A MULHER NA HISTÓRIA: A REPRESENTAÇÃO DE MARIA ANTONIETA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA Virgínia da Silva Xavier ([email protected]) Graduanda em História – Universidade Federal de Rio Grande (FURG) Paula Ramos Nunes ([email protected]) Graduanda em História – Universidade Federal de Rio Grande (FURG) Carla Rosi Quadros de Lima ([email protected]) Graduanda em História – Universidade Federal de Rio Grande (FURG) Resumo: Maria Antonieta, esposa de Luís XVI, rei francês deposto e morto no processo da Revolução Francesa de 1789, se destacou na memória coletiva após representações emblemáticas de seu papel no cinema, como uma rainha inconsequente durante o último reinado absolutista na França. Essas representações cinematográficas nos chamaram a atenção, exatamente por não localizarmos em um breve levantamento uma historiografia consolidada sobre Maria Antonieta. Dessa forma, a problemática que nos instigou a empreender a presente pesquisa foi a verificação da escassez historiográfica sobre a trajetória dessa personagem que tanto teria contribuído para a ruina da dinastia bourbônica no final do século XVIII e acabou silenciada na historiografia. Dessa fora, o presente trabalho tem por objetivo analisar a representação da rainha Maria Antonieta em 13 dos 16 títulos de livros de História voltados para o 8° ano mais vendidos e aprovados pelo MEC em 2012. Usamos como fonte o livro didático por entendermos este como importante ferramenta pedagógica de estudo, assumindo o segundo lugar dos livros mais lidos no Brasil. Para isso, utilizamos como metodologia a análise de conteúdo onde pudemos quantificar a frequência que Maria Antonieta foi mencionada e observar a relevância de tais citações e como orientação teórica a Nova História Cultural, inserido na vertente historiográfica das representações de Roger Chartier. Palavras-chaves: PNLD; Maria Antonieta; representação. Introdução O presente artigo tem por objetivo analisar a representação da rainha Maria Antonieta nos livros didáticos. O interesse nessa personagem histórica se deu devido a emblemática frase imputada a ela: “se não tem pão dê-lhes brioches.” Essa frase que supostamente seria de autoria da rainha, lhe conferiu uma imagem fútil em suas representações contemporâneas como no cinema no filme de 2006 dirigido por Sofia Coppola e que leva o nome da rainha. Ao delimitarmos nossas fontes, optamos pela pesquisa os títulos dos livros mais vendidos e aprovados pelo MEC em 2012 dentro do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD que circularam pelas redes municipais entre os anos de 2001 e 2012 e nos surpreendemos ao perceber que: Maria Antonieta pouquíssimas vezes é mencionada nos livros didáticos senão apagada da História. Esse dado nos instigou a fazer um estudo mais aprofundado dessa rainha que foi uma personagem polêmica tão relevante dentro do episódio da Revolução Francesa. A partir dessa compreensão optamos por analisar 13 títulos dos livros voltados para o 8° ano do Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.298 ensino fundamental1, que constam na planilha estatística de distribuição no site do FNDE e assim podemos analisar em quantos deles Maria Antonieta teve seu nome citado, qual a relevância das tais citações e também compreender o seu silenciamento na história. Os livros didáticos são instrumentos fundamentais de intercessão entre ensino e aprendizagem segundo Selva Fonseca ele é “o principal veiculador de conhecimentos sistematizados, o produto cultural de maior divulgação entre os brasileiros que têm acesso a educação escolar” (FONSECA, Selva Guimarães, 2003, p.49). Como veiculadores do conhecimento, a partir do exposto por Fonseca, os livros didáticos a partir do PNLD tem acesso amplo no processo de formação dos brasileiros, mas não é apenas um produto cultural de conhecimento é também um objeto comercial, sendo assim, talvez uma das justificativas do livro didático possuir a exclusão de alguns conteúdos e a presença, às vezes em demasia, de outros, pois, ele precisa atender as necessidades do público que os adquire. Para isso, optamos por realizar a presente análise com o suporte da proposta teórica Nova História Cultural. Assim