Retrato3Estúdio INFORMATIVO DA SERRA DA MOEDA Incêndio na Serra da Moeda e a atuação das comunidades Ano 1 Nº 1 2011 Em Audiência Pública, população exige aprovação da lei que cria o Monumento Natural da Mãe D'Água e vereadores assumiram esse compromisso. O Monumento Natural, Unidade de Proteção Integral, inviabiliza a exploração direta dos recursos naturais da Serra, garantindo a efetiva proteção ambiental da montanha e nascentes de água. A Brigada de Incêndio do Retiro do Chalé, convocada anualmente há mais de 10 anos, mantém atualmente uma equipe com 24 brigadistas e possui estrutura própria com mangueiras, trinta hidrantes e uma caixa d'água com capacidade de 1.000.000 metros cúbicos de água. O mês de agosto foi este ano marcado negativamente pelas intensas queimadas que castigaram a Serra da Moeda. Desde o começo do mês, focos de incêndio dispersos em diferentes partes da Serra da Moeda e em diferentes municípios, inclusive Brumadinho, destruíram uma área ainda não calculada. O desfecho deste triste espetáculo nas áreas do interior de Brumadinho teria sido trágico não fosse a atuação conjunta das brigadas de incêndio dos condomínios e comunidades locais que se mobilizaram no combate às chamas de vultosas dimensões. O Corpo de Bombeiros também foi acionado para o trabalho de contenção das chamas. pag. 2 O 4 o Abrace a Serra da Moeda, uma luta que ultrapassa o 21 de abril. pag. 3 Expedição à nascente da Mãe D’Ägua, no dia 7 de setembro. Foto: Junior Presotti pag. 6 pag. 8 Ferrous quer abrir outra mina na Serra da Moeda pag. 4 e 5 Entenda em detalhes o Projeto de Mineração para a Serrinha. pag. 6 Mitos e verdades sobre o Projeto da Ferrous em Serrinha. pag. 8 Ferrous quer vender seu negócio. 21 Seis mil pessoas abraçam a Serra da Moeda Foto: Retrato3Estúdio Editorial O imenso cordão humano formado ao longo da crista da montanha onde se descortina uma das mais singulares paisagens cênicas da região metropolitana de Belo Horizonte foi precedido de uma blitz na Rodovia dos Inconfidentes que chamou a atenção dos que seguiam rumo à Ouro Preto e outros municípios para a importância e urgência da causa. O evento teve apresentações musicais e culturais de artistas locais, capoeiristas e grupos folclóricos tradicionais da região. Todos, juntos, reivindicaram a preservação da Serra da Moeda, de suas águas e do povo que vive em seu vale. A ONG Abrace a Serra da Moeda - responsável pelo protesto e que conta com o apoio de diversas comunidades, entidades e voluntários da região - pleiteou, no dia 21 abril, a criação do Monumento Natural da Mãe D'Água, no trecho Serrinha da Serra da Moeda. Expedição Mãe D’Água Foto: José Bones No dia 07 de setembro de 2011, dia em que comemoramos a declaração da independência do Brasil, foi celebrado com uma expedição à nascente da Mãe D’água, que está ameaçada pelo projeto de exploração da Mina Serrinha. Moradores da região percorreram a trilha que dá acesso à nascente e se encantaram com a exuberante beleza da fonte que abastece as comunidades do interior de Brumadinho. O Projeto de Mineração para Serrinha Foto: Junior Presotti Foto: Junior Presotti A ONG Abrace a Serra da Moeda elaborou este Jornal objetivando abrir mais uma via de diálogo entre a população da Serra da Moeda e toda a sociedade interessada em acompanhar os problemas concretos enfrentados pelas comunidades atingidas por empreendimentos minerais. Há alguns movimentos sócio-ambientais que se organizam em diferentes frentes de ação pela defesa das serras e águas de Minas. Um dos representantes desta causa, o movimento Abrace a Serra da Moeda, desde 2008, realiza o abraço simbólico à montanha, que se tornou a ação mais emblemática do movimento. Realizado sempre no dia 21 de abril, feriado de Tiradentes, a data representa a luta histórica dos mineiros contra a exploração das nossas riquezas naturais. Essa data demonstra que ainda hoje perduram as mesmas injustiças, desigualdades e explorações que uma vez impulsionaram o histórico movimento da Inconfidência Mineira. Desde então, o Abrace a Serra da Moeda, que em 2010 se constituiu em organização não-governamental, vem protagonizando uma articulação conjunta, reunindo diferentes atores que se mobilizaram no enfrentamento à proposta de reativação da mina Serrinha. As ações em defesa da Serra da Moeda não se