Nº18 | JULHO 2008 6 sindical Acordos CGD e empresas do grupo JÁ EM LIVRO ! 4 opinião O PROJECTO DO GOVERNO DE ALTERAÇÃO DO CÓDIGO DO TRABALHO 5 sindical STEC NAS MANIFESTAÇÕES 7 entrevista Profª. Drª. VIRGÍNIA FERREIRA Socióloga. “CONCILIAÇÃO DA VIDA PROFISSIONAL E VIDA PRIVADA / FAMILIAR.” 14 horas livres CULTURA, DESCONTRACÇÃO E CONVÍVIO - FOTOS SELECCIONADAS 15 protocolos NOVO LIVRO DE PROTOCOLOS 1 BOLETIM INFORMATIVO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD Nº18 | JULHO 2008 índice CAIXA ABERTA Nº18 JULHO 2008 3 caixa com direitos • MAJORAÇÃO DO ABONO DE FAMÍLIA EM AGREGADOS FAMILIARES MONOPARENTAIS 4 caixa opinião • O PROJECTO DO GOVERNO DE ALTERAÇÃO DO CÓDIGO DO TRABALHO 5 caixa sindical • STEC NAS MANIFESTAÇÕES CONTRA AS ALTERAÇÕES AO CÓDIGO DO TRABALHO • O STEC NO TERRENO • MELHORES CONDIÇÕES DE CRÉDITO À HABITAÇÃO PARA OS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD • ACORDOS CGD E EMPRESAS DO GRUPO JÁ EM LIVRO editorial O CEGUEIRA E A HIPOCRISIA Estamos a assistir a um cenário negro que os nossos governantes sempre afirmaram ser impensável e que apenas existia na cabeça de alguns «velhos do restelo» que por tudo e por nada protestavam, levantavam maledicências e tentavam lançar a confusão. Mas a crua realidade aí está! Uma escalada de preços que começa nos combustíveis e se está a multiplicar de forma incontrolável nos bens de consumo de primeira necessidade, criando uma situação social de extrema gravidade e de consequências imprevisíveis. Como se isto não bastasse, o Banco Central Europeu continua a aumentar a taxa de juro da Euribor, com a justificação do controlo da inflação, o que está a provocar a asfixia do orçamento das familias face ao aumento contínuo das prestações de crédito. caixa entrevista • Profª. Drª. VIRGÍNIA FERREIRA SOCIÓLOGA, PROFESSORA DE SOCIOLOGIA DO TRABALHO E EMPREGO E POLÍTICAS DE IGUALDADE, NA FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA. Naturalmente que desta crise alguém está a retirar um ilegítimo proveito - as companhias petrolíferas e os bancos que têm engordado de forma obscena os seus lucros, à custa de uma situação económica que afecta dramaticamente a maior parte da população. 12 caixa com história • (DES)CONSTRUÇÃO DA IMAGEM FOTOGRÁFICA - O NASCIMENTO DE UMA NOVA ARTE 14 caixa horas livres • CULTURA, DESCONTRACÇÃO E CONVÍVIO Fazer, até agora nada fizeram! E dizem coisas tais como: que... são alheios a esta crise; que a economia nacional é agora mais saudável; que a política social está no bom caminho; que os portugueses têm razões para encarar o futuro com confiança! etc... etc. 15 caixa cultural • DIVULGAÇÃO 15 caixa protocolos • NOVO LIVRO DE PROTOCOLOS 16 • INSÓLITO • CONT(R)A-CORRENTE 7 E os nossos governantes o que fazem e o que dizem? Mas, como é preciso encontrar um responsável para esta crise, de contornos tão graves, o Governo já o descobriu e não perdeu tempo a denunciá-lo e a apontar-lhe o dedo acusador – são os trabalhadores portugueses e as suas organizações sindicais! E, de repente, os trabalhadores portugueses, aqueles que são os mais mal pagos da União Europeia, aqueles que mais horas trabalham, aqueles que menos protecção têm na saúde, aqueles que não sabem o que é justiça... são afinal, pasme-se, os responsáveis pela crise! E solícito e apressado, aí está o Governo a apresentar um projecto de revisão do Código de Trabalho que mais não é do que a entrega ao patronato das conquistas que ao longo de muitas gerações se alcançaram, hipotecando o futuro daqueles que trabalham por conta de outrem e distribuindo às empresas benesses e vantagens de toda a ordem! A proposta de Código do Trabalho, recentemente aprovada em Conselho de Ministros, diz bem da regressão social que já se está a viver e que vai aprofundar-se ainda mais e revela-se como uma clara manifestação de hipocrisia política por parte daqueles que enchem a boca com os trabalhadores e a seguir os entregam de mão-beijada aos patrões! Só um cego não vê, que o estado da economia do país resulta da falta de qualificação dos nossos empresários, que há muito se habituaram a viver à sombra da protecção do Estado e sempre recusaram assumir qualquer risco, que apenas procuram o lucro fácil e imediato sem olhar a meios ou a regras. Responder aos graves desequilíbrios sociais que se vivem no país, fragilizando um dos elos mais fracos da sociedade – os trabalhadores por conta de outrem – é uma atitude inqualificável em que a cegueira e a hipocrisia vão de mãos dadas. Será preciso que a ruptura social aconteça mesmo, para verem a verdade? 2 CAIXA ABERTA direitos MAJORAÇÃO DO ABONO DE FAMÍLIA EM AGREGADOS FAMILIARES MONOPARENTAIS O Decreto-Lei nº 87/2008, entrou em vigor no dia 01 de Julho de 2008, mas aplica-se a situações ocorridas a partir de 01 de Abril de 2008. É considerado agregado monoparental o constituído por um único parente ou afim em linha recta ascendente e em linha colateral, até ao 2º grau, ou equiparado, a viver com os titulares do direito ao abono de família para crianças e jovens. Reproduzimos o conjunto dos montantes do Abono de Família para crianças e jovens existentes, para termos uma visão do conjunto e podermos, assim, mais facilmente, fazer a aplicação aos casos concretos. Os titulares desta prestação, como se sabe, são as crianças Como já temos referido, a aferição do rendimento de referência do agregado familiar nesta prestação difere de outras prestae jovens. ções, dado que resulta da soma do total de rendimentos de A majoração de 20% é sobre todas as prestações a que a cada elemento desse agregado a dividir pelo n.º de criancriança e jovem tem direito e acresce às já existentes, como ças e jovens com direito ao abono de família, nesse mesmo agregado, acrescido de um. por exemplo, ao valor para famílias numerosas. MONTANTES DAS PRESTAÇÕES FAMILIARES A CRIANÇAS E JOVENS ESCALÕES DE RENDIMENTO ABONO DE FAMÍLIA PARA CRIANÇAS E JOVENS MAJORAÇÃO PARA FAMÍLIAS NUMEROSAS Crianças até 12 meses Crianças com mais de 12 meses * Em agregado com 2 crianças Em agregado com mais de 2 crianças 1º € 135,84 € 33,96 € 33,96 € 67,92 2º € 112,66 € 28,17 € 28,17 € 56,34 3º € 89,69 € 25,79 € 25,79 € 51,58 4º € 55,13 € 22,06 € 22,06 € 44,12 5º € 33,09 € 11,03 € 11,03 € 22,06 MAJORAÇÃO PARA FAMÍLIAS MONOPARENTAIS Mais 20% sobre o montante de todas as prestações a que tem direito (*) Montante adicional – no mês de Setembro, as crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 16 anos integradas no 1º escalão de rendimentos recebem um montante adicional igual ao valor do abono mensal. ESCALÕES DE RENDIMENTOS DE REFERÊNCIA DO AGREGADO FAMILIAR 1º Iguais ou inferiores a 0,5 IAS 2º Superiores a 0,5 IAS e iguais ou inferiores a 1 IAS 3º Superiores a 1 IAS e iguais ou inferiores a 1,5 IAS 4º Superiores a 1,5 IAS e iguais ou inferiores a 2,5 IAS 5º Superiores a 2,5 IAS e iguais ou inferiores a 5 IAS 1 (1) O valor do IAS para o ano de 2008 é €407,41 Após esta informação prestada pelo STEC, devem todos os trabalhadores do Grupo Caixa Geral de Depósitos, verificar se a aplicação do Abono de Família está de acordo com a sua situação concreta. 3 BOLETIM INFORMATIVO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD Nº18 | JULHO 2008 opinião O PROJECTO DO GOVERNO DE ALTERAÇÃO DO CÓDIGO DO TRABALHO Tal como tem sido amplamente noticiado, o Governo pretende introduzir duas importantes alterações legislativas nos regimes que regulam as relações laborais, quer no sector privado, quer no sector público. O espaço de que aqui dispomos não nos permite fazer uma Como se referiu já, nem o espaço de que aqui dispomos nem a informação disponibilizada pelo Governo permitem uma anáapresentação exaustiva do conteúdo desses projectos. lise completa da extensão e dos efeitos dessas intenções do Aliás, no que respeita ao Projecto de Alteração do Código Governo. do Trabalho ainda não dispomos, sequer, de um projecto em forma de diploma legal que permita perceber, em toda a sua Mas permitem adiantar, desde já, que se trata de uma medida extensão, as consequências concretas que resultariam da que visa desequilibrar ainda mais as posições relativas das execução das intenções já manifestadas pelo Governo sob partes nas relações laborais, favorecendo extraordinariamente a posição das entidades patronais e fragilizando ainda mais a a forma de eixos de actuação. posição dos trabalhadores. Pelo que nos limitaremos a enunciar as principais linhas de orientação do Governo sobre esta matéria, reservando para Mencionaremos alguns exemplos que não deixam margem para dúvidas: momento oportuno uma abordagem mais detalhada. