CLIMATOLOGIA DA REGIÃO LITORÂNEA CEARENSE
O estudo climatológico, aqui apresentado, tem por objetivo apresentar uma
caracterização climática da região litorânea do Estado do Ceará e dos principais sistemas
convectivos atuantes na região. Foram estudadas as seguintes grandezas: temperatura,
umidade
relativa,
evapotranspiração
insolação,
potencial.
velocidade
Para
e
direção
representar
a
dos
ventos,
climatologia
da
evaporação
região
e
foram
selecionadas duas estações: Aracati e Fortaleza.
1.PRINCIPAIS SISTEMAS SINÓTICOS ATUANTES NO LITORAL CERARENSE
Os principais sistemas sinóticos atuantes na região litorânea cearense são de
uma maneira geral os mesmos que atual no Estado como um todo. Há uma menor
influência, entretanto, dos sistemas frontais - que atuam mais ativamente no sul do
Estado, e a maior influência das Linhas de Estabilidade, sistema resultante da
proximidade do litoral.
1.1.
Zona de Convergência Intertropical -ZCIT
Reconhece-se como o principal mecanismo organizador de conveccção em todo o
Ceará a proximidade da ZCIT. Esta zona é um verdadeiro cinturão de baixa pressão
formado sobre os oceanos equatoriais e é assim denominada por se tratar da faixa para
onde os ventos alísios dos dois Hemisférios convergem, constituindo uma banda de
grande convecção, altos índices de precipitação e movimento ascendente. Ela se
aproxima de sua forma quase linear sobre o Oceano Atlântico, onde se apresenta,
geralmente, como uma faixa latidudinal bem definida de nebulosidade, onde interagem
entre si a Zona de Confluência dos Alísios (ZCA), o Cavalo Equatorial, a zona máxima
Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e a banda de máxima cobertura de nuvens
convectivas, não necessariamente a uma mesma latitude, mas muito próximos uns dos
outros (Uvo, 1989).
A verdade é que o conjunto acima, como um todo, tem um deslocamento
meridional durante o ano, podendo a ZCIT ser representada pelo deslocamento de
apenas um dos elementos integrantes, devido a alta correlação existentes entre eles. É
comum considerar o deslocamento da banda de máxima cobertura de nuvens como
respresentativo do movimento da ZCIT.
1
Era de se esperar que a ZCIT se situasse sobre a Linha do Equador, porém,
devido a maior parte dos continentes se encontrar no Hemisfério Norte (HN) e a cobertura
de gelo ser maior na Antártica, a faixa de água do mar e ar mais aquecidos se localiza
não no Equador Geográfico, mas ao norte dele, no chamado Equador Meteorológico,
região esta onde a ZCIT permanece grande parte do ano. Ela se desloca na direção
meridional, entre 14o N e 02o S de latitude, seguindo, com certo atraso, o movimento intraanual do sul (Climanálise, 1986).
As variações sazonais da precipitação no estado do Ceará parecem estar
intimamente ligadas às oscilações latitudinais da ZCIT sobre o Atlântico, sendo a estação
chuvosa coincidente com a posição mais ao sul que a ZCIT atinge durante os meses de
março a abril. A medida que essa começa o seu retorno para o HN, atingindo sua máxima
posição norte em agosto e setembro, o ar ascende sobre a ZCIT e descende sobre o
Atlântico Subtropical Sul, criando condições pouco propícias à formação e nuvens sobre a
região (estação seca).
1.2.
Vórtices ciclônicos de ar superior - VCAS
A região litorânea do Ceará, assim como todo o restante do Estado, é
influenciada, além da ZCIT, por vários sistemas meteorológicos transientes que atuam
como forçantes para organizar a convecção nessas regiões. Um desses sistemas é o
VCAS (Kousky e Gen, 1981).
Esses vórtices formam-se sobre o Atlântico Sul, principalmente durante o verão
do HS (sendo janeiro o mês de atividade máxima), e adentram freqüentemente nas áreas
continentais próximas a Salvador (13o S, 38o W) tendo um efeito pronunciando na
atividade convectiva sobre toda a região Nordeste.
