Missão - A Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico é uma publicação quadrimestral que tem como missão primordial contribuir para a obtenção de indicadores de qualidade do ensino Odontológico, respeitando os desejos de formação discente e capacitação docente, com vistas a assegurar o contínuo progresso da formação profissional e produzir benefícios diretamente voltados para a coletividade. Visa também produzir junto aos especialistas a reflexão e análise crítica dos assuntos da área em nível local, regional, nacional e internacional. II.Originais - Os originais deverão ser redigidos em português ou inglês e digitados na fonte Arial tamanho 12, em página tamanho A4, com espaço 1,5 e margem de 3 cm de cada um dos lados, perfazendo o total de no máximo 17 páginas, incluindo quadros, tabelas e ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc.) ou no máximo 25.000 caracteres contando os espaços. III.Ilustrações - As ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc.) deverão ser limitadas ao mínimo indispensável, apresentadas em páginas separadas e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. As respectivas legendas deverão ser concisas e localizadas abaixo e precedidas da numeração correspondente. Nas tabelas e nos quadros a legenda deverá ser colocada na parte superior. As fotografias deverão ser fornecidas em mídia digital, em formato tif ou jpg, tamanho 10 x 15 cm, em no mínimo 300 dpi. Não serão aceitas fotografias em Word ou Power Point. Deverão ser indicados os locais no texto para inserção das ilustrações e de suas citações. IV.Encaminhamento de originais - Solicita-se o encaminhamento dos originais de acordo com as especificações descritas no item II para o endereço eletrônico www.abeno. org.br. A submissão “on-line” é simples e segura pelo padrão informatizado disponível no site, no ícone “Revista Online”. Somente opte pelo encaminhamento pelo correio diante da necessidade de publicação de ilustrações em formato tif/jpg e alta resolução (veja especificações no item III). Endereço: REVISTA DA ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico - ABENO Nacional - SCS Q. 08 Bloco B-50 Sala 37 - Ed. Venâncio 2000 - CEP: 70333-900 - Brasília - DF. V. A estrutura do original 1. Cabeçalho: Quando os artigos forem em português, colocar título e subtítulo em português e inglês; quando os artigos forem em inglês, colocar título e subtítulo em inglês e português. O título deve ser breve e indicativo da exata finalidade do trabalho e o subtítulo deve contemplar um aspecto importante do trabalho. 2. Autores: Indicação de apenas um título universitário e/ou uma vinculação à instituição de ensino ou pesquisa que indique a sua autoridade em relação ao assunto. 3.Resumo: Representa a condensação do conteúdo, expondo metodologia, resultados e conclusões, não excedendo 250 palavras e em um único parágrafo. 4. Descritores: Palavras ou expressões que identifiquem o conteúdo do artigo. Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5). 80 5.Texto: Deverá seguir, dentro do possível, a seguinte estrutura: a)Introdução: deve apresentar com clareza o objetivo do trabalho e sua relação com os outros trabalhos na mesma linha ou área. Extensas revisões de literatura devem ser evitadas e quando possível substituídas por referências aos trabalhos bibliográficos mais recentes, onde certos aspectos e revisões já tenham sido apresentados. Lembre-se que trabalhos e resumos de teses devem sofrer modificações de forma a se apresentarem adequadamente para a publicação na Revista, seguindose rigorosamente as normas aqui publicadas. b)Material e métodos: a descrição dos métodos usados deve ser suficientemente clara para possibilitar a perfeita compreensão e repetição do trabalho, não sendo extensa. Técnicas já publicadas, a menos que tenham sido modificadas, devem ser apenas citadas (obrigatoriamente). c)Resultados: deverão ser apresentados com o mínimo possível de discussão ou interpretação pessoal, acompanhados de tabelas e/ou material ilustrativo adequado, quando necessário. Dados estatísticos devem ser submetidos a análises apropriadas. d)Discussão: deve ser restrita ao significado dos dados obtidos, resultados alcançados, relação do conhecimento já existente, sendo evitadas hipóteses não fundamentadas nos resultados. e)Conclusões: devem estar baseadas no próprio texto. f)Agradecimentos (quando houver). 6. Abstract: Resumo do texto em inglês. Sua redação deve ser paralela à do resumo em português. 7. Descriptors: Versão dos descritores para o inglês. Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5). 8.Referências bibliográficas: Devem ser ordenadas alfabeticamente, numeradas e normatizadas de acordo com o Estilo Vancouver, conforme orientações publicadas no site da “National Library of Medicine” (http://www. nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html). Para as citações no corpo do texto deve-se utilizar o sistema numérico, no qual são indicados no texto somente os números-índices na forma sobrescrita. A citação de nomes de autores só é permitida quando estritamente necessária e deve ser acompanhada de número-índice e ano de publicação entre parênteses. Todas as citações devem ser acompanhadas de sua referência bibliográfica completa e todas as referências devem estar citadas no corpo do texto. As abreviaturas dos títulos dos periódicos deverão estar de acordo com o “List of Journals Indexed in Index Medicus” (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ query.fcgi?db=journals). A exatidão das referências bibliográficas é de responsabilidade dos autores. VI. Endereço - E-mail, telefone e fax de todos os autores. Obs.: Qualquer alteração de endereço, telefone ou e-mail deve ser imediatamente comunicada à Revista. § Revista da ABENO • 9(1):80