CONSTRUÇÃO
CONCRETO
Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi
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A utilização de concreto (uma mistura de cimento, areia, pedra e
água) está ganhando as estradas e ruas. Historicamente, registros
apontam que os romanos foram os primeiros a usar uma versão
desse material, conhecido na época como pozzolana. No português
de Portugal é chamado de “betão”. Mas o seu desenvolvimento
como é conhecido hoje começou apenas no século XIX.
RODOVIAS&VIAS
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CONSTRUÇÃO
O retorno
Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi
O concreto já era utilizado na pavimentação de rodovias, pistas de aeroportos e vias urbanas, até a metade do
século passado. O desenvolvimento da
tecnologia do asfalto – um derivado de
petróleo – muito mais barata na época,
fez com que o cimento voltasse a suprir
unicamente a construção civil destinada a edificações. Passados mais de 50
anos, eis que o concreto é redescoberto como pavimento mais duradouro,
com menos danos ao meio ambiente.
Segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), que sempre
se dedicou à promoção e aplicação do
pavimento de concreto, e ainda com
mais vigor a partir de 1995, a expectativa é que, em um futuro não tão distante, pelo menos 20% das rodovias
brasileiras estejam pavimentadas com
concreto. Hoje, são pouco mais de 7 mil
dos 196 mil quilômetros de rodovias
pavimentadas do país que utilizam esse
produto, o que corresponde a cerca de
4% da malha. E só foi possível alcançar
esse percentual, devido ao consistente
e ininterrupto trabalho da ABCP iniciado há cerca de 15 anos, quando o percentual era de apenas 2%.
“se considerar a
durabilidade de 20 a 30
anos do pavimento de
concreto, os custos no
longo e mediano prazos
resultam bastante menores
que as demais alternativas,
transformando o pavimento
de concreto em solução
altamente econômica e
competitiva”.
Foto: Divulgação
A
pesar de existirem vários tipos de
concretos – autoadensável, leve,
pós-reativo, translúcido, colorido, com fibras – utilizados de acordo com as necessidades específicas de cada projeto, sua
divisão mais comum é em apenas duas
categorias: armado, com ferragens passivas, e protendido, com ferragens ativas.
Sua resistência e durabilidade dependem da proporção entre os materiais que o constituem. A água utilizada
contribui para a reação química que
transforma o cimento em uma pasta
aglomerante. Se a quantidade de água
for muito pequena, a reação não ocorrerá por completo e dificultará a adaptação às fôrmas. Mas, se a quantidade
for superior à ideal, a resistência diminuirá em função da evaporação desse
excesso. A porosidade, por sua vez, tem
influência na impermeabilidade e, consequentemente, na durabilidade das
estruturas confeccionadas em concreto.
O cimento, parte importante do
concreto, é um material pulverulento,
constituído de silicatos e aluminatos
complexos que, ao serem misturados
com água, hidratam-se, formando uma
massa gelatinosa. Essa massa, após
contínuo processo de cristalização, endurece, oferecendo então elevada resistência mecânica.
Renato Giusti
Presidente da Associação Brasileira
de Cimento Portland (ABCP)
O porcentual de 20% é verificado
hoje em países como Alemanha e Estados Unidos. Investimentos feitos em
equipamentos, tecnologia e redução
de preços poderão fazer com que o
Brasil se encaminhe mais rápido para
atingir a meta da ABCP, principalmente considerando que os custos iniciais
de construção do quilômetro do pavimento de concreto são hoje competitivos e similares aos das demais alternativas, salienta Renato Giusti, presidente da ABCP.
Entretanto, ao se considerar a durabilidade de 20 a 30 anos do pavimento
de concreto, os custos no longo e mediano prazos resultam bastante menores que as demais alternativas, transformando o pavimento de concreto
em solução altamente econômica e
competitiva, completa Giusti.
Há outros benefícios a serem levados em consideração. A redução de
acidentes é apenas mais um deles, segundo pesquisas internacionais reconhecidas. “Por não se deformar, ele (o
concreto) não surpreende o motorista
durante um trajeto”, diz a pesquisa.
Aqueles famosos sulcos nas rodovias,
decorrentes do peso dos caminhões,
não acontecem com a utilização do
concreto. Em dias de chuva, ele não
gera aquaplanagem e tem uma aderência maior do pneu ao pavimento.
Outro detalhe importante: nas viagens noturnas a visibilidade é maior por
ele ser mais claro que o asfalto. Nesse
quesito, uma curiosidade: por refletir
melhor a luz, o trecho em concreto da
Avenida Iguaçu, em Curitiba, proporciona economia de energia para a Prefeitura. As lâmpadas dos postes foram trocadas de 400 watts para 250 watts.