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES PROPOSTAS PELO GOVERNO 1. Adaptabilidade grupal O actual Código do Trabalho permite que, mediante acordo com os trabalhadores ou por convenção colectiva de trabalho, o período normal de trabalho diário, por referência a determiComo se sabe, o Código do Trabalho foi aprovado pela Lei nados períodos, seja aumentado até duas horas por dia, desde nº 99/2003, de 27 de Agosto, tendo sido regulamentado pela que o período de trabalho semanal não ultrapasse as 50 horas, Lei nº 35/2004, de 29 de Julho. desde que, em média, não ultrapasse, nesse período de referência, a duração da jornada diária de trabalho estabelecida. Posteriormente, através da Lei nº 9/2006, de 20 de Março, da iniciativa do actual Governo, foram introduzidas várias al- O Governo pretende esse regime de horário de trabalho possa terações ao Código do Trabalho que vieram dar satisfação ser imposta à generalidade dos trabalhadores de uma equipa, a algumas reivindicações das entidades patronais em detri- secção ou unidade económica, desde que 75% desses trabamento das aspirações dos trabalhadores. lhadores dêem o seu acordo ou exista convenção colectiva aplicável a pelo menos 60% desses trabalhadores que preveja Nomeadamente, depois de o Tribunal Constitucional ter de- tal horário (“adaptabilidade grupal”). clarado que a caducidade das convenções colectivas de tra1.1. Mobilidade funcional e geográfica balho não prejudicava os direitos adquiridos pelos trabalhaPretende que a possibilidade de a entidade patronal incumbir dores por elas abrangidos à data da caducidade, esta última os trabalhadores do exercício de funções não compreendialteração veio estabelecer que, em caso de caducidade da das no objecto do contrato, bem como a vigência de cláusuconvenção colectiva, os trabalhadores que se encontravam las contratuais sobre hipotéticas modificações do objecto do abrangidos por essa convenção continuariam a beneficiar contrato e do local de trabalho possam durar até 2 anos. apenas dos direitos relativos à retribuição, à categoria profissional e à duração do tempo de trabalho, passando a 1.2. Horários concentrados aplicar-se, quanto às restantes matérias, o regime do Código Pretende que as entidades patronais possam concentrar do Trabalho. o período normal de trabalho semanal em apenas alguns dias da semana (quando mais precisarem dos trabalhadoEste Governo constituiu, entretanto, uma comissão, denominada Comissão do Livro Branco das Relações Laborais, res) podendo, nesses dias, aumentar o período normal de através da Resolução do Conselho de Ministros nº 160/2006, trabalho diário até 4 horas sem pagamento de trabalho suplementar. de 30 de Novembro, que, em síntese, incumbiu de estudar e apresentar propostas com vista à flexibilização das relações 1.3. Criação do banco de horas laborais. Pretende criar um banco de horas com base no qual as empresas possam recorrer à prestação de até 200 horas de Esta Comissão elaborou um Relatório denominado Livro Branco das Relações Laborais, com base no qual o Governo fortrabalho por ano para além dos períodos normais, cumulamulou as linhas de orientação que apresentou aos Parceiros tivamente com a adaptabilidade de horários, podendo ser Sociais com vista a nova alteração do Código do Trabalho. compensadas com períodos de descanso em lugar do pagamento do trabalho suplementar. 4 CAIXA ABERTA sindical STEC NAS MANIFESTAÇÕES CONTRA AS ALTERAÇÕES AO CÓDIGO DO TRABALHO 2. Transformação de todas as convenções colectivas em convenções a prazo O Governo pretende também instituir a possibilidade de caducidade de todas as convenções colectivas mediante denúncia das entidades patronais. Mesmo nos casos em que a convenção colectiva preveja a sua renovação automática até ser substituída por outra, o Governo pretende instituir a sua caducidade logo que tenham decorrido 5 anos desde a sua publicação integral, salvaguardando-se apenas os direitos à retribuição, à categoria, ao período normal de trabalho e aos regimes de protecção social. Segundo a intenção do Governo, poderão caducar, por esta via, todas as convenções que, na data da entrada em vigor destas alterações ao Código, vigorem há pelo menos 5 anos. 3. Simplificação dos processos de despedimento O Governo pretende, também, simplificar os processos de despedimento, reduzindo drasticamente as garantias dos trabalhadores nesta matéria. Nomeadamente, deixar ao critério da entidade patronal a realização, ou não, das diligências de prova requeridas pelo trabalhador na resposta à nota de culpa As irregularidades formais deixam de constituir fundamento de ilicitude do despedimento. Em caso de deficiência de procedimento que não determine a ilicitude do despedimento, sendo procedentes os motivos justificativos do despedimento, não haverá reintegração e a indemnização corresponderá a metade do valor estabelecido para o caso em que o trabalhador opte por indemnização em substituição da reintegração. Vítor Ferreira - Advogado As alterações ao Código do Trabalho constantes do relatório da Comissão constituída pelo Governo para este efeito, têm vindo a ser analisadas pela Direcção do STEC e, dada a sua gravidade e consequências para os trabalhadores, caso venham a ser concretizadas, têm também sido objecto de informação aos trabalhadores e de discussão com os Delegados Sindicais. Na reunião de Delegados Sindicais de 5 de Junho, este foi o tema em debate, onde participou o Dr. Vítor Ferreira advogado do sindicato, que fez uma explanação técnica aprofundada sobre as propostas de alteração e os seus efeitos, também aqui reflectidas num artigo de opinião, esclarecendo depois as dúvidas colocadas pelos Delegados. Na parte da tarde do mesmo dia a Direcção e os Delegados juntaram-se aos muitos milhares de trabalhadores no grande protesto nacional promovido pela CGTP contra aquelas alterações. 5 BOLETIM INFORMATIVO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD Nº18 | JULHO 2008 sindical O STEC NO TERRENO Terminado o primeiro semestre de 2008, fazendo um balanço do trabalho realizado neste período pelo pelouro de acção sindical, podemos considerar que atingimos os nossos objectivos, reforçando o nível de sindicalizações, como resultado de uma política de divulgação pelos locais de trabalho das iniciativas STEC. Contactámos centenas de trabalhadores e visitámos dezenas de agências das Regiões de Aveiro, Aveiro Norte, Braga Sul, Braga Norte, Porto Litoral, Porto Oriental, Porto Centro, Guimarães, Vila Real, Caldas da Rainha, Santarém, Almada, Barreiro, Setúbal, Torres Novas, Torres Vedras, Coimbra Centro, Coimbra Litoral, Leiria, Viseu, Castelo Branco, Guarda (parte). Em relação ao trabalho extraordinário não remunerado continuam a existir algumas situações de ilegalidade, que iremos continuar a denunciar junto das entidades competentes, sempre com o objectivo de não descansarmos enquanto não for totalmente erradicada esta situação vergonhosa. Nesse sentido, mais uma vez, exortamos todos os colegas a informar-nos dos casos de trabalho extraordinário não remuConstatámos que continuam a existir al- nerado, de forma a podermos intervir na guns problemas, salientando duas situa- resolução do problema. ções que nos parecem ser mais comuns na maioria das agências: o trabalho ex- Relativamente aos contratos de trabalho traordinário não remunerado e os contra- a termo, consideramos inadmissível que a tos de trabalho a termo. CGD mantenha no seu quadro de pessoal MELHORES CONDIÇÕES DE CRÉDITO À HABITAÇÃO PARA OS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD Os empréstimos à habitação estão a assumir uma gravidade extrema para os orçamentos dos agregados familiares, face ao aumento da taxa de juro da Euribor ditada pelo Banco Central Europeu e às suas repercussões negativas na escalada dos juros, nas operações de crédito. Os portugueses são dos que mais têm sofrido com esta situação, dado o facto de o crédito à habitação há muito ter assumido em Portugal uma quase obrigatoriedade, face ao não funcionamento do mercado de arrendamento. Os trabalhadores das Empresas do Grupo CGD, que não beneficiam da taxa