Água e saúde pública Érico Motter Braun 1 Resumo No documento, trataremos sobre técnicas de melhor aproveitamento da água no nordeste brasileiro. Tais como; “ecorresidência”, que aproveita toda a água consumida na mesma. Um filtro de membrana, que realiza um pré-tratamento nos poços nordestinos. E uma lâmpada ultravioleta germicida, que mata micro-organismos presentes na água. Todos os projetos citados acima buscam qualificar a vida dos japoneses alojados na Paraíba. 2 Introdução O Projeto Contextura busca um meio de alojar as famílias japonesas na região do semiárido brasileiro, levando em consideração os custos, questões culturais, etc. Baseando-se nesse contexto, a água é a questão mais relevante em todo o projeto, já que a habitação em qualquer lugar só é possível com a presença de água. Com a evolução da humanidade, o homem começou a olhar de uma maneira diferente para a questão da água, desenvolvendo novas técnicas e aperfeiçoando os antigos métodos. Entretanto, o Nordeste tem grande déficit hídrico, mas não impossibilita o uso de projetos sustentáveis para a provisão de água potável. Em vista deste quadro, é apresentado neste artigo o desenvolvimento de uma residência concebida para preservar a água. Também são discutidas duas técnicas para melhorar a qualidade da água, uma que utiliza filtros cerâmicos para dessalinizar a água e outra que emprega uma lâmpada ultravioleta germicida, alimentada por energia solar, para desinfecção da água. 3 Projetos Sustentáveis “A preservação da água começa em casa”, essa é a ideia de um projeto nordestino feito por pesquisadores da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) da Paraíba. O foco do projeto é a reutilização da água do semiárido, o que levou ao desenvolvimento de uma “ecorresidência”: uma casa feita para preservar a água. “A casa foi concebida por uma equipe multidisciplinar e tem diversas características que ajudam na preservação do meio ambiente, como um telhado projetado para captar a chuva e um sistema de reutilização da água de chuveiros e pias. Além dos benefícios ambientais, a ecorresidência chega a ser até 40% mais barata que uma casa tradicional” (FERRAZ, 2009), com esse baixo custo, o projeto pode ser aplicado em várias regiões nordestinas e poderá ser aproveitado pelas famílias japonesas. Há uma preocupação ambiental nesse projeto Uma casa para o semiárido, pois segundo o seu coordenador, José Geraldo Baracuhy (apud FERRAZ, 2009), “todo o ciclo da água foi considerado na elaboração da casa”, logo, até os tijolos são feitos por um meio tal que não necessitam ser queimados. Isso acarreta uma economia de madeira, já que menos árvores serão derrubadas. “A arquitetura também foi pensada para facilitar o uso consciente da água, evitando o desperdício. A casa tem pé-direito alto e janelas que favorecem a circulação de ar, garantindo o conforto térmico da habitação e diminuindo a necessidade de banhos longos” (FERRAZ, 2009), trazendo vantagens para os moradores nessas residências. E não ocorre somente economia com a água potável, pois “a água usada nos banhos, nas pias do banheiro e da cozinha passa por um processo simples de purificação e é reutilizada na irrigação de frutíferas. [...] A água utilizada na descarga do banheiro é, na verdade, a água da lavanderia reaproveitada. Até os resíduos do banheiro acabam gerando água aproveitável” (FERRAZ, 2009) para irrigação, por intermédio de uma limpeza microbiana, contribuindo para o desenvolvimento econômico, já que com a aplicação do projeto pequenas plantações podem se manter viáveis. A arquitetura ecológica se reflete também no telhado da casa, que “tem uma inclinação específica para facilitar a coleta da chuva. [...] A água coletada é direcionada para uma cisterna (do lado de fora da casa) com capacidade de armazenamento de 21 m³. E a cisterna é construída de maneira tal que conduz a água para a casa sem necessidade de bombeamento (até metade do volume total). [...] Todas essas medidas barateiam o custo de construção da casa”, ressalta Baracuhy (apud FERRAZ, 2009), lembrando que esse é um aspecto importante para que a tecnologia chegue à população mais pobre da região. Devido aos longos períodos de estiagem no nordeste, a não reposição de água nas cisternas poderia comprometer a eficiência da “ecorresidência”, já que a água armazenada é vinda das chuvas. Pode-se, então, recorrer a poços para fornecer água. Porém, 80% das águas dos poços no Nordeste são do tipo salobra, imprópria para o consumo, contendo em sua composição 500 mg de sais por litro, quantidade acima da tolerada pelo organismo humano. Logo, o projeto do Laboratório de Referência em Dessalinização (Labdes) e da UFCG em parceria com Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), pode ser a solução