1.9. C ou não C: eis a questão.
Se tem uma coisa que aprendi debaixo de muita porrada foi marcar uma questão e deixar
ela bem quietinha depois. Aff... já perdi a conta de quantas questões marquei, desmarquei e
remarquei só pra depois ficar me martirizando – em vão – quando fui conferir o gabarito e ver,
desolado, que aquela questão alterada me dava a aprovação ou uma melhor colocação! Nessa
preparação para a CGU, depois de muita hesitação, fiz um verdadeiro acordo com minha mão:
“MARQUE E PRONTO, NÃO ME VENHA DESMARCAR DEPOIS!”.
E como foi duro manter essa promessa... Depois de fazer “trocentas” questões da ESAF,
observei que ela, até então, nunca tinha repetido uma mesma alternativa por 3 vezes, ou seja,
AAA, BBB, CCC, etc. Para se fazer uma boa prova, às vezes não basta apenas estudar bem a
matéria, temos que fazer além do que o costumeiro. E conhecer o padrão de aleatoriedade
utilizado pela banca no gabarito é uma dessas coisas que podem fazer uma grande diferença a
nosso favor. Bom, mas na P3 da CGU/DI, me vi diante do seguinte dilema: q. 17, 18 e 19; eu sabia,
ou pensava que sabia, mais ou menos, as q. 17 e 19, e ambas eram “C”. Na q.18 fiquei uma
eternidade tentando decifrar tanto a pergunta como a possível resposta.
Estava a ponto de desistir quando cheguei à – feliz – conclusão que a mais provável era a
alternativa “C”. Vi-me diante do dilema de mudar uma das outras 2 “C”, porque eu não conhecia
nenhuma prova da ESAF (não me lembrava mesmo, acho que aquela foi a 1ª) com 3 alternativas
iguais e repetidas. “C ou não C, eis a questão!”, era meu dilema. Lembrei-me do meu acordo,
então, com a mão tremendo, fiz um 'xis' em cima do 3º “C” e virei a página.
Quando dava aquela vontade louca de mudar, me lembrava de um conselho de um profº:
“Para o bem ou para o mal, marcou, marcou. Na dúvida, deixa marcado, não mude!”. E não é que,
quando saiu o gabarito, tava lá: “CCC”? Graças a Deus, tinha acertado as 3, e cada uma valia 3
pontos, ou seja, nove pontos ganhos no total! Quase chorei de alegria, mais para compensar as
outras vezes que deu vontade de chorar de raiva.
Se você comparar o resultado, verificará que apenas 3 pontos perdidos seriam cruciais.
Pense nisso, quando se vir diante de um grande dilema existencial bem na hora da prova: “C ou
não C, eis a questão”.
1.10. Inversão de papéis: pense como a Banca.
Este é outro benefício de se fazer exercícios da banca à exaustão: aprender como são os
exercícios dela, ou como ela os elabora. Houve um tempo em que eu estava me saindo muito mal
em uma matéria específica (Convênios – P3). Nos simulados que postavam no fórum, de todos, eu
quase sempre ficava segurando a lanterna. Um dia, enchi o saco de ficar sempre atrás e tomei uma
atitude: “eu vou fazer um simulado tão feroz dessa matéria que, se o próprio examinador da ESAF
fosse resolver, ele seria reprovado!”. Era sobre uma IN (instrução normativa 01) da STN sobre
convênios, e pense numa coisa chata, ela é mais. Mas, chata ou não, eram 30 pontos em jogo, para
minha angústia.
Então, após tentar ler umas 3 vezes essa bendita IN e sempre me arrebentar nos
simulados, olhei com bastante carinho para ela e disse: “minha filha, agora somos só nós dois,
prepare-se para conhecer o lado negro da força!”. Elaborei, dispondo de todas as maiores
artimanhas possíveis e imagináveis, 20 “meninas super-poderosas”, digo questões escabrosas.
Postei lá no fórum e esperei, esfregando as mãos ao melhor estilo “Gargamel” dos Smurfs (vixe,
essa é velha, hein!).
O primeiro que tentou logo acusou o golpe: teve que recorrer a Doril & Cia. Ltda para
recuperar a sanidade mental, após a ousada tentativa. De uns 10 corajosos que apareceram para
responder, a maior nota foi de uma colega que respondeu parte do simulado com a IN do lado e,
ainda assim, fez 60%! Para vocês terem uma idéia, nem mesmo EU sabia responder sem consultar a
IN! ;op
Minha revisão de Convênios foi esse simulado (do qual tive que rever o gabarito de umas 23 questões) e ver qual era a resposta correta e o porquê de sê-la, atentando bem para as terríveis
pegadinhas. Na P3 quase gabaritei essa matéria, pois o nível foi bem abaixo do simulado que eu
elaborei =op. Se o nível das questões da prova fosse aquele do meu simulado, talvez se contasse
nos dedos de uma mão quem fizesse 60% das questões de convênio.
