PORTUGUÊS
REDAÇÃO
Redija uma dissertação a tinta, desenvolvendo um
tema comum aos textos abaixo.
Texto I
Texto II
Texto III
Para “pegar o bonde” da moda, assumimos
muitas vezes comportamentos estereotipados. Nesses
casos, o discurso “politicamente correto” torna-se
vazio de sentido. Criticamos e avaliamos as situações
somente porque, afinal, todos o fazem. A crítica,
assim, perde sua função. Condenar políticas governamentais, consumismo, ou sair em defesa da preservação do meio ambiente, dos direitos humanos etc
são, sem dúvida, atitudes “politicamente corretas”.
Mas, se desvinculadas de uma prática coerente, não
passam de modismo, que impede o exercício do verdadeiro espírito crítico.
_________________________________________________
Texto I
01 Na semana passada, ouvi uma senhora suspirar: —”Tudo
02 anda tão confuso!”. E, de fato, o homem moderno é um pobre
03 ser dilacerado de perplexidades. Nunca se duvidou tanto. Outro
04 dia, um diplomata português perguntou se a mulher bonita era
05 realmente bonita. Respondi-lhe: — “Às vezes”.
06 Já escrevi umas cinqüenta vezes que a grã-fina é a
07 falsa bonita. Seu penteado, seus cílios, seus vestidos, seu decote,
08 sua maquiagem, suas jóias — tudo isso não passa de uma
09 minuciosa montagem. E se olharmos bem, veremos que sua
10 beleza é uma fraude admirável. Todos se iludem, menos a própria.
11 No terreno baldio, e sem testemunhas, ela há de reconhecer
12 que apenas realiza uma imitação de beleza.
13 Portanto, a pergunta do diplomata português tem seu
14 cabimento. E minha resposta também foi justa. Às vezes, a
15 mulher bonita não é bonita, como a grã-fina. Mesmo as que são
16 bem-dotadas fisicamente têm suas dúvidas.
Crônica de Nelson Rodrigues
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
Comentário de Redação
Duas tiras e um fragmento foram apresentados como material de que extrair o tema a ser
desenvolvido pelo candidato numa dissertação. Na primeira, a mãe repreende o filho por supostamente
estar jogando videogame (o que, segundo “especialistas”, “deixa as crianças agressivas”), mas se tranqüiliza ao constatar que o garoto está “apenas” torturando um gato. Na segunda tira, o paradoxo é ilustrado na advertência feita ao viking que está prestes a
defender-se, com a espada, de um dragão furioso: o
dragão deveria ser poupado, pois a espécie estaria em
extinção.
Em ambos os casos, depreende-se uma crítica irônica ao que se convencionou chamar de “politicamente correto”, abordado no terceiro texto como
mero “modismo, que impede o exercício do verdadeiro espírito crítico”.
Com base nesses estímulos, o candidato deveria proceder a uma análise dos “comportamentos
estereotipados” que a maioria, desprovida de senso
crítico, adota, preocupando-se apenas em estar em
sintonia com o pensamento predominante. Caberia,
assim, observar que, embora as ditas causas “politicamente corretas”, tais como as políticas, ambientais
ou humanas, sejam de fato importantes, quando desvinculadas de ações igualmente corretas esvaziam-se
em si mesmas, o que só contribui para a perpetuação
de abusos e injustiças.
1 a
Assinale a alternativa correta sobre o texto I.
a) No primeiro parágrafo, o cronista, a partir de uma
situação vivida, tece comentário geral sobre a instabilidade dos valores do seu tempo.
b) No primeiro parágrafo, o cronista, após ouvir a afirmação sobre a perplexidade do homem moderno,
não soube responder ao diplomata se a grã-fina era
realmente bonita.
c) De acordo com o cronista, a dúvida sobre os valores
do homem moderno advém do espírito filosófico e
não da observação direta dos fatos.
d) A resposta dada ao diplomata português (Às vezes)
contradiz a observação feita pela senhora (Tudo
anda tão confuso!).
e) No último parágrafo, o cronista conclui que a dúvida
sobre a beleza feminina se deve apenas à minuciosa montagem da grã-fina.
