ANOI
Loriga -
Agosto de 1949
A BEM
POR
DE
TUDO
LORIGA
E
POR
TODOS
E DA
_,
REGIAO
.......
.... ...
l1~~r~:!!~:r
EDITOR: José Luís de Pina-LORIGA
ADMINISTRADOR: Armando Leitão -
REDACTOR: Emílio Leitão Paulo
DIRECTOR E PROPRIETÁRiO; Dr. Carlos Le!lõo Bastos
11
R. Marquês da Fro~telrc:, 84-1 .0 -
11
Lisboa
LORlGA
COMP. E IMPRESSO: •União Gráfica• - R. Sonla Morta, 48- Lisboa
LORIGA
Loas a Nossa Se,n hora
d'G· Guia
;
.
Como ·nenhum outro, é rico o folclore por·tuguês: costumes e cantares mais
puros e expressivos do .que os da nossa Terra. de certo que os não há. Revelam a
alma da nossa gente - simples e rude. franca e aberta. E a quadra popular quatro versos que por vezes resumem o ·livro da sua vida - brota tão expontánea
do ·coração, que traduz com 'toda a verdade os seus no'bres sentimentos, timhre e
honrado :brazão do seu viver.
•
Nada, porém, ~az 'Vibrar com mais intensidade a alma popular, do que o sentimento ·religio~o: Fé simples que vê Deus, revelando-Se nas obras ~ravilhosas da
natu:cza: preces '<Iuentes. vezes tantas rezadas com lágrimas: votos heróicos em horas
de amargura, dizendo alto o filial amor e confiança ilimitada na Bondade Infinita
do Pai do Céu .. _
·E assim a crença do .nosso Povo.
E como manifestação ~nais terna e universal da sua Fé~ palpita no <:oração
de todos uma devoção profunda, a 'NosSa. Senhora.
Cated.rais, igrej:is é ermidas; alta°res. imagens e esta:tnpas; confrarias e rosários. escapulários e me<ialhas; invocas:ões do céu •. nome.s de povos, ·titulares de .freguesias. onomásticos. . _ c'orno Rainha, Mãe de Deus e dos homens, ·Mana enche o
Céu e a Terra, e o coração dos filhos seus. . .
Que admira, .pois, que o povo. -traduza em verso todos os sentimentos da alma, tenha antado, -em todas as rimas e .cadências. a sua devo\io para com a Senhora
que invoca por.todo o nome, em todo o perigo e hora de desventura?!. ..
•
•
•
Vem d~ há ·pouco mais de .um século, a devoção a Nossa Senhora da Guia,
invocada como ~aàroeira dos Emigrantes, ·em Loriga.
E não há canto da Serra que não tenha ouvido o eco dos cantares em ·honra
da V1rgem ... nem aragem em pinheiro .da montanha· que não haja ciciado as preces
que os-fiéis vão chorar iunto da imagem veneranda, na ennida distante que no outeiro se levanta .. ."
... Até, já. vimos e ouvimos o tear fiar cantigas de amor e desfia r rosários de
orações.à· Senhora.. .
É assim a Fé deste povo: nos campos. nas .fábricas ou nas oficinas vão tornando mais breves as horas, por vezes ·bem longas, de .penoso t<l"abalho, entoando
loas à Virgem ...
Na :festa da sua !Padroeira, ccA 1Neve'> Oferece aos seus leitores este ramalhete entertecido ·de ·quadros. para depõrem aos ~s da ·senhora da · 9u1a.
1P.ara que o •tempo as ·n ão esqueça, aqui as arquivamos. depois de as termos
colhido dos lábios. de velhos e novos. cantadas sempre com igual amor...
Estando eu em minha casa,
Assentada a uma janela,
Dei!.ci ..,, olhos ao umgc,
v; 11ma ·lí.nda copela!:,_
Nossa S.,nhora da Guia,
porta chcg~i,
Tantos anjos me acompanhem,
Como· de passos ·e u dei.
A vossa
....
Vi Ulr'.Q linda capela,
Procurei de qirem serüt,.
Um anjo me anuncio11
Que ~ra da ºSenhora da 9uia.
Nossa Senhora da Guia,
Di~eí-me onde morais?!
- Moro p'ra além da catraÍt1,
No meio dos pinhnraís.
Nossa Senhora da Guia,
Bem vos v ejo daqui,
A vós Senhora, não, não,
A vossa capela, sim.
Nossa Senhora da Guia,
M<mdou-me agora .chamar,
Deixa-me . /á ir de-pressa,
A ,v er o que me quere dar.
Nossa Senhora da Guia,
Te•n o caminho de giestas,
Bem podíeis v6s, Sephora
Tê-lo 'de rosas abertas.
Nossa Senhora da Guia,
Hoje aq"i Vos venho ver,
Tá que me destes 54Úde,
Estando para morrer.
Nossa Senhora da Guia.
Q:.em Vos varreu o terreiro?!
- As meninas de Loriga,
C'um raminho de· loureiro.
Nossa Senhora da Guia,
Quem vos varreu a balcão?!
- As meninas de Loriga,
C'um. raminho de Sarpão
Nossa Senhora da G°uia,
Pruisais lá dum jardim
U!J>a fontê para o ""gar,
Um repuxo·de marfim
Nossa Senhora da Guia,
A vossa ladeira mat4,
Dai saúde aos brasileiros,
Que deram a cru;: ck pra'.a
Nossa. Senhora da Gula
Nossa StnhCH"a da Guia,
Rosa branca em botii-0,
Dai satíde aos brasileiros,
Que d eram o pavilhão .
.
'
Nossa Senhora da Guia,
Sois uma roseira branca •
Quándo nascestes no murnln
Logo foi pa1'a ser santa.
Nossa Senhora da Guia,
Sois uma estrela brilhante
Dai saúde aos portugueses
"Sêío um povo navegante.
Nossa Se~hora da Guia,
Por de·was do seu altar
Tem garrafinhas de vidro
Deiiando águas ao mar.
Nossa SenhMa/da Guia,
Tem a Redoma ·de vidro,
Que lha deu um· ./n-11$11eito,
Que anda'l!a no mar perdido.
Nossa Senhora da Guia,
Rosa branca encarnada
Até ao cimo da França,
Chega a vóss4 nomeada.
Nossa Senhora da Guia,
Pequenina e Airosa, ·
Vem a gente de tão longe,
Só p'ra ver tiio linda· Rosa.
Já lá 'Vem
o mês de Agosto,
fá lá vem o !indo dia,
Tá V 0$ niio /atem a Festa,
Como era
ti'algum
dia.
Nossa Senhora da Gi1ia,
Arrernlai a ·carualhinha,
Arrendai-a por dinheiro
Que a sombra dela é minha.
Nossa Senhora da Guia
ATren4ai o pinheiral; '
Arrendai-o jl-Or di11 heiro-,
P'Ta. ajuda do arraial.
Nossa Senhora da Guia,
Ela lá 1.1em "º andor,
Com seu menino ao colo,
Qu·e parece um resplendor.
Nossa Senhora da Guia
Tem uma Estrita na mão,
Que lhe deu uma menino,
No dia d4 comunhão
(Cont. na pág. 2)
AGOSTO- 1949
A NEVE
2
GELADOS
TRIBUNA DO LEITOR ...
Por leeberg
~mbora seja livre a critica e natural a opinião
Vede· ;:iinda.' e ponderai bem, porque todps vós,
mais ou menos, tendes isso por no.rn:ia, que o laq\le diverge de cidadão para cidadão, não o enC!lJ'á
O Rio Vinagre, da Columbia. contém .uma
percentagem
tão eleva<la -de ácido sulfúrico que ·
vrador,
por
mais
inculto
_
q
ue
seja,
limpa-~
das
ervas
assim o cronista consagrado por se julgar invulnenhum
peixe
ali pode viver.
d aninhas e do escalracho, porque lhe prejudicam,
~crável nas suas afirmações. nem o idealista con•
o valor e a belezã. dos frutos da sua seara.
vi"cto .por considerar impecável a sua personalidade.
E depois. de se tere m conseguido extinguir to· Assim também, os meus caros conterrâneos, irão
As estatlsticas acusam 68 mortes por minu~
dos
os
focos
prejudiciais
à
população
de
orig:i,
muito
to:
97.920 diáriamente e 35:740.800 anualmente.
·indispor-se comigo J>!lr e\1 pensar de modo difeten·
especialmente à infi~idade de crianÇas que levam
te. viftao que soü. contrário, à ideia de todos. quanto
a sua ~nfâncía brincando nesas· quelhas onde mal
à construção da nova igreja na nossa terrà. .
.Jesus Cristo não nasceu no primeiro ano da
nos podemos aproximar, ~averia a 'trat~r de muitas
De· facto, de quando em vez, salienta-se 'nas
era de Cristo. mas sim quatro anos antes da era
e . outras oqras, salientando, em primeiro plano, a
ter começado.
terras provincianas e cm especial naquelas que, ávi•
construção de edifícios escolares, arejados e higiénidas de melhoramentcis . indispensáveis ap seu labor,
. cos como tanto~ outros gue se. ob~ervam em d;versas
procuràm por todas. as formas e meios legais alcanOs chama.dos quatro elementos: fogo. água.
terra
e ar não são elementos mas sin1 composto&.
terras mais felizes que a nossa, pois me parece estar,
çá-ios, um certo e determinado buliço b~iuista. q'ue
n<i maioria dos casos e sem raras excepções, acaba
de tudo e de todos. esquecida, nomeadamente das
sempre pera formaçãÓ dui:na comissão, que se com•
entidads concelhias e superiores.
