ESTIMATIVA DE QUALIDADE DE CARVÃO A PARTIR DE PERFILAGEM GEOFISICA E SEU USO NO PLANEJAMENTO DE LAVRA A CURTO PRAZO. George Olufunmilayo Gasper, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil Camilla Zacché da Silva, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil Breno Gorelik, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil Vládia Cristina G. de Souza, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil Paulo Salvadoretti, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil João Felipe Coimbra Leite Costa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil Jair Carlos Koppe, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil RESUMO A técnica de perfilagem geofísica, muito utilizada na indústria de petróleo, vem ganhando espaço no setor de mineração como forma de aumentar a qualidade e a quantidade de informação acerca dos depósitos minerais. No caso da sondagem, quando comparada à aplicação bem sucedida da técnica de perfilagem, essa representa custos mais elevados, menor produtividade e, em certos casos, menor eficiência (casos de litologias friáveis em que a recuperação é insuficiente ou inadequada para análises). A perfilagem pode ser feita, inclusive, em furos de desmonte, o que permitiria um maior controle da qualidade do minério Run-of-Mine (ROM). Atualmente, isto é feito, por meio de amostragens nas correias transportadoras de alimentação da usina de beneficiamento. Neste contexto, esse trabalho visa à utilização da perfilagem para fins de previsão dos parâmetros de densidade e cinzas do carvão antes da entrada na usina. Para isto, foram realizadas coletas de amostras de testemunho de sondagem (furos de exploração), perfilagem destes com gama natural e resistividade, bem como de furos de desmonte em áreas teste lavradas em um depósito de carvão conhecido. Os materiais provenientes destas áreas foram monitorados até a chegada na correia transportadora de alimentação da usina e amostrados. Estabelecendo-se um modelo para estimar os parâmetros densidade e cinzas, com base nos registros geofísicos de perfilagem dos furos de exploração e análises de testemunhos, foi possível prever seus valores (para uma dada camada de carvão do depósito) por meio de perfilagem de furos de desmonte antes que eles entrassem na usina. Os resultados das análises destes materiais, coletados na entrada na usina, foram defrontados com estas previsões. As diferenças mostraram-se aceitáveis, sendo que os erros relativos obtidos foram de: ± 3% para densidade e ± 4 % para cinzas PALAVRAS-CHAVE: carvão; perfilagem geofísica; cinzas; qualidade. INTRODUÇÃO A técnica de perfilagem geofísica de poços, para fins de investigação geológica de subsuperfície, vem sendo utilizada há quase um século pela indústria de petróleo, pioneira, também, no uso dos métodos de sísmica para mapeamento estrutural (McDonald e outros, 1976; McWhorter & Torgunson, 1995). No setor de mineração, a técnica vem conquistando seu espaço por se mostrar, quando, corretamente aplicada, num modo econômico e eficiente de aumentar a qualidade e a quantidade de informação acerca dos depósitos minerais, para fins de exploração, modelagem, estimativa de recursos/reservas, planejamento de lavra e beneficiamento (Bond e outros, 1971; Killen, 1983; Kerr, 1994; Nelson & Johnston, 1994; Turner e outros, 1996; Gordon, 1999; Oliveira, 2005; Almeida, 2008; Oliveira, 2008). Até mesmo grandes depósitos de ouro, tal como de Witwatersrand na África do Sul (Pretorius e outros, 1989; Campbell, 1994; Pretorius e outros, 1994; Pretorius e outros, 1997; Pretorius e outros, 2003), por exemplo, quando localizados em grandes profundidades, requerem um adensamento amostral cujos custos são proibitivos, quando utilizado apenas sondagens. Tendo em vista essa realidade, começou-se a investir na aplicação de outros