de juro de nivelamento, têm visto os seus orçamentos familiares extremamente desgastados pela subida de juros, o que está a provocar consequências sociais notoriamente graves. um número elevadíssimo de trabalhadores com este vínculo contratual, ou, ainda pior, recorrendo sistematicamente a empresas de trabalho temporário, utilizando esta mão-de-obra em agências, nalguns casos até atribuindo-lhes grandes responsabilidades. É necessário alterar esta situação: a um posto de trabalho efectivo deve corresponder um trabalhador efectivo. Diminuir a precariedade existente no País não pode ficar só no papel e no plano das boas intenções. É urgente e necessário passar das palavras aos actos e, neste particular, a CGD deve dar o exemplo! ACORDOS CGD E EMPRESAS DO GRUPO JÁ EM LIVRO O Acordo de Empresa e o Acordo Colectivo d e Trabalho, que o STEC celebrou c om a CGD e com algumas Empresas do Grupo CGD, respectivamente, estão já compilados em duas publicações distintas - cujas capas o Caixa Aberta aqui reproduz - e que o Sindicato está neste momento a distribuir, personalizadamente, pelos seus associados. Esta situação levou o STEC a decidir lançar junto destes trabalhadores – associados e não associados – uma reivindicação concreta, visando minorar este grave problema social, pela igualização das condições de crédito à habitação para todos os trabalhadores do grupo CGD. A distribuição e recolha de postais pelas várias empresas foi morosa, mas consideramos estar concluída Esperamos agora a marcação de uma reunião com a Administração da CGD, para dar sequência a este trabalho e podermos encontrar a solução que todos os trabalhadores do Grupo, nestas condições, aguardam, com a maior expectativa. 6 CAIXA ABERTA entrevista Conciliação da Vida Profissional e Vida Privada / Familiar Profª. Drª. VIRGÍNIA FERREIRA Socióloga Profª. Drª. VIRGÍNIA FERREIRA Socióloga, Professora de Sociologia do Trabalho e Emprego e Políticas de Igualdade, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. A temática «Conciliação da Vida Profissional e Vida Privada/ Familiar», que gostaríamos hoje de abordar, tem sido (nos últimos tempos) muito falada, a nível académico, político e sindical. Poderia dizer-nos em que se traduz e porquê agora? VF: As mulheres iniciaram uma actividade fora de casa, no mercado formal de trabalho, mas segundo o padrão convencional de divisão sexual do trabalho, que passava pela diferenciação entre homens e mulheres, com a concentração das mulheres no trabalho doméstico e dos homens no emprego. Isso traduzia-se numa situação de extrema desigualdade para as mulheres que experimentavam muitas dificuldades para aceder a recursos económicos, de ter a sua autonomia económica, o que as levou a lutar para que este padrão fosse alterado. Ora, de que maneira foi este padrão alterado? Integrando-se elas no mercado de trabalho/emprego com regras que já existiam e cujo modelo se baseava na ideia de um trabalhador a tempo inteiro, que (esta é parte não dita do modelo) tinha quem cuidasse dele, em termos de necessidades pessoais, nos períodos antes de entrar para o mercado de trabalho, durante a sua ligação ao mercado, para recompor as energias gastas na actividade desenvolvida, nos períodos em que estava incapacitado para exercer a sua actividade profissional ou mesmo na fase pós saída do mercado de trabalho. Esta parte não dita do modelo era, na prática, assegurada em exclusivo pelas mulheres. A partir do momento em que elas passam a integrar o mercado de trabalho formal, segundo este modelo, marcadamente masculino, deixam de poder assegurar muitos destes cuidados. Isto criou uma tensão tal que os movimentos de defesa dos direitos das mulheres e mesmo certas políticas oficiais passaram a uma fase em que a igualdade de direitos passou a colocar uma grande ênfase nas medidas de conciliação. Ou seja, chegou-se a um ponto em que se percebeu que, para atingir a igualdade no emprego, era preciso permitir a quem trabalha conciliar, compatibilizar, a sua actividade profissional com a sua vida familiar. Claro que este modelo tem impactos negativos que, a nível global, as sociedades estão a sentir, sendo um dos mais evidentes a enorme retracção verificada nas taxas de natalidade. Não porque as mulheres já não querem cumprir o seu ‘papel’ crucial de mães, não é por isso! O que se verifica é que a baixa natalidade é condicionada pelas condições materiais, pelas condições de trabalho, pelas condições económicas, condições até de mobilidade, que impedem de ter a família que se gostaria. E isto aplica-se tanto a mulheres como a homens. Para se perceber este modelo masculino, lembro que os próprios sindicatos (até meados do séc. XX) se bateram pela existência do salário familiar, isto é, pelo direito de os homens casados receberem um salário superior. Há portarias dos anos 30 e 40 que estipulavam um salário para os homens casados, outro para as mulheres e outro para os homens solteiros... hoje em dia tal é impensável para nós, dentro do modelo a que nos habituámos de salário igual para trabalho igual. Portanto, porquê agora? Porque se percebeu que não se podia continuar assim e que, por outro lado, havia países (os países nórdicos) cuja experiência mostra- va que era possível ter altas taxas de actividade feminina e ao mesmo tempo taxas de natalidade mais elevadas. Ainda por cima há um paradoxo: nos países mais conservadores, em termos de concepção da família...os países católicos da Europa do Sul, em que as mulheres têm taxas de actividade mais baixas – sendo Portugal uma excepção – também nascem menos crianças... Será do Sol, não se trabalha nem se tem filhos nos países do sul? Ora, se isto não deriva das características psicológicas/biógicas, se não está no ADN das populações, conclui-se que o que falha são as políticas oficiais, na criação de condições para que as pessoas possam articular de forma equilibrada todas as esferas das suas vidas. Para que as pessoas possam ser pais, mães e, respectivamente, trabalhadores e trabalhadoras. Para que as pessoas consigam dar resposta tanto aos seus compromissos no trabalho remunerado como no trabalho não-remunerado. Há que ver que o que se esconde por detrás da linguagem que usamos é precisamente esta dicotomia entre trabalho remunerado e não-remunerado. Se falarmos em conciliar trabalho/família, estamos a escamotear o facto de que, quando falamos de família, estamos sobretudo a falar de trabalho não–remunerado de prestação de cuidados aos membros da família. Outro aspecto que considero importante é que penso que não devemos falar de vida laboral, por um lado, e vida familiar e pessoal, por outro. Vida pessoal toda a gente tem e a reivindicação do tempo necessário para a ela dedicar inscreve-se num luta global de respeito e valorização pelas pessoas e pelos seus direitos humanos. Ou seja, não diz respeito estritamente à luta pela igualdade de mulheres e homens no emprego e na participação na vida pública, em geral. Há quem, no mundo sindical, por exemplo, defenda que estes direitos à conciliação são direitos das crianças e não direitos de quem trabalha. Eu acho que esta maneira de colocar as questões exclui do imperativo da conciliação outras pessoas que necessitam de cuidados, todas, afinal, já que toda a gente fica doente ou, quando obtém o dom da longevidade, se torna idosa e adquire várias formas de dependência. continua 7 BOLETIM INFORMATIVO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD Nº18 | JULHO 2008 entrevista continuação Em termos de políticas públicas e ao nível das empresas/ organizações, que medidas podem considerar-se facilitadoras de uma boa conciliação? VF: É até curioso... os países do Norte baseiam-se numa ideologia muito mais individualista do que os do Sul, que lhes vem, no fundo, da religião protestante. As pessoas não podem apoiar-se na família, portanto o Estado, desde muito cedo, percebeu que era preciso que fosse a sociedade a criar condições, criar serviços de apoio. Por ex., na Suécia e na Noruega, o Estado reconhece a todas as crianças o direito a ter lugar num infantário, que é, em geral, garantido pelo poder local. Também por cá se percebeu que era necessário impor medidas (que outros praticam com várias décadas de avanço). Esses países começaram logo no pós-guerra, com uma política social-democrata, uma política forte e nós começámos nos anos 70, muito