limitam ao abraço simbólico realizado anualmente. A ONG - seguindo as orientações dos movimentos sociais contemporâneos, que se articulam em redes e encaminham ações objetivas, sempre baseadas no conhecimento e não apenas no protesto - atua em quatro principais eixos: 1) mobilização popular, reunindo inúmeras comunidades, entidades e indivíduos envolvidos no problema; 2) produção de conhecimento, lançando mão de corpo técnico especializado para fundamentar suas ações e elaborar propostas; 3) inserção pública da causa, através da mobilização dos meios de comunicação tradicionais e da veiculação do assunto nas mídias alternativas; 4) articulação política, objetivando, por meio de projetos de lei de âmbito Municipal, Estadual e Federal, a criação do Monumento Natural da Mãe D'Água no trecho Serrinha. Uma das importantes conquistas decorrentes desta articulação contínua foi o acesso, mediante ordem judicial, ao projeto da empresa Ferrous junto ao DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), no final de 2010. Através dele foi possível conhecer cada detalhe do projeto de exploração da Serra da Moeda- Serrinha - e constatar que os riscos à água, fauna, flora, cultura na Serra da Moeda e no Vale são reais e ameaçam a manutenção da vida nessa região histórica e com tantas riquezas naturais. Além de convidar à ação, convidamos também à reflexão de que certas práticas precisam ser abandonadas em favor da sobrevivência da humanidade. A verdadeira conquista dos direitos ambientais virá por conseqüência de uma sociedade efetivamente organizada, que seja capaz de conhecer e reivindicar seus direitos de maneira clara e fundamentada. Informar para mobilizar: esse é, por fim, o objetivo deste Jornal. Vamos juntos! Organização Não Governamental Abrace a Serra da Moeda Pelo quarto ano consecutivo, cerca de seis mil pessoas, vestidas de branco, realizaram, dia 21 de abril de 2011, o 4º Abrace a Serra da Moeda, manifestação pacífica que clama pela preservação da montanha, ameaçada por um ambicioso projeto de exploração mineral. Presidente de Honra: Antônio Alves da Silva (Cambão). 1- Presidente Executiva: Beatriz Vignolo Silva. 2- Vice-Presidente Executiva: Maria Cristina Vignolo Silva. 3- Diretora Secretária: Wanilda Pinheiro da Silva. 4- Diretora Secretária Suplente: Miria Lúcia de Souza Fonseca. 5- Diretor Tesoureiro: José Geraldo de Paula Reis (Zé do Mel). 6- Diretor Tesoureiro Suplente: Werberth Gonçalves Fonseca (Beto Caçamba). 7- Diretora de Comunicação: Ana Amélia Lage Martins. 8- Diretor de Comunicação Suplente: João Flávio Resende. 9- Diretor de Assuntos Comunitários: Gilmar Matosinhos Martins. 10- Diretor de Assuntos Comunitários Suplente: Benjamim José de Sales Júnior. 11- Diretora de Projetos: Lilian Paraguai. 12- Diretor de Projetos Suplente: Vinícius Barbosa de Assis. 13- Diretor Vogal: Antônio Paulorinho. 14- Conselho Fiscal: 14.1-Marcos Birchal de Moura. 14.2- Maria Emília Rezende. 14.3- João Batista da Silva. 15- Conselho Consultivo: 15.1- José Maia Vicente. 15.2- José de Oliveira. 15.3 Edgar da Silva Pinheiro. EXPEDIENTE: Jornal da Serra da Moeda Ano 1 - No 1 - 2011. Publicação: ONG Abrace a Serra da Moeda. Endereço: Piedade do Paraopeba. Brumadinho. MG. [email protected] http://abraceaserradamoeda.blogspot.com/ Mais informações sobre a ONG Abrace a Serra da Moeda no blog: Projeto/Diagramação: Ageo comunica. Ana América de Rezende. Tiragem: 5.000 ou Facebook: Serra da Moeda. http://abraceaserradamoeda.blogspot.com/ Foto: Junior Presotti Foto: Tânia Almeida CONHEÇA O QUADRO DIRETOR DA ONG: 2010/2013: 3 INFORMATIVO DA SERRA DA MOEDA - Ano 1 - Nº 1 - 2011 A empresa Ferrous Resorces do Brasil, no rebaixamento do lençol freático a responsável pelo projeto de exploração da ponto de secar importantes nascentes de mina Serrinha, na Serra da Moeda, em abril água da região, como a Mãe D'Água, além de 2011, alterou o projeto de lavra da mina, de por em risco espécies de flora endêmicas ao aumentar sua capacidade e as áreas e de fauna ameaçadas de extinção. impactadas. Também A utilização de Análises técnicas do projeto modificou o nome da explosivos no desmonjazida de Serrinha para te do minério, também indicam que a lavra na Serrinha Serena, no claro intuito prevista no projeto, (Serena) implicará no de confundir a populacomprometerá a