Resolução
A alternativa a descreve adequadamente o conteúdo
do 1º parágrafo do texto, no qual o autor, partindo de
uma observação que ouviu de “uma senhora”, faz
consideração de caráter geral sobre “o homem moderno”. As demais alternativas discrepam, claramente, do conteúdo do texto.
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
2 d
Sobre o texto I é correto afirmar:
a) cinqüenta vezes (linha 6), antecedido de umas,
remete a um modo de dizer que busca a precisão.
b) o segundo parágrafo avalia pejorativamente todas as
mulheres, que freqüentemente se preocupam com
a aparência.
c) em tudo isso não passa de uma minuciosa montagem (linhas 8 e 9), o verbo concorda com o sujeito
composto antecedente: seu penteado, seus cílios,
seus vestidos, seu decote...
d) a metáfora do terreno baldio (linha 11) sugere o
espaço desabitado em que é dispensável a ostentação da minuciosa montagem.
e) falsa bonita (linha 7) relaciona-se, por oposição de
sentido, a fraude admirável (linha 10) na caracterização da mulher.
Resolução
A “minuciosa montagem” e que, segundo o autor,
consistiria a beleza da “grã-fina”, destinar-se-ia a iludir
a “todos”, mas não iludiria à própria mulher. Nesse
contexto, o “terreno baldio” representaria o espaço
em que a mulher se veria a sós consigo, despido dos
artifícios destinados a iludir os outros.
3 b
Assinale a alternativa correta sobre o último parágrafo
do texto I.
a) Se o texto (linha 15) se referisse a homem bonito
estaria correta a expressão como o grão-fino.
b) O uso de também (linha 14) indica que o cronista
considera justa a pergunta do diplomata português.
c) Na linha 15 está subentendido o segmento destacado em: como a grã-fina poderia ser bonita.
d) Portanto (linha 13) introduz uma explicação relativa
ao que se afirma na oração anterior.
e) Em seu cabimento (linhas 13 e 14), o pronome
expressa posse relativa ao diplomata português.
Resolução
Ao afirmar — “minha resposta também foi justa” —, o
autor está considerando “justo” aquilo que antes mencionara — “a pergunta do diplomata português”. Em
a, o correto seria “grã-fino”; em c, o predicado elipticamente atribuído a “grã-fina” e “não é bonita”; em d,
o erro está em que “portanto” introduz uma conclusão
que deriva de todo o parágrafo anterior, e mesmo de
todo o texto anterior, não apenas da “oração anterior”;
em e, “seu” se refere à pergunta do diplomata, não ao
próprio diplomata.
4 e
Reescrevendo-se o trecho um diplomata português
perguntou se a mulher bonita era realmente bonita em
discurso direto, tem-se, corretamente:
a) Um diplomata português perguntou: — Se a mulher
bonita era realmente bonita?
b) Um diplomata português perguntou: — Quando a
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
mulher bonita é realmente bonita?
c) Um diplomata português perguntou se: — A mulher
bonita era realmente bonita?
d) Um diplomata português perguntou: — E se a
mulher bonita for realmente bonita?
e) Um diplomata português perguntou: — A mulher
bonita é realmente bonita?
Resolução
Na passagem da frase em discurso indireto – “um
diplomata português perguntou se a mulher bonita era
realmente bonita” – para o discurso direto – “Um
diplomata português perguntou: — A mulher bonita é
realmente bonita?” – observa-se a mudança de pontuação, ou seja, aparecem os dois pontos que introduzem a fala do narrador, precedida de um travessão e
encerrada por um ponto de interrogação, o que configura uma fala em um diálogo. Outra mudança envolve
o tempo verbal: o imperfeito do discurso indireto
(“era”) corresponde ao presente (“é”) do discurso
direto.
