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.!
;V:"!,
IVjj
VARíOLA, SUA PREVENÇÃO
VACINAL E AMEAÇACOMO
:""
---AGENTE
DE BIOTERRORISMO
::,:,':
GUIDO
CARLOS LEVI*,
ESPER GEORGES
"
'~:';;':;'í
KALW
Serviço de Moléstias Infecciosas Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo
e laborat6rio
de Imunologia -Disciplina
de Doenças Infecciosas e Parasitórias
Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo
RESUMO -Com
a'..";-~
ameaça
""".."-,,,
internacional do bioterrorismo, a
varíola voltou a ganhar destaque mundial. Os autores revisam
aspectos da varíola e trazem consideraçõesatuais da utiliza.
ção do agente como arma biológica. Também apresentam
dados dos esforços atuais na produção e desenvolvimento de
vacinas contra a doença.
UNITERMOS:
Varíola.Vacina,Bioterrorismo.
INTRODUÇÃO
Quandoa varíolae suaprevençãovacinal
pareciamdestinadas
a seremincluídassomente nostextosde históriada medicina,
a ameaça
do emprego do vírus causadorda doença
como arma de bioterrorismotrouxe novamente à tona o interessepelo assunto,em
particularpara as novasg~rações,que iniciaram suaprá,tica
clínicaapósa erradicação
dessa
patologia.E importanterever essestópicos,
com a finalidadede informaraquelesque nuncavivenciarama varíolae refrescara memória
daquelesque, felizmente,já há três décadas
deixaramde ver pacientescom a doença.O
objetivo destarevisãoé, portanto,auxiliarno
reconhecimentodestadoença,familiarizaros
leitorescom os avançosna obtençãoe desenvolvimentode vacinaspreventivas,e trazer
d'
.,
para Iscussao
a recenteameaçada varlolaser
ut'l ' d
b' I ' ,ours,
Ilza a como arma 10oglca.
anosa.c., e Haeseracredit~que descrições
de doençaexantemáticana India~ntigapossamcorresp?n"de~
a es~ patologia,~o enta~to: as evld~n~las~als ,se~urasvem de
mumlasda 18 dinastiaegl,pcla(1580-1350
a.C.), e a cabeça mumificada do faraó
Ra~sesV (ao,re?or de 1160a.c.) mostra
lesoescompatlV~lscom essadoença. Parece ~er permaneCIdoausenteda,Europa nos
pe,rlodos~r:go e rom~n,ocláss.lco,
em"bo~a
haja descrlçaode TuCldldesde oc~rrenCla
e~ Atenascerca de 430 ,a.~. e Dlodorus
Slc~lu,s
descre~e"doençasimilar~tacandoo
exerCItocartaglnesno ce;co de S,racusaem
396 ~,~. No ~uarto se~ulo d.C. surge~
descrlçoesescritasna China. No ~e~o seculo d.C.,era comu~ no norte da Afrlca,d,e
ond~ teria p~ssadoa Fr~nça,causa~~oepldemla descrita pelo bispo Gregorlo, de
T
em 581 d ,.C
P
Ita d
' I IO d C ' , "
or vo
o secuo
..Ja existiam
HISTÓRICO
hospitaisno Japãoparao isolamentode paci,
,
,entes
com varíola,Nessaépoca,a doençaera
A varlola e uma doença conheCIdades- comum em todo o Oriente Próximo, Rede a antiguidade.Como não existem reser- introduçõesna Europaocorreramcom o revatórios ~ni~ai,snem portadoreshum~n~s, tomo dascruzadas,
e a invasãomongollevou
sua perslstencladepende da transmlssao a novadisseminação
em massa,Pararessaltar
contínua entre seres humanos. Por isso, a importânciada doençano continenteeuroespecula-seque deve ter emergido apósos peu, bastariacitar que no final do século 18
primeiros assentamentosagrícolas,por vol- morriamde varíolacercade 400,000pessoas
ta de 10.000 anos a.c.I. Paschendescreve por ano,e umterço doscasosde cegueiraera
evidênciade varíolana China cercade 1700 secundárioa seqüelasda doença2.