métodos, tais como os métodos de sísmica, no início, com vistas apenas ao mapeamento estrutural. Ou seja, até a década de 70, estes eram métodos empregados somente pela indústria do petróleo. Ainda, não somente nestes casos foram aplicados métodos de sísmica, como foram geradas imagens 3D para modelagem, obtendo-se sucesso, devido à similitude entre depósitos de hidrocarbonetos e o ambiente sedimentar de minas de ouro de Witwatersrand e demais ao seu redor (década de 80 e inicio de 90), de acordo com Bernd e outros (2003) e Wright (1981). Até então, o que ocorria era uma campanha no sentido da indústria mineral conscientizar-se da importância da aplicação deste método como maneira de reduzir custos e aumentar a confiabilidade dos dados geológicos de subsuperfície (Reed, 1993; Aylor, 1995; Milkereit e outros, 1996; Milkereit e outros, 2000). A partir de 2000, os métodos de sísmica conquistaram definitivamente seu espaço, com aplicações desde a exploração até o planejamento e desenvolvimento de minas, a exemplo do trabalho de Duweke e outros (2002), o qual produziu imagens de sísmica 3D do complexo de Bushveld (depósito de cromita e EGP, elementos do grupo da platina, também, situado na África do Sul, mas agora em contexto geológico diferente do ambiente deposicional de Witwatersrand). Enquanto tudo isso se processava, com relação aos métodos de sísmica e sua aplicação na mineração, a perfilagem com gama natural já estava sendo aplicada, inclusive para prever qualidade de minério, porém com sucesso apenas em alguns depósitos de carvão (Kayal & Das, 1981; Kayal & Christofel, 1989); sem falar em outras finalidades, como exploração (Kayal, 1979) ou os estudos geotécnicos de Killeen (1983), por exemplo. A partir da década de 90, a indústria do carvão tem sido assediada com as propostas de perfilagem com sondas nucleares cada vez mais sofisticas, esquecendo-se um pouco da gama natural, devido a dificuldades na identificação das camadas de carvão em certos depósitos, a maior acuracidade prometida e cumprida das medidas de densidade e, por conseguinte, da possibilidade de previsão de qualidade, tal como das cinzas (Borsaru e outros, 1985; Borsaru & Ceravolo, 1994; Borsaru e outros, 2001; Borsaru, 2005 e Borsaru & Asfahania, 2007). Com o desenvolvimento das ferramentas apropriadas, portanto, na década de 90, a técnica da perfilagem já tinha sido aplicada em diferentes tipos de depósitos minerais (Fullagar & Fallon, 1997; Fallon e outros, 1997; Gordon, 1999; Mutton, 1997; Fallon e outros, 2000) com relativo sucesso. No Brasil, ela ainda está nos estágios iniciais de desenvolvimento. Por outro lado, o interesse pela técnica cresce rapidamente no cenário nacional, à medida que os investidores redobram seus esforços para reduzir as incertezas associadas à estimativa de parâmetros como densidade e teor, os quais podem variar muito dentro de uma mesma litologia, inclusive com a profundidade. Para estimativa de recursos, é comum o uso de valores médios de densidade por litologia, o que repercute diretamente sobre o cálculo de tonelagens de um depósito. As estimativas, por sua vez, são feitas como base nas análises em laboratório de amostras de afloramento ou de testemunhos de sondagem apenas. Ainda, os resultados de laboratório tornaram-se, com o tempo, cada vez mais confiáveis, com o desenvolvimento de diversas técnicas e equipamentos analíticos. No entanto, as estimativas de densidade e teor do minério, num dado depósito, não dependem, essencialmente, disso, mas da obtenção de um número representativo de amostras, que é o que impacta de forma mais efetiva o grau de confiabilidade das mesmas durante as etapas de planejamento de lavra. Enquanto a sondagem representa um elevado custo no processo, com baixas taxas de produtividade em diversas situações, a técnica da perfilagem aparece como