Texto II
01 Cuido haver dito, no capítulo XIV, que Marcela morria de amores
02 pelo Xavier; Não morria, vivia. Viver não é a mesma coisa que
03 morrer; assim o afirmam todos os joalheiros deste mundo, gente
04 muito vista na gramática. Bons joalheiros, que seria do amor se
05 não fossem os vossos dixes* e fiados? Um terço ou um quinto
06 do universal comércio dos corações. (…) O que eu quero dizer
é
07 que a mais bela testa do mundo não fica menos bela, se a cingir
08 um diadema de pedras finas,. nem menos bela, nem menos
09 amada. Marcela, por exemplo, que era bem bonita, Marcela
10 amou-me ( …) durante quinze meses e onze contos de réis;
nada
11 menos.
* Dixes: jóias, enfeites
Machado de Assis - Memórias póstumas de Brás Cubas
5 a
No texto II, o narrador
a) faz críticas sutis sobre o caráter de Marcela.
b condena explicitamente o universal comércio dos
corações.
c) afirma que as jóias tornam as mulheres mais belas.
d) confirma o sentido cristalizado da expressão morrer
de amores.
e) enaltece o espírito fraternal e humanitário dos joalheiros.
Resolução
As ironias do narrador, ao descrever o comportamento
de Marcela (“não morria, vivia [de amores]”, “amoume… durante quinze meses e onze contos de réis”),
equivalem a “críticas sutis” ao caráter da moça.
(Note-se a impropriedade da redação desta alternativa:
“críticas… sobre…,” onde o adequado seria “críticas
a”, pois o uso da preposição sobre ativa um sentido
diferente do substantivo “crítica”. Ver, a respeito, o
Dicionário Prático de Regência Nominal, de C.P. Luft,
s.v. crítica.)
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
6 d
Assinale a alternativa correta sobre o texto II.
a) Em morria de amores pelo Xavier (linhas 1 e 2), de
amores tem a função de adjunto adverbial de intensidade.
b) Em assim o afirmam todos os joalheiros (linha 3), o
pronome oblíquo o retoma o período Não morria,
vivia (linha 2).
c) Em assim o afirmam todos os joalheiros (linha 3),
joalheiros é complemento do verbo afirmar.
d) O narrador surpreende o leitor ao utilizar o aposto
gente muito vista na gramática (linhas 3 e 4) para
caracterizar joalheiros.
e) Ao dizer Não morria, vivia (linha 2), o narrador, através de uma antítese, confirma que Marcela padecia
de amores por Xavier.
Resolução
Ao enfatizar a diferença entre viver e morrer de amores, o autor invoca com humor irônico, a autoridade
dos joalheiros em ... gramática! Na verdade, isso é surpreendente, já que os joalheiros podem ser dados
como entendidos no comércio de jóias, que seria favorecido pelas mulheres que vivem, não pelas que
morrem de amores . Por isso, a diferença entre os dois
verbos seria decisiva para os interesses comerciais
dos joalheiros – interesses que, nesse ponto, se cruzariam com considerações semânticas e, pois, gramaticais.
Os erros das demais alternativas são
a) de amores – adjunto adverbial de causa;
b) o pronome o – retoma “Viver não é a mesma coisa
que morrer”;
c) joalheiros – não é complemento e, sim, sujeito do
vergo “afirmar”;
“Não morria, vivia” significa, não que Marcela “padecia de amores por Xavier”, mas sim que ela se aproveitava das relações que mantinha com o amante.
7 e
Assinale a alternativa correta sobre Machado de Assis.
a) Embora tenha sido um dos maiores escritores brasileiros do século XIX, não conseguiu em vida o
reconhecimento de sua obra.
b) Uma de suas linhas temáticas está presente na valorização do comportamento do homem burguês.
c) Introduziu o Realismo no Brasil em 1881, mas enveredou para o estilo naturalista ao tematizar aspectos
patológicos do comportamento.
d) Uma das marcas de seu estilo é a linguagem crítica,
que se apresenta de maneira direta e seca.
e) Vivendo num período de culto ao cientificismo,
questionou lucidamente o valor absoluto das verdades científicas.