' I ,
d
'
varioa e causaa por um vlrus que
possuimaterialgenéticoconstituídopor DNA,
do gêneroortopoxvírus,
famíliapoxviridae,
Ao
microscópio óptico, após coloração pela
fucsina,apresenta-sesob forma de granulações finas,os corpúsculosde Paschen.Ao
microscópioeletrônicotem forma cilíndrica,
assemelhando-se
a um pequenotijolo de 230
por 300 nm6,
Podepermanecerviávelmuitosmesesno
meio ambiente,Seuefeitopatogênicoé atenuado pelo envelhecimento,
pelaexposiçãoà luz
Suaintroduçãono Novo Mundofoi catastrófica.Com a chegadados espanhóis
ao Mé'Correspondência:
xico" cercade três milhões,,"
de nativosmorreAlomedoJoú759-Cep:O1420-001-SãoPoulo-SP
Tel:(11)2884266-fox: (11)288-5836
ram de varlola,Gravesepidemiasdizimaram
gclevi@uol,com.br
tribosameríndias
e contribuíramdecisivamen-
naturale, rapidamente,
pelo calor,perdendo
seu poder infectanteem 30 a 60 minutosà
temperatura
,,'de 56°C
O contágiose dá, na grandemaioriadas
vezes,pela inalaçãode gotículascontendoo
Rev Assoc Med Bras 2002; 48(4): 357-62
te p~rao colapsodos impériosastecae inca',
E possívelafirmar,~uena ~etade do sécu10.16o mundoto~o JaestavaIn~e~do, e, s;
nao fo~seo apareCImento
da vaClnaçao,
a varlola se!lau~ pes~delorec?~entea cadanova
geraçaoate os diasde hoJe.
? nome,varíolafoi us~dopel~primei:avez
no seculoseis,d,c. pelo bispoSUIÇO
~arlus~e
Avenches,derIVandoo te~o do,latim vanus
(manchad.o)
ou varus(espln,ha).
Jano mundo
anglo-saxao,
ao redor .doseculo 10,o te~o
pocou pocccadescreviadoençaexantemátlca,
talvezavaríola.Daíem diante,relatosinglese~
uS~f!1o termo pockes.,O prefixo s,,!a//foI
a?IClonado
no finald~ ~eculo 15paradlferenClaressadoençad~ sífilis"que era a greatpo~,
N? França,a varlolafoI chamadade petlte
vero/e,e naAlemanhade pockerr,
O agentee meiosde transmissão
A
357
LEVIGC ETN..
víruls em Isuspe~~o, elim
d inadas,pela mucosa
Quadro I
Númerode mortesna cidadedo Riode janeiro provocadas
pelavaríola,entre 1850e 1899
ora, nasa ou lanngea os paCIentescom a
doença, Embora o vírus esteja presente em
grandes quantidades em crostas infectadas,
e~e mecanismo de transn;iss~oé ~en~s fre~
quente, Pode haver tambem Infecçao aerea a
distânciaou pelo manuseio de roupas, lençóis
e cobertores contaminados, embora essas
duas modalidades sejam pouco comuns, No
entanto, como curiosidade, no período colonial norte-americano, foram provocadas epidemias em indígenas presenteando-os com
cobertores usados previamente em pacientes
com varíola.
, ..,.
Quadro chnlco e diagnostico
O período de incubação médio é de 12
Númerode mortes
642
730
1870-1879
6625
1880-1889
1890-1899
6852
8599
,
,
,
FiguraI -Curso evolutivoda erupçãocutâneatípica em criançacomvarlola. Segundodia: erupção
máculo-papular.Terceiroao quartodias:pápulasevoluemparavesículasprofundase duras,Quinto
ao sétimodias:evoluçãoparapústulas,augedaerupção.Nonoe décimodias:evoluçãoparacrostas,
durase escuras,algumasjá sedestacando.Convalescença:
hipopigmentação
cutâneade longaduração.
dias, variando de 7 a 14 dias, O início dos
sintomas é abrupto, com febre muito alta,
cefaléia, calafrios, dores nas costas, com
duração de dois a quatro dias, surgindo a
seguir a erupção, como vemos na Figura I,
Esta se inicia com máculas na face, que
Período
1850-1859
1860-1869
Extraídoe adaptadode R.T. D. Edmond,AColourAtlasoflnfectiousDiseasel9
J~'~".,
evoluemrapidamenteparapápulase, em
alguns dias, para-w:esículascontendo líquido límpido e cercadas por halo eritematoso regular. Ao redor do sexto dia, as
vesículas evoluem para pústulas, sendo
ambos tipos de lesões geralmente umbelicadas e de centro mais escur06,
As lesões são uniformes e de mesmo
Quanto à varíola minor ou alastrim discu''
h '
d '
'd d
rb'd
estadio evolutivo, São profundas, endurecidas
'
rífu E
"te-se
ate oJe trata-se e enti a e mo I a
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d
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esoes sao maissupe IClaIS,
a uraçao o qua,.
