UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL PROPOSTA DE ALTERAÇÕES DAS ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS SOB A ÓTICA DA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: ESTUDO DE CASO EM UNIDADE HABITACIONAL DE CUIABÁ/MT LAÍS BRAGA CANEPPELE Profa. Dra. MARTA CRISTINA DE JESUS ALBUQUERQUE NOGUEIRA ORIENTADORA Cuiabá/MT 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL PROPOSTA DE ALTERAÇÕES DAS ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS SOB A ÓTICA DA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: ESTUDO DE CASO EM UNIDADE HABITACIONAL DE CUIABÁ/MT LAÍS BRAGA CANEPPELE Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e A mbiental da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Edificações e Amb iental. Profa. Dra. MARTA CRISTINA DE JESUS ALBUQUERQUE NOGUEIRA ORIENTADORA Cuiabá/MT 2014 AGRADECIMENTOS À DEUS que me guiou neste caminho e me fortaleceu nas dificuldades; À minha orientadora Profª. Dr.ª Marta Cristina de Jesus Albuquerque Nogueira por toda a orientação emocional, instrumental e teórica para a dissertação e para a vida; Ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia de Edificações e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso pela oportunidade de crescimento profissional; A CAPES pelo recurso financeiro necessário para o desenvolvimento dos estudos; Ao casal Karyna Rosseti e Igor Kunen pela paciência e acolhimento ao me receber em sua residência; Aos colegas do programa, em especial Daniel Moussalem Apolonio, Emilly Marques Silva Freire, Luciana Oliveira da Silva, Oana Cristina da Veiga Walendolf e Rainy da Conceição Soares, por todo apoio e companhia; Aos colegas da instituição, Luis Anunciação, Raquel Moussalem e Luciana Durante, pelo suporte técnico e teórico; Aos meus pais Carlos Caneppele e Maria Aparecida Braga Caneppele, irmãos Daniel e André Braga Caneppele e familiares pelo apoio emocional e financeiro em toda minha vida; Ao meu grande parceiro Rafael Rosseti por toda paciência, suporte, companheirismo e carinho em minha vida e para minhas conquistas profissionais. SUMÁRIO LISTAS DE FIGURAS ………………………………………………………………. 7 LISTAS DE TABELAS ………………………………………………………………. 10 LISTAS DE QUADROS ……………………………………………………………… 11 RESUMO ……………………………………………………………………………… 12 ABSTRACT …………………………………………………………………….………. 13 1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………. 14 1.1. O BJETIVO GERAL ………………………………………..……………………………. 16 1.1.1. Objetivos específicos ………………………………………..…………………. 16 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA …………………………………….……………… 17 2.1. DESEMPENHO TÉRMICO ………………………………………………………………. 17 2.1.1. Normativas de desempenho térmico …………………………………………… 18 2.2. ENERGIA ………………………………………………………………………….…. 19 2.2.1. Tarifação de energia elétrica …………………………………………………… 23 2.3. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA …………………………...………………………………… 25 2.4. RTQ-R: MÉTODO PRESCRITIVO E SIMULADO ………………………………….……… 27 2.5. ETIQUETAGEM …………………………………………………………….…………. 31 2.6. COMPARAÇÕES E LIMITAÇÕES DO RTQ ……………………………………...………. 33 2.7. CALIBRAÇÃO E AJUSTE DOS RESULTADOS ………………..………………… 35 2.8. ENERGY PLUS (OPEN STUDIO E SKETCH UP) ………………………………………… 36 2.9. O CLIMA QUENTE- ÚMIDO E QUENTE- SECO PARA ARQUITETURA ……………………… 37 2.10. ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS PARA ZONA 7………………………………………... 38 3. LOCAL DE ESTUDO………………………………………….………………..…. 40 3.1. CUIABÁ : LOCALIZAÇÃO E CLIMA ………………………………………….………….. 40 3.2. DISPERSÃO E ZONEAMENTO URBANO ………………………………………...….…… 40 3.3 Q UALIDADE TERMOENERGÉTICA X PROCESSO EVOLUTIVO HABITACIONAL …….......… 43 4. M ATERIAIS E MÉTODOS ………………………………………….…...………. 44 4.1. MATERIAIS ………………………………………….………………………….…….. 44 4.1.1. Edificação residencial ………………………………………….………………. 44 4.1.2. Equipamentos ………………………………………….……………………….. 49 4.1.2.1. Estação Micrometeorológica ………………………………………….…………… 50 4.1.2.2. Termômetro digital portátil e infravermelho ………………………………….... 50 4.1.2.3. Registrador com sensores de temperatura do ar, umidade relativa do ar e iluminância ………………………………………….…………........................................... 51 4.1.2.4. Registrador com sensor de ocupação e luz …………………………………….... 52 4.1.2.5. Câmera de infravermelho ………………………………………….……………….. 53 4.1.3. Programas de simulação ………………………………………….…………….. 53 4.2. MÉTODOS ………………………………………….…………………………………. 53 4.2.1. Levantamento de informações (edificação) …………………………………… 53 4.2.2. Pré- funcionamento dos equipamentos …………………………………………. 54 4.2.3. Períodos ………………………………………….……………………………... 55 4.2.4. Variáveis microclimáticas ………………………………………….…………... 55 4.2.5. Variáveis internas da edificação ………………………………………….….… 56 4.2.6. Avaliação do desempenho térmico: medição (NBR15575, ABNT, 2013) ........ 58 4.2.7. Variáveis dos elementos da construção ………………………………………... 59 4.2.8. Avaliação do desempenho térmico: simplificado (NBR15575, ABNT, 2013).. 59 4.2.7. Simulação Computacional ………………………………………….………….. 60 4.2.7.1. Montagem do arquivo climático (inserção de dados medidos) …………….. 61 4.2.7.2. Geometria ………………………………………….…………………………. 61 4.2.7.3. Sistema operacional da edificação …………………………………………... 62 5. RESULTADOS ………………………………………………………….…………. 63 5.1. CARACTERIZAÇÃO DOS PERÍODOS – DADOS EXTERNOS ………………………………. 63 5.1.1. Período quente seco – dados externos …………………………………………. 63 5.1.2. Período quente úmido – dados externos ……………………………………….. 66 5.1.3. Temperatura do solo – dados externos ………………………………………… 68 5.2. A VALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO ………………………………….……….….. 70 5.2.1. Avaliação do desempenho térmico – Método de medição ……………………. 70 5.2.1.1. Período quente seco – dados internos ……………………………………….. 70 5.2.1.2. Período quente úmido – dados internos ……………………………………... 73 5.2.2. Avaliação do desempenho térmico – Método Simp lificado ………………....... 75 5.2.3. Análise das temperaturas superfic iais da envoltória …………………………... 75 5.3. CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL DE EFICIÊNCIA …………………………………………..... 82 5.3.1 Comparação entre dados medidos e simulados ……………………………….... 82 5.3.2. Graus hora e classificação em níveis …………………………………………... 86 5.4. ANÁLISE DE USO DA ILUMINAÇÃO E OCUPAÇÃO DOS AMBIENTES …………………..... 87 5.5. PROPOSTA PARA A MELHORA DO DESEMPENHO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ..... 88 6. CONCLUSÕES ………………………………………….…………………………. 90 7. REFERÊNCIAS ………………………………………….……………………..…. 92 APÊNDICE ………………………………………….…………………………………. 99 7 LISTAS DE FIGURAS Figura 1 – Esquema de co mportamento e desempenho térmico …………………......……………………… 18 Figura 2 – Consumo energético final no setor residencial brasileiro …………………......………………..... 21 Figura 3 – Oferta Interna de Energ ia Elétrica por Fonte em 2011 …………………......…………………..... 21 Figura 4 – Consumo final na carga residencial da região Centro-Oeste …………………......……………... 23 Figura 5 – Consumo de energia elét rica e eficiência energética no setor residencial …………………......… 25 Figura 6 – Esquema de avaliação do RTQ-R …………………......………………………............................. 28 Figura 7 – ENCE de Unidade Habitacional Autônoma Construída …………………......………………….. 32 Figura 8 – Zoneamento Bioclimático Brasileiro …………………......………………………........................ 39 Figura 9 – Normais climato lóg icas da zona b ioclimát ica 7 …………………......……………………... 39 Figura 10 – Climograma das normais climatológicas de 1961-1990 de Cuiabá-MT (períodos seco e úmido) 40 Figura 11 – Diagrama de cidades com metabolismo circu lar …………………......………………………. .. 41 Figura 12 – Mapa da evolução urbana de Cuiabá dividido em reg iões …………………......……………… 42 Figura 13 – Mapa da locazição da zona de uso e ocupação do objeto de estudo …………………......……... 44 Figura 14 – Visualização da frente da edificação com as áreas públicas da esquina …………………......… 45 Figura 15 – Planta de situação da edificação na esquina …………………......………………………........... 45 Figura 16 – Planta baixa da ed ificação com as zonas térmicas e indicação das aberturas …………………... 46 Figura 17 – Tipo de portas da edificação …………………......………………………................................... 47 Figura 18 – Tipo de janelas da edificação …………………......……………………….................................. 47 Figura 19 – Fabricações de painéis JET CASA …………………......……………………….......................... 48 Figura 20 – Instalação de painéis JET CASA …………………......………………………............................. 48 Figura 21 – Instalação da Estação …………………......…………………………………………......…........ 50 Figura 22 – Console d a Vant agePro 2 …………………......…………………………………………...... 50 Figura 23 – Estação micro meteo ro lóg ica …………………......……………………………………….... 50 Figura 24 – Termô met ro d ig it al po rtát il …………………......………………………………………….. 51 Figura 25 – Termô met ro d ig it al in fravermelho …………………......………………………................. 51 Figura 26 – Reg istrador HOBO U12-012 …………………......……………………….......................... 51 Figura 27 – Cabo TM C20HD …………………......…………………………………………......…….... 51 Figura 28 – Cabo TM C20HD co mo g lobo …………………......…………………………..................... 52 Figura 29 – Cabo TM C20HD en capado …………………......………………………............................ 52 Figura 30 – Reg istrador HOBO UX90-006x …………………......………………………............................. 52 Figura 31 – Câmera de infrav ermelho Flir i3 …………………......……………………….................... 53 Figura 32 – HOBO U12-012 co m cabo TMC20HD instalado para calibração ………………….................. 54 Figura 33 – Estação microclimát ica instalada afastada de obstáculos …………………......………….......... 55 Figura 34 – Quatro pontos de medições do solo …………………......………………………........................ 56 Figura 35 – Camadas do so lo …………………......………………………............................................ 56 8 Figura 36 – Instalação do Cabo TMC20HD …………………......……………………….............................. 56 Figura 37 – Instalação do HOBO U12-012 co m cabo TM C20HD co m g lobo …………………......….. 57 Figura 38 – Instalação do HOBO UX90-006x…………………......……………………….................... 58 Figura 39 – Maquet e elet rôn ica da v ista d a frente …………………......………………………............. 61 Figura 40 – Maquet e elet rôn ica da v ista dos fundos …………………......……………………….......... 61 Figura 41 – Demarcação do co rte long itud inal …………………......……………………….................. 62 Figura 42 – Maquet e elet rôn ica co m corte long itud inal, apresentando as altu ras ……………….......... Figura 43 – Climograma das normais climato lóg icas de 1961-1990 de Cu iabá -MT (azu l: períodos d e med ição) …………………......…………………………………………......……………………….......... 62 Figura 44 – Méd ias d iárias da temperatu ra máxi ma, méd ia e mín ima, qu ente seco de 28/ 06/ 13 .......... 63 Figura 45 – Médias horárias da temperatura do ar, quente seco de 28/06/ 13 a 12/ 07/ 13 ................................ 64 Figura 46 – Médias horárias de umidade relativa do ar, quente seco de 28/06/13 a 12/07/13 ........................ 64 Figura 47 – Médias horárias de velocidade do ar, quente seco de 28/06/ 13 a 12/ 07/ 13 .................................. 65 Figura 48 – Médias horárias de temperatura e u midade relativa do ar, o dia típico da estação seca 12/ 07/ 2013 …………………......…………………………………………......………………………............. 66 Figura 49 – Médias diárias da temperatura máxima, média e mínima, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 66 Figura 50 – Médias diárias da temperatura máxima, média e mínima, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 67 Figura 51 – Médias diárias da temperatura máxima, média e mínima, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 67 Figura 52 – Médias diárias da temperatura má xima, média e mínima, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 Figura 53 – Médias horárias de temperatura e u midade relativa do ar, o dia típico da estação úmido 14/ 01/ 2014 …………………......…………………………………………......………………………............. Figura 54 – Médias a cada 15min de temperatura do solo, quente seco de 28/06/ 13 a 12/ 07/ 13 .................... 68 Figura 55 – Médias a cada 15min de temperatura do solo, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 ................. Figura 56 – Médias mensais de temperatura do solo medidas e obtidas no RTQ-R (BRASIL, 2012a) .......... 63 68 69 69 70 Figura 57 – Médias horárias das temp. do ar internas e externa, destacando dia típico quente seco 12/ 07/ 2013 …………………......…………………………………………......………………………............. 71 Figura 58 – Médias horárias das umid. relativas internas e externa, destacando dia típico quente seco 12/ 07/ 2013 …………………......…………………………………………......………………………............. 72 Figura 59 – Médias horárias das temp. do ar internas e externa, destacando dia típico quent e úmido 14/ 01/ 2014 …………………......…………………………………………......…………………………………………..... 73 Figura 60 – Médias horárias umid. relativas internas e externa, destacando dia típico quente úmido 14/ 01/ 2014 …………………......…………………………………………......………………………............. 74 Figura 61 – Mapa como pontos de medição nas superfícies das paredes, tetos e pisos …………………....... 76 Figura 62 – Valores de temperaturas superficiais internas dos pontos da zona da sala (quente seco) ............. 77 Figura 63 – Valores de temperaturas superficiais internas dos pontos da zona da sala (quente úmido) .......... 77 Figura 64 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos da zona da sala (quente seco) ........ 78 Figura 65 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos da zona da sala (quente úmido) ..... 78 Figura 66 – Valores de temperaturas sup. internas dos pontos da zona do home oficce (quente seco) ............ 79 9 Figura 67 – Valores de temperaturas sup. internas dos pontos da zona do home oficce (quente úmido) ......... 79 Figura 68 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos do home oficce (quente seco) ........ 80 Figura 69 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos do home oficce (quente úmido) ..... 80 Figura 70 – Valores de temperaturas sup. internas dos pontos da quarto do casal (quente seco) .................... 81 Figura 71 – Valores de temperaturas sup. internas dos pontos da quarto do casal (quente úmido) ................. 81 Figura 72 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos do quarto do casal (quente seco) ... 81 Figura 73 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos do quarto do casal (quente úmido) 81 Figura 74 – Três imagens registradas pela câmera FLIR i3 do Ponto 1 interno às 8h, 14h e 20h ................... 82 Figura 75 – Co mparação entre dados medidos e simulados do home oficce (quente seco) …………………. 82 Figura 76 – Co mparação entre dados medidos e simulados do home oficce (quente úmido) ………………. 83 Figura 77 – Co mparação entre dados medidos e simulados da sala (quente seco) …………………......….... 83 Figura 78 – Co mparação entre dados medidos e simulados da sala (quente úmido) …………………......…. 84 Figura 79 – Co mparação entre dados medidos e simulados do quarto casal (quente seco) …………………. 84 Figura 80 – Co mparação entre dados medidos e simulados do quarto casal (quente úmido) ……………...... 85 Figura 81 – Quantificação dos graus-horas dos dados de temperatura operativa calibrados ou não .............. 86 10 LISTAS DE TABELAS Tabela 1 – Indicadores energéticos mundiais de 1973 a 2011 .......................................................................... 20 Tabela 2 – Consumo de energia elétrica do Brasil e da região centro-oeste em 2011 ..................................... 22 Tabela 3 – Consumo de energia elétrica do Mato Grosso por setor em 2011 .................................................. 22 Tabela 4 – Sistema Tarifário da Classe de Consumo Residencial .................................................................... 24 Tabela 5 – Nível de eficiência de acordo com a pontuação e equivalente numérico ........................................ 25 Tabela 6 – Dados de dias típicos de verão e de inverno de Cuiabá/MT ........................................................... 58 Tabela 7 – Critério de avaliação de desempenho térmico para condições de verão ......................................... 58 Tabela 8 – Critério de avaliação de desempenho térmico para condições de inverno ...................................... 58 Tabela 9 – Critério máximos ad missíveis para transmitância térmica de paredes externas ............................. 59 Tabela 10 – Critério mín imos admissíveis para capacidade térmica de paredes externas ................................ 59 Tabela 11 – Critério para áreas mín imas admissíveis de ventilação em dormitórios e salas de estar .............. 60 Tabela 12 – Critério e n íveis de desempenho de coberturas quanto à para transmitância térmica ................... 60 Tabela 13 – Volu me pluvio métrico, quente seco de 28/06/ 13 a 12/ 07/ 13 ........................................................ 65 Tabela 14 – Volu me pluvio métrico, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 ..................................................... 67 Tabela 15 – Temperaturas do solo utilizadas para simu lação, destacadas em cin zas as temperaturas med idas ............................................................................................................................................................. 70 11 LISTAS DE QUADROS Quadro 1 – Avaliação da envoltória EqNumEnv ............................................................................................ 29 Quadro 2 – Avaliação do sistema de aquecimento de água EqNumAA ........................................................... 30 Quadro 3 – Sistema de Bonificações .............................................................................................................. 31 Quadro 4 – Especificações de aberturas relacionadas às nomenclaturas da planta baixa das Figuras 15 e 16 47 Quadro 5 – Propriedade térmicas dos materiais dos componentes construtivos, baseados na NBR15220 (ABNT, 2008) ................................................................................................................................................... 48 Quadro 6 – Quadro de especificações da composição dos componentes construtivos .................................... 49 Quadro 7 – Resumo das temp. do ar internas e externa, destacando dia típico quente seco 12/07/2013 ........ 71 Quadro 8 – Resumo das umid. do ar internas e externa, destacando dia típico quente seco 12/07/ 2013 ........ 72 Quadro 9 – Avaliação do desempenho térmico para o período quente seco correspondente ao inverno ........ 72 Quadro 10 – Resu mo das temp. do ar internas e externa, destacando dia típico quente úmido 14/01/2014 ... 73 Quadro 11 – Resu mo das umid. do ar internas e externa, destacando dia típico quente úmido 14/ 01/2014.... 74 Quadro 12 – Avaliação do desempenho térmico para o período quente úmido correspondente ao verão ...... 75 Quadro 13 – Avaliação do desempenho térmico pelo método simplificado ................................................... 75 Quadro 14 – Resu mo dos indicadores estatísticos das comparações ............................................................... 85 Quadro 15 – Resu mo dos dados de ilu minação e ocupação de 16/06/13 a 15/01/14 ...................................... 87 12 RESUMO Este trabalho avalia o desempenho térmico e o nível de eficiência energética propondo alterações de estratégias bioclimáticas em uma residência de Cuiabá/MT. Foi escolhida uma habitação consequente da atual forma de produção do espaço. A edificação possui sistema construtivo de rápida execução (“Jetcasa”). A edificação foi dividida em seis zonas térmicas, sendo três dela de permanência prolongada. Uma estação micrometeorológica foi utilizada para a obtenção de dados instantâneos ambientais. Quatro registradores HOBO U12-012 com cabos TMC20HD foram utilizados para medição de temperatura do solo e variáveis internas das zonas da sala, home office e quarto do casal, de temperatura do ar, umidade relativa do ar e temperatura de globo para a avaliação de desempenho térmico da edificação pelo métodos da NBR 15.575 (ABNT, 2013). Três registradores HOBO UX90-006x são empregados nas zonas de permanência para analisar a gestão de utilização de luz e ocupação. A câmera de infravermelho registrou as temperaturas superficiais dos elementos construtivos. Foi utilizado o programa EnergyPlus 8.0 para a determinação do nível de eficiência energética da edificação pelo método do RTQ-R. As medições foram em dois períodos de 15 dias: quenteseco (28/06 a 12/07/2013) e quente-úmido (31/12/2013 a 14/01/2014). O período quente seco possui baixas umidades e altas amplitudes térmicas diárias e o quente úmido, altas umidades e baixas variações diárias de temperatura. A sala de estar foi a zona térmica com piores condições de desempenho térmico e eficiência energética e o quarto de casal apresentou as melhores. As paredes possuem maior interferência para o ganho térmico da sala e do home office. A eficiência energética foi nível C. As propostas para alterações da edificação sob estudo são proteções às aberturas, proteções às paredes, plantio de vegetação e instalação de sistemas de aquecimento de águas. Palavras-chave: RTQ-R, calibração e EnergyPlus 13 ABSTRACT This study evaluates the thermal performance and the level of energy efficiency and proposing changes with bioclimatic strategies in a residence of Cuiabá/MT. It was chosen housing consequent of the current production space. The building has construction system for fast execution ("Jetcasa"). The building was divided into six thermal zones, three of them with prolonged permanency. A micrometeorological station was used to obtain snapshots environmental data. Four HOBO U12-012 datalogger with TMC20HD cables were used to measure soil temperature and internal variables of the living room, home office and double room zones which air temperature, relative humidity and temperature of the globe to the thermal performance evaluation of building by NBR 15.575 (ABNT, 2013) methods. Three HOBO UX90-006x datalogger are used to examine the occupancy and light. The infrared camera recorded the surface temperatures of building elements. EnergyPlus 8.0 software was used to determine the level of energy efficiency of the building by the RTQ -R method. Measurements were two periods of 15 days: warm dry (28/06 to 12/07/2013) and warm humid (31/12/2013 to 14/01/2014). The warm dry period has low humidity and high daily temperature ranges and warm wet, high humidity and low daily temperature variatio ns. The living room was the thermal zone with worse thermal performance and energy efficiency and the double room had the best. The walls have greater interference for the heating gain of the room and the home office. Energy efficiency was level C. The proposed changes to the building of study are the protections openings, protections walls, planting vegetation