Resolução
Com efeito, Machado de Assis foi um autor realista
OBJETIVO
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acima dos modismos de sua época. Não há em sua
obra uma adesão aos postulados do Determinismo, do
Positivismo e do Evolucionismo, nem aderiu ao
romance de tese. Ao contrário, relativizou as verdades
supostamente científicas, evidenciando as fraturas
entre a essência e a aparência. O conto “O Alienista”
é uma sátira impiedosa à presunção da ciência que se
quer dona da verdade. A teoria irônico-filosófica do
Humanitismo, posta na boca do “filósofo-doido” Quincas Borba, pode ser lida também como uma paródia
irônica das leis biológicas da seleção natural, deslocadas do campo da natureza, a que são pertinentes, para
o campo das relações humanas e sociais, onde se
degradam na convalidação antiética da “lei do mais
forte”. As demais alternativas são notoriamente incorretas:
Em a, Machado foi, em vida, reconhecido como a
maior expressão do romance nacional, por uma quase
unanimidade de crítica e de público, e eleito, por aclamação, primeiro presidente da Academia Brasileira de
Letras, que nasceu com ele.
Em b, a posição da obra de Machado de Assis é de crítica a diversos aspectos do mundo burguês.
Em c, ainda que a loucura tenha sido um tema freqüente da ficção machadiana, não é pelo viés naturalista do determinismo biológico e social que ele examina a vasta galeria de loucos e esquisitos que criou.
Em d, não se aceita a “maneira direta e seca”, incompatível com o tom marcadamente digressivo e humorístico de sua melhor ficção.
8 c
Considere as seguintes afirmações sobre os textos I e
II.
I - Em II, a beleza da mulher depende das jóias sofisticadas feitas por bons joalheiros.
II - Em I, o cronista considera sua resposta justa,
depois de explicitar os argumentos que apoiaram
seu raciocínio.
IlI - Em I e II, são feitos comentários sobre o comportamento da mulher sem que se considere o ponto
de vista feminino.
Assinale:
a) se todas estiverem corretas.
b) se apenas I e III estiverem corretas.
c) se apenas II e III estiverem corretas.
d) se apenas III estiver correta.
e) se nenhuma estiver correta.
Resolução
A afirmação I não se justifica, pois no texto de
Machado de Assis, diferentemente do de Nélson
Rodrigues, as jóias não são vistas como elementos de
uma “montagem” que criaria a ilusão de beleza. Para
Machado, elas seriam fatores, não de beleza, mas de
comércio amoroso.
Texto III
01 Vocês mulheres têm isso de comum com as flores, que umas
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MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
02 são filhas da sombra e abrem com a noite, e outras são filhas
da
03 luz e carecem do Sol. Aurélia é como estas; nasceu para a riqueza.
04 Quando admirava a sua formosura naquela salinha térrea de
05 Santa Teresa, parecia-me que ela vivia ali exilada. Faltava o
06 diadema, o trono, as galas, a multidão submissa; mas a rainha
07 ali estava em todo o seu esplendor. Deus a destinara à opulência.
9 c
De acordo com o texto III,
a) as mulheres feias são flores noturnas e as bonitas,
flores diurnas.
b) a afirmação de caráter particular do primeiro período
é generalizada na seqüência do texto.
c) a formosura da personagem (linha 4) contrasta com
o espaço caracterizado como salinha térrea (linha 4).
d) para que Aurélia fosse bela faltava o diadema, o
trono, as galas, a multidão submissa.
e) a beleza e a riqueza são elementos contraditórios no
perfil da mulher ideal.
Resolução
A formosura do personagem é definida como luminosa, solar, ou seja, destinada à exposição esplendorosa, não ao recolhimento discreto próprio das
mulheres “noturnas”. Assim, tal formosura, voltada
para o “esplendor” e a “opulência” da grande representação social, contrastaria com a “salinha”, que
seria um espaço de privacidade e discrição.
10 e
Do texto III depreende-se que
a) romances românticos regionalistas, como Senhora,
exaltam a beleza natural feminina.
b) os romances realistas de Aluísio Azevedo denunciam o artificialismo da beleza feminina.
c) as obras modernistas têm, entre outros, o objetivo
de criticar a submissão da mulher à riqueza material.
d) a linguagem descritiva dos escritores naturalistas
caracteriza a sensualidade e a espiritual idade da
mulher.
e) a personagem feminina foi caracterizada sob a perspectiva idealizadora típica dos autores românticos.
