Nas Veredas do Rio, a Arte da Palavra
Ano I - nº 02
Patrimônio, Cultura, Turismo e Memória
PATRIMÔNIO MUNDIAL
“Rio de Sol, de Céu, de Mar...”
Especialistas da Unesco vão avaliar, em 2012, a candidatura do
Rio de Janeiro ao título de Patrimônio Cultural Paisagístico da
Humanidade. Dos 911 bens culturais e naturais reconhecidos pelo
Centro do Patrimônio Mundial, 18 estão no Brasil.
Fafate Costa
O Jornal Gerais do Rio inicia uma campanha de torcida pelo
sucesso do dossiê carioca que descreve a belíssima (e única!)
relação homem/natureza que aqui se desenvolve.
ESPAÇO
LITERÁ-RIO
O TREM DE
PETRÓPOLIS
Autores convidados participam
do Gerais do Rio com sua visão
literária sobre nossa arte, cultura,
patrimônio. Na estreia da coluna,
a paisagem natural que já encanta
o mundo: “Sacopenapan”. (pág.6)
Patrimônio cultural e
histórico: conheça a luta da
Associação Fluminense de
Preservação Ferroviária pela
volta da viagem de trem pela
região serrana do Rio. (pág.8)
EDITORIAL
“ Eparrê
Aroeira beira de mar
Canoa Salve
Deus e Tiago e Humaitá
Êta, costão de pedra dos home
brabo do mar
Eh, Xangô, vê se me ajuda a chegar
Ano I - nº 02
abril / maio de 2011
Jornalista Responsável:
Fafate Costa - Mtb 5201
[email protected]
Produção Executiva:
Leila Fidalgo
Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar, praias sem fim
Rio, você foi feito prá mim
Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque, Rio eu gosto de você (...)”.
Projeto gráfico e arte:
Márcio Miranda
www.marciomiranda.com
Agradecimentos:
Chico Cereto
Antonio Pastori
Marcos Soares Pereira
Carlos Fernando Andrade
Ana Cristina Pereira Vieira
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim
“Tom Jobim”
(Rio de Janeiro 1927- Nova Iorque 1994)
Olá !
Que bom contar com a sua leitura em mais uma edição do Gerais do Rio - um jornal que
abre espaço para o patrimônio carioca e fluminense. Neste número, queremos lançar uma
grande torcida para que a Unesco conceda o título de Patrimônio Mundial às paisagens do Rio.
(págs.4e5)
Mas independentemente do resultado da sessão que só será realizada em 2012, na França,
temos que nos orgulhar deste solo cultural. O jeito de viver do carioca é fruto de uma especial
integração homem/natureza - neste cenário de deslumbrante harmonia entre montanhas e mar.
Porém, a educação patrimonial ainda é o “desafio da década, o desafio do século”, na opinião do Superintendente Regional do Iphan no Rio - o entrevistado da pág3. Monumentos históricos da cidade estão na mira dos vândalos - exigindo trabalho redobrado dos órgãos fiscalizadores e clamando pela consciência social que ajude a erradicar o descaso com o bem público.
Seguindo nas Veredas de palavras do Rio, inauguramos o Espaço Literá-Rio que vai brindar
os leitores com textos de autores já conhecidos e/ou aqueles que despontam para a criação
literária (pág6). Os colaboradores convidados vão prestar um tributo à arte, cultura, história e
à memória do Rio.
E nos trilhos da história (pág8), convidamos você, leitor, a
mais uma viagem pelos Gerais do Rio.
Boa leitura, e um ótimo Rio pra você!
Impressão:
Artecriação
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2
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Natural, Cultural e Histórico
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Livrarias, Centros Culturais, Salas
de Cinema, Hotéis, Agências de
Turismo...
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E N T R E V I S TA
O Jornal Gerais do Rio em sua segunda edição apresenta uma entrevista com o Superintendente Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio de
Janeiro, Carlos Fernando Andrade. Há quatro anos à frente do Iphan, e recém empossado
por igual temporada, o arquiteto, urbanista e apaixonado pelo centro do Rio, espera ver,
no ano que vem, o reconhecimento da Unesco ao nosso Patrimônio, atribuindo ao Rio de
Janeiro o título de “Patrimônio da Humanidade”, na categoria “Paisagem Cultural”.
E um dos símbolos desta paisagem exuberante: o conjunto de montanhas que se
pode admirar da Praia de Ipanema - está entre os mais belos “olhares do Rio”, na opinião
de Carlos Fernando.