uma solução viável: tanto como informação complementar (Reeves, 1976; Davies, 1992; Kay e outros, 2004), bem como, em certas circunstâncias, para substituir a primeira, ou seja, as análises de laboratório (Kayal, 1989; Oliveira e outros, 2004; Souza e outros, 2009). A perfilagem geofísica é uma técnica que, definitivamente, é capaz de medir de forma eficaz as quantidades físicas do carvão, com baixo custo de operação, fácil manuseio e versatilidade (Hoffman, 1982; Hearst, 1985), portanto, já há algum tempo. A novidade incide no fato dela poder ser aplicada durante as operações de lavra para fornecer uma resposta imediata ao parâmetro medido, pois pode ser realizada em furos ou poços com ou sem recuperação de testemunho (Kayal & Christofel, 1989). Dentre as técnicas de perfilagem geofísica, pode-se se afirmar que a perfilagem com gama natural é a de utilização mais simples para identificação de contrastes entre litotipos, incluindo parâmetros de qualidade (Kayal 1981; Kayal & Das, 1981; Kayal & Christofel, 1989;). Isto ocorre, pois, quando comparada a sondas que possuem fonte radioativa, os procedimentos de operação não requerem pessoal treinado ou licenciado, nem todos os demais cuidados relativos ao transporte e seu manuseio. Comparada à sonda de resistividade, também, é muito mais simples, pois esta requer o preenchimento total do furo com água. No entanto, tem sido observado, em depósitos de carvão, incluindo alguns do Sul do Brasil, que sem a sonda de resistividade ou outra qualquer contendo fonte radioativa, torna-se quase impossível diferenciar as camadas de carvão do material estéril (Webber e outros, 2006; Souza e outros, 2010). Dentre os parâmetros de controle de qualidade do carvão, talvez, o mais importante seja, realmente, o teor de cinzas, pois por meio dele poderiam ser inferidos os demais (com exceção, é claro, do enxofre ou conteúdo de pirita): por exemplo, a densidade do carvão possui elevada correlação com as cinzas. Quando este parâmetro, especificamente, foi avaliado por meio perfilagem geofísica, em certos depósitos do Sul do Brasil, verificou-se que a precisão das estimativas derivadas do modelo de ajuste é elevada, inclusive com relação ao uso apenas da sonda de gama natural (Souza e outros, 2009; Souza e outros, 2010). Isto ocorreu, porque o teor de cinzas de carvão costuma ser diretamente proporcional à contagem do gama natural, por conseqüência, inversamente proporcional ao poder calorífico (Oliveira, 2005). Alguns testes realizados em depósitos de carvão do sul do Brasil, comprovaram que há uma forte correlação entre a radiação natural e gama retro-espalhado com o teor de cinzas dos carvões (Oliveira, 2005; Souza e outros, 2009;. Webber e outros, 2009). A diferença principal no resultado da aplicação das técnicas citadas é que, num depósito possuindo carvão intercalado com arenitos ou paraconglomerados menos impuros e pouco saturados, há uma dificuldade muito grande em distinguir a assinatura destes materiais pelo gama natural, mesmo com a ajuda da sonda de resistividade. O gama retro-espalhado torna, portanto, mais fácil o reconhecimento das camadas de carvão, no entanto, exige procedimentos de campo mais complexos e pessoal, devidamente, treinado e licenciado para esta finalidade. Nessa linha de investigação, os autores escolheram um depósito de carvão situado no Sul do Brasil, para executar novas campanhas de exploração e fazer perfilagem em furos com recuperação de testemunhos, bem como de desmonte, a fim de predizer a qualidade do carvão com vistas ao planejamento em curto prazo e beneficiamento. Para tanto, foram utilizados dados de análises das amostras de testemunho, suas descrições geológicas e correlação estratigráfica, para estabelecer uma função de calibração para estimar teor de cinzas com base no gama natural. Durante a