Resolução
A descrição de Aurélia Camargo tipifica exemplamente a idealização romântica da mulher: a comparação
enaltecedora com a natureza e a imagem da “rainha”,
cercada de todos os atributos de uma idealizada
majestade: “diadema”, “trono”, “galas”, “multidão
submissa”, que visam a revestir a figura feminina de
uma aura aristocratizante, bem ao gesto dos folhetins
galantes e sentimentais da época de Alencar.
Texto IV
Embalo da canção
01 Que a voz adormeça
02 que canta a canção !
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
03 Nem o céu floresça
04 nem floresça o chão.
05 ( Só – minha cabeça,
06 ( Só – meu coração.
07 Solidão. )
08
09
10
11
Que não alvoreça
nova ocasião!
Que o tempo se esqueça
de recordação !
12 ( Nem minha cabeça
13 nem meu coração.
14 Solidão! )
Cecília Meireles
11 b
Assinale a alternativa correta sobre o texto IV.
a) As formas verbais presentes na primeira estrofe
expressam certezas.
b) A redundância de paralelismos concretiza o ritmo
sugerido no título do poema.
c) O uso dos travessões (versos 5 e 6) atenua o sentido de solidão.
d) Na terceira estrofe, a recordação do passado é ironizada pelo eu.
e) Na terceira estrofe, nova ocasião e recordação referem-se a experiências vividas num mesmo momento do passado.
Resolução
A única alternativa aceitável é a b, apenas de mal redigida (“redundância” é, no caso, expressão inadequada, pois paralelismo implica repetição; impróprio,
também, é o uso de “concretiza”, em lugar de “configura” ou algo semelhante). Com o efeito, o “embalo”
do título descreve o rítmo obtido graças a estruturas
sintáticas que se repetem, ora seja, graças aos paralelismos sintáticos.
12 d
Assinale a afirmação correta sobre o texto IV.
a) Na primeira estrofe, o eu cita experiências do passado.
b) alvorecer e florescer expressam o gesejo de um
mundo melhor.
c) Em nem floresça o chão tem-se oração sem sujeito.
d) A quarta estrofe retoma a segunda para aprofundara idéia de solidão.
e) A forma verbal adormeça expressa o apelo a um tu,
a quem o eu se dirige.
Resolução
A quarta estrofe é paralela à segunda, ou seja, simetricamente equivalente a ela, do ponto de vista sintático.
Semanticamente, há de fato, uma intensificação (ou
“aprofundamento”, nos termos do Examinador) da
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
“idéia de solidão”, pois o que antes era afirmado, com
a exclusividade do “só” passa a ser negado com reiteração do “nem”.
13 a
Considerando o texto IV, assinale a alternativa correta
sobre Cecília Meireles.
a) Reincorporou à lírica do Modernismo a temática intimista, aliada à modulação de metros breves mais
tradicionais.
b) Influenciada pelo experimentalismo estético, buscou, na concisão dos versos livres, a objetividade
expressiva.
c) Conciliou o ideal de impassibilidade da expressão
poética ao visionarismo de quadros bucólicos.
d) Sua linguagem prosaica representa o ponto alto da
poesia modernista brasileira.
e) Inovou a poesia brasileira, desenvolvendo a temática religiosa em sonetos de inspiração camoniana.
Resolução
Ainda que imprecisa, a alternativa identifica duas
características que se reconhecem constantes na poesia de Cecília Meireles: o tom intimista de sua dicção,
próxima da tradição simbolista, e a predileção por
metros breves, tradicionais (na composição, predominam os redondilhos maiores). A impropriedade,
que não invalida o teste, está na afirmação de que se
deva a Cecília Meireles a reincorporação à lírica do
Modernismo dos aspectos temáticos e formais que
realmente a notabilizaram, mas que são comuns aos
seus contemporâneos da chamada “corrente espiritualista” e não estiveram completamente ausentes do
Primeiro Modernismo (leiam-se os poemas de Remate
de Males e Lira Paulistana, de Mário de Andrade e
mesmo o Cântico dos Cânticos para Flauta e Violão, de
Oswald de Andrade, sem falarmos em parte substancial da poesia de Manuel Bandeira, que jamais renunciou à notação lírica e intimista, mesmo em meio à
fúria iconoclasta da “Fase Heróica” do Modernismo.
