SOM NAS IGREJAS
Igreja Batista de Vilas
do Atlântico, Bahia
Desde o início da construção do novo espaço para a igreja, o pastor
Marcos Prudêncio Lopes e sua equipe técnica estavam cientes da
importância de um sistema de sonorização eficaz e um tratamento
acústico no templo, a fim de se evitar gastos desnecessários no futuro.
Karyne Lins
[email protected]
O
O Pastor Marcos Prudêncio Lopes
contratou a Audium Engenharia para
desenvolver um projeto de sonorização.
O templo ainda estava nas fundações e
José Dionísio Neto, engenheiro responsável pelo projeto, disse ter percebido que
antes da elaboração de um projeto de
áudio havia a necessidade de uma avaliação do projeto arquitetônico, pois o formato tinha algumas linhas que certamente iriam “impactar” no desempenho
acústico da sala.
“No final, a forma permaneceu a mesma, porque o projeto já tinha sido aprovado nos órgãos competentes e possíveis modificações na arquitetura implicariam em
refazer fundações e outras intervenções
que dificultariam a execução da obra no
prazo estabelecido. Propusemos então a
elaboração do projeto de acústica através
da nossa Divisão de Acústica, antes do
projeto do sistema de sonorização”, explicou Neto.
Os projetos foram desenvolvidos entre setembro e dezembro de 2002 e executados no ano de 2003. Desde o início
da construção do templo, o pastor esteve preocupado com a sonorização e seu
objetivo era fazer a coisa certa logo no
começo da obra, por isso participou intensivamente das reuniões e visitou várias vezes a obra.
Fotos: Tâmara Gouveia / Divulgação
local e o sistema de som que
eram utilizados anteriormente
não atendiam às necessidades
da igreja. O local não possuía nenhum
tipo de tratamento acústico e o sistema
não era dimensionado e distribuído
corretamente. O novo templo (e o sistema de sonorização) foi inaugurado
em 2004, no aniversário de 7 anos da
igreja. “A grande preocupação da igreja era que o sistema de sonorização cobrisse todo o espaço do templo, sem
que houvesse variação significativa de
níveis de intensidade sonora”, disse
Marcos Salatiel, técnico responsável
pela sonorização.
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Sistema de P.A. da FZ Áudio
Sistema de P.A.
O sistema de P.A. consistiu em um central cluster com um array de quatro caixas
FZ Áudio FZ158 bi-amplificadas, dois
subwoofers FZ118 instalados sob o palco,
amplificadores Lab-Gruppen (que alimentam as caixas acústicas do P.A.) da
série FP e um processador DBX DriveRack PA. Uma linha de delay com duas
caixas ativas FZ Áudio FZ108 foi projetada para atender às fileiras debaixo do
mezanino. A opção pelas caixas ativas foi
com o objetivo de racionalizar o espaço no
rack de amplificadores da house mix.
Foi instalado um array de quatro caixas FZ Áudio FZ158 com três vias, sendo
um woofer de 15” de 750W e um conjunto de média-altas de 200W formado por
um mid bass de 8” e um drive de titânio
de 1”. As caixas foram montadas num
central cluster. O array superior atende
ao mezanino e o inferior atende à platéia
do térreo. A área sob esse mezanino é
atendida por uma linha de delay com
duas caixas FZ108 amplificados e o alinhamento do sistema de P.A. foi feito por
Neto com a colaboração de Fábio Zacarias, dono da FZ.
Detalhes do tratamento acústico do palco
A mesa utilizada tanto para P.A. quanto
para monitor é uma Behringer DDX3216
com um conversor ADA 8000 Ultragain
Pro-8 digital da Behringer. Segundo o técnico Marco Salatiel, optou-se por uma
mesa digital por questões de praticidade,
limitação de espaço físico e custo-benefício. A mesa atende às necessidades do
sistema, que ficou com 24 canais e seis
mandadas auxiliares.