interpretação dos registros geofísicos, foram reconhecidas as assinaturas das camadas de carvão, identificando-se, ao longo de cada furo, a coluna litoestratigráfica típica do depósito. Dada a forte correlação existente entre gama natural e cinzas nestes depósitos, seria possível melhorar o planejamento de lavra em curto prazo e prever a sua qualidade antes da entrada na usina. A questão, a ser respondida, por outro lado, é o quão precisa e acurada seria esta previsão? METAS E OBJETIVO Este estudo investiga o uso da perfilagem com gama natural e resistividade para previsão da qualidade do carvão ROM (Run Of Mine) no planejamento de lavra de curto prazo. Para atingir essa meta, ficaram determinados os seguintes objetivos: (i) criar modelos por meio de perfilagem para prever o conteúdo de cinzas e densidade para uma dada camada de carvão do depósito; (ii) aplicá-los aos dados provenientes de perfilagem em furos de desmonte e (iii) estimar acuracidade e precisão destes modelos para previsão de qualidade de amostras ROM. METODOLOGIA E BASE DE DADOS O trabalho de campo envolveu, primeiramente, duas etapas (campanhas 1 e 2), sendo que na primeira foram coletadas amostras de testemunho ao longo de 9 furos de exploração (Tabela I) e a segunda ao longo de 7 furos (de comprimento variando entre 60 e 120 m). As amostras destas campanhas foram analisadas em laboratório, obtendo-se os dados de densidade e cinzas. Ainda, estes furos estavam dispostos em malha irregular, com espaçamento variando entre 200 e 600m (média de 300m). Durante a segunda campanha, os furos de exploração foram perfilados com as sondas de resistividade e gama natural. A primeira campanha foi realizada para coletar dados e estabelecer um modelo de ajuste entre densidade e cinzas, ambas determinadas em laboratório. A segunda campanha foi realizada para estimar valores de cinza, com base nos valores de gama natural e, depois, com base nestes novos valores de cinza (estimados) prever a densidade. A última etapa ou terceira campanha consistiu na perfilagem de furos de desmonte em áreas teste lavradas do mesmo depósito. Após os primeiros levantamentos de campo, dois bancos de dados foram construídos: um que compreendia os resultados obtidos por análises laboratoriais das amostras de testemunhos de duas campanhas (Tabela I) e outro contendo dados de leitura de perfilagem geofísica com sonda gama natural e resistividade (Tabela II), proveniente apenas da campanha 2. Os valores de gama natural das amostras coletadas nestes furos corresponderam aos valores médios ao longo do intervalo da camada de carvão. Tabela I - Banco de dados contendo valores de densidade e cinzas da camada M1, resultantes das análises laboratoriais das amostras de testemunhos de duas campanhas de exploração (1 e 2) Campanha 1 Furo B3-01 B3-02 B3-04 B3-06 B3-08 B3-14 B3-16 B3-17 B3-19 Dens. Lab. (g/cm3) 1,7 1,7 1,8 2,1 2,0 1,6 2,0 1,6 1,6 Cinzas Lab. (%) 43,5 38,1 47,8 75,7 54,8 41,4 66,9 38,4 43,4 Campanha 2 Furo B3-Z1 B3-38 B3-29 B3-37 B3-18 B3-12 B3-13 B3-22 --- Dens. Lab. (g/cm3) 1,7 1,6 1,7 1,8 1,7 1,7 1,7 1,8 --- Cinzas Lab. (%) 45,4 45,7 47,4 48,1 47,6 46,3 44,9 56,6 --- Tabela II - Banco de dados contendo valores médios de gama natural e resistividade das assinaturas da camada de carvão M1, obtidos por perfilagem geofísica de furos com recuperação de testemunhos durante a segunda campanha. Furo B3-Z1 B3-38 B3-29 B3-37 B3-18 B3-12 B3-13 B3-22 Gama Natural (API) 87,8 88,7 94,9 91,4 74,6 85,6 57,0 122,0 Resistividade (Ohm.m) 47,0 39,8 51,2 12,5 45,0 12,0 24,0 60,8 Os furos de exploração interceptaram as principais camadas de carvão do depósito. A figura 1 mostra a coluna litoestratigráfica do depósito de carvão em estudo e as assinaturas geofísicas das camadas de carvão. Figura 1: Coluna litoestratigráfica do depósito (a), com detalhamento das