tímidamente, a partir do 25 de Abril de 1974. Até tivemos direito aos 90 dias de maternidade relativamente cedo (pagos a 100%), numa posição relativamente confortável comparando com outros países da Europa do Sul, Central ou da América. Qualquer comparação com os países da Europa do Norte é que está fora de causa. A ênfase nas políticas de conciliação surgiu na década de 90, a nível comunitário, no âmbito da Estratégia Europeia para o Emprego, que procura desde sempre integrar mais pessoas no mercado de trabalho, quer dizer, colocar mais pessoas como contribuintes da Segurança Social. As mulheres constituem, efectivamente, a fonte de recrutamento mais adequado para essa finalidade, já que possuem qualificações e partilham a mesma matriz cultural. Daí os primeiros planos de emprego (o primeiro é de 1998) darem prioridade à igualdade de oportunidades entre mulheres e homens no emprego e ter-se começado a falar das questões da conciliação, da preocupação com a demografia. Portugal, já nessa altura, era dado como um país com muito atraso relativamente ao resto da Europa, e, de facto, já desde o principio da década de 90, que exibíamos uma das mais baixas taxas de natalidade, que co-existia, contudo, com uma das mais elevadas taxas de emprego feminino. Daí que em Portugal haja uma tendência para se interpretar as questões da igualdade de mulheres e homens como uma questão de conciliação trabalho/família. Está visto que na conciliação o factor primordial é o factor tempo. O tempo é o grande recurso que está, aqui, em jogo. No âmbito da temática que estamos 8 crianças tem merecido mais atenção, mas agora começa a surgir como muito relevante o cuidar das gerações mais velhas que ainda cá estão, a precisar de apoio em particular e a não haver equipamentos sociais disponiveis e adequados. Por uma série de factores, temos aplicado as medidas mais fáceis, que não mexem com poderosos interesses instalados, já que as responsabilidades familiares são individuais e até diferenciadas (de trabalhador para trabalhador), enquanto que os interesses das entidades empregadoras são muito mais homogénios. Não se diferenciam muito de uma empresa para a outra. Às vezes diferenciam-se por sector de actividade mas há sempre o interesse máximo que é o trabalhdor estar sempre disponível para o maior número de horas de trabalho possível. aqui a tratar, precisamos de dois tipos de tempo: tempo para prestar cuidados à família e tempo para trabalhar. Podemos conceber as políticas de conciliação como políticas que nos permitem libertar das responsabilidades familiares para nos podermos dedicar ao trabalho, ou que nos permitem trabalhar mas, ao mesmo tempo, atender às responsabilidades familiares que não podemos alienar, delegar ou deixar para trás. As questões da responsabilidade familiar têm, muitas vezes, um carácter de urgência, nossa ou de algum familiar que, por vezes, não podem prover-se a si próprios. Tanto as medidas que nos permitam libertar das responsabilidades da casa, como as medidas que nos permitam flexibilizar o tempo do trabalho, são medidas que podem permitir a conciliação. Então, quais são as medidas que podem ter um impacto mais forte? Apesar de haver medidas de todos os tipos, há, claro, umas mais utilizadas que outras. Há estudos que tendem a mostrar que as mais utilizadas e proporcionadas, quer pelos governos e entidades públicas quer pelas entidades empregadoras, são as que permitem alijar as responsabilidades domésticas, para permitir uma maior dedicação ao trabalho e não o inverso. O inverso parece ser um dado... precisamos de 65 horas semanais disponíveis para trabalhar e o resto; “ah, tenho responsabilidades lá em casa”, não é aceite. Então tenta-se que essas responsabilidades não atrapalhem... aparecem os equipamentos sociais de apoio à família, as creches 24 horas, o acesso a fornecimento de refeições por parte das entidades empregadoras. A problemática das Acha que os sindicatos podem (como?) contribuir para que os trabalhadores possam beneficiar de medidas de conciliação? VF: Os sindicatos demoraram a perceber que poderiam e deveriam integrar esse tipo de preocupações na negociação. Penso que, neste momento, alguns, pelo menos, são capazes de já o fazer - onde tenha havido mais formação, mais sensibilização dos dirigentes para estas questões ou talvez até nos sectores mais feminizados, em que as necessidades são incontornáveis. Que eu saiba, desde 2001 que os sindicatos têm vindo, progressivamente, a integrar esse tipo de medidas na negociação colectiva. Por outro lado, durante muito tempo recusaram-se a negociar formas de flexibilidade. Ora, eu penso que a questão da conciliação poderia ser utilizada na negociação para tornar a flexibilidade em algo que não seja destruidora, avassaladora para qualquer trabalhador ou trabalhadora. Porque, atenção, quanto mais flexível um/a trabalhador/a for, mais necessidade tem de medidas para conciliar a sua vida profissional com a sua vida familiar, porque têm de questionar: “Quem é que toma conta da família quando eu tenho de trabalhar ao sábado, domingo, ou quando faço turnos durante a noite?”. Há que ter em conta também mais este paradoxo. O paradigma da flexibilidade precisa, ainda mais do que o modelo anterior, de uma estrutura de suporte que possa permitir essa flexibilidade. E isto talvez não esteja a ser suficientemente utilizado/ententido pelos sindicatos, esse tipo de discurso/reivindicação em relação à necessidade de articulação. Por outro lado, para o trabalhador ser flexivel, é preciso aquilo que a maioria CAIXA ABERTA Profª. Drª. Virgínia Ferreira das empresas não têm, que é planeamento estratégico. Já há alguns Acordos de Empresa que permitem alguma flexibilidade mas depois não a utilizam... estou a lembrar-me que em todos os diagnósticos feitos sobre o mercado de trabalho em Portugal as leis laborais aparecem como muito rígidas, como se fosse impossível despedir alguém, etc., mas as estatísticas indicam que as pessoas a trabalharem a tempo parcial, ou com contratos a prazo ou como independentes já representam 41% do total do emprego, uma das percentagens mais elevadas na União Europeia. E não podemos esquecer que Portugal e Espanha são os países com uma maior taxa de trabalho temporário apesar de serem ambos conotados com leis laborais mais rígidas. Tem conhecimento de Recomendações ou Directivas Europeias (aos Estados-Membros), para que tenha atenção a esta temática? Se sim, há já bons sinais em países e ou Empresas que seguem estas recomendações de modo a servirem de exemplo? VF: As questões da conciliação são incluídas, não só na Estratégia Europeia para o Emprego, mas também na Agenda de Lisboa. Os países apresentam os seus Planos, actualmente chamados de Planos Nacionais para o Crescimento e o Emprego, que depois são analisados pela Comissão Europeia. Esta faz-se rodear de pareceres por grupos de peritos que analisam os planos de vários pontos de vista – económico e de mercado, da igualdade de mulheres e homens, dita igualdade de género, etc.. As pessoas que integram estes grupos são académicas, representantes de organizações não governamentais e consultores. Portanto, cada país tem um representante nestas redes, que, por sua vez, produzem relatórios, pareceres que depois são trabalhados pelos próprios serviços da Comissão Europeia. Estes serviços elaboram fichas que serão negociadas e aprovadas pelos governos, com a análise da evolução da situação e é emitido um parecer sobre a resposta que é dada no Plano (se é suficiente ou insuficiente e fazem-se recomendações para o plano seguinte). Quanto à questão da conciliação, Portugal tem tido dois tipos de recomendações da UE, nos seus Planos Nacionais de Emprego: um, a criação de serviços de apoio às crianças e outro a diminuição do diferencial salarial entre mulheres e homens no sector privado (que persiste ligeiramente acima dos 20%). Outra coisa surpreendente é pensar-se que com melhorias da educação, com o aumento da escolarização, estes proble- Cartaz da campanha da OIT "Proteger o Futuro: Maternidade, paterrnidade e trabalho" mas desaparecem todos. Espera-se que haja uma mudança de mentalidades. Não é assim, já que isto não é uma questão de mais ou menos escolarização, é uma questão de mercado e de interesses económicos. Há muitos estudos que têm mostrado que os diferenciais são ainda