estudaremos a representação da rainha Maria Antonieta veiculada através dos livros didáticos. O conceito de representação engloba segundo Roger Chartier: As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão são sempre determinados pelos interesses do grupo que as forjam (...) As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a por uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um processo reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e conduta.” (CHARTIER,1986, p.27). Então podemos concluir a partir do apresentado por Chartier que uma representação está longe da imparcialidade, que os conteúdos oferecidos pelos livros didáticos estão carregados de ponto de vistas e ideologias calcadas sobre o interesse de quem as remetem. Portanto, dividiremos nosso trabalho nos seguintes subtítulos: Maria Antonieta nos livros didáticos e seus diálogos com a historiografia, a seguir silenciamento: Maria Antonieta oculta nos livros didáticos, no qual faremos uma discussão de seu silenciamento dentro do material analisado e por fim as considerações finais deste trabalho. Maria Antonieta nos livros didáticos: diálogos com a historiografia Nesse subtítulo analisamos 5 títulos de livros didáticos mais solicitados pelas escolas e que constam nos guias do PNLD entre 2001 a 2012 em que a personagem histórica Maria Antonieta está representada. A problemática que nos instiga nessa pesquisa se centra também em perceber como Maria Antonieta foi representada nos livros didáticos de história. 1 Os 14 livros analisados foram disponibilizados pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Cipriano Porto Alegre. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.299 Analisando os livros didáticos, foi possível perceber a pouca representação de Maria Antonieta que está inserida no contexto da Revolução Francesa, embora sua participação histórica tenha sido de grande relevância no século XVIII e que constatamos no extenso material que encontramos na historiografia, mas que nos livros didáticos estão restritos apenas em duas ou três linhas nesses materiais pesquisados. Fazendo um panorama sobre os materiais selecionados, notamos que os dados a respeito de Maria Antonieta se abreviam nos aspectos da família, altos gastos da corte, estilo de vida luxuoso. Dadas essas informações, faremos um paralelo analisando o que foi apresentado no livro didático, onde ressaltamos novamente, sobre a escassez de historiografia presente no material e após iremos nos apoiar nas bibliografias, mas precisamente biografias tanto da rainha quanto a de Luís XVI para nos aprofundarmos mais sobre sua participação no contexto histórico. Começaremos apresentando o livro “História e vida Integrada” 8° Ano, PNLD 2010, (PILETTI, Nelson e PILETTI, Claudino) onde cita as dívidas de Luís XVI e logo aparece uma breve passagem que mostra Maria Antonieta a favor da intervenção estrangeira. A união de Luís XVI e Maria Antonieta tinha como única finalidade a aliança diplomática entre Áustria e França, que segundo Evelyne Lever: “Por meio de seus matrimônios, as jovens princesas foram sacrificadas à diplomacia materna.” (LEVER, 2004 p20). Maria Antonieta era o 15° filho de Maria Tereza e por sua idade se aproximar mais com a deufin Luís Augusto (futuro Luís XVI) foi escolhida para se tornar a futura rainha da França e de fato, assegurar e mantimento dessa aliança, que de acordo com Lever Maria Antonieta era: “apenas um peão na famosa aliança”. (LEVER, 2004, p177). Percebemos ao longo de suas bibliografias, que a rainha era totalmente influenciada por sua mãe para que intervisse na política externa a favor da Áustria e mesmo a soberana austríaca estando longe, ficava atenta a todos os movimentos que ocorriam em solo francês. Mas essa intervenção nem sempre tivera êxito como nos mostra Bernard Vicent em sua biografia de Luís XVI, que diz que o rei “se deixará levar muito menos quando de tratar de política, e principalmente de política externa” (VICENT, 2007, p.62). O autor prossegue afirmando que o rei a titulo de compensação, realizava todas as vontades da Maria Antonieta mantendo-a assim longe de seus assuntos políticos distraindo-a com festas, bailes e espetáculos. E se tratando de