Ramsés II, ·o famoso faraó do :Egipto, foi pai.
Ao iniciar a escrita que trad\lz o ,meu _pen~amen­
pr9mete a trabalhar no s~ntid~ de adqui~ir fundos
de 162 fllhos-111 ra,pazes e 51 raparigas.
'to; tinha au;_cia por objecti~o relembrar a · n.ecessidapara esta ou aquela obra, este oú aquele arranjo.
Na minha, valha a verdde. pouco ou nada ·se
de urgente da criação de um postó de assistência inMaria Teresa, Im:peratríz "da Austrla. foi mãe
tem feito cotn este fim.
fantil. mas, felizmente, creio e'star·este assunto'. resolde 16 :tllh~s. dos quais 2 foram Imperatrizes e 3
. Agora, é que me parece, pe~os ecos que de )á
vido, o que. com sincera satisfação, me apra.z rerainhas.
·
me chegam e também peiõ. q\le' tenho lido no nqsgistar.
so jornalzinho - A ~eve - se· formou uma para
- Variados e constantes lamentps tenho ·ouvidÔ'
O último pensamento de -Rabellais: Não tenho
nada; devo multo; · o resto deixo aos .p obres.
·levar a efeito a construção de uma igreja de maioacerca d~ nossa .,;dha igrejã e, para ·aliviar um pouco
re~ dimensões .que a qu·e Já existe.
a inquietaÇão de . todos, eu acrescentarei:
.
Compreenderei mal, .porq~e serei eu o ;único,
A 'no~a antiga 1 igreía .é já velhi~ha, não chega
.
T·odos os nomes .cte Deus .tem apenas quatro
como acima digo, a ter uma· ideia oposta à de todos
mau áspecto ex'terior,
para' ~od~s os fiéis, e t~m
letras, em todas as línguas do mundo:
vós. ,mas entendo. que de mãos dàdas· e q,m uma
mas... pergunto?
GOTH - · Suéeia
AULA -Arábia
vontade única sein ·nos preocuparmos com os lou. Se ·lhe fizermos umas obrazinhas interiormente,
SORU -- Pérsia
RAMA-índia
DEUS - Portugal
se. s co~tinua.rem. .a dizer duas missas ·e por fora se'
ros alcançados. a~víamo,s ,empregar· todos 05 nossós
DEVA - Sanserito
LORID-·Inglaterra
DIOS-Espanha
esforços, dis);!enaer as . nossas . melhores energias e
'puser ~lva como:a ne.;,,e que cobre á nossa. serra, fica.
JiHVB -Hebreus
ODIN - · Escandinávia
todos os recursos que pudéssemos alcançar, para ·se
DEUS- Latim
ou não capaz de exercer ·a ·suã nobre missão, e chega
T.EOS - Grécia
D!i.EU - França
ZEUS - Hitolog:la grega
levar à efeito, primeiro s.1;1e qualquer outro melho611 não chc~? para todos~! .. ~.
.
:
ADAT· Assíria
THOR -Wiking
GODT-7, Holanda
Certamente que· sim._.
~amento~. ~ saneamento· ~é Loriga.
.
.
AMIR -Arábica
GOIY,l'-·Aleina.nha
A:MON - Egipto
Este, sim, seria a . básç primordial. para o _ (iro~
Então ·?hãos à obra, deixemo-nos, "por 'agora; de ~· GODH - DlD;amar~a
PAPA-Inea·
g~_esso de ' L<lriga, porq\J~ ''.rn~.s amigos, .sem que .. igreja ·riová e :vamos todos trabalhar· para o q_ue.-im...!,,,..
nós· faÇ3mos
. . linipeza, a·. tÓdos. os cantos da nossa· porta -. o saneamento de Loriga - e tudo o que
· sej~ de· maiór ·necessid.ade para a nossa· querida terra.
~asinha, não ei:c~ntr~mos adorno algum, por: mai~
1 2 ·3 4 5 6 7 8 9
9 8 7 6 5 4 3 2 1
valioso que 'seja, que .consiga.-ofuscar o-.desleixo e o
Assim"~~mo .o homem ~ mulher de álmas dadas:
' 1 2 3 4 5 6 7 8 9
abandono de ·quem ·li vive. , .
.
· constioém ·a .feliCidade do }ar, nós, os iorigi1cnses,
~ 9
8 '1 6 5 4 3 2 l
n1ais 2
. -lm"po"rtà.,_por a~aso, · io .viajante q ue passa tran- · dé" mãos ·d~das. _e s.em ressentimentos nem ·agravos
sitbriamente, a· mim, ou . a ··vós próprios: ~ncontrà:
colaboremos- no. progresso da nossa terra , na.tal, co2 · 2 2 2 2 2. 2
2 2 2
.
. "
.
1nÓs no · itinerári~ ql1e - ~eg~i~os, este ou aquele
!m;çando peJ.o que se torna necessario e ·urgente tra.
.
edifício de proporç~s ·_harmónicas ou beleza ma·
tar. i
je.it~sa se, "ao: aproximarmÓ-nos deJe, · sentimo-no~
António Lopes de Macedo
: /
indispostos com náuseas~ dificeis de suportar?!: :, .
... . "
.
.
.
Não, ~éus pre~ad~s conterrâneos, de nada ~os. . ...........................
. . . •.
.
.
.
: '
l
serve a nós, nem .
pouco :recomenda a trerra em
~q~e pa~samos, embora ostente monúmeritos gran•
.
..
diosos.
VISADO PELA COMIS_
SAO DE CENSURA
·· Isto sucederá à ,nossa, se pensarmos em corfst-+:·..
.
.
..
ll
.· tru1.r1 primeiro a igreja Cio oue tratarmos d;:i lim•
~~~..-+peza· de todos os la~gos, rua~· e quelhas . .-0
*
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..,.._..__ ._. ......... -~...:....~--.:-~-""--4·•-~4•
.................. :'...... ~-.....-~--- ,....,_
.
.
•
Nossa Senhora da Guia,
.toas. ·a Nosso
Senhora
·da
6ula
·Tem um tear . 4 janela,
. .
Dá-lhe o vento, dá-lhe a chuva,
.
.
(Continuac;:,ã o da página anterior)
Noisa Scnh-Ora ~- r:;uia;
Tém o manto a "fazlir, .
..
Cheio de pérolas à'oiro,
Ai tiio litido que· hií-ae ser!
'
Nossa
Senhora da'Gula,
Ela lá em cima vem,
Com séu menino ao colo,
Seus cabelos ao desdé,,,.
Nossa Senhora da · Guia,
Mandai-nos o iempo akgye!
fiá . quatro dias que cho'IH<,
"Agt~_ fria como a Neve.
Nossa Senhor.a:da Guia,
.Mandai sol que q~re chover,
Que se-· molham os enfeitos,
Diu moças que vos, vão"uer.
Nossa : Sf!flho1a da Guia,
Ficou à porta a duwa.-. .'.
Recolhei"1!os, Mie de Deus,
Qu'inâa cií hei-de voltar...
Tod-O·o'fiado lhe quebra..•
Nosso; :s.,nhO'Ya·-da>Guia,
Combatida pelo vento, ~ .
Tem as suàs panas viradas,
P'ro Satitissimo Sacramento •
Nossa Senh;orá' da Guia,
Ai mitiha boa Mãczjnha!
Eu iá fui a 't!Ossa casa,
Vindo ·vós agora à mi,;ha!
Nossa Senhora da · Guia,
Sois a.m4is. bela das flores'
L'embfai"1!Ós iemprc ele -tlÓs,
Terna Mãfi dos pecadores!
Nossa Se.nhoia da Gu~.
'Que dais a quem vos vem wr?!
- 'Aos casados, paz e alegria
Aos solúiros, bom viver.
Nossa SenhOTa, da Guia,
Quem te deu esse vestido
Foi um homem ·de Lisboa
Que no mar se viu perllido.
..
-
------... ------
·•
' ·
:· .
Palavras Cr1•zadas
4
·i
'3
b.,..._.,_. .._.,_
l.....,.........:......i
,
.~ t - . . -
'º
,~
HORIZONT-ÃIS:
-De...-falecé:r; instrumento de côr·
da. 2 - T~esl.ouc:ar. 3 - Neste lugar; relativo ao ouvido:.
antes de Cristo. 4 - Re1.o; altar - tecido de algodão de le~
;ia'!l~e. 5 - Traço; GIRAR. 6 - Indivíduo de mau génio•
1od~. 7 - Menos bom; tormentoso. 8 - Vazio: ~ool pr<>'
!"emente da destilação do me!.aço: LAVRA. 9 - Aque)aS:
·-lugares apraúve.is entre oJMros qiH: o não são; (ARi:·
.PLU). to -Temperar com arrobe. ·u - Nomes femitW
nos: dividir ao meio.
