SIM
VOCÊ PODE FINANCIAR
Solange Galante
Não importa o tamanho ou o valor. Aeronaves executivas,
mesmo aquelas de grande porte, podem ser adquiridas por
meio de financiamentos bancários de diversas modalidades.
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e esse cliente vai receber uma linha de crédito fora
do Brasil ou na sua empresa e, posteriormente,
alienará a aeronave a este banco estrangeiro.”
“Quatro anos atrás tínhamos uns três bancos
vinculados com a gente, hoje em dia já temos
cinco, seis bancos vinculados. Há bancos que tiveram o produto, saíram do mercado e retornaram
agora”, diz Maria Eduarda A. Simonsen, gerente
comercial de Aeronaves da Sertrading. Itaú e o
Bradesco são os maiores bancos do segmento,
sendo que o Bradesco, o pioneiro, pelo ranking de
2012 da Associação Brasileira de Leasing, tinha,
sozinho, quase 65% do mercado, sendo seguido
pelo Itaú, com quase 17%. As razões do interesse
são unânimes: alto valor agregado, maior ganho
no spread – que é simplesmente a diferença entre
os juros que o banco cobra ao emprestar e a taxa
que ele mesmo paga ao captar dinheiro –, taxa
Flávio Marcos de souza
em dólares. A trading precisa vincular o próprio
Radar, o documento obrigatório para operações
de importação e exportação, ao do cliente final.
O cliente normalmente tem uma empresa, uma
patrimonial, uma holding, e é ela que vai obter o
Radar. “Aqui dentro da Comexport, por exemplo,
temos um funcionário que cuida só de Radares e
vinculações dos clientes”, informa Juliano Lefèvre,
diretor comercial da Comexport. O Radar tem duas
modalidades, o limitado e o ilimitado. O limitado só
dá possibilidade de importar até 150 mil dólares a
cada seis meses para operação. “Então, para todas
as operações de aeronaves, podemos afirmar que
o Radar necessário é o ilimitado, por que praticamente não há operação abaixo de 150 mil dólares.
O formato funciona assim: nós vamos importar a
aeronave, vender por encomenda para o cliente
final, que tem o Radar Ilimitado vinculado conosco,
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ção um pouco mais estruturada, normalmente
com aeronaves que estão acima de 10 milhões
de dólares, como um Sovereign, um G550, um
Global 6000, um Falcon 7X, por exemplo. As
operações com esses aviões de maior valor em
reais, no Brasil, são menos frequentes porque
acabam se tornando um pouco caras, já que este
perfil de cliente costuma ter acesso a linhas em
dólares que variam de 2,5% a 6% ao ano e, normalmente, eles já têm operações em dólar. Nesse
formato, os bancos estrangeiros, usualmente, não
têm uma empresa de leasing própria operando
no Brasil: eles estão simplesmente emprestando
A carteira de aviação
representa hoje
cerca de 20% dos
negócios de crédito
do Itaú Private Bank.
A Société Générale Equipment Finance hoje tem foco maior no segmento de helicópteros.
Juliano F. Damásio
O mercado de arrendamento mercantil
desencadeia uma série de efeitos na economia
brasileira, que resultam na elevação da eficiência
e no aumento da competitividade empresarial.
Dentro desse contexto, a aviação é um dos setores
no mundo que mais se utilizam das operações de
leasing, além de ser uma operação atrativa para
investimentos a longo prazo, face à estrutura da
operação. Como consequência, novos bancos
começaram a entrar no mercado de leasing de
aeronaves executivas na modalidade de importação por encomenda, uma vez que esta operação
vem crescendo muito em volume. A concorrência
entre os bancos é muito saudável para o mercado
porque ainda há cliente que acha que precisa dispor dos milhões à vista para adquirir a aeronave,
muitas vezes desconhecendo que pode financiá-la.
Com a concorrência, essa operação se tornou mais
barata e todos são beneficiados com isso.
Em uma das modalidades o cliente, pessoa
física ou jurídica, escolhe o banco nacional de sua
preferência, que figurará como encomendante
da operação e emitirá um pedido de compra de
uma determinada aeronave, e a trading processará a operação. A trading fatura para o banco
e o banco faz um arrendamento mercantil, que
é o nome verdadeiro do conhecido leasing, para
esse cliente. Por exemplo, o avião vem em nome
da Comexport, que é a importadora, o banco faz
o financiamento em nome do cliente e quando
a aeronave chega ao Brasil a trading recolhe os
impostos de nacionalização e vende a aeronave
para o banco que, a partir de então, assina com
o cliente, o arrendatário, o contrato de leasing. O
segundo formato, também muito usado agora no
Brasil, é a operação com os bancos estrangeiros.
