Belém 1250 dias
O efeito Museu Colecção Berardo
A exposição que hoje farei procura reflectir sobre o impacto e consequências da abertura em
Belém, a 25 de Junho de 2007, do Museu Colecção Berardo.
Para enquadrar esta reflexão é, no entanto, necessário conhecer os antecedentes desta
abertura.
Antecedentes
A constituição da Colecção remonta a 1993 quando o Coleccionador José Berardo inicia a
aquisição de algumas obras de arte. Na perspectiva já de constituição de uma Colecção de
relevo a nível mundial, inicia ainda em 1993 a colaboração com Francisco Capelo que lidera
o processo de selecção, pesquisa, negociação e compra de obras de arte. A primeira
exposição realiza-se em 1996 na Galeria Valentim de Carvalho dirigida por Maria Nobre
Franco. Ainda em 1996 é celebrado, com o patrocínio do Estado Português através do
Ministério da Cultura, o protocolo de depósito da Colecção no CCB. Este protocolo considera
a utilização das obras de arte em exposições, no CCB e fora deste, a produção de
merchandising a partir destas, entre outros aspectos. No entanto, desde a data de depósito
até 2006, apenas se concretizam duas exposições da Colecção.
Em 1997, mercê de um protocolo com a Câmara Municipal de Sintra é inaugurado naquela
cidade o Sintra Museu de Arte Moderna.
Em 2006, no primeiro governo de José Sócrates, é finalmente concretizado o protocolo que
dará origem à criação da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Colecção Berardo.
Esta é formalizada em Agosto daquele ano através da publicação do DL 164/06 que prevê a
atribuição à Fundação do módulo 3, centro de exposições, do CCB, para criação e instalação
do Museu de Arte Moderna e Contemporânea que virá a ser inaugurado em 25 de Junho do
ano seguinte.
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1993 – Início da constituição da Colecção.
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1996 – Primeira exposição da Colecção na Galeria Valentim de Carvalho.
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1996 – Depósito da Colecção Berardo no CCB.
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1997 – Inaugura a Colecção Berardo no Sintra Museu de Arte Moderna.
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2006 – Protocolo com o Estado para criação do Museu no CCB.
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2006 – Criação da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Colecção
Berardo.
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2007 – Abertura do Museu.
A Colecção Berardo
A Coleção Berardo é reconhecida como a principal coleção portuguesa de arte moderna e
contemporânea, bem como uma das principais a nível internacional, é também reconhecida
no panorama internacional como uma coleção de arte de grande significado que, além de
certos núcleos de excelência, permite acompanhar com pretensão enciclopédica os
principais movimentos artísticos do século XX pois tem representadas mais de 70 correntes
artísticas. Esta característica, por si só, seria suficiente para evidenciar o forte pendor
museológico e didático da Coleção, que, tendo o nome do colecionador, está também
inevitavelmente associada à sua imagem e perfil público.
Posicionamento
Para a construção da marca, a abertura do Museu e para a campanha que lhe deu apoio
procurámos que o posicionamento se alicerçasse no atributo chave da colecção, o facto de
ser a melhor representação histórica da arte do séc. XX e XXI em Portugal, enfatizando a
localização em Belém, principal pólo turístico de Lisboa e na zona mais representativa da
identidade nacional. Procurou-se igualmente comunicar a paixão pela arte e a liberdade da
imaginação e criatividade como expoentes da liberdade individual.
A Marca
Os símbolos de identidade em que esta comunicação se alicerçou foram o próprio nome
Berardo e a localização em Belém, num registo algo informal e pouco convencional se
comparado com outras instituições de cariz semelhante. Daí a utilização da cor vermelha e a
construção de uma logo marca que tem por base a letra B embora numa forma estilizada
mas amigável pois arredondada.
A Relação com o Público
O objectivo era obter um fácil relacionamento com o público, de alguma forma à semelhança
da personalidade do colecionador, procurando uma relação humana, emocional, de
proximidade, da instituição/coleção com o público para dessa forma também captar novas
audiências e novos segmentos de visitantes para o museu.
A relação dos visitantes deve ser alicerçada no prazer da visita como resultado de uma
admiração por obras excepcionais e pelo prazer da descoberta e aprendizagem de novas
relações e contextos da arte do séc. XX e XXI. A instituição procurou conquistar a confiança
do público e dos líderes de opinião através da excelência da programação e promovendo a
noção que é um bem público pertença de todos fomentando o orgulho na colecção e na sua
pertença pública definindo-se como símbolo da modernidade nacional e da capacidade
empreendedora individual. A localização em Belém contribui para o reforço desta carga
simbólica.
A Abertura
Desde o início que o objectivo foi o de criar em Lisboa um museu de referência internacional
que se incluísse entre os melhores da Europa, que promovesse em Lisboa grandes
exposições internacionais, que assegurasse o acesso à arte e à cultura a todos extractos
sociais numa verdadeira ação de democratização cultural.
Nesse sentido procurámos apresentar um espaço de livre acesso, cuidado e versátil que
surpreende a cada visita com uma presença permanente do Serviço Educativo no apoio à
visita e na criação de dinâmicas de participação, aberto 364 dias por ano e com entrada
gratuita.
A Programação
Procurámos destacar o Museu pela apresentação de exposições temporárias da Coleção
Berardo; exposições temporárias sobre diversas temáticas quer se relacionam ou não com a
Coleção; um vasto programa educativo dirigido a todos os níveis de ensino e a diferentes
tipos de públicos; um plano anual de actividades e eventos temáticos (por exemplo Dia da
Criança, Concertos no Museu, etc.).