'.
dro e mais curta e a letalIdade nao ultrapassa
'
..,
'
I % a 2%. Ressalte-seque a vaCInaantlvanollca
IVOS,
A varíola e o Brasil
' "
'
Clp al
'"
Durante varlos seculos a vanola foI a prln,"
causa
de mortalidade
nas vilas
e CIdades
..."
brasileiras,
a partir
de
onde
se disseminava
pelos sertões Provocando a morte de
"
'
número de escravose de Indlos q ue
vam nos en
g enhos
de
a ç úcar
do
g rande
trabalha-
Nordeste
e
na
.
Ao redor do nono ao décimo dia as lesÕes
evoluem para crostas, a febre regride e o
estado geral melhora bastante, No entanto,
protege tanto contra a!orma major da doença
quanto c,ontr,a~ alastnm6"
"
, ,O diagnostico da varlola ,e. b~lc~e~te
extração de ouro em Minas Gerais7,Paraseter
idéia da gravidade do problema, basta observ~r no Qua~ro I as ~ortes por varíola só na
são necessários mais ,sete a 10 dias para a
cllmco, ~o entanto, se necessa,nodlagn~stlco
Cldad,edo Ri~ de Janeiro, na segunda metade
queda das crostas, Areas hipopigmentadas
lab~ratonal, ;Ie poderá ser feito atraves.do
do secul? 19,
podem persistir por um longo tempo, haven-
cul~vo do vlrus (do sangue ,ou das leso~s
,.,
'
Devido ao ~Imn;o. nlVel~e conh~Clmento
do freqüentemente cicatrizes profundas na
cutâneas) em culturas de teCl~os, nos quals
sobre a patologia,a umcaopçao pos~lVelera o
face e, mais raramente, em outras partes do
após 30 a 48 horas toma-se evld7nte a dege-
afastamento dos enfermos dos ambientes fre-
corpo, Existem também formas hipertóxicas,
neração celular",ou em ovo embnonado, com
qüentados pelos sadios, levando-os muitas
em que a morte pode sobrevir ainda no perí-
leituras positivas após 48 a 72 horas, A
vezes a morrerem sozinhose desassistidosnas
odo prodrômico ou logo após,
microscopia eletrônica revela os característi-
mataspróximas a vilas e povoados7,
Formas mais leves, com erupção abortiva,
cos corpúsculos de inclusão, permitindo facil-
Há 125 anos, São Paulo sofria com uma
podem ser observadas em indivíduos com
mente a diferenciação com a varicela e o
terrível epidemia de varíola, e foi decidido
imunidade parcial obtida por vacinaçã06,já as
formas hemorrágicas são de extrema gravida-
herpes simples,
Existem também várias reações soro-
procurar um local afastado da cidade para
colocar os doentes, Com parte da verba para
de e altíssimaletalidade,
lógicas,porém de pouca utilização prática,
a construção vindo de subscrição pública, foi
358
_
1111111111
. II~I
~J
-
Rev Assoc Med Bras 2002; 48(4): 357-62
VARÍOLAE SUA PREVENÇÃO
VAClNAL
construídoum "Iazareto"na antigaestradado
Araçá.Assimsurgiuo Hospitalde Isolamento
de São Paulo,inauguradoem 8 de janeirode
1880.Com o tempo transformou-se
em hospital paratodas asdoençasinfecciosas,
porém
até hoje o Institutode Infectologia
EmílioRibas
."
"
...,
.""
.
Figura2 -Pega davacina
antlvarlollca.
(A) Peganormal,nopiCO
(nonoa décimosegundo
dias)compústulaperlácea
sobrefundoavermelhado
endurecido.
(8) "Peg~"em~ndivíduo
~ipersensível,
comlesãobolhosa
degrandes
dlmensoes.
Extraldoe adaptado
deR.T. D. Edmond,
A ColourAtlasof Infectious
Diseasesl9
ainda guardao primeiro pavilhãodo antigo
hospital.
