Quando uma coisa não é o que parece ser: Biodiversidade, coletas, coleções, espécimes-testemunho e o papel dos museus Luís Fábio Silveira. Departamento de Zoologia, Universidade de São Paulo. O aumento das filogenias com base em caracteres provenientes do seqüenciamento de genes vem trazendo um grande conhecimento sobre a diversidade biológica e das relações entre os seres vivos. Freqüentemente estas filogenias são ferramentas poderosas e trazem à luz novas interpretações, mudando a interpretação de padrões biogeográficos bastante antigos, entre outras conclusões importantes. As aves formam um dos grupos de organismos mais bem estudados graças às suas particularidades, como os hábitos diurnos e sua notável conspicuidade, sendo objeto de diversos estudos que utilizam as seqüências de DNA. Entretanto, graças também a algumas particularidades das aves, pouco ou nenhum cuidado é tomado quando se amostram estes organismos para subsidiar os estudos filogenéticos ou filogeográficos. O conhecimento da diversidade de aves é indiscutivelmente maior do que o observado para qualquer outro grupo de vertebrados, mas este fator não impede que novas espécies de aves sejam descritas, até numa taxa maior do que a observada nos últimos 30 anos. Muitas destas espécies descritas são, na verdade, espécies crípticas e de difícil reconhecimento mesmo quando se estudam as peles nos museus. Entretanto, observa-se freqüentemente que muitos autores que utilizam os caracteres moleculares não costumam se preocupar em documentar corretamente os organismos que foram seqüenciados. Esta prática, infelizmente bastante comum, pode levar a conclusões equivocadas em determinados níveis de análise. É importante que os autores utilizem mais constantemente as coleções dos museus e que adquiram o hábito de documentar utilizando diversos e diferentes meios, os espécimes testemunho dos seus estudos e que as coleções dos museus possam ser ampliadas com a entrada destes espécimes, beneficiando um número maior de pesquisadores.