outro XVIII Conselho Editorial Av Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 [email protected] Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt ©2014 Guilherme Galhegos Felippe Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. F3351 Felippe, Guilherme Galhegos. A Cosmologia Construída de Fora: a relação com o outro como forma de produção social entre os grupos chaquenhos no século XVIII/Guilherme Galhegos Felippe. Jundiaí, Paco Editorial: 2014. 376 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8148-521-8 1. Povos chaquenhos 2. História indígena 3. Antropologia 4. Historiografia. I. Felippe, Guilherme Galhegos. CDD: 900 Índices para catálogo sistemático: História da América do Sul Antropologia Estrutura social – Grupos sociais IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal 980 301 305 Sumário Apresentação 5 Prefácio 9 Introdução 15 Capítulo 1 Os mitos indígenas como construção da realidade 1. “Natureza” e “cultura” 2. Os mitos 37 37 58 3. As oposições duais 84 Capítulo 2 A guerra como motor social 101 1. O lugar da guerra indígena 101 2. A inconstância: aliados e inimigos 123 3. O pós-guerra: espólios e reprodução social 158 Capítulo 3 Economia dos índios chaquenhos I 197 A captação de bens materiais: reciprocidade, roubos e comércio 1. A influência dos chaquenhos nas rotas comerciais portenho-andinas 197 2. O comércio de bebida como potencializador da sociabilidade indígena 218 3. A atividade comercial sem fins lucrativos 236 Capítulo 4 Economia dos índios chaquenhos II 257 A produção e o consumo alimentar como métodos econômicos de relação cosmológica 1. A internalização de métodos e tecnologias modernas 260 2. A produção sem excedentes: uma cosmologia da prodigalidade 283 3. Sobre a domesticação: a liberdade de ação do outro Conclusão 327 Referências 341 314 APRESENTAÇÃO A Tese de Doutorado “A cosmologia construída de fora: a relação com o outro como forma de produção social entre os grupos chaquenhos no século XVIII”, de Guilherme Galhegos Felippe, que ora se publica sob a forma de livro, apresenta original análise das formas como os índios chaquenhos reagiram – através do rechaço ou da internalização ao seu sistema cosmológico – aos saberes, às práticas e aos objetos introduzidos pelos colonizadores espanhóis. Fundamentada em uma bibliografia adequada e atualizada – que transita pela História e pela Antropologia –, a investigação realizada por Guilherme se caracteriza, sobretudo, pela análise de um rico e diversificado corpus documental – que contempla tanto correspondências produzidas por missionários ou clérigos católicos, quanto relatórios elaborados por agentes ligados ou não à burocracia da monarquia espanhola –, fontes que, em sua maioria, ainda não foram publicadas e que se encontram disponíveis em arquivos de Buenos Aires, Madri e Sevilha. Para a análise dos relatos sobre mitos indígenas ou dos que descreviam situações exclusivas da tradição nativa chaquenha, Guilherme recorreu às teorias do Animismo, do Perspectivismo e do Multinaturalismo, que possibilitaram o acesso ao sistema mitológico e à cosmologia destes grupos indígenas, e, consequentemente, a compreensão da forma como eles entendiam e relacionavam-se com os demais seres, entidades e ambiente. Este procedimento teórico-metodológico permitiu que ele constatasse que, ao mesmo tempo em que o grupo necessitava do que vinha de fora – para a manutenção da dinâmica das relações sociais do grupo –, era fundamental que houvesse a internalização destes elementos, de forma que fossem adaptados e alocados na dinâmica ontológica do grupo. Como exemplos destes procedimentos adotados pelos indígenas, Guilherme destacou a adoção dos cavalos por muitos grupos nômades do Chaco, que, além de serem utilizados para a guerra, eram adornados com colares de orelhas de inimigos ou sacrificados para 5 Guilherme Galhegos Felippe que pudessem ser enterrados juntos aos guerreiros mortos; ou a aguardente produzida pelos espanhóis, que foi facilmente internalizada nas cerimônias de bebedeira, substituindo a chicha. Considerando a hipótese de que a diferença estrutural entre os europeus e os índios chaquenhos não era uma questão técnico-instrumental, a Tese foi organizada a partir de três eixos temáticos – a guerra, o comércio e a produção alimentar – que, mais do que constituir situações de contato direto entre chaquenhos e colonizadores no contexto colonial, evidenciam o emprego de mecanismos de atração de elementos externos para garantir a união dos grupos chaquenhos. As cabeças-troféus trazidas pelos guerreiros vitoriosos, os escalpos ou o sangue dos inimigos mortos e, até mesmo, cativos de guerra trazidos para serem servidos nos rituais