para a alta quantidade de sais nos poços: o projeto visa fazer um pré-tratamento de baixo custo das águas nordestinas, a partir de membranas de cerâmica. A reação nas membranas de cerâmica é chamada Osmose Inversa, onde a “água dos poços é submetida a uma pressão externa, maior que a pressão osmótica do próprio líquido, sobre as membranas de cerâmica. Estas, por sua vez, estão acomodadas em módulos que só permitem a passagem da água pura, provocando a formação de duas correntes, uma de água concentrada com sais, e a outra no interior do módulo, de água pura. Para realizar tal pressão, é necessário o uso de uma bomba movida à energia elétrica” (SPATA, 2009). Um dos pesquisadores, Kepler Borges França, explica que as membranas de cerâmica possuem poros menores do que as convencionais, feitas de plástico. “A principal diferença está no tamanho dos poros, pequenos o suficiente, no caso das membranas, para reter microrganismos e outros elementos de natureza inorgânica” (FRANÇA apud SPATA, 2009). Assim, além de dessalinizar a água, o sistema também a desinfeta. O pesquisador explica que as membranas feitas de cerâmica “apresentam diversas vantagens em relação às poliméricas, tais como produção mais simples e barata, maior resistência ao pH muito ácido ou muito básico, manutenção fácil e tempo de vida maior, de em média 15 anos” (SPATA, 2009). França ressalta que as comunidades devem ser capacitadas para a manutenção do equipamento, “a limpeza é bastante simples. Basta ter cuidado para não quebrar as membranas, que são frágeis, como todo objeto de cerâmica. [...] Além disso, o concentrado produzido no processo pode ser usado para outros fins, como a irrigação de plantas halófitas e criação de peixes” (FRANÇA apud SPATA, 2009), lembra o pesquisador. Com essa simplicidade de manutenção, os usuários terão mais facilidade com o equipamento. Outro sistema desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) aproveita o extraordinário índice de insolação do Nordeste no processo de desinfecção da água. Uma alternativa para matar os microorganismos é uma lâmpada ultravioleta, que é alimentada pela energia solar, desenvolvido por Lucas Rafael do Nascimento, aluno do curso de Engenharia Elétrica da UFSC, sob a orientação do professor Ricardo Ruther, do Laboratório de Energia Solar da UFSC. A água captada é depositada em um “compartimento acondicionador, feito de PVC, composto por uma lâmpada ultravioleta germicida e alimentada por energia solar. O equipamento pode ser de pequeno porte, montado de acordo com as necessidades do usuário. O processo de desinfecção baseia-se na capacidade da radiação ultravioleta de atingir o DNA (material genético) das células dos microrganismos, causando sua destruição” (REDAÇÃO do site, 2009). Todo esse processo não necessita da energia elétrica, já que a lâmpada ultravioleta é alimentada pela energia solar, o que acaba levando o projeto a comunidades que não possuem rede elétrica. Porém, seu alto custo (cinco mil reais) pode vir a inviabilizar o projeto para o Contextura. 4 Conclusão Assim podemos ver que o nordeste brasileiro possui diversos desafios para a instalação dos japoneses, porém, com os avanços tecnológicos podemos resolver os problemas, proporcionando o acesso à água em qualidade e quantidade para os imigrantes. Vimos que uma “ecorresidência” é útil para economizar toda a água usada, entretanto, a casa precisa de água das chuvas e, já que é grande o período de estiagem nordestina, recomenda-se complementá-la com a perfuração de poços. Mas, como a maioria da água dos poços nordestinos é imprópria para consumo, então a solução é um filtro de membranas de cerâmica para tornar a água saudável. A técnica de destruir os microorganismos a partir da radiação ultravioleta é cara, o que não é adequado para os japoneses. Logo, a técnica mais recomendada é a do filtro de cerâmica, por ser mais barata e filtrar os sais e os microorganismos também. O único requisito é energia elétrica, que deverá ser instalada anteriormente. Referências FERRAZ, Mariana, Uma casa para o semiárido, 2009. Disponível em: < http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2008/249/uma-casa-para-o-semiarido/?searchterm=tratamento%20e%20reutiliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20%C3%A1gu a>. Acesso: 19/07/2013 REDAÇÃO do site, Energia solar para desinfecção da água, 2009. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2008/247/energia-solar-para-desinfeccaoda-agua/?searchterm=tratamento%20%20da%20%C3%A1gua>. Acesso em: 16/07/2013 SPATA, Andressa, Água tratada por membranas de cerâmica, 2009. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/tecnologia/agua-tratada-por-membranas-deceramica/?searchterm=tratamento%20%20da%20%C3%A1gua>. Acesso: 19/07/2013