Isso já existia antes, mas agora eles estão atuando
com mais frequência no Brasil. Aí é uma opera-
Juliano F. Damásio
A aviação é um dos setores que mais se utiliza das operações de leasing.
de inadimplência baixíssima – não é da cultura
do cliente que adquire um avião executivo deixar
de pagar a parcela – e é ainda excelente para
estreitar o bom relacionamento com o cliente,
principalmente na área de Private dos bancos e,
eventualmente, conseguir oferecer outros tipos
de produtos, outros investimentos, etc. Os bancos afirmam que o leasing está ganhando força
principalmente nos setores mais modernos e dinâmicos da economia, como bens de capital e bens
duráveis. O Banco Itaú, por exemplo, intensificou
esse tipo de financiamento há cerca de dois anos
e a carteira de aviação representa hoje cerca de
20% do total de negócios de crédito de seu Private
Bank. “São, atualmente, cerca de 80% de aviões
e 20% de helicópteros em nossa carteira, sendo
40% do total composto por aeronaves novas e 60%
por seminovas”, informa Paulo Meirelles Santos,
diretor do Itaú Private Bank.
“O Santander Brasil sempre financiou aeronaves executivas. Recentemente, intensificamos
nossa atuação após iniciativas institucionais, como
o lançamento do produto Leasing Doméstico de
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Produtos Importados (LDPI), destinado ao financiamento de máquinas e equipamentos importados,
incluindo as aeronaves executivas”, informa Ricardo
Henrique Russo, superintendente executivo de Vendas Especializadas da unidade de negócios Global
Banking & Markets (GB&M) do Santander.
Entre os bancos estrangeiros, a Société Générale Equipment Finance (SGEF), empresa do Grupo
SG especializada em financiamento de máquinas/
equipamentos e aeronaves, com escritórios em 25
países, iniciou suas atividades no Brasil no final de
2008, financiando em 2010 sua primeira aeronave.
“A concorrência só confirma a decisão certa da
SGEF de entrar neste mercado antes e do foco em
estruturar e personalizar a demanda do cliente com
um produto diferenciado. Oferecemos o Leasing Importação Doméstico em Dólar, que traz um hedge
natural relativo ao preço das aeronaves no Brasil, já
que as mesmas são sempre cotadas nesta moeda”,
explica Francisco José Barretto Giorno, chefe de IT
e Aeronaves do banco. Ele também observa que,
no passado, a SGEF financiou vários segmentos,
mas hoje está mais focada em helicópteros. “No
entanto, ao longo destes últimos anos, foram
feitas também algumas experiências envolvendo o
financiamento de modelos previamente aprovados
de aviões corporativos e estudamos aeronaves de
grande porte e jatos da categoria light sob demanda
específica. Foram financiadas dez aeronaves ao
longo dos cinco últimos anos, sendo 50% helicópteros e 50% aviões, 70% da carteira de novas
aeronaves.” Em 2013 a SGEF esteve distante do
mercado devido a uma reestruturação nesta área,
mas reforçou a atividade no final de 2013 e acaba
de entregar uma aeronave, além de ter mais seis
propostas em andamento. “Com nosso foco renovado no final de 2013, verificamos grande demanda
de aeronaves novas, o que nos surpreendeu muito.
Depois da crise de 2010 surgiram boas oportuni-
dades de mercado para aeronaves usadas e agora
está se invertendo esta situação.”
Os bancos passaram também a se interessar
mais pelas aeronaves de maior valor. “Aeronave de
alto valor é investimento alto, então, obviamente,
o retorno é maior para os bancos, mas também em
relação às aeronaves de alto valor, estes clientes
tendem a ser mais fiéis ao banco e o banco consegue atingir um cliente que para ele pode ser muito
interessante no seu investimento e para outros
produtos”, observa Maria Eduarda, da Sertrading.
“Embora tenhamos uma certa preferência pelas
aeronaves maiores, o foco é realmente o cliente
que necessita de financiamento e leasing para
diferentes modelos, desde os menores na faixa de
1 milhão de dólares até os grandes jatos”, explica
Paulo Meirelles, do Itaú.