As “baixas frias da alta troposfera” (ou VCAS) constituem sistemas de baixa
pressão, cuja circulação ciclônica fechada caracteriza-se por baixas temperaturas em seu
centro (com movimento subsidente de ar seco e frio) e temperaturas mais elevadas em
suas bordas (com movimento ascendente de ar quente e úmido). Com relação às
características de tempo relacionadas a estes sistemas, observam-se condições de céu
claro nas regiões localizadas abaixo de seu centro e tempo chuvoso nas regiões sob sua
periferia. Em geral, a parte norte do Nordeste, onde o Ceará se situa, experimenta um
aumento de nebulosidade associada a chuvas fortes à medida que o vértice se move para
2
a costa; as partes sul e central do Nordeste, por sua vez, apresentam diminuição de
nebulosidade
Os mecanismos de formação dos VCAS de origem tropical não são totalmente
conhecidos. No entanto, Kousky e Gan (1981) sugerem que a penetração de sistemas
frontais, devido a forte advecção quente que os procede, induzem a formação dos VCAS,
especialmente nas baixas e médias latitudes. Esta advecção amplifica a crista de nível
superior, e consequentemente o cavado a leste formando, em última instância, um vórtice
ciclônico sobre o Atlântico.
1.3.
Linhas de Instabilidade - LI
As brisas marítimas e terrestres são circulações locais que ocorrem em resposta
ao gradiente horizontal de pressão que, por sua vez, é provocado pelo contraste de
temperatura diário entre oceano e continente (Chandler, 1972 e Hawkins, 1977).
Uma das características da brisa marítima consiste na formação de uma linha de
Cumulonimbus (Cbs) ao longo do extremo norte-nordeste da América do Sul, que pode se
propagar como uma LI, ocasionando chuvas nas áreas litorâneas do Ceará. Este
desenvolvimento ao longo da costa sofre variação sazonal tanto na localização como na
freqüência de aparecimento. Variações na intensidade também ocorrem no decorrer do
ano. Os fenômenos de grande escala reforçaram ou inibem os efeitos provocados pelas
circulações locais (Riehl, 1979). Uma série de distúrbios de escala sinótica (1000 a
7000km) influenciam diretamente essas circulações no sentido de aumentar (ou diminuir)
suas atividades. Entre estes sistemas podemos criar o deslocamento de massa de ar frio
para regiões mais quentes formando zonas frontais e a mudança sazonal do escoamento
atmosférico nos centros de pressão e da posição da ZCIT. As Linhas de Instabilidade são
mais freqüentes ao norte do Equador no inverno e primavera do HS, embora as mais
intensas ocorram, em geral, ao sul do Equador, durante o verão e outono do HS, quase
sempre associadas à intensa atividade convectiva da ZCIT. Nos meses em que não há
desenvolvimento da linha convectiva na costa Norte-Nordeste do Brasil, a ZCIT está
deslocada para a sua posição mais ao norte ou há forte convergência na parte oeste do
continente produzindo movimento subsidente e ausência de precipitação na costa NorteNordeste do Brasil.
Embora o desenvolvimento das LI associadas à brisa marítima sejam
dependentes da localização e intensidade de sistemas sinóticos, tal atividade convectiva
3
pode, em alguns casos, formar-se isoladamente sob influência apenas da diferença de
aquecimento superficial diurno (Cavalcanti, 1982; Hubert et alli, 1969; Seha, 1974;
Grubep, 1972).
4
2. CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA
É prática corrente em nosso Estado a utilização dos dados contidos no Plano
Estadual de Recursos Hídricos em estudos desta natureza, entretanto há que se
considerar que as séries históricas dos vários parâmetros climatológicos usadas neste
plano são relativamente pequenas. Uma alternativa ao uso dos dados PERH é a utilização
das Normais Climatológicas 1961 a 1990, publicadas pelo INEMET, em 1992.