camadas S e M e materiais estéreis, partings (b) assinatura geofísica típica encontrada durante a leitura dos registros de gama natural (GN) e resistividade (RES) das camadas investigadas durante campanhas de exploração (à direita). O depósito é composto, basicamente, pelas camadas de carvão designadas como A (A1 e A2), S, M (M1, M2 e M3) e I (I1 e I2). Existem importantes variações locais com relação ao conteúdo de cinzas no depósito, incluindo o aparecimento de camadas de carvão como a “L” entre a “S” e a “M” e, ainda, variações de espessuras dos materiais estéreis entre S e M1 (Parting S-M1) e entre M1 e M2 (Parting M1-M2). Neste trabalho, foi investigada a possibilidade da previsão da qualidade do carvão proveniente apenas da camada M1, pois os furos de desmonte na área lavrada estudada não possibilitaram o reconhecimento das assinaturas geofísicas para a camada S (furos situados sobre a camada S na bancada), nem I (furos acabavam antes ou no meio da camada I1). Foram analisadas a densidade e as cinzas das amostras dos materiais estéreis situados entre as camadas S e M1, bem como entre M1 e M2, retiradas dos testemunhos das campanhas de exploração. Os resultados foram utilizados para fins de previsão de diluição, após a recomposição de topo e de base topográfica da camada M1 lavrada. Com valores de espessura de materiais estéreis, de sua densidade e teores de cinza de cada área, pode ser feita a reconciliação e a correção das primeiras estimativas de cinzas da camada M1 com base na perfilagem gama natural dos furos de desmonte. Foram perfilados 11 furos de desmonte nas áreas teste lavradas, com comprimento variando de 15 a 18m cada um, partindo da camada S até a I1 (Figura 2 mostra a localização destes furos, sua disposição nas quatro áreas teste e dimensão das mesmas). Figura 2: Furos de desmonte para as quatro áreas teste lavradas que interceptam a camada M1. Para prever o teor de cinzas das camadas de carvão é necessário, primeiramente, conseguir identificá-las. Para tal, foram interpretados os perfis geofísicos em conjunto com as análises laboratoriais dos testemunhos e de sua descrição geológica. Para o caso das amostras da usina, foram realizados, primeiramente, procedimentos de reconciliação: as áreas lavradas foram registradas e as tonelagens recalculadas e comparadas com aquelas registradas na planilha de produção mensal correspondente. Os resultados das análises de cinzas das amostras coletadas na correia foram ponderados pelas suas respectivas áreas de influência (ver Figura 2), resultando na Tabela III. Portanto, para cálculo das tonelagens (reconciliação) foram utilizados: (i) valores de densidade obtidos pela perfilagem dos furos de desmonte e (ii) valores de espessura média da camada M1, em cada área teste lavrada, com base na leitura do registro de resistividade dos furos de desmonte. Este cálculo é descrito novamente e mostrado seus resultados mais adiante. Tabela III- Valores de cinzas da usina . Área 1 2 3 4 Datas de produção até 9/4 até 16/4 17/4 20/4 Cz (%) 52,1 usina 53,8 53,5 49,9 Ainda, de acordo com as Tabelas I e II, é possível observar que os de valores de cinzas das amostras de testemunho caem dentro do mesmo intervalo das amostras coletadas sobre a correia de alimentação da usina (Tabelas III). Tabela IV- Dados de perfilagem geofísica feita nos furos de desmonte das áreas lavradas (M1) Área 1 Área 2 Área 3 Área 4 Furo B01 B09 B10 MÉDIA B03 B08 B11 MÉDIA B07 B12 MÉDIA B04 B06 B13 MÉDIA De (m) 3,8 3,8 3,7 3,8 3,8 3,6 3,0 3,5 3,3 2,5 2,9 5,0 3,2 2,4 3,5 Até (m) 4,2 4,5 4,2 4,3 4,4 4,3 3,6 4,1 4,0 3,1 3,6 5,6 3,9 3,0 4,2 Esp. (m) 0,4 0,7 0,5 0,5 0,6 0,7 0,6 0,6 0,7 0,6 0,7 0,6 0,8 0,6 0,7 Res. (Ohm.m) 167,4 232,2 225,9 208,5 180,7 198,7 286,0 221,8 222,0 234,0 228,0 206,1 228,2 217,1 GN (API) 83,1 83,2 81,2 82,5 77,5 90,0 85,0 84,2 86,0 