O Brasilfoi o último paísdasAméricasa
erradicara varíola.Em 1971foram notificados
19 casos,sendo que em 1972 ocorreu o
último casoda doençaem nossomeio, considerada,a partirde então,erradicada
do continente americano.
A vacina
Ao redordo ano 1000d.c. começouaser
usadona índiaum métodode proteçãocontra
a doençaque se const~uíana inoculaçãode
materialobtido pela remoção das cascasdas
pústulas,a seguir moídas e aplicadaspor
esfregaçona pele ou por inoculaçãonasnarinas. Da índia;"o método se espalhoupara a
China,Cáucaso,Turquiae África2.Atravésda
embaixatriz br~ânica em Constantinopla,
Mary Wortley Montagu,~étodo chegouà
Inglaterra.O processo,chamadode varioIização
, não era desprovidode riscos,porém
asfatalidades
ligadasà suautilizaçãoeram dez
vezesmenosfreqüentesque com a infecção
natura).Apóso iníciodo usodo cowpoxcomo
vacina, esta prática reduziu-se progressivamente,emborana segundametadedo século
sultados em conferência para a Roya/
Society, o que lhe foi negado. Publicou,
então, seu trabalho a suas próprias
expensas,com sucessonotável e imediato,
sendo que em 180I já cerca de 100.000
pessoashaviam sido vacinadaspelo seu
método?
Em 1805,Napoleãoordenoua vacinação
.
segurae em quantidadeadequadafoi obtida
pelocrescimento
do vírusem flancode bezerro. No entanto,a vacinaassimproduzidaera
viávelpor curto períodode tempo, somente
de I a 2 dias.No final da décadade 40 do
séculopassado,
Collier desenvolveuprocesso
que perm~iua produçãoem largaescalade
vacinaestávelII. Com isso,a Organização
Pan-
20 aindafossesinalizadoseuuso em populações remotas da Etiópia,África ocidental,
Afeganistão
e Paquistã09.
Incentivado pelo seu mestre, John
Hunter, devemos a Edward Jenner o desenvolvimento do primeiro método seguro de vacinação.Após 20 anosde estudos,
realizando experiênciascom a varíola bovina, Jenner demonstrou em 1796 que a
proteção poderia ser obtida com a
inoculação de material extraído de lesão
pustular humana de varíola bovina
(cowpox, que hoje sabemosser causada
por um ortopoxvirus bastantepróximo do
vírus da varíola). Deu ao material o nome
de vaccine, derivado" do termo latino
vacca,e ao processo de vaccination.Após
vacinaçãobem sucedidade menino de oito
anos, com demonstração de proteção ao
material da pústula de varíola inoculado a
seguir, Jenner tentou apresentar seus re-
de todos seussoldados.Vacinação
obrigatória
por leifoi inst~uída
em 1835na Inglaterrae no
Paísde Gales;dez anosdepoisna Escócia
e na
Irlanda;em 1874naAlemanhae em 1902na
França.Nem sempre,porém, essaobrigação
legalfoi recebidapacificamente.
Sãobem conhecidosepisódiosde verdadeirarevoltacontra a vacinação obrigatória, como a de
leicester,na Inglaterra,e, entre nós,a do Rio
de Janeiro,em 1904.
Inúmerascepasvacinaisforam empregadasnosquasedoisséculosde vacinação
contra
a varíola,obtidaspor passagens
sucessivas
em
diferentesanimais.Acredita-seque o vírus
vacinaltenha se originadoda hibridizaçãoentre o vírusdavaríolae o cowpox,ocorridanos
primórdiosda vacinação.Outras possibilidadesseriammutaçõesapóspassagens
em diferenteshospedeirosou hibridizaçãocom outros ortopoxvírus'o.
Desde 1864, a provisãode vacinamais
Americanade Saúde(OPAS)decidiu,a partir
de 1950, dar início ao programa de
erradicação
da doençado hemisfério.
Em 1959,aOrganização
Mundialda Saúde
(OMS) decidiu empreender campanhade
erradicação
global. Em 1967,a doençahavia
sido eliminadadasAméricas,com exceçãodo
Brasil,porém os resultados
em escalamundiàl
eram aindainsatisfatórios.
Foientãodadoinícioao programaintensificado de erradicaçãoglobal.Segundorecomendação
da OMS,passou-se
a empregarlote
sementepara a produçãoda vacina.As mais
comumenteutilizadascom essafinalidadeforam ascepasListere t'jew YorkCity Boardof
Health.A China e a India preferiramutilizar
outrascepas,
denominadas
Temp/eofHeavene
Patwadanger,
respectivamente2.