and installing water heating systems. Keywords: RTQ-R, calibration and EnergyPlus 14 1. INTRODUÇÃO A atividade humana está diretamente ligada à utilização de energia. Desde a préhistória, o homem explora os recursos naturais para adaptar o meio em que vive, transformando a energia existente no ambiente natural em recursos necessários à sobrevivência. O atual modelo de desenvolvimento da sociedade moderna não se difere da pré-história quando analisamos a relação que temos com o meio em que vivemos. O crescimento populacional, o aumento da expectativa de vida, a elevação da renda nos países em desenvolvimento como China e Brasil, aumentam as pressões sobre os recursos energéticos disponíveis no planeta. O petróleo e outras fontes fósseis de energia (gás natural e carvão mineral), mesmo na atual conjuntura sócio política ambiental, na qual se tenta diminuir a dependência desses recursos para a produção de energia, ainda responde por mais de 80% da oferta energética no mundo, segundo os dados do Relatório Final do Balanço Energético Nacional (BRASIL, 2012). A falha estratégica desse modelo fica evidente no cenário pós-segunda guerra mundial, quando em 1960 os cinco principais países produtores de petróleo (Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Venezuela) criaram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a OPEP. Essa organização surgiu para responder a política de achatamento de preço praticada pelo cartel das grandes corporações petrolíferas ocidentais, as chamadas “sete irmãs” (Standard Oil of New Jersey, Royal Dutch Shell, Mobil, Texaco, Gulf, BP e Standard Oil da California). Os países produtores percebendo que o petróleo é uma fonte não renovável passaram a onerar os royalties e a nacionalizar a exploração do petróleo, pois assim poderiam gerar receitas volumosas e criar condições para investimentos em outras fontes de receitas. Porém esse movimento acabou desencadeando uma série de conflitos, provocando um déficit na oferta mundial de petróleo: a guerra de Yom Kipur (1973) e a revolução islâmica no Irã(1979). O preço do petróleo atingiu valores altíssimos, chegando a aumentar 400%, e desencadeando uma recessão nos Estados Unidos e na Europa, o que desestabilizou a economia mundial durante décadas. No entanto, o desvio para outras fontes de energia não é a solução prioritária. Sachs (2007) afirma que a energia que menos polui e que geralmente menos custa é aquela que deixa de ser produzida graças à adoção de um perfil mais sóbrio da demanda energética e à maior eficiência no uso final das energias produzidas. Para isso, são necessárias revoluções quanto ao estilo de vida, logística da prod ução, reestruturação dos espaços urbanos e durabilidade dos produtos. Com este objetivo, a partir das crises do petróleo em 1973 e 1979, 15 iniciaram ações para a conservação e eficiência no uso energético e aceleraram as buscas por fontes diversificadas de energia. As crises trouxeram preocupações mundiais para uma situação real, a dependência do petróleo era, e continua, evidente, não há possibilidade de mudança desse panorama em um curto prazo. Portanto, era preciso aprender a utilizar essa energia de forma mais eficiente, evitando o desperdício desse recurso natural não renovável e de alto custo de utilização. Em 1984, iniciaram-se discussões para a racionalização energética, com o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), criado pelo Instituto Brasileiro de Metrologia, Normalização e Qualidade (INMETRO). Em seguida, o programa ganhou forças com o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL) instituído pelo Ministério de Minas e Energia e da Indústria e Comércio Exterior. Quinze anos depois, em 2001, foi decretada a Lei de Eficiência Energética (Lei nº 10.295) que determina ao Poder Executivo o estabelecimento de níveis máximos de consumos e mínimos de eficiência para máquinas e aparelhos fabricados ou comercializados no país. A partir desta Lei, vem sendo criadas diversas normas, regulamentos e manuais que vão ao encontro de melhorias quanto à eficiência energética. Para edificações temos a NBR15220 (ABNT, 2003) e NBR15575 (ABNT, 2013), publicadas em 2003 e 2008, normas de Desempenho Térmico de Edificações, as quais visam apresentar diretrizes construtivas para um melhor desempenho e estabelecer os requisitos e critérios para avaliação. Já em 2009 e 2010, foram aprovados os Regulamentos Técnicos da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos e de Edificações Residenciais (RTQ-C e RTQ-R) respectivamente, nos quais se definem os níveis de classificação e os procedimentos de avaliação da eficiência energética dos edifícios e estabelecem a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE). Para contribuir com a elaboração dos projetos e melhorias no desempenho térmico e eficiência energética, são utilizadas ferramentas de simulação computacional que preveem os resultados termoenergéticos da construção no local que será implantada. O EnergyPlus é um programa livre que atende aos requisitos de simulação do RTQ favorecendo aos estudos nesta área. As normas e relatórios que vem sendo desenvolvidos são aplicados a novos projetos, por isso, em vista da evolução recente e nova forma de produção do espaço urbano de Cuiabá, verifica-se que vem sendo implantados diversos loteamentos e condomínios horizontais fechados em áreas afastadas e sem infraestrutura urbana. Desta forma, surgem alguns questionamentos: Qual seria a qualidade térmica e energética destas habitações que são 16 construídas em escala neste processo de ocupação? Como os sistemas construtivos de rápida execução adotados pelas construtoras estão proporcionando aos usuários economia de energia? É possível recomendar alterações das estratégias bioclimáticas para a melhoria das edificações? E qual seria a viabilidade econômica das alterações na construção em vista da economia energética? Portanto, considera-se importante os estudos que verifiquem a qualidade das edificações, de forma a introduzir as avaliações e recomendações das leis, normas e regulamentos que buscam um desempenho térmico favorável e a racionalização do uso energético e que utilizem ferramentas de simulação como o EnergyPlus. Este programa possibilita verificar os resultados obtidos já na fase de projeto das propostas de construções das edificações para a cidade de Cuiabá. Cidade que apresenta um clima desfavorável ao conforto em alguns períodos do ano, principalmente, devido às altas temperaturas, o que torna necessário a utilização de equipamentos de refrigeração do ar. 1.1. O BJETIVO GERAL O objetivo geral deste trabalho é avaliar o desempenho térmico, determinar o nível de eficiência energética e propor alterações das estratégias bioclimáticas que favoreçam a economia de energia em uma unidade habitacional de Cuiabá-MT. 1.1.1. Objetivos específicos Para obter este objetivo é necessário alcançar os seguintes objetivos específicos: a) Caracterizar o microclima do local do objeto de estudo; b) Desenvolver a simulação da edificação e calibrar os resultados de temperatura operativa; c) Aplicar o Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais (RTQ-R) e definir o nível de eficiência da edificação por simulação utilizando arquivo climático existente de Cuiabá; d) Identificar os elementos desfavoráveis da envoltória e propor estratégias bioclimáticas referentes aos materiais construtivos existentes que favoreçam o conforto térmico e a economia de energia; e) Propor alterações da edificação a fim de alterar o desempenho térmico e eficiência energética. 17 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Nos próximos tópicos serão apresentados conceitos, dados, normas, regulamentos entre outros, que permitem o entendimento do trabalho, além de contextualizá- lo com outras pesquisas do mesmo assunto, desenvolvidas regionalmente, nacionalmente e internacionalmente. Segundo Silva (2013) aplicar o conceito sustentabilidade à arquitetura e ao urbanismo é um desafio, pois pressupõe que seja uma alteração do natural por um espaço edificado. Desta forma, pode não ser obtido um ambiente de floresta novamente, este nem deve ser o objetivo, mas o desafio está em diminuir o impacto ambiental. 2.1. DESEMPENHO TÉRMICO A abordagem de desempenho é, segundo Gibson (1982) apud Borges (2008) 1 , primeiramente e acima de tudo, a prática de se pensar e m termos de fins e não de meios. Desta forma, o autor define que desempenho está relacionado ao resultado final da edificação, sem que haja a determinação da forma de como se atinja este resultado. “Na construção civil, o conceito de desempenho está associado à atuação ou comportamento de algum sistema” (MIRANDA, 2011). Desta forma, na análise do desempenho deve-se considerar um dos comportamentos que a edificação apresenta em seus sistemas, ou seja, no desempenho térmico, lumínoso e acústico, dos quais, neste estudo, será direcionado ao desempenho térmico. Este comportamento é “caracterizado pela resposta física que a edificação apresenta quando submetida às solicitações do clima externo (variáveis climáticas) e às condições de uso dos ambientes” (LAMBERTS, 2010). Quando for identificado o comportamento, a partir de alguns fatores tais como temperatura do ar, velocidade do vento e umidade relativa do ar, e for comparado à prérequisitos que definem o atendimento das exigências dos usuários da edificação, então é possível avaliar o desempenho térmico. O comportamento é definido a partir de dados mensuráveis ou simulados com alta representatividade e comparado a parâmetros determinados como favoráveis para o conforto do usuário e que se distancie do comportamento apresentado pelo ambiente externo, depe ndendo da comparação do comportamento do ambiente interno e dos parâmetros pré-estabelecidos, avalia-se a edificação (Figura 1). 1 GIBSON, E. J., Coord.,Working with the performace approach in build ing. Rotterdam. CIB W 060. 1982 (CIB State of the Art Report n.64) apud BORGES, C. A. M . O conceito de desempenho de edificações e a sua importância para o setor da construção civil no Brasil. 2008. 263f. Dissertação (Mestrado em Engenharia). Escola Po litécnica, Un iversidade de São Paulo, São Pau lo-SP. 18 Figura 1 – Esquema de co mportamento e desempenho térmico Fonte: Próprio Autor O desempenho térmico e do conforto ambiental deve ser compreendido em uma questão temporal, ou seja, a determinação deste possui uma vida, que é difinida como a vida útil em que se deve atingir uma determinada avaliação. Borges (2008), conceitua a vida útil como um período de tempo desejável, projetado e requerido para um determinado nível de desempenho previsto, já durabilidade, é conceituada, como a capacidade do componente, elemento, sistema ou até construção de atender ao desempenho previsto durante certo período de tempo. 2.1.1. Normativas de desempenho térmico O desempenho térmico está ligado à conservação de energia. Dependendo do nível de avaliação de uma edificação, ela possuirá qualidade em reduzir o ganho ou perda térmica em seus ambientes internos, diminuindo a necessidade da utilização de sistemas artificiais de climatização do ar. Desta forma, quanto melhor for o nível de desempenho térmico, maior será a economia e a eficiência energética da edificação. Para a conservação de energia há diversas normas que abra ngem diretrízes para projetos de edificações com um melhor desempenho e são utilizadas de forma obrigatórias ou voluntárias por vários países. As normas desenvolvidas nos Estados Unidos pela ASHRAE Sociedade Americana de Aquecimento, Refrigeração e Engenharia de Condicionamento de Ar, são as mais utilizadas internacionalmente e servem de referência para outras normas específicas e adaptadas para cada região. No Brasil, através do Comitê Brasileiro de Construção Civil, foi criada pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, a NBR 15220 – Desempenho Térmico de Edificações (ABNT, 2005a) com o objetivo da construção obter um melhor desempenho térmico ou ambiental analisando o uso de um sistema ou processo que cumpri sua função independente da solução técnica adotada. A norma está dividida em cinco partes: a) Parte 1 - Definições, símbolos e uni dades ; 19 b) Parte 2 - Métodos de cálcul o da transmitância térmica, da capaci dade térmica, do atraso térmico e do fator solar de elementos e componentes de edi ficações ; c) Parte 3 - Zoneamento biocli mático brasileiro e diretrizes construti vas para habi tações unifamiliares de interesse social; d) Parte 4 - Medição da resistência térmica e da conduti vi dade térmica pel o princí pi o da placa quente protegi da; e) Parte 5 - Medição da resistência térmica e da conduti vi dade térmica pel o método fluxi métrico. Além da NBR 15220 (ABNT, 2005a), também foi publicada a NBR 15575 Edificações habitacionais – Desempenho (ABNT, 2013), a qual utiliza como critério de avaliação de desempenho térmico os limites de temperatura do ar no interior da edificação, para verão e inverno, que podem variar em desempenho mínimo (M), intermediário (I) e superior (S). Ela é dividida em seis partes: a) Parte 1 - Requisitos gerais; b) Parte 2 : Requisitos para os sistemas estruturais ; c) Parte 3 : Requisitos para os sistemas de pisos ; d) Parte 4 : Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e externas ; e) Parte 5 : Requisitos para os sistemas de coberturas ; f) Parte 6 : Requisitos para os sistemas hi drossanitários . A partir destas normas são desenvolvidas outras, regulamentos específicos e diretrizes para melhorar as condições de desempenho térmico das edificações brasileiras. E tem o objetivo de que em um futuro próximo se possa cobrar dos construtores (produtores) que alguns requisitos mínimos para o desempenho térmico estejam obrigatoriamente presentes nos edifícios e, assim, favorecer a utilização do empreendimento pelos moradores (consumidores). 2.2. ENERGIA Ao se analisar os indicadores energéticos mundiais, entre 1973 a 2011, na Tabela 1, verifica-se que a taxa de crescimento populacional (77%) é três vezes menor que a do PIB (263%), o que leva ao aumento da renda per capita e da riqueza global; quanto ao consumo da energia primária, o aumento é maior que a população mundial, por isso tem-se um aumento do consumo per capita de 23% no período de 38 anos, sendo que em 2011 obteve-se 1,88tep (energia equivalente a quase duas toneladas de petróleo) per capita, ou seja 15MWh; as emissões de CO 2 cresceram a uma taxa bem mais baixa que o consumo de energia primária, aumento de 13%; já o consumo de energia elétrica triplicou no período, apresentou um aumento, consequentemente verifica-se uma maior eficiência na exploração dos recursos energéticos, representados pela relação entre a energia final e primária, que diminuiu em 11%; a intensidade energética representa a relação entre consumo de energia final pelo PIB, por isso 20 quanto menor for, maior é a eficiência energética da economia/produto, neste indicador o resultado foi positivo com o decaimento pela metade do valor no período. Tabela 1 – Indicadores energéticos mundiais de 1973 a 2011 INDICADORES ENERGÉTICOS 1973 2011 RELAÇ ÃO (%) População (milhão) 3.938 6.958 76,7 PIB (bilhão USD 2005) 14.451 52.486 263,2 Renda per capita (USD 2005) 3.670 7.543 105,6 Energia primária (M tep) 6.034 13.113 117,3 Energia Final (M tep) 4.606 8.918 93,6 Energia final/Energia primária Energia elétrica (M tep) 0,76 525 0,68 1.582 -10,9 201,3 Energia elétrica/Energia final 0,11 0,18 55,6 Energia primária per capita (tep) 1,53 1,88 23,0 Emissão de CO2 per capita (ton) 3,98 4,50 13,2 Intensidade energética primária (tep/USD 2005) 418 250 -40,2 Intensidade energética final (tep/USD 2005) 319 170 -46,7 Fonte: IEA, 2013 A partir do conhecimento dos mesmos indicadores energéticos, mas do período de 1793 a 2004, Peréz-Lombard (2008) afirma que o consumo de energia está relacionado ao desenvolvimento econômico e o crescimento da população, pois a globalização, a melhora das condições de vida em regiões emergentes e o desenvolvimento das redes de comunicação promovem a elevação do estilo de vida e das necessidades de energia para os padrões de consumo. Este sistema linear de uso da energia e socioeconômico caminha para o esgotamento dos combustíveis fósseis e para um grave impacto ambiental caso não ocorram medidas políticas globais de intervenção e revolução da sociedade. Para o setor residencial, Peréz-Lombard (2008) apresenta que o tamanho e a localização da edificação são fatores de maior influência para o consumo energético, sendo que a quantidade e tipo de energia utilizada estão relacionados ao tempo, projeto arquitetônico, sistemas de economia de energia e nível dos ocupantes. Por isso, caso não haja medidas intervencionistas que influenciem os hábitos da população, o consumo neste setor irá crescer, pois novos aparelhos serão instalados e a área construída terá expansão. No setor residencial brasileiro verifica-se que as principais fontes de energia consumidas são de eletricidade, lenha e GLP. O consumo da energia de eletricidade mantevese crescendo até 2000, sendo que em 1996, ela ultrapassou o consumo da energia de lenha, a qual era a mais consumida até então. Quando ocorreu o racionamento de energia elétrica no período de 2000 a 2001, a lenha voltou a apresentar maior consumo que a eletricidade, quadro 21 que se manteve até 2008. Hoje a energia de eletricidade se mantém como a mais consumida pelo setor residencial brasileiro (Figura 2). Figura 2 – Consumo energético final no setor residencial brasileiro Fonte: Balanço Nacional de Energia (BRASIL, 2012c) A energia elétrica consumida no Brasil é originária principalmente de hidroelétricas. Segundo o Relatório Final do Balanço Nacional de Energia (BRASIL, 2012c), a energia elétrica a partir de hidroelétricas correspondeu a 81,9% em 2011, uma pequena parcela derivada de biomassa, gás natural, nuclear, derivados do petróleo, carvão mineral e eólica completam as fontes de energia elétrica ofertadas no país (Figura 3). Figura 3 – Oferta Interna de Energ ia Elétrica por Fonte em 2011 Notas: ¹Inclui gás de coqueira ²Inclui importação de eletricidade ³Inclui lenha, bagaço de cana, lixívia e outras recuperações Fonte: Balanço Nacional de Energia (BRASIL, 2012c) 22 Segundo o Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2012 (BRASIL, 2012b), o consumo na rede do Brasil é de 433.034GWh sendo que a região centro-oeste representa 6,5% deste total e o estado de Mato Grosso representa uma parcela pequena de 1,4% em relação a outros estados, como São Paulo e Minas Gerais, 30% e 12%, respectivamente (Tabela 2). Tabela 2 – Consumo de energia elétrica do Brasil e da região centro-oeste em 2011 BRASIL População CENTRO-OESTE 193.177 mil 14.319 mil 433.034 GWh 28.205 GWh 2.482 KWh/ano 1.970 KWh/ano 59.904 M W médio - Clientes totais 70.323 mil 5.317 mil Clientes residenciais 59.907 mil 4.335 mil Consumo total médio 513,1 KWh/mês 442,0 KWh/mês Consumo residencial médio 155,8 KWh/mês 163,9 KWh/mês Consumo na rede Consumo per capita Carga de energia Fonte: Anuário estatístico de energia elétrica 2012 (BRA SIL, 2012b ) Nestes estados o setor industrial apresenta consumo de duas e quatro vezes mais que o setor residencial, o que se diferencia do estado de Mato Grosso, em que estes setores apresentam consumos semelhantes. Desta forma, verifica-se que nos estados de São Paulo e Minas Gerais o setor industrial apresenta um maior consumo energético, sendo importante a realização de medidas de conservação de energia principalmente neste setor. Assim, no es tado de Mato Grosso, medidas de conservação de energia no setor residencial resultarão em um impacto considerável, tendo em vista as semelhanças no valor de consumo. Na tabela 3, o consumo residencial médio de Mato Grosso é de 176,7kWh/mês, superior à média nacional de 155,8kWh/mês, no entanto é inferior ao consumo residencial médio de São Paulo que é de 204,11kWh/mês (BRASIL, 2012b). Tabela 3 – Consumo de energia elétrica do Mato Grosso por setor em 2011 Total 6.278 GWh 100,0% Residencial 1.772 GWh 28,2% Industrial 1.849 GWh 29,5% Co mercial 1.256 GWh 20,0% Rural 715 GWh 11,4% Público 670 GWh 10,7% 16 GWh 0,3% Consumo próprio Fonte: Anuário estatístico de energia elétrica 2012 (BRA SIL, 2012b ) 23 Como o consumo médio está relacionado ao PIB, um menor consumo residencial médio não garante que uma residência apresente uma maior economia de energia, muitas vezes, as residências com menor consumo não possuem todos os eletrodomésticos necessários, não estando relacionado à utilização de equipamentos e siste mas mais eficientes. Ao analisar o consumo final das residências do Centro-Oeste na Figura 4, verificase que os maiores responsáveis pelo consumo energético são chuve iro (28%) e geladeira (24%) e os gastos com condicionamento do ar vem em terceiro lugar com 18% junto com lâmpada (12%). Estes quatro equipamentos correspondem a 82% do consumo residencial, por isso deve priorizá- los para medidas de redução do consumo. Ferro, 3% Som, 3% Lava roupa, 1% Freezer, 7% Televisão, 7% Lâmpadas, 12% Cond. Ambiental, 18% Geladeira, 24% Chuveiro, 28% Figura 4 – Consumo final na carga residencial da região Centro-Oeste Fonte: ELETROBRÁS e PROCEL, 2007 (Adaptado pelo autor) Ao alterar a porcentagem por valores quantitativos, chuveiro, geladeira, ar condicionado e lâmpadas são responsáveis pelo consumo de 23.080,71GWh na região centro-oeste. Ao se considerar que este consumo é equivalente para os estados da região, nas residências do estado de Mato Grosso consome-se em média 144,89kWh/mês de energia para o uso de chuveiros, geladeira, condicionamento ambiental e lâmpadas. 2.2.1. Tarifação de energia elétrica Para o estudo da tarifação de energia elétrica, é necessário, a princípio, considerar alguns conceitos e definições. O Manual da Tarifação de Energia Elétrica (PROCEL, 2011) define que potência é a quantidade de energia elétrica solicitada na unidade de tempo, sendo expressa em watts (W) ou quilowatts (kW). E consumo de energia elétrica é definido como a quantidade de potência elétrica (kW) consumida em um intervalo de tempo, expresso em quilowatt- hora (kWh). Desta forma, o consumo de um equipamento eletroeletrônico é o produto da potência pelo seu período de utilização e, em uma instalação residencial, comercial ou industrial, o consumo é a soma da demanda medida multiplicada pelo período de integração. A demanda medida, utilizada para fins de faturamento, é a maior demanda de potência ativa, verificada por medição, integralizada no intervalo de 15 minut os durante o período de faturamento, expressa em quilowatts (kW) (PROCEL, 2011). 