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Adm. Leandro Vieira
Foto: Estúdio 3Cliques
CRA/RS Nº 24133
O que seu filho vai ser
quando crescer?
Crianças mal acabam de nascer e seus pais já estão
preocupados com o seu futuro profissional. Todas as
inquietações que passamos a ter somente quando adultos
são transferidas automaticamente para os rebentos. O que
isso pode significar para o futuro das nossas crianças?
Crianças mal acabam de nascer e seus
pais já estão preocupados com o seu futuro
profissional. Todas essas inquietações que
passamos a ter quando adultos são transferidas automaticamente para os rebentos:
precisam aprender vários idiomas, precisam
ser líderes (essa é boa!), precisam saber
ganhar dinheiro, precisam saber falar em
público, precisam ser atletas...
Os estímulos discretos (e, muitas vezes,
inconscientes) que a nossa geração recebeu
quando criança são substituídos por cursos
direcionados a desenvolver competências
específicas na garotada de hoje. Pela manhã, aula no colégio; à tarde inglês, natação, algum tipo de reforço escolar, mandarim e mais alguma atividade se houver uma
brechinha de tempo; à noite - sem descanso, preguiçoso! -, preparar as atividades da
escola para o dia seguinte. É a educação
espartana dos tempos modernos.
Ninguém sabe se isso dará certo mais na
frente. Trata-se de uma paranoia recente, e
nenhuma das cobaias chegou ainda à idade
Novembro de 2012 :: 24
adulta. O que se pode comprovar, até o
momento, é que os resultados não são muito positivos: mau humor, crianças competitivas e pouco sociáveis, infância reduzida e o
surgimento de uma espécie de mini-adultos
estressados e ansiosos. Sem tempo para
brincar, abstrair e divagar, essas crianças
não chegam a descobrir seus verdadeiros
talentos. E, de tanto se ocupar com diversas atividades, acabam não se tornando
bons em nenhuma delas. Outra consequência nefasta desse tipo de criação, e que
pode comprometer a formação do “futuro
líder”, é justamente a ausência de um dos
elementos fundamentais para o sucesso em
qualquer profissão: a criatividade.
E, de fato, a produção de ideias é o
motor que move o mundo. O sociólogo
italiano Domenico de Masi, autor do conhecido livro O Ócio Criativo, é totalmente
contrário à nossa cultura ocidental centrada na idolatria do trabalho, do mercado e da competitividade. O autor defende
um contraponto necessário a essa cultura, privilegiando uma educação baseada
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na criatividade: “Educar um jovem para a
criatividade significa ajudá-lo a individualizar a sua vocação autêntica, ensinar-lhe
como escolher os parceiros certos, como
encontrar ou formar um contexto gerador de
criatividade, como colocar a mente à vontade, como alimentá-la de liberdade e como
estimulá-la, até que, em colaboração com
as mentes dos seus colegas, dê à luz a
ideia certa. Significa, acima de tudo, educá-los para não temer o fluir incessante das
inovações”, afirma De Masi.
“
Todas essas inquietações que passamos a ter quando
adultos são transferidas automaticamente para os rebentos.
”
Outro dia, pesquisando a futura escola
dos nossos filhos, eu e minha esposa nos
deparamos com alguns absurdos educacionais inconcebíveis. Uma das escolas estampava o slogan “Nós preparamos seu filho
para o vestibular”. Vestibular? Como assim?
Sim, nessa escola, a preocupação com o
vestibular começa cedo, assim que termi:: www.administradores.org.br
na a alfabetização. Outro colégio estabelecia um ranking dos alunos de acordo com
as suas notas. Imaginem como se sentem
o primeiro e o último dessa classificação:
enquanto um se acha “o cara”, o outro se
sente o último dos mortais... Essas escolas
poderiam mudar o seu slogan para algo do
tipo: “Nós formamos os idiotas do futuro”.
Como pai de primeira viagem (e embarcando na segunda!), também nutro certas
preocupações com o futuro dos pimpolhos.
Sei que devemos estimular nossos filhos a
se desenvolverem plenamente para que, ao
chegarem na idade adulta, tenham um determinado número de competências que os
permita enfrentar as agruras da vida com
segurança. Por outro lado, sou totalmente
contrário à imposição de uma rotina estressante de atividades e, o pior, tolher o direito
de nossos filhos de aproveitar a sua própria infância - certamente, a melhor fase da
vida, e também a mais curta.
Há alguns anos, muito antes de sonhar
em ser pai, fiquei bastante encantado com
uma passagem de um dos livros de Howard
Gardner, o criador da Teoria das Inteligências Múltiplas, mais do que adequada para
finalizar essa breve reflexão:
“Quero que meus filhos entendam o mundo, mas não apenas porque o mundo é fascinante e a mente humana curiosa. Quero
que eles compreendam o mundo para fazer
dele um lugar melhor.”
E o seu filho, o que vai ser quando crescer?
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