Vias renováveis de produção de Hidrogénio Mestrado Integrado em Engenharia Química Outubro de 2012 Trabalho realizado por: Carolina Gomes Diogo Barros Diogo Silva Eva Sousa Mariana Pinheiro Mariana Santos Núria Rebelo Vias renováveis de produção de hidrogénio ÍNDICE Índice ............................................................................................................................................. 2 1 RESUMO..................................................................................................................................... 4 2 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 6 3 O HIDROGÉNIO COMO FONTE COMBUSTÍVEL ................................................................... 8 4 VIAS RENOVÁVEIS PARA PRODUÇÃO DE HIDROGÉNIO ................................................... 9 4.1 Vias renováveis de obtenção de hidrogénio ................................................................... 9 4.1.1 Processos fotossintéticos ............................................................................................................... 9 4.1.1.1 Biofotólise da água ............................................................................................................... 9 4.1.2 Fotodecomposição de compostos orgânicos por bactérias fotossintéticas ................................. 13 4.1.3 Fermentação ................................................................................................................................ 14 4.1.4 Eletrólise da água ......................................................................................................................... 16 5 ANÁLISE COMPARATIVA ....................................................................................................... 19 6 VIABILIDADE ECONÓMICA..................................................................................................... 20 7 CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 21 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................... 22 Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 2 Vias renováveis de produção de hidrogénio ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Equipamento do HaliasTM, da Chevron Texaco, para reforma de gás natural, capacidade de produção de 120 L/min e rendimento de 75%. [1] ......................................... 7 Figura 2 - Origem do hidrogénio produzido a nível mundial [2] ............................................ 7 Figura 3 - Fermentação alcoólica [4]................................................................................... 14 Figura 4 - Eletrólise da água [6] .......................................................................................... 16 Figura 5 - Representação da captação do hidrogénio e do oxigénio pelos pólos positivo e negativo [6] .......................................................................................................................... 17 Figura 6 - Eletrolisador portátil com tecnologia PEM comercializado pela fabricante Protonenergy [10] ................................................................................................................ 18 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Produção de hidrogénio por fermentação………………………………………….15 Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 3 Vias renováveis de produção de hidrogénio AGRADECIMENTOS 1 À monitora Filipa Coelho por nos ter ajudado a ultrapassar as nossas dificuldades. À professora Alexandra Pinto pelos conselhos dados e esclarecimentos feitos. RESUMO Este trabalho foi realizado no âmbito da unidade curricular projeto FEUP, do 1º ano, do curso de Engenharia Química da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O seu principal objectivo foi a descrição de vias renováveis para produção de hidrogénio. Primeiramente, discutiu-se a razão pela qual o hidrogénio se apresenta como uma via alternativa aos combustíveis fósseis e, em seguida, investigaram-se alguns dos processos possíveis para sua obtenção. De entre vários processos destacaram-se, essencialmente, quatro mecanismos, sendo que, procedeu-se à descrição de cada metodologia, à análise das suas vantagens e das suas desvantagens, expondo-se, por fim, a viabilidade económica de cada. Os processos fotossintéticos (biofotólise da água), a fermentação, a fotodecomposição de compostos orgânicos por bactérias fotossintetizantes e, por último, a electrólise da água foram as técnicas abordadas. Por fim, concluiu-se que é necessário investir nestas vias de produção pois, preditam um futuro melhor quer economicamente, quer ambientalmente. PALAVRAS-CHAVE: Fermentação, eletrólise da água, biofotólise, poluição, combustíveis fósseis, hidrogénio, energias renováveis. Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 4 Vias renováveis de produção de hidrogénio ABSTRACT The present report was written under the subject of “projeto FEUP, of the first year of Chemical Engeneering in “Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Its main purpose is the description of renewable sources for the production of Hydrogen. Firstly there’s a discussion about why is hydrogen an alternative solution to fossil fuels. Then some of the processes to obtain hydrogen were addressed. From between several processes, four of them were detached and they were described concerning their advantages and disadvantages. Finally the economic feasibility of each one of them was concluded. The photosynthetic processes (biofotolisis of water), fermentation, photodecomposition of organic compounds by photosynthetic bacteria and electrolysis of water were the addressed processes. Finally, it was concluded that is necessary to invest in this methods of production because they can provide a better future, both economically and environmentally. Keywords: Fermentation, water electrolysis, biophotolysis, greenhouse, fossil fuels, hydrogen, renewables energies. Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 5 Vias renováveis de produção de hidrogénio 2 INTRODUÇÃO Desde o século XX que o consumo e a exploração dos combustíveis fósseis têm aumentado drasticamente a nível mundial. E, por isso, atualmente, as fontes de energia renováveis são um tema com grande interesse, tanto do ponto de vista económico como do ponto de vista ambiental. Sabe-se que os principais combustíveis fósseis são o carvão, o gás natural e o petróleo e que é a partir deles que se obtêm, por exemplo, combustíveis ou matéria-prima para plásticos e fibras sintéticas. Contudo, o seu consumo exagerado tem provocado consequências nefastas no planeta. Pois, para além do seu elevado custo e de serem um recurso nãorenovável, a sua queima tem contribuído para o aumento drástico da poluição. Isto é, a queima destes materiais liberta gases como o dióxido de carbono e metano para a atmosfera o que implica o aumento do efeito de estufa, que é um regulador da temperatura interna da Terra. Com efeito, tornou-se indispensável encontrar alternativas que permitissem diminuir a dependência aos combustíveis fósseis e que ao mesmo tempo, satisfizessem as necessidades energéticas. Assim sendo, surgiram outros recursos, como as energias renováveis, entre as quais pode fazer parte a energia do hidrogénio. Porém, a verdade é que praticamente 96% da produção atual de hidrogénio é realizada através da reforma de combustíveis fósseis, sendo que, desses, metade utiliza gás natural como fonte primária. A reforma de combustíveis fósseis é um método que tem por base a utilização de hidrocarbonetos, essencialmente metano, de maneira que, das reações que ocorrem resultam como produtos hidrogénio e dióxido de carbono. Significa isto que, este processo de obtenção de hidrogénio não satisfaz as necessidades, uma vez que, para além de ser caro e não renovável, contribui também para o crescimento da poluição atmosférica. Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 6 Vias renováveis de produção de hidrogénio Figura 1 - Equipamento do HaliasTM, da Chevron Texaco, para reforma de gás natural, capacidade de produção de 120 L/min e rendimento de 75%. [1] Os restantes 4% representam as vias renováveis de obtenção de hidrogénio, isto é, representam, essencialmente, a eletrólise, o que realmente indica que, a percentagem de hidrogénio produzido por métodos alternativos como a pirólise de biomassa ou por mecanismos fotobiológicos é pouco expressiva. [2] Figura 2 - Origem do hidrogénio produzido a nível mundial [2] Assim, verifica-se que as possíveis vantagens associadas à produção de hidrogénio estão, forçosamente, dependentes dos métodos utilizados para a sua obtenção. Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 7 Vias renováveis de produção de hidrogénio 3 O HIDROGÉNIO COMO FONTE COMBUSTÍVEL Tendo em conta o decréscimo dos combustíveis fósseis a nível mundial e a poluição que está inerente à sua utilização, é necessário encontrar uma alternativa viável para produção de energia. Mas porquê o hidrogénio? O hidrogénio é o elemento mais simples e mais abundante do Universo e o terceiro elemento mais abundante no planeta Terra. Note-se que o hidrogénio não é uma fonte de energia primária, mas sim um vetor energético - um portador de energia. A grande vantagem do hidrogénio como vetor energético é a eficiência com que se consegue transformar a energia por ele contida noutra forma de energia, por exemplo em eletricidade. Por curiosidade, a energia contida num kg de hidrogénio é três vezes maior do que a energia contida num kg de gasolina. [3] Para além disso, produzir este elemento é possível através de processos eficazes como eletrólise da água ou por reforma de álcool e hidrocarbonetos (metanol, etanol, metano, gás natural e outros). Em suma, são estas características que fazem com que o hidrogénio possa surgir como o combustível do futuro. Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 8 Vias renováveis de produção de hidrogénio 4 VIAS RENOVÁVEIS PARA PRODUÇÃO DE HIDROGÉNIO Atualmente, vários são os processos que permitem a obtenção de hidrogénio, todavia encontrar um método não agressivo para o ambiente, eficaz e economicamente viável para essa obtenção ainda causa algumas preocupações. No entanto, o desenvolvimento dessas tecnologias limpas apresenta-se como obrigatório, constituindo uma aposta para o futuro, para que se veja garantido o desenvolvimento sustentável da sociedade. Assim sendo, tem-se investido na análise das vias renováveis de produção de hidrogénio, que podem ser clarificadas em diferentes tipos: as que ocorrem por vias fotossintéticas, as que ocorrem a partir de mecanismos fermentativos e a partir da eletrólise. 4.1 Vias renováveis de obtenção de hidrogénio 4.1.1 Processos fotossintéticos Para que se obtenha hidrogénio a partir de mecanismos fotossintéticos são necessários microorganismos subordinados à energia luminosa. Estes microorganismos podem ser cianobactérias ou algas verdes, que produzem hidrogénio através da biofotólise da água. 4.1.1.1 Biofotólise da água Podemos definir biofotólise como o processo que implica a ação da luz sobre um sistema biológico resultando daí a dissociação de um substrato, geralmente água, para produzir hidrogénio. O processo mencionado compreende portanto, uma fotossíntese, sendo que ao contrário da fotossíntese tradicional, ocorrente nas plantas verdes, que somente Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 9 Vias renováveis de produção de hidrogénio reduz dióxido de carbono, a fotossíntese feita por microalgas, em decorrência da presença de enzimas como a hidrogenase e a nitrogenase, produz, sob certas condições, hidrogénio. Este grande sistema engloba, então, duas etapas distintas: a biofotólise direta e a biofotólise indireta. 4.1.1.1.1 Biofotólise direta A biofotólise direta para a produção de hidrogénio é um processo biológico que utiliza sistemas de microalgas fotossintetizantes para converter energia solar em energia química na forma de hidrogénio. Uma das grandes vantagens desta produção é a fácil e atraente disponibilidade de energia solar, permitindo que um determinado substrato, nomeadamente a água, seja convertido em oxigénio e hidrogénio. Esta produção de H2 é possível devido à presença da enzima hidrogenase nos microrganismos que se caracteriza pela sua capacidade de catalisar a oxidação reversível do hidrogénio molecular, representando ainda um papel vital no metabolismo anaeróbico. Deste modo, a absorção de luz solar gera eletrões que são transferidos para uma molécula de ferrodoxina, reduzindo-a e a enzima hidrogenase recebe esses eletrões para combiná-los com os protões (H+) e assim formar H2. → ( ) (1) Para que o processo tenha início, é necessário um período de adaptação sob condições anaeróbias e no escuro, durante o qual a enzima hidrogenase é ativada e sintetizada. Porém, a produção de hidrogénio é um processo transitório devido à alta sensibilidade da enzima hidrogenase ao oxigénio, subproduto da fotossíntese. Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 10 Vias renováveis de produção de hidrogénio A inativação da enzima ocorre pela reação do oxigénio com o ferro do centro catalítico da enzima. Para minimizar o processo de inibição, o sistema deve possuir uma baixa pressão parcial de oxigénio. Muitas pesquisas estão a ser desenvolvidas em torno deste ponto, sendo que algumas procuram materiais para absorver o oxigénio e outras trabalham com a mutagénese com o objetivo de encontrar mutantes com tolerância ao oxigénio. O principal microrganismo estudado para o processo de biofotólise direta são as algas verdes. Alga verde unicelular, Chlamydomonas reinhardtii é uma espécie de alga de água doce do género Chlamydomonasi. Tem uma forma oval com cerca de 10 μm de comprimento e 3 μm de altura e possui dois flagelos na região anterior para facilitar a sua locomoção. Esta espécie é muito estudada para a produção de hidrogénio. Após 60 anos de pesquisas, recentemente observou-se que em culturas fechadas – reatores - a privação de enxofre nesses organismos tem como consequência um consumo de oxigénio e uma passagem a anaerobiose no meio de cultura. Estes organismos passam então a realizar uma fotossíntese alternativa que utiliza a luz e a hidrogenase para a produção de H2. Ao fim de algumas horas já se considera que a cultura se encontra num estado de anaerobiose e a produção de H 2 é máxima. 