24 O horário de ponta é o período de três horas consecutivas exceto sábados, domingos e feriados nacionais, definido pela concessionária, em função das características de seu sistema elétrico (PROCEL, 2011). Em Cuiabá, corresponde ao horário das 18 às 21horas. Segundo a notícia divulgada no site do “MT Agora”, durante o horário de verão 2012/2013, o estado de Mato Grosso teve uma redução de demanda de potência na ponta de 4%, ou seja, 56MW, o que equivale a desligar dois municípios do porte de Cáceres (MT Agora, Mato Grosso economiza 4% de energia, 2013). Esta redução na ponta é um dos objetivos de se adotar o horário de verão, pois ocorre a diminuição do carregamento nas linhas de transmissão, subestações e sistemas de distribuição de energia, aliviando também a geração. No estado de Mato Grosso, os períodos sazonais são sete meses de período seco indo de maio a novembro e são cinco meses de período úmido indo de dezembro a abril (PROCEL, 2011). Esta diferenciação ocorre pois no períodos secos o nível de água nas hidrelétricas baixa e reduz a geração de energia. Para isso, o custo da energia é diferenciado entre os períodos, para provocar a diminuição do consumo e da demanda nos períodos em que se tem menor geração, já que a matriz energética brasileira é de usinas hidrelétricas. A tarifa é o preço da unidade de energia elétrica (R$/MWh) e/ou da demanda de potência ativa (R$/kW). O setor residencial geralmente se enquadra no grupo tarifário B, que apresenta tensão até 2.300volts, assim a tarifa é monômia: os preços são aplicáveis unicamente ao consumo de energia elétrica ativa (kWh) (PROCEL, 2011). O sistema tarifário residencial em vigência está apresentado na Tabela 4, há uma parcela correspondente à utilização do sistema de distribuição de energia elétrica (TUSD Tarifa de Uso dos Sistemas Elétricos de Distribuição) e outra ao consumo de energia (TE Tarifa de Energia Elétrica). Desta forma, o valor do quilowatt-hora da tarifa B1-residencial é de R$0,34, estes valores ainda não apresentam acrescidos os encargos tributários. Tabela 4 – Sistema Tarifário da Classe de Consumo Residencial TUSD TE TOTA L (R$/MWh) (R$/MWh) (R$/MWh) 167,28 175,54 342,82 - - - B1 – Consumo Mensal até 30kWh 56,54 61,44 117,98 B1 – Consumo Mensal entre 31kWh e 100kWh 96,93 105,33 202,26 B1 – Consumo Mensal entre 101kWh e 220kWh 145,39 157,99 303,38 B1 – Consumo Mensal superior a 220kWh 161,55 175,54 337,09 Subgrupo B1 – Residencial B1 – Residencial Baixa Renda Fonte: Resolução Ho mologatória A NEEL Nº1506/2013 (ANEEL, 2013) 25 2.3. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA A partir das intenções de se utilizar adequadamente a energia elétrica em consequência das crises energéticas, aumentaram os estudos e incentivos tanto do governo como das concessionárias de energia para a eficiência energética. Esta preocupação vem com a finalidade de aperfeiçoar o que já está disponível. O consumo energético deve ser controlado, pois se ocorrer de forma desmedida, nem as infraestruturas em desenvolvimento serão suficientes para atender a demanda. Por isso, além de ampliar a geração, transmissão e distribuição energética, são necessárias aperfeiçoar as estruturas existentes. A eficiência energética é a obtenção de um serviço com baixo dispêndio de energia. Um edifício é mais eficiente energeticamente que outro quando proporciona as mesmas condições ambientais com menor consumo de energia (LAMBERTS, 1997). O Plano Nacional de Eficiência Energética (2011) apresenta que a eficiência energética refere-se a ações de diversas naturezas que culminam na redução da energia necessária para atender as demandas da sociedade por serviços de energia sob a forma de luz, calor/frio, acionamento, transportes e uso em processos. Verifica-se que a eficiência energética aborda várias áreas, sendo necessário obter uma eficiência elétrica com a substituição por equipamentos com menor potência, uma eficiência luminosa com a utilização de lâmpadas com maior quantidade de lumens por W, um melhor desempenho térmico da envoltória entre outras ações que em conjunto são responsáveis pela diminuição do consumo de energia sem que haja uma alteração na qualidade da edificação. Na Figura 5 é apresentado como será o panorama futuro com conservação da energia elétrica no setor residencial brasileiro até 2021 e sem conservação da energia. A energia nacional conservada poderá ser de 9,2% em 2021 em relação ao consumo usual, chegando a economizar 17.517GWh, que é equivalente a três vezes o consumo do Mato Grosso em 2011. Consumo energético (GWh) Figura 5 – Consumo de energia elét rica e eficiência energética no setor residencial 250.000 Sem conservação 200.000 Conservação 150.000 100.000 50.000 2012 2016 Estimativa para os próximos anos Fonte: Plano Decenal de Expansão de Energia - 2021 (BRASIL, 2013) 2021 26 Para a redução de energia nos edifícios são necessários medidas de controle. Iwaro et al. (2010) afirma que os regulamentos energéticos para edifícios desempenham papel favorável à redução, sendo amplamente utilizados como instrumento de controle de consumo. O consumo energético de um edifício depende de inter-relação de diversas varáveis microclimáticas locais e das características construtivas, por isso se torna um sistema muito complexo de energia. Em virtude destas implicações e em consideração ao elevado consumo de energia das edificações, é necessária à introdução de ferramentas de análises termoenergéticas rigorosas e capazes de avaliar adequadamente as implicações energéticas operacionais de cada projeto, podendo prever resultados que contribuam na tomada de decisões arquitetônicas e técnicas pelos profissionais envolvidos. Mas para que ocorram estas análises energéticas, Casals (2006) afirma que as normalizações (regulação obrigatória e de certificação) apresentam relevância primordial para alcançar uma introdução eficaz de ferramentas de análise de energia no sector da construção devido à falta de tradição existente atualmente. Para que estes regulamentos estejam de acordo com os objetivos, sistemas construtivos e energéticos e clima do local, cada nação tem desenvolvido seus próprios padrões de eficiência energética estabelecendo requisitos mínimos do edifício em matéria de construção sustentável. Segundo Melo (2014), estas normas são baseadas na concepção do ASHRAE 90.1 Standard – Padrão energético para construções exceto residências de baixa altura. , A partir das preocupações e necessidades de conservação de energia no Brasil, estratégias de eficiência energética, novos regulamentos de construções e esquemas de certificação que agora incluem requisitos mínimos vêm sendo desenvolvidos para incentivar a eficiência energética nacional. Assim, surgiu a Lei nº 9.991, de 24 de julho de 2000, que dispõe sobre realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética por parte das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica, e dá outras providências. “As concessionárias de geração e empresas autorizadas à produção independente de energia elétrica ficam obrigadas a aplicar, anualmente, o montante de, no mínimo , 1% (u m por cento) de sua receita operacional líqu ida em pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico” (BRASIL, 2000). Este montante deve ser distribuído em 40% para Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT; 40% para projetos de pesquisa e desenvolvimento, segundo regulamentos estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, e 20% para o Ministério de Minas e Energia, a fim de custear os estudos e pesquisas de 27 planejamento da expansão do sistema energético, bem como os de inventário e de viabilidade necessários ao aproveitamento dos potenciais hidrelétricos. No ano seguinte surgiu a Lei nº 10.295, de 17 de Outubro de 2001, que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e outras providências, conhecida como Lei de Eficiência Energética. “O Poder Executivo estabelecerá níveis máximos de consumo específico de energia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia fabricados ou comercializados no País, com base em indicadores técnicos pertinentes” (BRASIL, 2001). A lei também apresenta que após um ano da publicação dos níveis, deverá realizar um Programa de Metas para incentivar o processo de evolução e o Poder Executivo deverá desenvolver mecanismos para ampliar a eficiência energética para as edificações construídas no país. No mesmo ano, foi aprovado o Decreto nº 4.059, de 19 de dezembro de 2001 (BRASIL, 2001), que regulamenta a Lei nº 10.295, citada acima, e dá outras providências. Assim como institui um comitê, formado por representantes do Ministério de Minas e Energia, do Ministério da Ciência e Tecnologia, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Agência Nacional de Energia Elétrica, Agência Nacional do Petróleo e, especialistas em matéria de energia, um representante de universidade brasileira e um cidadão brasileiro. Este comitê é responsável, por implementar a aplicação da Lei de Eficiência energética, propondo indicadores de consumo de energia, elaborando mecanismos de avaliação e procedimentos para comprovação. 2.4. RTQ-R: MÉTODO PRESCRITIVO E SIMULADO Ao considerar o compromisso de atender a Lei nº 10.295, de 17 de Outubro de 2001 e de acordo com o Decreto nº 4.059, de 19 de dezembro de 2001, havendo a necessidade de instituir regras equânimes e de conhecimento público para os segmentos de projeto e construção de Edificações Residenciais, foi revisada pela Portaria n.º18, de 16 de janeiro de 2012, o Regulamento Técnico da Qualidade - RTQ para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais. O regulamento se baseia nas normas brasileiras apresentadas anteriormente ABNT-15220 (2008) e ABNT-15575 (2013) entre outras, e em normas internacionais como da ASHRAE e a ISO 25745-1 (2012). Estes regulamentos têm como objetivo classificar edifícios de acordo com cinco níveis: de "A" (mais eficiente) a "E" (menos eficiente). Segundo Melo (2014), por serem 28 desenvolvidos para climas brasileiros, sua aplicação em edifícios existentes podem reduzir o consumo energético em cerca de 30% e cerca de 50% em novos edifícios. No primeiro capítulo do regulamento são apresentadas as definições, símbolos e unidades necessários para a compreensão e sua aplicação. No segundo capítulo apresentam-se considerações gerais como o pré-requisito para níveis A ou B, havendo mais de uma unidade habitacional autônoma no mesmo lote, ainda não construída, devem possuir medição individualizada de eletricidade e água. Os procedimentos para determinação da eficiência entre os cinco níveis são para unidades habitacionais autônomas; edificações unifamiliares; edificações multifamiliares; e, áreas de uso comum de edificações multifamiliares ou de condomínios de edificações residenciais (Figura 6 e Tabela 5). Figura 6 – Esquema de avaliação do RTQ-R UNIDADES HABITACIONAIS AUTÔNOMAS & EDIFICAÇÃO UNIFAMILIAR • avaliam-se desempenho térmico da envoltória, eficiência do sistema de aquecimento de água e bonificações EDIFICAÇÕES MULTIFAMILIARES • pondera-se o resultado da avaliação de todas as unidades habitacionais autônomas da edificação; ÁREAS DE USO COMUM • avaliam-se eficiência do sistema de iluminação artificial, sistema de aquecimento de água, dos elevadores, das bombas centrífugas, dos equipamentos e bonificações Fonte: RTQ-R (BRASIL, 2012a) Tabela 5 – Nível de eficiência de acordo com a pontuação e equivalente numérico Pontuação (PT) Nível de Eficiência EqNu m PT ≥ 4,5 A 5 3,5 ≤ PT < 4,5 B 4 2,5 ≤ PT < 3,5 C 3 1,5 ≤ PT < 2,5 D 2 PT < 1,5 E 1 Fonte: RTQ-R (BRASIL, 2012a) Para a classificação do nível de eficiência para Unidades Habitacionais Autônomas e Edificação Unifamiliar deve seguir a Equação 2.1 do RTQ-R (Equação 1). Equação 1 Onde: : pontuação total do nível de eficiência da unidade habitacional autônoma; : coeficiente de acordo com a reg ião geográfica na qual a edificação está localizada; : equivalente nu mérico do desempenho térmico da envoltória da unidade habitacional autônoma quando ventilada naturalmente pelo método prescritivo ou método de simulação e após a verificação dos prérequisitos da envoltória; : equivalente nu mérico do sistema de aquecimento de água; : pontuação atribuída a iniciativas que aumentem a eficiência da edificação. * os parênteses do termo “ ” foram adaptados pelo autor Fonte: RTQ-R (BRASIL, 2012a) 29 Para a classificação do nível de eficiência para Edificações Multifamiliares deve-se fazer ponderação da classificação de todas as unidades habitacionais autônomas da edificação pela área útil das UHs, excluindo terraços e varandas. Já para a classificação do nível de eficiência para áreas de uso comum deve utilizar as Equações 2.2 a 2.5 do RTQ-R. No terceiro e quarto capítulos estabelecem-se os critérios para avaliação do nível de eficiência energética das unidades habitacionais autônomas (UH) e edificaçõe s unifamiliares. Esta avaliação, assim como se verifica na Equação 01, apresenta três pontos para avaliação: envoltória, sistema de aquecimento de água e bonificações (Quadros 1, 2 e 3). Quadro 1 – Avaliação da envoltória EqNumEnv Não atendimento a este pré-requisito Transmitância térmica, capacidade térmica e absortância solar das implica em no máximo nível C nos paredes externas e coberturas, Tabela 3.1 do RTQ-R EqNumEnvAmbResf , EqNumEnvAmbA e EqNumEnvAmbRefrig. Prérequisitos Ventilação Natural de acordo com a Tabela 3.2 do RTQ-R; Não atendimento a este pré-requisito Ventilação cruzada as aberturas devem atender à proporção implica em no máximo nível C no indicada na Equação 3.5 do RTQ-R EqNumEnvAmbResfr . Não atendimento a este pré-requisito A soma das áreas de aberturas para iluminação natural de cada implica em no máximo nível C nos ambiente deve corresponder a no mínimo 12,5% da área útil EqNumEnvAmbResfr , EqNumEnvAmbA e EqNumEnvAmbRefrig. Naturalmente ventilada: Cálculo do indicador de graus-hora para resfriamento GH R e do consumo relativo para aquecimento CA e determinação dos EqNumEnvAmbResfr, EqNumEnv – Equação 2.1 do RTQ-R EqNumEnvAmbA, EqNumEnvResfr, EqNumEnvA, e EqNumEnv M étodo Prescritivo Condicionada artificialmente: Cálculo consumo relativo para refrigeração C R e determinação dos EqNumEnvAmb Refrig e EqNumEnvRefrig Obtenção do nível A de eficiência neste item é obrigatória, caso se deseje obter a bonificação de condicionamento artificial de ar Pré-requisitos: programa de simulação e arquivo climático Condições para a modelagem da envoltória Procedimentos para naturalmente ventilada: compara os indicadores de graus-hora de resfriamento (GH R) dos ambientes de M étodo de permanência prolongada da UH com os níveis de eficiência das tabelas do arquivo climático utilizado na simulação Simulação Procedimentos para condicionada artificialmente: compara os consumos relativos para aquecimento (CA) e para refrigeração (C R) com os níveis de eficiência das tabelas Determinação do EqNumEnvAmb Resfr, EqNumEnvAmbA, EqNumEnvResfr, EqNumEnvA, e EqNumEnv Fonte: RTQ-R (BRASIL, 2012a) EqNumEnv – Equação 2.1 do RTQ-R 30 Na avaliação da envoltória os critérios estabelecidos como pré-requisitos de transmitância térmica, capacidade térmica e absortância solar das paredes externas e coberturas para as diferentes Zonas Bioclimáticas foram baseados nos critérios estabelecidos nas partes 4 e 5 da NBR15575 (2008) e na parte 3 da NBR15220 (2008). Já os critérios para áreas mínimas de abertura para ventilação em relação à área útil é baseado na parte 4 da NBR15575 (2008) (Quadro 1). Na avaliação do sistema de aquecimento da água (Quadro 2), para a região centrooeste, o RTQ-R define que em caso da não ocorrência de sistema de aquecimento da água, o EqNumAA passa a corresponder a 1, referente ao pior nível, diferente do norte e nordeste, que corresponde a 2 (nível B). Este critério vem apresentado discussões, pois se tem a hipótese de que na cidade de Cuiabá, por possuir um clima quente, não haveria tanto co nsumo por este equipamento nas residências. No entanto, será computado o EqNumAA assim como determina o regulamento, por ainda não haverem estudos que apresentem uma contraprova do consumo e que permitem definir este critério mais detalhado em relação a cada cidade. Quadro 2 – Avaliação do sistema de aquecimento de água EqNumAA Tubulações para água quente devem ser apropriadas Reservatório apresenta resistência térmica mínima de 2,20 (m²K)/W. Tubulações metálicas: isolamento térmico com espessura mínima, em Pré-requisitos centímetros (cm), determinada pela Tabela 3.44 do RTQ-R; Tubulações não metálicas: espessura mínima do isolamento deve ser de 1,0cm, Deve ser atendido para os níveis A e B para qualquer diâmetro nominal de tubulação, com condutividade térmica entre 0,032 e 0,040 W/mK. Sistema de aquecimento Solar Sistema de aquecimento a gás Determinação eficiência da Bombas de calor Sistema de aquecimento elétrico Caldeiras a óleo Fonte: RTQ-R (BRASIL, 2012a) A avaliação do sistema de condicionamento artificial de ar em residências apenas ocorre em um critério de pontuação da bonificação (Quadro 3). Mas Leão (2007), ao analisar a carta bioclimática de Cuiabá, para o ano de referência (TRY) 1994, afirma que mesmo que a edificação residencial atenda a todas as estratégias passivas de resfriamento, ainda será necessário o uso do ar condicionado em 8,5% das horas. Ao se considerar a necessidade do uso tão acentuado do ar condicionado e tendo em vista que este sistema representa 18% do consumo energético de uma residência do centro-oeste, verifica-se que a classificação do 31 RTQ-R deveria sensibilizar-se mais com eficiência energética deste sistema para Cuiabá, não sendo apenas um critério de bonificação de 0 a 0,2. Quadro 3 – Sistema de Bonificações B1 Ventilação natural 0 a 0,40 B2 Iluminação natural 0 a 0,30 B3 Uso racional de água 0 a 0,20 B4 Condicionamento artificial de ar 0 a 0,20 B5 Iluminação artificial 0 a 0,10 B6 Ventiladores de teto instalados na UH 0 a 0,10 B7 Refrigeradores instalados na UH 0 a 0,10 B8 M edição individualizada 0 a 0,10 Bonificações Somatório de cada bonificação específica 0 a 1,00 Fonte: RTQ-R (BRASIL, 2012a) Nos quinto e sexto capítulos são estabelecidos os critérios para avaliação do nível de eficiência energética de edificações multifamiliares e das áreas comuns. No entanto, a avaliação destes pontos não será abordada por este trabalho. 2.5. ETIQUETAGEM O Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) surgiu na década de 1970, a princípio apenas para o setor automotivo. O PBE faz exigências relacionadas ao desempenho dos produtos no campo compulsório baseando-se no estabelecimento de níveis mínimos de eficiência energética. Atualmente, ele possui 38 Programas de Avaliação da Conformidade agrupando desde veículos até fogões, refrigeradores, condicionadores de ar, aquecimento solar e fotovoltaico e, evidenciado nesta dissertação, as edificações, as quais apresentam um grande potencial de economia de energia para o país. Os objetivos do PBE são prover informações úteis que influenciem a decisão de compra dos consumidores e estimular a competitividade da indústria. Desta forma, foram criadas premiações, como o Selo CONPET do Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural e Selo PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. A etiquetagem evidencia o atendimento dos requisitos mínimos de desempenho determinados por normas e regulamentos por meio de uma Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE). A ENCE classifica os equipamentos, veículos e edifícios com letras em faixas coloridas, geralmente a mais eficiente como “A” na cor verde e a menos como “E” na cor vermelha. 32 A portaria n.