Gerais do Rio: Em primeiro lugar, superintendente, nosso agradecimento pela sua
entrevista. Os leitores do Gerais do Rio
acompanharam com muito entusiasmo a
apresentação do dossiê da candidatura do
Rio a “Patrimônio Mundial”. Mas a votação
da Unesco, em Paris, só acontecerá em 2012.
Então, fale um pouquinho da importância
desta candidatura.
Carlos Fernando: Bom, eu, particularmente,
acho que o Rio já é um Patrimônio da Humanidade, não é ?! Mas o interessante é mostrar
que, com a candidatura do Rio, o conceito de
“Paisagem Cultural” poderá ser atribuído a um
sítio misto, ou seja: diferente das paisagens
agrícolas privilegiadas pela
Unesco até agora, como os
vinhedos da França e os arrozais do sudeste asiático.
Nós temos uma paisagem
extremamente exuberante! Nós podemos entender que o urbanismo
português do século XVI, envolve toda a humanidade a partir do império ultramarino português, que tem nas colônias litorâneas os seus
focos de domínio. Então, talvez, o Rio tenha
sido o melhor exemplo disso.
tratada nas escolas. Temos iniciado este diálogo e, recentemente, no encontro de Folia de
Reis em Duas Barras, veio uma solicitação do
município para que o Iphan apoiasse; então a
gente está trabalhando muito com essa via de
mão dupla.
GR: Mas em sua avaliação, por tradição histórica, a cidade do Rio tem um cuidado maior
com o patrimônio?
CF: Eu acho que o Rio tem uma grande facilidade - que é a enorme capacidade de comunicação que a gente tem. É uma coisa dialética:
a sociedade começa a se perceber perdedora
de seus valores históricos e passa a reclamar
uma ação do poder público.
Na medida que essa ação
do poder público avança,
aumenta também o nível de
pressão da sociedade... é dialético isso. E surgem outros
tipos de resposta, como os jornais pautando e
alertando. Antes as pessoas viam passivamente um sobrado cair; agora, eu tenho também
a Imprensa que me liga e
cobra: - “Você não vai fazer
nada?” E a gente tem que
dar a resposta! Mas acredito que este seja o grande
desafio para a década, para
o século. Eu gostaria que
daqui a 30 anos a gente estivesse trabalhando com esse conceito de identidade cultural
quase com a mesma importância que tem o
ar que se respira. O ar da alma!
“O conceito de
identidade cultural
é o ar da alma!”
GR: Certamente será mais uma ótima razão
para elevar a auto-estima dos cariocas e fluminenses. Falando nisso, em reconhecer e
cuidar do patrimônio, como anda a educação
patrimonial no estado do Rio?
CF: A gente tem discutido muito isso aqui. Nós
começamos a trabalhar com as secretarias de
educação e cultura, para utilizar melhor os professores e pensamos em criar, talvez, material
didático nesta linha, para que esta questão seja
CF: Ah, sim. Com o Programa Nacional de
Apoio à Cultura, o Pronac, nós tivemos R$600
milhões em projetos aprovados no Rio nos últimos quatro anos. Há outras obras em andamento no valor de R$160 milhões. Em todo o
centro do Rio de Janeiro, monumentos de expressão já foram ou estão sendo reformados e
restaurados. Nos Arcos da Lapa(1), por exemplo, retiramos a parte de reboco que causava
danos ao bem tombado e refizemos toda a camada tida como original. Eu sou extremamente
otimista em relação ao trabalho do patrimônio.
Acho que tem muito a melhorar, mas aquela
sensação de que tudo estava abandonado, isso
a população não tem mais.
GR: Carlos, qual é a “paisagem dos seus
olhos”?
CF: A paisagem natural é o conjunto de montanhas que a gente vê de Ipanema, tanto do
lado da Lagoa quanto do lado da praia - que
são bens tombados nacionais - é um belíssimo
conjunto paisagístico tombado. E paisagem
edificada, eu acho que é o entorno da Praça
XV, principalmente a Travessa
do Comércio; aquela região
conseguiu se manter, é um
trecho muito bonito. E como
obra construída, eu acho que
o Parque do Flamengo foi uma
contribuição importante do
ser humano ao Rio de Janeiro. E mais recentemente, a Lapa que acabou se tornando bastante homogênea e os Arcos formam um conjunto, para mim, de muito bom gosto
“A educação
patrimonial é o
desafio da década,
do século.”
