Uma Onda no Ar — Você está na Favela! — Você está ouvindo a Rádio Favela FM — 104.5! — Ai, seguinte. A maior parte dos moleques aqui do morro, larga a escola porque o que eles aprendem lá não tem nada a ver com a realidade deles, com o que eles querem saber da vida. Eles estão sendo instruídos pelas “madames” que moram no asfalto, e que vêm dar aula pros filhos dos empregados aqui no morro. Aí, os moleques perdem o interesse de estudar, e a gente sabe o que acontece. Hoje mesmo, nós recebemos uma carta do Nem, que está lá na penitenciária de Neves. O cara jogava bola com a gente, e hoje, está lá, agarrado no cadeião, dormindo no fundo da cela com a cara no boi. Ouve só o que ele escreveu: — “Eu queria que esses meninos vissem o que aconteceu com a gente, para não fazer tudo igual. Porque eu acreditei que podia ganhar tudo rápido. O dinheiro e a moral que a gente ganha com a venda do veneno não presta. Só presta pro cara morrer cedo, ou mofar na cadeia que nem eu. Eu não desejo pra ninguém o que estamos passando. Aqui dentro, é só sofrimento e humilhação.” — Vocês estão ouvindo aí, não é, molecada? Vocês deixem de ter cabeça vazia… Riiim! — … que a cadeia está lotada, mas sempre cabe mais um! Riiim! — Rádio Favela! — Alô, Jorge? — Quem está falando? — Aqui é a Rose… É… Eu queria… — Abaixe o volume do seu rádio um pouquinho aí! — O quê? — Abaixe um pouquinho o rádio, Dona Rose. Mas não precisa colocar no chão, não, Dona Rose. É só pra baixar o volume. — Ah! Está legal! — Ah! melhorou! — Jorge, eu quero reclamar com você, porque eu estou desesperada. Eu não sei bem com quem falar. — Diga lá, Dona Rose! — Tem uma semana que eu estou indo na FEBEM. Ninguém sabe onde mandaram o meu filho, Fabinho? — Aí é só a senhora ir lá no juizado e dar queixa. Filho de pobre, quando não vai encontrar, nem no tal de juizado de menores, nem na FEBEM, aí… Bip… Bip… Dona Rose?… Dona Rose, tem que comprar uma ficha de telefone para poder conversar… — Você só ouve essa porcaria de rádio da favela. O rádio do seu carro não pega outra estação? Uuui! — No jornal de hoje, está o governador entregando mais viatura e mais arma para a polícia. Nossos senhores seguintes!, para combater o tráfico e a violência, as autoridades precisam entender que têm que criar emprego, principalmente o primeiro emprego pros adolescentes. Ao invés de comprar arma, o Estado devia usar essa grana para melhorar as escolas e criar emprego. É isso aí. É só mais um preto que fala, hein?