4.1.1.1.2 Biofotólise indireta Os problemas de sensibilidade ao oxigénio na produção de hidrogénio são potencialmente iludidos através da separação temporal e/ou espacial da evolução do oxigénio e da evolução do hidrogénio. O processo ocorre em dois estágios separados que são acoplados pela fixação do CO2. O CO2 é primeiramente fixado em hidratos de carbono de armazenamento pelo microrganismo, crescendo em tanques abertos de baixo custo. O hidrato de Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 11 Vias renováveis de produção de hidrogénio carbono acumulado é então convertido para H2 numa segunda fase anaeróbia à luz em fotobiorreatores ou na fermentação escura em tanques. Numa típica biofotólise indireta, a produção de hidrogénio pode ser representada pelas seguintes reações: ( ) ( (2) ) (3) Muitos tipos de algas verdes e cianobactérias, além de terem a capacidade de fixar CO2 através da fotossíntese, também têm a capacidade de fixar nitrogénio da atmosfera e por isso, produzem enzimas que podem catalisar o segundo estágio da biofotólise indireta. As cianobactérias são os organismos mais estudados na biofotólise indireta. O metabolismo destes microrganismos para a produção de hidrogénio envolve três enzimas: a nitrogenase, a hidrogenase de assimilação e a hidrogenase bidirecional. • A nitrogenase catalisa a redução do nitrogénio com a liberação obrigatória de hidrogénio; • A hidrogenase de assimilação recicla o hidrogénio liberado pela ação da nitrogenase; • A hidrogenase bidirecional pode funcionar tanto no sentido de produção como no de consumo de hidrogénio. A nitrogenase é muito sensível ao oxigénio e em decorrência disso, as cianobactérias desenvolveram mecanismos e estratégias para proteger esse complexo enzimático tanto do oxigénio atmosférico, como do oxigénio gerado no interior das células pela fotossíntese. Relativamente à existência de uma produção eficaz de hidrogénio, várias pesquisas visam produzir e selecionar mutantes deficientes na atividade de Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 12 Vias renováveis de produção de hidrogénio assimilação de H2 e selecionar mutantes cuja hidrogenase bidirecional seja menos sensível ao oxigénio. Outra vertente de pesquisa para otimização da eficiência deste processo está relacionada com a nitrogenase. Esta enzima exige uma elevada quantidade de ATP, o que diminui a sua eficácia na conversão da energia solar. Assim, tem-se procurado alternativas de uma nitrogenase com menores requisitos energéticos. A biofotólise apesar de oferecer várias qualidades, no que diz respeito à utilização de energias renováveis, especialmente pouco ou nada poluentes, também apresenta certos problemas, sendo eles: A utilização da enzima nitrogenase com a inerente alta demanda energética; A baixa eficiência fotoquímica (3-10%); A não homogeneidade da distribuição da luz no reator, o que contribui para a redução da eficiência total da conversão da luz. 4.1.2 Fotodecomposição de compostos orgânicos por bactérias fotossintéticas As bactérias fotossintéticas produzem hidrogénio através da foto decomposição de compostos orgânicos. Neste processo fotossintético, a energia solar é aproveitada de forma a transformar água, compostos de enxofre ou compostos orgânicos em hidrogénio. A produção de hidrogénio por bactérias fotossintetizantes só acontece em locais iluminados e sujeitos a uma atmosfera inerte e anaeróbica. A enzima nitrogenase está intimamente associada à produção de H2. Esta enzima catalisa a reação em meios de cultura limitados de azoto. Nitrogenase: (4) Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 13 Vias renováveis de produção de hidrogénio As bactérias fotossintetizantes têm a capacidade de degradar por completo glicose em moléculas de hidrogénio e dióxido de carbono: (5) 4.1.3 Fermentação A fermentação constitui um processo anaeróbio, realizado por determinados microorganismos, durante o qual ocorre a oxidação/degradação de compostos orgânicos, noutros mais simples, com consequente libertação de energia. Este processo divide-se em duas etapas principais: a glicólise e a redução do ácido pirúvico. Durante a glicólise ocorre um conjunto de reações catalisadas por enzimas, que dão origem à produção de ATP, de ácido pirúvico e de NADH+. Quando um composto é oxidado ele perde electrões e hidrogénio. Assim, são gerados electrões, que vão sendo transferidos para coenzimas especializadas no transporte de electrões, em particular, o NADH+, que passa para sua configuração reduzida, NADH. O produto final destas reações designa-se ácido pirúvico, que na fase seguinte do processo de fermentação é reduzido pelo hidrogénio do NADH em diferentes compostos, de acordo com o tipo de fermentação em causa. Figura 3 - Fermentação alcoólica [4] Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 