maiores nos grupos com mais escolarização. Um estudo em Portugal, feito num banco, mostra que os licenciados homens e mulheres admitidos na mesma data, nas mesmas funções, na mesma categoria profissional, ao fim de 5 anos apresentam ganhos bem mais favoráveis aos homens. Isto deve-se ao sistema de objectivos, incentivos e promoções por mérito que mantem a expectativa/presunção de que uma jovem licenciada, dentro de poucos anos, vai ser mãe. O que a globalização fez! Nos anos 80 esperávamos que as novas tecnologias reduzissem o tempo de trabalho e afinal chegámos ao ponto de querer aumentar os horários de trabalho...? Não nos esqueçamos que a lei das 35 horas vai ser alterada nalguns países europeus. Na prática o regime foi operacionalizado erradamente. Por causa das 35 horas muitos trabalhadores acabaram por ter horários completamente desregulados. Casos de redução de 40 para 35 (menos 1 hora por dia) o que fizeram? continua 9 BOLETIM INFORMATIVO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD Nº18 | JULHO 2008 entrevista continuação Aumentaram a hora de almoço de 1 para 2 horas. O que é que isso adianta? Longe de casa, é tempo morto. Acaba-se por chegar a casa à mesma hora, sem proveito nenhum. As camadas profissionais que ganharam com as 35 horas foram novamente técnicos, quadros superiores, com maior flexibilidade, que podem acumular tempos, tirar mais férias, fins de semana prolongados, etc. Mas o que é que isto adianta a um trabalhador que não tem dinheiro para sair? Como é que uma medida, à priori com tantas potencialidades para melhorar a qualidade de vida de quem trabalha, na prática é operacionalizada de tal maneira que só prejudica essas pessoas? A sociedade tem contado e esperado (ainda) que sejam as mulheres a chamar a si o grosso das tarefas do cuidar, com prejuizo na carreira profissional e até nos rendimentos (apesar de constitucionalmente, ser reconhecida à maternidade/ paternidade uma função social eminente, a proteger e a incentivar, sem qualquer prejuizo). Qual/ quais os caminhos possíveis para inverter esta situação? VF: Nas políticas de conciliação há dois aspectos a ter em conta, que são, por um lado, o da protecção na saúde, protecção da gravidez, isso é um tipo de medidas que apesar de se incluirem no quadro da conciliação, na verdade são mais de protecção da função genética, que não tem a ver com o papel social de ser mãe ou ser pai, mas sim com o papel biológico. Essas medidas essenciais para que as mães o possam ser nas melhores condições, não são partilhavéis, acabando por ter um efeito preverso na carreira das mulheres, na sua competitividade enquanto força do trabalho. O outro aspecto já tem a ver com as questões da promoção da igualdade de direitos e de oportunidades e a promoção da função maternal e paternal. Neste sentido, temos assistido nos últimos anos a uma maior sensibilização para a questão da repartição das responsabilidades familiares, naquilo em que elas podem ser repartidas, como a prestação de cuidados a membros dependentes, o que se traduz no aumento das licenças de paternidade. Há uma Directiva específica de 1996, relativa ao acordo celebrado pela UNICE (Confederação das Empresas Europeias), pelo CEEP (Centro Europeu das Empresas com Participação Pública e das Empresa de Interesse Económico Geral) e pela CES (Confederação Europeia de Sindicatos) quadro sobre a licença parental. Essa 10 directiva estabelece o direito a uma licença parental de, pelo menos, 3 meses, a gozar até as crianças terem uma determinada idade, que poderá ir até aos 8 anos, a definir pelos Estados-Membros e/ou pelos parceiros sociais. Não sendo remunerada, garante-se, pelo menos, o direito ao posto de trabalho. É extremamente relevante que esta directiva tenha sido o resultado da negociação colectiva ao nível europeu, bem assim como a do ano seguinte relativa à institucionalização da possibilidade de trabalhar a tempo parcial. Ambas partiram mais da iniciativa dos parceiros sociais do que dos governos europeus. Iniciativas como estas deveriam ser mais frequentes, mas, por outro lado, como a licença parental não é remunerada, há certos grupos profissionais que suportam mais facilmente a ausência de rendimentos durante um certo tempo e, por isso, tendem a ser beneficiados. Em Portugal, no entanto, são muito poucos os que gozam as licenças parentais. Vamos ver o que acontece agora com a introdução do pagamento a 25% das licenças parentais proposta pelo governo e ainda em discussão com os parceiros sociais. Não creio, no entanto, que os 25% sejam suficientes para alterar as tendências actuais. De resto há as decisões do Conselho Europeu de Barcelona de 2002 que fixaram como metas, para 2010, uma taxa de 33% para a cobertura dos equipamentos de acolhimento de crianças com menos de 3 anos e uma taxa de 90% para as que têm entre 3 anos e a idade de entrarem para a escolaridade obrigatória. Está em fase de decisão governamental o alargamento da licença de parentalidade. Apesar destas ausências serem pagas pela Segurança Social, as empresas queixam-se de outros custos associados a este tipo de absentismo. Qual seria uma solução justa para todos? VF: Na minha opinião homens e mulheres deviam faltar muito ao trabalho, com boas razões. Mas este discurso pode ser um pouco ambíguo e mal interpretado. Por vezes afirma-se: “mas isto não é um direito dos trabalhadores, é um direito das crianças!” Os pais e as mães devem estar disponíveis para prover não só às necessidades básicas mas também às afectivas - a atenção, o acompanhamento escolar, etc.. É por isso também que não basta disponibilizar serviços de apoio, ou então, daqui a pouco vivemos as nossas vidas institucionalizados. E esta questão pode ser problemática, porque às vezes os colectivos dos trabalhadores começam a sentir-se prejudicados, dividem-se, se os pais e as mães têm ´muitos direitos´. Acontece, infelizmente, alguma falta de solidariedade entre os vários grupos de trabalhadores. Também não há sensibilização no sentido de percebermos que as tarefas do cuidar são, solidariamente, uma obrigação da sociedade. Como se os problemas de quem tenha filhos sejam apenas problemas deles próprios... não tivessem optado por tal ‘estilo de vida’…. Há a percepção que o absentismo nas mulheres é mais elevado do que nos homens e afinal as estatisticas dizem o contrário... VF: Curiosamente, o que faz aumentar o absentismo das mulheres não é tanto o período da licença de maternidade ou licença parental. O que aumenta o absentismo nas mulheres é a falta de solidariedade dos homens na prestação de cuidados à família – crianças, idosos, dependentes. Quando a criança está doente (e quando uma criança saudável entra num infantário ela fica invariavelmente doente) alguém tem de ficar em casa a prestar-lhe os cuidados necessários, e, em regra, ainda é a mãe que fica quase sempre. Quanto à questão dos custos, há quem proponha uma bolsa para pagar todos esses custos associados e não os fazer depender da Segurança Social. Supostamente isso resolveria o problema da concorrência desleal entre os empregadores (predominantemente) de mulheres e os empregadores de homens. Como estes não são afectados pelo facto de um homem ser pai evitar-se-ia que os CAIXA ABERTA Profª. Drª. Virgínia Ferreira empregadores que empregam as mães tivessem que suportar sozinhos os custos, não só das ausências mas também das substituições. Há experiências conseguidas mas que são de difícil transposição directa. Na Dinamarca, a negociação colectiva é a grande fonte de regulação do que se passa no trabalho, ao contrário do que se passa no nosso país. Lá, 90% dos trabalhadores estão sindicalizados, sendo da negociação colectiva que resultam as normas legais com que as pessoas se regem no trabalho. Isso permitiu a criação de um fundo comum para o qual contribuem todos os empregadores e cada um é reembolsado desse fundo, na parte dos custos que suporta com a maternidade/ paternidade. Pagando todos o mesmo, cada um vai buscar conforme as suas necessidades. Isto tem como efeito haver uma menor tendência para rebaixar o salário das mulheres. Há ainda outras sugestões que pretendem fazer com que os custos sejam tranferidos para o Orçamento Geral do Estado e não sejam suportados pela Segurança Social. Isto tem a ver com a lógica de que a maternidade e a paternidade são funções eminentemente sociais