No PERH observa-se que as únicas estações que caracterizam o clima litorâneo
do Ceará são Aracati e Fortaleza; as demais representam regiões no interior do Estado. A
publicação do INEMET, por sua vez, embora apresente dados da estação meteorológica
de Fortaleza, exclui totalmente a estação de Aracati.
Outro fator importante a ser considerado é que os parâmetros meteorológicos
apresentados pelas duas fontes não são rigorosamente os mesmos. Assim sendo,
quando da duplicidade de informação, este estudo recorrer-se-á à série mais longa
(Normais Climatológicas); . no caso da inexistência da informação nesta fonte, recorrerse-á ao PERH.
2.1.Cálculo dos parâmetros climatológicos
Os dados referentes Fortaleza foram extraídos das Normais Climatológicas, com
exceção dos dados de vento e da evaporação do tanque Classe A, extraídos do PERH.
Os parâmetros de Aracati foram retirados exclusivamente do PERH, pelas razões já
mencionadas. As características de ambas as estações são apresentadas na Tabela 2.1.
Tabela 2.1 - Características das Estações Meteorológicas nolitoral do Ceará
Coordenadas
Nome da
Estação
Código
Aracati
Fortaleza
Altitude
Fonte
Período de
Operação
Latitude
Longitude
2894148
04º 34'
37º 46'
13m
PERH
1958 - 1968
82397
03º 46'
38º 36'
26,45m
INEMET
1961-1990
Fontes: PERH(1988) e INEMET(1992)
No estudo foram analisados as seguintes grandezas meteorológicas: temperatura,
umidade relativa, insolação, ventos, evaporação do tanque Classe A e evapotranspiração
potencial.
2.1 - Temperatura
5
A distribuição temporal das temperaturas diárias mostra pequenas variações para
os três pontos discretos de monitoramento (12:00; 18:00 e 24:00 TMG - Tempo Médio de
Greenwich), sendo tais flutuações processadas, sob uma visão contínua no tempo, com
pequenos gradientes.
A temperatura média compensada é obtida por ponderação entre as temperaturas
observadas nas estações meteorológicas T12 e T24 TMG, TMAX e TMIN do dia,
pela
seguinte fórmula estabelecida pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) :
Tcomp =
T12 + 2.T24 + TMAX + TMIN
5
(2.1)
onde
Tcomp - Temperatura média compensada,
T12 - Temperatura observada às 12:00 TMG,
T24 - Temperatura observada às 24:00 TMG,
TMAX - Temperatura máxima do dia e
TMIN - Temperatura mínima do dia.
O regime térmico da região é caracterizado por temperaturas pouco amenas,
tendo seus valores máximos variando de 29,4ºC em Aracati (em abril) a 30,7ºC em
Fortaleza (novembro e dezembro). Considerando os postos individualmente, observa-se
temperaturas relativamente estáveis e de reduzidas amplitudes.
Os valores mínimos ocorrem logo após a quadra chuvosa, nos meses do inverno
austral, junho, julho e agosto, não atingindo temperaturas médias mínimas inferiores a
20ºC.
São apresentadas, nas tabela 2.2 e 2.3, os valores de temperaturas máximas,
mínimas
e compensadas para cada uma das estações e, na sequência, as
correspondentes Figuras 2.1 a 2.3.
Tabela 2.2 - Temperaturas Máximas, Mínimas e Compensadas (°C) na estação de Aracati
(1958-1968)
T
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
Média
Comp.
26,5
26,5
26,4
26,0
26,2
25,8
25,3
25,3
25,5
26,1
26,3
26,5
26,0
Máxima
29,1
29,2
29,2
29,4
29,3
28,8
28,6
28,4
28,4
28,7
27,4
28,3
28,7
6
Mínima
22,3
21,8
21,5
21,2
21,7
20,5
22,1
20,8
20,7
21,4
22,2
21,6
21,4
FONTE: Plano Estadual de Recursos Hídricos, 1992
Tabela 2.3 - Temperaturas Máximas, Mínimas e Compensadas (°C) na estação de
Fortaleza (1961 - 1990)
T
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
Média
Comp.