intervenções, notamos que Maria Antonieta aparece nesse cenário sob dois momentos bem distintos: no primeiro, uma jovenzinha que não “entendia” muito sobre política e agira de acordo com suas influências e em um segundo momento ela mais madura, agiria na política por necessidade. O próximo livro analisado é “Saber e Fazer História - História Geral e do Brasil” (COTRIM, Gilberto), PNLD 2005, 7° série. Nesse material, Maria Antonieta é representada em uma imagem na abertura do capítulo que discorre sobre a Revolução Francesa no momento de sua execução na guilhotina que ocorreu em 16 outubro de 1793 (figura1). O pequeno texto abordado sobre a rainha, diz respeito a sua oposição às reformas populares influenciando Luís XVI a lutar contra a Revolução. Em seguida, ela é apresentada em outro quadro como, segundo Cotrim, “a representação da nobreza” (figura 2). Ambas as imagens expostas no livro foram extraídas do Centro de Documentação (CEDOC). De fato, o espaço dado a Maria Antonieta nesse livro, apesar de ser mínimo parece ser mais rico em informações. Talvez seja pelo fato do material apresentar imagens que possibilita o leitor diferentes formas de interpretação. A imagem que tem escrito em seu rodapé “a representação da nobreza” (figura 2), por exemplo, de Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.300 fato representa uma nobre, mas o período em que ele foi pintado foi às margens dela perder esse título, ser condenada a morte e assumir para a posteridade o título de a última rainha da França. Levamos em consideração que, o objetivo de posar para pintores no século XVIII era no intuito de projetar uma imagem e não uma realidade. O quadro em questão em que a rainha foi imortalizada pelo pintor Kucharski ficou inacabado. A rainha acabara de completar 36 anos e estava uma mulher muito diferente do que se pode perceber visualizando outros quadros. Sem possuir nenhuma joia, com um olhar tristonho, boca desdenhosa e cabelos esbranquiçados, o que não era fora do comum em meio a todas as tribulações que estavam acontecendo no momento. A situação política em ocasião não era nada agradável para monarquia. Uma nova assembleia foi formada por homens hostis ao regime onde a maioria era a favor de limitar os poderes do rei. Instigado pela rainha, Luís XVI “fazia jogo duplo, recusandose a aceitar de boa fé o papel de monarca constitucional (...)” (LEVER 2004, p301). Talvez esse fosse um dos maiores erros do rei, pois segundo Lever, por mais que seus poderes como monarca fossem reduzidos ainda lhe deixara uma estreita margem de manobra. Na ocasião, Maria Antonieta e a família estavam “aprisionadas” no palácio das Tulherias, após o fracassado plano da fuga a Varennes. Sobre a imagem que apresenta o momento da decapitação da rainha (figura1): a condenação e morte se deram sob três acusações distintas: esgotar o tesouro nacional, manter relações e correspondência secreta com o inimigo e conspirar contra a segurança interna e externa da França. E, além dessas declarações, Maria Antonieta ainda foi acusada de incesto. De fato, as acusações de alta traição e esbanjamento nos gastos reais foram comprovadas devido à abundância de documentação que se encontram hoje nos arquivos divulgando os planos franceses de um possível ataque militar através de correspondências da rainha endereçadas aos exércitos dos países aliados, por exemplo. Mas na época não foi apresentada nenhuma prova de traição, que de acordo com Lever, o julgamento foi tirânico. A imagem é outra forma de analisarmos a história, selecionamos outro quadro (figura 3)2 que está no livro “Para compreender a história” 8° série, 1997 (MOCELLIN, Renato)para compararmos os diferentes momentos vividos pela rainha. No quadro em questão pintado por Vigée-Lebrun, Maria Antonieta está trajando um vestido vermelho de veludo e um chapéu do mesmo tecido com plumas brancas. Vestindo trajes mais clássicos e sensatos, ela transmite a imagem de uma altiva soberana, mais clássica, rodeada por seus filhos. Embora Maria Antonieta estivesse passando por algumas tribulações no período em que este quadro foi pintado, o que não era nenhuma novidade, pois a vida dessa rainha foi marcada por episódios polêmicos, sua imagem não transpareceu tanto impacto quanto o quadro da figura 2. 