GR: E afinal, aqui no Rio são muitas as ações,
como foi terminada recentemente a primeira
fase de restauro dos Arcos da Lapa...
GR: Para encerrar, uma palavrinha sobre o Gerais do Rio...
CF: Eu acho um desafio para você. Agora, para
nós, é muito bem-vindo! Só posso elogiar sua
iniciativa e esteja certa de que eu serei um colaborador de todas as formas.
Penhasco Dois Irmãos – Ipanema
Livro do Tombo Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico
Inscrição n° 56 de 08 de agosto de 1973
Nota:
(1) Leia mais sobre a restauração dos
Arcos da Lapa na pág. 6
Gerais do Rio
3
Cesar Baio
c a pa
A CIDADE MARAVILHOSA
quer ser também um Patrimônio Mundial
Fafate Costa
e depender da reverência nacional ao cartão postal mais bonito do país, esta terra “cheia de encantos mil”, vai ser também um Patrimônio da Humanidade. Todos devem se lembrar de quando, em 2007, o monumento ao “Cristo Redentor” recebeu
o título de uma das sete novas Maravilhas do Mundo Moderno. Aliás,
do alto de seus 80 anos (12/10/1931-2011), o Cristo é a caçulinha entre as novas maravilhas (1).
Àquela época, foram 100 milhões de votos pelo celular e pela internet para a escolha do abençoado símbolo carioca, entre os concorrentes em várias partes do mundo. Mas desta vez, estamos falando
de uma decisão técnica, especializada, sobre a candidatura do Rio de
Janeiro a patrimônio mundial na categoria de paisagem cultural - cujo
conceito privilegia a interação entre cultura e natureza, por seus componentes materiais e imateriais.
Já são considerados patrimônios paisagísticos culturais pela Unesco:
a Costa Amalfitana, na Itália; as Florestas Sagradas do Quênia; os Arrozais
Nota:
(1) As outras Maravilhas do Mundo Moderno são: a Muralha da China,
Petra (Jordânia), Machu Picchu (Peru), Chichen Itzá (México),
o Coliseu de Roma (Itália) e o Taj Mahal (Índia).
Fafate Costa
S
das Cordilheiras Filipinas e as Vinícolas do Alto-Douro em Portugal, por
exemplo, lugares reconhecidos como de excepcional valor universal.
É a primeira vez que o Brasil lança sua candidatura nesta categoria.
Entre o mar e as montanhas, o Rio apresenta paisagens em que a relação
homem natureza também é digna do mérito em ser um bem cultural
mundial. Para citar algumas: o Corcovado, o Aterro do Flamengo, o Pão
de Açúcar, a Praia de Copacabana, o Jardim Botânico, a Pedra da Gávea,
a Floresta da Tijuca... Assim, o Rio será avaliado em todo o seu conjunto
urbano paisagístico.
O resultado só vai sair em 2012. “Oxalá” tenhamos muito a comemorar! Enquanto isso, o “Cristo Redentor de braços abertos sobre a Guanabara” não precisa de título algum para ser o patrimônio que já é!
Fotos: Fim de tarde na Praia de Ipanema
(acima) e vista do Bairro do Flamengo.
4
Gerais do Rio
magine a sede do Patrimônio Histórico no
Rio sofrendo ações de vandalismo. Não é
preciso imaginar... basta caminhar até a
Avenida Rio Branco, no centro da cidade, e parar
diante do n°. 46 para comprovar. Um dos mais imponentes prédios do início do séc. XX, onde funcionou a Cia. Docas de Santos, é alvo dos pichadores.
O superintendente regional do Iphan, Carlos Fernando, alerta para o problema: “aqui a gente vive
um paradoxo. Se limpar, causa um dano à pedra e,
ainda assim, corre o risco do edifício ser pichado no
dia seguinte”. A boa notícia é que estão sendo realizados estudos junto a especialistas na Itália, para
corrigir o estrago de forma menos impactante. Esta
ação lança a expectativa de que, em breve, será restaurada a fachada do imóvel, tombado em 1978.
Recuperar o Chafariz da Rua Riachuelo também
é o que deseja o dono do estacionamento à altura
do n°. 187. Valderi Silva está há apenas dois meses no local e não se conforma com o estado de
completo abandono que se encontra o monumento tombado em 1938 - hoje, confundido com um
“muro diferente” ou um portão de garagem!