27.3
26,7
26,3
26,5
26,3
25,9
25,7
26,1
26,6
27,0
27,2
27,3
26,6
Máxima
30,5
30,1
29,7
29,7
29,1
29,6
29,5
29,1
29,2
30,5
30,7
30,7
29,9
Mínima
24,7
23,2
23,8
23,4
23,4
22,1
21,8
22,6
23,4
24,5
24,4
24,6
23,5
FONTE: INEMET (1992)
Temperaturas Compensadas nas estações de
Aracati e Fortaleza (ºC)
27,5
Temperatura
27,0
26,5
26,0
25,5
25,0
24,5
24,0
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
mês
Aracati
Fortaleza
Figura 2.1 – Temperaturas Médias Compensadas nas estações de Aracati e Fortaleza
(ºC)
7
Temperatura Máxima nas estações de
Aracati e Fortaleza (ºC)
31
Temperatura
30
29
28
27
26
25
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
Mês
Aracati
Fortaleza
Figura 2.2 – Temperaturas Máximas nas estações de Aracati e Fortaleza (ºC)
Temperatura Mínima nas estações de
Aracati e Fortaleza (ºC)
30
Temperatura
25
20
15
10
5
0
JAN
FEV MAR ABR
MAI
JUN
JUL
AGO SET
OUT NOV DEZ
mês
Aracati
Fortaleza
Figura 2.3 – Temperaturas Mínimas nas estações de Aracati e Fortaleza (ºC)
2.2.- Umidade Relativa
8
A umidade média anual na região se situa em torno de 70%. As variações
mensais estão intimamente relacionadas às irregularidades temporais do regime
pluviométrico. Os maiores valores de umidade em Fortaleza se dão nos meses da quadra
chuvosa. Observa-se um comportamento diferenciado em Aracati, com indices menores
de umidade, com o mês mais se situando, em média, em novembro e dezembro. O
período menos úmido, em termos gerais, se situa no segundo semestre do ano, nos
meses de agosto a novembro, como pode ser observado na Tabela 2.4 e Figura 2.4.
Tabela 2.4 - Umidade Relativa nas estações de Aracati (1958 - 1968) e Fortaleza (1961 1990) (em %)
Estação
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
Média
Aracati
60
65
68
69
67
75
61
55
62
63
75
77
66,4
Fortaleza
78
79
84
85
82
80
80
75
74
73
74
76
78,3
FONTES: Plano Estadual de Recursos Hídricos (1992) e INEMET (1992).
Umidade
Umidade relativa nas estações de
Aracati e Fortaleza (%)
100
80
60
40
20
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
mês
Aracati
Fortaleza
Figura 2.4 - Umidade Relativa nas estações de Aracati e Fortaleza (em %)
2.3 - Insolação Média
A Tabela 5, juntamente com a Figura 2.5, mostram o número médio de horas de
exposição ao sol, e sua distribuição mensal, nas estações meteorológicas de Aracati e
Fortaleza. Em escala anual, a insolação na região se situa em torno de 2.911 horas,
sendo os meses de menor insolação àqueles correspondentes ao período chuvoso,
devido à presença de nebulosidade.
9
Tabela 2.5 - Insolação média mensal nas estações de Aracati (1958 - 1968) e Fortaleza
(1961 - 1990) (em horas)
Est
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
Total
Arac
244,0
203,0
203,0
192,0
187,0
251,0
267,0
287,0
302,0
318,0
299,0
278,0
3.031,0
Fort.
216,2
175,8
148,9
152,8
209,1
239,6
263,4
168,9
282,9
266,1
283,2
257,4
2.694,3
FONTE: Plano Estadual de Recursos Hídricos (1992) e INEMET (1992).
Insolação média mensal nas estações de
Aracati e Fortaleza
350
300
Insolação
250
200
150
100
50
0
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
mês
Aracati
Fortaleza
Figura 2.5 - Insolação média mensal nas estações de Aracati e Fortaleza (em horas)
2.4 - Ventos
Os dados de ventos - velocidade e direção - não estão disponibilizados na
publicação das Normais Climatológicas - 1961 a 1990. Desta forma usar-se-ão as
informações contidas no PERH.