2 Embora o livro Para Compreender a história de (MOCELLIN, Renato) não faça parte do nosso objeto de pesquisa, ele foi adicionado a este trabalho por apresentar uma imagem de Maria Antonieta e, no intuito de abordarmos os diferentes momentos em que a rainha passou fazendo assim, uma comparação entre as demais imagens apresentadas nesse artigo. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.301 Imagem 1 e Imagem 2 – Fonte: Saber e fazer História- História geral e do Brasil | Fonte: Saber e fazer História- História geral e do Brasil Imagem 3 - Fonte: Para compreender a História Então, a partir dessas três imagens podemos perceber diferentes períodos vivenciados por Maria Antonieta desde seu esplendor e soberania até seu último momento como rainha da França. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.302 O próximo livro analisado foi “Novo História- Conceitos e procedimentos”, (DREGUER, Ricardo e TOLEDO, Eliete), 8° ano, 2009, onde cita os gastos da corte e a fuga de Maria Antonieta e da família real. Se tratando em gastos da corte, a principal figura envolvida nessa afirmação incontestavelmente é Maria Antonieta. Segundo Michelle Perrot, Maria Antonieta: foi uma rainha escandalosa, não foi somente porque ela traia o Rei (a Corte já vira outras e não era tão pudica), mas sim porque ela mostrava novas concepções das relações do público e do privado. Por um lado, essa mulher, estrangeira ainda por cima, intervinha nos negócios do Reino. Por outro lado, ela exigia um espaço próprio, subtraído ao olhar de todos, para dedicar-se a seus prazeres, receber seus íntimos e experimentar as alegrias da amizade (PERROT, 2005, p.455). É nessa citação que nos mostra um dos motivos da rainha ser odiada pelos franceses, sendo alvo de charges e anedotas maldosas, pois ela rompe com a vida pública no qual o papel da rainha, para ela, deveria ser bastante frustrante: “tinha que encarar o supra-sumo da virtude, ser dotada de todos atributos femininos e contentar-se em proporcionar ao marido uma progênie numerosa e saudável.” (LEVER, 2004, p68). Mas, Maria Antonieta foi o oposto, deixando transparecer a sua vida privada instigando os imaginários em geral. Convencida de que por ser rainha seus caprichos deveriam ser atendidos, Maria Antonieta levava a vida da maneira que desejava afirmando que uma rainha tinha direito a vida privada. O rei financiava suas diversões o que segundo Vicent “ele adquiriu o costume, ao longo do tempo e a título de compensação, de realizar todas as vontades de Maria Antonieta (...)” (VICENT, 2004, p.62). Podemos atribuir essa “compensação” pelo fato de Luís XVI ser de um perfil tímido, desajeitado não tendo experiência alguma com mulheres e também porque ele levou nada menos do que 7 anos para consumar seu casamento (real e único objetivo do casamento: conceder um herdeiro ao trono). Seus caprichos eram os mais variados desde festas, bailes à fantasia, jogatinas e teatro. A rainha resolveu ampliar seu estábulo duplicando o número de cavalos, gastava somas imensas remodelando os jardins do Trianon e exigia que o marido pagasse pensões exorbitantes a seus amigos, e “essa revelação pública das despesas suntuosas da corte para o proveito de uma minoria de privilegiados, foi a gota de modernidade que fez o copo transbordar." (VICENT, 2004, p.100). Ficou conhecida como Madame Déficit e alvo de acusações das mais variadas. O ministro das finanças Turgot ousou por em prática projetos econômicos e fiscais impondo drástica política de redução de despesas que atingiriam em primeiro lugar os gastos da corte, recusou os recursos para o projeto do jardim Trianon e pensões para alguns dos protegidos da rainha. Ainda, o Trianon não foi a única propriedade de Maria Antonieta, Luís XVI também a presenteou com o castelo de Saint-Cloud. Não é novidade a desaprovação da rainha com relação aos projetos audaciosos de Turgot e segundo Lever o ministro foi demitido, pois: “(...) durante meses ela agira como porta-voz dos privilegiados e atormentava o marido com diatribes contra o ministro” (LEVER, 2004, p.117). Também encontramos no livro “Para entender a História” de (FIGUEIRA, Divalte Garcia e VARGAS, João Tristan), 2009, 8° ano um breve fragmento a respeito de Maria Antonieta. Aqui é citada a famosa anedota onde a rainha ironizou sobre a falta de pão na França: “Se não tem pão que comam bolos!”. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.303 Todo grande nome tem que ser marcado por uma frase de impacto. Frase está que a deixará marcada na história. Conta a historiografia que quando a população parisiense atacou o palácio de Versalhes reivindicando o alto custo do pão, Maria Antonieta, que ia se tornando cada vez mais impopular, era vista pela população como a responsável por todas as crises do país e que a consideravam como um poço sem fundo que absorvera todos os recursos públicos lançou essa frase um tanto irônica e cruel: “se não tem pão que comam brioches”. De acordo com Lever, Jean Jaques Rousseau utilizou essa mesma frase em seu livro escrito no ano 1766/1770, relatando ter sido pronunciada por uma princesa, mas não cita seu nome, ressaltando que, Maria Antonieta nesse período, tinha por volta de 12 anos. O último livro analisado em que Maria Antonieta está presente é “Tudo é História”, 7° ano, 2010 (CARDOSO, Oldimar Pontes) o nome de Maria Antonieta é citado novamente apenas como mulher do rei, seguido de um quadro cronológico contendo os principais acontecimentos da Revolução Francesa e mais adiante a rainha aparece implicitamente na passagem em que a família real é aprisionada no Palácio das Tulherias acusados de traição. Esse destino foi atribuído a Maria Antonieta e sua família, pois quando eclodiu a revolução em outubro de 1789, o povo parisiense rapidamente organizou-se e rumou ao Palácio de Versalhes indo de encontro com a monarquia ecoando os gritos de protesto principalmente direcionados a Maria Antonieta que segundo Lever: “A Autrichienne era acusada de esbanjar o tesouro real e de comportamento leviano (...)” (LEVER, 2004 p. 252). Essa citação nos demonstra o quão denegrido estava à imagem da rainha perante o povo. Como exemplo dessa passagem, vale destacar a marcha de mulheres que andaram cerca de 14 Km de Paris a Versalhes protestando contra o desemprego, o auto custo do pão e que o rei subscrevesse a Declaração dos Direitos do Homem. Como forma de acalmar os ânimos, o rei aceita em assinar a declaração, mas com receio de perder seus direitos de monarca, a família real tenta uma fuga desesperada, mas foram barrados pela multidão revoltosa que através da pressão popular conseguem seu retorno à Paris que conforme Lever: A carruagem real se pôs a caminho da capital, rodeada por um populacho bêbado de fadiga, vinho e carnificina. No alto de paus, duas cabeças ensanguentadas, retorcidas em caretas atrozes, precediam o carro fúnebre da monarquia.” (LEVER, 2004, p.260) Essa citação de Evelyne Lever nos leva a perceber os instantes finais da monarquia e o surgimento de uma França constitucional. A seguir faremos uma análise dos livros em que não consta o nome da Maria Antonieta onde assim apresentaremos uma breve abordagem sobre seu silenciamento dentro destes materiais. Silenciamento: Maria Antonieta oculta nos livros didáticos Nesse subtítulo apresentaremos nossa análise dos 8 títulos de livros didáticos de história mais vendidos e aprovados pelo MEC utilizados pelas escolas públicas entre 2001-2012, que não apresentam a personagem Maria Antonieta no contexto do final do Antigo Regime. Deteremo-nos mais calmamente a essa análise, pois percebemos aqui Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.304 um silenciamento dessa figura que teve uma participação não apenas no campo da política, mas também social e cultural da França pré-revolucionária. Essa personagem foi emblemática para o período por suas formas de agir e pensar. Segundo Lever, Maria Antonieta era dona de uma vaidade que mais tarde se tornaria prejudicial ao futuro da monarquia. Convencida de que, por ser rainha, seus caprichos deveriam prevalecer sobre quaisquer outras considerações, Maria Antonieta recusava-se a ver os perigos que a cercavam. (LEVER, 2004, p.75) Essa personagem foi tão irreverente de tal forma que chegou a marcar a cinematografia contemporânea no filme intitulado com o seu nome, “Maria Antonieta” dirigido por