1
ViER.T11GA·l\S: 1 - Cidade fupmhob. :z -. CarneirO
IPLU. 3"-iNota •musical; meul aiulado que a.e éilcon~.
nos minérios de iPla1in;i: antes de Cristo. 4 - Noni~ tnii§'
culino - tPrepcisição - Eiró ~ido ao inverso. s - Patusco:
·Discursara. 6 - Eseamecer; ~roço. 7 - .Alastrar; forma 111t'
nós exacta de .;uneb:i.. 8 - ..Ionte; . ma.rido. d;i. ti4 lida. ao in'
~rço;_ s~o. 9....:.. :Suf. q~ designa ~und.ância.- !Venera:
nota musical. 10 - Vila dos arredores de l.isboa. 1 t _.
. Car{sti.a.
AGOSTO -
A NEVE
1949
PAGINA
Lê bem! Se vais à botica,
Levas mel ou rosalgar?
Escolhe: - há livros ven<?nos.
Não . te vás envenenar.
. São de Correia de Oliveira estes versos tão sim'ples ·mas tão profundos.
Ler bem!
·
Lê-se muito, hoje em dia, mas há pouca gente
.que saiba ler.
.
Por paradoxal que isto pareça. é assim mesmo.
A Jeitura · é uma .arte bem difícil. C:istilho enganou-se a ·si·•p;6prio·quando ousoú escrever·estas palavras:
<l A leitura, meus amigos, sabeis vós o que é ·a
leitltras? f de todas as artes a qlle menos custa e a
oue mais rende f,..
.
Não consideremos J ~ a segunda parte de tão estranha asserção, porque, parJ a rebater, bastaria lemhrarmo-nos de que a maioria dos grandes escritores
viveu cm dificuldades, sofreu privações (isto no tempo enl que escrever era privilégi-o de voc;ições e não
uma profissão mais ou menos rendosa).
Não são muito vulgare5 exemplos como o do milionário Paul Bourget pu como o de Sienkievicz que,
com o seu Quo V adis, ganhou os 400 contos do prémio Nobel, numa época em que quatrocentos contos
t:epresentavam uma fortuna. Cervantes, Camões, Tasso. Milton e tantos outros conheceram, se não a miséria mais degradante, ao menos as dolorosas consequências da falta de desafogo fi nanc.eiro.
Chatterton, po.eta inglês de grande merecimento,
suicida-se aos 19 anos porque, além de um pungente,
angustioso drama íntimo. o atormentavam os apuros
em qi1c se via para sustentar a mãe .e uma irmã.
Como são tristemente verdadeiras as .pafavras que
alguém um dia proferiu: - (<0 génio é \lm Cristo!ll.
Desconhecido, perseguido, açoitado, coroado de
espinhos, crucificado pelos homens e para os homens,
.. morre deixando-nos a luz e depois ressusc[t;i para o
-.i:idorarmosn.
.
Mas voltemos ao nosso Castilho! ...
Não é mais exacta ~ sua afirmação de que a
leitura é a arte que menos custa. Quantos sofrimento~
físicos e morais, quantas decepções e amarguras não
causaram muitos dos livros que hoje lemos com sumo
prazer e aos quais a imortalidade consagrou definitivamente? !
·
'
' Virgílio levou sete anos a compor as Geórgicas_-e
16 ou 12 a Eneida: E pensais, acaso, que ficou satisfeito com o fruto do seu genial e fatigante trabalho?
. Nada d isso! Tanto assim que, pouco antes de morrér, manifestou vivos desejos de queimar a sua imor. tal epopeia.
Qttão paciénte não foi o labor 4e um Fr. Luís de
Sousa a quem ficámos devendo a prosa cantante da
sua Vida do Arcebispo, e ·que cuidados o~ de João
de Deus para nos legar a maravilha dos seus versos
tão simples, tão riaturais e aparentemente tã!l fáceis!
Se nos fosse dado examinar os manuscritos da
·Jtlaioria .dos escritores, verificaríamos que, mesmo os
de! pena mais corrente e fácil. emendavam. rasurava.;i:i. compunham e recompunham, vezes sem conta,
ate. que acabavam· por desistir ou por se conformar.
com .o . que cousideravarn uma ·mediocridade.
\ O ca.~o de · P.etrarca )que- chegou a refundir um
verso ,48 vezes ou o d-e Gâ~tier, . capaz: de. passar
horas a procura do termo preciso e justo, são apenas
exei;npl.os de uma .pn:o.cup::_çã.o ge~al que represent~
sacrifíoo, esforço, 10sat1sfaçao. Muitas vezes há, para
além de tudo isto, a dor moral, o aguilhão do remorso a espicaçar a consciência porque, tarde ou cedo,
chega sempre ao escritor à visão da ruina, dos destrOços e malefícios sociais que causou ou que, pelo
menos, se não esf.orçou por evitar.
São conhecidos os versos ditados por Bocage já
no fim da sua àventurosa e . pouco edifi<;ante vida:
- «Oh! se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos. crê na ·eternidad1'. !»
Guerra Junqueiro, o da Velhice do· Padre Eterno.
não hesita em declarar, em horas de mais concentrada meditação: - «Pesei o bem e .·o mal que · fiz.
Ja pêdi perdão a Deus. Errei a minha vida. Dava
t?C1a a. minha glória para . não ter saído do catoli-
.
LITERARIA
emend.ir a Pátria e amaldiçoar a Velhice confessa,
referindo-se a um livro seu. verde . fruto da mocidade. cuja edição, de resto, tentou 'queimar: - «Esses
versos não são meus: são do álcool». t a consciência
nítida das responsabilidades tremendas que pesam
sobre quem <i.lguma vez escreveu alguma coisa. ·
V cr-ba ·voltmt, scripta mancnt, diziam os latinos.
Assim é de facto e assim será sempre. Nem a rádio
nem a televisão consegttirão tirar ao livro o seu prim.ado incontroverso, o seu formidável podei· sobre o
Indivíduo e sobre a sociedade. A imprensa continua
a reger ps destinos da humanidad<?. Uma leitura
pode deci.dir um destino1 descobrir uma vocação.
orientar ou desorientar uma vida. transfo rmàr o
curso dos acontecimentos.
f Ramalho Ortigão que nos confessa ter envered:idô pela. senda lited.ria porque a isso o moveu a
leitura que fez das Viage11s na Mi11h11 Terra. enqua.n to convaslescia de uma enfern1idade.
Sem sairmos da literatura ·propriamente àita. bastaria acrescentarmos que a sobrevivência estilística
d-: escriror para escritor é, sem de modo algum lhe
diminuir o vigor da personalidade, uma das provas
.
ir.sofismáveis da influência da leitura.
Passemos, porém, aos· domínios da psicologia, ao
campo das ideias e das scnsa~ões. Aqui poderíamos
espraiar~nos em amplas e fecundas considerações porque aqui reside o verdadeiro perigo da leitur.a ou, na
n1elhor das hipóteses, as suas vantagens e a cópia dos
_
seus benefícios.
· Quantas vítimas não fez o Westher ou a Nova
Heloisa?! Contam-se J?Or dezenas as mulheres que
aquela obra )ei.·ou ao suicídio e é conhe.cido o caso
dos tradutores, para alemão. da Madame Bovary os
quais se envenenaram por sugestão do célebre romance de Fia ubert.
Pelo contrário, quantas conversões benéficas não
têm operado obras como as «Confissões de Santo
Agostinho, a Imitação de Cristo, a Divina Comédia,
o Paraísp Perdido e, num plano muito superior, o
livro dos livro5,' a Bíblia Sagrada»?.
·
E poderíamos continuar a lista dos volumes a
todos os títulos recomendáveis.
Leituras não faltam: o que é preciso é seleccioná-las. Ninguém pode ler tudo; convém até ler pouco
para ler com proveito.
·
Lucra-se mais com à leitura de uma pequena
brochura escrita criteriosamente do que devorandõ
os milhares de volumes que sobre Napoleão, ou
outros heróis. já foram compostos.
. Sobre a maioria das obras aproveitáveis que pe.Jam as nossa livrarias ou constituem o recheio das
nossas bibliotecas já foram ~ançados juízos mais ou
menos definitivos porque foram feitos com um senso crítico bastante apurado.
·
Perante-esses o excesso de dúvida, e · a hesitação,
além de pouco razoável, seria indício de presunção
desmesurada,· de ceptici.smo' reprovável.
Mas há a massa dos escritos, de tiragem reduzida
ou sobre <>s quais se não pronunciou ainda a sentenÇa
conde'natória nem se lavrou a acta de benemerência.·
Em relação a esses devemos proceder com suma cautela.
Renan afirmou um dia que, de'Tltro ·de .2 ou 3
mil anos, a humanidade apenas ~erá ·a Bíblia e as
obras de Homero. Há muito exagero, mas também
muita verdade neste asserto do grande escritor francês pois, indubitàvelmente, a maioriã das obras que
hoje ainda fazem as nossas delícias terão caído no
esquecimento. Nem a excelência do conteú~o nem a
beleza da forma lhes terão garantido a. perenidade.
Leia-se, pois, o que for realmente digno de atenção.
Ler? Pára quê e porquê? T enha-se sempre uin
objectivo em vista, proceda-se com dicernimento e
visando a consecução de algo novo e ·útil.
Cumpre .escolher bem o que se vai ler. Ora poucos estarão habilitados a fazer essa ~colha, porque
O simples título, O prefácio e llleSmO O Índice raras
vezes constituem critério: seguro de selecção e, por
outro lado, não bastam as críticas que os manuais,
revistas ou ;,utras publicações costumam inserir .na
p~rte reserYada a bib).iografi.la.