Os valores de velocidade dos ventos que sopram na região, conforme pode ser
visto Tabela 2.6 e Figura 2.6, são de uma maneira geral e ao longo do ano, ventos fortes,
com velocidades superiores a 4 m/s, a partir de agosto. A direção dos ventos
predominantes nas duas estações é E-SE.
Tabela 6 – Velocidade dos Ventos nas estações de Aracati e Fortaleza (em m/s)
ESTAÇÕES
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
Média
Aracati
4,2
4,1
3,2
3,0
2,9
3,2
5,1
5,7
5,9
5,8
5,3
5,0
4,45
10
3,6
Fortaleza
3,1
2,4
2,3
2,8
3,1
3,5
4,4
4,9
4,6
4,5
OUT
NOV
4,5
3,64
FONTE: Plano Estadual de Recursos Hídricos (1992).
Velocidade dos ventos nas estações de
Aracati e Fortaleza (m/s)
7,0
velocidade
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
DEZ
mês
Aracati
Fortaleza
Figura 2.6 – Velocidade dos ventos nas estações de Aracati (1958 - 1968) (em m/s)
2.5 - Evaporação Média
Os dados referentes à evaporação no Tanque Classe A foram retirados do PERH,
uma vez que este parâmetro, nas Normais Climatológicas, foi medido pelo atmômetro de
Piche.
A região caracteriza-se por altas taxas de evaporação, o que acarreta perdas
significativas das reservas acumuladas e contribuem para o deficit hídrico na bacia. A
evaporação anual média observada em Aracati e Fortaleza foi, respectivamente, de
2091mm e 1.649 mm, distribuída ao longo dos meses segundo a Tabela 2.7 e a Figura
2.7.
O período de estiagem - julho a dezembro - responde por cerca de 60% do total
evaporado anualmente, sendo os meses de setembro e outubro os mais críticos.
Tabela 2.8 - Evaporação Média em Aracati e Fortaleza (em mm)
ESTAÇÃO
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
Total
Aracati
144
129
128
99
128
162
197
235
244
248
201
176
2091
11
149
Fortaleza
109
85
74
85
95
123
173
193
197
185
181
1649
FONTE: Plano Estadual de Recursos Hídricos, 1992.
Evaporação média mensal nas estações de
Aracati e Fortaleza (em mm)
350
Evaporação
300
250
200
150
100
50
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
mês
Aracati
Fortaleza
Figura 2.7 – Evaporação Média nas estações de Aracati e Fortaleza (em mm)
Os dados de evaporação média mensal foram calculadosa partir da leituras no
tanque "Classe A", representando, portanto, o volume de água desprendido de uma
superfície líquida plana para a atmosfera.
Deve-se ressaltar, entretanto que, para adotar estes valores como representativos
da evaporação em açudes, principalmente pequenos e médios, deve-se multiplicar estes
valores por um coeficiente entre a evaporação do açude e a evaporação no Tanque
Classe A (Ka,).
Molle e Cadier (1989) aconselham os valores mostrados na Tabela 2.9 para Ka,
em função da superfície do espelho.
Tabela 2.9 – Valores de Ka - coeficiente entre a evaporação do açude e a evaporação no
Tanque Classe A - em função da superfície do espelho d’água
Superfície (ha)
Situação
0a5
5 a 10
12
10 a 20
20 a 50
>50
Normal
0,90
0,85
0,80
0,75
0,70
Bem Protegida
0,81
0,77
0,72
0,68
0,63
FONTE: Molle e Cadier (1989)
2.6 - Evapotranspiração Potencial
O método de Penman-Monteith foi recomendado pela Food and Agriculture
Organization of the United Nations (FAO) no fórum intitulado "Expert Consultant on
Revision of FAO Methodologies for Crop Water Requirements", realizado em Roma em
1990, o qual tinha como objetivo revisar a publicação FAO no.24, publicada nos anos 70
e, considerada até então, referência internacional e extensamente usada em todo o
mundo por profissionais da área de irrigação.