76,0 81,0 80,0 85,4 82,7 Nota: De e Até são a referência de profundidade do topo e base da camada M1 nos furos de desmonte; Esp. é a espessura da camada de carvão M1; Res. é a resistividade e GN, o gama natural. Ainda, para identificação das camadas de carvão foi feita a leitura dos registros de gama natural e resistividade dos furos de desmonte. Foram comparadas as assinaturas com aquelas encontradas por meio de perfilagem de furos de exploração e suas respectivas descrições geológicas (Figura 2, para reconhecimento das assinaturas). Portanto, para identificação das camadas, foram utilizadas duas ferramentas: sonda de gama natural e resistividade. Porém, para estimativa das cinzas, utilizaram-se apenas os valores de gama natural, pois a resistividade não possui uma correlação simples e linear com o conteúdo de cinzas nas áreas estudadas do depósito, conforme pode ser verificado pelos dados constantes na Tabela II. As faixas dos registros geofísicos com elevada resistividade e baixa contagem gama natural são características dos carvões deste depósito. Em outros depósitos, como aqueles onde os arenitos entre as camadas de carvão são muito porosos, possuem grau de saturação d’água baixo, e contém pouca quantidade de impurezas (tais como, argilominerais os quais possam contribuir na contagem dos elementos radiométricos), pode ser quase impossível identificar as camadas de carvão, sem o auxilio da descrição dos testemunhos. Materiais, com estas características, fazem com que os valores de resistividade fiquem mais elevados, enquanto, o gama natural diminui, sendo confundidos, então com o carvão. Em tais depósitos, por enquanto, o que se faz é a perfilagem com gama retro-espalhado ou sonda gama-gama (Oliveira, 2005). Assim, salienta-se que nas áreas do depósito estudado acontece o contrário: a camada de arenito situada entre a S e M1 possui gama natural elevado e resistividade baixa, pois se trata de arenito bastante impuro, pouco poroso e com elevado grau de saturação em água, o que permitiria a identificação da camada M1, mesmo na ausência da descrição do testemunho. RESULTADOS Foram estabelecidas duas equações com base em correlações: (i) Correlação entre os dados de densidade e cinzas de amostras de testemunho analisadas em laboratório (provenientes da campanha 1, Tabela I), Y=0,0134X+1,1081, sendo X as cinzas (%) e Y a densidade (g/cm3), e (ii) Correlação entre os valores de gama natural da camada M1 (provenientes da perfilagem dos furos de exploração da campanha 2) e o conteúdo de cinza destas amostras (analisado em laboratório). Y=0,17X+33, sendo X a contagem de gama natural (API) e Y as cinzas (%). A primeira equação foi usada, portanto, para estimar a densidade e a outra para estimar o conteúdo de cinzas tanto das amostras de testemunho da campanha 2, quanto para as áreas lavradas (furo de desmonte). Em seguida, foram estimados os erros obtidos por estas equações, ou seja, para estes modelos. A Figura 3 mostra a correlação existente entre os valores de densidade e cinzas de amostras de testemunho analisadas em laboratório. Esta ficou em torno de 0,8 (R2), sendo que o erro relativo para as estimativas de densidade foi ±3% para as campanhas de exploração (Tabela V). Figura 3- Correlação entre valores de densidade e cinzas de amostras de testemunho. Tabela V- Valores de densidade e cinzas das amostras de testemunho: estimativas baseadas em perfilagem gama natural, bem como os erros para previsão da densidade com base nas cinzas Furo Campanha 1 Campanha 2 B3-01 B3-02 B3-04 B3-06 B3-08 B3-14 B3-16 B3-17 B3-19 B3-Z1 B3-38 B3-29 B3-37 B3 - 18 B3 - 12 B3 - 13 B3-22 Dens. Lab. (g/cm3) 1,7 1,7 1,8 2,1 2,0 1,6 2,0 1,6 1,6 1,7 1,6 1,7 1,8 1,7 1,7 1,7 1,8 Cinzas Lab. (%) 43,5 38,1 47,8 75,7 54,8 41,4 66,9 38,4 43,4 45,4 45,7 47,4 48,1 47,6 46,3 44,9 56,6 Estimativa (g/cm3) 1,7 