CISIDOJJ.
Noutro passo, o mesmo poeta que não .duvidou
3
(Continua na pág. 4)
Que brutalidade a morte da minha Lena! Sinto
o:; nervos de tal modo desequilibrados que, à mais
pequena contrariedade apodera-se de mim um grande mal esrar que me aperta o cor:ição. Reconheço
que ainda não conseguir vencer esta fraqueza, esta
lasidão de espírito. Só sei pe11sar nela e na falta que
ela me faz. Pr.eciso de calma, de muita força de ânimo para dominar esta sufocação atroz e indefinível
que me atormenta quando os meus pensamentos me
fogem para ela. Que inj\tstiça oculta me persegue!
Que mal fiz eu para ser assim tão cn1elrncnte castigado?
Já não posso ouvir mais o eco dos gemidos da
minha Lena, que. me atormentam os ~uvidos a todo o instante. QtÍe perseguição ·implacável, que acusação absurda, 1neus Deus! Serei assim tão culpado
da minha ignorância por não ter sabido debelar o
mal, o maldito mal que a perdeu? Sinto-me impotente para reagir contra esta acusação que pende sobre mim. como um punhal acerado.
Sofro porque a fatalidade perseguiu-me ferozmente nestes longos dias de doença. Porque não foi
possível abrir-se-me no espírito um raio de luz que
me auxiliasse a travar o curso duma enfermidade
gue em casos idênticos da minha vida profissional
tinha sabido Íqterromper?! .O facto ele ter chamado
os meus Mestres para me ajudarem a salvá-là consola-me na minha desgraça. ~ uma réplica muda aos
brados implacáveis da minha consciência. Mas esta
impotência que se apoderou de mim quando quis
pôr à prova todo o meu saber para salvar um ente
que era meu, a quem tinha transmitido o meu sangue, a nimha vida. o meu amor, todo o meu amor esta impotên'cia desespera-me e revolta-me.
Sinto que o meu cérebro não pensa cm mais nada; e~tá fechado a tudo quanto se não relacione com
a minha Lena; o meu pensamento só se sente bem
a relembra.r o. que fiz par;i a salvar, até que aqueles
·malditos ma levaram para sempre. Sinto que o cére·
bro fraqueja quando fujo de pensar nela, por isso
deixo correr, o espírito à sua vontade. t um sofri(Continua na póg. 4)
'
------1------~------1--
A .S
ARTES
Estimulemos os voos artistiêos dos novos qtte serão
· - quem o sabe -, amanhã, Valores lnestimáveis
do nosso Escol . ..
Por Soeiro da. Costa
Os tempos actuais, oferecem, por um lado, novas
e belas perspectivas no futuro e progresso das nossas
.Artes, P?rque desapa:receram do meio social velhos
preconceitos que não favoreciâm o aparecimento dessas promes,sas que, de preferência se devem recrutar
nos elevados ambientes, e por Outro lado grandemente prejudicam esse nobre e legítimo anseio urna
exploração que grandemente o asfixia.
·
. · Nã? basta a existência de alguns consagrados que.
1nal~~ravelmente: ~presenta.mos ª· representar a Vida
Esp1r1tual e· Art1st1ca, prec15amos de dar a esta uma
continuidade indis~ensáve), a garanti-la pelos tempos
fora: com o aprove1tam~nto, estímulo, selecção e protecçao .m oral e rnatenal. determinando o aparecimento de novos e. marcantes valores, que demarquem
e garantam o mais Alto Expoente Artístico da Raça.
Urna v_ez facili~da a entrada nos templos das
Artes._ abn os mais cotados e abaJisados elementos
profissionais, deverão, para Honra e Lustre do Prof;ssorado, cuidar a _v~ler da instrução dos que tanto
tem a ·esperar da ministração dos seus conhecimentos,
~avorecendo as natas e hei.as tendênc.ias, dos que estão
a ;u.a guarda, e aps la~p~J~S da s~ ~nteligência pedagog1ca; e que amanha v1rao a publico demonstrar as
vantagens inapreciáveis. do ensino em Portugal e dos
Altos Valores e Méritos que o ministram.
,··~~ invejo ~.outros,· países, donde. saem ..Para o
pu?li~o de todos ps pais~s, precoces tntel?gências e
alt1ssunos. valores que os impõem, como me lamento
de, paralelamente, não ver tanto, como anseio o
aproveitamento ~e tant1:s promes~ que imporia~ a
breve trecho, mais e mais, a Portugal.
A NEV:E
AGOSTO -
1949·
4
PAGINA
G_l~.. J
/
LITERARlA
,
<J[.lSLOTla
(Co11ti1mação da. pcíg. 3)
mento que me consola. Lembro-me d~a e sofro, mas
ao mesmo tempo ent-ra em ·mim uma onda de felicidade por não saber pensar em mais nada! Recordo-me do seu_ ar meigo quando me beijava, da alegria
q~~e lhe bailava nos olhos quando lhe tr:izia os pasteis de que tanto gostava, mas voko Eemprc ao princípio numa obsessão de louco - ao seu ar macerado
pelo s~fri!11·ento, à sua boquita apertad~ num ritus de
dor, ligem1mente entortada devido à doença; tudo
isto me entra pelos olhos dentro num galope desen•
freado, para se espalhar pelo corpo todo, num movimento envolvente de todo o meu ser.
Pensei há pouco em loucura. Não sei o que sen'
te um louco quando o véu da demência lhe invade
o cérebro. abruptamente, com aquele ar indiferente
com ·que os «.cangalheirosn me entrar~m pela casa
dentro para levarem a minha filha. Não, não devo
estar. }ouco. Sinto 'lue a raz.ão ainda consegue servir
d.e fiel de balanç.a a luta que se trava no meu espírito, ~ntre o sofnmento moral por ter perdido a 1ninha filha e a força oculta que me impele para a vid~. Neste momento, no entanto, acho que pensar na
vida _é uma gargalhada cínica bnçada às lágrimas
que sinto correrem-me pelas faces. Como somos feitos duma massa tão paradoxal! Pensar na Vida quando _ainda sinto o chei1·0 .da . morte a entrar-me pelas
nannas. Mas que perseguição, meu Deus! Não sei
pensar em mais nada\ Não me lembro já há quanto tempo tenho o espírito povoado destas reflexões.
Será há horas? ou dias? Não sei, não me lembro de
nada, de mais nada. É verdade. que sinto um pêso
trem~ndo na cabeça que me f>briga a pendê-la sobre
o .petto. E o barulho! Que aflitivo é ter a cozinha
~esi:io J_Jegada· ao meu qt~a_rto e ouvir fritar peixe 0
dia 1~te1ro. Mas deve. ser impressão porque a cozinha fica .no outro extremo da casa e nunca ouvi nada que se passasse lá. Não! Não é impressão. ~ o ba'·
ru1ho dà fritura, do estalar do á?.cite' na frigid~ira.
Não tenho dúvidas. E este pêso 'que não me deixá
do
por JOAO CARLOS FERREIRA
Havia n o beiral do meu telhado
Um ninho pequemno e engraçado
Perfeito 1ar de amor e har-monia.
Onde viviam. duas andorinhas
- Exemplo. vivo, das outras avcsinhas
P'la paz e calma que nele se sentia Mas o frio chegou e. a seguir.
Tiveram, coita<ilnhas, de ·partir
P'ra onde o sol. brilhando, as aquecesse.
E em bandos 'P'lo azul do firmamento.
S-em descansar do voo um ·só momento.
Velavam que nenhuma se perdesse.
A frente a moradora do telhado
Marcava o rumo ao bando sossegado
Atraz do qual voava o companheiro,
Abaixo dele, sl.ngrando no Oceano,
Um lugre navegava a todo o {)ano
Forte na. mão · do firme timoneira··
E as .aves. plpilando de alegria.
Descem para ·p assar. com ousadia,
Junto daquela vela oue as atrai.
Tomam de novo altura. confiantes,
Passando entre os mastros elegantes
Num terno adeus à gente q~e ali vai.
Porém o com·p anhelro da andorinha,
Que tem ·no meu belral uma casinha,
Bate na vela e cai desamparado.
Num trist.e olhar 'Inda acompanha
-0
E quando a desditosa a'l\dorinha
Dá· pela falta .- pobre aveslnha! - .
Só mar e Céu se vê por todo o lado.
I
... .....
Voltou, de novo. alegre a' !Primavera
E pelos Céus, numa efusão sincera.
Voltam as andorinhas aos beirais.
.....
Mas ao ninho do meu ·só um veio
passando as horas num medonho anseio
Ohorando o outro que 'não volta mais.
Não mais ouvi na miriha moradia
Aquele piar que tanto m'inebrla
Na sua alegre graça tam louçã,
'
Nã.o a vi mais em eur.vas caprichosas
Bater suas azltas tão formosas
Nos .p asseios que dava de manhã.
Tinha pena da pobre <:i'avezita
Que sofria. sàzinha, a desdita .
. .
Do mar lhe ·ter ·roubado a· coinlPành{a. ...... .