“Igrejas evangélicas têm o diferencial de poder utilizar o sistema de
áudio de forma diversificada, exigindo
valores de clareza que atendam às variações musicais que o “gospel” contemporâneo exige. Neste ponto, vale salientar a importância da elaboração conjunta dos projetos de acústica e de sonorização usando a ferramenta EASE. O
EASE permite fazer as simulações eletroacústicas considerando os revestimentos, planos de reflexão, relação D/
R, áreas de platéia e os parâmetros das
caixas acústicas, permitindo rapidez e
uma precisão maior na obtenção dos
resultados”, explicou Neto, engenheiro
responsável pelo projeto de som na
Igreja Batista de Vilas do Atlântico.
“O EASE permite fazer as simulações eletroacústicas
considerando os revestimentos, planos de reflexão,
relação D/R, áreas de platéia e os parâmetros das
caixas acústicas, permitindo rapidez e uma precisão
maior na obtenção dos resultados” (Neto)
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Caixa usada para delay
Membros da equipe de áudio da igreja
Rack de periféricos para P.A.
Segundo Neto, havia dois pontos
como prioridade em implantar este tipo
específico de sistema na igreja: atender à
inteligibilidade e à clareza e a questão da
cobertura acústica uniforme com os níveis de pressão sonora e o headroom
(margem adotada para o sistema tratar
picos e transientes sem impor distorção)
projetado para as áreas de audiência.
Mauro Salatiel disse que a grande mudança foi a inteligibilidade da fala durante a
pregação e dos vocais durante as músicas
em toda a igreja. Isso aumentou o nível de
concentração e atenção durante os cultos,
uma vez que o som não estava nem baixo
demais, que não permitisse escutar direito
comparado a outros ruídos, nem alto demais, a ponto de incomodar auditivamente.
“Em relação aos membros, tivemos
que passar por um período de adaptação
tanto da igreja quanto dos operadores de
áudio, até porque era tudo novo. O tem-
plo também era novo, e o sistema tinha
sido projetado para esta nova realidade.
Após o período inicial, obtivemos uma
resposta positiva da igreja, em primeiro
lugar na questão do conforto sonoro, pois
era possível ouvir um som mais claro e
inteligível em toda a igreja”, explicou.
Ruídos externos à música e som de baixa
qualidade e em nível inadequado acabam
levando a atenção de todos para a falta de
qualidade, tirando-nos do foco, que é a adoração a Deus”, disse Sílvia em relação ao investimento em um bom sistema de som.
Monitoração
Sistema para
a equipe de louvor
A Igreja Batista de Vilas do Atlântico trabalha com ênfase no louvor e isso foi levado
em consideração na elaboração do projeto.
Além do ministério de louvor da igreja (que
conta com duas bandas sob a liderança de
Sílvia Gibara), existem outros conjuntos
compostos por crianças, adolescentes e jovens. “Sabemos que a qualidade sonora, assim como a harmonia entre instrumentos
musicais e vozes, tem papel fundamental
para a promoção de um clima espiritual que
favoreça essa disposição do coração a Deus.
Lista de Equipamentos
1 console digital Behringer DDX3216
com conversores ADA 8000
1 processador de P.A. DBX DriveRack P.A.