O Método de Penman-Monteith, recomendado pelo fórum acima citado, foi
considerado como mais preciso para o cálculo da evapotranspiração potencial.
Basicamente constitui-se em uma metodologia baseada no efeito combinado do
transporte convectivo das massas de ar e da radiação líquida. Sua equação é mostrada a
seguir:
onde:
Δ vap ( Rn − G ) + ρ ar .c p (
λe .ETpot =
λ
e
= ( 2501
Δ vap + γ (1 +
− 2 , 36 T ar ). 1000
es − ea
)
ra
rs
)
ra
J
Kg . K
se Tar > 0
es = 6,19780. exp(17,08085.
Tar
(234,174 + Tar )
se Tar ≤ 0
es = 6,10714. exp(22,44294
Tar
).
(272,44 + Tar )
13
Onde ETpot - evapotranspiração potencial, λe - entalpia da evaporação da água, Δvap curva que descreve a pressão de saturação do vapor d'água, ea - pressão de saturação
do vapor, γ - constante do psicrômetro, rs - bulk resistance resistance, ra - resistência
aerodinâmica, Rn - balanço de radiação, G - fluxo de calor através do solo e Tar - a
temperatura do ar (°C).
Pela complexidade dos cálculos envolvidos, a FAO desenvolveu um software,
chamado CROPWAT, o qual entre outras coisas, calcula a evapotranspiração pelo
método de Penman-Monteith, tendo como entrada apenas as temperaturas máximas e
mínimas mensais (ou temperaturas médias mensais), umidade relativa, insolação e
velocidade do vento.
Os valores da evapotranspiração potencial mensal, para a estação de Aracati,
mostrada na Tabela 2.10, foram retirados de estudo de autoria do prof. Francisco de
Souza et allii "Avaliação dos Estudos Hidroclimatológicos do Plano estadual de
Recursos Hídricos
do Ceará". No caso da estação de Fortaleza, foi usado o software
CROPWAT da Food and Agriculture Organization - FAO. Quanto aos dados de entrada
para esta estação, foram utilizadas as temperaturas máximas e mínimas, umidade relativa
e insolação das Normais Climatológicas (INEMET, 1992); entretanto, os dados relativos
às velocidades dos ventos foram retirados do PERH (1992), uma vez que não se
encontram disponibilizados na publicação no INEMET.
14
Tabela 2.10 - Evapotranspiração Potencial Média nas estações de Aracati e Fortaleza
(mm) pelo método de Penman-Monteith
Meses
Aracati1
Fortaleza2
JAN
192,0
146,3
FEV
162,40
137,9
MAR
161,2
116,9
ABR
147,00
112,2
MAI
142,6
120,3
JUN
135,00
125,9
JUL
186,00
131,1
AGO
217,00
136,4
SET
204,00
171,4
OUT
213,90
176,1
NOV
165,00
177,0
DEZ
164,30
163,7
TOTAL
2.090,60
1759,3
FONTE: (1) Souza et alli, (1995) - série: 1958 a 1968 (2) 1961 a 1990
evapotranspiração
potencial (mm)
Evapotranspiração potencial nas estações de Aracati e
Fortaleza
250
200
150
100
50
0
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
meses
Aracati
Fortaleza
Figura 2.8 – Evapotranspiração Potencial e Aracati calculada pelo método PenmanMonteith
2.2.7 - Precipitação Pluviométrica
15
A região em estudo apresenta um clima típico de regiões
semi-áridas,
caracterizado por uma pronunciada variabilidade espacial e temporal de chuvas. O curso
sazonal da precipitação é caracterizado pela concentração da pluviosidade em poucos
meses, o que torna a estação chuvosa bem definida. Cerca de 90% das precipitações
anuais ocorrem no primeiro semestre do ano, sendo o período mais chuvoso
compreendido entre fevereiro e maio. Esta alta variabilidade temporal também ocorre a
nível anual - anos extremamente chuvosos ou extremamente seco não são raros.
Os estudos pluviométricos, a seguir, visam basicamente apresentar o regime de
chuvas a nível mensal, trimestral e semestral (Tabela 2.13 e figuras 2.13 e 2.14) na região
em estudo.