Mas um ·dia acordei sobressaltado
Ouvindo um movimento desusado
Que o meu
. beiral h á multo não ouvia.
ytm à ·j anela e vi, junto aquele ninho
Um bando dé andorinhas, com carinho,
A 'festejar a volta do ausente, ·
Que a bordo foi tratado com desvelo
Por alguém que tivera· pena ao vé-lo.
sozinho ·e, triste, coração tremente.
Mas mal que se curou, lá bem distante
Com ·afagos ao bom do mareante
Partiu numa ·saudade cruaêlal
Para jurito tla querida com•pan'helrS:
Ficando· .para sem'l)re, a Vida lnteira
Juntinhos e amorosos no beiral.
Leia-se procurando foz.er filosofia na leitura. iw
dag~ndo a rJ.zão de ser dos factos singulares ou co·.
lect1vos e aprofundando o conhecimento que Pof
ventura se tenha já da vida. Neste sentido, tudo Ct
que nos rodeia pode ser objecto de leitura atent<;•
Era tendo isto em mente que o :nitor dos ·EsSIUS
propunha como livro principal o grande livro domundo, fazendo ver :i necessidade de incutir no -ts'
pírito do educ~ndo uma hones.t a curiosidade por tudo1
º que de singular se passa à sua volta.
. ~efer~ndo-se aos l~vros d~z Baker que o seu ob.-. .
1ect1vo «e tornar a; coisas rea is e concreus: convertet·
e difícil e o desconhecido no inteligível e familiar;·
desenvolver . o espírito sem prejuízo da memória, tr:I' ·
zendo-o ao contacto com a vida e não meramente
com as linhas impressas . ..11 .
Leia-se devagar, · sei? .precipita~es de e~pécie. al•
guma_. e nunca com op1moes preconcebidas 9u ju1zoS
a~tecrpadamente form~dos sobre qualq'uer problema
discunvel. Ter uma mtcnção e procurar realizá-la
através da leitura eis o que não convém esquecer·
. Uma bi~lioteca por pequena que seja. desde que
bem <;>rgamza~a • . ajudará muito a esta orientaçãoOrgan1zada cr1tenosamente. sem sistematizações de•.
~asiada.mente rígidas. será um guia para o leitor .
mexpenente e fornecer-lhe-á os dados essenciais par?.respon~er à embaraçosa pergunta:.- como ler corn
aproveitamento?
·
. ~e5posta difícil e complexa como complexa é a
f~naltdade. que podemos procurar nos livros, desde a
simples d1s~cçã? e mera curiosidade ao estudo atU' · 1
rado e consciencioso do assunto, mais transcendente· · '
Ora o~ 1nétodos aplicados à leitura, para que ela sejà.·- ·
agradavel e .proveitosa; sendo múltiplos, visam todos•
desde, que aceitiveis. o alvo que Montaigne e.sboçou·
n_estes. te_rmos: ·- <tConseguir uma ÜJ.teligência be%
forma<ia em _v ez . de uma caibeça ·bem cheia».
._ i~porta· ensinar. e· habituar o leitor a tirar dJ)s·
Jtvr~s o que de útil neles se encerra, guiànào-o'"'nó . 1
senti.do d;-, uma auto-educação que t:mtas vez.es irá . 1
_·
supnr a ralta de urrta formação intelectuai e moral 1
_olhos, sei Já que mais! Este escuro que me invade os
01·1entad.a pela competência profissional dos mestres~
olhos também me causa _pavor. Quero afugentar 0
me\l pensam:nto para outras · coisas e não consigo.
DR. JqAQUIM M. PINTO
Tenho as maos molhadas.. Os cabelos· também. Mas
eu não me encharquei, como é isto? Se agora tivesse um púcaro com água à minha frente, com ~erteza
que bebia. Havia de m.e fazer bem à garganta. TeO Homem e a .-Mulher
nho a boca ressequida. Nem consigo mexer a líno homem e' a agu1a
, . que voa: a mulher,
.
. r
o rouinno
gua. Quero falar e .njío po~s~ . .Mas falar com quem?
que· c.-inla. Voar é dominar o espaco, cant:1r é cônquistar
se n~ste momento es~ou sqSIJ'lhO com os meus pena a1m:i.
•
samentos e com as mmhas recordações tristes!
O h~mcm, é o oceano, a 'mulher é o lago. O oceano
· E este peso quen ão me deixa levantar a cabeça f
tem a .-pe~ola que: adorna, o lago a possia que deslumbra.
Amarlhã hei-de chamar um colega· para me exami: .
n~r. Deve ser cansaço das noites seguidas sem dor•
mir. Se ao menc:_s cons.eguisse fechar os olhos, por
Enfim·, · o homem está coloodo onde termina " terraf
a
mulher,
onde começa o cén.
m_omentos · que fosse, talvez me fizesse bem. Mas
nao posso. N _ão consigo. Esta maldita dor na nuca
q~1e me persegue, não me deixa sossegar. Quero reanão consigo dis~ender un1 músculo, ao menos! lrnÓ-.g1r e não ·p?sso vencer a inércia que se apoderou· dos
vel, _Presç por uma força oculta que me adormece OS
meus movimentos. Será <jUe nem posso ao menos
levantar um braço? ~ . que não posso emsmo! sinto
s~nttdos, só ten~o ~orças ainda _para pensar, pata J
que uma sensação indefinível se apodera de. mim.
constatar q~ neste momento sou um farrapo qtlf.' .' 1
abraça.ndo todo o meu corpo. Reurio as fracas forças
f!ada sente, ~~ nada sentiria mesmo que foi:se
gue ainda m~ .restam para reagir a esta ~nda avas•
sado•. Mas nao. , Há qualquer célula do- meu corp" ;
. ~~~~..g~e.;?,yaàl:_!~Q o l_!leu s_el_'., p~netra na·; mi~.. que ~a tem v1da. Senti agora mesmo um calafriÓ ·•
nua pe e e me pér~orre as veias. Sinto frio. tfm frio
~oE?~tlo como uma corrente de ar, frio como utflll
lamma de aç·o, q lie me pousou no pesc~o e me agar'
co~o ·nunca senti. Çomo se tivesse instalado em
mu~ uma alma danadà para me tirar qualquer pora e m~ _aperta·. Procuro fugir-lhe: não o consi~o. l.fi
do fundo do meu peito, consegui reunir um pouco
der ~e )uta. E_u. que sempre me gabei da minha coragem e da mmha força de ânimo, sinto que elas me.. de ar para gritar, griw a plenas pulmões, mas à roí;
~bandonam _e me deixam SÓ, só comigo ~esmo. Isto
n~a b?~ª apenas ecoou um som vago, desconeX~
e medo. Na~ ~enho .'{ergonha de afirmá-lo. Quem . .q_ue mais parece um suspiro.
.
dera ,poder d1ze•lo en; voz alta, gritando, para que
.
~oda a; g.ente ,me ouvisse. Mas não consigo articulai ·
uma . umca sílaba quanto mais uma palavra! Esta
ainda os vestígios .do pavor · que há pouco se a~e'
. mald1~ secur~ colo_u -me a língua áos· dentes e não
1•ou ~o meu espírito - e vejo a minha mulher dv
me, de1~a ahnr a ~. Causa-me _pavor o mal que
bruçada ·sobre mim, com a mão sobre o meu om'
esta a instalar-se dentro de mim, com toda a calma
bro; ·a perguntar-me «a· que horas sua excelê.ncia st
resol vé a sair da ouna lÍ. . .
·
·
·CO)ll aq_uel~ confian~. p~ópr~ de qu~m tem pre~
nas suas maos .e que 1a nao ha n.âd.a que fal'!l !'...-·
Tinha sido ~m .pes~delo horrível <}.Ue me· a;O:"
-lh
•
•
~- L"t;l('
e...
.
:n.enta~ uma noite mteira. Então não pude res1Stlf
Rendo-me; sem forças para reagir .mai.S. Entrego- . ~ alegria que se apoderou ·de mim. e. ·não podend"
1~pedir q,ue a~ lágrimas ·se salta.ssem dos olhos. c:ho-me. medo, inexplicàyelmente, passou-me, como·se
me nvessem ".'oltado do avesso. Para quê reagir ·se
re1, chorei, chorei. . .
·
~evi::r~:e:sã~b~~~ ~;u~~~~~r~:to;~:azia~é~!b~o~
bando
Que segue sem o ver, nem suspeitando
Que aquele ali ficava abandonado.
Voltam atrás, :procuram sem proveito
E seguem, ipip1Jando eterno prelto
Ao triste companheiro destroçado.
... .
... . .. . .. ... .... ... ... ... ... ... ... ...
(Continuação da juig. 3)
.
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JOSÉ .GOM,ES NELAS
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José. Luiz d.o s Santos
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(José Bonito)
· Depositário d't<A TABAQUEIRA» no concelho de · Seia
Agente• da SlNGER e da (.>. de Seguros .«IMPÉRIO»
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REGINALDO DA CRUZ
José Fernandes Urtigueira
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A NEVE
AGOSTO - 1949
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FESTAS .- Reallzaram.,,se ..as festas de S. António, que satisfizeram muito o.s Loriguenses pelo
l>rUhantismo de que se revestiram.
