Estudar vale a pena! O tema desta edição do EVP em Notícias é: Conexões Nosso entrevistado é o Prof. Dr. Rogério da Costa, da PUC-SP. A partir de um consistente referencial teórico-filosófico, mas em uma linguagem simples, Rogério da Costa aborda questões que têm tudo a ver com o Estudar Vale a Pena e com as possibilidades e potências das conexões que os voluntários criam com os jovens estudantes de Ensino Médio e com outros voluntários ao realizar a ação. Ele explora o tema das conexões e redes sociais, para além do Facebook, Twitter e Linkedin, e instiga a nossa reflexão com a seguinte questão: nós somos um coletivo porque estamos conectados ou estamos conectados porque somos um coletivo? Segundo ele, para ser um coletivo é preciso algum tipo de conexão; é preciso um propósito. Temos a certeza que você, ao dedi- car seu tempo e conhecimento para atuar no EVP, tem um propósito. E é esse propósito que conecta os colaboradores que atuam como voluntários nas mais diversas ações promovidas pelo Itaú Unibanco. Os voluntários Ronaldo Silva e Mariana Martins compartilham conosco o que os move a participar do EVP na seção Depoimentos. Queremos com esta edição do boletim EVP em Notícias reafirmar que a sua ação voluntária pode contribuir para transformar a visão de mundo dos jovens do Ensino Médio e para sua própria transformação. Principalmente, queremos que você se sinta cada vez mais parte da nossa rede, porque acreditamos que conectar pessoas e causas #issomudaomundo. Estudar vale a pena! Voluntariado: benefícios para quem faz e para quem recebe A sexta edição da ação voluntária Estudar Vale a Pena em São Paulo está a todo vapor. Até o final de junho, colaboradores Itaú Unibanco estarão nas escolas desenvolvendo as atividades com os estudantes. Uma pesquisa realizada em 2014 indicou que 91% dos jovens que já participaram do Estudar Vale a Pena afirmam que ‘ter tido contato com os voluntários Itaú Unibanco ajudou-os a pensar em seu futuro’. Se para os jovens os benefícios da ação são tão diretos, para os voluntários certamente também são – ao entrar em sala de aula com um grupo de jovens, o voluntário se depara com situações e experiências diferentes de seu cotidiano, o que o faz refletir e agir com criatividade, liderança e atenção. Além de uma contribuição social, o EVP proporciona aos voluntários exercitar outras habilidades e refletir sobre seu papel na sociedade e no mundo. E todo mundo ganha com isso. Estudar vale a pena! Depoimentos: Mariana Martins e Ronaldo Silva escolheram ser voluntários no Estudar Vale a Pena. Veja o depoimento deles nos vídeos: Mariana Martins, de São Paulo Ronaldo Silva, de São Paulo “Quando começamos a vivenciar o programa de voluntariado e a lidar com os jovens, fica claro como a diferença desses universos é grande. E nosso trabalho ali é mostrar que estudar vale a pena, sim, porque isso te abre outras portas e te dá outras possibilidades”. “Você sai da escola renovado. Você vê a esperança nos olhos do jovem. A oportunidade de trazer um pouco do que é seu para ele, e ele trazer um pouco do que é dele para você. É uma troca”. Clique aqui para assistir ao depoimento da Mariana. Clique aqui para assistir ao depoimento do Ronaldo. Se você tem alguma história interessante, emocionante ou significativa que você vivenciou em alguma atuação do EVP e queira compartilhar, envie um email para a chave do Estudar Vale a Pena. Estudar vale a pena! Entrevista Rogério da Costa O Prof. Rogério da Costa, doutor em filosofia pela Universidade de Paris IV - Sorbonne, engenheiro de sistemas e computação, é coordenador do Centro de Estudos em Ciências Cognitivas do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP. É também coordenador do LinC – Laboratório de Inteligência Coletiva, prestando consultoria para diversas empresas, terceiro setor e governo federal. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Teoria da Comunicação, atuando principalmente nos seguintes temas: inteligência coletiva, redes sociais, cibercultura, comunidades virtuais, produção de conhecimentos e web semântica. 1. Por que entender as redes de relações de um indivíduo vem se tornando cada vez mais importante? Na Sociologia clássica, a abordagem para entender a sociedade parte de categorias como a divisão por gêneros, renda, nível educacional etc. As pesquisas do IBGE, por exemplo, seguem este caminho, que percebe a sociedade a partir de segmentações, criando a ideia de classes. Com o tempo surgiram os analistas estruturais, que entendem que um dos aspectos essenciais de uma sociedade é o grau de conexão que existe entre as pessoas. A partir dessa visão, foram desenvolvidas pesquisas nas quais os pesquisadores iam de casa em casa perguntar sobre o número de ligações telefônicas que a pessoa fazia diariamente, quantas ligações recebia, com quantos amigos se relacionava na sua vizinhança, no seu trabalho etc. A ideia era entender qual o grau de relacionamento que a pessoa possuía para, ao final, chegar a um índice de densidade relacional num certo ambiente. A premissa destes pensadores é que ao entender o quanto uma pessoa se relaciona e está conectada podem-se explicar as razões dos resultados de uma pesquisa clássica que divide os indivíduos por renda, nível educacional etc. Pessoas que têm maior densidade relacional (se relaciona Estudar vale a pena! com maior número de pessoas) tendem a ter maior padrão educacional. Isto, na época, ganhou o nome de capital social, ou seja, tem a ver com o nível de relacionamento que a pessoa consegue estabelecer na vida. O que a gente percebe atualmente é que olhar para a sociedade do ponto de vista das redes sociais em geral nos mostra fluxos de recursos que se dão entre as pessoas. Esses recursos podem ser informação, conhecimento, dinheiro, apoio emocional, produtos etc. É esse fluxo de recursos que mantém as pessoas interessadas em estar na rede, e é isso que alimenta esse mecanismo. 