Universidade Federal do Paraná
Departamento de Zootecnia
Centro de Pesquisa em Forragicultura
(CPFOR)
GROBFUTTERBEWERTUNG
(Avaliação de Volumosos)
Daniel Junges
Patrick Schmidt
O presente artigo foi traduzido e adaptado de:
KAISER, E.; WEIβ, K.; NUβBAUM, H.J. et al. Grobfutterbewertung: Teil B –
DLG Schlüssel zur Beurteilung der Gärqualität von Grünfuttersilagen auf
Basis der chemischen Untersuchung. DLG Information 2/2006. Disponível
em:
<http://www.dlg.org/fileadmin/downloads/fachinfos/futtermittel/grobfutterbewertung_B.p
df>. Acesso em 04/5/2010.
Introdução
A conservação de forragens na forma de silagens é uma prática usual de
suplementação volumosa de bovinos em todo o mundo. O aumento da produtividade
dos animais, mediante confinamentos de gado leiteiro e de corte torna inevitável a
destinação de áreas específicas para o cultivo de grandes quantidades de forragem,
visando atender a demanda de consumo. A ensilagem é o método mais adequado
para a conservação desses alimentos volumosos que, quando bem feita, mantém as
qualidades nutricionais da planta, com perdas mínimas em qualidade e quantidade,
podendo ser utilizada como suplemento nos períodos de estacionalidade da produção
de pastagens, até como principal alimento volumoso no decorrer do ano.
Falhas no processo de produção, fermentação e uso da silagem podem
comprometer a qualidade desse alimento, principalmente na fase posterior à abertura
do silo, onde o ambiente torna-se novamente aeróbio, e a face exposta do silo fica
susceptível à degradação microbiana. As perdas decorrentes de problemas na
conservação da silagem, como: produção de efluentes, produção de gases e
deterioração no painel do silo podem chegar a 40% da massa ensilada (McDonald et
al., 1991).
A massa de forragem colhida traz junto consigo da lavoura uma
variada população de microrganismos epifíticos, benéficos ou não, que poderão se
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desenvolver durante o processo de fermentação da silagem, sendo o grau de
desenvolvimento das bactérias indesejáveis dependente das condições de presença
de oxigênio no meio. Assim, para uma boa silagem, preconiza-se um ambiente
totalmente anaeróbio.
Muitas vezes, em função da logística de transporte da forragem,
das deficiências na picagem, na compactação e na vedação do silo, além do uso de
adubação com esterco, pode ocorrer elevado crescimento de microrganismos
expoliadores na silagem. Um exemplo desses são as bactérias do gênero Clostridium,
causadoras de quebra de proteínas, elevação do pH e principalmente, produção de
ácido butírico, um ácido fraco e indicativo de má qualidade da silagem. Ainda, o
desenvolvimento de enterobactérias, fungos e leveduras em silagens é indesejável,
deixando como marcadores de sua ação a presença do ácido acético, pH elevado e
alta temperatura.
Por tanto, para que o produtor possa certificar-se da segurança
e qualidade da silagem produzida na propriedade, ou adquirida de outras fazendas,
torna-se importante a avaliação de compostos voláteis (ácido acético, ácido butírico) e
pH. Esses parâmetros são indicativos confiáveis da qualidade fermentativa da silagem.
A proposta desse artigo é apresentar uma nova forma de análise
do conjunto de variáveis fermentativas, para determinação da qualidade da silagem e
identificação de silagens de má qualidade. A metodologia apresentada permite
qualificar as silagens objetivamente através de notas, que podem ser comparadas
dentro e entre propriedades e produtores.
GROBFUTTERBEWERTUNG:
A chave para a NOVA AVALIAÇÃO da qualidade fermentativa de silagens
com base na análise química
A metodologia proposta para avaliação da qualidade fermentativa das
silagens serve para todos os tipos de forragens conservadas (silagens de
capim, leguminosas, cereais verdes, milho, e plantas inteiras, crucíferas e
folhas de beterraba) sendo uma técnica adequada independente do processo
de ensilagem, do teor de MS e da aplicação de aditivos químicos ou
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biológicos1. Para a avaliação de outros cereais úmidos, tubérculos, e
subprodutos da indústria vegetal (resíduo de cervejaria) ela é útil apenas
quando se refere a forragens que passaram por algum processo de
fermentação. A aplicação do método às silagens alcalinas é geralmente
inadequada.