A nível mensal, observa-se que o mês mais chuvoso em Aracati é março
atingindo os valores de 251,6mm: Fortaleza tem, em média seu mês mais chuvoso em
abril - 348,1 mm, representando, respectivamente, 25,5% e 21,2% dos totais médios
precipitados no ano (Tabela 2.11 e figuras 2.9 e 2.10).
Tabela 2.11- Precipitação média mensal para os postos de Aracati e Fortaleza (mm)
Meses
Aracati
Fortaleza2
JAN
110,08
129,6
FEV
197,38
215,6
MAR
251,6
338,6
ABR
189,01
348,1
MAI
103,98
226,1
JUN
35,96
160,1
JUL
9,90
91,4
AGO
2,25
31,2
SET
4,64
22,8
OUT
3,85
15,6
NOV
14,69
13,4
DEZ
62,42
49,8
TOTAL
985,76
1642,3
(2) Normais Climatológicas
16
300
250
200
150
100
50
0
Aracati
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
Figura 2.9- Distribuição das precipitações médias mensais no posto pluviométrico de
Aracati.
400
350
300
250
200
150
100
50
0
Fortaleza
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
Figura 2.10 - Distribuição das precipitações médias mensais no posto pluviométrico de
Fortaleza.
17
A nível trimestral, pode-se observar na Tabela 2.12 e nas figuras 2.11, que para o
posto de Aracati, o trimestre mais chuvoso é o fevereiro a abril, com um total de
637,99mm, correspondendo a cerca de 65% do total precipitado no ano, em média.
Para o posto de Fortaleza (Figura 2.12),
os maiores valores acumulados
trimestralmente ocorrem de março a maio (912,8mm) correspondendo a 56% do valor
médio observado durante todo o ano (1642,3mm).
Tabela 2.12 – Características das precipitações a nível trimestral em Aracati e Fortaleza
(em mm)
JFM
FMA
MAM
AMJ
MJJ
JJA
JAS
ASO
SON
OND
NDJ
DJF
Arac
559,06
637,99
544,59
328,95
149,84
48,11
16,79
10,74
23,18
80,96
187,19
369,88
Fort
683,8
902,3
912,8
734,3
477,6
282,7
145,4
69,6
51,8
78,8
192,8
395
Aracati
700
600
Precipitação
500
400
300
200
100
0
JFM
FMA
MAM
AMJ
MJJ
JJA
JAS
ASO
SON
OND
NDJ
DJF
Trimestre
Figura 2.14. - Distribuição das precipitações médias a nível trimestral no posto de Aracati
18
Fortaleza
1000
900
Precipitação
800
700
600
500
400
300
200
100
0
JFM
FMA
MAM
AMJ
MJJ
JJA
JAS
ASO
SON
OND
NDJ
DJF
trimestre
Figura 2.15. - Distribuição das precipitações médias a nível trimestral no posto de
Fortaleza (INEMET)
Quando se analisa as distribuições semestrais (Tabela 2.13 e Figuras 2.16 e 2.17)
nota-se que o semestre de maior precipitação para o posto de Aracati é o que vai de
dezembro a maio , em um total de 914,47mm, correspondendo a 93% do total anual. Já
no posto de Fortaleza, é o que vai de janeiro a junho; neste período precipita, em termos
médios, 86% do total anual, ou seja 1.418,1 mm.
Tabela 2.13. – Características das Precipitações Mensais, a nível Semestral em Aracati,
Jaguaruana e Morada Nova (em mm)
JJ
FJ
MA
AS
MO
JN
JD
AJ
SF
OM
NA
DM
Arac
888,01 787,83 592,7 345,74 160,58 71,29
97,75 197,93 393,06 640,02 825,18 914,47
Fort
1418,1 1379,9 1195,5 879,7
224,2
547,2
334,5
19
1000
900
262,4
446,8
762,6 1095,1 1307,8
Figura 2.16. - Distribuição das precipitações médias a nível semestral no posto de Aracati
Fortaleza
1600
1400
Precipitação
1200
1000
800
600
400
200
0
JJ
FJ
MA
AS
MO
JN
JD
AJ
SF
OM
NA
DM
semestre
Figura 2.17. - Distribuição das precipitações médias a nível semestral no posto de
Fortaleza
2.2.8. - Classificação Climática
Neste trabalho utilizar-se-á o sistema de classificação de Köppen, extensamente
usado para classificar os climas do mundo, seja na sua forma original ou com
modificações. Evitou-se o método de Thornthwaite, uma vez que a evapotranspiração foi
calculada pelo método de Penman-Monteith.
