APRENDENDO A PENSAR
Texto baseado no livro: Idéias Criativas: como vencer seus bloqueios mentais.
Autor: James L. Adams.
Editora: Ediouro - 1994 - 192 páginas.
Será que podemos aprender a pensar? Ou pensar é uma atividade inerente do ser
humano que é feita de forma inconsciente? Na realidade, embora o nosso pensamento
seja de um certo modo uma atividade inconsciente, podemos aprender algumas técnicas
que deixam a nossa mente mais solta e consequentemente nos leva a ter idéias, fazer
questionamentos e formular explicações para esses questionamentos.
Muitas pessoas acreditam que somente os gênios e artistas conseguem ter boas
idéias. Entretanto, muitas pesquisas têm demonstrado que todos os seres humanos, uns
mais e outros menos, têm a capacidade de ser criativos, já que essa é uma habilidade
natural dos seres humanos. Por que então algumas pessoas têm tanta dificuldade de ter
idéias? A resposta é que a nossa criatividade natural tem sido muitas vezes inibida pela
forma como fomos educados, pela escola onde estudamos e pela sociedade em geral.
Quantas vezes os pais e professores têm agido de forma a inibir o desenvolvimento de
talentos e habilidades, ao invés de estimulá-los? Quem nunca teve a experiência de se
sentir ridicularizado após fazer uma pergunta que o seu professor e colegas não sabiam
responder e riram de você?
Acontecimentos desse tipo, além de outras experiências do nosso dia a dia fazem
com que nós fiquemos cada vez menos dispostos a formular idéias e questionamentos.
Vejamos a seguir alguns exemplos de bloqueios citado por Adams, 1994 que nos
impedem de formular e expressar claramente as nossas idéias para as outras pessoas,
buscando convencê-las do seu valor.
BLOQUEIOS DE PERCEPÇÃO- São obstáculos que nos impedem de
perceber claramente, tanto o problema em si, como a informação necessária para
resolver o problema. Talvez a melhor maneira de ajudar a superar os bloqueios de
percepção é falar sobre alguns dos mais comuns e específicos.
Ver o que você espera ver (estereotipar) - Um dos primeiros pontos que nos
impede de pensar de forma clara é o fato de termos uma idéia pré-concebida das coisas.
O que significa isso? Significa que vemos as coisas da forma que esperamos ver e não
da forma que elas são na realidade. Esse bloqueio acaba nos levando a formular nossas
idéias de forma errada, diferentemente do que acontece na realidade. Exemplos comuns
são você julgar uma pessoa pela forma como ela se veste ou sempre desvalorizar as
idéias daquele colega que tira notas baixas e que você considera pouco inteligente. Uma
grave conseqüência da nossa capacidade de pré-julgar ou estereotipar é que ela atinge
não somente aos outros, mas também a nós mesmos, nos levando algumas vezes a
subestimar nossas habilidades.
Dificuldade em Isolar o Problema- A identificação apropriada do problema é
de extrema importância para resolvê-lo. Caso o problema não seja isolado de forma
adequada, não será resolvido corretamente. Em engenharia, as pessoas às vezes deixamse envolver muito na tentativa de aperfeiçoar um dispositivo em particular que não
encontram as alternativas que poderiam amenizar suas dificuldades. Um exemplo é o
que aconteceu com a busca por uma máquina para colher tomates. Durante muito tempo
se pensou em vários protótipos para colher os tomates, antes que alguém tenha decidido
que o real problema estava não na otimização desses protótipos e sim na
susceptibilidade dos tomates de serem esmagados durante a colheita. A resposta para o
problema estava na produção de numa nova planta melhorada, com a pele mais grossa e,
portanto, mais fácil de ser colhida.
A dificuldade em isolar o problema é freqüentemente devido à nossa tendência
de gastar o mínimo de esforço na definição do problema e ir diretamente para a parte
considerada mais importante, que é resolve-lo. A inadequada definição do problema é
uma tendência comum nas etapas envolvidas na sua solução. Um espaço de tempo
relativamente curto gasto no isolamento e definição do problema pode ser de valor
inestimável, tanto no esclarecimento de possíveis soluções mais simples, como para
assegurar que a maior parcela de esforço não seja gasta somente para achar que as
dificuldades ainda existem, e talvez até em uma magnitude maior.
Exercício- pense em um problema que está lhe afligindo. Escreva uma sentença ,
o mais concisa possível sobre o seu problema. Você poderia pensar em sentenças
alternativas que poderiam estar causando as dificuldades que você está vivenciando? Se
for o caso, escreva novamente e conjeture sobre as possíveis diferenças nas soluções
que lhe ocorrem.