2. Você costuma falar que toda relação é constituinte de uma experiência e que somos afetados por toda relação que estabelecemos, em outras palavras, que em cada relação estabelecida cria-se um afeto. Como é isso? Esta visão de conexão é uma visão muito forte porque ela amplia a visão de que uma rede são pontos em contato e que algo flui de um ponto a outro. No entanto, tem um estudioso americano que faz uma provocação: nós somos um coletivo porque estamos conectados ou estamos conectados porque somos um coletivo? Para ser um coletivo é preciso algum tipo de conexão. Para formar um coletivo é preciso um propósito. Há outra maneira de olhar para a rede além das conexões entre os pontos. É entender como uma rede de relações. A relação não se dá entre pontos, mas sim entre pessoas. Entre pessoas não há simplesmente transmissão de informações, a relação significa que o ato modifica quem envia informação e quem a recebe. Uma rede de relações é um processo dinâmico no qual um indivíduo afeta outro indivíduo e é afetado por ele também. O filósofo Spinoza fala “só nos conhecemos na medida em que nos colocamos em relação.” Você só vai saber o que você pode neste mundo se estiver numa determinada relação. Porque você é forçado a pensar sobre o que você pode nessa relação e, portanto, a relação na verdade vai modular você. O interessante é que estamos em um momento histórico em que pensar sobre as relações é algo que está em primeiro plano. E poder ser livre para estabelecer estas relações também. O mundo do início do século XX é extremamente restrito nas possibilidades de relações entre as pessoas. As classes sociais eram muito marcadas, o padrão educacional determinava muita coisa. As restrições eram ditadas pelos preconceitos, moralismos, religiões, enfim, por uma série de coisas que funcionavam como mecanismos para enquadrar as pessoas. Estudar vale a pena! Na literatura a gente percebe vários personagens que não se imaginam entrando em relação com níveis diferentes da sociedade. Que se acomodam e, portanto, se contentam em estar onde estão. O que acontece hoje é que as relações estão muito cruzadas. Não é improvável que você estabeleça relação com pessoas totalmente diferentes. Isto faz com que a sociedade se torne mais complexa, porque passamos a nos ver e viver de maneira diferente. Temos essa percepção de relação num plano mais aberto que não tínhamos até então. 3. Você acha que uma ação voluntária como o Estudar Vale a Pena pode ter a potência de transformar o voluntário e o jovem? Depende da metodologia que se usa. Dois encontros podem ser interessantes. É possível pensar em determinadas dinâmicas em que você teria uma espécie de trabalho anterior ao encontro. Se você vai à escola em dois momentos, com certeza vai haver uma modificação [entre um encontro e outro] de como o jovem se relaciona com o meio em que transita. Porque você fez a intervenção concreta para ele mudar o olhar no percurso que faz. E você vai mostrar que, de fato, a vida é uma maneira de perceber as coisas. Quantas outras coisas você pode fazer para mudar a forma com a qual se relaciona com o seu meio? Estou dizendo que, muito provavelmente, estes dois encontros não vão sair da memória dos alunos. Eles podem não resultar em um ensinamento como na escola, mas eles podem ter uma noção da importância da inflexão do olhar. Vão ter isso em mente e entender o porquê dos encontros. Então, a questão é fazer uma intervenção rápida, porém eficiente, que fique marcada na memória. 4. Como o voluntário pode desenvolver sua potência a partir dessa experiência? Esse trabalho voluntário produz um benefício para fora, ou seja, para a escola e os alunos. Mas produz um benefício interno [para o colaborador] também. A ação pode funcionar como um laboratório para novas metodologias de trabalho. Estudar vale a pena! Dicas Dica para você que quer saber mais sobre o universo do jovem: Assista ao documentário Últimas Conversas, de Eduardo Coutinho. Realizado a partir de entrevistas com jovens estudantes brasileiros, o filme busca entender como pensam, como sonham e como vivem os adolescentes de hoje. versão final é assinada por João Moreira Salles. Antes de começar a rodar o filme, Eduardo Coutinho conversou com Ricardo Henriques, Superintendente Executivo do Instituto Unibanco, que participou da concepção do documentário. Este foi último trabalho do cineasta Eduardo Coutinho que faleceu em fevereiro de 2014. Você pode assisti-lo no Espaço Itaú de Cinema Augusta, Frei Caneca ou Pompéia. O material foi editado por sua parceira de longa data, a montadora Jordana Berg, e a Saiba mais sobre redes e conexões Quer entender mais sobre a Cultura de Redes? Leia o livro de Rogério da Costa - A cultura digital, editado pela Publifolha em 2002. Há vários estudos e pesquisas para entender os níveis de conexões entre os indivíduos e as redes sociais. Uma das mais conhecidas é a teoria dos seis graus de separação (six degrees of separation), que deu origem a uma série de tevê, um filme e uma peça de teatro, o que a tornou ainda mais popular. Basicamente, o que essa teoria diz é que são necessários, no máximo, seis laços de amizade para conectar duas pessoas quaisquer, estejam elas em qualquer lugar do mundo. Livro: Seis Graus de Separação – A Evolução da Ciência de Redes em uma Era Conectada, de Duncan J. Watts, Leopardo Editora, 2009. Sinopse: Estamos em uma era conectada. Precisamos entender como as redes funcionam. Neste livro, Duncan Watts, um dos principais arquitetos da ciência de redes, também conhecida como teoria de networks, fornece ao leitor explicações com base científica a respeito da dinâmica de redes de computação, economias, epidemias e outras networks relacionadas à vida cotidiana de cada um de nós.