O benefício ao meio ambiente também é um fator importante. Por ser
constituído de materiais que já fazem
parte da natureza – cimento, pedras,
areia, etc. –, a agressão é menor que
o asfalto, um subproduto do petróleo.
Por não absorver calor, o concreto também ajuda a resfriar o ambiente, enquanto o asfalto esquenta.
Atenção aos detalhes confere qualidade à aplicação.
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cúbicos – 100 mil toneladas de cimento a serem consumidas até 2015. Pelo
volume de obras da Prefeitura, e por
reconhecer que a ABCP tem sido um
referencial de soluções, de assessoria,
de tecnologia e de qualidade, houve
a solicitação da organização de uma
agenda mensal para tratar dos assuntos referentes, não só dessas obras,
mas de outras de infraestrutura.
Essas características estão sendo
levadas em consideração para a construção da mais longa rodovia em concreto do país, que vai ligar Natal, no Rio
Grande do Norte, até as divisas com
Pernambuco e Alagoas, com 340 quilômetros. Trata-se da duplicação da BR
101 Nordeste.
Corredores
expressos de ônibus
do Rio serão em
concreto
Para receber grandes eventos esportivos – como a Copa do Mundo e
as Olimpíadas –, o Rio de Janeiro prevê investimentos de R$ 16 bilhões na
área de transporte público. Apenas os
quatro corredores expressos de ônibus (BRTs – Bus Rapid Transit), chamados de TransOeste, TransCarioca,
TransOlímpica e TransBrasil, receberão R$ 5,1 bilhões.
O projeto completo prevê 60
obras de arte, com duas pontes estaiadas e três túneis, 134 estações e
181 km de corredores de ônibus. De
125 km, 70% terá a utilização do pavimento de concreto.
RODOVIAS&VIAS
Com as obras iniciadas, a TransCarioca é o primeiro corredor do Rio de
Janeiro a utilizar a tecnologia com as
pavimentadoras de fôrmas deslizantes.
No total, serão 39 quilômetros dessa
via em concreto. Os próximos serão o
TransOlímpica, com 26 km, e o TransBrasil, com 60 km. Já o TransOlímpica
— com investimento previsto de R$
1,6 bilhão — faz parte do compromisso assumido pela Prefeitura com o COB
para a realização das Olimpíadas.
Com a licitação do TransBrasil, que
deve acontecer ainda neste ano, o
município do Rio poderá ter em 2013
três obras em pavimento de concreto
com execução simultânea, utilizando-se de quatro pavimentadoras de
fôrmas deslizantes, duas delas só no
TransCarioca.
Para o início da obra do TransCarioca, foi formalizado um convênio de cooperação técnica entre a Prefeitura e a
ABCP, com o objetivo de buscar a qualidade do pavimento de concreto, por
meio da cooperação e apoio técnico,
transferência de tecnologia em pavimentos com uso de cimento Portland,
através de cursos (teóricos e práticos),
seminários e treinamentos diversos.
O volume estimado de concreto
(só da pista) será de 270 mil metros
Um estudo feito pelo Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá indica
que caminhões podem economizar até
11% de combustível, rodando em rodovias de concreto. Para chegar a essa
conclusão, foram analisados veículos
que circulavam em rodovias asfaltadas
e de concreto.Os técnicos justificam
o resultado atribuindo à menor resistência que o pavimento de concreto
proporciona aos caminhões, já que estradas de concreto possuem superfície
mais rígida, indeformável e estável.
Em países com temperatura média
elevada, caso do Brasil, esse benefício
poderia ser ainda maior. As altas temperaturas fazem com que o asfalto amole-
Foto: Rodovias&Vias/Marcelo Almeida
Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi
Caminhões gastam
menos combustível
Pista segregada para ônibus recebe camada de concreto na Linha Verde em Curitiba.
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ça, prendendo mais o veículo ao chão,
exigindo mais força (e mais combustível) para o seu deslocamento.
Além da economia de combustível, significa redução na emissão
de gases poluentes. O estudo ainda
aponta que, no Canadá, a economia
com combustível, caso as principais
rodovias fossem de concreto, seria de
quase US$ 70 milhões por ano.
Obras de duplicação na BR-101 nodeste.
Materiais para o concreto
Para obter um concreto de qualidade, os requisitos para a sua composição são:
- Usar pedra e areia limpas (sem argila ou barro), sem materiais orgânicos
(como raízes, folhas, gravetos, etc.), e sem grãos que esfarelam quando
apertados entre os dedos;
- O cimento deve ser de boa qualidade;
- A água também deve ser limpa. É muito importante que a quantidade de
água da mistura esteja correta. Tanto o excesso como a falta são prejudiciais;
- As britas, quando expostas à grande insolação, devem ser umedecidas para
não alterar o abatimento do concreto.
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A utilização de concreto (uma mistura de cimento, areia