Pense: se eu fosse o examinador da ESAF, o que eu faria para dificultar a vida dos pobres
concurseiros que se atrevessem a responder minhas questões? Outra coisa importante: às vezes,
temos de ser ousados e arriscarmos. A prova de Direito Constitucional do Concurso CGU2006 foi de
amargar, com pouca jurisprudência e muita literalidade, com umas pegadinhas de tirar do sério, e
que, inclusive, tirou muito candidato preparado do páreo.
Eu estava simplesmente “horríver” em DCO, principalmente em doutrina/jurisprudência,
mas, analisando as provas recentes da ESAF, deduzi que a tendência era de continuar explorando a
literalidade da CF com algumas variações e um pouco de doutrina. Então, foquei minhas baterias
em “decorebis CF1988 mutatis”, e fiz uma revisão geral em Teoria do Estado e das Constituições e
em Controle de Constitucionalidade. Graças a Deus, acertei em cheio, pois a prova veio bem
dentro daquilo que previ (ou apostei) e, a despeito de estar quase sempre me arrebentando nos
simulados do Fórum, na P2-DCO emplaquei 13/15 questões, um verdadeiro feito para mim.
1.11. Apenas ler ou interagir com o texto?
Esta foi uma grande dificuldade: conseguir assimilar textos legais, principalmente a lei
seca. E olhe que já fui bom nisso, estudando para a FCC. Todavia, a ESAF consegue ser ainda mais
cruel que a FCC quando se trata de cobrar lei seca. Ela não tem escrúpulos em elaborar as
questões com as pegadinhas mais escrotas jamais vistas. Se não existir, ela inventa.
De início, estava apenas lendo: assimilação 'zero'. Depois, tentei sublinhar de grafite:
assimilação mínima. Então acordei para a vida e tentei a última cartada: marcar, riscar e desenhar
com marca-textos coloridos. Foi minha salvação, uma mudança da água para o vinho. Não sei
explicar o motivo, mas depois de 3 revisões marcando e remarcando com cores diferentes, saí da
quase total obscuridade para a luz.
Outra coisa importante: deixei a preguiça de lado e botei pra quebrar: só parava de
estudar uma lei quando estava sabendo de verdade ela. A velha 8666/93, p.ex., tornou-se amiga
íntima, ao lado da IN01/STN, de convênios e, por sinal, fiz 18/20 questões, após as anulações, no
total de 54/60 pontos (P3).
Vou deixar bem claro, para você não esquecer: Não economize onde o retorno compensa!
1.12. A importância de se fazer associações do conteúdo com fatos conhecidos.
Sobre esse assunto é um pouco complicado ficar somente na teoria, então vou tentar postar
alguns arquivos demonstrando como eu fazia na prática, principalmente naqueles assuntos muito
teóricos, como a IN de auditoria da CGU, LOA-TCU, etc. Quando não for possível postar, poderei ou
hospedar em um servidor de arquivos online.
1.13. Véspera, estudar ou descansar?
Essa experiência eu tive dos dois lados: estudando e descansando. Dizer que há uma forma
padrão é desprezar as idiossincrasias (fatores individuais de cada um) e correr o risco de
estabelecer uma receita padrão que, para muitos, será contraproducente.
Vou contar, resumidamente, como foi comigo (leia minha entrevista anterior para detalhes
adicionais): para o DNIT estudei na véspera e foi essencial; para o TRF1 também estudei, mas acho
que atrapalhou mais que ajudou; para o MPU não estudei, e foi bom o retorno; para o TRT também
não estudei e fui um desastre, apesar de nesse concurso outros fatores terem pesado, cfe. falarei
adiante; para a CGU, tirei a sexta-feira da semana santa para visitar uns parentes detidos, digo: fui
fazer uma visita ao zoológico. =op Foi uma bênção: espaireci e desestressei muito vendo onça,
anta, jacaré, algazarra de macacos e araras. Recomendo. Na hora da prova estava tinindo.
A lição que tiro de tudo isso é: se você estudar, mas estudar bem mesmo, a véspera pode
ser deixada para saneamento mental sem problemas. Mas, se você não teve muito tempo para
estudar, o último dia pode ser uma oportunidade imperdível de consolidar alguma coisa
importante, sem, contudo, abusar. Quanto ao TRT, meu maior pecado foi ter relaxado “demais”,
perdendo o foco. Tudo isso porque deixei a ansiedade me dominar: até suei na hora da prova, a
despeito do ar-condicionado estar gelando até pensamento.
Quer um conselho? Estude muito antes para que possa descansar na véspera, mas sempre
respeitando sua curva de aprendizado pessoal.