que contribuem para o bem-estar, para o desenvolvimento e para a sustentabilidade da sociedade como um todo, de que não beneficiam apenas quem contribui para a segurança social. Esta solução, de retirar esses custos da Seg. Social contribui para a sua transparência e sustentabilidade, para o seu objectivo, que é prover às necessidados de quem trabalha, uma espécie de seguro nos períodos em que não pode trabalhar (desemprego, doença, reforma). Quando a Segurança Social paga licenças de maternidade/ paternidade, há como que um mecanismo de equivalência entre doença e parentalidade, o que não é correcto. Fazem parte do mesmo pacote legislativo propostas que desregulam ainda mais os horários e afectam a contratação colectiva, prefigurando uma grande contradição, diriamos nós até um grande cinismo social, quando ao mesmo tempo se diz pretender facilitar a conciliação vida profissional/ familiar/ pessoal. Tem mais esperanças ou receios, conhecendo o tecido empresarial português? VF: O tecido empresarial português, infelizmente, pelas provas dadas até agora, não oferece grandes expectativas, as suas reacções nunca são das mais positivas. Temos um universo empresarial em que as micro-empresas, que não têm mais de 10 pessoas ao serviço, têm um peso muito grande, na ordem dos 80%. São empresas muito pequenas, com recursos muito limitados, ainda do tempo da oligarquia dos encarregados, com uma gestão de recursos humanos quase inexistente, que se limita a processar os vencimentos, a elaborar mapas de férias e a marcar as faltas. Não há políticas de formação, não há planos estratégicos de formação. Pelo que sabemos, a reacção será sobrecarregar a parte mais débil. O problema actual relaciona-se com a competitividade e em termos globais há preocupação com o que vai acontecer nomeadamente nas questões dos direitos das mulheres, nas questões das necessidades, da prestação dos cuidados e da articulação do trabalho pago e do trabalho não pago. Tem muito a ver com o que vai acontecer na cena internacional nos próximos tempos, quais dos países chamados emergentes e como é que vão influenciar o curso das coisas... que tipo de lógicas é que a sua cultura e a sua história trazem para o funcionamento dos mercados a nivel mundial. Vamos estar muito dependentes do que vai acontecer em países como a China. Questões como a levantada há poucos dias num trabalho jornalístico sobre as políticas do filho único e os traços de carácter destes filhos únicos que são tratados como “pequenos imperadores”, mimados pelas famílias, incapazes de assumir responsabilidades. A maior parte deles não quer casar, muito menos ter filhos, são auto-centrados, extremamente mimados. E é esta geração que está agora a chegar agora ao mercado de trabalho... Há correntes na área da gestão de RH que advogam que as boas práticas de Conciliação vida profissional/ pessoal/ familiar, potenciam melhores resultados por objectivos. Que as empresas se deviam antecipar pró-activamente com medidas conciliatórias. Para muitos(as) trabalhadores(as) do Grupo Caixa isto é uma ficção, já que são pressionados(as) para trabalhar muito para além do horário normal, sem remuneração. Como sensibilizar as hierarquias intermédias que incentivam estas práticas? Quais são os prejuizos a médio/ longo prazo para as empresas, pessoas, sociedade? VF: A articulação entre conciliação e o desempenho por objectivos faz-se dentro daquela velha lógica de que “trabalhador motivado é trabalhador mais produtivo”. Supostamente, havendo medidas de conciliação, o recurso ao absentismo é menor: se eu tiver flexibilidade para não trabalhar estritamente e necessariamente dentro daquele horário mas sim no horário que me for mais conveniente, se calhar eu não preciso de faltar. Neste ponto de vista não seria negativo. Mas, infelizmente, se há trabalhadores a entrarem, sistemáticamente, às 8:30 e a sairem às 20:00, sem pausas, a não ser para almoço, isso é antes “inconciliação” total e absoluta. Provavelmente devido ao estabelecimento de objectivos demasiado exigentes e claramente excessivos, que correm o risco de ser paradoxalmente até desincentivadores. Quando nos anos 90, se analisaram práticas de gestão do BCP, constatouse que, trabalhando para além dos horários, Sábados, Domingos e feriados, só podiam contratar homens, porque no fundo contratavam a família toda, porque os homens para trabalharem tantas horas têm de ter alguém em casa que trate do resto da família já que eles não tinham condições/ tempo para isso. Quem, nas empresas, seguir esse tipo de políticas, faz com que toda a sociedade venha a sofrer diversos desequilíbrios, como já o é o facto da maioria das famílias só ter um filho (média 1,47 filhos). Os interesses de curto prazo fazem com que não sejam equacionados os impactos negativos a médio e longo prazo. É esta a lógica da acumulação capitalista que domina toda a sociedade. 11 BOLETIM INFORMATIVO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD Nº18 | JULHO 2008 história (DES)CONSTRUÇÃO DA IMAGEM FOTOGRÁFICA - O NASCIMENTO DE UMA NOVA ARTE No sentido de entrecruzar ideias e sem querer ainda abordar assuntos que podemos incluir na História da Fotografia - matéria que desenvolveremos mais adiante - não poderia deixar de me referir ao período entre 1850 e 1890, no qual começaram a surgir manifestações de aproximação da fotografia à arte. Quando a fotografia surgiu, os fotógrafos tinham como principal preocupação o apurado funcionamento de um conjunto de meios mecânicos fotográficos e não eram, ou não estavam, sensíveis para compreender aquilo que era observável na imagem tridimensional e a forma como a poderiam transportar para um suporte físico. Também os recursos que tinham disponíveis para compor uma imagem fotográfica pareciam ter um papel secundário no registo. Estávamos perante - o que ainda hoje acontece - uma tendência para o perfeito domínio do nosso aparelho fotográfico como única forma para se obterem bons registos, em detrimento de outras nuances que devem ser incluídas no processo fotográfico e que, como já vimos, são fundamentais para se alcançarem objectivos de sucesso, numa produção artística fotográfica. Muitas pessoas, que faziam parte de um definido grupo artístico da época, estavam inteiramente convencidas de que era inadmissível e muito difícil de conseguir despertar criatividade, criar arte, através de um sistema mecânico que se reduzia a fazer um registo do que era simplesmente observado. Desta forma, o fotógrafo apenas teria como obrigação reproduzir o que via e deveria ser apreciado, não como um artista, mas como um artífice ou um técnico especializado numa actividade baseada em factores mecânicos. Na segunda metade do século XIX, porém, começa a verificar-se que alguns fotógrafos enfraquecem esta tendência conferindo à fotografia importância artística, afastando o juízo de que ela é apenas um conjunto de procedimentos técnicos de modo a realizar um registo visual preciso e pleno de objectividade. A pouco e pouco, revelam-se outras atitudes na criação fotográfica e a simples reprodução da realidade começava a ter um menor peso na mensagem que se pretendia transmitir. Naturalmente, tal mudança de visão veio a criar uma longa e ampla polémica que, por vezes, ainda se manifesta nos nossos dias. ( 1) Calótipo (1839), palavra que tem origem no vocábulo grego Kalos e que significa belo e Typos que quer dizer imagem. Determina com precisão o processo negativo-positivo que foi incrementado por William Henry Fox Talbot (1800-1877), razão pelo qual é também apontado e reconhecido como Talbótico. Este sistema que possibilita conseguir mais do que uma prova, com base no mesmo negativo, começou a ser melhorado em 1834, e foi muito difundido no meio comercial em 1841. Tinha-se por hábito usar negativos de papel translúcido, tendo sido este processo bastante popular em Inglaterra de 1841 a 1851, sendo usado até ao início de 1860. O seu desenvolvimento e difusão por outros países foi muito restringido, pelos grandes valores pedidos pelos direitos da sua utilização. 