º 50, de 01 de fevereiro de 2013, aprova o documento de Requisitos de Avaliação da Conformidade para a Eficiência Energética de Edificações de forma unificada, tanto para edificações residenciais como para comerciais, serviços e públicas, no qual são estabelecidos critérios para a concessão da ENCE. Esta avaliação pode ser feita do projeto e/ou da edificação construída. O processo de avaliação inicia-se com o proprietário encaminhando toda a documentação necessária para avaliação do projeto ao laboratório de inspeção, o qual verifica a documentação e aplica o RTQ-R ou RTQ-C, identificando os níveis de eficiência. Então o laboratório solicita o registro da ENCE projeto e expede ao proprietário a ENCE projeto registrada. Com a edificação construída, inicia-se novamente o processo, mas agora para obtenção da ENCE, incluindo a ENCE projeto, a avaliação da edificação totalmente construída. Para edificações residenciais são expedidas as ENCE de projeto e de edificações construídas de unidade habitacional autônoma, de edificação multifamiliar e das áreas de uso comum. Existem pequenas diferenças entre as ENCE de unidade habitacional autônoma quanto às zonas climáticas com ou sem avaliação da eficiência para o inverno e com a obtenção ou não de bonificações (Figura 7). Figura 7 – ENCE de Unidade Habitacional Autônoma Construída Fonte: RA C (BRASIL, 2013) 33 2.6. COMPARAÇÕES E LIMITAÇÕES DO RTQ O sistema de avaliação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é um sistema de certificação e orientação ambiental para edificações com objetivo de fomentar o perfil dos projetos, obra e uso das edificações, sempre com foco na sustentabilidade de suas atuações. Entre os pré-requisitos de avaliação deste sistema, existe um relacionado com o desempenho mínimo de energia, o qual compara os custos de energia do modelo proposto com a construção de um modelo de referência. Este modelo utiliza os pré-requisitos apresentados no Apêndice G do ASHARE Standard 90.1, os quais são relacionados de acordo com a zona bioclimática os parâmetros de transmissão térmica das paredes e do telhado, relação de área de aberturas e fator solar do vidro e os sistemas de densidade de potência de iluminação e condicionamento do ar. Na avaliação como o RTQ, também são utilizados estes pré-requisitos e ao comparar especificamente como parte do LEED (apenas relacionado ao Apêndice G do ASHARE Standard 90.1) como o método de avaliação do RTQ-C, eles se aproximam muito com o método de comparação do consumo energético de um modelo de referência. Já no RTQ-R, por ser considerado o uso de ventilação natural, não são comparados os consumos em relação a um modelo de referência, mas se classifica de acordo com a somatória de graus-horas a partir da temperatura operativa em relação a uma tabela padrão. Para verificar os resultados do regulamento brasileiro de classificação de edifícios num panorama internacional, Melo (2014) estudou a relação entre os resultados de dois edifícios comerciais e um residencial nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro e Belém, classificados com os regulamentos nacionais e pelo sistema LEED: a) Edifícios comerciais: em Brasília, o Edifício 01 demonstrou equivalência entre os dois métodos para o nível C de classificação e o Edifício 02 equivalência no nível B; no Rio de Janeiro, ambos os edifícios demonstram equivalência no nível B; em Belém, ambos os edifícios demonstram equivalência no nível A; o modelo de referência proposto pela ANSI/ASHRAE Standard 90.1-2007 (com 10% de redução de certificação LEED) é equivalente para alguns níveis em relação ao regulamento brasileiro, mas no nível A do RTQ-R nenhuma das construções comerciais demonstraram que podem cumprir os requisitos para a certificação LEED com redução inferior a 10%; b) Edifícios residenciais: O modelo de referência proposto pela ANSI/ASHRAE Standard 90.1 de 2007 demonstrou um resultado do consumo de energia maior que o 34 RTQ-R no nível C; recomenda-se o LEED ND com crédito 1 no nível C para Brasília e Rio de Janeiro por serem equivalentes ao regulamento brasileiro, para Belém, a equivalência é para o nível B; uma diferença significativa entre os dois modelos está relacionada ao sistema de energia, os valores considerados para o regulamento brasileiro são inferiores. Com este estudo, verificam-se que os métodos e pré-requisitos da regulamentação brasileira se baseiam nas internacionais e, desta forma, alguns resultados apresentaram valores equivalentes. No entanto o sistema de avaliação se difere, pois o LEED consiste em realizar um Check List de pontuações, de forma que alguns pontos negativos possam ser substituídos por ações positivas. Neste quesito, a regulamentação brasileira se sobressai, pois nela analisase o resultado final do conjunto. Mesmo assim, mais estudos devem ser realizados para comparar os RTQs no panorama internacional, mas já é possível concluir que eles seguem as tendências de outros países e que dependendo dos objetivos nacionais podem ampliar para as avaliações de emissões tóxicas e de impacto ambiental. Atualmente impulsionados por questões mercantis de venda de produtos e serviços, vem sendo lançados edifícios que vão além das definições mínimas governamentais de classificações, são os edifícios denominados de “alta eficiência” ou “consumo zero”. Segundo Casals (2006), na Alemanha e nos Estados Unidos há certificações baseadas no consumo negativo, ou seja, edifícios que relacionam a produção líquida de energia operacional. No entanto, para alcançar estes níveis baixíssimos (ou negativo) de demanda energética, requer empregar tecnologias mais complexas, agregar materiais com elaborado processo de produção e equipamentos adicionais de condicionamento. Desta forma, Casals (2006) afirma que ao se analisar o ciclo de vida destes edifícios, verifica-se que ocorre uma falsa certificação, pois estes edifícios poderão ter um impacto energético pior do que de outros edifícios. Por isso, o autor complementa que, quando esses aspectos escaparem dos regimes de regulação de energia ou de certificação, pode levar a uma situação errônea ao descartar ou atribuir um menor nível ao edifício com menor consumo de energia no ciclo de vida, mas que não atinge os requisitos regulamentares de energia operacionais, assim o mercado se distancia da sustentabilidade e torna o regime de certificação inútil. De acordo com a crítica apontada pelo autor, a regulamentação brasileira é uma das que se encaixa em uma falsa certificação. No RTQ, a escolha dos materiais da envoltória para um menor consumo energético consiste apenas ao considerar suas características térmicas sem que haja uma análise da energia consumida no processo de produção e construção. Se pré- 35 requisitos fundamentados na análise de ciclo de vida e questões relacionadas à sustentabilidade, como limites de emissão de CO 2 , não forem adotadas nos regulamentos, não será possível superar as restrições ambientais para que haja um rápido desenvolvimento econômico. Gali et al. (2012) aponta para a questão da complexidade dos edifícios, em cada país existem metodologias diferentes de cálculo, as quais, geralmente, adaptam-se melhor aos edifícios residenciais por serem mais simples. Mas não se pode generalizar, assim como existem edifícios comerciais mais simples, existem residências mais complexas. O nível de complexidade de um edifício aumenta de acordo com a quantidade de interações que ocorrem: os materiais e geometria do edifício, exigências ambientais internas e as condições de conforto, os equipamento em uso, os horários de trabalho, as pessoas envolvidas, as relações entres as zonas. Assim que aumenta a complexidade do edifício, aumentam as variáveis e, então, aumentam os erros do próprio cálculo do modelo e erros da má interpretação pelo usuário responsável pela informação dos dados e análise da simulação, que em algumas situações tem de enfrentar uma série de suposições. Em visto disso, Gali et al. (2012), afirma que estas inter-relações podem ter fortes efeitos sobre os resultados de demanda de aquecimento e arrefecimento e orienta que cada zona deve ser avaliada individualmente em edifícios complexos obtendo-se uma “hipótese de certificação”. Mesmo que as ferramentas exijam uma portabilidade de modelagem energética com métodos dinâmicos, que os dados sejam obtidos em uma extensa base dados nacionais e que os usuários estejam capacitados para utilizar as ferramentas, ainda haverá o controle do avaliador (a interpretação pessoal) ao utilizar a ferramenta. Por isso, deve-se realizar a calibração do modelo em períodos menores, para que ocorra uma aproximação dos dados reais (medidos) e simulados. 2.7. CALIBRAÇÃO E AJUSTE DOS RESULTADOS Assim como forem apresentadas as limitações do método de simulação, Coakley et al. (2011) afirma que por serem ferramentas de simulação em processos estocásticos em edifícios por um curto período de tempo, é difícil obter uma representação exata do modelo de operação do edifício no mundo real, mas pela calibração pode-se conseguir uma representação mais confiável e precisa. Desta forma, a calibração deve ocorrer nos resultados simulados que apresentam pelo menos alguma semelhança ao modelo real. Coakley et al. (2011) enfatiza que a finalidade da calibração é diminuir a discrepância entre dos dados simulados em relação ao real. Por isso, 36 para a obtenção deste resultado inicial é necessário realizar simulações testes e alterar alguns parâmetros duvidosos e que apresentam grandes mudanças nas variáveis de saída. Pereira (2009), em estudo de caso de uma residência monitorada em Florianópolis, identificou que ao realizar alterações nos parâmetros de resistência térmica dos materiais pouca foi a influência nos valores de temperatura do ar dos ambientes, o que poderia não contribuir significativamente na aproximação do modelo com as medições. No mesmo estudo, a autora identificou que os parâmetros de temperatura do solo, absortância e ventilação foram parâmetros que apresentaram maior influência. Por isso, estes parâmetros devem ser trabalhados com prioridade. Para a calibração para demanda energética já existem padrões estabelecidos para os indicadores estatísticos, como o coeficiente de variação do erro quadrático médio – CV(RMSE). Mas, de acordo com Mateus (2012), ainda existe a necessidade de se definirem valores padrões que permitam determinar se um modelo de desempenho térmico se encontra validado ou não, pois ainda não existem valores de consenso entre os pesquisadores ou normatizados. Em estudo de caso de monitoramento da temperatura do ar, o autor considerou adequado o valor de 10% para desvio médio máximo entre os valores simulados relacionados aos medidos, correspondendo à ordem de grandeza do erro associado aos projetos de engenharia. Tahmasebi (2012), utilizou R² em calibração de simulação energética pois o principal propósito do modelo desenvolvido é a previsão de resultados futuros e este indicador fornece informações sobre a qualidade do ajuste de um modelo. Desta forma, entre a variação de zero a um, o R² indica a linha de regressão que se encaixa perfeitamente os dados reais. 2.8. ENERGY PLUS (OPEN STUDIO E SKETCH UP) O EnergyPlus, elaborado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, surgiu a partir dos programas BLAST e DOE-2, que foram desenvolvidos no final da década de 70 como ferramentas de simulação de carga energética. Segundo o manual do programa, ele foi desenvolvido para engenheiros e arquitetos com o objetivo de dimensionar o equipamento de climatização adequado, desenvolver retrofit e estudos de análises de custo de ciclo de vida do edifício e otimizar o desempenho da energia. Assim como outros, o EnergyPlus é um programa de simulação desenvolvido para modelagem de edifícios associando aquecimento, ventilação e ar condicionado (ENERGYPLUS, 2012). O EnergyPlus é um programa de livre acesso e permite a entrada de vários outros arquivos que descrevem o edifício a ser modelado e o ambiente que o rodeia, ou seja, foi 37 concebido para ser um elemento dentro de um sistema de programas que incluem até uma interface gráfica para descrever o edifício. O programa produz vários arquivos d e saída, que precisam ser analisados ou processados, a fim de dar sentido aos resultados da simulação (ENERGYPLUS, 2012). A facilidade de acesso e diversidade de possibilidade de entradas e saídas podem ser os motivos para que o programa venha sendo altame nte utilizado internacionalmente por diversos grupos de pesquisa de eficiência energética e laboratórios de certificação. O programa SketchUp é uma ferramenta para construção de modelos em 3D, ou seja, maquetes eletrônicas. Ele é fácil e intuitivo de usar, podendo ser utilizado para criar modelos em 3D, desde o início ou importando dados existentes, como plantas em outros formatos e localizações de terrenos do Google Earth. O programa também permite que outras ferramentas sejam incorporadas ampliando suas ações, como criação de imagens fotorrealísticas, e a inserção de atributos aos componentes (materiais de construção, características térmicas). O livre acesso e a flexibilidade de utilização podem ser os motivos que levem a ampla utilização deste programa. O SketchUp permite a utilização do plugin OpenStudio, que facilita a inserção e organização dos dados para que o modelo seja importado para o EnergyPlus. Desta forma, a construção do modelo torna-se mais simples ao utilizar estas três ferramentas em conjunto, aproveitando a forma fácil de desenhar em 3D no SketchUp, a simples inserção das características térmicas dos materiais no OpenStudio e a diversidade de simulação de variáveis térmicas e de eficiência energética com o EnergyPlus. Por estes e outros motivos, o EnergyPlus é utilizado em diversos estudos de simulação termoenergética e eficiência energética, além, de ser uma ferramenta útil, prática e confiável no processo de desenvolvimento de projetos de edifícios. 2.9. O CLIMA QUENTE- ÚMIDO E QUENTE- SECO PARA ARQUITETURA A fonte de energia, o sol, e sua interação com a atmosfera e toda a superfície do planeta cria um padrão tendencional onde as características se repetem, essa interação determina o comportamento do clima em todo o mundo (LEÃO, 2007). O estudo do clima compreende tanto a formação resultante de diversos fatores especiais e geomorfológicos que sejam provocados pela movimentação planetária de translação e ou rotação, energia solar, latitude, altitude, ventos, distribuição das terras e das águas, vegetação, etc, quanto às caracterizações definidas pelas variáveis: temperatura do ar, 38 umidade do ar, movimentos das massas de ar e precipitação, torna-se, pois, importante para a compreensão do sistema atmosférico (MAITELLI, 1994). As características temporais que caracterizam o clima da região que se situa a cidade de Cuiabá determinam um padrão climático polarizado em duas estações definidas como, quente seco e quente úmido, onde toda a pluviosidade se concentra em um período de seis meses do ano, que vai de outubro março, sendo o restante do ano caracterizado por chuvas irregulares e escassas. Frota (2001) apresenta que o grau de umidade relativa do ar influencia as condições climáticas de um local ao diferenciar as amplitudes das temperaturas diárias. Durante o dia em dias úmidos, maior é a quantidade de água em suspensão, estas partículas absorvem a radiação solar se aquecendo e funcionam como barreira para que a radiação atinja o solo. Durante a noite, essas partículas dificultam que a radiação absorvida pelo solo seja dispersa para o ar. Assim, as temperaturas não são tão altas durante o dia e nem tão baixas durante a noite, apresentam amplitude térmica reduzida. Já em dias secos, uma grande quantidade de radiação atinge o solo durante o dia e é perdida durante a noite, aumentando muito a amplitude térmica. Portanto, a autora sugere a adoção de partidos arquitetônicos distintos em função dos climas típicos brasileiros: quente-seco e quente-úmido. Segundo Frota (2001), para o clima quente-seco deve-se adotar partidos com uma inércia térmica elevada, que levará a um grande amortecimento do calor e um atraso térmico significativo no número de horas, sendo que o vento não será be m vindo. Já para o clima quente-úmido deve-se permitir a ventilação quando as temperaturas externas estiverem abaixo das internas e adotar leve inércia térmica, para um rápido resfriamento do espaço interno. 2.10. ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS PARA ZONA 7 Na parte 3 da NBR 15220 (2008) é apresentado o zoneamento bioclimático brasileiro e as diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social (Figura 8). As oito zonas brasileiras foram determinadas a partir das normais climatológicas aplicadas à carta bioclimática de Givoni, tais cartas foram desenvolvidas para um padrão de usuário (GIVONI, 1992; GIVONI et al., 2011). A partir das características climáticas do ambiente (temperatura do ar, temperatura de bulbo úmido e umidade relativa do ar), definiram-se diretrizes favoráveis ao conforto térmico do usuário. Na NBR 15220-3 (2008), estas diretrizes são apresentadas para cada zona bioclimática, assim como, os limites das propriedades térmicas dos elementos construtivos (paredes e coberturas): fator solar, atraso térmico e transmitância térmica. 39 Figura 8 – Zoneamento Bioclimático Brasileiro Fonte: NBR15220-3 (A BNT, 2008) A partir das normais climatológicas, a cidade de Cuiabá, segundo a NBR 15220 (2008), é classificada como pertencente à zona bioclimática 7, (Figura 9). As estratégias indicadas são aberturas para ventilação sombreadas e pequenas (de 10% a 15% da área do piso), paredes e coberturas pesadas (paredes: U2,20W/m²K; 6,5horas; FSo3,5% e coberturas: U2,00W/m²K; 6,5horas; FSo,5%). Além do estabelecimento destes índices, também se propõe: a) Estratégia de desumidificação, para redução da umidade, por meio da renovação do ar interno, com a promoção da ventilação dos ambientes. b) Estratégia de resfriamento evaporativo e massa térmica para resfriamento, alta inércia para redução das temperaturas internas. c) Estratégias de ventilação, para redução das temperaturas, com ventilação seletiva, nos período em que a temperatura interna seja superior à externa. d) Estratégia de refrigeração artificial, o uso de resfriamento artificial será necessário para amenizar a eventual sensação de desconforto térmico por calor. Figura 9 – Normais climatológicas da zona bioclimát ica 7 Fonte: NBR15220-3 (A BNT, 2008) 40 3. LOCAL DE ESTUDO Esta pesquisa foi desenvolvida no município de Cuiabá-MT, em uma região em em crescimento ocupacional urbano, sendo escolhida uma edificação residencial resultante de um processo de construção em série de um conjunto habitacional. 3.1. CUIABÁ : LOCALIZAÇÃO E CLIMA O município de Cuiabá localiza-se na mesorregião Centro-Sul-Mato-Grossense, nas coordenadas geográficas 15º 35’ 56” de latitude sul (S) e 56º 06’ 01” de longitude oeste (W) de Greenwich (Gr). O município possui uma área de 3.538,17 km², sendo 254,57 km² de área urbana (Lei n.º 4.719/04) e 3.283,60 km² de área rural. A sede municipal está situada à altitude ortométrica de 177 metros (CUIABÁ, 2012). Machado et al. (2012) realizou um estudo de sobreposição dos modelos de Köppen, Thornthwaite & Matter e Strahler de classificação climática para a cidade de Cuiabá relacionando uma maior variedade de elementos e fatores climáticos, definindo-se o clima tropical subúmido seco, com chuvas de verão a outono. Ao analisar o climograma das normais climatológicas (Figura 10) verifica-se a definição de dois períodos: um de novembro a março (período quente úmido) e outro de maio a agosto (período quente seco), sendo abril e outubros meses de transição entre os períodos. Leão (2007), por considerar não haver consenso entre a quantificação dos meses para cada período entre os autores, optou pela análise bioclimática do ano climático segundo períodos equivalentes (seis meses para cada) de verão chuvoso (outubro a março) e inverno seco (abril a setembro). Figura 10 – Climograma das normais climatológicas de 1961-1990 de Cuiabá-MT (períodos seco e úmido) 40 Úmido 35 Temp. máxima Temp. mínima Seco Úmido 250 200 30 150 25 100 20 50 15 Preciptação (mm) Temperatura do ar (ºC) Preciptação acumulada 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Meses Ago Set Out Nov Dez Fonte: INM ET 3.2. DISPERSÃO E ZONEAMENTO URBANO O processo evolutivo da cidade se configura por uma expansão territorial urbana definida por interesses empresariais e políticos os quais levaram ao aumento do perímetro 41 urbano em desproporção ao aumento populacional. Este processo foi desencadeado pelos interesses econômicos particulares de valorização de terras rurais, assim que passaram a pertencer ao perímetro urbano. Desta forma, a densidade habitacional de Cuiabá é muito baixa, de 23hab/ha (CUIABÁ, 2012). A densificação urbana apresenta vantagens: uso racional de energia e preservação dos recursos naturais, pois diminuem as distâncias das viagens e a emissão de poluentes; otimização da infraestrutura; proteção das áreas agrícolas rururbanas; e, diversidade cultural e social. Mas em excesso, apresenta desvantagens: aumento da poluição, a perda de qualidade de vida, redução de áreas verdes e alterações microclimáticas (MASCARÓ et al., 2001). Em contradição, o espalhamento urbano, que no caso brasileiro é decorrente da falta de continuidade da malha urbana (vazios urbanos), também apresentam problemas, pois o custo da terra tende a ser baixo, enquanto que o padrão de desenvolvimento é economicamente insuficiente (MASCARÓ et al., 2001). O autor definiu parâmetros de adensamento populacional considerando um padrão mais econômico de moradia (relação custo de infraestrutura com quantidade de habitantes) sem perder a qualidade ambiental da cidade, a densidade mais adequada variou entre 300 e 350hab/ha, sendo mínimo de 40hab/ha. Para o desenvolvimento sustentável, Silva (2013) afirma que uma solução de minimização para os impactos ambientais das cidades contemporâneas pode ser por meio de um “metabolismo” circular, reduzindo as entradas e saídas do sistema, o qual é possível nas cidades compactas (Figura 11). Figura 11 – Diagrama de cidades com metabolismo circu lar Fonte: SILVA (2013) Em 2000 e 2010 em Cuiabá, o fenômeno de dispersão urbana passou de 9.202ha para mais de 13.422ha e a área urbana se ampliou em 45,86%, enquanto que a população da cidade cresceu apenas 13,54%. Apesar de ter ocorrido um acréscimo do numero de habitantes em 42 relação ao perímetro urbano (18,72 hab/ha, em 2000, para 21,25 hab/ha, em 2010), ao analisar área efetivamente ocupada pela mancha urbana, a densidade apresentou um decréscimo (de 51,8 hab/ha para 40,3 hab/ha no mesmo período) (SILVA, 2013). No mesmo estudo, constatou-se que em 15 anos será possível duplicar ou até triplicar a população da cidade, mantendo a qualidade ambiental e o atual perímetro urbano com a mesma proporção adequada de áreas verdes, superfície de água, equipamentos e infraestrutura urbana. Para a mudança do cenário atual, deve-se promover a coesão social com o aumento da densidade urbana e valorização dos espaços públicos, minimizando, a segregação socioespacial, o processo de dispersão territorial e a dependência automotiva (SILVA, 2013). Na Figura 12, verifica-se que ainda há áreas urbanas sem apresentarem uso e ocupação representadas pela cor branca. Verifica-se que a região norte obteve maior ocupação principalmente nas décadas de 70 a 80, com a criação do Centro Político Administrativo estadual, sendo a região em destaque pelo desenvolvimento e dispersão territorial, pois apresenta ocupações em áreas próximas ao perímetro limítrofe urbano e sem intraestrutura urbana, cores verdes no mapa. Figura 12 – Mapa da e xpansão urbana de Cuiabá div idido em regiões Fonte: CUIABÁ, 2012 (adaptado pelo autor) 43 Por isso, Carvalho et al. (2001), apresenta o zoneamento urbano como sendo o mais difundido instrumento urbanístico e, também, o mais criticado, tanto por sua eventual ineficácia, quanto por seus efeitos perversos (especulação imobiliária e segregação socioespacial). O autor ainda afirma que a zona de expansão urbana é a área que controla o crescimento horizontal da cidade e para a sua delimitação deve-se se tomar cuidado, pois o subdimensionamento pode favorecer a especulação imobiliária e o superdimensionamento pode produzir uma urbanização muito rarefeita. No zoneamento de uso e ocupação cuiabano, as áreas demarcadas de expansão urbana se encontram muito distantes, próximas às regiões periféricas. Isto ocorre, mesmo com a existência de vários vazios urbanos nos intermeios, os quais foram demarcados como zonas de uso múltiplo, permitindo atividades residenciais, comerciais e institucionais. 3.3 Q UALIDADE TERMOENERGÉTICA X PROCESSO EVOLUTIVO HABITACIONAL Segundo Romancini (2011), no ano de 1994, em Cuiabá, iniciaram-se novas formas de produção do espaço urbano, denominados de condomínios horizontais e loteamentos fechados. A autora afirma que esta nova morfologia revela a segregação socioespacial e a ruptura do diálogo entre os diferentes, evidenciando uma cidade fragmentada, com predomínio do espaço privado sobre o público, correspondendo ao processo de mercantilização do solo, da moradia, dos meios de transporte coletivo e demais serviços urbanos, bem como aspectos “naturais”, com as áreas vegetadas e de temperaturas mais amenas. Silva (2011), afirma que no caso de Cuiabá-MT, a implantação destes grandes empreendimentos imobiliários leva ao aumento do custo operacional da cidade, pois são instalados em áreas desprovidas de infraestrutura urbana. Nota-se que interesses sociais e a função social da propriedade e da cidade são esquecidos quando se visam lucros. Além das análises das questões urbanísticas e sociais da implantação destes empreendimentos é necessário verificar a qualidade térmica e a eficiência energética das habitações instaladas neste processo. Desta forma, ao se verificar o processo evolutivo e a forma de produção urbana que vem ocorrendo ultimamente em Cuiabá, buscou-se um objeto de estudo característico desta situação, uma edificação residencial, pertencente a um loteamento habitacional horizontal fechado na região norte de Cuiabá. 