Independente da avaliação, o sucesso na conservação é devido aos
cuidados na preparação da silagem. As perdas e degradação dos nutrientes
são características do processo fermentativo que podem ser medidas na
silagem, e que interferem significativamente na qualidade da fermentação da
silagem. Parâmetros fermentativos indicam a extensão das perdas de
nutrientes e energia, e a estabilidade de armazenamento da silagem sob
condições anaeróbias. De forma indireta, em circunstâncias adversas, indicam
a redução de consumo de silagem e os riscos para a qualidade da carne, do
leite e da saúde animal.
Em princípio, a avaliação da qualidade de fermentação pode ser obtida
avaliando-se componentes presentes ou desejáveis na silagem, tais como
açúcares, amido, proteínas, aminoácidos e ácido láctico. Para efeitos práticos,
porém, a qualidade de fermentação é melhor determinada pela relação entre
teores de material degradado indesejável.
Muitos estudos realizados na Universidade Humboldt, em Berlin,
Alemanha, têm mostrado que a qualidade de fermentação pode ser bastante
diferenciada, em grande parte devida à relação mútua entre o ácido butírico e o
ácido acético. A avaliação do pH fornece, na maioria das vezes, um adicional
valioso, como por exemplo qual a intensidade de acidificação, e se houve
perda da massa ensilada. Nesse trabalho, partes adicionais do nitrogênio total
e nitrogênio amoniacal podem ser desconsideradas para essa avaliação, uma
vez que a extensão de degradação da proteína esta suficientemente
considerada na avaliação do teor de ácido butírico.
A seguir, a NOVA AVALIAÇÃO, é apresentada. Ela é destinada
principalmente para o teste dos teores de ácido butírico e ácido acético (Tabela
1
NT: A metodologia desenvolvida na Alemanha ainda não foi testada com silagens de
gramíneas tropicais e cana-de-açúcar.
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1), e pH (Tabela 2), os quais devem ser avaliados individualmente pelos
escores propostos. A pontuação total da silagem é usada para emissão de um
parecer (resumo) da qualidade fermentativa da silagem (Tabela 3). A avaliação
aplica-se a silagem não-mofada, não-suja ou estragada.
Tabela 1. Avaliação dos teores de ácido butírico e ácido acético nas silagens
Ác. Butirico (% da MS)¹
pontos
Ác. Acético (% da MS)²
pontos
0 – 0,3
90
até 3,0
0
> 0,3 – 0,4
81
> 3,0 – 3,5
-10
> 0,4 – 0,7
72
> 3,5 – 4,5
-20
> 0,7 – 1,0
63
> 4,5 – 5,5
-30
> 1,0 – 1,3
54
> 5,5 – 6,5
-40
> 1,3 – 1,6
45
> 6,5 – 7,5
-50
> 1,6 – 1,9
36
> 7,5 – 8,5
-60
> 1,9 – 2,6
27
> 8,5
-70
> 2,6 – 3,6
18
> 3,6 – 5,0
9
> 5,0
0
¹ Ác. Butirico = i-butirato; n-butirato; i-valerato; n-valerato; e n-caproato.
² Ác. Acético = ácido acético + ácido propiônico
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Tabela 2. Avaliação dos níveis de pH em função dos teores de MS das silagens
Abaixo de 30% de MS
Entre 30 e 45% de MS
Acima de 45% de MS
pH
pontos
pH
pontos
pH
pontos
até 4,0
10
até 4,5
10
até 5,0
10
> 4,0 - 4,3
5
> 4,5 - 4,8
5
> 5,0 - 5,3
5
> 4,3 - 4,6
0
> 4,8
0
> 5,3
0
> 4,6
-5
Tabela 3. Resumo da qualidade da fermentação da silagem
Pontuação total (soma Tabelas 1 e 2)
Qualidade da fermentação
Nota
Classificação
Conceito
100 - 90
1
Muito bom
89 - 72
2
Bom
71 - 52
3
Necessidade de melhoria
51 - 30
4
Ruim
< 30
5
Muito ruim
Informações relevantes:
Analise dos resultados e referência
Todos os dados são importantes na avaliação dos componentes voláteis
das silagens (ácidos, álcoois, amônia), como também a correta mensuração do
teor de matéria seca da massa ensilada, e a concentração dos ácidos
corrigidos para a base seca. A utilização de uma análise de resultados sem a
correção do teor de MS, ou os resultados de conteúdo total de N, no caso de
boa qualidade de fermentação, geram pequenos desvios nos resultados da
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avaliação correta. Para silagens com deficiência na qualidade da fermentação,
os resultados seriam piores sem essas correções.