de antropofagia eram elementos externos a serem socializados entre os membros do grupo em confraternizações, das quais resultavam a atualização das relações sociais, a construção da consanguinidade e o fortalecimento da unidade aldeã. Também as festas de bebedeira tinham esta função para os grupos chaquenhos, na medida em que eram confraternizações que movimentavam tanto o ímpeto à guerra, quanto reforçavam a união do grupo. Para que pudessem continuar praticando as borracheras, os chaquenhos passaram a integrar-se ao comércio colonial, garantindo, desta forma, o acesso à bebida alcoólica para as festas e a manutenção das trocas reciprocitárias com outros grupos indígenas ou até mesmo com colonos que se aventuravam no comércio ilegal com os chaquenhos. Diferentemente do comércio, que foi incorporado pelos índios como uma prática que dinamizaria a reciprocidade nativa e permitiria um amplo acesso e circulação de bens, nem todas as atividades, técnicas ou objetos trazidos pelos europeus foram aceitos pelos chaquenhos. Em relação à produção alimentar, ao consumo e à armazenagem de excedentes, os índios do Chaco rechaçaram o modelo imposto pelo sistema colonial. A documentação analisada por Guilherme revelou que os índios, fossem eles caçadores/ coletores ou horticultores, possuíam interesses produtivos e um 6 A Cosmologia Construída de Fora método de consumo distintos daqueles adotados pelos europeus. Enquanto o sistema colonial objetivava a busca pela produção de mercado, através da implantação de técnicas e instrumentos que viabilizassem um alto rendimento, o método de produção alimentar indígena partia da coesão do grupo para a realização do consumo imediato dos ingredientes adquiridos, inserido numa lógica da prodigalidade e da reciprocidade. Para Guilherme, esta reação dos grupos chaquenhos – de rechaço aos métodos de agricultura, pecuária e armazenamento de alimentos – valida um dos argumentos centrais de sua Tese, ao evidenciar que eles tomavam suas decisões a partir de uma lógica que não era espontânea ou casuística, nem fruto do improviso frente às novas situações postas pelo avanço colonial, mas resultante de um complexo sistema mitológico que justificava uma relação respeitosa e subjetiva com o ambiente em que se encontravam inseridos. À sofisticada análise documental e ao bem executado diálogo com a produção bibliográfica histórica e antropológica, se somam um texto bem escrito – analítico e sensível – muito bem sucedido em seu propósito de “fazer uma história do outro”, daquele que “por mais brutalizado que possa ter sido” não deve “ser ignorado, menosprezado ou excluído da condição de protagonista”. O leitor, com certeza, encontrará neste livro não somente uma análise original e uma abordagem inovadora da história colonial setecentista, em especial, da região do Chaco, mas também uma contribuição inestimável para a história indígena, na medida em que Guilherme a construiu a partir das lógicas nativas postas em funcionamento nas situações de contato com os mais distintos agentes da sociedade colonial. Eliane Cristina Deckmann Fleck Professora do PPG em História da Unisinos 7 PREFÁCIO As sociedades indígenas da região do Grande Chaco ocupam um lugar central na etnologia e etno-história americanas. Poucas regiões no mundo apresentam uma variedade cultural, linguística e política tão atrativas para a reflexão sócio-antropológica. Apesar disto, trata-se de sociedades pouco conhecidas e estudadas pela academia brasileira. A documentação referente a estas sociedades é abundante. Especialmente a partir do século XVIII, a sociedade colonial hispânica realizou entradas sistemáticas na região a fim de controlar as povoações indígenas que a habitavam, genericamente classificadas como “guaycurus”. As tentativas foram infrutíferas, e não seria diferente até o século XIX, com a consolidação dos Estados Nacionais, quando o objetivo de “reduzir” estas populações foi alcançado. Nos diversos textos produzidos durante a época colonial, aparece o que mais tarde se transformaria em um verdadeiro estereótipo de classificação destas sociedades: “errantes”, “vagabundos”, “infiéis”, “irredutíveis”, que vivem em um estado de “guerra permanente”. Esta visão dominante também marcou boa parte dos trabalhos historiográficos durante o século XX. Foi somente com a emergência recente de uma perspectiva etno-histórica que a dinâmica destas sociedades começou a ser abordada de maneira positiva, considerando a participação dos indígenas como atores históricos. A cosmologia construída de fora se insere nesta perspectiva renovadora. Resultado de uma tese de Doutorado defendida na Universidade do Vale do Rio dos Sinos em 2013, o livro propõe