20
As categorias de classificação de clima do Método de Köppen são baseadas nas
médias anuais e mensais da temperatura e da precipitação. O sistema de Köppen
reconhece cinco tipos climáticos principais; cada tipo é designado por uma letra maiúscula
(Ayoade, 1988):
A - Climas tropicais chuvosos - O mês mais frio tem temperatura média
superior a 18°C. A precipitação pluvial anual é maior do que a evapotranspiração
anual
B - Climas secos - A evapotranspiração potencial média anual é maior que a
precipitação média anual.
C - Climas temperados chuvosos e moderadamente quentes - O mês mais
frio tem temperatura média entre -3°C e 18 °C. O mês mais moderadamente
quente tem uma temperatura média maior do que 10°C.
D - Climas frios com neve-floresta - O mês mais frio tem temperatura abaixo de
-3°C e o mês mais moderadamente quente tem temperatura média maior que
10°C.
E - Climas polares
- O mês mais moderadamente quente tem temperatura
média menor que 10°C.
Em ambas as estações - Aracati e Fortaleza - têm-se uma evapotranspiração
potencial média anual superior à precipitação média anual, enquadrando-se a região
litorânea do Ceará na categoria de clima "B".
Como as outras categorias, a do tipo B subdivide-se ainda em outros sub-grupos,
em função da distribuição sazonal da precipitação e de características adicionais de
temperatura.
Para o clima tipo B têm-se que:
BSh - Clima quente de estepe
BSk - Clima frio de estepe
BWh - Clima quente de deserto
BWk - Clima frio de deserto
onde:
S - estação seca de verão
W - estação seca de inverno
21
h - quente, temperatura média anual superior a 18°C (para regiões semi-áridas).
k - moderadamente frio, temperatura média anual menor que 18°C (para regiões
semi-áridas).
Considerando que a estação chuvosa da área em estudo, representada pelas
estações meteorológicas de Fortaleza e Aracati, concentra-se no quadrimestre fevereiro a
maio, representando em torno de 70% das precipitações médias anuais e que, apenas
cerca de 30% das precipitações ocorrem no trimestre dezembro a fevereiro, o verão,
portanto do hemisfério sul, há que se classificar a área sendo do subgrupo " S - estação
quente de verão ".
No que se refere à temperatura, a área em estudo apresenta temperatura média
anual em torno de 26°C, classificando -se portanto no subgrupo " h - quente, temperatura
média anual superior a 18°C ".
Sendo assim, a área litorânea do Ceará é classificada pela metodologia proposta
por Köppen como sendo BSh, ou seja, clima semi-árido quente com estação seca de
verão.
2.2.9. - Balanço Hídrico
Para estimar o balanço hídrico da região, utiliza-se a diferença entre a
evapotranspiração potencial (calculada pelo método Penman Monteith) e a precipitação
média mensal. O balanço hídrico para as estações de Aracati e Fortaleza encontram-se,
respectivamente, nas Figuras 2.18 e 2.19.
22
Balanço Hídrico
Aracati
300
P-ETP
250
200
150
100
50
0
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
mês ETP
Pmedia
Figura 2.18- Balanço Hídrico na estação de Aracati
Balanço Hídrico
Fortaleza
400
350
mês
300
250
200
150
100
50
0
J
F
M
A
M
J
J
A
P-ETP
Pmedia
ETP
Figura 2.18- Balanço Hídrico na estação de Fortaleza
23
S
O
N
D
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