Até á data a programação foi constituída por 6 Exposições da coleção e 38 exposições
temporárias abrangendo tópicos tão diversos como arte contemporânea estrangeira,
fotografia, documental, arte contemporânea nacional, fotografia, arquitectura e design, outras
colecções e arte moderna.
A Ligação à Sociedade
Não foi descurada a ligação a outros agentes culturais e parte desta programação foi
articulada com outras produções culturais que aconteceram em Lisboa, numa óptica de
parceiro produtor. Foi assim com as parcerias com a Experimenta Design, com a Trienal de
Arquitectura de Lisboa ou com Festival Temps d’Image. Foram também articuladas
produções com outras coleções publicas e privadas, nacionais e internacionais, quer através
de exposições dedicadas ou de empréstimos.
Na dinâmica da programação foram também considerados temas e abordagens com
potencial de captação de novas atenções mas também com capacidade de provocar visitas
repetidas, alicerçando na programação temática procurando acompanhar sazonalidades
mais habituais do comércio ou na celebração de datas importantes.
É disso um exemplo a programação de piano e a celebração do dia dos namorados com um
pequena mostra específica para a ocasião.
Não descurada foi a ligação à sociedade na diversidade de interacções que o museu permite
criar. Assim, e para além da ligação a outros agentes culturais e as parcerias de
programação que se criaram, foram dinamizadas estreitas parcerias com os agrupamentos
escolares da região de Lisboa a quem foi proposto um programa do serviço educativo
abrangente e gratuito. No entanto a promoção junto das escolas foi feita também para além
de Lisboa e visou a captação de visitas de todo o país. Foram igualmente dinamizadas
parcerias com unidades de investigação das universidades promovendo o estudo da
Colecção Berardo.
Outro exemplo de articulação visando a aproximação à sociedade foi a ligação com a
EGEAC no sentido de contactar com as colectividades lisboetas promotoras das marchas
populares.
A Ligação à Envolvente
No entanto um dos principais vectores de promoção foi centrado na promoção turística.
Desde logo na procurou-se promover parcerias com os outros agentes culturais de Belém,
sendo o mais evidente exemplo a presença na FITUR – Feira de Turismo de Madrid em 2008
com a promoção “Belém Voucher” que envolvia o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de
Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, os Pastéis de Belém e a Carris Tur, entidades que
ofereciam descontos depois do voucher ser validado na visita ao Museu Berardo.
Depois desta, a presença na BTL em Lisboa enfatizou também a localização em Belém e
promoveu a visita guiada aos agentes turísticos de visita a Lisboa.
A Ligação ao Turismo
A capacidade de representação e promoção internacional da Colecção Berardo ficou no
entanto evidente quando da apresentação em Paris, de Outubro de 2008 a Fevereiro de
2009, no Museu do Luxemburgo, da exposição “De Miró a Warhol – A Colecção Berardo em
Paris”. A campanha promocional cobriu Paris e o impacto na imprensa francesa foi imenso e
alicerçado quer na Colecção quer na figura do coleccionador. A exposição registou mais de
250.000 visitantes, recebeu os maiores elogios e foi um marco na promoção de Lisboa e de
Portugal nesse ano.
Ficou desta forma evidente a estreita ligação existente entre cultura, turismo e promoção
nacional sendo impagável o retorno de visibilidade, imagem e promoção de que o país
beneficiou.
Como exemplo registam-se alguns excertos da imprensa internacional desde a abertura do
Museu:
•
«Lisbon’s new contemporary art museum opened this week to grand applause and
Portuguese satisfaction that their capital finally has an artistic home to rival the best
of other European cultural hotspots.» In REUTERS (UK), ‘New Lisbon contemporary
Museum opens to applause’ – 26/6/07
•
«For many, the opening of the museum represents their first opportunity to see a
Picasso or a Warhol. Benefiting from free access, the first twenty-four hours brought
in over twenty-three thousand visitors, though it seems unlikely that one individual’s
collection can maintain such crowds.» In ARTFORUM (USA), Diary – ‘Joe’s Show’ –
29/6/07
•
«Constituée de 862 piéces, la collection rassemble notamment des oeuvres de
Picasso, Bacon, Pollock, Lichtenstein ou Pedro Cabrita Reis. Elle a été évaluée par
Christie’s à 316M€!» In BEAUX ARTS MAGAZINE (Fr), ‘Lisbonne peut frimer’ – 8/07
•
«El Museo Colección Berardo abre sus puertas en Belén con obras de Picasso,
Warhol y Bacon, entre otros. (...) dónde pueden contemplarse algunos de los
ejemplares más representativos de los diferentes movimientos artísticos del arte
contemporáneo del siglo XX, como son el pop art, el surrealismo o el minimalismo.»
In EL MUNDO (Es) ’El mejor arte contemporáneo toma posiciones en Lisboa’ –
2/7/07
O Efeito
Resultado deste conjunto de acções foram os números de visitantes registados pelo Museu e
que evidenciam um absoluto contraste com o perfil de frequência que o Centro de
Exposições do CCB, incluindo Museu do Design, registava até aí.
Esta é talvez a forma mais evidente de avaliação do projecto de Museu e do seu impacto na
zona de Belém. Outras avaliações deverão ser consideradas, outros rácios, outros
indicadores, devem ser submetidos à avaliação da decisão de abertura do Museu e do
modelo de financiamento proposto. No entanto, no denominador de qualquer avaliação
teremos sempre a qualidade da programação e o impacto público do Museu. Com estes
resultados estamos certos que a decisão foi a melhor e o retorno do investimento para o
Estado é certamente excelente, o que colocará o nível de desempenho do Museu Colecção
Berardo ao nível dos melhores museus do mundo.
Rui Silvestre
Director Geral da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Colecção Berardo
26 de Novembro de 2010
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