Segundo Rui Pereira Rosa, superintendente
executivo do Departamento de Empréstimos e
Financiamentos do Bradesco, seu banco sempre
operou no arrendamento de aeronaves no País,
porém, a partir de 2006, o mercado foi potencializado com a regulamentação das operações de
Importação por Encomenda “e nós implantamos
uma estrutura especializada para viabilizar as
operações através da Bradesco Leasing. O Brasil
tem sido e continua a ser um mercado muito
importante para o setor da aviação executiva”.
De acordo com o executivo, o Bradesco atua em
todos os segmentos onde as aeronaves possam
ser utilizadas. “Temos em nosso portfólio desde
aeronaves executivas até aeronaves de uso agrícola, portanto, o acompanhamento das tendências
de mercado é um fator primordial para atender a
todos os perfis.”
Para o Itaú, segundo Paulo Meirelles, o mais
importante é estruturar a melhor alternativa para
o cliente e isso coloca o banco à frente muito em
função de sua oferta global de produtos. “Em geral
Os bancos passaram também a se interessar mais pelas aeronaves de maior valor.
a concorrência sempre esteve presente, talvez os
bancos estejam mais interessados neste tipo de
negócio atualmente, o que faz com que a precificação seja muito semelhante. A diferença está na
assessoria na escolha da melhor forma de comprar
a aeronave, com o foco na necessidade do cliente.”
Por sua vez, Felipe Videira, diretor de Negócios da Cisa Trading, não acha que haja um maior
interesse dos bancos locais, já que eles sempre
se mostraram presentes. “Acredito mesmo é no
crescimento do próprio mercado, com a entrada
de novos bancos, novos clientes, bem como um
aumento da nacionalização das aeronaves de
médio e grande porte, o que acaba criando uma
maior demanda para o financiamento local.” A
Cisa trabalha diretamente e indiretamente com todos os bancos atuantes no mercado de aeronaves
executivas e Felipe afirma que a empresa teve seu
melhor desempenho na importação de aeronaves
executivas no ano de 2013. “Esperamos um crescimento para o ano de 2014. Apesar de estarmos
próximos das eleições, esperamos um mercado
aquecido para o segundo semestre, sempre contando com os resultados da Labace.” “Para nós,
trading, essa abertura dos bancos é fundamental,
porque facilita muito a nossa operação, já que
temos o Radar junto a alguns bancos, e para o
próprio cliente, pois tirar o Radar não é uma coisa
tão simples”, observa Maria Eduarda, da Sertrading, que está no mercado desde 2009 e cresce,
anualmente, mais de 100%. No ano passado, a
empresa importou cerca de 35 aeronaves. “Este
ano a gente deverá fazer a importação de cerca
de 30 aeronaves, um pouco menos que em 2013,
não por causa do mercado, mas por opção nossa,
temos dado preferência a um mercado mais abrangente, menor número de aeronaves com tíquete
maior. Já trouxemos, até agora, no meio do ano,
Benito Latorre
As operações de leasing proporcionam recursos de longo prazo, até dez anos.
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18 aeronaves, devemos terminar o ano com 30,
mas com um faturamento de mais do que o dobro
do segmento.”
“As operações de importação por encomenda com os bancos representam uma fatia muito
importante no nosso faturamento e, para atender
a esta demanda, a nossa empresa montou uma
estrutura operacional específica para este segmento de mercado”, informa Getúlio Sanches
Junior, gerente comercial de Aeronaves da Cotia.
Ele informa ainda que o ano de 2013 foi muito
bom para a Cotia e, no que tange às operações
de encomenda com bancos, a empresa de trading
teve um crescimento em relação ao ano de 2012.
“Neste ano de 2014, apesar de existirem muitas
distrações no mercado em geral, tais como Copa
do Mundo e eleições, este segmento tem demandado muitos novos negócios.”
VANTAGENS
Os bancos têm interesse em financiar porque
para eles é muito atrativa essa operação. Já em
relação ao cliente, muitas vezes, embora inicialmente ele não tenha esse interesse, ele acaba
financiando a aeronave porque o maior atrativo
do banco é possuir o Radar“ e aí ele utiliza o Radar
do banco e da trading. Habilitar-se no Radar da
Receita Federal (RF) é obrigatório para quem quiser
importar ou exportar. A habilitação no Radar é
uma autorização que permite acesso ao Sistema
Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) da RF.