2 amplificadores de P.A. para altas freqüências Lab-Gruppen FP2100
2 amplificadores para baixas freqüências Lab-Gruppen FP3400
1 amplificador para subwoofer LabGruppen FP3400
2 amplificadores para monitores de palco Lab-Gruppen iP 2100
1 equalizador para monitoração de palco Behringer GEQ3102
4 caixas de P.A. FZ Áudio FZ158
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2 caixas para subwoofer FZ Áudio FZ118
Monitores de palco FZ Áudio FZ102
Caixas do sistema auxiliar de P.A. FZ
Áudio FZ108A
Microfones SM58 e Beta 57
Microfones bateria: Sennheiser E614,
AKG D112, SM81 e SM57
Voz, banda e back vocal SM 58
Voz pastor Beta 57
Equipe de sonorização
Mauro Salatiel (responsável técnico),
Lilian Bueno, Juvenal Verdi, Simei Oliveira e Luciana Araújo
Para o sistema de monitoração de palco, foram utilizadas caixas de duas vias FZ
Áudio FZ102 com amplificação LabGruppen iP 2100 e equalização Behringer
GEQ3102 para a monitoração geral de
palco. Não foram utilizados in-ears. “Todo
o sistema foi alinhado usando as ferramentas Smaart Pro da JBL (para medir o
tempo de reverberação) e PC RTA Linear
X (para medir os decibéis). O headroom
de 18dB, os presets de equalização e o
processamento dinâmico dos sinais permitem a utilização do sistema em qualquer
situação de lotação sem comprometer os
níveis máximos de operação do sistema”,
explicou Neto.
Segundo Mauro Salatiel, uma dos maiores benefícios deste novo sistema foi a
confiabilidade. “Ter um ambiente e equipamentos que trazem sempre um rendimento de boa qualidade nos traz a tranqüilidade de trabalharmos não para resolvermos problemas, mas sim como facilitadores
de um ministério musical e da pregação”.
Com relação aos músicos, Sílvia, líder do
ministério de louvor, disse que o benefício
do novo sistema de retorno possibilitou ouvir melhor o que é tocado e cantado, maior
fidelidade entre o que é produzido pelo
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Vista geral do templo depois do projeto de acústica
Planta do projeto de acústica
músico, o que é escutado pelas pessoas,
além de poder gravar os ensaios e cultos e
usar isso como instrumento de avaliação e
estudo para a excelência.
acústico. A arquiteta diz que áudio e acústica são áreas intimamente complementares; por isso, na Igreja Batista de Vilas do
Atlântico esses dois projetos foram amplamente compatibilizados e interagidos, sendo que o projeto acústico antecedeu os cálculos referentes à eletroacústica.
“Como acústica representa uma área
complementar capaz de interferir tanto na
forma quanto na qualidade dos materiais e
revestimentos, o projeto acústico deve ser
elaborado desde a fase de projeto. É com-
Projeto de Acústica
A arquiteta Débora Miranda Barretto
foi a responsável pelo projeto de acústica da
Igreja Batista de Vilas do Atlântico. O projeto arquitetônico já estava concluído e
apenas a parte estrutural da obra já se havia
iniciado quando foi contratado o projeto
plicado e dispendioso corrigir deficiências
acústicas após o funcionamento do local,
além de limitar esteticamente. A probabilidade de se obter harmonia entre a técnica
e a estética é grande quando os projetos são
compatibilizados desde o princípio”, explicou Débora Miranda.
O templo foi tratado como sala para
música, cujo Tempo Ótimo de Reverberação foi obtido na curva referente a “Igreja
Protestante” e otimizado para atender aos
valores de Clareza compreendidos entre 4
e 6 ±2dB, correspondendo a performances musicais contemporâneas conhecidas
nas igrejas americanas como “Light Contemporary” e “Full Contemporary”.
Detalhes do projeto
A Audium Engenharia também desenvolveu o projeto de isolamento e condicionamento acústico. Como a igreja
seria instalada em uma área residencial,
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havia a preocupação do pastor em não
incomodar a vizinhança, portanto, foram
feitos cálculos referentes à perda de
transmissão (PT) das paredes e esquadrias. Quanto ao tratamento acústico do
templo, a arquiteta explicou que ele é
sempre imprescindível em edificações
que exerçam esse tipo de função, principalmente pelo fato da igreja ser totalmente fechada e climatizada.
A primeira etapa do desenvolvimento
do projeto foi o cálculo do isolamento das
estruturas. Com os resultados obtidos, a
parede de alvenaria foi montada de forma
que os blocos cerâmicos ficassem deitados, resultando em uma espessura maior
e, conseqüentemente, um melhor isolamento. As esquadrias foram especificadas
devido à existência de residências próximas à área do palco.