44 4. M ATERIAIS E MÉTODOS 4.1. MATERIAIS 4.1.1. Edificação residencial Ao verificar o zoneamento de Cuiabá-MT, segundo a Lei complementar nº232, lei de uso e ocupação do solo de Cuiabá-MT, constata-se que a edificação em estudo pertence a uma zona de ocupação urbana de uso múltiplo (ZUM), ou seja, é permitida a integração dos vários usos e atividades. Próxima a edificação, existem a zonas de interesse ambiental 1 (ZIA 1) e a área do Parque das Nascentes, para as quais se recomenda a recuperação, a preservação ou conservação ambiental. As zonas especiais de interesse social 1 (ZEIS 1), apresentadas na figura são zonas que necessitam realizar a regulamentação. Já as zonas de expansão urbana (ZEX) são zonas ainda não parceladas para fins urbanos e destinadas à ampliação da ocupação urbana (Figura 13). Figura 13 – Mapa das zonas de uso e ocupação do objeto de estudo Objeto de estudo ZUM ZEIS 1 ZEX ZIA 1 PARQUES Fonte: Lei Municipal n.231 (Cu iabá, 2011) (adaptado pelo autor) No loteamento no qual o objeto de estudo está inserido existem dois tamanhos de residências, as de dois quartos e as de três quartos (o terceiro quarto é considerado espaço adaptativo onde o proprietário poderá transformar em sala de TV), mas todas possuem um mesmo sistema construtivo com alterações nas orientações solares para a adequação da construção nos lotes e nas quadras. A edificação escolhida para o estudo possui três quartos, por opção de escolha oferecida pela construtora, o terceiro quarto foi transformado em sala de TV. A maioria das edificações do loteamento são geminadas nas duas laterais, uma parede dupla faz a união das residências vizinhas. 45 A residência em estudo está localizada na esquina da quadra, por isso ela só faz divisa com vizinhos em uma lateral e nos fundos. Na esquina, há uma área com solo permeável coberta por uma espécie de gramínea, local público a todos os moradores. Esta área cerca o estacionamento público, que assim como as vias de acesso, são pavimentadas com asfalto escuro e as calçadas com concreto claro (Figura 14). Figura 14 – Visualização da frente da edificação com as áreas públicas da esquina Fonte: Próprio Autor A edificação possui uma área construída com 57m² em um terreno de 126m², com 33% de área permeável com cobertura de gramíneas, mas não há unidades arbóreas de grande porte que façam sombra por ser um bairro novo e a vegetação ainda não se encontra de porte médio a alto. A edificação em estudo não possui cobertura para a garagem particular dos carros, na parte frontal do terreno. No entanto, já foi realizado um projeto para o loteamento prevendo a construção de uma cobertura para a garagem, que se for realizada irá comprometer o limite de área permeável prevista na legislação de uso e ocupação do solo (de 33% de área permeável passará a 11%, sendo que o limite é de 25% baseado na lei de uso e ocupação do solo) (Figura 15). Figura 15 – Planta de situação da edificação na esquina Fonte: Próprio Autor 46 Assim como afirma Welleir (2008) “uma zona não é um conceito geométrico e sim, um conceito térmico”. O volume de ar condicionado apresenta características semelhantes (temperatura do ar e umidade do ar), sendo delimitado por superfícies que transferem e armazenam energia, define-se como uma zona térmica. O programa de simulação a ser utilizado, o EnergyPlus, considera as zonas térmicas como um volume delimitado por superfícies em todos os lados. Portanto para a realização dos estudos, apesar da NBR15575 (ABNT, 2008) considerar a medição por ambientes, que poderiam ser separados mais ambientes dentro de uma mesma zona, dividiram-se as zonas com características semelhantes para realizar a medição no centro destas, considerando, também, que para a construção do modelo de simulação as zonas térmicas devem estar delimitadas por superfícies. Desta forma, a edificação foi dividida em seis zonas térmicas, ou seja, zonas que apresentam em geral características térmicas semelhantes, no caso são delimitadas por paredes (Figura 16). O acesso à edificação se dá pela zona da sala de estar, que contém os ambientes de sala de estar e sala de TV, representada em cor amarela. Esta zona não possui janelas, mas, uma porta grande de correr de acesso para o fundo do terreno que permite a ventilação e a boa iluminação natural. A zona da cozinha também permite o acesso ao fundo e está representada em lilás. A zona do home oficce, se caracteriza por um ambiente misto que agrupa o uso de escritório com quarto de hóspedes, sendo representado na cor vermelha. A zona na cor verde representa a suíte do casal e permite o acesso a zona do banheiro do casal na cor azul. O banheiro de uso social está representado na cor cinza. Figura 16 – Planta baixa da ed ificação com as zonas térmicas e indicação das aberturas Fonte: Próprio Autor As quatorze aberturas da edificação são organizadas em três tipos de portas (porta de abrir de madeira, porta de abrir de alumínio e vidro e porta de correr de alumínio e vidro) e 47 três tipos de janelas (janela de correr de alumínio e vidro, janela basculante pequena ou grande de alumínio e vidro) (Figuras 17 e 18). No entanto, algumas portas, apesar de serem do mesmo tipo, apresentam dimensões diferenciadas. No Quadro 4, são especificados os detalhes das aberturas de acordo com a nomenclatura utilizada na planta baixa da Figura 16. Figura 17 – Tipo de portas da edificação (a) porta de abrir de madeira; (b) porta de abrir de alumínio e vidro; (c) porta de correr de alumínio e vidro (a) (b) (c) Fonte: Próprio Autor Figura 18 – Tipo de janelas da edificação (a) janela de correr de alumínio e vidro; (b) janela basculante pequena de alumínio e vidro; (c) janela basculante grande de alumínio e vidro (b) (a) (c) Fonte: Próprio Autor Quadro 4 – Especificações de aberturas relacionadas às nomenclaturas da planta baixa das Figuras 17 e 18 NOME DIMENSÕES TIPO P1 0,80x2,10m Porta de abrir de madeira 01 P2 1,50x2,10m Porta de correr de alumínio e vidro 01 P3 0,70x2,10m Porta de abrir de madeira 03 P4 0,60x2,10m Porta de abrir de madeira 02 P5 0,80x2,10m Porta de abrir de alumínio e vidro 01 J1 1,20x0,90x1,20m Janela de correr de alumínio e vidro 03 J2 0,55x0,50x1,50m Janela basculante pequena de alumínio e vidro 02 J3 1,20x1,00x1,10m Janela basculante grande de alumínio e vidro 01 Fonte: Próprio Autor QUANT. 48 O sistema construtivo das edificações do loteamento é JET CASA. Este sistema consiste na utilização de painéis estruturais pré- fabricados mistos de concreto armado e blocos cerâmicos. Os painéis pré-fabricados e rebocados possuem 11cm de espessura e são compostos por tijolos de oito furos quadrados, com 9cm de espessura e 19cm de altura e comprimento. A estrutura dos painéis é composta por treliças metálicas em todo o perímetro dos painéis, formando um quadro estrutural externo (cor azul), e por nervuras de barras de aço com diâmetro de 5 e 8mm (cor verde), distribuídas no interior dos painéis (Figuras 19 e 20). Figura 19 – Fabricações de painéis JET CASA Figura 20 – Instalação de painéis JET CASA Es paço para abertura Fonte: www.jetcasa.com.br, acesso em julho/2013 Quadro 5 – Propriedade térmicas dos materiais dos componentes construtivos , baseados na NBR15220 (2008) Materiais Rugosidade Espessura Condutiv. Calor Espec. Absorção térm., (W/m.K) Densidade (Kg/m³) (mm) (J/Kg.K) solar e visível Painel Alvenaria Rugoso 0,014 0,9 2252 0,92 0,90 / 0,65 / 0,65 Argamassa Rugoso 0,01 1,15 2000 1,00 0,90 / 0,30 / 0,30 Telha cerâmica Rugoso 0,01 1,05 2000 0,92 0,90 / 0,75 / 0,75 Laje Forro Rugoso 0,10 1,75 2400 1,00 0,90 / 0,65 / 0,65 Laje Piso Rugoso 0,02 1,75 2400 1,00 0,90 / 0,65 / 0,65 Porta de M adeira Liso 0,05 0,058 200 2,3 0,90 / 0,20 / 0,20 Alumínio Liso 0,003 230 2700 0,88 0,50 / 0,20 / 0,20 Azulejo Liso 0,01 1,05 2000 0,92 0,90 / 0,30 / 0,30 Fonte: Próprio Autor Desta forma, a edificação é constituída por paredes de painéis pré-moldados, laje de contrapiso sobre o solo, forro de laje e cobertura de estrutura metálica com telhas cerâmicas. O revestimento interno é com massa fina e pintura clara, mas na sala de TV há duas paredes com pintura escura. Nos dois banheiros os azulejos foram instalados em todo perímetro até o forro, assim como todo o piso da residência. Nas paredes externas foram aplicadas texturas em tons claros nas cores verde e amarelo. No Quadro 5, são apresentadas as propriedades 49 térmicas e características dos materiais que compõem os componentes construtivos da edificação, representados pelo Quadro 6. Quadro 6 – Quadro de especificações da composição dos componentes construtivos Transmitância Capacidade W/(m².K) kJ/(m²K) Parede Argamassa + Painel + Argamassa 0,30 2,792 158* Parede de divisa Argamassa + Painel + Argamassa+ Painel + Argamassa 0,30 1,820 316* Piso Laje + Azulejo 0,20 3,499 240* Cobertura Telha Cerâmica + ar + laje 0,75 1,92* 113* * Este dado foi retirado da NBR15220 (2008) referente a uma cobertura semelhante, pois no modelo do programa este elemento foi construído como uma zona térmica e o valor de transmitância total não foi calculado. Componentes Composição α Fonte: Próprio Autor As relações das áreas das aberturas em relação as área dos pisos estão adequadas, e as aberturas estão presentes em fachadas opostas, o que permite uma boa iluminação natural e ventilação cruzada no interior da edificação. Quanto a iluminação artificial, em cada ambiente é apresentado um ponto de iluminação e na zona da sala de estar são apresentados quatro pontos de iluminação artificial. Apesar da ventilação natural, ainda há equipamentos de ar condicionado instalados na sala de estar e no quarto de casal. Na sala, o equipamento de ar condicionado possui capacidade de 12.000btu/h e potência elétrica de 1.090W, já no quarto de casal possui capacidade de 7.500btu/h e potência elétrica de 660W. Ambas as unidades condensadoras foram instaladas em tensão de 220Volts e em áreas sombreadas. A edificação sob estudo possui um casal de moradores, que devido à rotina de trabalho diário fora de casa, a edificação é pouco utilizada durante o período diurno. No entanto, durante os finais de semana aumenta-se o uso. Segundo as recomendações ABNT (2013), os ambientes considerados para a avaliação são os dormitórios e as salas, ou seja, ambientes de permanência prolongada. Desta forma, para a avaliação do desempenho térmico e eficiência energética são consideradas principalmente três zonas: da sala de estar, home office e quarto do casal. 4.1.2. Equipamentos Os equipamentos utilizados nesta pesquisa foram calibrados, com as licenças dos softwares em dia e disposição, pertencentes ao laboratório, sem haver a necessidade de serem adquiridos especificamente para este trabalho. 50 4.1.2.1. Estação Micrometeorológica Utilizou-se a estação Micrometeorológica da marca Davis Instruments, composta pelo Conjunto de Sensores Integrados (ISS) modelo VantagePro2, instalada há 2m de altura do solo, que permite a obtenção dos dados externos do microclima local da edificação. O equipamento contém termômetro; barômetro; higrômetro; anemômetro; biruta; piranômetro; heliógrafo e pluviômetro que coletam os dados do tempo e os enviam para o console da VantagePro2 via ondas de rádio de baixa intensidade (Figura 21, 22 e 23). Para o funcionamento da estação, uma placa fotovoltaica gera energia e carrega a bateria. Já o console que fica instalado no interior da edificação é ligado à tomada de energia elétrica e possui baterias internas para eventuais falhas de energia. Os dados armazenados na memória do console são capturados para o computador a partir de um cabo RS232/USB e analisados com a ajuda de um software, WeatherLink5.7. Figura 21 – Instalação da Estação Figura 22 – Console da VantagePro2 Fonte: Próprio Autor Figura 23 – Estação micro meteorológica Fonte: Próprio Autor Fonte: Próprio Autor 4.1.2.2. Termômetro digital portátil e infravermelho No trabalho, foram utilizados dois tipos de termômetros digitais, os que medem a temperatura através de estruturas sensíveis e os que medem através de raio infravermelho sem entrar em contato com o meio ou corpo. O termômetro digital portátil, modelo TH-1300 da marca Instrutherm, pode ser submerso e possui sensor termopar (-10 a 250°C) que permite a obtenção de dados de 51 temperatura do solo á profundidade de 10cm. Este equipamento funciona com bateria 9Volts e registra e congela o valor da temperatura no visor. Para seu funcionamento deve-se introduzir a extremidade da bainha metálica do termopar no solo (Figura 24). O termômetro digital infravermelho com mira a laser, modelo TI-800 da marca Instrutherm é um dispositivo que mede a temperatura da superfície sem entrar em contato com o corpo (-20 a 200ºC). Este equipamento funciona com bateria 9Volts e registra e congela o valor da temperatura no visor (Figura 25). Figura 24 – Termô met ro digital portátil Figura 25 – Termô met ro digital infravermelho Fonte: Próprio Autor Fonte: Próprio Autor 4.1.2.3. Registrador com sensores de temperatura do ar, umidade relativa do ar e iluminância Quatro registradores (datalogger) HOBO U12-012 da Onset que registram a temperatura do ar (-20 a 70ºC), umidade relativa do ar (5 a 95%) e iluminância (10 a 32.280lux) foram utilizados neste trabalho (Figura 26). Este equipamento funciona com a energia de uma bateria de lítio de 3V CR2032. Cada equipamento disponibiliza um canal externo, o qual foi utilizado para medição de temperatura, por meio do cabo TMC20HD (-20 a +70ºC) (Figura 27). Figura 26 – Reg istrador HOBO U12-012 Fonte: Próprio Autor Figura 27 – Cabo TM C20HD Fonte: Próprio Autor Em três cabos foram acopladas esferas pintadas com tinta preta fosca, material adaptado, presas a hastes, que também foram adaptadas com palitos de madeira fixados em 52 uma base (sabonete). Desta forma, com os equipamentos calibrados, os dados de temperatura ar em bulbo seco, passam a ser considerados como temperatura de globo (Figura 28). No quarto registrador o cabo de temperatura foi encapado com mangueira de chuveiro de cor clara para ser utilizado na determinação da temperatura do solo, em 60cm de profundidade (Figura 29). Figura 28 – Cabo TM C20HD co mo globo Figura 29 – Cabo TM C20HD encapado Fonte: Próprio Autor Fonte: Próprio Autor Para descarregar os dados registrados, deve- se conectar o equipamento ao computador utilizando um cabo USB. Estes dados, são baixados e analisados com o auxílio do software HOBOware. 4.1.2.4. Registrador com sensor de ocupação e luz Três registradores (datalogger) HOBO UX90-006x da Onset foram utilizados em ambientes internos da edificação. Estes equipamentos monitoram quando os ambientes estão sendo ocupados ou não e se a luz está ligada ou não. Este compacto registrador funciona com a energia de uma bateria de lítio de 3V CR2032 e possui visor de LCD embutido para a verificação de status, nível de bateria restante e consumo de memória. Pode-se usar a tela LCD para calibrar rapidamente o registrador para o nível de luz no quarto ou selecionar limiares de sensibilidade pré-definidos com o software HOBOware, utilizado para baixar e analisar os dados, quando o equipamento é conectado por meio de um cabo USB ao computador (Figura 30). Figura 30 – Reg istrador HOBO UX90-006x Fonte: Próprio Autor 53 4.1.2.5. Câmera de infravermelho O termovisor compacto Flir i3 (câmeras termográficas, de infravermelho, ou de imagens térmicas) registra imagens de energia ou de temperatura de infravermelho. Este equipamento de termografia infravermelha produz imagens visuais da radiação infravermelha e calculam medições precisas de temperatura sem contato com o objeto (Figura 31). Figura 31 – Câmera de infravermelho Flir i3 Fonte: Próprio Autor Para o funcionamento, deve-se carregar o termovisor que possui uma bateria de Li-Ion de 3,6V e acioná- lo a cada imagem que se deseja guardar. As imagens são armazenadas em um cartão de memória e devem ser descarregadas em um computador pela própria inserção do cartão ou conectando um cabo USB. No computador as imagens são analisadas e utilizadas na geração automática de relatórios técnicos por meio do software FLIR QuickReport. Para este equipamento foram inseridas informações de temperatura do ar de 20ºC, umidade relativa 50% e emissidade de 0,9, relacionado à maioria das superfícies brancas que foram medidas. 4.1.3. Programas de simulação O programa EnergyPlus 8.0, descrito anteriormente, será utilizado para a simulação termoenergética. O modelo da edificação será construído por meio do programa SketchUpPlusPro 8 e a ferramenta OpenStudio 1.0.10, também já apresentado em tópicos anteriores. 4.2. MÉTODOS 4.2.1. Levantamento de informações (edificação) As dimensões da edificação de estudo foram obtidas a partir do levantamento com o auxílio de trenas. Com as dimensões, foi possível desenhar a planta baixa com as dimensões de aberturas e alturas da edificação. 54 O sistema construtivo da edificação foi investigado a partir de verificações no local, pesquisas sobre sistemas construtivos em loteamentos residenciais e sobre a construtora, análises de fotografias, entrevista com os moradores, estudo do manual do proprietário e relatórios técnicos sobre o sistema construtivo. O uso dos ambientes pelos moradores e caracterização da logística do consumo de energia elétrica na edificação foi definido a partir de entrevistas, verificação das contas de energia e análise dos dados medidos pelo registrador com sensor de ocupação e iluminação HOBO UX90-006x. Este equipamento foi instalado no centro de três ambientes de permanência prolongada a serem estudados: zona da sala de estar, do home office e quarto de casal. 4.2.2. Pré- funcionamento dos equipamentos Antes de instalar os equipamentos, foram realizados testes para confirmação de funcionamento, estados das memórias e trocas de baterias. Nestes testes também foi possível determinar os melhores locais para a instalação dos equipamentos de medições. Nesta etapa também foram verificadas as datas de vencimento das licenças de utilização dos softwares e certificados de calibração, sendo que todos os equipamentos utilizados atendiam positivamente a estas questões. No entanto, os quatro HOBO U12-012 com cabo TMC20HD com globo foram submetidos a uma comparação, para se diminuir o erro na comparação entre as diferenças de temperaturas registradas. Desta forma, os equipamentos foram instalados numa mesma situação e atingiram coeficientes de determinação muito explicativos, muito próximos a 1, para os dados de temperatura do ar e umidade do ar. Mesmo assim foram feitos os ajustes nos dados em relação a um equipamento padrão (Figura 32). Figura 32 – HOBO U12-012 co m cabo TMC20HD instalados para calibração Fonte: Próprio Autor 55 4.2.3. Períodos As medições foram realizadas em dois períodos, de acordo com as características de clima para a arquitetura apresentadas por Frota (2001), deve-se avaliar os períodos quenteseco e quente- úmido. Segundo a recomendação da ABNT (2013) para desempenho térmico de edificações habitacionais, deve-se avaliar os dias típicos de duas estações do ano: inverno e verão. Desta forma, foram definidos dois períodos de 15 dias de medição, referente ao período quente seco coincidentemente com a estação do inverno e outro referente ao período quente úmido com características da estação do verão. 4.2.4. Variáveis microclimáticas Para os dois períodos de 15 dias foram medidas variáveis do microclima local a partir da estação micrometeorológica instalada na esquina próxima a edificação. A instalação desta estação está afastada de obstáculos que possam interferir na medição dos dados (como sombras ou fontes de interferência na velocidade do ar e temperatura do ar) (Figura 33). Figura 33 – Estação microclimát ica instalada afastada de obstáculos Fonte: Próprio Autor As variáveis externas obtidas nestas medições foram usadas para caracterização do microclima local nos dois períodos. Também foram usadas para a comparação com as variáveis internas e avaliação do desempenho térmico da edificação. Além de serem base para o arquivo climático de calibração da simulação realizada como o EnergyPlus. As variáveis externas utilizadas foram: temperatura média, máxima e mínima do ar, umidade relativa, velocidade e direção do vento, precipitação pluviométrica e radiação solar. Para a determinação da temperatura do solo foi utilizado o cabo TMC20HD conectado ao canal externo do registrador HOBO U12-012. Em um primeiro instante foi escolhida a 56 região do quintal da edificação para a medição prevendo as condições de segurança, funcionamento, abrigo e coleta dos dados do equipamento de medição durante a permanência por um grande período. Nesta região, determinaram-se quatro pontos com condições de insolação diferentes e possíveis diferenças nas características do solo (Figura 34). Nestes pontos foram medidas as temperaturas horárias das 11h às 19h, sendo na superfície com termômetro digital infravermelho modelo TI-800 da Instrutherm e em 10cm de profundidade com termômetro digital portátil TH-1300 da Instrutherm no dia 12 de junho de 2013. A partir dos resultados escolheu-se o ponto 4 por apresentar menor diferença de temperatura entre as horas e por se manter o maior tempo sombreado. Figura 34 – Quatro pontos de medições do solo Fonte: Próprio Autor No ponto 4, foi instalado o cabo TMC20HD conectado ao registrador HOBO U12-012 para a determinação da temperatura do solo, para os dois períodos de 15 dias. Para isso, ouve a necessidade de se cavar um buraco retirando as camadas do solo e recolocando-as na ordem correta até atingir a profundidade de 60cm (Figura 35 e 36). Figura 35 – Camadas do solo (a) Grama; (b) Horizonte A: M atéria Figura 36 – Instalação do Cabo TMC20HD orgânica – 6cm; (c) Horizonte B: Argila – 8cm; (d) Lã de rocha; (e) Brita 3 – 10cm; (f) Argila e brita 2 – 0,36 (a) (b) (c) (d) (e) (d) (f) Fonte: Próprio Autor Fonte: Próprio Autor 57 A temperatura do solo a partir de uma profundidade, dependendo das características de cada solo, não sofre muitas alterações entre os pontos e as demais profundidades devido à alta inércia térmica, desta forma as temperaturas registradas podem ser consideradas as mesmas do solo sob a edificação de estudo. Os dados medidos de temperaturas do solo são necessários para inserção no programa de simulação e são referentes ao solo que está sob a edificação, trocando energia com ela. Por se tratar de dados de apenas dois períodos de 15 dias, as temperaturas do solo medidas servirão apenas para a calibração do modelo. Já a simulação de 8760horas deverá utilizar dados simulados ou obtidos de outras referências. 