Beleza II Uma coisa muito importante anda acontecendo por aqui, no Brasil, no que diz respeito ao padrão de beleza imposto às mulheres. A beleza da mulher é seu ponto forte para atrair os homens com os quais deseja tem relacionamentos amorosos. A biologia dos seres humanos é feita assim, até mesmo porque os traços de beleza, como já dissemos em outro artigo, representam sinais orgânicos de boa saúde e boa capacidade de gerar filhos fortes. Então, é natural que as mulheres procurem ser belas. E é nesse ponto que a cultura e a modo influenciam o pensamento de todos, dando um padrão do que é considerado “bonito” e que as mulheres devem seguir. Tem sido assim pelos séculos. Desde o Egito Antigo, onde foram inventados os princípios da maquiagem, até as modernas técnicas de cirurgia plástica. A beleza, diga-se de passagem, serve apenas para chamar a atenção, fazer com que o homem dê o primeiro passo, mas depois, o que vai valer é a capacidade da mulher de ser agradável e interessante. Mas, o que se tem visto é que há um verdadeiro bombardeio por todos os lados para que a mulher fique muito “bonita”: as novelas apresentam coleções de mulheres bonitas, que se submeteram a diversas e caras cirurgias plásticas, que mantém rigorosos programas de ginástica especializada e alimentação super balanceada, tendo para isso, todos os recursos e tempo do mundo, pois seu corpo é um verdadeiro empreendimento. Isso, em si, já é uma “covardia”, pois esses recursos não estão disponíveis para a grande maioria das mulheres. Desse modo, a beleza já não é mais um dom divino, uma sorte de nascença, mas algo que está ao alcance de se conseguir. Isso já gera uma tensão enorme nas mulheres. Some-se a isso ainda o fato de que as mulheres conseguem fama, prestígio, fortuna e realização quando conseguem atingir esse ideal de beleza. É o que a carreira de modelo sugere, ou atriz. Resultado: o Brasil exporta tecnologia para cirurgia plástica, é o número um do mundo em quantidade de cirurgias realizadas, a busca por uma carreira de modelo já virou mania (não há uma garotinha que não pense em ser modelo, não há uma mãe que não pense que sua filha poderia se tornar uma modelo famosa), gerando uma verdadeira indústria da moda e do modelo. É claro que isso tem um lado positivo: muita gente fazendo ginástica e muita gente se preocupando com sua boa forma. Mas, tem um lado negativo: os transtornos alimentares estão se tornando um caso de saúde pública, e os padrões estão se tornando tão altos e a pressão social tão grande que a enorme maioria das mulheres acaba sofrendo de um forte grau de ansiedade e insatisfação consigo mesmo, por não atingi-los. O resultado é uma baixa auto-estima e dificuldades que não existiriam sem essa pressão toda. Agora, a tecnologia deu o golpe fatal! Os programas de computador para tratamento de imagem são largamente utilizados em revistas masculinas. O resultado é que aquela mulher perfeita que aparece nos ensaios fotográficos simplesmente não existe. Tudo é corrigido, desde pintas até celutile ou mesmo recortadas porções do corpo. Há algumas décadas, isso era feito por meio de desenhos, as famosas pinp-ups, as conhecidas Mulheres de Vargas ou de Elvgren. E a beleza real de mulheres como Marilyn Monroe ou Bettie Page. Mas, havia clara distinção entre o que era fantasia e o que era real. Hoje, isso se confundiu. O que acontece é que a mulher de verdade nunca conseguirá se igualar a esse padrão fictício que até mesmo o cinema com recursos de computação gráfica passa para todos como o padrão real de beleza atual. A mulher se compara e se entristece, porque fica longe disso. O homem procura esse padrão e não encontra. De modo que todos ficam insatisfeitos. A busca da beleza, o cuidado consigo mesmo, é uma coisa muito saudável, mas precisamos todos ficar atentos e não cair no chamariz dos meios de comunicação para consumirmos um padrão irreal e termos nossa vida pessoal abalada por isso. E especialmente, não focar tanto a forma assim, mas não se esquecer que o encanto feminino está baseado principalmente na sua capacidade de criar um ambiente sedutor e de envolvimento pessoal, de aceitação, bem querer, proximidade e desejo. João Paulo Correia Lima Psicólogo clínico – Diretor Científico da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática E-mail [email protected]