O Chafariz foi erguido em 1817 a pedido de Dom
João VI pelo então Intendente Geral de Polícia, Paulo
Fernandes Vianna - vindo a beneficiar a população
dos arredores que sofria com a falta d’água. O que
restou do monumento está bastante descaracterizado e, ainda por cima, traz pichações.
Ao todo, são mais de 200 monumentos tombados pelo Iphan do Rio, incluindo os conjuntos de
imóveis, os acervos de museus ou as peças de arte
sacra, sobre os quais a superintendência regional
exerce fiscalização permanente - com o propósito
de orientar donos e usuários sobre como melhor
preservá-los.
A população deve ajudar, cobrando ações, mas
também fazendo a sua parte. O Rio de Janeiro
até poderia importar o exemplo de Cachoeira, na
Bahia, em que a disciplina de Educação Patrimonial
faz parte da grade curricular da rede municipal de
ensino. Mas ainda que não se aprenda na escola,
de forma sistemática sobre a importância da preservação do patrimônio; ora ora, este é um conceito que deve ser absorvido por todos, nas práticas
mais cotidianas de nossa vida.
O alicerce cultural da identidade de um povo é
o respeito à sua história!
Fotos: Fafate Costa
O desafio
da educação
para preservar
a memória
I
Dono do estacionamento quer recuperar o monumento da Rua Riachuelo. O Chafariz, de 1817, tem a seguinte inscrição: “O Rey por Bem do seu
Povo M.F.E.O. pela Polícia”.
(MFEO = mandado fazer e oferecido)
Edifício onde funciona a sede do
Iphan é alvo de pichações. Na porta
de jacarandá, desenhos com motivos
tipicamente brasileiros.
Na natureza exuberante,
nosso patrimônio
“Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer
por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”.
Art. 1° do Decreto Lei 25 - de 30/11/1937que organiza a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
São 14 conjuntos arquitetônicos e paisagísticos do Estado do Rio, já tombados
pelo Iphan, além de 12 paisagens naturais e outros seis jardins e parques. Alguns
cenários de Cabo Frio, na Região dos Lagos, foram registrados no Livro do Tombo
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, em 1967. Nove anos antes, todo o conjunto arquitetônico de Paraty entrou para a lista de bens que devem ser preservados.
No Rio, os morros da Urca, do Pão de Açúcar, da Babilônia, o Penhasco da Pedra
da Gávea e o Penhasco Dois Irmãos têm a garantia de que população e órgãos fiscalizadores vão defender para sempre a sua preservação. A Lagoa Rodrigo de Freitas,
também, registrada sob a inscrição de número 121 do Livro do Tombo.
Gerais do Rio
5
Nilton Júdice
NOTÍCIAS DO IPHAN
A partir desta edição você vai conhecer o trabalho
de autores convidados a ocupar o “Espaço Literá-Rio” do
Gerais - com suas impressões afetivas sobre o Rio e outros muitos recantos do Estado. Este espaço - ao mesmo
tempo que nos delimita os contornos desta página e da
linha editorial do jornal -, quer ser aberto às múltiplas
possibilidades da palavra: veredas novas, sentidos.
RFree
Restauração
dos Arcos
da Lapa
ESPAÇO LITERÁ-RIO
Arcos da Lapa: concluída primeira etapa da restauração.
ue se voltem os olhares para a estrutura de uma das mais monumentais obras do
Brasil Colônia: o Aqueduto da Carioca. Afinal, merece todo reconhecimento, o trabalho dos escravos indígenas e africanos ao longo de quase 40 anos, ainda no século
XVIII - para canalizar as águas do Rio Carioca, do Morro do Corcovado ao centro. “Entre o
morro e a cidade estendiam-se 300 metros de brejos e lagoas, a serem vencidos com a milenar técnica romana de construção de arcos: uma ponte para as águas”(1).
Cartão postal do Rio, os “Arcos da Lapa” são um dos mais antigos tombamentos patrimoniais do país. É o registro de n° 5 do Livro do Tombo Histórico, e n° 17 no Livro do Tombo de
Belas Artes, ambas inscrições no mesmo dia 05 de abril de 1938.
A primeira fase do atual restauro foi concluída em abril deste ano, por meio do Programa
Nacional de Apoio à Cultura, o Pronac, com investimentos de R$1,2milhão. Parceira na revitalização do centro do Rio, a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos trocou
os antigos projetores de luz aumentando a luminosidade em 30% sem elevar o consumo de
energia.