4.2.5. Variáveis internas da edificação Nas três zonas térmicas foram instalados os conjuntos de HOBO U12-012 com cabo TMC20HD, no centro dos recintos, quando foi possível (sala de estar), a 1,20 m do piso, assim como recomendado pela norma de desempenho térmico (ABNT, 2013). As variáveis coletadas a cada 15min por estes equipamentos nos dois períodos de medição são temperatura do ar, umidade relativa do ar e temperatura de globo (Figura 37). Nestas zonas também foram instalados os registradores HOBO UX90-006x, estes equipamentos devem ser instalados em pontos estratégicos que proporcionem uma maior varredura do ambiente. Na sala de estar foi instalado a uma altura de 1,50m e não possui obstáculos para os sensores de ocupação e luz. Já nos outros ambientes instalou-se a uma altura de 1,20m junto com os outros registradores de temperatura e umidade (Figura 38). Figura 37 – Instalação do HOBO U12-012 com cabo Figura 38 – Instalação do HOBO UX90-006x TMC20HD co m g lobo Fonte: Próprio Autor Fonte: Próprio Autor 58 4.2.6. Avaliação do desempenho térmico: medição (NBR15575, ABNT, 2013) A avaliação de desempenho térmico pelo procedimento de medição ocorre com a verificação do atendimento dos critérios de temperatura de bulbo seco do ar, medida no centro do ambiente a 1,20m de altura em relação ao piso. A análise dos dados é feita para um dia típico de projeto, de verão ou inverno, precedido por três dias sequenciais. A caracterização do dia típico é feita com os dados de temperatura exterior medida no local. Os dados de dias típicos de algumas cidades brasileiras são definidos pela NBR155751 (2013). Para Cuiabá, os dias típicos de verão e inverno são apresentados na Tabela 6. Tabela 6 – Dados de dias típicos de verão e de inverno de Cuiabá/MT Período Temperatura máx. e mín. diária (°C) Amplitude diária de temperatura (°C) Temperatura de bulbo úmido (°C) Radiação solar (Wh/m²) Nebulosidade (décimos) Verão 37,8 12,4 24,8 4 972 6 Inverno 11,4 14,3 20,1 4 163 4 Fonte: NBR 15575-1 (A BNT, 2013) A avaliação é feita a partir da análise das temperaturas internas e externas do ar para o dia típico de estudo. Os critérios para avaliação para cada período são apresentados nas Tabelas 7 e 8. Tabela 7 – Critério de avaliação de desempenho térmico para condições de verão Fonte: NBR 15575-1 (A BNT, 2013) Tabela 8 – Critério de avaliação de desempenho térmico para condições de inverno Fonte: NBR 15575-1 (A BNT, 2013) 59 4.2.7. Variáveis dos elementos da construção O termovisor compacto Flir i3 foi utilizado para registrar as imagens e as temperaturas de infravermelho das superfícies em três dias de medições nos horários 8h, 14h e 20h. Todos os ambientes da edificação foram utilizados para a avaliação, sempre que possível foram consideradas as paredes internas e externas, teto e piso dos ambientes, totalizando 34 pontos em paredes internas e 12 pontos em paredes externas, as temperaturas da superfície interna do teto e do piso foram obtidas de cada ambiente. Em algumas paredes não foi possível determinar as temperaturas, por causa dos móveis e objetos de decoração existentes na edificação. Esta determinação permite avaliar as características térmicas dos elementos da envoltória da edificação. Desta forma, pode-se identificar mais facilmente os pontos mais desfavoráveis para o desempenho térmico da envoltória. 4.2.8. Avaliação do desempenho térmico: simplificado (NBR15575, ABNT, 2013) Na avaliação de desempenho térmico pelo procedimento simplificado são analisados os elementos da envoltória, vedações na NBR15575-4 (ABNT, 2013) e cobertura na NBR15575-5 (ABNT, 2013) de acordo com a zona bioclimática definida na NBR15220-3 (ABNT, 2005b). Nas Tabelas 9, 10 e 11, são apresentados os critérios para a aceitação do nível mínimo “M”, na avaliação de vedações verticais. Tabela 9 – Critério máximos ad missíveis para transmitância térmica de paredes externas Fonte: NBR 15575-4 (A BNT, 2013) Tabela 10 – Critério mín imos admissíveis para capacidade térmica de paredes externas Fonte: NBR 15575-4 (A BNT, 2013) 60 Tabela 11 – Critério para áreas mín imas admissíveis de ventilação em dormitórios e salas de estar Fonte: NBR 15575-4 (A BNT, 2013) Para a obtenção da relação “A”, deve-se dividir a área efetiva para a ventilação do ambiente, ou seja, que não possua vidro nem venezianas, pela área do piso do ambiente. O sistema de vedações verticais externas pode ser o primeiro a ser avaliado, considerando o método de procedimento simplificado. Mas, se não atenderem a este critério, deve-se avaliar pelo procedimento de medições em campo ou simulação. Para a avaliação das coberturas, quanto ao desempenho térmico, obtendo-se a aceitação do nível mínimo “M”, intermediário “I” ou superior “S”, deve adotar os critérios da Tabela 12. Assim como nas vedações verticais, caso não seja atendido o nível mínimo “M” pelo procedimento simplificado, deve-se adotar os demais procedimentos de avaliação. Tabela 12 – Critério e n íveis de desempenho de coberturas quanto à para transmitância térmica Fonte: NBR 15575-4 (A BNT, 2013) 4.2.7. Simulação Computacional O programa utilizado para realizar as simulações termoenergéticas para a definição de nível energético proposto pelo RTQ-R deve atender aos pré-requisitos especificados no regulamento. Por isso, para a modelagem da edificação foi utilizado o Plug- in OpenStudio (versão 1.0.11) e os programas SketchUp Pro (versão 8) e EnergyPlus (versão 8.1.0), o qual está de acordo com as exigências. 61 4.2.7.1. Montagem do arquivo climático (inserção de dados medidos) Para gerar a simulação é necessário utilizar um arquivo climático com 8.760 horas por ano e devem ser disponibilizados pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos ou publicados no sitio www.procelinfo.com.br/etiquetagem_edificios, em formatos tais como TRY e TMY. Para a cidade de Cuiabá existe um arquivo climático desenvolvido a partir de dados do Aeroporto Marechal Candido Rondon, o qual foi utilizado no trabalho. Para a calibração deve-se utilizar um arquivo climático com dados simultâneos ao período de medição. Por isso, a partir do arquivo climático disponibilizado foram inseridos alguns dados pontuais do microclima do local de estudo. O processo de modificação do arquivo climático está discriminado a seguir: a) Abrir o arquivo climát ico orig inal em Excel (.csv), transformar em texto para colunas, substituir (.) por (,) e alterar as informações desejadas. Para este estudo foram alterados os dados de 28/06/2013 a 12/ 07/ 2013 e de 31/12/2013 a 14/ 01/ 2014 das variáveis: Bulbo seco (ºC), Bu lbo Úmido (ºC) (es timada), Umidade Relat iva (%), Pressão Baromét rica (KPa), Radiação solar direta (w/ m²), Direção do vento (º), Velocidade do ar (m/s); b) Salvar o arquivo novamente em (.csv); c) Abrir em bloco de notas, substitua (,) por (.) e (;) por (,), cole o cabeçalho original e salve co mo (.epw); d) Simu lar o arquivo com o novo arquivo climát ico, caso apareçam erros novos, corrigir possíveis falhas no arquivo climát ico, salvar e simular novamente. 4.2.7.2. Geometria A construção dos ambientes do modelo consiste em seis zonas térmicas, mas apenas as de permanência prolongada foram analisadas e utilizadas para a classificação do nível energético: home office, sala e quarto do casal. As paredes que fazem divisa com a edificação vizinha foram consideradas com trocas com ambiente externo, mas sem considerar a exposição ao vento e ao sol. Os muros e beirais foram construídos como elementos de proteção solar e não reirradiam calor, apenas provocam o sombreamento da edificação (Figuras 39 e 40). Figura 39 – Maquete eletrônica da vista da frente Figura 40 – Maquete eletrônica da vista dos fundos Fonte: Próprio Autor Fonte: Próprio Autor 62 Para a construção da cobertura foram criadas novas zonas térmicas, representando graficamente as inclinações, volumes de ar e superfícies de delimitação (telhado, forro e paredes). Devido a limitações do programa a cobertura geral deve ser particionadas. Por isso, as paredes internas, criadas para delimitar as zonas da cobertura, apresentam baixa resistência térmica se aproximando a situação real, em que não existem paredes (Figura 41 e 42). Figura 41 – Demarcação do corte longitudinal Figura 42 – M aquete eletrônica com corte longitudinal, Fonte: Próprio Autor 3,0 m 2,7 m 4,9 m 3,2 m apresentando as alturas Fonte: Próprio Autor 4.2.7.3. Sistema operacional da edificação Para sistemas de uso e ocupação, funcionamento de aberturas, iluminação e equipamentos eletrônicos e ventilação natural, foram simuladas de acordo com recomendação do RTQ- R. O regulamento apresenta cronogramas de pessoas (quantidade, atividade e ocupação), temperatura para funcionamento de aberturas, cronograma de densidade de iluminação e equipamentos (quantidade e funcionamento.) 63 5. RESULTADOS 5.1. CARACTERIZAÇÃO DOS PERÍODOS – DADOS EXTERNOS Os dois períodos de análise foram de 15 dias, verifica-se que as medições de 28/06/13 a 12/07/13 pertencem ao período das normais climatológicas com dados extremos quente seco, apresentando baixo volume de precipitação pluviométrica e temperaturas médias do ar menores. As medições de 30/12/13 a 14/01/14 pertence ao período com dados extremos quente úmido, altas temperaturas e volumes maiores de precipitações de água (Figura 43). O período quente seco de medição está contido principalmente no mês de julho, no qual a temperatura máxima do ar foi de 31,8ºC e mínima de 18,1ºC e a precipitação total no mês foram de 12,3mm. O período quente úmido está contido no mês de janeiro com tempera máxima de 32,6ºC e mínima de 23,2ºC e precipitação de 214,7mm. Figura 43 – Climograma das normais climatológicas de 1961-1990 de Cuiabá-MT (azul: períodos de medição) Temp. máxima Temp. mínima 250 35 200 30 150 25 100 20 50 15 Preciptação (mm) Temperatura do ar (ºC) Preciptação acumulada 40 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Meses Ago Set Out Nov Dez Fonte: INM ET 5.1.1. Período quente seco – dados externos Entre os 15 dias do primeiro período de medição quente seco (28/06/13 a 12/07/13), verificou-se que os valores de temperaturas médias diárias tiveram maior frequência em 26ºC, as temperaturas máxima diárias em 35ºC e as mínimas em torno de 18ºC (Figura 44). Figura 44 – Médias diárias da temperatura máxima, média e mínima, quente seco de 28/06/ 13 a 12/ 07/13 Temperatura do ar (⁰C) Temperatura máxima Temperatura média Temperatura mínima 40 35 30 25 20 15 28 29 30 1 2 3 4 5 Dias 6 Fonte: Próprio Autor 7 8 9 10 11 12 64 Os três últimos dias sequenciais (10, 11, e 12/07/2013) apresentaram valores de máximas, médias e mínimas diárias semelhantes e coincidentes aos valores repetitivos ocorridos no período. No entanto, verifica-se a queda da temperatura máxima e elevação da temperatura mínima em alguns dias (01, 02 e 09/07/2013) diferente dos valores. Ao se analisar os valores de médias horárias para o período, notou-se que os três últimos dias sequenciais apresentaram comportamentos semelhantes de temperatura do ar, sendo que há uma amplitude térmica de 16ºC, mais do que o dia típico apresentado pela NBR 15575 (ABNT, 2013), entre as temperaturas máximas e mínimas. No dia 7, ocorreu um aumento incomum de temperatura no período noturno, às 21h e às 22h. Este comportamento anormal pode ser de alguma interferência externa que sensibilizou o sensor de temperatura (Figura 45). Nos dias 01 e 02/07, em menor proporção no dia 09/07, ocorre uma queda dos picos de temperatura em mais de 5ºC. Figura 45 – Médias horárias da temperatura do ar, quente seco de 28/06/ 13 a 12/ 07/ 13 Temperatura do ar (⁰C) 40 35 30 25 20 15 Dias Fonte: Próprio Autor Este período de medição foi marcado com baixas umidades relativas durante o dia, nos picos noturnos a umidade relativa atinge 90%, enquanto durante o dia chega a 32% (Figura 46). Neste período verifica-se uma grande amplitude da umidade na maioria dos dias e poucas precipitações pluviométricas, apenas no entardecer do dia 01/07 com 10,4 mm (Tabela 13). Umidade relativa (%) Figura 46 – Médias horárias de umidade relativa do ar, quente seco de 28/06/13 a 12/07/13 100 80 60 40 20 Dias Fonte: Próprio Autor 65 Tabela 13 – Volu me pluvio métrico, quente seco de 28/06/ 13 a 12/ 07/ 13 Meses JUNHO Dias 28 (mm) 29 JULHO 30 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 10,4 Fonte: Próprio Autor A estação micrometeorológica foi instalada a 2m de altura, por isso a velocidade do vento analisada sofre perdas de velocidade e desvios, devido à rugosidade do terreno a esta altura. Mesmo assim, verifica-se uma similaridade de velocidade do vento na maioria dos dias, nos quais são registrados valores (independente da velocidade) entre 9h e 17h (Figura 47). Nos dias 1, 2, 8 e 9, os registros de velocidade se mantém entre mais horas dos dias, isso pode estar ligado à aproximação de massas de ar úmido com menores temperaturas e mais úmidas, alterando as pressões e influenciando na maior movimentação de ar. Velocidade do vento (m/s) Figura 47 – Médias horárias de velocidade do ar, quente seco de 28/06/ 13 a 12/ 07/ 13 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 Dias Fonte: Próprio Autor Ao comparar os dados do local do período com os dados do mês de julho das normais climatológicas, temperaturas máximas e mínimas de 31,8ºC e 18,1ºC e precipitação acumulada no mês de 12,3mm, verifica-se que o período escolhido para a análise está condizente com o período quente seco das normais possuindo temperaturas máximas e mínimas de 34,0ºC e 19,5ºC e precipitação de 10,4mm. Portanto, constatando-se os comportamentos semelhantes e consecutivos dos dias 10, 11 e 12 de julho de 2013, definiu-se o dia 12 como sendo o dia típico para o período quente seco. Por ser uma sexta- feira, o dia típico selecionado é correspondente a maioria dos dias da rotina dos usuários da edificação, que se diferencia nos finais de semana e feriados (Figura 48). 66 Temperatura Temperatura do ar (⁰C) 40 QUA 35 Umidade Relativa QUIN 100 SEX 80 30 60 25 20 40 15 20 Umidade Relativa do ar (%) Figura 48 – Médias horárias de temperatura e u midade relativa do ar , o dia típico da estação seca 12/07/2013 Dias Fonte: Próprio Autor 5.1.2. Período quente úmido – dados externos Entre os 15 dias do segundo período de medição quente úmido (31/12/13 a 14/01/14), verificou-se que os valores de temperaturas médias diárias tiveram maior frequência em 27ºC, as temperaturas máxima diárias entre 35ºC e as mínimas em torno de 23ºC. Os três últimos dias sequenciais (12, 13, e 14/01/2014) apresentaram valores de máximas, médias e mínimas diárias semelhantes e coincidentes aos valores repetitivos ocorridos no período, visto que neste período ocorre a aproximação das temperaturas (Figura 49). Diferente do outro período, não são perceptíveis grandes mudanças do clima devido a chegada de frentes frias. Figura 49 – Médias diárias da temperatura máxima, média e mínima, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 Temperatura do ar (⁰C) Temperatura máxima Temperatura média Temperatura mínima 40 35 30 25 20 15 31 1 2 3 4 5 6 7 Dias 8 9 10 11 12 13 14 Fonte: Próprio Autor Ao se analisar os valores de médias horárias para o período, notou-se que os três últimos dias sequenciais apresentaram comportamentos semelhantes de temperatura do ar, com amplitude térmica bem menor que o outro período, 9ºC entre as temperaturas máximas e mínimas. No dia 4, ocorreu uma queda de temperatura as entre as 13 e 15h (Figura 50). 67 Temperatura do ar (⁰C) Figura 50 – M édias horárias da temperatura do ar, quente úmido de 31/ 12/13 a 14/01/14 40 35 30 25 20 15 Dias Fonte: Próprio Autor Este período de medição, ao contrário do anterior, é marcado com altas umidades durante todo o dia, sem que haja muitas alterações entre os picos máximas e mínimas (Figura 51). Neste período verifica-se uma grande quantidade de precipitações pluviométricas, apenas em quatro dias não ocorre chuva. Em apenas 15 dias, obtém um acumulado de precipitação de 163,4mm. (Tabela 14). Umidade relativa (%) Figura 51 – Médias horárias de umidade relativa do ar, quente úmido de 31/ 12/ 13 a 14/ 01/ 14 100 80 60 40 20 Dias Fonte: Próprio Autor Tabela 14 – Volu me pluvio métrico, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 Meses Dias (mm) JANEIRO 31 1 2 0,2 7,2 3 4 5 32,8 6 7 8 9 10 11 12 13 14 47,8 9,4 42,0 1,2 1,0 3,0 18,4 0,4 Fonte: Próprio Autor Verifica-se uma similaridade de velocidade do vento na maioria dos dias, nos quais são registrados valores (independente da velocidade) entre 9h e 19h (Figura 52). No dia 31, os registros de velocidade se mantém entre mais horas dos dias, quase o dia inteiro. 68 Velocidade do vento (m/s) Figura 52 – Médias horárias de velocidade do ar, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 Dias Fonte: Próprio Autor Ao comparar os dados do local do período com os dados do mês de janeiro das normais climatológicas, temperaturas máximas e mínimas de 32,6ºC e 23,2ºC e precipitação acumulada no mês de 214,7mm, verifica-se que o período escolhido para a análise é condizente com o período quente seco das normais, possuindo temperaturas máximas e mínimas de 35ºC e 23ºC e precipitação de 163,4mm. Portanto, constatando os comportamentos semelhantes e consecutivos dos dias 12, 13 e 14 de janeiro de 2014, definiu-se o dia 14 como sendo o dia típico para o período quente úmido. Por ser uma terça- feira, o dia típico selecionado é correspondente a maioria dos dias da rotina dos usuários da edificação, que se diferencia nos finais de semana (Figura 53). Figura 53 – Médias horárias de temperatura e u midade relativa do ar, o dia típico da estação úmido 14/01/2014 40 QUA Umidade Relativa QUI 35 SEX 100 80 30 60 25 20 40 15 20 Umidade Relativa(%) Temperatura do ar (⁰C) Temperatura Dias Fonte: Próprio Autor 5.1.3. Temperatura do solo – dados externos Os dados de temperatura do solo foram registrados a cada 15minutos do dia 18/06/2013 a 15/01/2014. Os dados apresentaram pouca variação entre os horários diários de medição, isto confirma o objetivo da metodologia de que mesmo que não fossem medidos sob 69 a edificação de estudo os dados registrados representariam a mesma situação, pois devido à inércia térmica da terra, a partir de uma profundidade não ocorre grandes mudanças de temperatura. No período análise quente seco, verifica-se que a temperatura se mantém entorno de 26ºC com poucas variações de temperatura (Figura 54). Temp. do solo (ºC) Figura 54 – Médias a cada 15min de temperatura do solo, quente seco de 28/06/ 13 a 12/ 07/ 13 30 28 26 Período quente seco Fonte: Próprio Autor No período quente úmido, a temperatura se mantém entorno de 28ºC, já neste período verifica-se maiores variações de valores, diferente do que ocorre no período quente seco (Figura 55). Isso ocorre devido às chuvas que alteram a umidade no solo e provocam quedas de temperatura. Temp. do solo (ºC) Figura 55 – Médias a cada 15min de temperatura do solo, quente úmido de 31/12/13 a 14/01/14 30 28 26 Período quente úmido Fonte: Próprio Autor A temperatura do solo é um fator de grande relevância na inserção dos dados para a simulação, por isso foi medida durante o período e realizada a média mensal para ser possível inseri- la no programa. Ao comparar as médias mensais medidas com as obtidas no RTQ-R, corriqueiramente utilizada para realizar as simulações para Cuiabá/MT, verifica-se que em geral, neste caso, a temperatura medida se manteve entorno de 1ºC superior em relação à temperatura simulada (Figura 56). 70 Figura 56 – Médias mensais de temperatura do solo medidas e obtidas no RTQ-R (BRASIL, 2012a) Temp. do solo (ºC) Medido RTQ-R 30 28 26 24 22 Junho Julho Agosto Setembro Outubro Meses Novembro Dezembro Janeiro Fonte: Próprio Autor Por isso, para a construção do modelo de simulação optou-se em utilizar a temperatura medida quando possível, ou seja, nos meses de junho a janeiro. Afinal, considero u-se que a utilização dos dados medidos possibilitaram simulações mais confiáveis e próximas a realidade, contribuindo para um melhor resultado na calibração (Tabela 15). Tabela 15 – Temperaturas do solo utilizadas para simu lação, destacadas em cin zas as temperaturas med idas JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 28,26 26,61 26,71 25,88 25,20 26,74 25,94 25,04 26,88 27,93 28,57 28,30 Fonte: Próprio Autor 5.2. A VALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO 5.2.1. Avaliação do desempenho térmico – Método de medição 5.2.1.1. Período quente seco – dados internos Entre os três últimos dias típicos consecutivos, correspondentes a quarta, quinta e sexta- feira, as temperaturas internas do ar dos ambientes, registradas pelo sensor de temperatura do registrador HOBO U12-12 e ajustadas com a equação de comparação, foram comparadas com as temperaturas externas. Nota-se que os valores da zona térmica da sala possuem picos mais elevados do que a temperatura da zona do home office e esta possui picos mais elevados do que os valores do quarto de casal (Figura 57). Ao analisar o dia típico do período, verifica-se que os ambientes internos apresentam função de abrigo evitando temperaturas extremas, pois enquanto as temperaturas externas possuem amplitude de 17,1ºC, no interior dos ambientes, a amplitude cai para 6,2ºC na sala e até 3,2ºC no quarto casal. Desta forma, fica evidente a ocorrência de amortecimento térmico de 3,5ºC na sala com atraso de 1h e de 5,4ºC no quarto do casal com atraso de 2h. No dia típico, são apresentadas máximas de 34,7ºC para externa, 31,2ºC para a sala e 29,3ºC para o 71 quarto de casal e mínimas de 17,5ºC para externo, 25,0ºC para a sala e 26,1ºC para o quarto de casal (Quadro 7). Figura 57 – Médias horárias das temp. do ar internas e externa, destacando dia típico quente seco 12/07/ 2013 Temperatura do ar (ºC) Temp. home office Temp. sala QUA 1h 10/07 Temp. quarto casal QUI 12h 10/07 1h 11/07 12h 11/07 Dias Temp. externa SEX 1h 12/07 12h 12/07 24h 13/07 Fonte: Próprio Autor Quadro 7 – Resumo das temp. do ar internas e externa, destacando dia típico quente seco 12/07/2013 Externo Z. sala de estar Z. home Office Z. quarto casal Mínima 17,5ºC às 7h 25,0ºC às 8h 25,5ºC às 8h 26,1ºC às 9h Máxima 34,7ºC às 16h 31,2ºC às 17h 30,3ºC às 18h 29,3ºC às 18h Amplitude diária 17,1ºC 6,2ºC 4,9ºC 3,2ºC Amortecimento Temp. máxext – Temp. máxint 3,5ºC 4,3ºC 5,4ºC Atraso entre máx. Hora Tmáxint – Hora Tmáxext 1h 1h 2h Fonte: Próprio Autor Quanto às umidades relativas dos três dias, verifica-se que há pouca diferença entre as curvas dos ambientes e que possuem amplitudes bem menores em relação aos valores externos (Figura 58). No dia típico, 12/07/2013, são apresentadas máximas de umidade relativa de 88,5% para o ambiente externo, 63,9% para a sala e 61,3% para o quarto de casal e mínimas de 31,8% para o externo, 46,0% para a sala e 51,2% para o quarto de casal (Quadro 8). Neste dia, mesmo que com pouca diferença, o ambiente do quarto de casal apresenta valores máximos de umidade relativa menores que a sala, diferente dos dias 10 e 11/07/2013. 