A Situação da Produção de Carvão Mineral no Estado
do Paraná em Relação a Nota Técnica no 034/2011SRG/ANEEL de 15 de junho de 2011.
1. Comentários Iniciais:
No Estado do Paraná a produção de carvão mineral é desenvolvida por
uma única empresa – CARBONÍFERA DO CAMBUÍ LTDA. -, situada no
município de Figueira.
O carvão beneficiado é entregue para a Usina Termelétrica de Figueira,
que dista cerca de 6 km das instalações de beneficiamento da Cambuí.
O carvão entregue na Usina tem Poder Calorífico Superior de 6000
kcal/kg, teor de cinzas de 25%. Por força de contrato, o fornecimento é
de 6500 t/mês (na base seca), envolvendo cerca de 3% dos dispêndios
da conta CDE.
Para atender sua produção, a Cambuí opera uma mina subterrânea, com
método “câmara e pilares” mecanizado e uma usina de beneficiamento
(lavador) recentemente modernizada. Nas suas atividades, de mineração
e operação da Usina Figueira, a empresa emprega 370 funcionários.
2. Características do Carvão Paranaense “in situ”:
O carvão encontrado nas jazidas do Estado do Paraná se diferencia dos
demais carvões brasileiros explorados em minas subterrâneas, entre
outros, pelos seguintes aspectos:
- camada de carvão única, algumas vezes apresentando uma
pequena intercalação de siltito carbonoso;
- teor de cinzas na camada variando de 18% a 30%;
- teor de enxofre na camada variando de 7% a 12%;
-praticamente, não apresenta fração de carvão metalúrgico.
Especificamente, na Mina atualmente explorada pela Cambuí a espessura
da camada de carvão varia entre 0,50m e 0,65m, e ela se encontra em
uma profundidade variável de 38m a 75m.
3. O Processo Produtivo da Cambuí:
Em 2000 a Cambuí importou conjuntos mecanizados para a extração de
carvão, especificamente dimensionados para a exploração de minas
subterrâneas de teto baixo, como muitas das que são exploradas na
região carbonífera americana, denominada de Eastern Kentucky.
Foram
adquiridas
carregadeiras
elétricas
rebaixadas
(scoops),
perfuratrizes de frente (face drills) e perfuratrizes de teto (roofbolters).
Além disso, todo o sistema de manuseio e transporte de carvão no
interior da mina, que antes era feito com a utilização de vagonetas, foi
substituído por transportadores de correia.
Em 2008 foi iniciada a modernização da usina de beneficiamento, com a
aquisição de um novo jigue. Durante os anos de 2010 e 2011, o processo
de modernização continuou com a implantação de um novo sistema de
britagem , em dois estágios, e de conjunto de espirais importadas, com
tecnologia alemã.
Na mina, para permitir o bom deslocamento dos equipamentos e,
principalmente, para proporcionar melhores condições ergonômicas de
trabalho, se torna necessário o abatimento de rochas do teto, realçando
as galerias, tendo como consequência uma grande contaminação do
carvão bruto (ROM) que sai do subsolo para o beneficiamento.
Foto 01 – Colocação de parafuso de teto. Ao fundo vê-se a camada de carvão.
Tal carvão atinge teores de cinzas superiores a 60%, fazendo com que
para se produzir um carvão beneficiado com 25% de cinzas, se obtenha,
somente, uma recuperação mássica da ordem de 28% do ROM.
A mina trabalha dois turnos de produção e um de manutenção, por dia,
com carga horária efetiva de trabalho de 5h45’, por turno.
Foto 02 – Deslocamento da carregadeira (scoop), vendo-se detalhe do realce sobre a camada
de carvão.
A produção média de ROM nos últimos três meses foi da ordem de
32.000 toneladas.
4. Minas Americanas:
A mineração em subsolo é atualmente responsável por cerca de 60% da
produção mundial de carvão. Nos EUA atinge cerca de 67% da produção.
(fonte: World Coal Institute – The Coal Resource : A Comprehensive Overview of Coal,
2009)
Foto 03 – Planta de beneficiamento da Cambuí
Em 2009, a produção total americana de carvão oriundo de mina subterrânea foi de
332.062.000 st (301.180.000 t). Em função da espessura da camada em lavra, a
participação na produção das minas subterrâneas que exploram as camadas
menos espessas, mostra-se:
19”-24” (0,48m a 0,61m).................................. 761.000 st (0,23%)
25”-30” (0,63m a 0,76m).................................. 2.657.000 st (0,80%)
31”-36” (0,77m a 0,91m)................................. 21.455.000 st (6,46%)
(fonte: U.S. Energy Information Administration - Annual Coal Report, 2009)
Dentro da divisão, por região, das áreas produtoras de carvão mineral
nos Estados Unidos, a Central AppalachianRegion consiste de Eastern
Kentucky, Virginia, Southern West Virginia, e os Condados do Tennessee
de: Anderson, Campbell, Claiborne, Cumberland, Fentress, Morgan,
Overton, Pickett,Putnam, Roane, e Scott.