14 d
Dentre os autores da geração literária de Cecília
Meireles, destaca-se
a) Jorge Amado, autor de Menino de engenho, obra
que, denunciando a exploração da mão-de-obra
infantil, deu início ao regionalismo crítico brasileiro.
b) Vinicius de Moraes, poeta de inspiração parnasiana,
que incorporou nos sonetos o experimentalismo
estético da segunda geração modernista.
c) Carlos Drummond de Andrade, poeta emotivo e
confessional, que se manteve distante das conquistas estéticas da geração modernista de 22.
d) Graciliano Ramos, que escreveu romance de temática regionalista, denunciando a trágica condição de
sobrevivência dos retirantes nordestinos.
e) Guimarães Rosa, escritor de ficção intimista, que,
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
utilizando-se do fluxo de consciência, promoveu a
ruptura da estrutura narrativa linear.
Resolução
Questão elementar de cronologia literária: o que se diz
de Graciliano Ramos na alternativa é inquestionável. O
romancista alagoano foi, efetivamente, contemporâneo
de Cecília Meireles, ainda que expresse uma outra vertente do Segundo Tempo Modernista, a do romance
regionalista nordestino de feição neo-realista, e que se
coloque na dimensão oposta do gosto pelo vago, pelo
indefinível e pelo delicadamente melodioso. Graciliano
é um cultor da clareza, da objetividade obsessiva, da
linguagem áspera e descarnada.
Texto V
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O Mundo todo abarco e nada aperto.
Camões
15 b
Assinale a alternativa correta sobre o texto V.
a) A dúvida sugerida no primeiro verso é sobre o
mundo exterior.
b) As orações coordenadas (verso 3) desenvolvem o
sentido sugerido pelo adjetivo incerto.
c) Juntamente introduz ações que alternativamente se
excluem.
d) Abarcar é antônimo de conter e encerrar.
e) O mundo todo representa aquilo de que o poeta
quer se afastar.
Resolução
As orações antitéticas coordenadas (“choro e rio”) são
uma das explicações apresentadas para a afirmação do
verso I: “Tanto de meu estado me acho incerto”.
16 a
Sobre o texto V, é correto afirmar:
a) de meu estado completa o sentido de incerto.
b) meu e me são pronomes que exercem a mesma
função sintática.
c) sem causa atenua a sensação de incerteza do eu.
d) aperto contradiz a idéia de “alcanço”.
e) vivo indica a primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo viver.
Resolução
A expressão “de meu estado” é um complemento
nominal do adjetivo “incerto”.
17 e
No verso Que em vivo ardor tremendo estou de frio
não ocorre:
a) paradoxo.
b) ordem inversa dos termos na oração.
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
c) relação de conseqüência com a oração anterior.
d) emprego de verbo no gerúndio.
e) equivalência sintática entre de frio e “poema de
Camões”.
Resolução
No verso “Que em vivo ardor tremendo estou de frio”
e no sintagma “poema de Camões”, as expressões
“de frio” e “de Camões” não apresentam equivalência sintática, pois “de frio” é um adjunto adverbial de
causa e “de Camões” é um adjunto adnominal.
18 b
Assinale a alternativa correta sobre Camões.
a) Além de usar metros mais populares, utilizou-se da
medida nova, especialmente nas redondilhas que
recriam, poeticamente, um quadro harmônico da
vida e do mundo.
b) O tema do desconcerto do mundo é um dos aspectos característicos de sua poesia, presente, por
exemplo, nos sonetos de inspiração petrarquiana.
c) Introduziu o estilo cultista em Portugal, em 1580,
explorando antíteses e paradoxos nos poemas de
temática religiosa.
d) Autor mais representativo da poesia medieval portuguesa, produziu, além de sonetos satíricos, a obra
épica Os Lusíadas.
e) Influenciado pelo Humanismo português, aderiu ao
cânone clássico de composição poética, afastandose, porém, das inovações métricas e dos modelos
greco-romanos.