Numa próxima etapa do projeto estão previstos mais R$500mil para recuperar o gradil e
o leito dos trilhos do bondinho que liga o centro a Santa Teresa (2).
Os Arcos da Lapa, roteiro indispensável para os turistas, são um memorável caminho das
águas, trilhando passado e presente de um Rio que queremos cuidar.
Q
Marc Ferrez
Nilton Júdice
Notas
(1): “Arcos da Lapa 1755 a 1991- Um passeio no tempo” – Inst. de
Planejamento Municipal, 4ªed.1991. Revisão: Sônia Maria Queiroz de
Oliveira e Natércia Rossi.
(2): “Notícias do Iphan” - conta com a colaboração da Assessoria de
Comunicação do Iphan-RJ no fornecimento das informações.
Parceria da Prefeitura
do Rio e Iphan pela
conservação do patrimônio.
CRO 20456
Mônica Fidalgo
Rua Pereira dos Santos, 35 - Sala 608
Tijuca - Rio de Janeiro
Fones: 3471.7888 / 3065.2423
6
SACOPENAPAN
Ana Cristina Vieira *
Por que será que te trocaram o nome,
amado cenário de inúmeras existências,
se por anos refletistes as belezas
perpetuadas ao teu redor?
Logo tu,
em cujas águas se espelhavam
as matas verdejantes d’outrora,
onde se banhavam os casais indígenas
e a lua refletia raios de prata.
Em teu espelho d’água,
os ventos formavam desenhos,
que indicavam o humor dos céus
ao tempo em que absorvias os matizes do sol.
Em teu bojo a natureza pródiga
fazia as águas dos rios e do mar,
se fundirem em abraço amalgamante,
do qual os animais se beneficiavam.
Aqueduto Carioca sob o olhar de
Marc Ferrez, fotógrafo francobrasileiro que deixou importantes
registros do cotidiano carioca na
segunda metade do séc. XIX.
Cirurgiã-Dentista
Endodontista
“Sacopenapan”: nome originalmente dado pelos índios Tamoios
à Praia de Copacabana - estendendo-se a Ipanema, Leblon e
Leme - que em Tupi significa: “caminho dos socós”.
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cadastrados pelo site.
Gerais do Rio
Com a mudança dos séculos
aterraram tuas margens,
modificando-te a geografia.
Avenidas similares a artérias
cercearam teus contornos,
sufocando-te, em prol da cidade que crescia.
Hoje refletes aglomerados urbanos
e o que restou da vegetação luxuriante.
Sofres com a poluição
e o desrespeito ambiental.
Mas, pelo menos, te legaram a forma de um coração.
Por que
um mero senhor,
antigo proprietário de teus arrabaldes
te roubou o significado?
Lagoa de minha vida,
não é a Rodrigo de Freitas,
que reverencio,
mas é à ti Sacopenapan,
que proclamo meu amor e meu tributo.
* Ana Cristina Pereira Vieira é museóloga, Coordenadora de Cultura do Parque Nacional da Tijuca. Entrevistada da
edição de lançamento do Gerais do Rio, aceitou nosso convite para ser colaboradora do Jornal - e, além de sua contribuição profissional ligada ao patrimônio cultural e histórico
do Rio (que certamente teremos em edições futuras), neste
número ela brindou-nos com sua verve literária.
OLHARES do rio
... “Rio teu mar,
praias sem fim,
Rio você foi feito
prá mim”
Praia de Ipanema: Um caprichoso entardecer num dos
lugares mais belos da zona sul carioca, para o olhar do
leitor Cesar Baio. Observe que as montanhas compõem
o cenário também elogiado pelo superintendente do
Iphan, nosso entrevistado da pág. 03.
Fotos: Cesar Baio
(Tom Jobim)
Travessa do Comércio:
O centro do Rio é sempre um
convite a passear pela história
de outros tempos. Becos e
vielas na Travessa do Comércio
guardam o passado de personagens como a cantora Carmen
Miranda, moradora do sobrado
n° 13 (hoje, um restaurante).
A próxima edição pode ter o seu “Olhar sobre o Rio”. Participe!
Envie sua foto com autorização para publicação na coluna:
“Olhares do Rio” e descreva o local fotografado por você.
E-mail: [email protected]
Gerais do Rio
7
RIO-PETRÓPOLIS
Um passeio pelos trilhos da história
... e o sonho de ouvir o apito desse trem!
A primeira ferrovia do Brasil completou 157 anos: a Estrada de Ferro Petrópolis ou E. F.