Tendência em Restringir Demais o Problema – Assim como a solução é
sensível à um correto isolamento do problema, é também sensível à uma delimitação
apropriada. Em geral, quão mais amplamente o problema é especificado, mais espaço
fica disponível para a conceitualização. É possível também errar na direção oposta, não
delimitando suficientemente o problema e assim chegando a uma solução tão geral e
básica que não é possível de ser aproveitada.
Exercício: Da próxima vez que você tiver um problema, resolva. Então, a seu bel
prazer, liste três diferentes possíveis delimitações do problema e as respostas que lhe
ocorreriam em cada caso. Por exemplo, suponha que você tem cerca de 40 anos, seus
filhos já foram para a universidade, seu marido é um profissional respeitado e você está
achando a sua vida monótona.
Inabilidade em Ver o problema de Diferentes Ângulos - É geralmente muito
difícil, ver um problema sob o ponto de vista de todas as partes interessadas e
envolvidas. Entretanto, considerações desses pontos-de-vista, não somente conduzem a
uma solução melhor do problema, já que atende a mais interesses e indivíduos, como
também ajuda muito na conceitualização do problema. Certamente, entre duas pessoas,
a capacidade de ver um problema do ponto de vista do outro é extremamente importante
para manter o tom do debate dentro do limite razoável de educação.
Exercício: pense num problema interpessoal que você está tendo no presente. Escreva
uma sentença concisa do problema, de acordo com o que você supõe que é visto por
cada parte envolvida. Se possível, mostre as sentenças às partes correspondentes para
ver se eles concordam com a sua interpretação da percepção que eles têm do problema.
Saturação- Muitas informações bastante familiares não são registradas de modo
a poderem ser simplesmente recordadas. O aspecto mais traiçoeiro da saturação é que
você pensa que tem os dados, apesar de não ser capaz de usá-los quando precisa.
Falha em Usar Todos os Mecanismos Sensoriais - Os sentidos são
interconectados de maneira direta. Sentidos tais como visão, audição, paladar e olfato
estão comumente interconectados. Solucionadores de problemas precisam de toda a
ajuda que puderem obter, não negligenciando nenhum mecanismo sensorial.
BLOQUEIOS EMOCIONAIS : A eminência de expressar uma nova idéia, e
especialmente o processo de tentar convencer alguém de seu valor, algumas vezes nos
deixa temerosos, porque estaremos fazendo alguma coisa que possivelmente irá expor
nossas imperfeições, de modo que as pessoas tendem a fugir da criação, ou ao menos
evitam divulgar seus resultados. O homem cria segundo impulsos internos, e ao menos
parte da criatividade ocorre numa região da mente que se encontra abaixo do nível
consciente. Ela flui melhor na ausência de neuroses e pode provocar ansiedades, sendo a
mente consciente uma válvula de controle da criatividade.
Medo de correr riscos- Todos nós temos um certo medo de tentar coisas novas
e cometer erros. Afinal de contas nós fomos criados de forma a sermos admirados
quando damos as respostas certas e punidos quando erramos. Por isso mesmo acabamos
evitando nos envolver com coisas novas, que ainda não conhecemos e assim nos
sentimos mais seguros. Afinal fomos ensinados que “mais vale um pássaro na mão que
dois voando” enfim que é mais seguro ficar com o que já temos do que correr em busca
de coisas novas. Ter idéias e falar sobre elas é uma forma de correr riscos e isso,
dependendo de como fomos educados, pode ser difícil de enfrentar. Entretanto, sabemos
também que “quem não arrisca não petisca” portanto da próxima vez que lhe surgir uma
boa idéia não tenha medo de compartilhar com os outros. Se ainda assim, você estiver
com muito medo de se expor, faça uma lista de todas as coisas ruins que poderiam lhe
acontecer, caso dê tudo errado com a sua nova idéia. Assim você troca o seu medo de
falhar pela a sua capacidade analítica de avaliar as conseqüências do seu erro o que é
uma grande troca. E lembre-se do que Einstein disse: ”Se à primeira vista a sua idéia
não parece absurda, então não há salvação para ela”.
Desejo excessivo de ordem- Manter as suas coisas em ordem muitas vezes lhe
ajuda a ter um bom desempenho no seu trabalho. Entretanto, quando essa necessidade
de ordem é excessiva e lhe impede de tolerar um pouco de caos, isso dificulta a sua
habilidade de solucionar problemas. Se você é uma pessoa que tem mania de manter
tudo guardado e ordenado e fica irritada quando as suas coisas não estão totalmente em
ordem, você pode ter dificuldade de solucionar certos tipos de problemas. Isso acontece
porque muitas vezes os pensamentos surgem em nossa mente de forma caótica e
complexa e precisamos ter a habilidade de lidar com todas essas idéias e organizá-las de
forma a encontrar soluções para o problema que estamos tentando resolver.
