SOLDADOS
QUE
VIERAM DE longe
Os 42 Heróis Brasileiros Judeus
da 2ª Guerra Mundial
Com uma participação especial
do General Ruy Leal Campello,
Veterano do Regimento Sampaio
da FEB e do Batalhão Suez
Incorporando Retrospecto de
Ações de Cidadania e Cerimônias
Cívicas Realizadas pela FIERJ
Israel Blajberg
Resende, 2008
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
I
1
Foto da Capa: Após o término da Campanha da Itália, a 2ª Bateria
do 4º Grupo de Artilharia 155 da FEB posa para uma fotografia histórica, com todo o seu efetivo, sob o comando do Capitão de Artilharia
Samuel Kicis, tendo ao fundo as 4 peças da Bateria, obuseiros de 155
mm de fabricação americana, as peças de maior poder de fogo com
que contava a Artilharia Divisionária da FEB. (Foto gentilmente cedida
por Da. Leda, filha do Gen Div Samuel Kicis, Z”L, em reunião em sua
residência no Rio de Janeiro, com o Autor e o Dr. Nelson Menda, aos
19 nov 2004, quando nos cedeu também as alterações militares e outros informes históricos sobre a atuação de seu Pai na FEB.)
Conforme o Cel Ref Germano Seidl Vidal, “...a foto demonstra o
nosso grupo perfilado, com os OBUSES da bateria. O original desta
foto foi doado ao GRUPO MONTESE, na Vila Militar, na passagem
do 45º aniversário da conquista de Montese (Itália) pelos brasileiros...
...é a nossa 2ª bateria do atual 11º Grupo de Artilharia de Campanha
(GAC). Vários componentes do grupo assinaram no verso da foto! É o
melhor registro em foto que temos desta brilhante corporação militar
atuando no teatro de operações na Itália.
Diagramação e Capa: Carlos Eduardo Ferreira Avila.
Impressão: Gráfica e Editora Irmãos Drumond Ltda.
www.graficadrumond.com.br • (24) 3323.4956
Catalogação na fonte
Bruna Ramos Pereira CRB-7 5670
B635
Blajberg, Israel
Soldados que vieram de longe: os 42 heróis brasileiros
judeus da 2ª guerra mundial / Israel Blajberg, Ruy Leal
Campello – Resende, RJ : AHIMTB, 2008.
284 p.
Participação especial de: General Ruy Leal Campello –
Veterano do Regimento Sampaio da FEB e do Batalhão Suez.
ISBN: 978-85-60811-08-3
1. Guerra Mundial, 1939 -1945. 2. Judeus . 3. Militares – Brasil.
4. Ex- combatentes. I. Campello, Ruy Leal II. Título.
CDD 940.53
Palavras – Chave: Ex-combatentes judeus, 2ª Guerra Mundial, FEB
II
2
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Israel Blajberg
Brasileiro nato de 1ª geração
Sócio - Titular do Instituto de Geografia
e História Militar do Brasil – IGHMB
Cadeira 73 – Marechal Mascarenhas de Moraes
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil
AHIMTB – Cadeira 24 – Coronel Mário Clementino
E–mail: [email protected] e [email protected]
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
III
3
Dedicatória
Dedicamos este trabalho In Memoriam a nossos saudosos
Pais e Avós, emigrantes poloneses para esta Terra Abençoada:
Sara e Bernardo Langier, Abram e Perla Blajberg, Aron, Eva Lea
e José Rubinsztajn, Jacob e Sara Rubinstein.
À minha querida e dedicada esposa Marlene Rubinsztajn Blajberg que tanto colabora e incentiva nossas atividades
culturais e associativas, enriquecendo-as com suas fantásticas
habilidades de desenhista, artista plástica, arquiteta de brilhantes idéias.
A nossos filhos Carlos, Silvia, Rosa, Rubens, genros Rony
e Henrique, nora Jane, netinhos Daniel, Débora e Gabriel, que
nos trazem alegria, carinho e felicidade.