estarebaixamento do lençol freático a ção e tentar maquiar as bilidade da encosta da ponto de secar importantes máculas socioambienSerra, contribuindo nascentes de água da região, tais do seu empreendipara acelerar o procescomo a Mãe D’Água, além de por mento. O projeto de so de rolamento de em risco espécies de flora lavra, disponibilizado blocos (pedras), poendêmicas e de fauna ameaçadas por ordem judicial, foi dendo provocar acide extinção. encaminhado pela dentes com os moradoONG para análise técnica-jurídica. res localizados ao pé da Serra. A atividade de mineração impacta, A instalação da pilha de estéril, usina de além da área de lavra, neste caso localizada beneficiamento e barragem de rejeito em no topo da montanha, outras áreas, por áreas ocupadas historicamente por comuvezes mais extensas, próximas à lavra que nidades que sobrevivem da agricultura servem para a instalação da pilha de estéril, familiar, condomínios horizontais e usina de beneficiamenturismo, provocará o to, barragem de rejeito, deslocamento de inúA utilização de explosivos no terminal de embarmeras famílias que ali desmonte do minério, também que, mineroduto, etc. A constituíram suas viprevista no projeto, comprometerá pilha de estéril é o das, comprometendo, a estabilidade da encosta da Serra, inclusive, a dinâmica material não aproveitácontribuindo para acelerar o vel antes do beneficiaeconômica local. processo de rolamento de blocos mento do minério. A Pela análise, a (pedras), podendo provocar usina de beneficiamenpoluição atmosférica, acidentes com os moradores to é destinada a mehídrica, rebaixamento localizados ao pé da Serra. lhorar a qualidade do de nascentes, desmataminério e a barragem mento de áreas verdes, de rejeito é o local onde se deposita o desapropriações, de-sempregos, aniquilamaterial não aproveitável depois do benefimento da qualidade de vida, turismo ciamento. ecológico, cultura e histórias são alguns Análises técnicas do projeto indicam dos impactos inevitáveis da atividade de que a lavra na Serrinha (Serena) implicará mineração na Serrinha/Serra da Moeda. Não deixe de abraçar a Serra da Moeda no dia 21 de abril de 2012 - 5ª Edição. Foto: Junior Presotti INFORMATIVO DA SERRA DA MOEDA - Ano 1 - Nº 1 - 2011 Foto: Junior Presotti 2 4 INFORMATIVO DA SERRA DA MOEDA - Ano 1 - Nº 1 - 2011 5 INFORMATIVO DA SERRA DA MOEDA - Ano 1 - Nº 1 - 2011 Detalhes do Projeto de Mineração Avaliação e Revisão da Avaliação das Reservas A atividade de mineração impacta, além da área de lavra, neste caso localizada no topo da montanha, outras áreas, por vezes mais extensas, próximas à lavra que servem para a instalação da pilha de estéril, usina de beneficiamento, barragem de rejeito, terminal de embarque e mineroduto. A empresa Ferrous Resources prevê uma vida útil de doze anos para a mina, embora sinalize a intenção de expansão com a execução de lavra conjunta com as empresas V&M e Vale, vizinhas da mina Serrinha. Em campanhas publicitárias, afirma que sua meta de produção é de 50 mtpa (milhões de toneladas por ano) de minério de ferro, sendo que Serrinha representaria 12,5 mtpa. As áreas em que se pretende lavrar somadas com as áreas necessárias para implantar as demais estruturas da mineração, impactarão quase 3.000 hectares na região da Serra da Moeda e Vale do Paraopeba. Azul: Área de lavra e pilha de estéril Foto: Junior Presotti Verde: Mineroduto Vermelho: Usina de beneficiamento e terminal de embarque Impacto Direto do Projeto Estrutura Lavra e Pesquisa na Serra Pilha de Estéril Usina de Beneficiamento e Barragens de Rejeito Terminal Ferroviário e Outras Estruturas Área de Lavra e Pilha de Estéril A área de lavra está localizada na Serra da Moeda e a pilha de estéril na comunidade de Córrego Ferreira, ao pé da Serra. Ambas as estruturas abrangem 467,6 hectares. O método de lavra será de bancadas sucessivas a céu aberto e 60% do material será desmontado com explosivos, o restante mecanicamente. Usina de Beneficiamento e Barragens de Rejeito A usina de beneficiamento e três barragens de rejeito estão projetadas para ocupar uma área de 1.417 hectares nas comunidades de Toca de Cima e Maricota. Terminal Ferroviário Imagem de satélite do Google Earth As áreas em que se pretende lavrar somadas com as áreas necessárias para implantar as demais estruturas da