1,6 1,8 2,1 1,8 1,7 2,0 1,7 1,7 1,7 1,7 1,8 1,8 1,8 1,7 1,7 1,9 Erro Absoluto (g/cm3) 0,0 0,0 0,0 0,1 -0,2 0,1 0,0 0,1 0,1 0,0 0,1 0,1 0,0 0,1 0,0 0,1 0,1 Erro Relativo (%) 2,0 2,4 2,7 3,6 -8,2 3,4 0,2 3,5 3,1 0,1 5,7 5,8 0,9 5,3 2,4 3,1 3,8 A Figura 4 mostra a correlação existente entre valores de gama natural e cinzas das amostras de testemunho da segunda campanha de exploração. Esta ficou em torno de 0,7 (R2), sendo que o erro relativo para as estimativas de cinzas foi ±4% (Tabela VI). Figura 4- Correlação entre valores de gama natural e cinzas de amostras de testemunho (dados provenientes da segunda campanha de exploração). Tabela VI- Valores de cinzas e gama natural: estimativa e erros na previsão das cinzas das amostras de testemunho com base no gama natural (GN) Furo B3-Z1 B3-38 B3-29 B3-37 B3 - 18 B3 - 12 B3 - 13 B3-22 Cinzas Lab. (%) 45,4 45,7 47,4 48,1 47,6 46,3 44,9 56,6 GN (API) 87,8 88,7 94,9 91,4 74,7 85,6 57,0 122,0 Estimativa (%) 47,9 48,1 49,1 48,5 45,7 47,5 42,7 53,7 Erro Absoluto (%) 2,5 2,3 1,7 0,5 -1,9 1,3 -2,2 -2,9 Erro Relativo (%) 5,6 5,1 3,7 1,0 -4,1 2,8 -4,8 -5,1 A Tabela VII mostra as estimativas de cinzas, com base nos valores de gama natural da camada M1 de carvão provenientes da perfilagem dos furos de desmonte. Tabela VII– Estimativas de cinzas com base na perfilagem gama natural (GN) dos furos de desmonte, aplicando a equação estabelecida na campanha 2 (Figura 4) Área 1 Área 2 Área 3 Área 4 Furo B01 B09 B10 MÉDIA B03 B08 B11 MÉDIA B07 B12 MÉDIA B04 B06 MÉDIA Gama Nnatural (API) 83,1 83,2 81,2 82,5 77,5 90,0 85,0 84,2 86,0 76,0 81,0 80,0 85,4 82,7 Estimativa de Cinzas (%) 47,1 47,1 46,8 47,0 46,2 48,3 47,5 47,3 47,6 45,9 46,8 46,6 47,5 47,1 Depois de estimados os valores de cinzas das amostras de carvão com base no gama natural, estes foram ponderados, utilizando-se os valores de espessura de carvão e espessura estéril lavrado junto durante processo de lavra (diluição), com os respectivos valores de cinza para material estéril do entorno. A Tabela VIII mostra os valores médios resultantes das análises químicas feitas em laboratório de amostras de material estéril entre a camada S-M1 e M1–M2 (“partings”), com vistas ao cálculo das cinzas ponderadas pela diluição. O valor médio de diluição acima e abaixo da camada M1, foi de cerca de 5 cm nas quatro áreas teste lavradas. Ainda, as cinzas e a densidade variaram, conforme pode ser visto na Tabela VIII de 70 a 87% e de 1,9 a 2,4 g/cm3, com coeficiente de variação de 6% e 9,5%, respectivamente. Tabela VIII- Valores de cinza e densidade de amostras de material estéril entre a camada S-M1 e M1–M2 (“partings”), retiradas de testemunho de furos de exploração (para fins de cálculo de diluição). Furo B01 B02 B04 B14 B16 B17 B19 B12 B13 B18 B22 Média Desvio Cinzas (%) 86,5 74,2 80,0 77,0 81,5 87,0 79,8 79,0 70,0 82,0 80,0 80,0 4,7 Densidade (g/cm3) 1,9 2,0 2,2 2,3 2,4 2,3 2,1 2,2 2,2 1,7 2,1 0,2 A Tabela IX mostra os resultados para a previsibilidade das cinzas das áreas lavradas. O erro relativo para as estimativas das cinzas foi, também, de ±4% (Tabela VIII), considerando as quatro áreas. Tabela IX – Valores de cinza das amostras da usina estimados com base na perfilagem gama natural dos furos de desmonte, após correção da reconciliação (dados de diluição mostrados anteriormente). Os dados são as médias da camada M1 em cada área teste lavrada, mostrando-se os erros de estimativa. Área 1 2 3 4 Cinzas Usina (%) 52,1 53,8 53,5 49,9 Estimativa Cinzas(%) 52,5 52,0 51,0 54,0 Erro Absoluto (%) 0,4 (%) -1,8 -2,6 3,8 Erro relativo (%) 0,8 (%) -3,4 -4,8 7,5 Após o conteúdo de cinzas ser estimado com base no gama natural nas áreas teste lavradas, foram feitas novas estimativas de densidade para estas mesmas áreas (Tabela X), utilizando a equação calibrada pela campanha 1 (correlação entre cinzas e densidade