12 Parte 1 por Victor Garcia Num esforço de engrandecer e elevar a fotografia a um patamar de arte, o pintor David Octavius Hill (1802-1870) e o engenheiro Robert Adamson (1821-1848) unificaram os seus saberes para assegurarem a produção de inúmeros calótipos (1) sobre os mais diversificados temas. Tal como os calótipos, também os daguerreótipos ( 2 ) de John Jabez Edwin Mayall (1813-1901) estavam no patamar do que poderia vir a ser apreciado como arte ou composição artística. Foi neste momento, depois de 1850, que os fotógrafos, deram início à manipulação (3) das suas imagens, recorrendo a processos mistos, como pintá-las à mão, designadamente os retratos, e fazendo, em algumas, fotomontagens, usando dois ou mais negativos que se uniam e harmonizavam para dar origem a uma só cópia. Passou a ser vista com mais clareza, depois de 1850, a intencionalidade de conferir à manipulação da imagem o intento de relacionar a fotografia à arte. No entanto, seria interessante reflectir o percurso e alguns desvios que o acto de manipular pode acabar por ter. O processo de fotomontagem, já muito utilizado pelo fotógrafo Gustave Le Gray, usava frequentemente dois ou mais negativos para melhorar alguma particularidade ou fragmento da imagem. Na fotografia que ilustra este exemplo, as nuvens e o céu foram adicionados a um primeiro negativo que continha o elemento mar. Gustave Le Gray (1820-1862) ( 2 ) Daguerreótipo (1839) sistema de Louis J.Mandé Daguerre (1787-1851), consiste numa uma folha fina de prata pura – cujo suporte de gelatina é sensível à luz – sobre o cobre e que tem o poder de registar a imagem numa câmara escura. Em oposição e contraste ao calótipo os seus direitos de uso eram desinteressados e gratuitos, mais sensíveis à luz e muito mais estáveis: pretexto suficiente para a sua maior divulgação. Em pormenor, diria que o método daguerreótipo está apoiado numa lâmina de cobre prateada que é tornada sensível com vapor de iodo, resultando deste processo iodeto de prata sobre a lâmina que, - expondo-se por cerca de 25 a 30 minutos, numa câmara escura, dá azo a obter-se uma imagem que não apresenta ainda nitidez e contornos definidos, próprios da imagem na realidade observada - pode ser revelada pelo vapor de mercúrio, que adere às partes do iodeto de prata atingidas pela luz. Por fim, uma solução de tiossulfato de sódio é usada como fixador. O resultado de todo este processo é o aparecimento - numa película tão sensível que deve ser protegida da influência do ar - de uma imagem positiva também invertida, com muito bom pormenor. Fotografia de Le Gray, obtida através de dois negativos ( 3 ) Manipular: este conceito começa com a decisão na escolha de filtros, das lentes, da abertura da velocidade que, desde logo, influenciam o resultado final da fotografia. Ao fotografar-se um determinado acontecimento, não se deve pensar apenas no momento em que o registo está a acontecer mas também na força e no significado que a fotografia irá transmitir ao espectador da imagem. Por este motivo, as escolhas e as opções do fotógrafo jamais serão aleatórias. Pretendem desenvolver formas que nos permitam apresentar os objectos fotografados da forma como os sentimos e não apenas de como os vimos, logo, existe uma predisposição de manipular o observável, no sentido de lhe atribuir ou conferir uma mensagem pessoal, íntima. Estamos a alterar a nossa realidade visível, atribuindo à fotografia não um significado de imitação mas de representação. Estas, entre outras decisões, devem no entanto ser bem ponderadas, para que a intencionalidade do autor seja clara. Manipular não tem de ter um significado pejorativo, antes pelo contrário, pode conferir à imagem valor e significado, desde que a fotografia sirva um fim previamente determinado. CAIXA ABERTA história Vejamos os dois exemplos que se seguem, para ficar ainda mais claro o conceito de manipulação, o seu uso ou abuso. A letra ‘D’ do anúncio sobrepôs-se à mão, dificultando a leitura. A solução para realçar a acção da jogadora e da bola de ténis foi retirar a letra ‘D’. O resultado facilitou a análise da segunda fotografia, tornando-a mais clara. Ao manipular a terceira imagem pretendeuse atribuir-lhe um resultado ainda mais intenso relativamente aos objectivos pretendidos, uma vez que as letras ‘soltas’ em nada contribuíam para a harmonia e equilíbrio da fotografia. O caso Brian Walski, fotógrafo do jornal “Los Angeles Times” (1988) é já uma situação bem diferente do exemplo anterior. Neste caso, o autor juntou elementos de duas fotos, resultando deste processo uma terceira fotografia que não correspondia à realidade. A imagem publicada foi considerada como uma adulteração do conteúdo da informação e da verdade observável. O exemplo do caso Brian Walski em nada se pode igualar ao exemplo da tenista, já que a função e objectivos atribuídos às fotografias são na verdade muito diferentes. O mesmo acontece relativamente à fotografia que nos serviu de modelo, de Gustave Le Gray, cuja intencionalidade era aproximar a fotografia à arte. Foi, todavia, com o melhoramento do sistema de colóide húmido (4) , por Scott-Asher, em 1851, que os fotógrafos começaram a ter maior conhecimento do enorme potencial disponível para dar a conhecer que a fotografia poderia ser considerada uma arte. Desde há muito que a pintura tinha alcançado uma enorme divulgação, principalmente quando começou a ser introduzida em escolas, quando se criaram as primeiras sociedades, galerias, revistas. Ora esta necessidade de divulgação foi também sentida pelos fotógrafos que, em 1850, começaram a realizar as primeiras exposições fotográficas e a publicar os primeiros livros de fotografia, edificandose as primeiras sociedades - Sociedade de Fotografia de Londres, posteriormente designada Real Sociedade Fotográfica, e a Sociedade Francesa de Fotografia. Ao mesmo tempo, o comércio da fotografia prosperou e as vendas aumentaram muito rapidamente. Embora a obrigação ou razão da fotografia tivesse como objectivo exibir ou pôr à vista - numa superfície bidimensional - a Natureza, os seus detalhes, residia também aqui o seu grande obstáculo para que fosse possível reconhecê-la como um estilo de representação artística: não criava, apenas imitava, dava igual valor a tudo o que ficava no espaço atingível pela objectiva. Nesta medida, em 1859, no primeiro salão anual da Sociedade Fotográfica Francesa, Baudelaire - instituidor do simbolismo - depreciava a fotografia pelos seus processos simplesmente materiais e mecânicos, em detrimento da criatividade e do “génio artístico”. As críticas à fotografia foram também mal dirigidas e tantas vezes deturpadas pelo erro de não se diferenciar os seus variados estilos, o que a poderia dividir em assuntos com consequentes objectivos e funções. Para decidirmos sobre o valor da fotografia, entendida como arte ou apenas informativa, devemos determinar critérios de análise concisos para distinguir aquela que é como um registo que imita, da que recria a realidade observável. Um dos estilos fotográficos mais importantes do período a que nos reportamos é o pictorialismo ( 5 ) cujo primeiro propósito se resumia em conseguir alcançar uma imagem esteticamente bela e assumir a convencional fotografia de retrato, numa associação entre uma aptidão pessoal e a capacidade criativa do fotógrafo e um ou mais atributos do que é naturalmente belo na pessoa que se pretendia reproduzir. Para exemplificar esta simbiose, destacaria alguns trabalhos de Nadar de Etienne Carjat, nomeadamente retratos executados em França, a Emile Zola (1840-1902). Também em 1876, o norte-americano Peter Henry Emerson, dissertava sobre o tema “Fotografia e Arte Pictórica”. Na sua palestra, deu a conhecer a sua teoria fotográfica naturalista que conferia aos fotógrafos um modelo de trabalho que teria de estar de acordo com as dificuldades que poderiam encontrar na Natureza, em vez de se preocuparem a desenvolver ou a reproduzir outras formas de arte. Com esta perspectiva reforçou a ideia de que a Natureza deveria ser fotografada como era observada pela nossa visão e pelo entendimento que dela passaríamos a ter. Emerson despertou e incrementou a influência e o valor que a fotografia viria a ter nos finais da década de 80. Dos debates realizados começava a surgir a ideia de que já não estava na primeira linha de discussão o valor da fotografia como expressão artística, mas que a fotografia necessitava de distinguir e fixar os seus próprios temas e assuntos fotográficos, iniciava-se o debate da necessidade de determinar objectivos e funções para cada registo, tendo por base uma relação mais emocional com os próprios assuntos e uma relação entre