Julgar ao invés de gerar idéias- O criticismo e o cuidado em julgar as idéias
são essenciais na solução de problemas. Mas, quando as críticas acontecem muito cedo
no processo criativo, podemos rejeitar muitas idéias, o que pode ser extremamente
negativo para o nosso processo de criação. Isso ocorre porque as idéias logo que sujem
ainda são frágeis e imperfeitas e necessitam de tempo para amadurecerem e ficarem
melhores, além de que idéias sempre geram novas idéias. Infelizmente, julgar as idéias
dos outros tem sido um passatempo muito apreciado pela nossa sociedade. Os jornais
reservam espaços bem maiores para críticas do que para a exposição de novas idéias. O
ruim de tudo isso é que, quando você se acostuma a criticar muito as idéias dos outros,
você acaba excluindo as idéias da sua própria mente, antes que elas tenham tempo de
frutificar.
Incapacidade de incubar as suas idéias- Com a vida corrida que levamos hoje
em dia, muitas vezes fica difícil encontrarmos tempo para parar um pouco e pensar
melhor sobre as nossas idéias. Sabemos porém, por experiência própria, que muitas
vezes encontramos as soluções para um problema que passamos horas tentando
resolver, quando o deixamos de lado para fazemos uma coisa totalmente diferente. Isso
ocorre porque o nosso inconsciente tem um papel muito importante na solução de
problemas. As soluções que surgem na nossa mente de forma totalmente inesperada são
o resultado do processo de incubação das idéias que ocorrem no nosso inconsciente. Por
isso, é importante alternar nosso trabalho com outras atividades como uma caminhada,
um jogo, uma corrida, que deixam a nossa mente mais relaxada e assim, quando
voltamos ao trabalho, na maioria das vezes as idéias surgem mais claramente. Se você
nunca relaxa, sua mente fica presa somente a atividades sérias, perdendo a habilidade
de desenvolver um processo criativo.
Falta de motivação ou motivação excessiva- A motivação é de fundamental
importância no processo criativo. Na verdade, o profissional precisa estar motivado,
seja pela possibilidade de sucesso profissional, seja pela oportunidade de ganhar mais
dinheiro. Entretanto, quando a motivação é excessiva e direcionada para encontrar
rapidamente as soluções, corre-se o risco de prejudicar o processo criativo. O resultado
dessa pressa faz com que o investigador se contente com a primeira solução que lhe
surge à mente, solução que nem sempre é a melhor. Quando se dá um tempo para
elaborar melhor as idéias a qualidade das soluções apresentadas são geralmente
melhores. É como diz o ditado: a pressa é inimiga da perfeição.
Realidade e fantasia- Uma pessoa criativa precisa ter a capacidade de fantasiar
livremente sobre os diversos temas, mas precisa também saber distinguir realidade de
fantasia. Se as fantasias se tornam muito realísticas elas se tornam menos controláveis
inibindo a nossa capacidade criativa. É pois importante controlar sua imaginação e ter
completo acesso a ela. A pessoa criativa, além de formar imagens, precisa manipular e
recriar essas imagens usando todos os seus sentidos. A grande vantagem da imaginação
é que através dela podemos criar coisas totalmente diferentes do que acontece na
realidade. Se, entretanto, começarmos a confundir realidade com fantasia, fica difícil
fantasiar sobre certas coisas. Para sermos mais criativos a nossa imaginação precisa
estar livre de todos os constrangimentos provenientes da realidade dos fatos.
BLOQUEIOS CULTURAIS: São adquiridos através da exposição a um determinado
conjunto de padrões culturais.
Tabus- Ao trabalhar com problemas dentro da privacidade de nossas mentes não
precisamos ficar preocupados com a violação de tabus. As crianças são mais criativas
que os adultos, talvez porque a nossa cultura drena as brincadeiras, a fantasia e a
reflexão das pessoas acrescentando mais estresse no valor das atividades mentais
canalizadas.
Humor na Resolução de Problemas - Dizer que a não há espaço para o humor
na resolução de problemas é também um bloqueio! As pessoas criativas são, em geral,
bem humoradas, sendo o humor presente de muitas formas.