mineração, impactarão quase 3.000 hectares na região da Serra da Moeda e Vale do Paraopeba. O Terá uma área total de 75, 4 hectares e servirá para transportar uma parte do minério pela ferrovia até o Terminal Portuário de Sepetiba - RJ. A empresa sinaliza no projeto a intenção de implantar uma usina siderúrgica próxima ao terminal de embarque ferroviário. Outras Estruturas As áreas do mineroduto, correia transportadora e linha adutora de água, somadas, totalizam 342 hectares. Foram projetadas para transportar o minério da usina até o porto em Presidente Kennedy - ES. que é o DNPM? DNPM é a sigla para Departamento Nacional de Produção Mineral. É uma autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia encarregada de fomentar, gerir e fiscalizar o exercício das atividades de mineração em todo o Amarelo: Grupamento mineiro Área Impactada 776 ha, aprox. 250 ha, aprox. 1.416 ha, aprox. 417 ha, aprox. O mineroduto desde a área de lavra até a usina terá uma extensão aproximada de 16 km e da usina de beneficiamento até o Porto, em Presidente Kennedy – ES, uma extensão de aproximadamente 470 km. Geração de Empregos ŸConforme consta no Plano de Aproveita- mento Econômico da mina Serrinha serão gerados apenas 346 empregos, sendo: Ÿ140 funcionários para operação da mina, Ÿ46 para manutenção, Ÿ84 para tratamento do minério, Tributos Não incidirá Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), pois a empresa alega que a produção será destinada ao mercado externo. Também não há incidência da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social e do Programa de Integração Social (PIS/COFINS), pois a exportação de produtos primários é isenta. Haverá incidência de 9% de Contribuição Social sobre o Lucro e 25% de Imposto de Renda. Pagam apenas 2% sobre a receita líquida a título de CEFEM - também conhecido como royalty do minério - que é a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais. Os recursos da CFEM são distribuídos da seguinte forma: Ÿ12% para a União (DNPM, IBAMA e MCT) Ÿ23% para o Estado onde for extraída a substância mineral. Ÿ65% para o município produtor. território nacional. Deve zelar para que o aproveitamento dos recursos minerais seja realizado de forma racional, com o melhor aproveitamento, resultando em benefício para toda a sociedade. Possui sede em Brasília e representações regionais, conhecidos como distritos. Irregularidades no Projeto de Mineração para a Serrinha A partir de análise técnica e jurídica rigorosa, que ainda está em andamento, a Organização Abrace a Serra da Moeda encontrou inúmeras irregularidades por parte da empresa. Veja algumas irregularidades. Irregularidades Técnicas no Projeto da Empresa Irregularidades Jurídicas do título mineral da empresa Os estudos geológicos apontam que as sondagens (pesquisas) não atingiram a cota correspondente ao fundo da cava projetada, o que significa que não se conhece a natureza e quantidade do minério nesta profundidade. Considerando os comprimentos e inclinações das sondagens, a mais profunda atingiu a cota de 1.084,58 metros (altitude em relação ao nível do mar), sendo que o fundo da cava projetada está na cota de 950 metros. Dessa maneira, as sondagens ficaram 134,5 metros acima do fundo da cava projetada. Ademais, não existem dados sobre o nível do lençol freático atual. Como haverá forçosamente rebaixamento, esta é uma informação imprescindível e mostra o descaso da Ferrous para com este assunto. A transição entre itabirito brando (onde a Ferrous poderá gerar benefício) e o compacto (benefício duvidoso) ocorre, em média em torno da cota 1.136 metros, ou seja, 186 metros acima do fundo da cava. Com estes dados, é justo afirmar que a seção inferior da cava (os 134,5m referidos acima), justamente onde a viabilidade econômica é duvidosa, não está adequadamente estudada. Segundo a representação da ONG ao Ministério Público de Minas Gerais, é imperioso reconhecer nesse caso a violação do Princípio Ambiental da Precaução, que deve ser aplicado quando as consequências de determinada atividade são desconhecidas. Ou seja, em caso de dúvida, deve sempre agir a favor do meio ambiente. A empresa Ferrous Resources do Brasil incorporou a empresa (TMC) que detinha a titularidade dos direitos minerais da Serrinha. Contudo, TMC estava com as atividades suspensas pela Receita