O LÚDICO NA APRENDIZAGEM: CANTIGAS INFANTIS E SUA
CONTRIBUIÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS
Elisângela da Silva França -Professora da Rede Estadual/MT – COEDUC/UNEMAT
Joeli Auxiliadora França Ramos -Professora da Rede Estadual/MT
Este texto apresenta um projeto de pesquisa educacional em andamento, com início em
abril previsto para concluir em dezembro de 2009. Tem como tema de estudo e
intervenção, a cultura infantil na compreensão do jogo e da ludicidade, como eixo do
processo de ensino-aprendizagem, atendendo crianças dos dois primeiros anos do
primeiro ciclo da Educação Básica, realizado em Cáceres-MT. Como expressão do
processo de colonização português, as cantigas de roda são uma importante memória da
cultura lúdica do povo brasileiro e trazem em si o lugar e pertence da criança e do
adulto. A cultura infantil é privilegiada pelas cantigas de roda, uma vez que estas são,
além de possibilidades do desenvolvimento da linguagem corporal, importantes
instrumentos de trabalho para o desenvolvimento da leitura e escrita. Como expressão
da fase atual da pesquisa, com contribuições dos estudos e das estratégias
metodológicas utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa.
PALAVRAS- CHAVE: Ludicidade, Cantigas de Roda, Crianças.
O trabalho a ser apresentado teve início em abril e previsão para concluir em
dezembro de 2009. Tem como tema de estudo e intervenção, a cultura infantil na
compreensão do jogo e da ludicidade, como eixo do processo de ensino-aprendizagem,
atendendo crianças dos dois primeiros anos do primeiro ciclo da Educação Básica,
realizado em Cáceres-MT.
Caracteriza-se como um projeto de pesquisa-ação construído pelo coletivo de
professores, equipe pedagógica e crianças da Educação Básica, da primeira e segunda
fase do primeiro ciclo da Escola Estadual “Desembargador Gabriel Pinto de Arruda” em
Cáceres, MT.
Tem como objetivo compreender a significativa contribuição das cantigas
tradicionais infantis para a formação pedagógica no desenvolvimento infantil e para o
processo de ensino-aprendizagem na alfabetização. Possibilitar nesta fase do
desenvolvimento, o acesso ao acervo cultural evidenciado nas cantigas, uma vez que,
dinamizam as aulas, tornando-as mais agradáveis e possibilitam aos alunos que se
expressem e transformem-se em personagens das histórias nelas identificadas, com
alegria e prazer.
Para isso, tais cantigas são cantaroladas inúmeras vezes pelos alunos até que
todos conheçam a letra e a melodia. As cantigas são individualmente trabalhadas,
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interpretadas e organizadas em cartazes que permanecerão anexados às paredes das
salas, e este acervo tende a aumentar na medida em que são trabalhadas. O objetivo
deste acervo é facilitar o desenvolvimento das futuras atividades de leitura, escrita e
interpretação de textos.
O educando por sua vez, ao compreender e reconhecer a seqüência da cantiga e
sua leitura está apto a realizar tais atividades. Ainda que este não leia fluentemente,
reconhece a melodia, entonação e letra, identificando e decodificando as palavras
automaticamente. Os alunos são envolvidos no contexto da cantiga, isto é, na
compreensão da letra, no significado das palavras, sucessivamente das frases, para
finalmente compreenderem a cantiga como um todo.
Tendo em vista que as cantigas de roda foram introduzidas no Brasil pelos
Portugueses, durante muito tempo as cantigas ou as brincadeiras de roda foram as
principais atividades lúdicas das crianças. Partimos do pressuposto de que a criança
aprende melhor quando tem domínio e conhecimento do assunto com o qual a escola
busca introduzi-la no processo de alfabetização. Quando nos referimos às cantigas
buscamos compreende-las no universo lúdico infantil, e recorre a elas considerando sua
contribuição para uma aprendizagem ativa, no sentido de que a criança não se submete
as imagens, mas aprende a manipulá-las e transformá-las. Essa cultura lúdica não é
composta apenas pelas brincadeiras e manipulações, mas ela é também simbólica,
suporte de representações. O fato de contar uma história, cantar uma cantiga,
dramatizar, insere-se os saberes escolares às atividades que compõe o universo lúdico
infantil e que possibilitam ao aluno imaginar e criar novos conceitos de valores. Por
isso, os alunos demonstram maior afinidade e interesse pelo trabalho desenvolvido em
sala de aula.
A Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico expõe que:
Na Educação infantil, a música ao ser trabalhada, valida o
conhecimento da proposta das áreas da música e movimento
atendendo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil. Além disso, por atender os referenciais das crianças desta
faixa etária, possibilita um aprendizado formal, de maneira informal e
prazerosa.
