Negócios da China Seja qual for o seu negócio, uma coisa você tem em comum com Bill Gates: uma vez por semana (no mínimo) alguém aparece com uma proposta sensacional envolvendo Internet. Se você desconfiou do sujeito e não deu bola, tem mais um ponto em comum com Bill. As semelhanças devem morrer por aí, pois se o pai do Windows quase perdeu o bonde da Web, logo correu atrás do dito cujo e hoje está sentado na janelinha. É difícil separar o joio do trigo quando o assunto é Web. As maravilhas são tantas, as bobagens são tantas, que corremos dois riscos: ou nos entupimos de informação e ficamos rotundos, ou vomitamos tudo, e anorexia já não é mais chique. Essa síndrome de febre e delírio é recorrente na nossa história. Mapas antigos têm serpentes marinhas, dragões e povos bizarros, tal e qual reportagens sobre perversões na internet. Portugueses e espanhóis morreram na selva buscando cidades de ouro, mais ou menos como alguns empresários que eu conheço. Essa reação febril da humanidade parece ser normal quando ela se depara com algo estranho, algo que não consegue digerir. Pense num suíço com overdose de jaca, por exemplo. Ou pense em Marco Polo. Marco Polo era macho. Botar o pé na estrada rumo à China hoje é uma aventura mediana. Há quinhentos anos era uma temeridade. E ele foi. O escritor Italo Calvino escreveu um livro sobre Polo, o livro "Cidades Invisíveis". Nele, o veneziano presta serviços ao Grande Khan. O imperador mongol conquistou tantas terras que não tem como conhecê-las todas, e incumbe Polo de percorrer o reino e contar tudo o que viu. É maravilhoso. (Aliás, o Natal está aí, e se você tem amigos muito queridos e que amam ler - pedi demais? - esse livro é um presentão). Se você tem um site, você tem um Marco Polo nas mãos. Ele está indo a lugares inimagináveis, levando a sua mensagem aos quatro cantos. A metáfora é rica: viajantes devem carregar o estritamente necessário e, assim como eles, seu site deve ser ágil, simples e completo. Exploradores devem se comunicar com todos. Seu site idem. Embaixadores e emissários devem ser respeitosíssimos, e seu site também. Marco Polo não seria Marco Polo, contudo, se não tivesse voltado para contar o que viu. Se o seu site não traz de volta nenhuma informação sobre seus usuários, mil perdões, mas você está sustentando um globetrotter estróina. Que tipo de informação seu site poderia estar trazendo para você? Bem, quando eu entro no site da Amazon Books eles sabem quem eu sou, quando comprei pela última vez, quanto gastei, onde moro, meu cartão de crédito, e o que é mais admirável, sabem mais ou menos o que eu gosto. Como adivinham? Analisando o que eu compro. Nada mal, não? Quanto valem essas informações? Outra lição da Amazon: leveza. Eles poderiam usar multimídia? Poderiam. Poderiam usar frames? Sim, claro. Poderiam usar animações? Decerto. Mas não usam nada disso. Por quê? A resposta é simples, a resposta é ser simples. Qualquer um desses recursos limitaria o alcance do site, sacrificaria a sua rapidez e o desviaria do seu foco, que é vender livros e criar um gigantesco banco de dados dos seus clientes. O resto não agregaria valor. Agilidade, foco, valor, são essas minhas dicas para seu próximo site. Opa, outra dica de livro para o Natal: "Seis propostas para o próximo milênio", também do Calvino. Ele entendeu tudo.