uma aproximação original e renovadora à história dos índios da região do Chaco durante o século XVIII, articulando de maneira consistente os dados empíricos e contextuais com as análises mais recentes da teoria etnológica brasileira, em uma de suas vertentes mais ressoantes. A cosmologia constitui, que eu me lembre, a primeira aplicação sistemática do perspectivismo ameríndio nas sociedades indígenas do Chaco colonial. Isto implicou, para o autor, um duplo desafio 9 Guilherme Galhegos Felippe que consistiu em deslocar a reflexão da etnologia amazônica para a etno-história chaquenha e em articular a pesquisa histórica a um sofisticado esquema teórico. O livro propõe três grandes eixos de análise das sociedades indígenas do Chaco em contato com os colonizadores: um centrado na questão da guerra, outro, na circulação de bens e a reciprocidade e, outro, centrado no consumo alimentar. Ao longo do estudo, Felippe argumenta de maneira convincente que as populações chaquenhas que estavam em contato com a sociedade colonial incorporaram seletivamente diferentes agentes e objetos exógenos em seus próprios esquemas culturais e cosmológicos. Como já foi dito, Felippe logra um ótimo balanço entre a apresentação dos dados empíricos e a proposta teórica articuladora em todo o livro. A detalhada reconstituição de situações históricas se baseia, como se exige a um historiador, em fontes da época, publicadas e inéditas, e bibliografia que Felippe obteve em arquivos sul-americanos e europeus. Estas situações são entendidas aqui desde a escala micro e a escala regional. Ao abordar as lógicas indígenas, Felippe não esqueceu que estas formavam parte de redes comerciais mais amplas, que conectavam as cidades e as relações entre diferentes agentes daquele espaço colonial periférico. Em relação à teoria, Felippe demonstra conhecê-la profundamente, a ponto de lograr coerentemente a sua articulação ao longo de todo o trabalho. Guilherme conhece e dialoga em vários planos com a literatura etno-histórica e etnográfica produzida sobre os índios do Chaco, bem como com a literatura que trata da dinâmica e da situação colonial. Neste sentido, também logra equilibrar o recurso abundante das fontes do passado e do presente referentes aos grupos em questão para integrá-los a um esquema argumentativo coerente e erudito. O estudo está fundamentado em uma grande quantidade de dados etno-históricos (fundamentalmente fontes jesuíticas, mas também de funcionários coloniais) e etnográficos, a partir dos quais o autor recorre a todos os temas relevantes da etnografia e da etno-história do Chaco: a guerra, as bebedeiras, a construção da pessoa, o comércio, a circulação de objetos, a mulher, os padrões de 10 A Cosmologia Construída de Fora consumo. A leitura se encontra amenizada por uma redação clara, cuidadosa e reflexiva, que propõe ao leitor não só informação de interesse, como também profundas reflexões sobre a diferença cultural e a distância temporal. Um dos aportes centrais do livro consiste em brindar ferramentas para o debate sobre a transformação cultural e política em contextos de interação e contato. Seguindo o enfoque perspectivista, Felippe argumenta a favor de uma troca ou uma mudança administrada e gerida pelos índios a partir de seus próprios esquemas culturais. É claro que os chaquenhos lograram conservar-se durante todo o período colonial reproduzindo muitas de suas lógicas tradicionais. Será necessário que cheguem as campanhas de extermínio sistemático por parte dos Estados Nacionais, no século XIX, para finalmente submeter estas populações – e, ainda assim, elas buscaram resistir, conservado até hoje elementos tão importantes como suas línguas. Para um leitor mais bem informado sobre as tradições tupis e guaranis, o livro de Felippe abre uma série de interrogações que podem ser consideradas como parte de uma agenda ampla de investigação para o novo americanismo. Uma delas leva a indagar sobre os alcances metodológicos do modelo perspectivista para a análise de processos de longa duração. Existe um ponto em que a estrutura, e, portanto, a capacidade indígena de incorporação (ou de seleção) de figuras e/ou formas da alteridade, exibe fissuras ou um limite para a atualização? Em que se assemelham e se diferenciam as características da guerra dos índios chaquenhos em relação àquelas dos diversos grupos tupi-guarani estudados pelos clássicos (entre eles Florestan Fernandes e Pierre Clastres)? Até que ponto a mentalidade dos colonizadores e, particularmente, dos jesuítas podia ser definida homogeneamente como “naturalista”, “moderna” e “ocidental”? Que lugar tem, na argumentação geral, a figura do xamã como mediador entre o espaço interior