Federal, antes da transferência dos direitos. Assim, segundo a representação da ONG Abrace a Serra ao Ministério Público Federal e Estadual, não houve incorporação válida dos direitos minerários, pois a empresa com as atividades suspensas pela Receita Federal não poderia praticar qualquer ato, como transferir direitos. Além disso, consta nas representações que a empresa não efetuou o pagamento da taxa anual por hectare do seu título mineral, o que implica, segundo o Código de Mineração, na nulidade de todo o procedimento. ...segundo a representação da ONG Abrace a Serra ao Ministério Público Federal e Estadual, não houve incorporação válida dos direitos minerários, pois a empresa com as atividades suspensas pela Receita Federal não poderia praticar qualquer ato, como transferir direitos. O Sondagens s recursos minerais são bens da União Federal, mas sua exploração pode ser concedida a uma empresa particular que terá direito à propriedade do produto da lavra, ou seja, do minério retirado da mina. Pode-se dizer que a atividade mineral é dividida em duas etapas: a primeira é de pesquisas (sondagens) para averiguar a natureza e volume de A Ferrous apresentou ao DNPM no seu Relatório Final de Pesquisas uma avaliação das reservas que foi posteriormente revista. Tanto a avaliação das reservas como sua revisão foram suportadas pelas mesmas sondagens, ou seja, nada foi acrescentado em termos de informações entre uma e outra. Na primeira avaliação a Ferrous apresentou recursos efetivamente medidos - nível de informação técnica alto - muito inferiores que os indicados, que são aqueles que têm um nível de informação técnica baixo. Na reavaliação a empresa “melhorou sua jazida” e, simplesmente, inverteu as reservas medidas em indicadas e vice versa, não modificando a formulação matemática que dera no relatório anterior e nada acrescentando em termos de informações sobre a jazida. Esse fato demonstra que suas reservas não resistem a uma auditoria técnica com credibilidade internacional. Relacionamento com a comunidade A empresa Ferrous Resources, desde abril de 2011, vem realizando reuniões em Brumadinho informando que uma equipe da empresa avaliaria o valor das propriedades localizadas nas áreas projetadas para mineração. Segundo quem participou das reuniões, a empresa diz pretender comprar as propriedades de maneira amigável, contudo, sinaliza que aqueles que não aceitarem um acordo poderão ser desapropriados pelo Governo. Conforme entendimento da O N G Abrace a Serra da Moeda, é irresponsável a iniciativa de negociar terras para implantar seu empreendimento e, além disso, ameaçar as comunidades de desapropriação, eis que a empresa não tem qualquer título que legitime tal conduta. A empresa manifestou em reunião extraordinária do Conselho Municipal de Meio Ambiente (CODEMA) que a negociação de propriedades é para implantação das estruturas do empreendimento e não há qualquer lei que proíba tal conduta pela empresa. Por outro lado, conforme parecer da Associação de Defesa do Meio Ambiente e Desenvolvimento do Vale do Paraopeba - ASMAP - a negociação precipitada de terras viola alguns princípios jurídicos: como a boa fé, moralidade e ética, pois o Código Civil considera ilícito o ato do titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. A empresa, que pretende explorar um bem que pertence à União Federal, não pode deixar de possuir títulos jurídicos que indiquem a viabilidade econômica, ambiental e social do empreendimento, mormente quando apresenta uma série de irregularidades jurídicas e técnicas, discutidas nas devidas instâncias. minério na jazida Essa etapa é finalizada com a apresentação do Relatório Final de Pesquisas ao DNPM. A segunda etapa é a lavra propriamente dita. Para aprovação da lavra pelo DNPM é preciso apresentar um Plano de Aproveitamento Econômico (PAE). O PAE é um relatório que deve conter todo o estudo técnico-econômico do aproveitamento da jazida mineral e a comprovação da viabilidade econômica do empreendimento. 