CONSTRUÇÃO CONCRETO Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi NA PISTA 70 A utilização de concreto (uma mistura de cimento, areia, pedra e água) está ganhando as estradas e ruas. Historicamente, registros apontam que os romanos foram os primeiros a usar uma versão desse material, conhecido na época como pozzolana. No português de Portugal é chamado de “betão”. Mas o seu desenvolvimento como é conhecido hoje começou apenas no século XIX. RODOVIAS&VIAS RODOVIAS&VIAS 71 CONCRETO NA PISTA CONSTRUÇÃO O retorno Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi O concreto já era utilizado na pavimentação de rodovias, pistas de aeroportos e vias urbanas, até a metade do século passado. O desenvolvimento da tecnologia do asfalto – um derivado de petróleo – muito mais barata na época, fez com que o cimento voltasse a suprir unicamente a construção civil destinada a edificações. Passados mais de 50 anos, eis que o concreto é redescoberto como pavimento mais duradouro, com menos danos ao meio ambiente. Segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), que sempre se dedicou à promoção e aplicação do pavimento de concreto, e ainda com mais vigor a partir de 1995, a expectativa é que, em um futuro não tão distante, pelo menos 20% das rodovias brasileiras estejam pavimentadas com concreto. Hoje, são pouco mais de 7 mil dos 196 mil quilômetros de rodovias pavimentadas do país que utilizam esse produto, o que corresponde a cerca de 4% da malha. E só foi possível alcançar esse percentual, devido ao consistente e ininterrupto trabalho da ABCP iniciado há cerca de 15 anos, quando o percentual era de apenas 2%. “se considerar a durabilidade de 20 a 30 anos do pavimento de concreto, os custos no longo e mediano prazos resultam bastante menores que as demais alternativas, transformando o pavimento de concreto em solução altamente econômica e competitiva”. Foto: Divulgação A pesar de existirem vários tipos de concretos – autoadensável, leve, pós-reativo, translúcido, colorido, com fibras – utilizados de acordo com as necessidades específicas de cada projeto, sua divisão mais comum é em apenas duas categorias: armado, com ferragens passivas, e protendido, com ferragens ativas. Sua resistência e durabilidade dependem da proporção entre os materiais que o constituem. A água utilizada contribui para a reação química que transforma o cimento em uma pasta aglomerante. Se a quantidade de água for muito pequena, a reação não ocorrerá por completo e dificultará a adaptação às fôrmas. Mas, se a quantidade for superior à ideal, a resistência diminuirá em função da evaporação desse excesso. A porosidade, por sua vez, tem influência na impermeabilidade e, consequentemente, na durabilidade das estruturas confeccionadas em concreto. O cimento, parte importante do concreto, é um material pulverulento, constituído de silicatos e aluminatos complexos que, ao serem misturados com água, hidratam-se, formando uma massa gelatinosa. Essa massa, após contínuo processo de cristalização, endurece, oferecendo então elevada resistência mecânica. Renato Giusti Presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) O porcentual de 20% é verificado hoje em países como Alemanha e Estados Unidos. Investimentos feitos em equipamentos, tecnologia e redução de preços poderão fazer com que o Brasil se encaminhe mais rápido para atingir a meta da ABCP, principalmente considerando que os custos iniciais de construção do quilômetro do pavimento de concreto são hoje competitivos e similares aos das demais alternativas, salienta Renato Giusti, presidente da ABCP. Entretanto, ao se considerar a durabilidade de 20 a 30 anos do pavimento de concreto, os custos no longo e mediano prazos resultam bastante menores que as demais alternativas, transformando o pavimento de concreto em solução altamente econômica e competitiva, completa Giusti. Há outros benefícios a serem levados em consideração. A redução de acidentes é apenas mais um deles, segundo pesquisas internacionais reconhecidas. “Por não se deformar, ele (o concreto) não surpreende o motorista durante um trajeto”, diz a pesquisa. Aqueles famosos sulcos nas rodovias, decorrentes do peso dos caminhões, não acontecem com a utilização do concreto. Em dias de chuva, ele não gera aquaplanagem e tem uma aderência maior do pneu ao pavimento. Outro detalhe importante: nas viagens noturnas a visibilidade é maior por ele ser mais claro que o asfalto. Nesse quesito, uma curiosidade: por refletir melhor a luz, o trecho em concreto da Avenida Iguaçu, em Curitiba, proporciona economia de energia para a Prefeitura. As lâmpadas dos postes foram trocadas de 400 watts para 250 watts. O benefício ao meio ambiente também é um fator importante. Por ser constituído de materiais que já fazem parte da natureza – cimento, pedras, areia, etc. –, a agressão é menor que o asfalto, um subproduto do petróleo. Por não absorver calor, o concreto também ajuda a resfriar o ambiente, enquanto o asfalto esquenta. Atenção aos detalhes confere qualidade à aplicação. 