Sofia Coppola em 2006. Essa cinebiografia foi inspirada no livro da biógrafa Antonia Fraser, onde retrata a vida da rainha francesa guilhotinada no século XVIII. O filme foi cuidadosamente recriado com atribuições no figurino e no contexto histórico e uma mistura incluindo aspectos do atual universo cultural. Apesar do espaço dado tanto no cinema e através de algumas biografias, não aparece em 8 dos 13 livros didáticos analisados para a realização dessa pesquisa. Esse fato nos instiga a questionar o que levou esses autores a apagar o personagem histórico Maria Antonieta dos livros didáticos. Por que essa rainha simplesmente foi retirada da historiografia didática? A partir dos seis títulos acima, percebemos que o nome da Maria Antonieta está silenciado dentro do episódio da Revolução Francesa, pois segundo Orlandi: “Quando o homem, em sua história, percebeu o silêncio como significação, criou a linguagem para retê-lo”. (ORLANDI, 2007 p.27). Logo Maria Antonieta não está explicita dentro das unidades nos livros didáticos analisados, mas através da linguagem no que diz aos gastos com a corte, luxo, estilo de vida luxuoso, família e fuga da família real, é que conseguimos localizar o sentido e a significação dessas palavras dentro desses materiais. O livro didático é o produto cultural de maior divulgação inserido à educação escolar, veiculador de conhecimento e suporte, observando que, os assuntos propostos nesse material estão simplificados quem sabe por ideologias o que nos leva a pensar que o livro didático é uma fonte importante, mas que não deve ser a única, ou seja, “O livro didático é um instrumento que precisa ser mais bem utilizado pelo professor. O que estamos entendendo como melhor utilização é a exploração mais adequada das suas potencialidades.” (OLIVEIRA, p.3). Com base nessa premissa podemos meditar a respeito da exclusão de Maria Antonieta nos livros didáticos. Esses materiais que em nossa observação, destacam a passagem dos grandes eventos, negligenciando os grandes nomes da história, mais especificamente o gênero feminino. Separamos como exemplo 4 livros para demonstrar as formas de silenciamento encontrados. Em “História: sociedade e cidadania”, 8° ano, 2009, onde há um pequeno fragmento em aborda os gastos com a corte e que mostra uma imagem (figura 4) de Luís XVI despedindo-se de sua família, antes de ser levado à guilhotina. Como diz Orlandi: “A imagem aparece como “figura” e o silêncio como “fundo”. (...) podemos dizer que o silêncio que é “figura”, já que é fundante.” (ORLANDI, 2007 p.31). Sabemos que Maria Antonieta era a esposa de Luís XVI e que seu nome não está citado, mas sim representado como família dentro da imagem. E somente ao final do capítulo do livro é que aparece como sugestão o filme “Maria Antonieta” de Sofia Coppola. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.305 Imagem 4 - Fonte: História Sociedade e Cidadania A imagem acima foi retirada do livro História Sociedade e cidadania e apresenta o momento em que Luiz XVI despede-se de sua família antes da guilhotina, Maria Antonieta está nessa figura, mas seu nome não é citado. Temos como outro exemplo o livro, “Projeto Radix”, 8° ano, 2009, no qual trata da crise agravada pelos altos custos para a manutenção da corte e uma gravura retratando sobre o luxo no palácio de Versalhes, no que se trata a Maria Antonieta, segundo Orlandi: “O silêncio não está disponível à visibilidade, não é diretamente observável. Ele passa pelas palavras. Não dura. Só é possível vislumbrá-lo de modo fugaz. Ele escorre por entre a trama das falas.” (ORLANDI, 2007, p32). Mais uma vez, Maria Antonieta poderia ser citada nesse livro, mas está implícita no que diz aos altos custos com a corte e do luxo do palácio de Versalhes, seu nome passou oculto pela Revolução Francesa. Também os demais livros fazem a mesma passagem quanto ao silenciamento da Maria Antonieta, mas como já foi exposto, esses materiais podem ser vistos apenas como suportes de ensino, cabendo ao professor outros meios de veiculação de ensino para o aprofundamento do tema. O livro didático segundo Bittencourt: serve como veículo de reprodução de uma historiografia responsável pela produção dessa memória e