No Ensino Fundamental, as cantigas de roda e música infantil
envolvem os alunos com aspectos sociais e culturais pertinentes,
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favorecendo a ampliação do volume da escrita, dentre outras
competências. (CENAP, 2007, p. 4).
Com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), é fundamental que
educadores articulem sua prática pedagógica de modo a dialogar com a cultura popular
vigente, para alcançar os objetivos propostos em cada área do conhecimento, situação
esta, que valoriza ainda mais o trabalho com as cantigas de roda tradicionais.
A criança, um ser social dotado de capacidades afetivas, cognitivas e
emocionais, possui o desejo de estar próxima de outras e interagir com o ambiente de
modo a compreendê-lo e influenciá-lo.
Ampliando suas relações sociais, interações e forma de comunicação,
as crianças sentem-se cada vez mais seguras para se expressar,
podendo aprender, nas trocas de sociais com diferentes crianças e
adultos cujas percepções e compreensões da realidade também são
diversas. (BRASIL, 1998, p. 21).
A capacidade de memorização da criança torna-se visível através das cantigas e
assim, possibilita-nos atrair a atenção da criança para outros temas, com a mesma
intensidade e entusiasmo.
Afinal, quem se lembra da melodia e da letra de Ciranda, cirandinha, vamos
todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar...? Acreditamos que
esses versos singelos e significativos ficaram gravados por anos e anos na memória de
dos nós brasileiros que tivemos a chance de conhecê-los. E se cantássemos O cravo
brigou com a rosa? Que tal O sapo não lava o pé? Ou ainda, A linda rosa juvenil?
Estes são pequenos exemplos de cantigas que foram vivenciadas a partir da voz doce e
suave de nossas mães ou avós, das professoras que atuam na educação de crianças (6 e 7
anos) do primeiro e segundo ano do Ensino Fundamental e que compõe um rico acervo
cultural brasileiro.
Embora estejamos trabalhando com as séries do Ensino Fundamental, estaremos
neste trabalho recorrendo as orientações curriculares e também aos teóricos que
fundamentam a Educação Infantil, por considerarmos que muito recentemente as
crianças de seis anos passaram de um nível de ensino para outro, e ainda são relevantes
as orientações da Educação Infantil, para pensarmos o primeiro ano do Ensino
Fundamental. Esta referência se faz necessária em virtude dos documentos orientadores
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que na Educação Infantil tratarem da especificidade do jogo e do lúdico no
desenvolvimento da criança.
As cantigas de roda que oportunizaram o surgimento de inúmeras brincadeiras e
que, ao mesmo tempo, ajudaram a melhorar a expressão e a comunicação, nos ajudam a
entender um pouco do lugar onde se vive ou mesmo a escrever e ler com maior precisão
e qualidade.
E as novas gerações de famílias e professores, tem conhecimento dessas
cantigas? Será que as nossas escolas de educação infantil e ensino fundamental ainda
utilizam tais músicas? Quantas dessas canções são ainda cantaroladas para e pelas
nossas crianças em sala de aula?
Essas cantigas e muitas outras que nos foram transmitidas oralmente,
através de inúmeras gerações, são formas inteligentes que a sabedoria
humana inventou para nos prepararmos para a vida adulta. Tratam de
temas tão complexos e belos, falam de amor, de disputa, de trabalho,
de tristezas e de tudo que a criança enfrentará no futuro, queiram seus
pais ou não. São experiências de vida que nem o mais sofisticado
brinquedo eletrônico pode proporcionar. (NOGUEIRA, 2003, p. 6).
Por isso esse saber caracteriza-se em saber fazer. É o intitulado jogo do saber. O
papel da escola torna-se semelhante ao da escada, onde cada degrau prepara para o
degrau seguinte e assim sucessivamente. Os alunos são iniciados nas atividades
primeiramente por meio das palavras, logo em seguida pelas frases e finalmente logo
estão lendo toda a letra da cantiga.
Por isso, falar do jogo do saber é tentar recuperar o caráter lúdico do processo
ensino/aprendizagem. Dessa forma, nunca é demais lembrar que a palavra ludos em
sentido próprio, significa jogo, divertimento e, por extensão, escola, aula.
A criança vive mergulhada em um ambiente carregado de sons. Logo, quando
bebê já passa a ter contato com os diversos deles e passa a se relacionar com o meio
com sua comunicação lúdica. À medida que se vai socializando, interioriza e assimila a
linguagem e cultura do seu grupo social, além das palavras, evidencia também a sua
entonação, melodia, sotaque, ritmo, e finalmente seus sentidos. Para Huizinga (1990),
“O que a linguagem poética faz é essencialmente jogar com as palavras. Ordena-as de
maneira harmoniosa, e injeta mistério em cada uma delas, de modo tal que cada imagem
passa a encerrar a solução de um enigma” (1990, p.149).