Depois de solucionada a questão do isolamento, partiu-se para o estudo de visibilidade, onde se projetou o escalonamento do
piso que permitisse uma visão satisfatória do
palco de qualquer assento situado tanto no
térreo quanto no mezanino.
Quanto ao condicionamento acústico,
houve uma preocupação em ajustar o
tempo de reverberação e em proporcionar
primeiras reflexões (ERR - Early Reflection Ratio) para a platéia, o que produz
em qualquer ponto da sala um aumento
de sonoridade, principalmente para as
pessoas acomodadas no mezanino.
As reflexões úteis que garantem
uma melhor inteligibilidade foram obtidas por meio do forro convexo e dos
painéis laterais de madeira, que funcionam também como traps de baixas
freqüências. O tempo de reverberação
de 1,26seg a 500Hz (valor sugerido
pela Norma da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT) NBR
12.179 - Tratamento acústico em recintos fechados) foi alcançado com a
instalação de materiais refletores e elementos sonoabsorventes.
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Equipe de louvor: mais conforto com o novo sistema
A arquiteta explicou que as bandas de
oitavas de freqüência utilizadas para os cálculos de absorção acústica foram escolhidas
em função da variedade de instrumentos
utilizados nesse tipo de templo além da voz
humana. “Os parâmetros necessários para se
desenvolver o projeto de sonorização dependem da acústica do ambiente, portanto, o
projeto acústico deve sempre ser desenvolvido antes. Dessa forma, otimiza-se o sistema
O templo foi tratado
como sala para
música, cujo Tempo
Ótimo de
Reverberação foi
obtido na curva
referente a “Igreja
Protestante”
de sonofletores. No entanto, há algumas definições de áudio que devem ser tomadas ao
longo do processo de desenvolvimento do
projeto acústico como, por exemplo, o
posicionamento da fonte sonora, que garante a eficácia da forma do forro reflexivo, pois
o estudo de reflexão do mesmo é em função
da fonte sonora”, disse a arquiteta Débora.
Material utilizado
no projeto de acústica
Foram usados revestimentos de parede que absorvem diversas freqüênci-
as, elementos difusores, forro absorvente e refletor. O material consistiu em
pisos flutuantes para evitar geração de
ruídos de impacto; forro refletor de
gesso cartonado liso para direcionar as
primeiras reflexões provenientes do
teto para as áreas de audiência; forro
absorvente de gesso cartonado perfurado para médias e altas freqüências; parede do altar com lambri de madeira
sobre lã de vidro (material absorvente e
difusor) para inverter a forma côncava
original, que proporciona focalizações
e absorver as altas freqüências; paredes
laterais com painéis convexos de madeira (placas vibrantes) para absorver
baixas freqüências e refletir médias e
altas, reforçando a distribuição do som
na sala; parede do fundo do balcão
com lambri de madeira sobre lã de vidro (material absorvente e difusor)
como absorvente de freqüências altas
e para evitar reflexões indesejadas;
barreira acústica móvel de acrílico usada para isolar parte do som proveniente
da bateria.
Para impedir a passagem de ruídos
para o exterior foi feito o isolamento em
função do nível de pressão sonora a ser
gerado dentro da sala e a distância existente entre o empreendimento e o vizinho mais próximo. Com o auxílio de cálculos de propagação sonora é possível
calcular o nível de isolamento necessário
das estruturas isolantes para garantir os
níveis normalizados.
“Freqüentemente, a acústica arquitetônica é tratada de uma forma quase
exclusiva dos domínios científicos do
isolamento acústico para preservar os
ambientes do exterior e proteger a vizinhança e meio-ambiente.
Ocupa-se também de outro tema, o
de condicionamento de salas, que busca boa qualidade de sonoridade, proporcionando conforto acústico”, finalizou a arquiteta Débora.
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