In Memoriam
Aos 474 soldados, marinheiros e aviadores brasileiros
tombados na 2ª Guerra Mundial. Aos 1441 tripulantes e passageiros dos 35 navios brasileiros afundados. Aos 6 milhões
de correligionários assassinados pelos nazistas no Holocausto,
mártires pela santificação do Nome (de D_us). Aos avós Salomão Blajberg, Ana Frida Keller Minc Blajberg, tios e primos
assassinados pelos nazistas em Treblinka, Polônia. Todos sonhadores e lutadores da mesma causa comum de liberdade e
democracia.
IV
4
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Agradecimentos
À AHIMTB e FIERJ pelo apoio cultural concedido a esta
edição, na pessoa dos Presidentes Coronel Cláudio Moreira
Bento e Engenheiro Sergio Niskier.
A um anônimo como preconiza o TALMUD que concedeu relevante patrocínio para esta edição, em homenagem ao
Brigadeiro Rui Barbosa Moreira Lima, herói do 1° Grupo de
Aviação de Caça, lutando contra o nazismo nos céus da Itália
durante a 2ª Guerra Mundial.
À Associação Religiosa Israelita CHEVRA KADISHA do Rio
de Janeiro, que tão piedosamente dá continuidade e preserva
os valores milenares do judaísmo, pela valiosa contribuição.
Aos Irmãos Marco Jacques e David Jacob, que em nome
da Família Cohen concederam importante contribuição, In
Memoriam de seu pai Jacob David Cohen, Z”L, 3º Sargento
do Exército Brasileiro que participou ativamente do esforço de
guerra do Brasil durante a 2ª Guerra Mundial, deslocando-se
em comboio marítimo e integrando o dispositivo de Defesa do
Litoral do Nordeste.
A Bnei Brith, que nos acolheu como Irmão e integrante
da Comissão Organizadora dos eventos Heróis Brasileiros Judeus da Segunda Guerra Mundial, realizados em 1º de maio
de 2005 no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda
Guerra Mundial e Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro,
talvez a primeira, única e última grande homenagem prestada
aos Veteranos Brasileiros Judeus. Certamente nem todos foram
localizados para o merecido reconhecimento, restando-nos a
certeza de que D_us sabe seus nomes.
Ao Memorial Judaico de Vassouras e seu Presidente Dr.
Luis Benyosef, Guardião do Acervo e Memória do Casal Egon
e Frieda Wolff, pela consulta ao repositório das pesquisas e
trabalhos pioneiros sobre os soldados judeus do Brasil, desde
os tempos coloniais e o Império até os dias atuais, trazendo
a lume relatos pioneiros da participação de militares brasileiros judeus nas forças de Terra, Mar e Ar que combateram na
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
V
5
Segunda Guerra Mundial, conforme descrito em seus livros e
na conferência proferida no Instituto de Geografia e História
Militar do Brasil, “Judeus nas Forças Armadas”.