Os resultadosdesseesforçoconcentrado
logo se fizeramsentir. Em 1972,ocorreu o
últimocasono Brasil,
tambémo derradeirodas
Rev Assoc Med Bras 2002; 48(4): 357-62
359
lEVIGC ETAL.
Fi~ura3 -Complicações~ecorrentesdavacinaçã?
anti~ari~lica.(~) Eczema
~accinatum
emcriança.(B) Eczema
vacclnatumemadulto.(C) Dlssemlnaçao
emareade queimadura
solar.
(D) Inoculaçãopor roupa,no caso,camisade amigarecentemente
vacinada.(E)Auto-inoculação
deface.(F) Bleraritevacinal.(G)Vulvovaginite
vacinal.(H) Vaccíniafetal, comóbito por
lesõesener~lizadas.
(I).Vaccíniacongênit.a
emconse~üên.cia
~evacina~ão
da mãeemfinal
de gestaçao,comlesoesgrandes,evoluindoparaclcatrlzaçao.Extraldoe adaptadode
R.T. D. Edmond,A ColourAtlas of InfectiousDiseases'9
Aplicação da vacina
Utilizando-seagulhabifurcadaestéril e
descartável,são feitas 15 escarificaçõesrapidamentenumaáreade cercade 5 mm de
diâmetro. O local deve ser coberto com
curativo não oclusivo para evitar a autoinoculação e, ao mesmo tempo, evitar a
proliferação bacterianaque poderia ocorrer com a oclusão do loca!,
Evolução da "pega" vacinal
Após dois a cinco dias, uma pápula se
desenvolve no local, evoluindo para
vesículaem oito a 10 dias,quandoa reação
atinge seu auge. Nesse período pode surgir febre. Cerca de 70% das criançasapresentam até 38°C por um ou mais dias,
porém 15% a 20% podem ter febre mais
elevada,até 39°C. Em adultose nas revacinações, a febre é menos comum e de
menor intensidade1°. A seguir, a pústula
seca,formando uma crosta que se destaca,
deixando cicatriz característica.
Complicações vacinais
,
Américas,
O último casode infecçãonaturalfoi
registradoem outubro de 1977,em Merka,
Somália,Os únicosdois casosnotmcados
após
eStadataresultaram
de acidenteem laboratório
em Birmingham,
In.\?Jaterra,
em 1978,
Em 8 de maio de 1980a erradicaçãoda
varíolafoi, reconhecidapela assembléiada
OMS. Assim,a primeira doençapara a qual
a vacinatornou-se disponívelfoi também a
primeiraa ser erradicadado planetaatravés
de programa vacinal. Hoje, seu interesse
seria meramente histórico, não fosse pela
ameaça de bioterrorismo. Teoricamente,
apenasdois países,EUAe Rússia,possuem
hoje amostrasdessevírus,sob condiçõesde
segurançamáxima.
Como os estoquesde 15 milhões de
doses da vacina disponíveisem setembro
de 200I .são absolutamente insuficientes
em caso de ataque biológico, reiniciou-se
sua produção acelerada, daí o interesse
em revermos suascaracterísticas,em particular para as gerações mais jovens, que
não
tiveram
conhecimento
mais
aprofundado desse agente imunizante.
360
Constituição da vacina
Emgeral,suaproduçãoerafeita por cultivo em pele de bezerro,A seguir,o vírusera
coletado,purificadoe tratadocom fenol,o que
nãoevitavaumacontaminação
bacterianaresidual, Contudo,eStacontaminação
era muito
pequenanasvacinas
adequadamente
preparadas,com baixapatogenicidade
parahumanos2,
Paraaplicaçãopor multipuntura,sua reconstituição era feita com soluçãode glicerinaa
50%. Seadministrada
por injetora ar comprimido, era empregadasoluçãosalina,
AJguns
laboratórios
produziram
a vacinaem
membrana corio-alantóidede ovos embrionados.
No entanto,eStaformade obtenção
tomou problemática
suaestabilidade
térmica,e
somentena Suéciaseconseguiuafastar
o risco
de contaminação
como vírusdaleucoseaviária.