1.14. Qual a melhor estratégia para uma discursiva?
Acerca de estratégia, existe praticamente uma para cada estrategista, mas qual a melhor a
escolher? Apesar de achar muito válido explorar as estratégias vencedoras, penso ser igualmente
útil explorar porque algumas deram errado. Nem sempre é fácil copiar uma estratégia vitoriosa,
tendo em vista as grandes diferenças pessoais entre cada candidato, mas é bastante fácil observar
onde e como um erro foi cometido e optar por não repeti-lo.
Deixe-me dizer, resumidamente, quais foram meus principais parâmetros que me
permitiram tirar uma boa nota (86/90 pts = 95,5%) na discursiva, simplesmente essencial para
minha classificação, que foi: 5º na objetiva, 3º na discursiva e 3º no geral, além de 12º na
pontuação geral, desconsiderando-se as diferenças de áreas. Penso que não seja muito honesto
fazer tal comparação, pois as P3 foram tão diferentes que simplesmente não há parâmetro de
comparação entre as áreas, no máximo uma simples observação de pontuação total, sem qualquer
juízo de valor.
Mas vamos aos acertos:
1. treinar bem, exercitar-se escrevendo à mão mesmo, possibilitando fortalecer os
músculos e tendões para os esforços que virão. Além disso, há também a questão de
exercitar o raciocínio e a agilidade de transferir o que está no mais recôndito do cérebro
para o mais branco do papel;
2. programar-se para fazer o máximo com aquilo que se dispõe, ou seja, escrever tudo
o que puder dentro do tempo que tiver.
Acredito que os maiores erros foram justamente ignorar esses procedimentos básicos para
se redigir uma boa discursiva, e conheço alguns casos que ilustram bem isso: a falta de exercitar
redação e a falta de uma programação de tempo escasso. Alguns chegaram na discursiva apenas
com a cara e a coragem, achando que sabiam da matéria e era apenas ter o trabalho de transferir
dos neurônios para a folha. Ledo engano: o tema que a ESAF pediu e a forma como pediu
simplesmente derrubou muitos candidatos bem preparados.
Não cometa jamais este erro: ir para a guerra despreparado e desprevenido, e fazer prova,
da ESAF especialmente, é um verdadeiro teste de sobrevivência em um front de guerra, de onde
somente os mais preparados retornam vivos para contar a história (e a vitória). Outros estavam
super-preparados para redigirem um ótima discursiva, mas se perderam no planejamento e
desperdiçaram tempo precioso para resolver a P1, sem conseguir resolvê-la ou passar para o
gabarito. Tanto uns como outros devem ter ficado abalados emocionalmente e, certamente,
tiveram seu desempenho prejudicado na resolução das P2 e P3, praticamente anulando suas
chances de aprovação.
Minha estratégia para a discursiva foi meio “exótica”, pois, apesar de achar que havia
tempo suficiente para se fazer um bom rascunho e passá-lo para a folha definitiva, sempre
procurei preparar-me mentalmente para fazê-la diretamente na folha definitiva, se preciso fosse.
Após resolver a P1 com certa rapidez (em torno de 2 horas), detive-me na análise da discursiva,
reservando apenas 20 minutos para o gabarito e alocando todo o restante do tempo para explorar
minuciosamente seu tema e forma de cobrança, tentando evitar armadilhas e conseguir explorar
ao máximo aquilo que eu poderia render.
Seguindo dica do jason bourne (Fórum Concurseiros), elaborei um esquema bem
estruturado, tanto para me guiar naquilo que deveria ser explorado como para causar uma boa
impressão no examinador. Somente nesse esboço gastei um bom tempo (aprox. uns 45 minutos),
mas tenho certeza de que valeu cada minuto investido. Parti para a escrita propriamente dita e
verifiquei, com certa aflição, que possivelmente não daria tempo para fazer um rascunho e depois
passá-lo a limpo, se eu levasse em conta o cansaço dos músculos da mão e a pressão pelo tempo,
induzindo a erros banais. Naquele momento de incerteza, tomei uma decisão ousada: passar a
limpo o que já tinha escrito – apenas umas 20 linhas – e continuar do ponto onde havia parado.
Redigir (escrever) tornou-se uma ação lenta e minuciosa, quase obsessiva, atentando aos mínimos
detalhes de gramática e legibilidade.
Refletindo agora sobre isso, posso afirmar: SE eu tivesse feito um rascunho e DEPOIS
passado a limpo, talvez tivesse tirado uma nota ainda maior, MAS poderia também não ter dado
tempo para concluí-la, logo, pesando os prós e os contras, chego à conclusão que fiz a melhor
escolha, ou seja, “fazer o melhor que puder usando os recursos que dispuser”. Para se passar em
um concurso de alto nível, deve-se planejar até os mínimos detalhes, pois pode ser justamente um
pequeno detalhe que vai fazer uma enorme diferença.
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1.9. C ou não C: eis a questão. Se tem uma coisa que aprendi