o que objectivamente vemos e o que sentimos. O período de 1850 a 1890 foi muito importante para a fotografia artística. Durante esse período, muitos outros artistas lucraram com os debates em torno destes conceitos fotográficos; não apenas os fotógrafos, também os impressionistas franceses que ao pintarem as suas telas passaram a utilizar fotografias para o desenvolvimento do seu próprio trabalho. Estavam-lhes, desta forma, a atribuir créditos não só de fidelidade, como reprodução do que era observado, mas estavam igualmente a conferir ao registo um valor com potencial criativo. ( 4) Colóide: Sistema inserido em Inglaterra por Frederik Scott Archer, em 1851, e com pouca diferença de tempo em França por Le Gray, era composto fundamentalmente por um positivo directo conseguido com uma chapa de colódio (mistura de algodão de pólvora com éter e álcool), que unia os sais de prata nas placas de vidro. Numa breve explicação, diria que se derramava o colódio com iodeto de potássio em cima da placa de vidro. O negativo de colódio sub-exposto que daí tinha origem, era sujeito a um banho de nitrato de prata, num lugar escuro, dando assim a sensação de um positivo. A placa, ainda húmida, seria depois colocada durante 30 segundos à luz. A revelação era feita com sulfato ferroso e tinha como elemento fixador o cianeto de potássio. Mais tarde - 1871, Richard Leach-Maddox, médico Inglês - este processo foi substituído por outro seco: a gelatina. A grande dificuldade de todos os métodos por colódio era o uso inevitável de placas ainda húmidas. Inúmeras maneiras de conservar o colódio em estado viscoso - e sensível durante mais tempo - foram pensadas e produzidas por forma a que toda a preparação manual química pudesse ser mais facilmente realizada. ( 5 ) Pictorialismo (1854-1910): movimento que tentava reunir fotógrafos cujo objectivo fundamental fosse impulsionar o aparecimento da fotografia como expressão artística. Este conjunto de fotógrafo tinha ainda como finalidade conferir aos seus apoiantes o mesmo crédito e estima que a já conseguida pelos artistas que empregavam outros processos artísticos, como a pintura. O pictorialismo, caracteriza-se e põe em evidência uma sólida tentativa de aproximar a fotografia à arte. 13 BOLETIM INFORMATIVO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD Nº18 | JULHO 2008 horas livres CULTURA, DESCONTRACÇÃO E CONVÍVIO Os passeios de fim-de-semana organizados pelo STEC têm contribuído para um convívio muito saudável entre sócios e seus familiares. Para além disso, os aspectos culturais e paisagísticos assumem-se como uma mais valia para quem gosta de viajar, enriquecendo os seus conhecimentos. Exemplo disso foi a visita que organizámos ao Núcleo de Gravuras de Penascosa, no Parque Arqueológico Vale do Côa, que nos permitiu conhecer melhor a forma de vida dos nossos antepassados e a sua arte, e o convívio com os usos e costumes e a gastronomia da região. Mais recentemente, organizámos um passeio ao Parque Natural da Serra da Estrela onde efectuámos uma caminhada e a visita a vários locais de interesse histórico e cultural. Para isso tivemos a ajuda inestimável do colega Raul Pires, Delegado Sindical da CGD na Covilhã, e do seu grupo de caminheiros, que foram determinantes para o sucesso desta iniciativa, tanto mais que a chuva marcou forte presença, obrigando a soluções de recurso. Aos participantes nestes passeios foi lançado o desafio de apresentarem a concurso as suas melhores fotos obtidas no decurso dos mesmos. O repto foi aceite, os disparos foram muitos e os concorrentes também. Das fotos a concurso destacamos aqui as premiadas: PASSEIO A FOZ CÔA Célia Mendes, CGD - Vendas Novas Maria do Rosário Ribeiro, CGD - Arganil PASSEIO À SERRA DA ESTRELA Andreia Sofia Mendes, familiar de Célia Mendes, CGD - Vendas Novas 14 Cândido Machado, CGD - DAJ-UAJ5 - Porto Marta Filipa Martins, familiar de Maria do Rosário Ribeiro, CGD - Arganil CAIXA ABERTA cultural Iniciamos esta rubrica pretendendo dar notícia de livros que abordem o mundo do trabalho – sejam textos académicos ou literários. DIVULGAÇÃO É o caso do recente lançamento do livro de Hermes Costa, «Sindicalismo global ou metáfora adiada? discursos e práticas transnacionais da CGTP e da CUT», resultado de dissertação de doutoramento em Sociologia, defendida em Julho/2005, na Universidade de Coimbra. Organizado em 5 capítulos, reflecte um conjunto de experiências e investigação ao longo de dez anos, em Portugal e Brasil. Através de entrevistas e pesquisas documentais nos países das duas centrais sindicais mais representativas, CGTP e CUT, respectivamente, procura indícios de um «sindicalismo de língua portuguesa». Esta pesquisa responde à interrogação sobre a existência, contornos e eficácia de uma política de relações internacionais, suas potencialidades e desafios, no seio do movimento sindical, que encontra dificuldades em transnacionalizar a sua acção. Que foi o capital e não o trabalho que logrou internacionalizar-se é uma evidência. Mas apesar da exclusão social, do desemprego e do individualismo contemporâneo, o espaço do mundo do trabalho e as sociabilidades associadas ainda não foi substituído por outra forma de organização da sociedade e realização do ser humano. O movimento sindical foi atingido e fragilizado, mas está a recompor-se - burocratização e resistência a mudanças internas podem ser ultrapassadas. Hermes Costa salienta, pela positiva, os contributos e a insubstituibilidade desta forma de inter venção e transformação social, em tempo de globalização. FICHA TÍTULO «Sindicalismo global ou metáfora adiada? discursos e práticas transnacionais da CGTP e da CUT» AUTOR Hermes Augusto Costa É que, enquanto houver trabalhadores, haverá sindicalismo. O STEC está a proceder à entrega aos sócios do livro de protocolos estabelecidos com diversas entidades. Fique atento! EDIÇÕES AFRONTAMENTO protocolos DESCONTOS E CONDIÇÕES ESPECIAIS PARA ASSOCIADOS DO STEC Para mais informações sobre os protocolos existentes, pode consultar também a página de Internet do STEC. www.stec.pt 15 BOLETIM INFORMATIVO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD Nº18 | JULHO 2008 insólito É só fumaça! Que existe uma nova lei que limita os espaços para fumadores e que, nesses espaços, estão incluídos os locais de trabalho, nomeadamente as agências da Caixa Geral de Depósitos… todos sabemos! Constata-se que, de uma forma geral, pese embora alguma contestação por parte dos fumadores, estas medidas são respeitadas e fazem hoje parte de um estilo de vida nos países europeus e em grande parte do mundo. Passado o impacto dos primeiros dias, já quase ninguém se lembra dessa contestação, e assimilámos como absolutamente natural esta forma de estar, de tal modo que já não nos ocorre poder ser de outro modo. Vem isto a propósito de ter chegado ao conhecimento do CaixaAberta o comportamento de um certo Director da CGD que, fumando nas reuniões de trabalho, na presença dos colaboradores, faz das instalações da Caixa um local acima da lei, ou antes, fora da lei! Será que desconhece os normativos, ou, caso contrário, conhece e acha que não se lhe aplicam? Será por prepotência, Apesar disso, há sempre as excepções e alguns cidadãos, do arrogância, ou simplesmente uma forma de estar muito pouco alto do seu pedestal, julgando-se acima de tudo e de todos, própria para quem deveria dar o exemplo. fazem tábua rasa da lei, fazendo de conta que, para eles, está tudo como dantes. Vai daí somos confrontados com situações, Já agora: como será este alto quadro classificado pela hierarfelizmente poucas, como a bem célebre história do nosso pri- quia para efeitos de avaliação, com atitudes como esta?! meiro-ministro a fumar no avião! 16 Sede STEC - LISBOA Largo Machado de Assis, Lote-A, 1700-116 LISBOA tel 21 845 4970/1 - móv 96 231 1720, 91 849 6124 fax 21 845 4972 e-mail: stec @ stec.pt Delegação STEC - PORTO R. do Bolhão, nº 53 - 4º Dto, 4000-112 PORTO tel 22 338 9076, 22 338 9128 fax 22 338 9348 Delegação STEC - COIMBRA R. do Carmo, nº 54 - 3º Letra Q, 3000-098 COIMBRA tel 23 982 7686, 23 982 8554 fax 23 982 6802 Boletim Informativo Caixa Aberta Nº 18 , Julho de 2008 - Periodicidade: Trimestral - Tiragem: 6500 Exemplares Direcção e Redacção: Departamento de Comunicação do STEC - Concepção Gráfica: Hardfolio - Impressão: M2-Artes Gráficas, Lda. CAIXA ABERTA