Resolução
Realmente o tema do “desconcerto do mundo”, do
“mundo às avessas”, da desconformidade do mundo
real com as exigências internas do sujeito, é uma
constante na lírica camoniana e um tema de longa tradição, comum à maioria dos poetas de todos os tempos. O que se pode e deve objetar na redação da alternativa é a vinculação deste tema aos “sonetos de inspiração petrarquista”, uma limitação arbitrária: primeiro, porque também é um tema recorrente nas
Redondilhas de Camões; segundo, porque a “inspiração
petrarquista” projeta-se em outras direções, mais
notórias. Como redigido, tem-se a impressão de que
em todos os sonetos de inspiração petrarquista a nota
dominante seja o “desconcerto do mundo”.
Texto VI
LIBRA (23 set. a 22 out.)
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
Para alguns, o mundo é um
lugar em que imperam a
desordem e a fratura. Para
outros, como você, há uma
ordem, uma estética subjacente
a tudo que ocorre. Deixe os
outros pensarem o que quiserem. Não se perca por
isso. Se o seu desejo é resgatar essa harmonia, isso
faz parte de sua natureza.
Folha de São Paulo
Texto VII
ESCORPIÃO (23 out. a 21 nov.)
Ser implacável consigo torna a
vida mais límpida, mas muito
mais difícil. Mesmo assim, se
há sinceridade, você pode
seguir, olhando as formas borradas do que deixou para trás.
Em meio a alguns escombros, reluzem boas
lembranças. Apegue-se a elas, para se manter inteiro(a) e firme.
Folha de São Paulo
19 c
Sobre os textos VI e VII, é correto afirmar:
a) Expressões como estética subjacente e alguns
escombros comprovam o caráter científico da linguagem do horóscopo.
b) Horóscopos são escritos para leitores supostamente questionadores e incrédulos.
c) O eu que faz as previsões se apresenta como detentor de um saber maior.
d) A crença do leitor no destino astral é considerada
dispensável para que ele reoriente sua vida.
e) Iniciam-se por meio de um aconselhamento explícito ao leitor.
Resolução
A alternativa c é a mais aceitável, em vista dos erros
evidentes das demais (a: nada há de “científico”, nem
nas expressões destacadas, nem em qualquer horóscopo; b: o correto é o oposto, mas isso nada tem a ver
com os textos apresentados; d: nada, nos textos em
questão, implica que se exija ou dispense “a crença do
leitor no destino astral”; e: os textos não se iniciam
com aconselhamento, mas com considerações de
caráter geral sobre comportamentos humanos). Não
obstante, há um engano na alternativa c, pois não se
encontram “previsões” em nenhum dos dois textos
transcritos.
20 c
Considere as seguintes afirmações sobre os textos VI
e VII.
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
I - Ambos iniciam-se com vocativo, forma de apelo ao
leitor.
II - Os segmentos Para alguns, Para outros (texto VI) e
Mesmo assim (texto VII) exemplificam o modo
relativizador de argumentar.
III - O emprego do verbo no imperativo – Não se
perca, Apegue-se – confirma o tom de aconselhamento, típico desse gênero de texto.
Assinale:
a) se todas estiverem corretas.
b) se apenas I e II estiverem corretas.
c) se apenas lI e III estiverem corretas.
d) se apenas III estiver correta.
e) se nenhuma estiver correta.
Resolução
O erro de afirmação I deve-se a que os textos VI e VII
não se iniciam por vocativo e, sim, por um objeto indireto de interesse (“para alguns”, texto VI) e por uma
oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de
infinitivo (“ser implacável consigo”, texto VII).
OBJETIVO
MACKENZIE (1º Dia – Grupo I) Dezembro/2001
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