72 Figura 58 – Médias horárias das umid. relativas internas e externa, destacando dia típico quente seco 12/ 07/ 2013 Temperatura do ar (ºC) UR Home office UR Sala QUA 1h 10/07 12h 10/07 UR Quarto casal UR externa QUI 1h 11/07 12h 11/07 Dias SEX 1h 12/07 12h 12/07 24h 13/07 Fonte: Próprio Autor Quadro 8 – Resumo das umid. do ar internas e externa, destacando dia típico quente seco 12/07/ 2013 Externo Z. sala de estar Z. home Office Z. quarto casal Máxima 88,5% às 7h 63,9% às 9h 61,3% às 9h 61,9% às 9h Mínima 31,8% às 15h 46,0% às 19h 47,8% às 19h 51,2% às 18h 56,8% 17,9% 13,6% 16,0% UR mín int – UR mín ext 14,2% 16,0% 19,4% H UR mín int – H UR mín ext 4h 3h 3h Amplitude diária Dif. M ínimas Atraso entre mín Fonte: Próprio Autor Em geral, para o período verifica-se que o ambiente do quarto de casal apresenta melhores condições de desempenho que os demais ambientes de permanência prolongada. Apesar da norma não obrigar a definição do nível de desempenho térmico para a zona bioclimática de Cuiabá no período de inverno, foram feitas as análises. Ao avaliar a edificação segundo os critérios da NBR15575 (ABNT, 2008), verificou-se que as três zonas térmicas apresentaram nível superior de desempenho térmico para o período quente seco que corresponde ao inverno (Quadro 9). Quadro 9 – Avaliação do desempenho térmico para o período quente seco correspondente ao inverno Ambiente Temp. int. mín. (Ti mín) Sala de estar 25,0ºC Home office 25,5ºC Quarto casal 26,1ºC Temp. ext. mín. (Te mín) 17,5ºC Fonte: Próprio Autor Critério Ní vel Ti mín. ≥ (Te, mín + 7ºC) S Ti mín. ≥ (Te, mín + 7ºC) S Ti mín. ≥ (Te, mín + 7ºC) S 73 5.2.2.2. Período quente úmido – dados internos Entre os três últimos dias típicos consecutivos (12, 13 e 14/01/14), correspondentes a domingo, segunda- feira e terça- feira, nota-se que os valores internos se aproximaram, em relação ao período anterior. Mesmo assim a zona térmica da sala possuem picos mais elevados do que os valores do quarto de casal nos dias 13 e 14/01 (Figura 59). Neste período, verificam-se que as temperatura não sofrem grandes alterações, as amplitudes diárias são menos perceptíveis e não ocorre grandes diferenças em relação a temperatura externa. Figura 59 – Médias horárias das temp. do ar internas e externa, destacando dia típico quente úmido 14/01/2014 Temperatura do ar (ºC) Temp. home office Temp. sala QUA 1h 12/01 Temp. quarto casal QUI 12h 12/01 1h 13/01 12h 13/01 Dias Temp. externa SEX 1h 14/01 12h 14/01 24h 15/01 Fonte: Próprio Autor Ao se analisar o dia típico do período, verifica-se que os ambientes internos apresentam função de abrigo evitando temperaturas extremas, mas não é muito perceptível, pois enquanto as temperaturas externas possuem amplitude de 8,0ºC, no interior dos ambientes, a amplitude cai para 2,6ºC na sala e até 2,3ºC no home office, já no quarto casal a amplitude é maior entre os ambientes, de 4,5ºC. Desta forma, apresenta-se um baixo amortecimento térmico de 2,2ºC na sala sem atraso térmico e de 2,8ºC no quarto do casal com atraso de 1h (Quadro 10). Quadro 10 – Resu mo das temp. do ar internas e externa, destacando dia típico quente úmido 14/01/2014 Externo Z. sala de estar Z. home Office Z. quarto casal Mínima 23,3 às 22h 26,3ºC às 23h 26,8ºC às 23h 23,9ºC às 7h Máxima 31,3ºC às 12h 29,1ºC às 12h 29,0ºC às 13h 28,5ºC às 13h Amplitude diária 8,0ºC 2,6ºC 2,2ºC 4,5ºC Amortecimento Temp. máxext – Temp. máxint 2,2ºC 2,3ºC 2,8ºC Atraso entre máx. Hora Tmáxint – Hora Tmáxext 0h 1h 1h Fonte: Próprio Autor 74 No dia típico, são apresentadas máximas de 31,3ºC para externa, 29,1ºC para a sala e 28,5ºC para o quarto de casal e mínimas de 23,3ºC para externo, 2,2ºC para a sala e 2,3ºC para o quarto de casal. Quanto às umidades relativas dos três dias, verifica-se que há pouca diferença entre as curvas dos ambientes e que possuem amplitudes bem menores em relação ao período anterior e se assemelhando aos valores externos (Figura 60). Figura 60 – Médias horárias umid. relativas internas e externa, destacando dia típico quente úmido 14/ 01/ 2014 Temperatura do ar (ºC) UR Home office 1h 12/01 12h 12/01 UR Sala 1h 13/01 UR Quarto casal 12h 13/01 Dias UR externa 1h 14/01 12h 14/01 24h 15/01 Fonte: Próprio Autor No dia típico, 14/01/2014, são apresentadas máximas de umidade relativa de 88,5% para o ambiente externo, 63,9% para a sala e 61,3% para o quarto de casal e mínimas de 31,8% para o externo, 46,0% para a sala e 51,2% para o quarto de casal (Quadro 11). Quadro 11 – Resu mo das umid. do ar internas e externa, destacando dia típico quente úmido 14/ 01/2014 Externo Z. sala de estar Z. home Office Z. quarto casal Máxima 92,5% às 7h 80,5% às 9h 77,5% às 9h 82,0% às 9h Mínima 64,0% às 13h 74,0% às 12h 72,8% às 19h 74,0% às 18h 28,5% 6,5% 4,7% 8,8% UR mín int – UR mín ext 10,0% 8,8% 10,0% H UR mín int – H UR mín ext * * * Amplitude diária Dif. M ínimas Atraso entre mín * O pico do co mportamento não está definido por isso não considerou o atraso Fonte: Próprio Autor Em geral, para o período verifica-se que o ambiente do quarto de casal apresenta melhores condições de desempenho, mas não está em discrepância em relação aos demais ambientes de permanência prolongada. Ao se avaliar a edificação segundo os critérios da 75 NBR15575 (ABNT, 2013), verificou-se que as três zonas térmicas apresentaram níveis intermediário e superior para o período quente seco que corresponde ao verão (Quadro 12). Quadro 12 – Avaliação do desempenho térmico para o período quente úmido correspondente ao verão Ambiente Temp. int. máx. (Ti máx) Sala de estar 31,2ºC Home office 30,3ºC Quarto casal 29,3ºC Temp. ext. mín. (Te máx) 34,7ºC Critério Ní vel Ti máx. ≤ (Te, máx - 2ºC) I Ti mín. ≤ (Te, mín - 4ºC) S Ti mín. ≤ (Te, mín - 4ºC) S Fonte: Próprio Autor No entanto os valores de temperaturas internas são muito altos o que não contribui para uma condição de desconforto para o usuário. 5.2.2. Avaliação do desempenho térmico – Método Simp lificado Assim como visto a avaliação de desempenho térmico pelo método simplificado segundo a NBR15575 (ABNT, 2013), avalia a edificação de acordo com a envoltória, paredes externas e cobertura. De acordo com o quadro 13, verifica-se que as paredes externas atenderam aos requisitos de transmitância térmica e capacidade térmica relacionados à absortância solar, que neste caso, foi menor ou igua l a 0,6, além de atenderem aos requis itos de ventilação relacionados à área abertura. Por isso, as paredes externas receberam avaliação mínima por atenderem aos requisitos. Já a cobertura não atendeu aos requisitos e por isso não podem ser avaliadas por este método. Para se avaliar a cobertura é necessário aplicar o método de simulação para a avaliação do desempenho térmico. Quadro 13 – Avaliação do desempenho térmico pelo método simplificado Envol tóri a Critérios α ≤ 0,6 Transmitância térmica Parede externa Capacidade térmica U ≤ 3,70 Transmitância térmica CT ≥ 130 A ≥ 5% Ventilação Cobertura Avaliação α > 0,4 U ≤ 1,50 Mínima Mínima - Fonte: Próprio Autor 5.2.3. Análise das temperaturas superfic iais da envoltória Após a escolha das zonas térmicas de ambientes de permanência prolongada foram determinados os pontos para se realizar as medições de temperatura superficial em: paredes, 76 piso e teto (Figura 61). Os pontos internos foram definidos de forma a estarem centralizados, tanto na horizontal como na vertical, nos elementos construtivos com características semelhantes ou em pontos que não interfiram por possuírem obstáculos do próprio mobiliário da residência. Os pontos externos foram definidos, quando possível, de forma a coincidir com os pontos internos, podendo obter um diferencial de temperatura da superfície interna e externa do mesmo ponto. Figura 61 – Mapa como pontos de medição nas superfícies das paredes , tetos e pisos Fonte: Próprio Autor Para a obtenção da variável temperatura superficial foram realizadas duas medições, sendo um dia no período quente-seco (09/07/2013) e outra no período quente úmido (14/01/2014) das três zonas térmicas na edificação analisada. Os dias foram escolhidos por apresentarem condições climáticas comuns ao período pertencente. Em cada dia obteve-se as temperaturas superficiais em três horários 8h, 14h e 20h. Na zona da sala foram definidos nove pontos de medição das superfícies internas das paredes (1 a 9), três pontos em superfícies externas das paredes (1, 8 e 9) e seis pontos para a medição das superfícies internas de teto e piso (At, Ap, Bt, Bp, Dt e Dp). Na Figura 62, referente ao período quente seco, verificam-se que os pontos de 2 a 7, Ap, Bp e Dp, que são das superfícies internas de paredes internas e de piso, possuem comportamentos semelhantes, apresentam menores temperaturas, com pouca variação entre os três horários de medição. Os pontos 1, 8, 9, At, Bt e Dt, que são de superfícies internas que se relacionam com ambiente externo, ocorreram uma maior diferenciação entre os dados 77 coletados às 8h para os demais horários, quando ocorreu um aumento considerável da temperatura. No horário das 8h, foram registrados o maior valor de 28,6°C para o ponto 2 e menor valor de 25,7°C para o ponto 9. No horário das 14h o maior valor foi de 32,8°C no ponto 8 e o menor valor de 28,4°C no po nto Dp. No horário de 20h o maior valor foi de 31,1°C no ponto 8 e o menor valor de 28,8°C no ponto Dp. Percebe-se que o ponto mais desfavorável acontece às 14h no ponto 8 onde a face de ambiente está para o lado oeste recebendo o sol da tarde, aonde vem a confirmar trabalhos anteriores realizados para a cidade de Cuiabá/MT. Figura 62 – Valores de temperaturas superficiais internas dos pontos da zona da sala (quente seco) Temp. sup. (ºC) 8h 14h 20h 35 30 25 20 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 At Pontos de medição Ap Bt Bp Dt Dp Fonte: Próprio Autor Na Figura 63, referente ao período quente úmido, verificam-se que os pontos em geral não sofrem muita alteração de temperatura. Mas nos pontos internos que se relacionam com o meio externo percebe-se uma sutil diminuição das temperaturas nos horários das 8h e 20h. Figura 63 – Valores de temperaturas superficiais internas dos pontos da zona da sala (quente úmido) Tem. sup. (ºC) 8h 14h 20h 35 30 25 20 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 At Pontos de medição Ap Bt Bp Dt Dp Fonte: Próprio Autor No horário das 8h, foram registrados o maior valor de 28,7°C para os pontos 4 e 6 e menor valor de 26,8°C para o ponto 9. No horário das 14h o maior valor foi de 30,3°C no ponto 1 e o menor valor de 28,6°C no ponto Ap. No horário de 20h o maior valor foi de 78 28,6°C no ponto 4 e o menor valor de 23,7°C no ponto 1. Percebe-se que o ponto mais desfavorável acontece às 14h no ponto 1 onde a face de a mbiente está para o lado norte recebendo o sol, diferente do período anterior, que foi um ponto 8 da parede oeste. Na Figura 64 e 65, são relacionados apenas os pontos das paredes externas que foram medidos na superfície interna e externa. No período quente seco, entre os três horários de medição, verificou-se que no ponto com valores maiores (ponto 8) ocorre uma variação de 21ºC entre as medições do mesmo ponto em outro horário, às 8h foi registrado entorno de 24,2ºC e às 14h passou para 45,6ºC. As variações entre as superfícies externas e internas às 14h, verificou-se diferença de até 13ºC, principalmente no ponto 8, de 32,8ºC interno e 45,6ºC externo. Desta forma verifica-se que as paredes apresentaram um ganho térmico ao serem atingidas pela radiação so lar e que, apesar de ser insuficiente, apresentam uma resistência na transmitância do calor para o interior. Mesmo assim a zona da sala de estar apresentou maiores temperaturas do ar interno em relação às demais, pois o ponto mais desfavorável (ponto 8) representa uma grande área dos elementos construtivos da edificação. Já no período quente úmido os valores de temperaturas externas são bem menores e sendo difícil verificar variações entre os horários num mesmo ponto ou entre valores de superfícies internas e externas. Figura 64 – Valores de temperaturas sup. internas e Figura 65 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos da zona da sala (quente seco) externas dos pontos da zona da sala (quente úmido) 1 int. 8 int. 9 int. 1 int. 8 int. 9 int. 1 ext. 8 ext. 9 ext. 1 ext. 8 ext. 9 ext. 8h 14h Horários 20h 50 Temp. sup. (ºC) Temp. sup. (ºC) 50 40 30 20 40 30 20 8h 14h Horários Fonte: Próprio Autor 20h Fonte: Próprio Autor Na zona do home oficce foram determinados cinco pontos de medição das superfícies internas das paredes (10 a 14), dois pontos em superfícies externas das paredes (11 e 12) e dois pontos para a medição das superfícies internas de teto e piso (Ct e Cp).Na Figura 66, 79 referente ao período quente seco, verificam-se que os pontos de 10, 13, 14, Cp, possuem comportamentos semelhantes, apresentam menores temperaturas, com pouca variação entre os três horários de medição. Os pontos 11, 12 e Ct, ocorreram uma maior diferenciação entre os dados coletados apresentando um aumento considerável da temperatura as 14h. Já no período quente úmido, figura 67, verifica-se uma similaridade entre os pontos e sofrem um pequeno aumento de temperatura as 14h. No período quente seco foram registrados no horário das 08h o maior valor de 27,9°C para o ponto 10 e menor valor de 26,0°C para os pontos 12 e Ct. No horário das 14h o maior valor foi de 32,2°C no ponto 11 e o menor valor de 29,0°C no ponto 13. No horário de 20h o maior valor foi de 29,9°C no ponto 10 e o menor valor de 28,8°C no ponto Cp. Percebe-se que o ponto mais desfavorável acontece às 14h no ponto 11 onde a face do ambiente esta para o lado nordeste e não tem barreiras arquitetônicas como muro ou vegetações ficando exposto ao sol todo o período da manhã. Já no período quente úmido foram registrados no horário das 08h o maior valor de 27,8°C para o ponto Ct e menor valor de 28,4°C para os pontos 14. No horário das 14h o maior valor foi de 30,8°C no ponto 11 e o menor valor de 28,8°C no ponto Cp. No horário de 20h o maior valor foi de 29,1°C no ponto 12 e o menor valor de 28,1°C no ponto Cp. Assim como o período quente seco, o ponto mais desfavorável acontece às 14h no ponto 11. Figura 66 – Valores de temperaturas sup. internas dos Figura 67 – Valores de temperaturas sup. internas dos pontos da zona do home oficce (quente seco) pontos da zona do home oficce (quente úmido) 14h 20h 8h 35 30 25 20 15 10 11 12 13 14 Ct Pontos de medição Fonte: Próprio Autor Cp Temp. sup. (ºC) Temp. sup. (ºC) 8h 14h 20h 35 30 25 20 15 10 11 12 13 14 Ct Pontos de medição Cp Fonte: Próprio Autor Na Figura 68 e 69, são relacionados apenas os dois pontos das paredes externas que foram medidos na superfície interna e externa do home office. No período quente seco, entre os três horários de medição, verificou-se que no ponto com valores maiores (ponto 11) ocorreu uma variação de 11ºC entre as medições do mesmo ponto, em que às 8h foi registrado entorno de 24,8ºC e às 14h passou para 35,6ºC. Entre as superfícies externas e internas às 14h, 80 verificou-se diferença de até 4ºC, principalmente no ponto 11, de 32,2ºC interno e 35,6ºC externo. Percebe-se que o ponto mais desfavorável aconteceu às 14h no ponto 11 externo, repetindo os valores encontrados para o ambiente interno. Mesmo assim o valor máximo deste ponto foi inferior ao ponto máximo da zona da sala de estar, apesar de apresentarem a mesma orientação solar. Isso ocorre, pois a própria edificação provocou sombra em uma parte da parede representada por este ponto (Figura 68). Já no período quente úmido os valores de temperaturas externas não possuem picos altos de temperatura, sendo difícil verificar variações entre os horários num mesmo ponto ou entre valores de superfícies internas e externas (Figura 69). No dia de medição ocorreu uma precipitação pluviométrica antes da medição às 14h, o que pode ter contribuído para o grande decaimento da temperatura nos horários das 14h e 20h. Figura 68 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos do home oficce (quente seco) Figura 69 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos do home oficce (quente úmido) 11 int. 12 int. 11 int. 12 int. 11 ext. 12 ext. 11 ext. 12 ext. 50 Temp. sup. (ºC) Temp. sup. (ºC) 50 40 30 20 40 30 20 8h 14h Horários Fonte: Próprio Autor 20h 8h 14h Horários 20h Fonte: Próprio Autor Na zona do quarto de casal foram determinados dois pontos de medição das superfícies internas das paredes (15 e 17), um ponto em superfície externa das paredes (16) e dois pontos para a medição das superfícies internas de teto e piso (Et e Ep). No período quente seco e quente úmido, os pontos 15, 16, 17 e Ep possuem comportamentos semelhantes com temperaturas menores e poucas variações entre os três horários de medição (Figura 70 e 71). O ponto Et, que é de superfícies internas do teto que se relaciona com ambiente externo, registrou uma maior diferenciação entre os dados coletados às 8h para o horário das 14h, quando aumenta a temperatura. 81 Figura 70 – Valores de temperaturas sup. internas dos Figura 71 – Valores de temperaturas sup. internas dos pontos da quarto do casal (quente seco) pontos da quarto do casal (quente úmido) 14h 20h 8h 35 30 25 20 15 15 16 17 Et Pontos de medição Ep Temperatura sup. (ºC) Temperatura sup. (ºC) 8h 14h 20h 35 30 25 20 15 15 Fonte: Próprio Autor 16 17 Et Pontos de medição Ep Fonte: Próprio Autor No período quente seco, entre os três horários de medição, ocorreu uma variação de 4ºC entre as medições do ponto 16, em que às 8h foi registrado 24 ºC e às 14h passou para 28,4ºC. Entre as superfícies externas e internas às 8h, verificou-se diferença de até 3ºC, de 26,6ºC interno e 24ºC externo, sendo diferente dos demais ambientes em que as maiores diferenças entre as superfícies internas e externas ocorriam às 14h (Figura 72). Já no período quente úmido, verifica-se que a temperatura até inicia com valores mais altos as 8h, decai devido a influência de chuvas, comum no período (Figura 73). Figura 72 – Valores de temperaturas sup. internas e Figura 73 – Valores de temperaturas sup. internas e externas dos pontos do quarto do casal (quente seco) externas dos pontos do quarto do casal (quente úmido) 16 ext. 16 int. 50 40 30 20 8h 14h Horários Fonte: Próprio Autor 20h Temperatura sup. (ºC) Temperatura sup. (ºC) 16 int. 16 ext. 50 40 30 20 8h 14h Horários 20h Fonte: Próprio Autor A zona do quarto do casal só possui uma parede que recebe incidência solar e apenas no período matutino já que é fachada sudeste, as demais paredes da zona não estavam entre os limites internos e externos, simultaneamente. Tendo em vista que as paredes desta zona 82 térmica recebem pouca radiação direta solar, pouco é transmitido para o ambiente interno caracterizando na melhor situação entra as zonas analisadas. As imagens obtidas pela câmera não registraram grandes alterações de cores entre os pontos da imagem. Isso ocorreu por terem sido tiradas a um metro de distância dos pontos de medição demarcando regiões em que não possuem grandes alterações de temperaturas para serem registradas. Na figura 74, são apresentadas imagens do dia 09/07/13 do Ponto 1 interno, ou seja, parede da sala de estar. Verificou-se que cada imagem apresenta pouca variação de cores, no entanto ao serem comparadas umas com as outras de diferentes horários e do mesmo ponto, contatou-se alterações proporcionais à variação de temperatura entre os horários. Figura 74 – Três imagens registradas pela câmera FLIR i3 do Ponto 1 interno às 8h, 14h e 20h 27,9ºC às h 32,5ºC às 14h 30,9ºC às 20h Fonte: Próprio Autor 5.3. CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL DE EFICIÊNCIA 5.3.1 Comparação entre dados medidos e simulados Os dados medidos e simulados (com arquivo climático alterado) foram comparados durante os dois períodos quente seco (28/06 a 12/07/2013) e quente úmido (31/12/2013 a 14/01/2014). Na Figura 75, são apresentados os dados referentes ao home oficce. Figura 75 – Co mparação entre dados medidos e simulados do home oficce (quente seco) Temp. operativa (ºC) y = 0,7158x + 8,5539 R² = 0,9115 EQM=1,2016 Medido home Simulado home Dias Fonte: Próprio Autor 83 Verificou-se que os comportamentos são semelhantes e até se sobrepõem em alguns horários. Isto significa que a construção do modelo e inclusão dos parâmetros foi satisfatória, devido à grande correspondência entre o comportamento das curvas dos resultados. A maior diferença entre os dados foi de 2,82ºC às 8h do dia 09/07/2013. Ao realizar a mesma comparação dos dados da zona do home office, no período quente úmido, verifica-se que ocorre um distanciamento entre os picos máximo de forma que os dados simulados possuem valores mais altos (Figura 76). A maior diferença entre os dados foi de 4,89ºC às19h do dia 08/01/2014, sendo maior que no período anterior. Figura 76 – Co mparação entre dados medidos e simulados do home oficce (quente úmido) Temp. operativa (ºC) y = 0,5565x + 11,4797 R² =0,7897 EQM=2,0247 Medido home Simulado home Dias Fonte: Próprio Autor Na Figura 77 são apresentados os dados referentes à zona térmica da sala para o período quente seco, também pode ser verificar a semelhança entre os comportamentos. Isso confirma o resultado obtido para a zona do home oficce. A maior diferença entre os dados foi de 3,24ºC às 8h do dia 09/07/2013. Figura 77 – Co mparação entre dados medidos e simulados da sala (quente seco) Temp. operativa (ºC) y = 0,7915x + 6,633 R² = 0,9069 EQM= 1,3713 Medido sala Simulado sala Dias Fonte: Próprio Autor Na Figura 78, são apresentados os dados do mesmo ambiente, mas para o período quente úmido, verifica-se que ocorre um distanciamento dos valores, principalmente entre os dias em que ocorre queda da temperatura máxima medida. Isso pode ocorrer devido ao uso de 84 sistemas de condicionamento do ar, os quais não foram simulados no modelo. A maior diferença entre os dados foi de 7,50ºC às 20h do dia 09/12/2013. Figura 78 – Co mparação entre dados medidos e simulados da sala (quente úmido) Temp. operativa (ºC) y = 0,5321x + 12,5773 R² =0,6648 EQM=2,1366 Medido sala Simulado sala Dias Fonte: Próprio Autor Na Figura 79, são apresentados os dados da zona térmica do quarto de casal. Neste caso, o comportamento se difere entres os dados, devido à mudança do comportamento dos dados medidos no dia 30, em decorrência ao uso de ar condicionado, o qual não foi simulado. O sistema de condicionamento do ar não foi simulado, por isso ocorre discrepância entre os dados. A maior diferença entre os dados foi de 4,66ºC às 17h do dia 30/07/2013. Figura 79 – Co mparação entre dados medidos e simulados do quarto casal (quente seco) Temp. operativa (ºC) y = 0,5927x + 11,63 R² = 0,5569 EQM=1,7297 Medido quarto casal Dias Simulado casal Fonte: Próprio Autor Na Figura 80, são apresentados os mesmo dados para o período quente úmido. Neste caso, o comportamento se difere entres os dados, devido à mudança do comportamento dos dados medidos no final do período, em decorrência ao uso de ar condicionado. A maior diferença entre os dados foi de 4,66ºC às 24h do dia 09/01/2014. 