6 INFORMATIVO DA SERRA DA MOEDA - Ano 1 - Nº 1 - 2011 7 INFORMATIVO DA SERRA DA MOEDA - Ano 1 - Nº 1 - 2011 Projeto que cria o Monumento Natural da Mãe D'Água é discutido em Audiência Pública Municipal: PROJETO DE LEI MUNICIPAL Nº: 28/2011: Verdades e mitos sobre o Projeto da Ferrous em Serrinha VERDADES MITOS O início das atividades provocará o rebaixamento do lençol freático e o consequente esgotamento da nascente Mãe d'Água. A nascente da Mãe d’Ägua será preservada e as comunidades não irão ficar sem água. Para manter as expectativas de exploração (toneladas/ano), a Ferrous irá expandir a atual cava, que tem 30 hectares aprox., para 170 hectares aprox.. Além disso, há no projeto a intenção de expandir a mina com lavra conjunta com as mineradoras vizinhas A cava já existe, somente haverá uma expansão de 500 metros. Nos locais projetados para as estruturas do projeto da Ferrous (pilha de estéril, barragens de rejeito, usina de beneficiamento, etc), todas as pessoas que ali moram terão que deixar suas residências ou abandonar a atividade econômica exercida no local. As indenizações são incompatíveis com o real valor de mercado. O número de famílias que deverão sair de suas terras é reduzido por se tratar de área rural. Nas indenizações será respeitado o valor de mercado. As residências próximas aos locais do empreendimento serão afetadas por barulho de máquinas, poeira, explosões e pela eventual desestabilização das encostas, com possível rolamento de pedras. A mineração não incomodará ninguém, não causará transtornos às comunidades. O projeto da Ferrous causará desemprego na região, em razão dos impactos gerados pela atividade que comprometerão turismo e qualidade de vida. A mineradora promete cerca de 300 empregos, ao passo que os condomínios, sitiantes e turistas geram mais de 10.000 postos de trabalho. A maioria dos empregados da Ferrous não será de Brumadinho, mas virá de municípios vizinhos. O Projeto Serena NÃO irá provocar desemprego na região, por causa dos impactos socioambientais causados. As mineradoras têm uma série de benefícios fiscais e pagam impostos baixos, se comparados com os impactos violentos para meio ambiente e comunidades. Entretanto, possuem lucros estratosféricos. A mineradora irá gerar renda para o município e comunidades, além de investir na economia local. Monumento Natural Municipal da Mãe D’Água O Projeto de Lei Municipal nº: 28/2011, que cria o Monumento Natural Municipal da Mãe D’Água, define a proteção integral de 8 km na Serra da Moeda, o que totaliza uma área de 500 hectares na Montanha. Foto: Douglas Maciel Foto: Junior Presotti Assinado pelos vereadores Lilian Paraguai, Itamar Franco, Marta Boaventura e Jayme Wilson, tramita na Câmara dos Vereadores o projeto de Lei Nº: 28/11,que institui o Monumento Natural da Mãe D'Água. Foto: Douglas Maciel Na foto os vereadores: Lilian Paraguai; Jayme Wilson; Fernando Japão ao lado de Adriano Brasil, Leônidas Maciel; Itamar Franco e Marta da Maroto. Também estavam compondo a mesa, Beatriz Vignolo Silva, Presidente da ONG Abrace a Serra da Moeda; Simone Botrel da Arca AmaSerra e Carlos Murta, representando a empresa Ferrous. O projeto, que define a proteção integral de 8 km na Serra da Moeda, totalizando aproximadamente 500 hectares na montanha, é um instrumento que garantirá a proteção das águas, flora, fauna e, sobretudo, da vida no Vale do Paraopeba. No dia 13 de agosto de 2011, em Audiência Pública, sete dos nove vereadores de Brumadinho assumiram o compromisso com a população de aprovar a lei. No dia 03 de junho de 2011, o Prefeito de Brumadinho, em reunião com as entidades ambientalistas do Município e comunidades, também se comprometeu a aprovar a criação do Monumento Natural da Mãe D'Água. ...em Audiência Pública, sete dos nove vereadores de Brumadinho assumiram o compromisso com a população de aprovar a lei. Espera-se que os Vereadores e Prefeito de Brumadinho correspondam às expectativas das comunidades e sociedade civil organizada. É muito importante acompanhar a tramitação desse projeto. V População exige aprovação da lei e Poder Público assume compromisso na criação da Unidade de Proteção Integral. ocê sabe o que é um Monumento Natural? É uma categoria de Unidade de Proteção Integral, criada por ato do Poder Público (pode ser lei ou decreto), que serve para preservar a natureza, sítios naturais raros, singulares ou com grande beleza cênica. Admite-se apenas o uso indireto dos recursos naturais, que é aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição. Com a participação de centenas de moradores de Brumadinho, representantes de entidades