APV Sudeste | Manual do Equipante 7| Você pode (e deve) aconselhar por Dr David W. Smith Aconselhamento é dever de cada cristão. Pare um instante. Você leu com cuidado estas primeiras palavras? Antes de continuar sua leitura, repare novamente minha afirmação inicial: “Aconselhar é dever de cada cristão”. Você concorda? Discorda? Qual a sua reação? Alguns talvez digam, repreensivelmente – “Acaso sou eu conselheiro do meu irmão?” (cf. Gn 4.9), e passem ao largo, como o sacerdote e o levita, deixando as muitas feridas espirituais de seu próximo para algum bom samaritano que possa mais tarde. Outros afirmam: “Aconselhamento é um trabalho altamente especializado, do pastor, do profissional. Assim sendo, é preciso um preparo especial, que eu não tenho. Além do mais, não tenho o jeito de conselheiro”. Ainda outros reclamam: “Eu aconselhar? Mal consigo lidar com meus próprios problemas! Como, pois, ajudar meu próximo com os dele?”. Pergunto novamente – “Aconselhamento é, ou não é, dever de cada cristão?” Como preparo para andarmos juntos em direção a uma resposta, quero aplicar-lhe um pequeno teste de associação de palavras. Vou lhe dar uma palavra, e você vai anotar as ideias que essa palavra desperta em sua mente. Por exemplo, quando menciono a palavra “manga”, quais os pensamentos que passam por sua mente? Fruto? Parte de uma camisa? Filtro afunilado para líquidos? Jogador de futebol? Muito bem. Todas estas respostas são válidas. Agora, outra palavra: “aconselhamento”. Qual o “retrato mental” que você faz desta palavra? Talvez você pense em um sofá de couro e um paciente deitado falando á vontade. O conselheiro senta-se atrás dele, fazendo anotações. Ou talvez seu conceito de “aconselhamento” seja o de um conselheiro simpático sentado diante de uma escrivaninha. De vez em quando, ele repete as palavras do aconselhado, ora sacudindo a cabeça em profunda empatia, ora reformulando as frases do aconselhado, sempre tomando muito cuidado para nunca dar conselhos ou sugestões. Ou talvez você pense em uma experiência pessoal de aconselhamento com o pastor ou outro especialista no assunto. Ou pode ser que você pense em uma terapia em grupo ou mesmo nos corredores de um hospital psiquiátrico. Creio que você já percebeu minha intenção. A palavra “aconselhamento” gera uma variedade de ideias, algumas positivas, outras negativas. Sua reação à afirmação “Aconselhamento é dever de cada cristão” depende do retrato mental que você faz da palavra “aconselhamento”. Para o filho de Deus, o conceito da palavra “aconselhamento” precisa ser determinado pela Bíblia. Hoje em dia, há muitas ideias distorcidas ou mesmo erradas sobre aconselhamento, quando comparadas com o padrão das Escrituras. Essas ideias não bíblicas têm penetrado profundamente na mentalidade da Igreja. Talvez isso se deva à tendência de curvarmo-nos perante o mundo secular, esperando – como cachorrinhos – que algumas migalhas caiam de sua mesa. Mas as teorias seculares não passam de “âncoras flutuantes”. Elas não têm: Um mandado do Senhor para aconselhar, Um padrão absoluto e seguro (além da lógica ou consciência humana), Este material faz parte do Manual do Equipante © Edição 2012 APV Sudeste | www.opv.org.br APV Sudeste | Manual do Equipante Uma descrição do homem “ideal”, ou seja, o alvo do aconselhamento, Poder (além da própria força de vontade) para efetuar mudanças de comportamento, atitude e pensamento. Considere o contraste com o aconselhamento bíblico. No mínimo, ele tem: Mandado do Senhor, A Palavra de Deus como padrão absoluto, Uma descrição do homem “padrão” (por ex., Rm 8.29 e Gl 5.22-23), Dependência do poder do Espírito Santo para efetuar mudanças profundas de personalidade. Voltemos à pergunta inicial: “aconselhamento é, ou não é, dever de cada cristão”? Talvez agora você responda – “Mas você me deu apenas o contraste entre o aconselhamento bíblico e os sistemas não bíblicos. Você ainda não definiu o aconselhamento bíblico”. Tem razão. Talvez a seguinte definição possa ajudar: “Aconselhamento bíblico é o ministério de um indivíduo procurando ajudar outro a identificar, compreender e resolver seus problemas de acordo com a Palavra de Deus, pelo poder do Espírito Santo, para a glória de Deus”. Esse tipo de aconselhamento é dever de cada cristão. Note, por