que renova interpretações, mas sempre em torno dos mesmos consagrados fatos, que se tornam os nós explicativos de todo o processo histórico (BITTENCOURT, 2011, p.304). Como nos mostra essa citação de Bittencourt, os livros didáticos apresentam sempre os mesmos conteúdos expressos em uma forma fragmentada silenciando outros aspectos da história. Embora esses aspectos sejam silenciados, ainda sim podemos percebê-lo e interpretá-lo no contexto histórico, pois de acordo com Orlandi: “a linguagem estabiliza o movimento dos sentidos. No silêncio, ao contrário, sentido e sujeito se movem largamente.” (Orlandi, 2007, p27). As palavras dão os sentidos já estabelecidos, enquanto silêncio uma vastíssima forma de interpretações. Em “História Temática- o mundo dos cidadãos”, 8° série, 2001( MONTELLATO, Andrea, CABRINI, Conceição e CATELLI, Roberto), mais uma vez Maria Antonieta está oculta no texto e subtendida na palavra “família”, quando os autores descrevem a fuga para Varennes. O silenciamento da rainha nesse fragmento do livro, ao mesmo que remete o leitor apenas a um conhecimento parcial, por outro lado remete ao professor a utilização de outros subsídios para acrescentar ao conteúdo, que Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.306 de acordo com Bittencourt: Os materiais didáticos são instrumentos de trabalho do professor e do aluno, suportes fundamentais na mediação entre o ensino e a aprendizagem. Livros didáticos, filmes, excertos de jornais e revistas, mapas, dados estatísticos e tabelas, entre outros meios de informação, têm sido utilizados com frequência nas aulas de História (BITTENCOURT, 2011, p.295). Como já mencionado nesse trabalho, o livro didático é apenas um suporte no processo de ensino e seria necessária a utilização de outros recursos para somar ao processo aquisição de conhecimento do aluno, seja por iniciativa do professor, do aluno ou do próprio livro didático que poderia oferecer indicações de filmes, livros, jogos entre outros recursos para auxiliar sobre o referido conteúdo. Como exemplo, citamos o livro em questão, História Temática- o mundo dos cidadãos, onde é indicado algumas bibliografias referentes à Revolução Francesa e como exercício, a análise do filme Danton- o processo da revolução. O livro Projeto Araribá (APOLINÁRIO, Raquel) de 2003, que segundo a planilha estatística de distribuição do FNDE foi o livro mais solicitado pelas redes básicas no ano de 2012, contudo, é o livro em que Maria Antonieta está mais oculta do que os demais. Não encontramos nenhuma palavra ou imagem que remetessem a presença da rainha dentro do contexto da Revolução Francesa. Percebemos que o autor não se atenta em citar os nomes dos personagens desse episódio, mas sim as fases da revolução e as principais transformações revolucionárias que refletiram e que perduram até hoje como, por exemplo, a declaração do direito do homem que inspirou a elaboração de constituições democráticas em outros países como é o caso do Brasil com a constituição brasileira de 1988. A palavra “nobreza” e a passagem no livro didático “(...) os parisienses cercaram o rei no palácio real e o prenderam, junto com mais de mil monarquistas” (APOLINÁRIO, 2003, p.79) seriam o elo mais próximo que poderíamos inserir Maria Antonieta no contexto histórico, embora esses “monarquistas” que a autora se refere sejam um grupo político que defendia a monarquia, mas como já mencionamos através desse trabalho que quando o rei Luís XVI foi capturado pelos revolucionários, junto a ele e aos monarquistas estava a família real e essa informação só seria “descoberta” através de um conhecimento além do exposto no livro didático. Com bases nessa análise podemos concluir que Maria Antonieta está complemente silenciada. Para entendermos o silenciamento da rainha na história, primeiro precisamos compreender qual a intencionalidade dos manuais didáticos em restringi-la da historiografia. Quando a política pública que imperava e refletia no livro era o Estado Novo, nascia nesse contexto uma educação voltada para a formação de nacionalidades, por conseguinte, o livro didático desempenhava importante papel na proliferação dos valores expressados por esse regime. Já sob o período da