72 RODOVIAS&VIAS RODOVIAS&VIAS 73 CONCRETO NA PISTA CONSTRUÇÃO cúbicos – 100 mil toneladas de cimento a serem consumidas até 2015. Pelo volume de obras da Prefeitura, e por reconhecer que a ABCP tem sido um referencial de soluções, de assessoria, de tecnologia e de qualidade, houve a solicitação da organização de uma agenda mensal para tratar dos assuntos referentes, não só dessas obras, mas de outras de infraestrutura. Essas características estão sendo levadas em consideração para a construção da mais longa rodovia em concreto do país, que vai ligar Natal, no Rio Grande do Norte, até as divisas com Pernambuco e Alagoas, com 340 quilômetros. Trata-se da duplicação da BR 101 Nordeste. Corredores expressos de ônibus do Rio serão em concreto Para receber grandes eventos esportivos – como a Copa do Mundo e as Olimpíadas –, o Rio de Janeiro prevê investimentos de R$ 16 bilhões na área de transporte público. Apenas os quatro corredores expressos de ônibus (BRTs – Bus Rapid Transit), chamados de TransOeste, TransCarioca, TransOlímpica e TransBrasil, receberão R$ 5,1 bilhões. O projeto completo prevê 60 obras de arte, com duas pontes estaiadas e três túneis, 134 estações e 181 km de corredores de ônibus. De 125 km, 70% terá a utilização do pavimento de concreto. RODOVIAS&VIAS Com as obras iniciadas, a TransCarioca é o primeiro corredor do Rio de Janeiro a utilizar a tecnologia com as pavimentadoras de fôrmas deslizantes. No total, serão 39 quilômetros dessa via em concreto. Os próximos serão o TransOlímpica, com 26 km, e o TransBrasil, com 60 km. Já o TransOlímpica — com investimento previsto de R$ 1,6 bilhão — faz parte do compromisso assumido pela Prefeitura com o COB para a realização das Olimpíadas. Com a licitação do TransBrasil, que deve acontecer ainda neste ano, o município do Rio poderá ter em 2013 três obras em pavimento de concreto com execução simultânea, utilizando-se de quatro pavimentadoras de fôrmas deslizantes, duas delas só no TransCarioca. Para o início da obra do TransCarioca, foi formalizado um convênio de cooperação técnica entre a Prefeitura e a ABCP, com o objetivo de buscar a qualidade do pavimento de concreto, por meio da cooperação e apoio técnico, transferência de tecnologia em pavimentos com uso de cimento Portland, através de cursos (teóricos e práticos), seminários e treinamentos diversos. O volume estimado de concreto (só da pista) será de 270 mil metros Um estudo feito pelo Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá indica que caminhões podem economizar até 11% de combustível, rodando em rodovias de concreto. Para chegar a essa conclusão, foram analisados veículos que circulavam em rodovias asfaltadas e de concreto.Os técnicos justificam o resultado atribuindo à menor resistência que o pavimento de concreto proporciona aos caminhões, já que estradas de concreto possuem superfície mais rígida, indeformável e estável. Em países com temperatura média elevada, caso do Brasil, esse benefício poderia ser ainda maior. As altas temperaturas fazem com que o asfalto amole- Foto: Rodovias&Vias/Marcelo Almeida Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi Caminhões gastam menos combustível Pista segregada para ônibus recebe camada de concreto na Linha Verde em Curitiba. 74 ça, prendendo mais o veículo ao chão, exigindo mais força (e mais combustível) para o seu deslocamento. Além da economia de combustível, significa redução na emissão de gases poluentes. O estudo ainda aponta que, no Canadá, a economia com combustível, caso as principais rodovias fossem de concreto, seria de quase US$ 70 milhões por ano. Obras de duplicação na BR-101 nodeste. Materiais para o concreto Para obter um concreto de qualidade, os requisitos para a sua composição são: - Usar pedra e areia limpas (sem argila ou barro), sem materiais orgânicos (como raízes, folhas, gravetos, etc.), e sem grãos que esfarelam quando apertados entre os dedos; - O cimento deve ser de boa qualidade; - A água também deve ser limpa. É muito importante que a quantidade de água da mistura esteja correta. Tanto o excesso como a falta são prejudiciais; - As britas, quando expostas à grande insolação, devem ser umedecidas para não alterar o abatimento do concreto. RODOVIAS&VIAS 75