ambientalistas, associações comunitárias e poder público, a Audiência Pública realizada no dia 13 de agosto fortalece a instituição do Monumento Natural Municipal da Mãe D’Água (Serrinha). No dia 13 de agosto de 2011, ocorreu Audiência Pública que discutiu a criação do Monumento Natural da Mãe D’Água (Serrinha), através do Projeto de Lei n º: 28/2011. A Audiência Pública contou com a presença de sete dos nove vereadores da Câmara Municipal, além de centenas de moradores do município de Brumadinho, lotando o plenário da Casa Legislativa. A Empresa Ferrous foi representada pelo funcionário Carlos Murta que também é Presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Brumadinho (CODEMA). A sessão foi aberta pelo Presidente da Câmara, Vereador Leônidas Maciel, que concedeu vinte minutos para a ONG Abrace a Serra apresentar os aspectos jurídicos do Monumento Natural; relevância da instituição e benefícios para a comunidade brumadinhense. Também expôs os detalhes do projeto de mineração da Ferrous e seus impactos negativos para o Município. A empresa não levou qualquer apresentação à Audiência Pública e disse apenas que estaria disposta a sentar e negociar com as comunidades. Houve manifestação unânime por parte dos moradores do Município quanto à necessidade de criação do Monumento Natural. Manifestaram na tribuna Sr. José Bones, Diretor de Meio Ambiente do Condomínio Águas Claras (localizado ao lado da área projetada para a pilha de estéril); Gilmar Matozinhos, morador e líder comunitário da região de São José do Paraopeba; Gilson Reis, presidente do SINPRO-Minas; Renato Rossi, Diretor de Meio Ambiente da Associação dos Condomínios Horizontais (ACH) e Condomínio Retiro do Chalé; Aline Guerra, diretora do Recanto da Serra; Vanilson (Geada), morador e líder da região do Córrego Ferreira, dentre outros. O Todos os vereadores que compareceram à Audiência Pública se comprometeram a apoiar o projeto que cria o Monumento Natural da Mãe D’Água, sendo eles: Vereador e Presidente da Câmara Municipal Leônidas Maciel, Vereador Itamar Franco, Vereador Adriano Brasil, Vereador Fernando Japão, Vereadora Marta da Maroto, Vereador Jayme Wilson e Vereadora Lilian Paraguai. Os Vereadores Xodó e Zezé do Picolé justificaram a ausência e também sinalizaram apoio ao Monumento Natural. Padre Walterson falou da importância de união das comunidades. Paulorinho, morador de Córrego do Feijão, relatou sobre os impactos da mineração em sua comunidade. Foto: Douglas Maciel apenas um filete d’água. Posicionou-se também sobre as consequências para a saúde da população e alertou as autoridades e moradores da região da Serrinha e do Vale do Paraopeba sobre os riscos que estarão propensos caso a mineradora venha se instalar na região. Antônio Cambão pediu respeito às comunidades. Foto: Douglas Maciel Padre Walterson, líder religioso da região do Vale do Paraopeba, em sua fala disse que a união das comunidades é o mais importante para a concretização do Projeto de Lei do Monumento Natural discutido na Audiência. Salientou o pároco que defenderá sempre os direitos das comunidades do Vale de terem um meio ambiente saudável. Antônio Palourinho, membro da ONG Abrace a Serra e morador da Comunidade de Córrego do Feijão (uma das comunidades que vem sofrendo muito em Brumadinho com a extração desenfreada do minério), preocupado com as questões ambientais, relembrou os tempos de infância onde sua comunidade vivia em paz, sem a presença massacrante da mineração. Falou do grande volume de água que havia na região de Córrego Feijão e fez um comparativo com os dias atuais, em que o córrego é Monumento Natural, Unidade de Proteção Integral, inviabiliza a exploração direta dos recursos naturais da Serra, o que garante a efetiva proteção ambiental da montanha e nascentes de água. Foto: Douglas Maciel Antônio Cambão, líder e morador da comunidade de remanescentes de quilombo de Marinhos, agradeceu o apoio dado às comunidades e pediu a aprovação do Projeto de Lei. Também pediu à Ferrous que respeite as comunidades tradicionais e quilombolas como cidadãos e gente. Por outro lado, o tombamento tem finalidade cultural e não ambiental e busca a proteção do patrimônio histórico e artístico ao estabelecer restrições parciais de uso. 8 INFORMATIVO DA SERRA DA MOEDA - Ano 1 - Nº 1 - 2011 Ferrous quer abrir