Segundo Ricardo Russo, do Santander, o financiamento de aeronaves em reais elimina o risco
cambial, variável exógena à gestão de muitas companhias, e desobriga as empresas de recorrerem aos
instrumentos do mercado de derivativos para proteção cambial (hedge). “Além de ser um produto de
Juliano F. Damásio
O financiamento em dólar tem a vantagem de ser na mesma moeda de cotação das aeronaves.
Praticamente inexiste inadimplência para quem financia aeronaves de alto valor, segundo os bancos.
financiamento de médio e longo prazo indexado em
reais, ainda proporciona benefícios fiscais inerentes a
uma operação de Leasing Financeiro Doméstico, em
que 100% da contraprestação pode ser dedutível da
base de incidência do Imposto de Renda. Os clientes
também contam com eventual benefício (economia)
nos processos de importação, que neste produto
(LDPI) é feito integralmente por uma trading company parceira do Santander – os benefícios fiscais
são aplicáveis àqueles clientes que adotam o regime
de Lucro Real e que efetivamente apresentam lucro
em seus demonstrativos de resultados.”
“Temos a vantagem de diversificar nosso
portfólio em diferentes subsegmentos e não sofrer
tanto com oscilações específicas de uma única
fatia do mercado”, explica Francisco Giorno, do
SGEF. Ele destaca ainda que, além de taxas melhores em dólares, o cliente tem também como
atrativo um financiamento na mesma moeda de
cotação das aeronaves e, portanto, uma operação
com um hedge natural.
Rui Pereira Rosa explica que as operações
de leasing proporcionam recursos de longo prazo (até dez anos), viabilizando aos clientes do
Bradesco o acesso a bens sem a necessidade de
imobilização de recursos próprios, e elas podem
ser atendidas em até 100% do valor do bem, de
acordo com análise de cada proposta, adequando
os pagamentos de acordo com a necessidade de
cada cliente. Rui acrescenta que, dentro do portfólio de financiamentos do Bradesco, há ainda o
BNDES, através do Programa de Sustentação do
Investimento (PSI), com condições atrativas para
quem quer comprar uma aeronave nova de fabricação nacional, modalidade em que o Bradesco
se constitui no principal agente financeiro. “A
demanda para financiamento de aeronaves novas
no mercado local aumentou em função das boas
condições de custo e prazo oferecidos pelo BNDES
Finame, por meio do PSI. Este programa pode
chegar a um custo fixo de 6% ao ano, abaixo do
patamar observado pelo benchmark de juros do
mercado brasileiro (Selic)”, explica Ricardo Russo,
superintendente do Santander.
Paulo Meirelles, do Itaú Private Bank, também
destaca os incentivos para o financiamento de
aeronaves fabricadas no Brasil, com condições
de juros bastante atrativas e de longo prazo para
os clientes brasileiros. Segundo o executivo do
Itaú, o resultado, desde 2013 até o momento, foi
muito bom, tendo o banco conseguido superar as
expectativas muito em função de uma estrutura
de atendimento com equipe qualificada e muito
focada em estruturar a melhor alternativa de financiamento para os clientes. “Quanto ao segundo
semestre, esperamos uma pequena desaceleração,
muito em função dos eventos que ocorreram ou
O Brasil continua sendo um mercado muito importante para o setor da aviação executiva.
que estão por vir (Copa e eleições).”
“Adicionalmente, entendemos que as soluções financeiras também contribuem para mitigar
possíveis efeitos das restrições e obstáculos estruturais do País. Não somos especialistas no mercado
de aviação executiva no seu sentido mais amplo,
mas sabemos que o financiamento neste tipo de
negócio é uma excelente ferramenta de medição do comportamento e das suas tendências.
Está claro que há um aumento na demanda por
financiamentos de aeronaves executivas desde a
crise de 2008. Tanto é que tomamos a decisão de
investir em novos produtos, como o LDPI”, observa
Ricardo Russo, do Santander. “A SGEF acredita
neste mercado e está apta a estruturar operações
de acordo com a demanda de cada cliente. Sendo
o Brasil um País com dimensões surperlativas, a
aviação não é luxo e sim necessidade básica de
logística”, conclui Francisco Giorno.
Juliano F. Damásio
Há ainda o financiamento pelo BNDES, com condições atrativas para quem quer comprar uma aeronave nova de fabricação nacional.
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