: Em Penalva·de Alva :realizaram-se também no
dia 3 de Julho as Festas !Populares que. como no
· :ano anterior, decorreram com extraordinária an1ma~o. Ali acorreu grande número de forasteiros
de toda a região. As danças, música, nat.a ção, e
desta vez também fogo aquático de grandes ~fei­
tos atractivos, mereceram especial atenç.ã o à as~lstência.
· ·
·ESTUDANTES - · Concluiu· a sua form;i.tura
lln FacUlda<Ie de /En.genharia do Porto, o nosso
lli:ezado •Redactc>r e amigo, Sr. Engenheiro Emílio
l;eitào Paulo. Um abraco (Je parabéns ao nosso
llustre Reda<:tor.
· ·
·
- Em gozo de férias encontram-se já entre
llós alguns. dos estudantes que constituem .a numerosa «malta.. académi<:a .de Lort.ga. A· .:.N.e.vel>
~auda:..os, · !ellcitanôo-os pelo· bom êxito do seu Ia. bor escolar.
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· • · · · ·• · ·
·
11
IL IA
.considerado Cabeleireiro. Sr.· •R eglnaldo da Cruz
.que..cm Nelas no Salão Azual. exerce a sua acti,vidade e tem grande clientela.
'
- Nas tapadas•da Ladeira, um incêndio causou prejuízos importantes no pinheiral e casta"nheiros. Ali acorreu muita gente, a iflm de exti·n:guir <> fogo, o que só a multo custo conseguiu, as:S!m evitando que os IJ)reJuízos fossem. maiores.
;
-Encontra-se entre nós, o Sr. ·P.• Herculano
:de Brito .Martins, distinto professor no seminário
:de .Santarém. É sempre com imenso prazer que
Loriga recebe. a visita dum !Ilho que não esqu~.~·
:ceu a sua Terra natal. As nossas saudai;;ões:
nhoras Professoras D. Ilídia Nunes .de Pina e D.
Filomena Nunes de Pina; os alunos <lo 2." grau.
12 do sexo masculino e 5 do sexo feminino, estiveram a cargo, respcctiva.1nente, do Sr. Professor
Plres Gomes e Professora Sr.• D. Irene de Almeida. Os resultados dos exames são prova eloquente
da muita dedicação ao ensino .pelos Professores
da nossa terra. A todos, pol'tanto. as nossas felicitações.
·
M·ELHORAMENTOS •L OCAJS-Foram já concluldas as obras de reparação do Largo Dr. Amorim, ficando assim mais com:provado o respeito
dos Lor!guenses para. com um médico, que fazia
tudo quanto era humanamente . possível :fazer a
bem da saúde púbUca. além de que é também
uma ·prova de interesse 33elo embelezamento da
nossa terra.
' FONT.E DO MOURO - Quando da ornamentação daquele local para a recepção à Veneranda
.
BAPTIZADOS - Na Igreja Paroquial foram
Imagem de ·N.A S." da Fátima. al-guém s ugeriu que
ba:pt.lze.dos: á menina Maria Isabel, filha do Sr.
se
construisse ali um :Parque. de que .Lor1ga ca'Carlos da Cvsta Neves e da S.• D . Maria de Lourr
ece
absolutamente, onde se poderiam fazer 're;aes de Ollvt!ira, sendo padrinhos o Sr. .António da
ceP,ções
com um ;pouco mais de comodidade pàra
:costa Neves e a Sr." D. Maria José Pina ' Reis.
a
assistência
e levarem a efeito f e&t.as populares
'. . -Os •m eriinos, gémeos, José e ·Mário. filhos
multo interessantes também para o ·nosso -'povo.
'.d o Sr. António Martlns·da·Mota e da Sr.• D. IsauO l ocal - digamos - não é muito apropriado. dara Alv'e s de Jesus, apadrinhando o acto o Sr. José
da a grande Inclinação
solo: mas ·ate.n<lendo
.L uis dos Santos e sua .filha Sr." D. Maria de LourDIV®RSAS - :Encontra-se aqui e jâ em frana que ·L origa. não -dispõe doutro largo tão próximo
des Alves dos Santos e o Sr. Mário Alves Simão e
ca convalescença, o posso amlgo Sr. Carlos Sie melhor que aquele, que tem espaço .sufklentc
a Sr." D. Maria Teresa de Jesus S imão;
mões Pereira, que em Lisboa, no Hospital de S .
para toda a ;população, aqui r egistamos a suges-.A menina Maria dos Anjos, filha do Sr. Lu.Josê. foi submetido a melindrosa operacão <!uma
tão. o que fazemos convencidos <le que e possivel
ciano Alves d e Moura e da Sr." D. Guilhermina
úlcera gástrica. Desej:llnos-Jhe um rápido restaconstltulr-se aqui uma comissão capaz de furnar
Pinto das •Neves. sendo apadrinha.do -0 acto pela
belecimento.
aprazível o referldo' local, com a contribuição, bem.
Sr." D. ·E mília Pinto das Ne.ves;
.
-Da cldade de Belém-Brasil, regressou.
entendido, de todos os Iorlguenses, se <ie outro
- O menino .Carlos Alberto, fllb·o ·do Sr. Máacompanhado de sua esposa e filhos, o nosso conmodo não for possivel fazer-se o melhoramento.
rio Ma rques Silvestre e <la Sr.• D. Laurinda de Jeterrâneo, Sr. António Pina Crisóstomo. Cum-priLoriguense
! Se és bairrista amigo da tua Terra
sus R. Gouveia, sendo ' padrinhos o Sr. Alberto
mentamo-lo.
Natal - e o contrário não •é de admitir num ciMarques Silvestre e a Sr." D. Floripes !\~oura Mon- D.e , visita a pessoas de familla. saiu para
dadão cônscio dos seus. deveres - não de:ves reteiro:
Coimbra, acompanhado de sua Ex.""' esposa, o Sr.
cusar-te a contribuir com o fou trabalho ou mo-·
- A menina Maria <lé Fátima. fllha •do Sr.
Augusto Luis Mendes.
. ·
netàriamente ::para o embelezamento de Lor iga.
Hildebrande •Lopes Pina e da Sr:• D. Maria do
- ·Depois de alguns dias de ausência de visi·carmo Brito de Jesus. Foram :;>adrinhos o Sr. Jo-. - - . - - - - -- - - - · - - - - - - -----...:...ta i sua interessante Terra Na Lal e Porto, enconsé Fernandes Urtlgueire. e a Sr.ª D. Maria dos An- ·
tra-se de novo entre nós, o nosso amlgo ·sr. João
jos B. ·Amaral
·
Chaves. Os nossos cumprimentos.
.
.
.
. Cai NEVE em Lisboa
-Saíra m . para · Vidago, acompanhados de
óBITOS .- Faleceram aqui, tendo de idade ·8;,' ·
Regressou do. Congo Belga acompanhado .da
suas Ex."•.•• esposas,. a fim de fazerem tratamento
e 90 anos, respectivamente: as Sr.•• D. IMaI"la Dias
sua dlgn1ssima esposa e três simpáticas crianciter.m al. os nossos preza.dos assinantes e amigos.
'de J esus e Rosa· de Jesus. ·
.i:>rs. José ·Cabral lLeitão, Abílio Lagés e João MenTambém faleceram, no dia 7 de Julho, a me- . nhas.. ·o · nosso p'r:eza'Cio amigo António Carvalho.
SeJa:m benvlndos.
des Ca:bre.l. Que o· resultad-0 do tratamento .seja . nina Maria Helena, filha <lo Sr: Alfredo Nunes
, -.Com boas ·classificações concluíram os seus
óptimo, são os nossos votos.
Lu1s e da Sr.". D. Floripes Neves Nunes. e no día .
-.P.ara a ·curia, saiu também, acompanhado
13 '<lo referido mês, o menino Joa~uim, filho áo · · exames os nossos conterrâneos:
de sua e.s posa, o Sr. ·M ário Alves Simão.
. Maria Luísa campos Alves, ,filha de José AlSr.- António Alves !Martins e da,'Sr.~ .n. Maria Emide Jesus.
'
.
ves
. - Em substituição -da i.EX.".1• Sr.·' D: Lucinda
Ua Fernandes de Moura. As famillas· apresentaAmélia. Dli"e1to, que no 'passado mês de Junho en;mos as nossas condolências.
.
.
Joaquim e António Leitão da Rocha Cabral
trou• no gozo. de iférias, desempenhou serviço na
fllhos de António da IR.acha Cabral.
'
EXAiM'.E S DE INST.&UÇAO •F RIMARIA ..:.. Rea~ !'.stação local a Ex.m• Sr." D. Irene .Rodrigues, que
José João Martins 111a.ced.o, filho de António ·
:1.izaram-se os exames de ·i.· e 2." grau. Aos exaLopes Macedo.
ao ·r etirar. deixou as melhores impressões pela
m
es
de
1.º
grau
foram
submetidos
49
alunos,
fisempre atenciosa para com o público no
Aos ·briosos estudantes e a seus pais; as nos,1 nin.ncir&
cando t odos aprovados, e ao exame de 2.'' grau
e'ltercíclo de.s suas funções. Ao registar ·O· .facto "'A
sas felicltações, e que .este éxlto seja o estímulo
'fora·m submetidos 17, tendo ficado distintos 11 e
de novos cometimentos.
Nlieve» endereça-lhe sinceros cum:prime!ltos de !e·a provados os r estan t.es. Dos alunos de L" grau,
Citações.