Outros aspectos de qualidade
É necessário considerar que a qualidade da fermentação é apenas parte
da qualidade no processo de ensilagem. A avaliação é demonstrada com base
na determinação dos teores dos ácidos butírico e acético, e do valor de pH,
mas deve ser sempre acompanhada de uma avaliação sensorial da silagem.
Isso serve para a percepção dos componentes não-regulares, que podem
indicar problemas sanitários existentes, tais como o mofo, a fermentação
secundária por fungos ou bactérias espoliadoras (apodrecimento). Além disso,
uma avaliação da durabilidade das silagens após a abertura dos silos
(estabilidade aeróbia) é desejável.
A avaliação da qualidade fermentativa complementa a avaliação do valor
nutritivo das silagens, ou seja, a concentração total de nutrientes e o conteúdo
energético, servindo também para a otimização das formulações de rações em
relação aos teores de nutrientes específicos (proteína bruta digestível,
componentes fibrosos, etc).
Determinação da pontuação por equações de regressão
Para a análise dos resultados do teste é recomendada a utilização de
um computador para calcular os valores de regressão nas equações a seguir:
Pontuação para concentração de ácido butírico:
Pontuação = -29,985 Ln (x) + 53,982; onde x = teor de ácido butírico
(Amplitude da pontuação = 0... 90 limite)
Pontuação para concentração de ácido acético:
Pontuação = -59,158 Ln (x) + 63, 256; onde x= conc. ác. acético
(Amplitude da pontuação = 0... - 70 limite)
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Pontuação para valores de pH:
Tabela 4. Aplicação para silagens com MS ≤ 30%
até pH 4,0
10 pontos
pH entre 4,0 – 4,6
Pontuação de acordo com fórmulas 1 ou 2
pH > 4,6
- 5 pontos
F1: Pontuação = 186,9 + 4,827 x² - 63,645 x; onde x = valor de pH .
F2: Pontuação = 10 - 25(x - 4,0)
Tabela 5. Aplicação para silagens com MS entre 30 e 45%
até pH 4,5
10 pontos
pH entre 4,5 – 4,8
Pontuação de acordo com fórmulas 3 ou 4
pH > 4,8
0 pontos
F3: Pontuação = 658,2 + 23,81x² - 251,19x; onde x = valor de pH.
F4: Pontuação = 10 - 33,3 (x - 4,5)
Tabela 6. Aplicação para silagens com MS > 45%
até pH 5,0
10 pontos
pH entre 5,0 – 5,3
Pontuação de acordo com fórmulas 5 ou 6
pH > 5,3
0 pontos
F5: Pontuação = 789,76 + 23,81x² - 275x; onde x = valor de pH.
F6: Pontuação = 10 - 33,3 (x - 5,0)
Considerações finais
A qualidade das silagens é um fator crítico nos sistemas de produção de
ruminantes, não só no Brasil como em todo o mundo. Em muitas situações,
tomadas de decisão inadequadas produzem volumosos de elevado custo e
baixa qualidade. Ainda, o risco de contaminação dos animais e de seus
produtos derivados, como carne e leite, é preocupação crescente nos sistemas
que utilizam silagens na alimentação.
Ferramentas como a aqui apresentada visam alertar o produtor dos
possíveis problemas encontrados nas silagens, visando contribuir para que
medidas corretivas possam ser adotadas nas próximas atividades de
ensilagem, assegurando alimento de qualidade para os animais e segurança
na qualidade dos produtos.
Literatura citada
McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of silage.
2.ed. Merlow: Chalcomb Publications, 1991. 340 p.
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