Como o método de produçãoda vacina
em culturade tecidossomentefoi aperfeiçoado na fasefinalde erradicação
da varíola,não
foi utilizadoem largaescala2,
No entanto,será
provavelmente
o métodode escolhaem uma
nova retomadada produçãoem respoStaàs
ameaças
de reaparecimento
da doença.
Encefalitepós-vaC/na~ Evento grave,
maisfreqüente entre criançasmenoresde
um ano de idade,ocorre em aproximadamente três vacinadospara cada milhão de
primo-vacinações.
Eczema vacina~ É a disseminaçãoda
"pega"em áreasde eczema ou dermatite
atópica, independentemente do grau de
atividade do processo no momento da
imunização. Pode ocorrer também em
contactos de vacinados. É acompanhado
de sintomasgeraisintensos,com febre alta
e linfadenopatiageneralizada.
Vaccinia
progressiva:
Ocorreem indivíduos
imunodeficientes.
A lesão não cicatriza,surgem lesõessecundárias
e a mortalidadeé elevada(cercade um terço dos casos)
Vacciniageneralizada: Caracteriza-se
pelo aparecimento, uma semana após a
vacinação,de novas lesões,em indivíduos
imunocompetentes,Estaslesõesseguemo
mesmo curso da "pega"primária e, embora sintomasgeraispossamestar presentes,
o prognóstico é geralm~nte bom.
Inocularãoacidental E acomplicação
mais
freqüente. Em geral é inócua e se deve à
transferência
do vírusvacinalparaoutrasáreas
do corpo, com cicatrizaçãosimultâneaà da
lesãoprimária.
Rev Assoc Med Bras 2002; 48(4): 357-62
VARÍOLAE SUA PREVENÇÃO
VAClNAl
Duração da imunidade
Nos paísespraticamentelivresda doença, a vacinaçãoprimária era realizadaem
criançasmaioresque um ano de idade,para
evitar casosde encefalitepós-vacinal.Já nos
paísesem que a doença era endêmica,a
vacinaçãoinicial era feita entre três e nove
mesesde idade.
Revacinações
eram feitasa cadatrês a 10
anos seguintes. Surpreendentemente,há
poucostrabalhosna bibliografiamédica sobre a duraçãoda proteçãocontra a doença.
Há indíciosde que ela seja bastantelonga,
chegandoa 80% mesmo após 20 anosda
vacinação.No entanto, parte destaproteção
poderia ser devido are-infecções inaparentesl2.Apesardisso,dadosde reintroduçãode
varíolaem paísesonde ela era longamente
ausentetambém falam a favor de proteção
vacinalprolongada.De 680 casosde varíola
major ocorridos apósimportaçãona Europa,
morreram 52% dos não-vacinados I 4%
dos vacinadosnos últimos 10 anose' li' I %
dos vacinadoshá maisde 20 anosl3'
.um
Contra-indicações da ~cina
São contra-indicaçõespara a vacinação
eczemano indivíduoou contactantes
domiciliares,doençasou tratamentosque levem a
pode serfatal, é facilmentetransmitido,pode
serproduzidoem grandesquantidades
e pode
ser armazenadopor um longoperíodolS16.
Casovenhaa seconcretizaro usodo vírus
da varíola~om finalidadeterrorista,poderia
causarum Impactode proporçõesdifíceisde
calcular.Apósa erradicação
da doençae subseqüenteinterrupçãodo empregoda vacina,
b,oapa~e da,populaçãomun~ialestádes~rovl~ade Imunld~de.Isto po~enalevara epldemiascom letalIdadesuperiora 25~17. Para
enfrentaru~a ,am~aça
,de.ssamagnitude,os
estoquesvaonalsdlsponlVel~
em ~etembrode
2~0I ~ra~ absolutamente
Insufioent,es~
Eram
dlSpOnlVels
no~ EUA,cercade 15 mllh~esde
doses,produzidasde~das antes.Em calculos
e!e~uados
quantoao nu,mero,
de ~osesn~cessarlasparac.ontrolara dlssemln~ça~
a partirde
~~ foco,foI lembradaa experl~noana I.ug~slavla,queem 1972tevequ~aplicar18mllho,es
de dosespor causade um Unl~~casol4.Assim
sendo,o governodosEUAsolicitouaosquatro
laboratórios
do paíscom capacidade
industrial
de produçãodestavacina,e posteriormentea
laboratóriofrancês,que trabalhassem
em
regimede urgênciaparadotar o paísde, no
mínimo,40 milhõesde doses,massepossível
60 milhões,até o fim de 200I. Essas
vacinas
poderãoser desenvolvidas
a partirde maisde
quandoé empregada
a vacinanão diluída,abre
a discussão
parapossívelempregode segunda
dosecom avacinanãodiluídanos30%de não
respondedores
à vacinadiluídaapóssete dias
da primeiradoselB.