Heróis Brasileiros Judeus da II Guerra Mundial
Comissão Organizadora dos Eventos
Bnei Brith
CEMBRI - Centro de Mídia Brasil Israel
Conselho Sefaradi
FIERJ
Grande Templo Israelita
Museu Judaico
Naamat
Velger Eventos
WIZO
Anna Bentes Bloch
Fanny Lewin
Israel Blajberg
Jacob Guterman, Z”L
Jayme Gersberg
Jayme Gudel
Leila Velger
Michel Mekler
Nelson Menda
Renato Aizenman
Rosita Naidin
Ruy Flaks Schneider
Samuel Benoliel
Sylvia Cohn Gali
Vera Lucia Chahon
Ex-combatentes
e familiares que colaboraram com
preciosos dados e informações
VI
6
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Colaboradores
Arquivo Histórico do Exército
Diretor Ten Cel Eng Clayton Pereira Muniz
Maj Elza Cansanção Medeiros
Chefe do Depto de História Cap Alcemar Ferreira
1° Ten QCO Omar Couto Conde
CMG Carneiro, Sub-Diretor de Ensino do CIAGA
Sra Eduvirgem Orioli, Bibliotecária do CIAGA
Mauro Rodin
Miguel Grinspan
Moshe Waldmann (Kfar Saba)
Gleice Mayer
Aluna da Escola de Museologia da UNIRIO
graças aos quais foi possível levantar o véu do tempo
que pesava sobre os ex-combatentes brasileiros judeus
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
VII
7
Indice
Apresentação......................................................................................... 11
Prefácio................................................................................................. 15
Introdução............................................................................................. 18
Capítulo 1
O Brasil na Guerra............................................................................. 20
Capítulo 2
Apoio da Comunidade Judaica Brasileira
ao Esforço de Guerra.......................................................................... 26
Capítulo 3
Distribuição pelas Forças Singulares e Unidades................................ 32
Capítulo 4
Grande Homenagem Marechal Waldemar LEVY Cardoso.................. 41
Capítulo 5
HOMENAGEM ESPECIAL
Os Bravos que Vieram de Longe General Ruy Leal Campello............. 52
Capítulo 6
Homenagens Individuais e NOMINATA............................................. 64
a) Ex-Combatentes Brasileiros Judeus – 42 Veteranos............................ 64
Abrahão Fainguelernt......................................................................... 64
Adio Novak........................................................................................ 66
Alberto Chahon.................................................................................. 68
Bernardo Stifelman............................................................................. 69
Boris Markenzon................................................................................ 72
Boris Schnaiderman............................................................................ 73
Carleto Bemerguy............................................................................... 75
Carlos Scliar....................................................................................... 76
David Lavinski.................................................................................... 80
David Leon Rodin.............................................................................. 83
Edidio Guertzenstein.......................................................................... 87
Elias Niremberg.................................................................................. 88
VIII
8
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Guilherme Bessa Filho....................................................................... 88
Heitor Sennes Pinto............................................................................ 89
Henrique Schaladowsky..................................................................... 89
Israel Hollmann.................................................................................. 91
Israel Rosenthal.................................................................................. 91
Jacob Benemond................................................................................ 98
Jacob David Cohen.......................................................................... 104
Jacob David Niskier.......................................................................... 107
Jacob Gorender................................................................................ 110
Jacob Perelmann.............................................................................. 111
Jacob Zveiter.................................................................................... 112
José Segal......................................................................................... 113
Leão Stambowsky............................................................................. 114
Marcos Cerkes.................................................................................. 115
Marcos Galper.................................................................................. 115
Mauricio José Pinkusfeld.................................................................. 119
Melchisedech Affonso De Carvalho.................................................. 123
Moises Gitz...................................................................................... 124
Moyses Chahon................................................................................ 125
Pedro Kullock................................................................................... 132
Rafael Eshrique................................................................................. 134
Salli Szajnferber................................................................................ 134
Salomão Malina............................................................................... 137
Salomão Naslausky.......................................................................... 140
