HÁ DE SE SUPOR
De tudo que se vê,
Há de se supor,
Não existe água pura
Para a eterna flor!
Nem fonte que cura,
Nem quem conte nos dedos
Os medos de anteontem.
Nem quem aponte a paz sem inquietude.
Nem mesmo o tempo traz
No vento, novas atitudes.
Não existe passos nem compassos nesta dança.
Ou será que lá no fundo triste,
Num cantinho,
De uma tela ainda vive,
Um restolhinho de esperança?
Há de se supor que sim,
Há de se supor que não,
Aquilo que vai
No desacorçoado coração.
CONFIAR
Confiar, apenas confiar...
E com o fio frágil
Entrelaçar...
Emendar a fenda da escuridão
E remendar e remendar...
Suportar os nós.
Um fio, um nó,
Uma corda, um cordame.
Uma rede de esperança
Entremeadas de rasgos.
E seguir sereno,
Com fio frágil do tempo,
Entre luzes e desaventos,
Entre lágrimas e sorrisos,
Loucuras e juízos,
Tecendo, tecendo...
Reflexão pré-reflexiva ou cautela
O que dizer de nós?
Andarilhos à sós...
Descalços quase sem Deus,
Por estradas tão niilistas,
Que nos dão pistas de um vazio ao final.
Reis e rainhas somos todos plebeus.
Afinal é tênue o fio que nos une.
Nos perdemos nas linhas.
Seja como for,
Nos reencontramos nas entrelinhas.
Nos tornamos imunes,
No frágil fio do amor.
Tem sido essa a nossa viagem:
Reflexão pós-reflexiva ou aprendizagem.
Ah! Mundo
Perdoa-me se mal te vi, se mal te vejo,
Se nas esquinas da vida te perdi de meus desejos.
Se cabisbaixo estava, saibas,
Não estava macambúzio...
É que ando falando comigo mesmo,
Num diálogo interno sem fim,
Nesta luta para sair de mim.
Ah! Mundo,
O que quero é bem te ver,
mas o que vejo no fundo,
o que vejo ao vento,
O que vejo nas ruas,
vos digo:
Não são senhores, nem são mendigos.
São Van Ghoghs sem pincéis,
Dostoievskys sem pena,
Einsteins sem fórmulas,
Cristos sem Pai,
Amigos sem tempo.
HUMANO
O Homem é um garimpeiro,
Que bateia a pedra pura,
Mas nesta busca é prisioneiro,
Pois, perde-se na procura...
Busca a pedra pela pedra,
Tolo, perde a maravilha,
De ver, não aquilo que quebra,
Mas sim, aquilo que brilha.
Pior quando o brilho lhe cega,
E com a falsa luz se nega,
A se ver no próprio espelho.
Com seu apego não encontra,
A luz que já estava pronta,
E não vê o seu próprio brilho.
O Ser Humano, este errante,
Segue em sua busca de vida,
Segue em sua busca constante
E quase não vê saída.
Ante um vazio, sozinho,
Como se estivesse perdido,
Não percebe o caminho,
Mas quer encontrar sentido.
Se suas escolhas foram fúteis,
Se suas buscas inúteis,
Sentir-se-á abandonado.
Mas mesmo assim resta algo,
Que em sua alma está a salvo,
Inexplicavelmente sagrado.
A liberdade de escolha,
O livre-arbítrio consciente,
Não é feito uma folha,
Que segue ao vento, independente.
Quem quer ser mestre de si,
Sem antes ser aprendiz,
Acaba sendo um ser-aí,
Dependente e infeliz.
Em sua infinita vontade,
De ter toda liberdade,
A vida fica incerta,
É que a alma livre é cativa,
Não foge, não se esquiva,
E mesmo presa, se liberta.
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