85 Figura 80 – Co mparação entre dados medidos e simulados do quarto casal (quente úmido) Temp. operativa (ºC) y = 0,7429x + 5,7322 R² =0,6151 EQM=2,5341 Medido quarto casal Simulado casal Dias Fonte: Próprio Autor Entre a análise dos dois períodos, verificou-se que o modelo apresentou resultados diferentes ao relacionar os dados, sendo que as maiores diferenças ocorreram no período quente úmido. Isso pode ter ocorrido devido à mudança das propriedades térmicas dos materiais da envoltória, os quais absorvem a umidade do ambiente e apresentam água em sua constituição. Também pode ter ocorrido este resultado por não terem sido informados dados pluviométricos no arquivo climático para a simulação. Em vista disso, devem-se definir duas equações de ajuste, sendo uma para cada situação de período. Quanto à análise das comparações entre os ambientes, verifica-se que o home office é o que possui melhores resultados de ajuste, sendo que este ambiente não tem equipamento de ar. Nos demais ambientes, o condicionamento do ar interferiu nos comportamentos dos dados medidos e não foi considerado para a simulação. No quadro 14, são apresentados dois indicadores estatísticos, o coeficiente de determinação (R²), que indica a qualidade do modelo e de como as amostras são explicadas por ele, e o erro quadrático médio (EQM), que representa o erro do estimador. Desta forma, entre os períodos verifica-se que o seco apresentou indicadores estatísticos mais favoráveis ao modelo. Entre os ambientes verifica-se que o home office apresenta os indicadores mais favoráveis ao modelo. Sendo assim, foram definidas as equações para ajuste da comparação do home office para cada período, de maio a outubro e de novembro a abril. Quadro 14 – Resu mo dos indicadores estatísticos das comparações HOME OFFICE SALA Q. CASAL R² EQM R² EQM R² EQM SECO 0,9115 1,2016 0,9069 1,3713 0,5569 1,7297 ÚMIDO 0,7897 2,0247 0,6648 2,1366 0,6151 2,5341 Fonte: Próprio Autor 86 5.3.2. Graus hora e classificação em níveis de eficiência energética (RTQ- R) A partir da aplicação do RTQ-R, realizou-se a determinação do nível de eficiência energética. O método consiste na somatória dos pontos da avaliação da envoltória, do sistema de aquecimento de água e dos demais sistemas de forma geral (Equação 1, apresenta ateriormente na página 26). A edificação não apresenta instalado nenhum sistema de aquecimento de água, por isso o EqNumAA é o mínimo, valor igual a 1. Na avaliação generalizada dos demais sistemas, é possível pontuar 0,3 pontos, para o sistema de iluminação natural e artificial e de refrigerador. O edifício não pontuou quanto ao sistema de ar condicionado, pois mesmo que tenha sido instalado em dois ambientes, ele não configura uma situação totalitária da edificação em estudo e das demais edificações do loteamento. Mesmo se fosse considerado o sistema de ar condicionado não alteraria o valor final da classificação. Para a determinação final do nível de eficiência energética, é necessário avaliar a envoltória e determinar o EqNumEnv. Para isso, foi necessário quantificar os graus-horas das zonas de permanência prolongada, a partir das temperaturas operativas simuladas em um ano com arquivo climático padrão. Na Figura 81, verificou-se que com a calibração ocorreu uma diminuição em torno de 4mil graus-hora para as três zonas térmicas. Figura 81 – Quantificação dos graus-horas dos dados de temperatura operativa calibrados ou não Graus-Hora 36.000 E 30.000 D C 24.000 18.000 B 12.000 Não-calibrado Calibrado A 6.000 Sala Home Zonas térmicas de permanência prolongada Suíte Fonte: Próprio Autor A partir da definição da avaliação da envoltória em nível C em somatória com os parâmetros citados acima, obteve-se uma avaliação total do edifício em nível C. Caso a definição da envoltória fosse nível D, consequente da avaliação pondera de das zonas, a classificação final da edificação passaria para nível D. Por isso, devem-se obter dados simulados com alto grau de confiabilidade, pois pequenas variações da temperatura operativa simulada podem acarretar em uma determinação do nível de eficiência equivocado. 87 5.4. ANÁLISE DE USO DA ILUMINAÇÃO E OCUPAÇÃO DOS AMBIENTES Os dados de uso de iluminação e ocupação foram medidos de 16/06/13 a 15/01/14 nos ambientes de permanência prolongada: sala de estar, home office e quarto do casal. Os dados referentes ao uso de iluminação na sala de estar não corresponde ram à realidade, neste caso o ponto de instalação do equipamento não foi adequado para o equipamento ser sensibilizado ao uso de iluminação artificial ou a claridade natural ocorrida por uma grande abertura. No entanto, o ponto de instalação foi adequado para que o equipamento realizasse uma ampla varredura do ambiente quanto à ocupação. Por isso, devido a geometria e iluminação da sala de estar, para se ter uma ma ior confiabilidade dos dados neste ambiente, haveria a necessidade de ter instalados mais equipamentos, para que alguns fossem responsáveis pelo registro de ocupação e outros pelo uso de iluminação artificial, estes sendo instalados mais próximos as fontes de luz. Portanto, para este estudo, devem-se desconsiderar os dados de iluminação obtidos neste ambiente (Quadro 15). Quadro 15 – Resu mo dos dados de ilu minação e ocupação de 16/06/13 a 15/01/14 Sala de estar Home office Quarto do Casal Tempo TOTAL de registro 5143:31:17 (HMS ) 5143:31:13 (HMS ) 5144:29:25 (HMS ) Tempo Lu z ligada 2780:33:17 (HMS) 759:58:44 (HMS) 412:53:38 (HMS) 54,06% 14,78% 8,03% 628:15:25 (HMS) 284:10:51 (HMS) 474:55:56 (HMS) 12,21% 5,53% 9,23% 2244:50:10 (HMS) 530:58:14 (HMS) 314:57:28 (HMS) 43,64% 10,32% 6,21% 92:32:18 (HMS) 55:10:21 (HMS) 376:59:46 (HMS) 1,80% 1,07% 7,33% Porcentagem Ligada Tempo Ocupado Porcentagem Ocupado Tempo Lu z ligada e não ocupado Porcentagem Luz ligada e não ocupado Tempo Lu z desliga e ocupado Porcentagem Lu z desliga e ocupado Fonte: Próprio Autor Do total de horas de medição, correpondentes a 6 meses, em pelo menos um dos ambientes obtiveram-se ocupução em torno de 27% do tempo, sendo a sala de estar e o quarto de casal os que permaneceram com maior ocupação e o home office com menor porcentagem. Estes dados são compatíveis a rotina dos moradores, que passam muito tempo fora de sua residência, permanencendo em casa principalmente nos períodos noturnos e finais de semana. Ao analisar a porcentagem de luz articial ligada e sem ocupação no ambiente, é necessário desconsiderar os dados da sala de estar por não haver confiabilidade, entre os demais ambientes, verifica-se que obteve-se entorno de 17% nos ambientes do home office e 88 quarto do casal. Neste quadro, destaca-se que no quarto de casal ocorreu 9% de ocupação e 6% de tempo de luz ligada sem ocupação, já no home office constata-se que a porcentagem de ocupação foi de 6% e o tempo de luz ligada sem uso do ambiente foi de 10%. Por isso, verifica-se um mal uso da iluminação principalmente no home office, em que o tempo de desperdício de energia de iluminação supera o tempo de ocupação do ambtiente. Quanto ao consumo energético, considerando que haja duas lâmpadas de 23W em cada ambiente, o consumo para o quarto de casal foi de 14,5kW/h e do home office de 24,4kW/h. Ao consider a tarifa de consumo local sem taxas igual a 342,82 reais por MW/h, pode-se dizer que no período de seis meses ocorreu um gasto desnecessário de 13,33 reais referente apenas aos dois ambientes. 5.5. PROPOSTA PARA A MELHORA DO DESEMPENHO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Entre os períodos, identifica-se a diferença entre as variáveis. No período quente seco, verificam- se baixas umidades e maiores amplitudes térmicas, proporcionado por um resfriamento no período noturno. Enquanto no período quente úmido, verificam- se altas umidades e menores amplitudes térmicas, não havendo grandes variações climáticas entre dia e a noite. Na edificação de estudo, identificou- se a sala como sendo o ambiente mais desfavorável para o desempenho térmico e eficiência energética. O ambiente do quarto de casal se encontra protegido pela própria edificação, que se torna um obstáculo para a radiação direta e consequentemente ganho térmico. Em geral, na envoltória verifica- se que são as paredes os elementos construtivos que mais influenciam no ganho térmico interno. Em vista deste diagnóstico da edificação, as propostas devem atender a dois períodos climáticos distintos, influenciar prioritariamente na zona da sala e podendo oferecer maior resistência térmica as paredes e estar de acordo com as estratégias bioclimáticas para a zona 7, recomendadas pela NBR 15220 (2008): a) Proteção às aberturas: a edificação possui venezianas instaladas nas janelas, no entanto para a porta de correr de vidro da sala para o aces so ao quintal, não ocorre proteção solar com brises e outros obstáculos a radiação. Ela está localizada em uma das fachadas mais desfavoráveis da edificação, por estar voltada para o oeste. Por isso, propõe-se que seja feita a proteção desta abertura com a utilização de brises, pois no período da tarde a radiação avança para dentro da zona da sala. 89 b) Proteção às coberturas: avaliação do desempenho da cobertura demonstrou ineficiência tanto no método simplificado como no medido. Por isso é necessário aumentar a resistência térmica destes elementos construtivos. Para isso, deveria utilizar telhar com menores valores de absorção solar, ou seja, telhas claras. Também, podem ser inseridas mantas térmicas de reflexão da radiação solar. c) Proteção às paredes: os elementos construtivos (paredes e coberturas) apresentam resistências em atendimento ao mínimo estabelecido em normas. No entanto não estão sendo suficientes, principalmente as paredes que recebem radiação por um longo período do dia ou a tarde (sala). A residência cuiabana se apodera deste artifício ao propor varandas, as quais sombreiam as paredes mais prejudicadas. Na edificação de estudo não é possível desenvolver esta medida, mas é possível encorpar a parede (maior inércia térmica), propor a utilização de paredes verdes composta por vegetação, instalar elementos no entorno (vegetação, brises, venezianas, muros) que promovam o sombreamento dos elementos construtivos. d) Plantio de vegetação: a edificação foi construída em um processo de rápida execução em uma gleba urbana devastada para a construção do condomínio. Por isso, não existem indivíduos arbóreos no entorno. Portanto, propõe-se o plantio de vegetação, pois ela poderá contribuir para a proteção das aberturas e proteção as paredes, além de contribuírem para a umidificação e resfriamento evaporativo do ar principalmente nos período quente seco. e) Instalação de sistema de aquecimento de água: a edificação não possui sistemas para aquecimento da água do chuveiro. A instalação deste sistema poderá contribuir para a eficiência energética da edificação proporcionando a redução de consumo energético pelo chuveiro, um dos principais equipamentos responsáve is pelo consumo residencial. f) Educação aos moradores e automação: como constatado, às vezes os moradores mantém ligado desnecessariamente sistemas de iluminação. Por isso, mesmo que sejam adotados todos os requisitos para um alto desempenho e eficiência energética, sem a educação dos moradores, este quadro não ocorrerá na realidade. Por isso, devem-se realizar ações de informação e incentivo a economia energética tanto para as crianças como para os adultos. Podem ocorrer por meio de filmes, palestras e cartilhas educacionais. Além disso, poderá ser instalados equipamentos de automação de acionamento, os quais mantêm os equipamentos em uso apenas quando necessário. 90 6. CONCLUSÕES O microclima do local de estudo possui dois períodos distintos: quente seco e quente úmido, com características climáticas distintas: baixas umidades e altas amplitudes térmicas diárias num período e altas umidades e baixas variações diárias de temperatura. Entre as três zonas térmicas de permanência prolongada, a sala de estar foi o que apresentou piores condições de desempenho térmico e eficiência energética, enquanto o quarto de casal apresentou as melhores. Entre os elementos da envoltória, as paredes são os elementos que apresentam maior interferência para o ganho térmico dos ambientes da sala e home office, enquanto que no quarto de casal elas se encontram protegidas, passando a ter a cobertura o elemento de maior interferência. A calibração do modelo de simulação foi realizada a partir das temperaturas operativas. O ajuste foi realizado em dois períodos (quente seco e quente úmido), a partir da equação de comparação do home office. A edificação foi classificada em nível C, mesmo não possuindo sistemas de aquecimento de água. Para a determinação deste índice, os dados foram ajustados de acordo com a calibração. Se isso não tivesse ocorrido, o nível cairia para D. Por isso fica evidente a necessidade de realizar a calibração dos dados simulados, tendo em vista a complexidade do modelo climático. As propostas de alterações para melhora do desempenho térmico e eficiência energética da edificação são: proteções às aberturas, principalmente a porta de correr de vidro dos fundos, com a utilização de brises; proteções às coberturas, deve-se diminuir a absorção solar com elementos mais reflexivos; proteções às paredes, principalmente as que recebam muita radiação, para isso deve aumentar a resistência térmica da parede (maior inércia térmica), utilizar paredes verdes, instalar elementos no entorno (vegetação, brises, venezianas, muros) de sombreamento; plantio de vegetação, pois contribuem para o sombreamento, umidificação e resfriamento evaporativo; instalar sistemas de aquecimento de água; e, promover ações educacionais a população e instalar sistemas de automação de acionamento. Neste estudo, ficou evidente a necessidade de se realizar a calibração dos modelos, no entanto ainda não existe uma metodologia padronizada para a calibração. Por isso, são necessários mais estudos a fim de se obter a metodologia mais adequada e que possa permitir maior confiabilidade dos dados, sendo evitados erros de interpretação e de inserção de informações. 91 Os estudos climatológicos envolvem uma complexidade de interações em um espaço temporal. Isso torna os estudos mais difíceis, pois algumas falhas nos sistemas de medições em que ocorra perda de dados prejudicam a pesquisa de forma irreversível. Por isso, é necessário conhecer muito bem os instrumentos de medições e monitorá- los frequentemente para que se evitem falhas. 92 7. REFERÊNCIAS ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220: Desempenho térmico de edificações – Parte 1: Definições, símbolos e unidades. Rio de Janeiro, 2005a. ______. NBR 15220-3: Desempenho térmico de edificações – Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e estratégias de condicionamento térmico passivo para habitações de interesse social. Rio de Janeiro, 2005b. ______. 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Departamento de Engenharia civil da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR. 99 APÊNDICE 2.9. CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS DOS MATERIAIS Para o estudo do desempenho dos materiais da edificação é necessário ter claro alguns conceitos das características dos materiais e entender como o material se comporta com o calor do ambiente. Desta forma, a seguir são apresentados algumas características tratadas pela NBR15220-2 (ABNT, 2005a). 2.9.1. Fluxo de calor (Q) Segundo a NBR15220-1 (2005a), o fluxo de calor é uma quantidade de energia que atravessa uma superfície durante um intervalo de tempo. Pode ser representado pelo símbolo “Q” sendo expresso pela unidade de watts (W). Para que ocorra transmissão de calor é necessário que os corpos tenham temperaturas diferentes, podendo ocorrer por condução, convecção, radiação e condensação. No caso dos componentes construtivos da envoltória da edificação é necessário que haja diferença entre as temperaturas dos ares interno e externo. As Equações 3 e 4 representam o fluxo de calor em planos opacos verticais e horizontais, respectivamente (LAMBERTS, 1997). Para Planos Verticais: Equação 3 Para Planos Horizontais: Equação 4 Onde: Q: fluxo de calor (W) U: transmitância térmica (W/m².K) A: área da superfície (m²) Text e Tint: temperatura externa e interna (ºC) : absorvidade solar (função da cor) (sem unidade) RS: radiação solar total incidente na superfície (W/m²) Rse: resistência superficial externa (sem unidade) 2.9.2. Condutividade térmica (λ) A transmissão de calor por condução se realiza por contato molecular. Portanto, a condutividade térmica é uma propriedade física específica de cada material homogêneo e quantifica a habilidade dos materiais de conduzir energia térmica. Existem vários métodos para se medir a condutividade térmica, a NBR15220 (2008) parte 4 e 5, trazem dois destes métodos, para a determinação de um fluxo de calor constante, com densidade de 1W/m², quando submetido a um gradiente de temperatura uniforme de 1Kelvin por metro. Esta propriedade é representada pelo símbolo “λ” e é expresso pela unidade W/(m.K). 100 A NBR15220-2 (2008) apresenta alguns valores indicativos de condutividade térmica para alguns materiais. A NBR15220-3 (2005b) apresenta os valores utilizados para o cálculo de capacidade térmica, transmitância térmica e atraso térmico dos componentes de paredes e coberturas exemplificados na norma. 2.9.3. Resistência térmica (R) A resistência térmica é a propriedade do material em resistir à passagem do calor. Na arquitetura os componentes construtivos devem apresentar resistência à passagem de calor do ambiente externo para o interno ou ao contrário dependendo do sentido do fluxo. Segundo a NBR15220-2 (ABNT, 2005a), a resistência de uma camada homogênea é dada pela Equação 9, sendo representada pelo símbolo “R” e unidade de medida (m².K)/W. Equação 9 Onde: R: resistência térmica da camada homogênea ((m².K)/W) e: espessura de uma camada (m) : condutividade térmica (W/(m.K)) A resistência térmica total é o somatório do conjunto resistências térmicas correspondentes às várias camadas de um elemento ou componente, incluindo as resistências superficiais interna e externa (ABNT, 2005a), verificado na Figura 9. O cálculo das resistências das camadas dos componentes é determinado pela Equação 9, mas os valores de resistências superficiais internas e externa e resistência do ar (Rsi, Rse e Rar) são obtidos a partir de tabelas normalizadas (ABNT, 2005a). Figura 9 – Corte perpendicular a u ma parede co m apresentação das camadas de sua composição e a somatória das resistências Fonte: LAM BERTS, 1997 101 2.9.4. Transmitância térmica (U) A transmitância térmica é a propriedade que se tem de permitir o fluxo de calor, o inverso da resistência térmica, que quantifica a dificuldade da passagem de calor (NBR152201 ABNT, 2005a). Segundo Lamberts (2010) representa a capacidade dos componentes construtivos de conduzir maior ou menor quantidade de energia por unidade de área e de diferença de temperatura. A Equação 10 apresenta o cálculo para os valores de transmitância térmica, que é representada pelo símbolo “U”ou “valor U” e medida em W/(m².K). Equação 10 Onde: U: transmitância térmica (W/(m².K)) R: resistência térmica da camada homogênea ((m².K)/W) e: espessura de uma camada (m) : condutividade térmica (W/(m.K)) 2.9.5. Capacidade térmica (C) A capacidade térmica é a quantidade de calor necessária para que o material aumente sua temperatura, ou seja, que suas moléculas aumentem a agitação (NBR15220-1 ABNT, 2005a). Esta propriedade é representada pelo símbolo “C”expressa em J/K (Equação 11). Em edificações, trabalha-se com a capacidade térmica de componentes, que seria a capacidade térmica para a área do componente (ABNT NBR15220-1, 2005a). Esta propriedade é representada pelo símbolo “C T ” e medida em J/m².K (Equação 12). Equação 11 Equação 12 Onde: C: capacidade térmica (J/K) Q: quantidade de energia recebida ou cedida (J) t: variação da temperatura (K) CT: capacidade térmica de componente (J/(m².K)) i: condutividade térmica da camada iª (W/(m.K)) Ri: resistência térmica da camada iª ((m².K)/W) ei: espessura da camada iª (m) ci: calor específico da camada iª (kJ/(kg.K)) i: densidade aparente da camada iª (W/(m.K)) 2.9.6. Densidade de massa aparente () 102 A densidade aparente é a quantidade de massa contida em um volume aparente do corpo, representada pelo símbolo “” e medida em kg/m³ (NBR15220-1 ABNT, 2005a). Diferente da densidade real, a densidade aparente corresponde ao volume ocupado por uma determinada massa de sólido, considerando a porosidade. 2.9.7. Inércia térmica: Atraso térmico () e amortecimento O atraso e o amortecimento, juntos, compõem a inércia térmica, a qual é função da densidade, da condutibilidade e da capacidade calorífica da parede, assim como apresentado da Figura 10 (FROTA, 2001). Figura 10 – Esquema exp licat ivo do fenômeno da inércia térmica de u ma parede real (q 2) e de u ma parede fictícia de peso nulo (q1) Fonte: FROTA (2001) O atraso térmico é o tempo transcorrido entre uma variação térmica em um meio e sua manifestação na superfície oposta (ABNT NBR15220-1, 2005a). O amortecimento é a diferença da temperatura máxima inicial que o material proporciona ao resistir à passagem de calor. O atraso térmico para elemento heterogêneo é calculado a partir da Equação 13, sendo representado pelo símbolo “” e medido em horas. Equação 13 Equação 14 Equação 15 Onde: : atraso térmico (h) Rt: resistência térmica do componente ((m².K)/W) CT: capacidade térmica de componente (J/(m².K)) CT ext: capacidade térmica da camada externa do componente (J/(m².K)) : condutividade térmica do material externo (W/(m.K)) 103 : densidade aparente do material externo (W/(m.K)) c: calor específico do material externo (kJ/(kg.K)) Rext: resistência térmica do componente externo ((m².K)/W) 2.9.8. Fator solar (FS) O fator solar é a relação entre a radiação solar que o componente construtivo transmite para o interior pela radiação solar total incidente sobre a superfície externa, é representado pelo símbolo FS e não possui unidade de medida (ABNT NBR15220-1, 2005a). As Equações 16 e 17 são utilizadas para os cálculos do fator de ganho solar de elementos opacos e elementos transparentes ou translúcidos. Equação 16 Equação 17 Onde: FSo: fator solar de elementos opacos (sem unidade) U: transmitância térmica do componente (W/(m².K)) : absortância à radiação solar – função da cor (sem unidade) Rse: resistência superficial externa (sem unidade) FSt: fator solar de elementos transparentes ou translúcidos (sem unidade) τ: transmitância à radiação solar, relação entra a taxa radiação solar que atravessa pela incidente