de laboratório). O erro relativo de uma estimativa de densidade, com base numa cinza, também, estimada, agora pela geofísica (gama natural) foi ainda de ±3%, com erro máximo igual a 7,6%. Tabela X- Valores de densidade estimada com base em uma cinza estimada (cinza estimada por meio do gama natural) e os respectivos erros Furo B3-Z1 B3-38 B3-29 B3-37 B3-18 B3-12 B3-13 B3-22 Densidade (g/cm3) 1,7 1,6 1,7 1,8 1,7 1,7 1,7 1,8 Cinzas (%) 47.9 48,1 49,1 48,5 45,7 47,5 42,7 53,7 Estimativa (g/cm3) 1,8 1,8 1,8 1,8 1,7 1,7 1,7 1,8 Erro Relativo 1,9 (%) 7,6 7,2 0,5 3,8 3,4 1,3 1,7 Após estas novas estimativas de densidade, o valor médio de densidade de cada área ficou em torno de 1,7 g/cm3. O valor máximo de densidade poderia chegar a 1,9 g/cm3, de acordo com o erro máximo. Quanto às tonelagens recalculadas de cada área lavrada para fins de reconciliação, usando estas novas estimativas de densidade, foram obtidos erros entre 3% e 6 % no máximo. Assim, a reconciliação poderia ser feita, com base, apenas, na perfilagem de furos de desmonte com gama natural. Finalmente, na Tabela XI, são mostrados os dados usados no cálculo de reconciliação, considerando as diluições ocorridas no processo de lavra, tal que as espessuras registradas nos perfis sofrem um aumento 10cm, em média, correspondente a materiais estéreis de topo e base da camada com densidade próxima a 2 g/cm3. Ainda, a Tabela XI mostra que a massa total produzida, registrada pela usina, foi de 9.200 t, sendo a massa recalculada, com base num valor médio de densidade estimado por gama natural, em torno de 9.195 t, ou seja, resultando em uma diferença global de apenas 0,1%! Tabela XI – Cálculos de reconciliação: diferença entre a massa produzida e a calculada por meio de estimativas baseadas em perfilagem gama natural e erros, com respeito ao método tradicional de análises em laboratório de amostras ROM (correia de alimentação da usina). Área Lavrada 1 Área 2 3 Lavrada 4 Massa Produzida (t) 2963 Produzida (t) 1866 1391 2980 Área 2 (m ) 2915 1414 1007 1991 Espessura (m) Carvão Esteril 0,5 0,10 0,6 0,10 0,7 0,10 0,7 0,10 Densidade (g/cm3) Lab. Esteril Estim. 2,1 1,7 carvão 2,1 1,7 2,1 1,7 2,1 1,7 Massa Recalculada (t) 3148,2 1773,2 1430,6 2843,1 Erro (%) Relativo 6,3 (%) -5,0 2,8 -4,6 CONCLUSÃO Foi possível construir modelos tanto para previsão de cinzas como para previsão de densidade, a partir da perfilagem geofísica com gama natural, pois havia uma boa correlação entre os parâmetros de interesse. Como podemos analisar pelos resultados, as estimativas das cinzas com base no gama natural, apresentam um erro relativo máximo de ±4%. Quanto às estimativas de densidade, obteve-se um erro relativo de ±3%, com base nas cinzas de laboratório ou, ainda, com base numa cinza estimada (proveniente da perfilagem com gama natural). Assim, a reconciliação poderia ser feita com base apenas na perfilagem de furos de desmonte com gama natural tanto para a massa minerada como para a qualidade do ROM. A perfilagem geofísica com gama natural e resistividade, portanto, mostrou-se como uma técnica de boa precisão e acuracidade para obtenção de informações necessárias ao planejamento de lavra em curto prazo neste depósito, podendo, inclusive ser realizada em furos de desmonte com vistas a previsão da qualidade do carvão ROM. REFERÊNCIAS Almeida, T., Braga, M.A., Silva, J.C., Salvadoretti, P., Webber, T. e Costa, J.F.C.L. Estimativa de densidades a partir de perfilagem geofísica efetuada em furos de sondagem em jazidas de ferro da Companhia Vale Do Rio Doce, Minas Gerais. Anais do V Congresso Brasileiro de Mina a Céu Aberto e Subterrânea (IBRAM), v.1, p.1-8, Belo Horizonte, Brasil, 2008. Aylor, W.K. Business performance and value of exploitation 3-D seismic. The Leading Edge, p.797-801, 1995. 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