Em 2009, na região do Eastern Kentucky haviam 186 minas
subterrâneas em operação, produzindo 37.170.000 st/ano de carvão
(33.714.000 t/ano). (fonte: U.S. Energy InformationAdministration AnnualCoalReport, 2009). Elas estão divididas em quatro campos produtores
de carvão mineral: Paintsville, Thacker, Elkhorn e Harlan.
Todo o carvão lavrado no Kentucky é classificado como betuminoso e a
maior parte do carvão extraído em Kentucky contém teor de cinzas de
<15%. Na região de Eastern Kentucky o carvão tem, normalmente, mais
baixo enxofre (<2%).
Especificamente nesta região, na qual a Cambuí foi buscar o modelo para
a mecanização da sua produção em subsolo, as minas apresentam uma
única camada de carvão em exploração, em geral, com teores de cinzas
variando de 9% a 15%. Na grande maioria delas, a lavra é feita com a
utilização do minerador contínuo (continuous miner), dispensando o uso
de explosivos e todas as tarefas envolvidas com este.
Exemplos: (quando os técnicos da Cambuí foram escolher os
equipamentos de lavra):
- Mina Clintwood 2 - Clintwood Elkhorn Mining Co (TECO COAL), emPike
County (Kentucky):
- espessura da camada em exploração: de 0,81m a 0,86m
- produção de ROM: 1000 st/dia (907 t/dia)
- cinza do ROM: 17%
- equipamento de produção: minerador contínuo, shutlecar
(transporte), perfuratriz de teto e transportadores de correia.
- turno de trabalho: 8 horas
Foto 04 – Minerador contínuo em trabalho de manutenção
Foto 05 – Colocação de parafuso de teto. Ao fundo, a camada de carvão.
- Mina G4, TECO COAL , Kentucky:
- espessura da camada em exploração: de 0,76m
- produção de ROM: 650st/turno (589 t/turno)
- cinza do ROM: 40%
- recuperação no lavador: 60%, para carvão lavado com 7% de cinzas
- equipamento de produção: minerador contínuo, pontes rolantes
(transporte), perfuratriz de teto e transportadores de correia.
- turno de trabalho: 8 horas
Foto 06 – Ponte rolante para transporte de carvão.
5. Diferenças Entre as Minas Americanas e a do Paraná e seus
Impactos nos Custos:
1. Qualidade do carvão “in situ”: nas minas americanas que lavram
camadas de baixa espessura, o teor de cinzas do carvão na
camada é bem menor do que no caso do Paraná. Como
consequência natural, nos Estados Unidos são obtidas maiores
recuperações de carvão lavado e este apresenta menor teor de
cinzas, aumentando o seu Poder Calorífico.
Foto 07 – Deslocamento de equipamento em subsolo.
2. Menor manuseio de produtos e rejeitos: as minas americanas que
lavram em subsolo, com o método “câmara e pilares”, utilizam-se
do minerador contínuo para o desmonte da camada. Dessa forma,
praticamente, não se faz necessário realçar o teto e, como
consequência, diminui a contaminação do ROM, diminuindo a sua
quantidade e dos rejeitos gerados no seu beneficiamento.
3. Maior escala de produção de carvão lavado: mesmo as pequenas
minas americanas, via de regra, produzem mais carvão lavado e de
melhor qualidade, do que a Cambuí.
4. Ocorrência de fração metalúrgica: na maioria dos casos, a
exploração de carvão para termelétricas (carvão vapor) traz
consigo a produção de uma parcela de carvão metalúrgico, que
tem maior valor agregado. O carvão paranaense não possui fração
metalúrgica.
5. Aumento da produtividade da mão de obra: as regras que regem
as relações trabalhistas nos Estados Unidos variam de estado para
estado, porém sempre são mais flexíveis que as adotadas no
Brasil. É possível trabalhar de forma sistemática oito horas, por
turno, no subsolo. Em alguns casos, trabalham até 10 horas por
turno. Férias é um direito que o trabalhador de lá pode ou não
exercer e, dificilmente, atingem 30 dias/ano. Não há o conceito de
não se poder exercer atividades “em dupla função”, entre outros.
6. Otimização de construções: Nos Estados Unidos as regras
envolvidas na construção de prédios industrias variam de estado
para estado, porém são menos exigentes e requerem menos
investimentos do que no Brasil. Como exemplo, a exigência de
restaurantes nas empresas, de áreas isoladas e com portarias, de
instalações de serviços médicos próprios, entre outras, raramente
acontecem naquele país.
7. Disponibilidade de serviços de terceiros: em função do grande
número de empresas que mineram carvão em uma determinada
região, há oferta de serviços de terceiros em manutenção elétrica e
mecânica especializadas, que levam as mineradoras americanas a
abdicarem de ter quadros de funcionários e instalações próprias
para manter seus equipamentos. No caso da Cambuí, as
mineradoras de carvão mais próximas se encontram a mais de 800
km de distância e, como consequência, não temos esta alternativa.
8. A firme e crescente demanda de carvão mineral nos Estados
Unidos (para uso interno e exportação) transmite segurança aos
empresários do setor para, constantemente, estarem investindo
em melhorias e equipamentos, que resultem em aumento de
produtividade e custos (preços) competitivos.
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