outra Audiência Pública na mina na Serra da Moeda Assembleia Legislativa Os estudos apontam que a comunidade de Piedade do discute mineração Paraopeba será a mais prejudicada, caso essa mina se concretize, principalmente se somado os impactos da e Serras de Minas mina de ferro em Serrinha. E m junho de 2011, a empresa Ferrous apresentou Relatório Final de Pesquisas ao DNPM para uma terceira jazida localizada ao pé da Serra da Moeda, nas adjacências de Piedade do Paraopeba, que tem cerca de 250 hectares. A empresa pretende lavrar mais de 60 milhões de toneladas de filito, mineral utilizado na indústria de cerâmica. Por ser uma rocha fina gera muita poeira. A Empresa pretende lavrar mais de 60 milhões de toneladas de filito, em cerca de 250 hectares Caso o empreendimento seja licenciado, essa mina aumentará significativamente o consumo de água das nascentes que abastecem as comunidades de Brumadinho e o impacto sobre o ar devido à proliferação do “talco de filito”. A Ferrous, que inicialmente pesquisava minério de ferro na área, apresentou no Relatório Final de Pesquisas requerimento de alteração de substância que ainda não foi analisado pelo DNPM. Ferrous faz reuniões restritas nas comunidades A empresa Ferrous Resources do Brasil realizou nos últimos meses diversas reuniões nas comunidades que serão impactadas pelo empreendimento de mineração, contudo, somente podiam participar os convidados da empresa. Dezenas de pessoas foram impedidas de entrar nas reuniões, que tinha por objetivo escolher “representantes eleitos pela comunidade” que seriam responsáveis por fornecer subsídios para caracterização da região, para fins de licenciamento ambiental - Estudo de Impacto Ambiental. Em uma das reuniões, mais de 30 pessoas das comunidades de Córrego Ferreira, Palhano, Piedade do Paraopeba, Águas Claras, Retiro do Chalé, Jardins - todas em Brumadinho - foram impedidas pelos seguranças da empresa de entrar na reunião realizada no Córrego Ferreira. Moradores da região projetada para ser a pilha de estéril (250 hectares, aprox..), dentre eles idosos e crianças, ficaram indignados com o cerceamento da empresa, que acabou acionando a Polícia Militar, temendo que os ânimos se exaltassem. No Boletim de Ocorrência a empresa confirma que a reunião era somente para convidados. No dia 14 de junho centenas de representantes da sociedade civil discutiram, em Audiência Pública promovida pelas Comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e de Assuntos Municipais e Regionalização, a preservação das Serras de Minas e sua constante ameaça, trazida pela atividade de extração mineral, principalmente a do ferro. Estiveram presentes, além dos deputados Célio Moreira (PSDB), Rogério Correia (PT), Pompílio Canavez (PT), Gustavo Corrêa (DEM) e das deputadas Liza Prado (PSB) e Luzia Ferreira (PPS), militantes da causa ambiental e moradores de comunidades afetadas pela mineração, que apresentaram os problemas vividos e reivindicaram a preservação das Serras da Moeda, do Gandarela, do Curral, do Rola Moça, de Capão Xavier, entre outras. Compondo a mesa juntamente com integrantes do Legislativo Estadual e da Promotoria de Justiça em Defesa do Meio Ambiente, estiveram Vinícius Barbosa, representando a ASMAP, Beatriz Vignolo Silva, pela ONG Abrace a Serra da Moeda e Gustavo Tostes Gazzineli, representando o movimento pelas Serras e Águas de Minas. A ONG Abrace a Serra da Moeda conseguiu mobilizar centenas de moradores de Brumadinho, que reivindicaram dos representantes políticos a aprovação do Projeto de Lei Estadual nº: 1.630/2011 que cria o Monumento Natural Estadual no trecho Serrinha em Brumadinho – MG. Fonte: Assembleia Legislativa Fonte: Assembleia Legislativa Ferrous quer vender seu negócio Na segunda quinzena de outubro foi veiculada, em alguns jornais internacionais e nacionais, a notícia de negociação entre as empresas Ferrous Resources e BHP Billiton. Após a tentativa mal sucedida de lançamento de ações, pela Ferrous, na bolsa de valores de Londres, durante o ano de 2010, a empresa contratou um banco alemão para encontrar um comprador para o negócio. A venda da empresa não foi confirmada até o fechamento desta edição, mas as notícias apontam que a Ferrous pressiona para obter uma avaliação igual ou superior a US$ 3 bilhões, enquanto a BHP tenta um valor mais