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Vejamos a letra da música: O Cravo brigou com a Rosa
O Cravo brigou com a Rosa,
Debaixo de uma sacada,
O Cravo saiu ferido,
E a Rosa despedaçada.
O Cravo ficou doente,
A Rosa foi visitar,
O Cravo teve um desmaio,
A Rosa pôs-se a chorar.
Ao analisarmos esta cantiga de roda, percebemos que o próprio texto, isto é a
letra da música, mostra-nos uma característica do desenvolvimento infantil que é o
animismo infantil. Atribuem vida a seres inanimados, passam a conceber as coisas
como vivas e dotadas de intenção, sendo esta uma das particularidades da criança préoperacional (classificação definida por Emilia Ferreiro e Ana Teberosk, sobre as fases
pela qual passam as crianças no processo de alfabetização, pautando-se na teoria
piagetiana).
Brincando e cantando a criança passa a compreender o mundo em que vive, o
que lhe abre inúmeras possibilidades de tornar-se um adulto equilibrado, consciente, e
seguro diante de certas limitações.
Tendo em vista que a referida pesquisa encontra-se ainda em sua fase inicial, foi
possível compreender até o presente momento que a ludicidade oferece à criança a
possibilidade de criar, recriar, e esquecer o distanciamento existente muitas vezes entre
ela e seus colegas, distanciamento em relação aos adultos, passando a construir sua
inteligência e seu amadurecimento social e cultural.
Através do lúdico a criança interioriza conceitos, demonstra anseios e desejos
escondidos, sua visão de mundo e busca compreender as atitudes dos adultos através
das brincadeiras lúdicas. Passa a conscientizar-se quanto a suas próprias
responsabilidades diante dos acontecimentos. Na cantiga, a criança busca desenvolver
seus pensamentos em relação ao que está sendo cantado, argumenta sobre o que é dito,
proporcionando o processo da aprendizagem da leitura e da escrita.
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A ludicidade torna-se então uma ferramenta indispensável, onde movimentos,
como dar as mãos, cantar e ouvir, movimentando-se de diferentes formas, conforme
propõe a representação das letras das cantigas, incentiva o desenvolvimento infantil,
promovendo a valorização das relações interpessoais, o respeito mútuo e a socialização,
colaborando para a conscientização do espírito de grupo.
O brincar é condição saudável de todo processo evolutivo
neuropsicológico, ele manifesta a forma como a criança está
organizando a realidade e lidando com suas possibilidades, limitações
e conflitos, já que muitas vezes, ela não sabe, ou não pode falar a
respeito deles. Introduz a criança de forma gradativa, prazerosa e
eficiente ao universo sócio-histórico-cultural, abre caminho e embasa
o processo de ensino aprendizagem favorecendo a construção da
reflexão da autonomia e da criatividade (OLIVEIRA, 2000, p.52).
Quando utilizamos o termo “brincar” conduzimos a possível reflexão de que a
cantiga utilizada em sala de aula é utilizada de forma lúdica e criativa, o que nos conduz
a idéia de brincar, do movimentar-se, do expressar-se como criança.
A infância deve ser pensada como sendo um momento de apropriação de
imagens e representações diversas de modo que a brincadeira torna-se um processo de
apropriação e produção cultural. Quando se fala em desenvolvimento, certamente
pensamos nas potencialidades, daquilo que a criança já traz e do que o adulto
proporciona como espaço educativo no qual ela transforma a realidade na qual se insere,
desenvolvendo suas habilidades e competências, talentos capazes de lhe proporcionar
sucesso e felicidade no futuro.
Os primeiros resultados já são expressos na aprendizagem das crianças, na
identificação que têm com a escola e na forma de organização do espaço pedagógico.
Ao brincar e cantar suas cantigas, a criança enriquece seu vocabulário, expressa-se com
criatividade os movimentos de imitação e dramatização do imaginário infantil,
construindo referências novas sobre si e sobre os colegas, assim como interfere no meio
social com mais segurança.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Educação e do desporto, Secretaria da Educação Fundamental –
Referência Curricular Nacional para a Educação Infantil. 3 V. Brasília : MEC/SEF
1998.
COORDENADORIA DE ENSINO E APOIO PEDAGÓGICO (CENAP). Cantigas de
Roda e música infantil: Educação Infantil/ Ciclos de Aprendizagem I e II - EJA. Ed.
Atualizada de 1996. Salvador : CENAP, 2007.
HUIZINGA, J.. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. Trad. João Paulo
Monteiro. São Paulo : Perspectiva, 1990.
NOGUEIRA, M. A. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol.
5, No. 2, dez 2003. Acesso em 20 de julho de 2009, no sítio www.proec.ufg.br.
OLIVEIRA, B. de V. O brincar e a criança de zero a seis anos. Petrópolis : Vozes,
2000.
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