.
- .Estão entre nós os nossos amigos António
-Estamo.s informados de que ·v isitará perio- . sendo 26 do sexo masculina e 23 do sexo femlniLemos Leitão, Albano· Nunes· Amaro e António
p.o. estiveram a cargo, respectivamente, das Se<l!ca·m ente Lorigfl, ·em exe.r'dc1o da sua missão, o
Pinto Caçaipo.
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Meu bom amigo: .
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1
Coresponder-me com o Outono. é abrir a alma à
experiência, mostrar os pensamentos c4, juventude,
com o que . neles há de profundo e. também de su•
pé:rfluo. Tarefa bem difícil. e tattto ·mais difícil.
•í quanto eu sei qúe e;tns palavras serão estudadas pe;
; la razão, por . uns olh9s atentos. que ._sem deixarem
l
d e ser inçlulgentes; não·.fugi,rão . ~ :i-nal_1za~ o assunto,
~hóreando talvez com prazer· os 1dea1s e esperanças
1losóri~s· da nossa mocidade.
.
. 1
. Esse olhar, .env1ado qi.iase; do decl~nar da.
se~i amigo, viglla:ite,
a té'·sev_ero, mas achará e~
Jn1rn o reconheomento e confiança que carattenZam os novos, a alegria dos que na(:!a temem, a af)lÍZade .que "os éorações jovens; jamais se recusatam a
i
vida..
será
<>ferecer.
.
·
·
1
•
~dade. ·Aqueles, n.ão deviam querer que os jovens
pen.sasSem , à sua maneira, mas sim encaminhá-los a
fompreend.erem a vida, com os olhos moços· com
que devena~ ver. Doutra f0trma é envelhecê-los e
isso não está certo.
.
.
·: fJ!editaridó be!'n; · pera:nte os espin~os "q ue. a .v1da
oferêce, é sempre á · Mocidade quem.' ma i.s .5ofre,.por,
que as suas dores são mais intei:isas. N~o que ela tenha maiores tribulaÇõés, ma,s p_orque é in~xperiente,
porq~1e
o . Bem cm tudo, e na . sua. simplicidade
é--lhe' mais difícil enfrentar certas realidades. Seria
bom torná-la !!Xperiente, mas · não cépticai torná-la
:{weroce, sem ser desconfiada; Os· sentimentos afectivos são. nos jovens, mais sinceros, porque eles não
' medem os sentiment~s nem as sÜas conveniências.
v?
·Com a fréscura dos' méus · anos, a simplicidad~
das 'mirihas espera'iiças, e" os' cânticos· de sa'udação à
_vida__que sinto broi:at .de todo ~ meti:' ser, quedo-me
perante vós'; e sou obrigada a at~n.tár no quadro ·qu'~
me ofereceis, quais folhas já moftas, rolando pelÓ
Num jovem•. uma amizade é sempre forte e foge à
; chão, levadas' em frenético bailado pélo vento. Vejo
~alidade. No campo do amor revela-se bastante a
sua maneira ·de ser independente, jamais compreen;
; as lutas· que travais. nessa· corrida, ó ~e~do d~ vendidâ pelo Outono. . ·
·/ ·
to que vos arrasta. e como tenho ~e ~ilhar o mes. Um jovem ama. porque ama, não atendendo a
~ _êa.m inho. quero..fazê-lo com o _m~u . perpé?1o s~r­
outra ordem de interesses ·materiais que fÕrtemente
ris?, quero seguir para esse ,turl?ilhao .de. ·.vida sem.
l «:leixar os meus sonhos: e quando me tornar Outo-. preocupa os experiniént:ados. ·
Pór esta razão os apelidam injustamente de in,
1 ~º· quero sê-lo apenas no invólucro, porque n-0 ínsensatC!S·.. mas não . Serão OS sentimentos espontâ,
• '1nló serei sempre Primaveral
.
! . Hoje sou Primavera, mocidade e alegna,. con- neos os. mais indicativos ela pureza, da·delicadeza de
··
fiança e ternura, e quero que .~ta jovi.alidade p;r?u: . alma, da . sensibilidade? " '
A mocidade é éntusiasta:' vive O& seus desgosto~,
te, porque o coração .nunca enveJnece e o difícil e
as suas emoções, as suas alegria_s e vive;as como de<:ollSéfvá-lo sempre jovem. .
. .
.
Mas ~o atentar neste meu desejó, · sinto-me em . vem ser vividas. se~ _procurar ,.sorrir. quando o peito
conflito com o Ouoono, pbrque ~ 'o seu' 'exe!flplo, a
se lhe aperta, ou dissimulando. alegr1á quanélo a sua
:SUa desconfiança e cepticismo, que conseguem trans- · alma chora. No entanto, a· sociedade com o seu' cortejo de pr~~.onceitos e conveniência~ obriga os jovens
formar os puros ideais da Mocidade. E k de si próa
pria é boa, mas os mais velhos não ·sabem verdadeiesconder os ,prÓP.rio~ sentimentos, aterrorizando-.os, .
com o eterno (<parece mal>;•.
. .
ramente acoriselhá-Ia, atendendo à psicologia ela. s~
· O Outono, feitas raras excepções, sabe ralhar,
criticar, .atemoriza.r, mas não nos encaminha. Assim,
porque ~ensu rar tant.a vez a Moc.idade .pelo seu defei to de não saber 'q uerer'? Isto nasce talvez do medo . da . responsabilidade, derivado por vezes de educações reprimidas em excesso, ou de doutrinas de,
masiado severas. Deriva talvez. e sempre constata·
f!lºs o. mesmo, d~ ~ão_ d.eixarerry os jovens exprimir
livremente · as suá.s 1de1as, e debà ter com eles certos
assuntc;s. que Por inexperiência não compreendem.
~ prectso sabef' querer sensatamente, mas"antes dis· so ~á:~a longa estrada 'a percorr~r, e nela, quantos
sacnfic1os, quant~ ?hstáculos, qu~ntos tropeções!. ..
C~ega~os ao fim da. estradà, eis-nos no Outono,
e . ei:itao, fita-se: essa estrada com um .olhar todo ter,
nura, todo co_:idescendência, e; aos sacrifícios que
soubemos 2~1 nao fazer, aos obstaculos que·conseguimos ou nao .derrubar~ . aos ~rppe):ões que nos prostraram. por t~rra _ou no~ deixaram cicatriz na alma,
chama-se a tudo tsso .. . ilusões!
Por_q~~ não nos ensiiµ_ o Outono a compreender
os sacrifícios? Porque não nos ajuda a vencer os obstáculos'? Por9u~ ~ão nos segura quando vamos rro-
peçar?
'
.
·
D~jamos albergue nos braços carinhosos e pro- .
te.ctores que o Outono nos estende, mas custa-nos
q~e aos belos sonhos por que os nossos corações anseiam e nos trazem ao olhar esta chama de brio con- .
fiante. o Outonp possa ironicamente chamar,Jhes
«ilusões», encolhendo · os ombros -com um rito de
amargura resignada.
.
"'
·.
:~ssa . incompreensão tir~-nos a corage~. faz-nos
vacilar perante o Futuro. Fa:z.;.nos pensar até. que os
nos~ md~ores desejos são vãos, a nossa boa vontade nada vale, e os 'nossos vôos de ~hna resultam
nulos para a Felicidade que ambiciona~os.
~PERAND9 encontrar na vossa expe~iência um
acolhimento amigo, despede-se de vós. a
·
Primavera
OLGA
.
'
A NEVE
12
AGOSTO- 1949
1·-- 1
,
POR
A BEM
TUOO
·oE
E
LO~IGA
POR
TODOS
REGIÃO
E DA.
,
tão
Foi na noite da ·véspera de S. João, que pela esl! pena que essa.s cantigas de sabor.
popular
deixassem
de
ouvir-se.
deixem·
de
cantar-se
nas
portrada da Beira fizemos das 1 o à 1 da madrugada est:t
tas. nos balcões, nas cosinhas, no campo e no reviagem de mais de 1 oo quilómetros.
gresso dos trabalhos agrícolas. Sim! é pena que o
Noite de S. João! Noite de alegria, de fogueiras
e balões .. . Noite de sonho, de descantes. de foguetes, . S. Jóão passasse e não ouvíssemos uma quadra ao
s. João. .
de bombas e de bichas de ·rabiar ...
Pois foi c~m grande surpres~ que notámos - ao
E o adufe? ó povo como te vendes facilmente,
passar pelos povoados e catraias - um grande silêncomo te deixas abast.udar, como tão rápido cais
cio, p:icatez e sossego ... nem viva alma ...
diante do bezerro!. ..
Encontrámos três fogueiras, ·uma guardada por
~ o adufe a alma d; quadra popular nos descan,
urna moça, outra por três rapa.z!tos e uma terc~ira de
tes de Alvoco, é o adufe que lhes faz o acompanhacavacas - nem era de rpsmanmho das fogueiras mento, é o adufe que faz o «estribilho,,, é· o seu
onde um velho acendia o cigarro num tição.
« za que tuque» que acorda a alma do nosso povo.