Razão e Intuição - O bloqueio contra emoção, sentimento e prazer, origina-se
de nossa herança puritana e em nossa cultura baseada na tecnologia. No passado, era a
mulher quem tinha de ser sensível, emocional, apreciadora das belas-artes, intuitiva. O
homem tinha de ser bruto, físico, pragmático, lógico e profissionalmente produtivo.
Obedecer a estes limites pode prejudicar seriamente pessoas de ambos os sexos.
Pensamento dos Lados Direito e Esquerdo - O hemisfério esquerdo do cérebro
contém as áreas associadas com o controle da fala e da audição, estando também
relacionado com as atividades analíticas. O hemisfério direito governa a percepção
espacial, a síntese de idéias e a apreciação estética da arte e da música. Uma ênfase num
dos tipos de pensamento – e descaso com o outro – é um bloqueio cultural.
O pensamento do lado esquerdo e a criatividade primária são mais complicados
de se explicar e predizer, assim como menos consistentes que o pensamento do lado
direito e a criatividade secundária.
Tradição e Mudança - O problema surge quando os indivíduos se tornam tão
universalmente favoráveis à tradição que não podem ver a necessidade e o desejo de
mudança em áreas específicas.
BLOQUEIOS AMBIENTAIS: e os bloqueios ambientais são impostos por nosso
ambiente social e físico imediato. Algumas pessoas podem ter um ambiente especial no
qual sejam mais eficientes em atividades de criação. É absolutamente necessário que
haja uma atmosfera de incentivo, confiança e honestidade para que as pessoas explorem
ao máximo sua capacidade criativa. Mas, muitas vezes o sucesso depende da
capacidade de aceitar e incorporar críticas, o que é difícil. Precisamos converter a aula
numa situação amigável, interativa e não-competitiva, na qual as pessoas assumirão o
risco de expor umas às outras suas idéias mais implausíveis. A competição e a falta de
confiança destroem um ambiente de trabalho (roubo de idéias e ciúmes).
Chefes com respostas prontas são um problema específico da profissão da
engenharia. Para aperfeiçoar a produção de um grupo, um gerente precisa estar disposto
e apto para encorajar seus subordinados a pensarem criativamente e recompensá-los
quando forem bem-sucedidos. A carência de patrocínio também é um bloqueio
ambiental muito poderoso.
BLOQUEIOS DE INTELECTO E DE EXPRESSÃO
A escolha da linguagem para resolver um problema é difícil não apenas devido à
escolha normalmente inconsciente, mas também devido à ênfase pesada no pensamento
verbal em nossa cultura. É aconselhável dispensar algum esforço consciente pensando
sobre estratégias.
É extremamente importante a utilização de informações corretas e adequadas.
Um bloqueio de intelecto que impeça a pessoa frente a problemas e adquirir
informações balanceadas e pertinentes pode ser desastroso.
O bitolamento bloqueia a criação, mas um especialista pode sempre ver o mundo
de novas formas, como um engenheiro elétrico aberto à aspectos mecânicos. A
habilidade inadequada de linguagem e a imprecisão na nossa expressão verbal, entre
outros bloqueios de expressão, são bloqueios extremamente comuns no ramo da
engenharia.
LINGUAGENS ALTERNATIVAS DO PENSAMENTO
O solucionador de problemas bem equipado é fluente em muitas linguagens
mentais. Algumas dessas formas são mais "naturais" que outras. O pensamento verbal é
a linguagem mais prestigiada de nossa cultura. Muitos psicólogos acreditam em geral
que a linguagem verbal é a base do pensamento.
Se mais pessoas usassem a matemática na resolução de problemas a qualidade
geral das soluções seria beneficiada. Outra linguagem muito importante é a visual. Mas
as pessoas vêem mal por diversas razões, dentre as quais o excesso de informações e a
falta de motivação. As imagens mentais, através da mentalização, são, provavelmente,
as mais importantes para o criador, cuja qualidade envolve a nitidez das imagens e a
capacidade de manipulá-las.
A capacidade de visualizar imagens é extremamente complexa, dependendo
também da quantidade de imagens relevantes guardadas na mente. Mas para explorar ao
máximo a linguagem visual faz-se necessário também desenhar.
A visão tende a ser o sentido predominante de um ponto de vista psicológico,
mas não se pode deixar que a forma visual se sobreponha a todas as outras formas
sensoriais. Para as pessoas diante de problemas, olfato, som, paladar e tato são de
importância vital por três razões: Podem ser a chave para soluções imaginativas e
ignoradas; podem ser requeridos em determinados problemas; se auxiliam entre si.
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APRENDENDO A PENSAR Texto baseado no livro: Idéias Criativas