Finalmente,é importante ressaltarque
outros mecanismos
de defesa,alémda vacina,
estãoe deverãoser cadavez maisestudados,
como medicamentosantivirais,terapiascom
anticorposou seusfragmentos,
ou aindasubstânciasestimulantes
da respostaimunológica.
Além disso,deverãoser produzidosestoques
consideráveis
de imunoglobulinaantivaccínia,
já que o considerávelnúmerode imunodeficientesna populaçãoatual (pacientescom
imunodeficiência
secundária
ao HIV,com neoplasias,
sob tratamentocom substâncias
imunossupressoras)
faz prever o aparecimento
não raro de complicações
sefor empregada
a
vacinaantivariólica
em extensascampanhas
de
imunizaçãoem massa.
imunossupressão,
gravideze anafilaxiapor algumdosantibióticosutilizados
naantigapreparaçãoda vacina(polimixinaB, estreptomicina,
neomicinae tetraciclina).Todas as contraindicações
devem ser cotejadascom o risco
um lote semente.No entanto,a não ser em
circunstanciasexcepcionais,só virão a ser
empregadas
apóstestesde eficácia("pega"em
pelo menos90% dosvacinados
sem imunidade prévia)e segurança.
Essaavaliação
teráque
cansideratlanS,ant~eexp/aJtatlanaftheetl?/aglc
:ent a: a :Ia/ag~ca/weapon.A/sa brlng to
dscu~s'ann e a~i/ab/ee~artsto produ~eand
eve ap vacanes agalnst lhe dlsease.
[RevAssocMed Bras2002;48(4): 357-62]
SUMMARY
S
MALLPOX,VACCINEPREVENTION
AND
THEBI~TERRO~ISM
T~REAT
.
,lI\/íth lhe Int~rnatl~na/threat af ~/aterJ~m, ~~a/lpo: ISaga!n~':r1~~eraf I;en~e
e l1:e. ~auti ars revlew, 1: 1sease
an, IãIS~
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em casode contato suspeitocom paciente seguirregrasdiversasdasatualmenteempre- v~, W
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Inlectante,
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o e umanovavaoR A
perigode complicações
vacinaissão também na,umavezque avaríolanãoestámaispresen,
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r1ant -,
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I
EFERENCIAS
os com maioresriscosde morte peladoença. e em nossomeio e, po
o: nao e posslve
,
,
..estudo
de campo para avaliar a proteção
I. M.cNelllWH. Plagues
and people.Garden
A varlola e o bloterrorlsmo
vacinal,alémde problemaséticosque imposCity:AnchorPress;1976.
E
t
bl' fi I d 200 I 14
~ recen e pu Icaçao,no Ina e ..'
.b 'I'
..2.
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novas vacinas antivariólicas em resposta à
d
d
'
d
' I
Na tentativa de garantir números expres-
amea~ae uso o VlruS a vanoa como arma SI~OS.
de I~unlzaçoesem situaçõesde ,emerterrorista.Emborase falasseno passado
que genoa estãoem andamentoestudosvisando
haviaum riscoteórico distoocorrer, surgiram verificara possíveleficáciada vacinadiluída 10
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"
I
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pU essemer e, oquesc an e Inos o agente, apesardo VlruSestararmazenadoem somentedois locaisno mundotodo, sob condiçõesde segurançamáxima.A ameaçade seu
b' I "
,
uso como ar,ma 10oglca e extremamente
preocupante,já que se tratade um vírusque
ta o~ }sponlvelsatuamente. nquanto,a vao6. MachadoCG. Varíola.In: AmatoNeto V,
na dllulda 100vezestrouxe respostasImunoBaldyjLS. editores.Doenças
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Artigo recebido: 161O4flOO2
Aceito para publicação: 261O8flOO2
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Francisco Severino
362
-"A
Carroça"
-Galeria
Jacques Ardies
-Tel.:
(11) 3884-2916
Rev Assoc Med Bras 2002; 48(4): 357-62
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VARíOLA, SUA PREVENÇÃO VACINAL E AMEAÇA COMO