. Foi então que sentimos vontade d.e perguntar:
Pois bastou que há menos de um mês ouvíssemos
que é feito do nosso S. João ~e Portug~I. das nos~s
no· acompanhamento duma r;ipsódias duas .táboas a
cidades, vilas, aldeias, do mais pequenino lugareio?
estalar para que toda a graça .do nosso S. João se
Que é feito. das cantigas eq uadras populares do
fizesse este ano consistir apenas numas dúzias de
nosso S. João?
'
garotos a correr as ruas, dia e noite, atordoando os
ouvidos a sãos e doentes com umas· táboas. ;.
Que é feito das alegriás que o nosso Santo trazia
todos os anos nesta quadra, à terra portuguesa?
Pob~e povo não t~ abastardes, não te vendas. lembra-te que no .teu folclore tens a graça e a arte que
Tudo desapareceu ... o nosso bom povp parece
p
'
devem ser a tua paixão e que até à paixão deves
dorm1r... orque.
.
defender.
Será a quebra ou perda pura e.simples da tradição,
. ó povo não percas a beleza do te\; folclore, conserá a indiferença, será o aparecimento de novos proserva-o
puro e sem misturas. ..
blemas e exigências da formação moderna, será a falta
de fé e esperança no nosso povo. será o receio de
Dentro de pouco tempo esperamos apresentar a
abusos cometidos pela mocidade educada sem prinAlvoc-0, em livro, uma grande selecção das músicas
cípios .sólidos ou pelos de meia idade tão dissolutos,
e quadras do seu tão variado como rico folclore.
ou seri ainda a apatia do nosso povo devidas à fome.
. o trabalho é fe~to unicamente pelo desejb de que
às dificuldades da vida, ou à espectativa de novas e
o nosso povo conserve o que é seu, sem mistura e
terríveis complicações que possam surgi,r no romper . com os votos de que em cada povo do nosso Portugal
do dia de amanhã?
vão surgind<> amigos dedicados que embora, à custa
Quisemos continuar a nossa viagem e fomos na
d~ trabalho e · até de despésas salvem os valores da
manhã do dia seguinte percorçer âs ruas do nosso
nossa terr:;i.
, .
Alvoco da Serra.
No meio desses trabalhos, .como apareciàm coisas
Ai, meu querido e devoto S. João, como ~e festeinteres5antes, genulnarnente nossas!. .. como se acen. jaram !. . . Como os tempos mudaram, meu nco santuariam os traços folclóricos de ada região!. .. como
tinho!. ..
faríamos amar a. cada povo o que é seu ... e pri.nciDas fogueiras ainda consegui ver as pedras negras
palmente como daríamo.s ao nos~ P?VO dist;ações
onde queim:iram meia dúzia de pés de rosmaninho
duma alegria mais sã. ma~s pura, matS v1v:a e mais sua.
pra defumar uma porta... ·
E para terminar,. não esqueçamos de lembrar ao
E que direi do do reportório das cantigas do' S.
nosso povo que a mais velha, a mais portuguesa, a
João, desfolhadas nos balcões e à porta das Portu•
mais nossa poesía e música é a da quadra ' popu.lar.
natas, . Barriosas, Nogueira, Miradoiro ... tendo ao
fundo as fogueiras que novos e vt\lhos iam saltando
P. ].
quase sempre com graça para todos?
.
~,
-
_________4,--·····-----------------------~-----os SERVIÇOS ·oos e. T. T. EM LORIGA
ESUAS DEPENDENTES
.
.
Se quiséssemos fazer uma resenha histórica do
que têm sido os serviços dos C. T. T. em Loriga
desde o início até hoje passando péla época áurea do
aparelho de Morse teríamos sem dúvida de consta~
tar que em nada se tem mantido uma êontinuidade
de ar.ção e de progresso, antes pelo contrário.• muito
se tem retrogradado.
À satisfação e vantigens do Morse sobrepõe-se o
cochichar dps telegramas através do telefone: . .
À comodidade de horário há tempos estabelecida
que muito yeio beneficiar o. importa,nte comércio e
indúsr.ria local, sucedeu.-lhe uma restrição de 3 horas
diárias, com o seu estendal de prejuízos e de contra;
riedades.
Ao -trabalho insano e pronto de 2 dedicadas hui.cion.árias, preferiu-se . agora o trapalho indiscutivelmente moroso de ,uma zelosa, cuja boa vontade e
experiência 'são ,impotentes, 'para o serviço de ex- ·
pedição da correspondência local, ·de Alvoco, Vasco-Esteves, Vide, Cabeça. Teixeira, etc., · movimento
telefónico interno (cerca de 20 telefones) e externo,
e demais' movimento inerente_ a uma estação dum·a
vila industrial.
Não está certo.
Cremos que a medida foi geral, mas afectando
as legítimas regalias de querri delas não pode, nem
.
deve ser privado daqui soltamos a nossa mais veemente reclamação, a quem de direito, para que estudando o problema originado em Loriga e suas
dependentes, por tal medida, .P<?ssam considerar que
esta nossa reclamação foi unicamente movida, pelo
sentimerito de justiça e nela se de"..e filiar também
a sua sensata solução.
.
.
..
.
Temos fôrça morai para fazer esta reclamação
pois sendo Loriga um tentro· indlistrial de lanifícios
dos mais impottantes do País; e uma das mais importantes vilás do distrito da Guarda, podemos tam,
bém afirmar que- em rendimento material a sua es,
tação, não deve ficar atrás de muitas outras...
Aceitou a indústria e o comércio local,. com estoicismo, o pesado encargo :do aumento das taxas·
· postais e telefónÍeas, ·continuando a manter as suas
regulares correspondências e . éonversáÇões. dentro
do · âmbito que · as circunstâncias do momento lho
permitem. Não ião abundante~ como no períod(} áureo da abundância, mas por certo proporcion'ais às
taxas dum e outro período e à generalidade das outras estações.
· Deye•se atender a estes últimos e Loriga e suas
dependências est.ão neste caso"
·Aqui fica a nossa reclamação.
À consciência de qi1e~ de direito, deixamos este
nosso momentoso reparo.
Nossa Senhor~ da Guia
E os HOMENS
De quantas invocações não terás sido alvo - Ó
Mãe do Céu - e por quantos loriguenses, espalhados
pelo mundo. não terás velado nas horas difíceis e
escutado uma ' prece que encontra o eco aflito no teu
coração? Quantas vezes o não abriste iluminando de
graça e consolando a alma daquele que partiu urn
dia à pr0cuc1 de uma vida melhor? ·
· Mas a ingratidão dos homens é muito grande e
já não vejo o entusiasmo delirante de outrora, da ·
festa que em tua honra realizavam. Sob a tua égide
se construiu um coreto, junto à tua capelinha, e
quem sabe se intercedeste .também. no coração desses briosos lo.riguenses no Brasil - que Loriga jamais esquecerá - para que outros melhoramentos
levassem a efeito, na sua ccTerra-Natal,.,
O meu desejo será, creio, o de todos os loriguenses: vermos revivido o culto de N.3 $." da Guia. .Não
conceb~ um tal estado de coisas. e; quando o ano
passado ·assisti a uma parte da festa, não exagero ao
afumar que fiquei · emocionado -de dor, pela difereP'
ça que fez de quando era ainda muito jovem. A nQY'
sa <cBanda1> nem $.equer pôde toéar -a partir de cef'
ta horal
·
. Há a necessidade de restaurar o culto da <cProte''
tora dos emigrantes>> que no seu tradicional «Terreirol> envolvido no verde dos pinheirais, atrairá a
si, anualmente, os loriguenses que longe ganham i>
pão de cada dia.
O nosso Digníssimo Prelado opõe-se à efe<:tuac;ão do arraial, mas, estou certo de que, se o nosSó
Rev.'"º P.ároco ajudar os espíritos que anseiam o pro•
gresso de Loriga. associar-se,á ·a eles, a-fim-de exPo'
rem o assunto a Sua Ex."' Reverendência que a ser
solucionado, um futuro. melhor advirá para a nossa
querida Terra.
Diz-se que o arraial nada tem de místico .e que
a sua realização destrói os sentimentos religiosos·
Mas, a meu ver, o loriguense antigo não era menos
crente do que o actual e disso deu provas, estando
a <>lhos vistos, a sua fé traduzida nos seus feitos rea'
lizados.
· Uma festa com as características antigas. . deverá
s~r a ânsia de todos os loriguenses. Jmponha-se•!_he
disciplina e aca.bario para sempre as más impresso_?
que predominam nas entidades religiosas. Loriga nao
tem .as autoridades públicas dos centros mais desed~
volvidos. .mas possui homens de car.ícter, capazes
fazer cumprir, aos prevaricadores. as principais re'
gras da civilidade.
,
Desta maneira, 0 sentimento loriguense não sera
corrompido mas sim solidificado.. Realizando-se a
festa em época própria de veraneio; ~]e não lhe fiC:'
rã.alheado porque verá _ perpet~r a.fe dos seus AvoSAntónio Gonçalves da Cruz
g Emílio Geitão Paulo
En.
No. passado .dia I de Julho, <oncluiu com ~levadas cb:
sific;1ções o seu curso àc ·Engenharia, este nosso preuid<>
amigo e redactór do nosso jornal.
Ao nosso engenheiro apresentamos 25 nossas .sinceras
ielici:oções. com votos àe u~a. longa vida rep1e~a de bcitos
e v~nturas. - (R.)
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a Nosso Senhora - Gentes de Loriga