e exterior do grupo? Estes são alguns dos questionamentos que o magnífico exercício intelectual de Felippe nos propõe e provoca. Por diversos motivos, o caminho que um investigador recorre entre a redação de sua tese e a publicação de seu livro costuma ser 11 Guilherme Galhegos Felippe longo. À percepção (do autor e da banca examinadora) de que o manuscrito requer uma reelaboração, acrescentam-se circunstâncias fortuitas, geralmente ligadas às exigências da tarefa docente, às vicissitudes institucionais ou ao sentimento pessoal de passar a outro registro temporal caracterizado pela elasticidade e uma alta dose de neuroses. Para suavizar estes sintomas, estão os orientadores, muito dos quais acompanham também o processo posterior à escrita e à defesa da tese. Creio que Guilherme Felippe soube encontrar em Eliane Deckmann Fleck a melhor companheira para este processo. Seguramente ela também o estimulou a encurtar a viagem do planeta tese ao planeta livro. Guillermo Wilde Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET) Universidad Nacional de San Martín (Buenos Aires, Argentina) 12 “À Espera dos Bárbaros” (Konstantínos Kaváfis) O que esperamos na ágora reunidos? É que os bárbaros chegam hoje. Por que tanta apatia no senado? Os senadores não legislam mais? É que os bárbaros chegam hoje. Que leis hão de fazer os senadores? Os bárbaros que chegam as farão. Por que o imperador se ergueu tão cedo e de coroa solene se assentou em seu trono, à porta magna da cidade? É que os bárbaros chegam hoje. O nosso imperador conta saudar o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe um pergaminho no qual estão escritos muitos nomes e títulos. Por que hoje os dois cônsules e os pretores usam togas de púrpura, bordadas, e pulseiras com grandes ametistas e anéis com tais brilhantes e esmeraldas? Por que hoje empunham bastões tão preciosos de ouro e prata finamente cravejados? É que os bárbaros chegam hoje, tais coisas os deslumbram. Por que não vêm os dignos oradores derramar o seu verbo como sempre? É que os bárbaros chegam hoje e aborrecem arengas, eloquências. Por que subitamente esta inquietude? (Que seriedade nas fisionomias!) Por que tão rápido as ruas se esvaziam e todos voltam para casa preocupados? Porque é já noite, os bárbaros não vêm e gente recém-chegada das fronteiras diz que não há mais bárbaros. Sem bárbaros o que será de nós? Ah! eles eram uma solução. Contando com a memória e com seus próprios recursos, ela emendou ritos esquecidos, misturou medicina europeia com nativa, escritura com lendas, e lembrou ou inventou o significado oculto das coisas. Encontrou, em outras palavras, um jeito de estar no mundo. (Toni Morrison, “Compaixão”) Introdução Os fatos são sonoros, mas entre os fatos há um sussurro. É o sussurro o que me impressiona. (Clarice Lispector, “A Hora da Estrela”) O Universo não é uma ideia minha. A minha ideia do Universo é que é uma ideia minha. (Fernando Pessoa [Alberto Caeiro]) O jesuíta Martín Dobrizhoffer, em seu livro sobre os índios Abipone do Chaco, relata uma curiosa manifestação xamânica que teve a oportunidade de presenciar durante seus anos de convívio com o grupo. O missionário descreve a ocasião em que um feiticeiro ameaçava transformar-se em uma onça para matar os demais índios.1 Escondido em sua choça, proferia ruídos e grasnidos como os de uma fera, enquanto os espectadores, muito assustados, corriam em desordem. Algumas mulheres, mesmo sem ver o xamã ou a sua zoomorfização, gritavam: “¡Comienzan a brotarle por todo el cuerpo manchas de tigre! ¡Oh! ¡Ya le crecen las uñas!”. De maneira a tentar acalmar os índios, o jesuíta alemão racionalizava: “vosotros que diariamente matáis sin miedo tigres verdaderos en el campo, ¿Por qué os espantáis como mujeres por un imaginario tigre en la ciudad?”. Mas, ele logo era contestado: “vosotros, Padre, no comprendéis nuestras cosas. A los tigres del campo no les tememos y los matamos, porque los vemos; tememos a los tigres artificiales porque no podemos ni verlos ni matarlos”. Obviamente, o missionário manteve sua posição incrédula quanto à transformação do xamã e, a partir da resposta que obteve, comprovou, para si, a impossibilidade de convencer os índios do contrário, constatando que “no hay 1. No original, o autor se refere a “tigre” como o animal no qual o xamã pretende se transformar. A documentação colonial não é unânime quanto à denominação dos felinos que habitavam a região meridional da América. De maneira a evitar confusões, e de acordo com o habitat natural destes animais, priorizarei a denominação de “onça” sempre que a citação se debruce sobre estes carnívoros do gênero Panthera, típicos de regiões quentes de toda a América. 15