exemplo, os imperativos de Colossenses 3.16: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais ,com gratidão, em vosso coração”. Observe, no contexto, que não é um versículo apenas para pastores ou profissionais, mas para todo o corpo de Cristo. Reforçando nossa definição de aconselhamento bíblico acima citada, o versículo destaca o papel central das Escrituras (“Habite ricamente, em vós a palavra de Cristo...”), o aconselhamento mútuo (“aconselhai-vos mutuamente...”) e a importância da sabedoria (aplicação da Bíblia às situações da vida cotidiana) no aconselhamento. Talvez você agora esteja pensando: Está bem. Estou começando a convencer-me de que o aconselhamento realmente é dever de cada cristão. Mas certamente há requisitos mínimos para começar. Novamente, você tem razão. A própria Bíblia sugere alguns. Gálatas 6.1, por exemplo, diz: Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Percebeu os requisitos para o conselheiro? 1. Ele precisa ser irmão, não incrédulo, mesmo que especializado; 2. Deve ser espiritual, andando no Espírito Santo, demonstrando o fruto do Espírito (Gl 5.22-23); 3. Tal espiritualidade demonstra-se num espírito de brandura e profunda humildade que se guarda para não cair no mesmo erro. Este material faz parte do Manual do Equipante © Edição 2012 APV Sudeste | www.opv.org.br APV Sudeste | Manual do Equipante Ainda pensando nas qualificações bíblicas de quem aconselha, note também os termos de Romanos 15.14: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes [aconselhardes] uns aos outros”. Novamente, o aconselhamento não fica restrito a um grupo de especialista: são (1) irmãos, porém irmãos (2) possuídos de bondade, movidos pelo amor que busca o bem-estar de outrem, (3) cheios de conhecimento, o rico conhecimento do próprio Senhor e de Sua Palavra e, consequentemente, (4) aptos para vos admoestardes uns aos outros, capazes de perceber como ajudar alguém a solucionar seus problemas em Cristo. Sim, aconselhamento é dever de cada cristão. Assim ordena a Bíblia. Não posso passar ao largo. Sou conselheiro de meu irmão (e pela mutualidade indicada nas passagens acima citadas também posso ser aconselhado por ele). Devo preocupar-me com as feridas espirituais dele. E não apenas em casos extremos, casos de crise. Mas antes que as crises aconteçam, antes que a infecção piore, exigindo medidas mais drásticas, de acordo com Hebreus 3.13: “Pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”. Fica evidente que esse tipo de aconselhamento deve ser um processo contínuo, no contexto de uma comunidade (a igreja) onde reina o amor, e onde barreiras entre irmãos não encontram ambiente para crescer. Como começar? Dispondo-se para desenvolver as qualidades bíblicas necessárias para aconselhar. Verificando seu relacionamento com Deus, com parentes e amigos. Aplicando a Palavra de Deus aos seus próprios problemas (os adultos são aqueles que, pela prática, tem as suas faculdades exercidas para discernir não somente o bem mas também o mal – Hb 5.14). Daí, fique atento às necessidades ao seu redor. Não haverá falta de oportunidade! Em resumo... “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”. (Cl 3.16) O aconselhamento bíblico: É centrado na Pessoa e obra de Cristo E na Palavra de Deus aplicada com sabedoria a situações específicas da vida Dentro da mutualidade no corpo de Cristo “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros”. (Rm 15.14) O conselheiro: É um irmão em Cristo Que reflete a Cristo e demonstra o fruto do Espírito Conhecedor da Palavra de Deus e comprometido com ela Pronto para aproveitar as oportunidades que Deus colocar em seu caminho Este material faz parte do Manual do Equipante © Edição 2012 APV Sudeste | www.opv.org.br APV Sudeste | Manual do Equipante “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado”. (Gl 6.1) “Pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”. (Hb 3.13) A ocasião: Lidando com o erro observado ou Prevenindo o erro “Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos”. (1Ts 5.14) A atuação: Diversidades de pessoas e Diversidade de intervenção Então... escolha ser um conselheiro que fará diferença na vida dos acampantes. Este material faz parte do Manual do Equipante © Edição 2012 APV Sudeste | www.opv.org.br