14 Vias renováveis de produção de hidrogénio Assim, na produção de hidrogénio por fermentação, o H2 é libertado pela ação de hidrogenases, isto é, enzimas que catalisam a oxidação do hidrogénio, como forma de anular o excesso de electrões produzidos durante a degradação de compostos orgânicos (glicose por exemplo). Em suma, a produção de hidrogénio a partir de métodos fermentativos assume-se como um processo tecnicamente viável, na medida em que, a base deste processo - as bactérias fermentativas - reproduzem-se facilmente, podem produzir hidrogénio constantemente, a partir de substratos orgânicos simples, sem necessidade de luz e com uma considerável velocidade de conversão. Tabela 1: Produção de hidrogénio por fermentação. [5] A fermentação mostra-se, efetivamente, um processo que apresenta algum potencial (quando comparada com outros processos biológicos), uma vez que, para além de já apresentar um rendimento algo considerável dadas as características anteriormente destacadas, estão a ser desenvolvidas e testadas mutações genéticas em bactérias fermentativas com o intuito de otimizar o processo. [3] No entanto, a dificuldade associada a este processo está, essencialmente, na seleção eficaz de bactérias que não consumam hidrogénio. Adicionalmente, do processo de fermentação resultam moléculas de CO2, o que implica que o resíduo Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 15 Vias renováveis de produção de hidrogénio da fermentação requeira tratamento para que sejam evitados prejuízos para o ambiente. 4.1.4 Eletrólise da água A eletrólise é um processo electroquímico, descoberto pelo físico e químico Michael Faraday, e ocorre quando é aplicada uma tensão a um par de eléctrodos inertes imersos numa solução condutora (por exemplo HCl, como indicado na figura 5). A aplicação desta tensão provoca o aparecimento de uma diferença de potencial entre os elétrodos, e a ocorrência de reacções de oxidação-redução. No caso particular da eletrólise da água pura, antes de tudo, é necessário adicionarlhe alguma substância, uma vez que, a água pura não é condutora de eletricidade condição essencial para que ocorra a sua eletrólise. Na eletrólise da água o que acontece é que a passagem da corrente elétrica provoca a quebra da ligação química existente entre os átomos constituintes da água: o hidrogénio e o oxigénio e, como tal, formam-se partículas carregadas, os iões. Figura 4 - Eletrólise da água [6] Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 16 Vias renováveis de produção de hidrogénio O hidrogénio é atraído para o cátodo, pólo negativo, e o oxigénio para o ânodo, pólo positivo. Figura 5 - Representação da captação do hidrogénio e do oxigénio pelos pólos positivo e negativo [6] A energia utilizada para realização desta reação pode ser variada, desde energia hidroelétrica, até eólica ou mesmo solar. [7] A quebra da ligação entre os átomos é, geralmente, efetuada com voltagem 1,24V em água pura a uma temperatura de 25ºC e uma pressão de 1,03 kg/cm2. Contudo, esta tensão pode variar mediante a alteração da temperatura e da pressão. Assim, para eletrolisar uma mole de água são necessários 65,3 watts-hora e um metro cúbico de hidrogénio requer 0,14 kilowatts/hora. [8] Eletrolisadores: Nos anos 70, a eletrólise era vista como um dos processos mais ineficazes e caros de produção de hidrogénio. Contudo, os eletrolisadores atuais são muito mais eficientes, podendo atingir valores máximos na ordem dos 90%. [9] Existem dois tipos principais de eletrolisadores: os Alcalinos e os PEM (Proton Exchange Membrane). Estes tipos de eletrolisadores possuem já uma vasta Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 17 Vias renováveis de produção de hidrogénio utilização em aplicações existentes no mercado, sendo que possuem a tecnologia mais desenvolvida e estudada. Figura 6 - Eletrolisador portátil com tecnologia PEM comercializado pela fabricante Protonenergy [10] Os eletrolisadores alcalinos utilizam uma solução aquosa de hidróxido de potássio (KOH) como electrólito. Este tipo de eletrolisadores é adequado para aplicações estacionárias e estão disponíveis para pressões reduzidas de funcionamento. O eletrolisador PEM, ao contrário dos alcalinos não requer um eletrólito líquido, o que simplifica o seu funcionamento. O seu eletrólito é uma membrana polimérica ácida. Estes eletrolisadores podem ser criados para pressões operacionais até várias centenas de bar, sendo adequado tanto para aplicações móveis como estacionárias. [11] Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 18 Vias renováveis de produção de hidrogénio 5 ANÁLISE COMPARATIVA Processos Vantagens -O hidrogénio é produzido -Requer através de água; para funcionar; -Grande Biofotólise directa Desvantagens conversão de