Samuel Kicis..................................................................................... 141
Samuel Miller................................................................................... 155
Samuel Safker................................................................................... 155
Samuel Soichet................................................................................. 155
Saul Antelman.................................................................................. 158
Waldemar Rozental.......................................................................... 158
b) Figuração Honorária........................................................................ 161
Reynaldo Antonio de Borba............................................................. 161
c) Figuração Preliminar e Provisória
(Pendente de Confirmação) – 3 Veteranos....................................... 162
Donald Cohen Marques................................................................... 162
Israel Bona....................................................................................... 162
Jacob Chafier Sobelman................................................................... 162
d) Integrante da Representação do Brasil
na Parada da Vitória, Londres - 1946............................................... 163
Miguel Grinspan.............................................................................. 163
e) Ex-Combatentes Judeus de Nações Amigas
no Brasil – 5 Veteranos.................................................................... 165
Akiba André Levy............................................................................. 165
Georges Schteinberg........................................................................ 166
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
IX
9
Gerald Goldstein.............................................................................. 168
Irmãos Isac e Nathan Kimelblat........................................................ 169
Capítulo 7
Cerimônia do Dia da Vitória - Monumento Nacional aos Mortos
da 2ª Guerra Mundial - Homenagem da FIERJ e Bnei Brith
no Túmulo do Soldado Desconhecido - 1º/mai/2005....................... 204
Capítulo 8
Cerimônia do Dia da Vitória - Grande Templo Israelita,
Rua Tenente Possolo, Centro - RIO - Homenagem da FIERJ
e Bnei Brith - 1º/mai/2005................................................................ 212
Capítulo 9
Dia da Recordação do Holocausto e Heroísmo
Domingo - 15/abr/2007 - MNM2GM................................................ 223
Capítulo 10
Dia da Recordação do Holocausto e Heroísmo
Segunda-Feira - 16/abr/2007 - Sinagoga de Copacabana .................. 233
Capítulo 11
Semana da Pátria - 7 set 2007 - C. C. E. R. Monte Sinai.................... 238
Capítulo 12
Tributo à Memória de Oswaldo Aranha
27 nov 2007 - Cemitério S. J. Baptista ............................................. 246
Capítulo 13
Dia Internacional de Recordação do Holocausto
24/jan/2008 - Itamaraty ................................................................... 260
Posfácio............................................................................................... 274
Síntese da ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR
TERRESTRE DO BRASIL - AHIMTB...................................................... 277
Delegacia da AHIMTB no Rio de Janeiro
MARECHAL JOÃO BAPTISTA DE MATTOS......................................... 281
Curriculum Vitae Sintético do Autor................................................... 282
X
10
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Apresentação
Cel Cláudio Moreira Bento
É com muita honra que fui convidado para apresentar o livro
Soldados que Vieram de Longe, de autoria do Tenente R/2 de Artilharia Israel Blajberg, dirigente e exemplar acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, da qual, por merecimento é o seu 3º Vice Presidente e seu Delegado na Delegacia
Marechal João Baptista de Mattos no Rio de Janeiro, homenagem
ao historiador dos monumentos brasileiros.
Obra editada em parceria da Academia de História Militar
Terrestre do Brasil (AHIMTB) com a Federação Israelita do Rio de
Janeiro.
Em 1944/1945 o Brasil enviou à Itália a Força Expedicionária Brasileira para dar a sua contribuição ao esforço de guerra
aliado para defender a Democracia e a Liberdade Mundial, seriamente ameaçadas pelo Nazismo e o Fascismo que se espalharam
ameaçadores sobre extensas áreas da Europa, Ásia e África, na
idéia de dominar o mundo, inclusive o Brasil, em especial o Sul
por possuir colônias alemãs e italianas em expansão.
E nesta luta dos Aliados, no Brasil se incorporaram as Forças
Armadas do Brasil em defesa da Democracia e da Liberdade Mundial 42 homens de origem judaica, dos quais 29 do Exército, e
dentre eles oficiais R/2, formados como Israel também nos CPORs,
do que é muito orgulhoso desta formação, a integrar, na sua expressão, a Reserva Atenta e Forte, cuja memória pesquisa, preserva,
cultiva e divulga de forma comovente, não deixando que sejam
esquecidos na mídia castrense, participando dos eventos históricos
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
11
do Exército, em especial na cidade do Rio de Janeiro, registrando os
mesmos pela Internet acompanhados de fotos expressivas.
Da Marinha Mercante registra 5 participantes, assuntos que
abordamos em conjunto com as demais forças em nossa plaqueta As Forças Armadas do Brasil e sua Marinha Mercante na 2ª
Guerra Mundial, em duas edições em 1995 e 2000, prefaciadas
por dois acadêmicos eméritos da AHIMTB, General Plínio Pitaluga e Vet FEB José Conrado de Souza, heróis da FEB na guerra e
na paz, por na paz liderarem expressiva parcela de veteranos em
defesa de seus interesses.
Registra 3 descendentes de judeus na Força Aérea, força esta
cuja atuação evocamos na citada plaqueta.