Mauá. O nome é uma homenagem ao comerciante, industrial, banqueiro e, sobretudo, empreendedor visionário: Irineu Evangelista de Sousa, o “Barão de Mauá” - que venceu muito mais do
que o relevo da região serrana do Rio para implantar, em sua época, um sistema de transporte
que deixou saudades.
Antonio Pastori
uia de Pacobaíba, Magé (RJ): quilômetro zero das nossas ferrovias. Os passageiros chegavam de barco a vapor
após a travessia de uma hora pela límpida Baía
de Guanabara. Em seguida, embarcavam no
trem para uma viagem de 25min para chegar
bem perto da Raiz da Serra de Petrópolis (para
onde o Imperador, a Corte e as elites fugiam do
escaldante verão carioca). A etapa seguinte era
vencer o paredão de 800 metros entre a Raiz
e Petrópolis, num deslocamento de mais duas
horas pela bela e “moderna” Estrada Normal da
Serra da Estrela, valendo-se de um terceiro modal, movido à tração animal. Todo o percurso
durava três horas e meia, lembrando que estamos falando da segunda metade do século XIX.
Em menos de três décadas, a viagem foi reduzida para 2hs graças
à tecnologia da tração
por cremalheira, levando o trem até Petrópolis. Os trens a vapor
venciam facilmente o
paredão em meia hora.
Em 1926, com a inauguração da pomposa
estação da Leopoldina Railway, os passageiros
iam direto até Petrópolis com uma rápida baldeação na Raiz da Serra, fazendo o percurso de
55km em 1h45min com extrema pontualidade
e segurança.
Infelizmente, em 1964 o trecho ferroviário
de 6km entre a Raiz da Serra e Petrópolis foi
erradicado (a exemplo de milhares de outros).
G
8
A viagem até o centro do Rio passou a ser feita
exclusivamente por via rodoviária, durando até
90min - tendo sido a travessia de barca erroneamente abandonada. E, aos poucos, a viagem
começou a demorar ainda mais, devido ao
grande fluxo de veículos nesse eixo, ultrapassando 2hs nos horários de pico.
Quer como espectadores, quer como personagens, a verdade é que não dá mais para
ficarmos reféns do modal rodoviário, compactuando silenciosamente com o massacre 105
mortes diárias nas rodovias brasileiras (1). O modal ferroviário não vai resolver esse problema, é
verdade, mas pode ajudar a minimizar, disciplinar e ordenar o espaço urbano, além de poluir
bem menos.
As autoridades deveriam olhar com mais
atenção as alternativas para escapar das custosas armadilhas urbanas das grandes obras viárias. Um exemplo: para
se restabelecer a ligação
ferroviária Rio-Petrópolis - superada a complexa liturgia licitatória de
praxe -, precisamos somente reinstalar 6km de
trilhos no antigo leito da
Serra, colocar para rodar
alguns modernos trens elétricos e fazer ajustes
operacionais com a concessionária que detém
o direito de uso dos 49km restantes, entre Raiz
da Serra e o Centro do Rio. Uma viagem que
poderia ser feita em 1h30min, praticamente o
mesmo tempo na “época do vapor”! Detalhe:
isso tudo custa somente 0,2% do Trem de Alta
Velocidade (TAV).
O transporte ferroviário já atendeu a
Corte Imperial e as elites cariocas.
Estamos há mais de cinco anos lutando pela
reativação dessa ferrovia. Até o governador
Sérgio Cabral sensibilizou-se com esse projeto
sancionando a Lei 5.791/10, que considera a
reativação do trem Rio-Petrópolis como de relevante interesse econômico e turístico para o
nosso estado. Contudo, os leitores não imaginam como está sendo difícil tentar instalar uns
míseros 6km de trilhos na Serra.
Por isso, morro de inveja de Mauá, que há
mais de 150 anos, sem nenhuma ajuda do governo, instalou os primeiros quilômetros de trilhos do Brasil por sua conta e risco.
Nota:
(1) Dados do Sistema de Informação de Mortalidade
do Ministério da Saúde. O levantamento realizado em
2008, apontou que 38.273 pessoas morreram vítimas de
acidentes de trânsito no país.
*Antonio Pastori, um apaixonado estudioso das ferrovias brasileiras, é Mestre em Economia, ex-gerente do
Depto. de Transportes e Logística do BNDES e presidente da
Associação Fluminense de Preservação Ferroviária (AFPF).
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02 - Gerais do Rio