ditadura militar o livro didático era marcado pela censura e a ausência de liberdades democráticas, a união entre os agentes culturais e o Estado produziu um suporte informativo de forma idealizada com seus conteúdos marcados pela moral e cívica. Nos dias atuais, o livro didático reflete a história dos grandes eventos, elegendo determinados fatos da história. A história é produzida de forma universalizante, destacando os fatos mais relevantes da história, com um espaço menor para o privado e o cotidiano. Mas isso não significa Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.307 dizer que o silenciamento de determinados assuntos não sejam passíveis de aprendizado, pois ele deixa pistas onde se chega ao princípio dos seus significados. Pois o silêncio constitutivo indica que para dizer é preciso não dizer, e que é a inclusão dos sujeitos discursivos nas formações discursivas historicamente determinadas que irão dar sentidos ao dizer. Ao dizer algo, apagamos outros sentidos possíveis, mas indesejáveis, em uma situação discursiva nos mostrando que o dizer e o silenciamento são inseparáveis, os sentidos são formados pela inserção do sujeito em determinadas formações discursivas. Portanto, essa ferramenta pedagógica, que é o livro didático nos apresenta variadas possibilidades de abordagens e de aprendizagens do saber histórico, ou seja, o livro didático não é a única fonte do saber, mas sim uma poderosa ferramenta de auxilio a quem a utiliza. E é a partir da coleta de “pistas soltas” dentro dos conteúdos dos livros é que iremos desvendando a história. Considerações Finais Dos 13 livros didáticos mais vendidos e utilizados pelas escolas de ensino básico, em 5 livros foi explícita a representação de Maria Antonieta, e mesmo que timidamente citada, foi através de pequeno fragmentos que pudemos perceber que ela estava presente no contexto da Revoluão Francesa. Já em dos 8 livros didáticos analisados, a rainha estava oculto nas unidades, mas nos remetia algum significado se compreendermos o contexto histórico. Vimos que esses materiais didáticos ao longo dos anos sofreram modificações tanto no processo de aquisição como na elaboração dos seus conteúdos. O livro didático ele atende os interesses de uma época e não deixa de atender o interesse mercadológico. Se uma obra não está incluída no guia do MEC o livro não tem valor algum para o seu público alvo, o estudante, na medida em que não poderá ser utilizado nas escolas trazendo assim, efeitos financeiros indesejáveis a editora que o produziu. Chegamos à conclusão que pudemos quantificar e compreender a representação da rainha Maria Antonieta nos livros didáticos, mas não podemos responder, pelo menos nesse artigo, o porquê do silenciamento da sua participação histórica, mas essa pesquisa nos gerou algumas hipóteses sobre o silêncio da rainha na história. . O que antes era visto como uma história feita apenas dos grandes homens hoje, se desfazendo de uma história positivista, é abordada com os grandes eventos de uma forma mais abrangente, o que de fato não deixa de incluir os grandes nomes também, embora que, em sua maioria sejam masculinos, fato esse que nos instiga a uma nova pesquisa. O silêncio pode ter se dado também por um fator mercadológico onde as editoras têm por satisfazer uma demanda e atender o gosto de seu consumidor e assim a preocupação mais com “venda” do que “qualidade” e “conteúdo”. Outro fator é a triagem feita pelo autor do livro que tem um número limitado de páginas para publicação do livro e acaba por excluir ou minimizar determinados assuntos e por fim, o silenciamento do gênero feminino nos acontecimentos históricos. Mas, mesmo deixando pouco espaço ou ocultando o nome desses personagens da história, mostramos nesse trabalho que eles são fontes de estudo e compreensão histórica e que estão presentes no contexto e que podemos percebê-los não apenas pelo o que está escrito do livro didático, mas também pelo não escrito. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.308 Referências: PANAZZO, Silvia e VAZ, Maria Luíza. Navegando pela História, 7° série. 1° Ed. São Paulo: Quinteto Editorial, 2002. COTRIM, Gilberto. 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