energia solar. -É iluminação necessário solar inibir a inibir a nitrogenase por O2. -O hidrogénio é produzido -É através de água. necessário nitrogenase por O2; -Tem baixa eficácia. Biofotólise indirecta -Ampla quantidade de -Requer iluminação solar substâncias que podem ser para funcionar; usadas para produção de -Libertação hidrogénio. Bactérias fotossintéticas de CO2; -O resíduo precisa de ser tratado. -Não requer iluminação; -Dificuldade em seleccionar -Produzhidrogénio bactérias que não consumam constantemente e a grande hidrogénio; velocidade. Fermentação -Libertação de CO2; -O resíduo precisa de ser tratado. -Tem um alto rendimento de - Elevado hidrogénio. eletricidade custo da Eletrólise da água Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 19 Vias renováveis de produção de hidrogénio 6 VIABILIDADE ECONÓMICA Com o avançar do tempo, urge uma necessidade cada vez mais incessante na procura de alternativas para combater a poluição e o gasto dos combustíveis fósseis, atribuindo destaque ao hidrogénio como uma alternativa sugestiva para alcançar tais fins. A produção de hidrogénio, por vias renováveis, apesar de apresentar algumas vantagens, nem sempre apresenta a rentabilidade desejada ou não se apresenta economicamente atrativa. O hidrogénio não é encontrado na natureza no seu estado puro, por isso para ser extraído da sua fonte de origem, que podem ser várias, é necessário o uso de uma determinada quantidade de energia. Essa quantidade de energia, por vezes, é maior do que aquela que o hidrogénio é capaz de produzir, o que, consequentemente, torna a produção de hidrogénio economicamente pouco competitiva frente às outras alternativas de produção de energia renovável. No entanto, a razão essencial pela qual o hidrogénio desperta interesse prende-se com o facto, deste elemento apresentar pequena massa específica com alto poder calorífico. Em suma, no seu atual estágio tecnológico, o hidrogénio é consumido a nível industrial e estima-se que a viabilidade económica do hidrogénio somente será possível em grande escala. Admite-se o predomínio do gás natural como fonte primária de energia a ser convertida em hidrogénio, dado o ainda insipiente desenvolvimento de tecnologias para o uso do etanol e outras biomassas. Com o desenvolvimento de novas alternativas, as fontes de energia renováveis passarão a ser predominantes. Claro que, o objetivo fulcral é a sua comercialização a preços competitivos, com qualidade, confiabilidade e segurança no seu fornecimento. Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 20 Vias renováveis de produção de hidrogénio 7 CONCLUSÃO Dada a conjuntura actual, isto é, a elevada utilização do petróleo e, consequentemente, os problemas de escassez a si associados, é necessário apostar noutras formas de obtenção de energia. O hidrogénio apresenta várias características que fazem dele um excelente vetor energético, apresentando-se, portanto, como uma alternativa aos comuns combustíveis fósseis. Porém, para que o hidrogénio seja uma alternativa suficientemente viável sob o ponto de vista industrial, são necessários avanços tecnológicos que otimizem os processos de produção de hidrogénio, sobretudo, ao nível das vias renováveis. Como foi analisado, os processos biológicos são os que implicam um menor gasto de energia para a produção de hidrogénio, no entanto, assumem-se como mais lentos e mais susceptíveis às mudanças do meio. Apesar disso, facilmente se verifica que destes mesmos processos, a fermentação merece algum destaque, uma vez que, para além de já apresentar um rendimento considerável, está em vias de desenvolvimento. No entanto, ponderando os fatores custo, rendimento e eficiência, conclui-se que a eletrólise é, atualmente, o processo renovável de obtenção de hidrogénio que apresenta maior desenvolvimento. Projeto FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 21 Vias renováveis de produção de hidrogénio 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] O combustível hidrogénio. Disponível em: http://www.ipv.pt/millenium/Millenium31/15.pdf, acesso em 14 de Outubro de 2012; [2] Almeida, Aníbal Traça; Moura, Pedro Soares; “Hidrogénio e Células de Combustível”, disponível em http://nautilus.fis.uc.pt/gazeta/revistas/29_1-2/vol29_1_2_Art08.pdf acesso em Outubro 2012; [3] http://www.lamtec-id.com/energias/hidrogenio.php, acesso em Outubro de 2012 [4] O mundo da Bioquímica. Disponível em: http://mundodabioquimica.blogspot.pt/2011/08/fermentacaoalcoolica.html, acesso em Outubro de 2012; [5] Logan, B.E.; Oh S.; Kim, I.S.; Ginkel, S.V.. Biological Hydrogen Production Measured in Batch Anaerobic Respirometers. Environmental Science andTechnology, v. 36, p.2530-2535, 2002. [6] Energias renováveis e o planeta. 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