Sem dúvida além da importante participação de descendentes
de judeus filhos de imigrantes vindos de Marrocos, Rússia, Polônia,
etc, eles corriam além do risco de perecer em combate, o de serem
capturados pelos alemães e executados sumariamente, ou do envio
para campos de extermínio, como ocorreu com milhares de soldados judeus combatendo nos exércitos da Rússia e Polônia, aumentando o expressivo número de milhares de judeus sacrificados barbaramente nos crematórios e câmaras de gás, no evento sem igual
da barbárie humana que passou a História como Holocausto.
E Israel dá visibilidade a estes soldados brasileiros e os
coloca em merecido alto relevo entre os bravos brasileiros de
várias origens étnicas que integraram a luta contra o nazismo.
Providência que tomamos em relação aos sargentos brasileiros
do Exército mortos na campanha da FEB em pesquisa solicitada
pela Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos em Cruz Alta – RS
e ESA em Três Corações MG que intitulamos: Os 68 Sargentos
heróis da FEB mortos em Operações de Guerra na Força Expedicionária Brasileira.
Bravos que segundo Péricles, estratego e dirigente grego no século V, A.C., que levou o seu nome, assim também os considero.
“Aquele que morre por sua Pátria serve-a mais em um só dia
que os demais em toda a sua vida”.
Lamentavelmente não tivemos um patrocinador para dar
uma mais profunda e justa divulgação impressa desses bravos,
somente o fazendo com cópias digitadas com apoio do então Di12
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
retor do Centro de Recuperação do Exército Cel Médico QEMA
Flávio Arruda Alves.
Através do ilustre e falecido casal Egon e Frida Wolf nossos confrades no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, conhecemos
através de seus numerosos livros detalhes da colônia judaica no Brasil sobre a qual escreviam. E muito deles, seus convidados conhecemos nas Bodas de Ouro do casal no Hotel Glória no Rio.
E com o Acadêmico Arnaldo Niskier juntos estivemos numa
mudança de guarda no Monumento aos Mortos da 2ª Guerra
Mundial em 1984, onde representamos o Exército e ele como secretário de Educação do Rio de Janeiro.
E ali por certo recordou a participação dos 42 descendentes
de Judeus e em especial, os que ali jaziam e que este livro de Israel
Blajberg faz justiça na voz da História.
Em 1977 estivemos numa sinagoga em São Paulo, como representante do Gen Ex Dilermando Monteiro comandante do atual
Comando Militar do Sudeste e ali sentimos a dimensão do Holocausto nas exposições em filmes daquela tragédia humana, incluindo depoimento de sobreviventes do Holocausto.
Exposição em filmes e fotos que foi possível graças a esta
histórica decisão do General Eisenhower, comandante dos Aliados no Dia D da invasão na Normandia e depois presidente dos
Estados Unidos. Ele ordenou que fossem levados para visitar os
campos de extermínio todos os moradores de áreas vizinhas para
testemunhar o que eles apresentavam e documentar com fotos e
filmes aquela barbárie nazista para prevenir que no futuro alguém
se apresentasse negando a existência do Holocausto.
Conhecíamos a projeção de Osvaldo Aranha na criação
do Estado de Israel por sua atuação neste sentido na ONU, mas
desconhecíamos que ele era muito reverenciado pela Colônia
Judaica do Rio de Janeiro. E então a pedido de Israel lhe fornecemos alguns subsídios que ele abordou em homenagem ao ilustre
brasileiro que estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro e
integrou o Esquadrão de Cavalaria de seus alunos. Mais tarde
foi o líder militar civil na Revolução de 1926, participando do
combate de Seival próximo a Lavras do Sul onde foi atingido por
um tiro de fuzil no calcanhar que provocou intensa hemorragia
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
13
quase o levando a morte. Foi um dos principais articuladores da
Revolução de 30 e o primeiro a defender a memória do General
Bento Manoel Ribeiro injustamente condenado popularmente,
o que foi agravado recentemente por seu linchamento moral injusto pela novela A casa das sete mulheres. Em realidade Bento
Manuel foi o maior general farrapo e para o lado que pendesse
levava a vitória. E acompanhamos a interpretação deste grande
brasileiro em nosso livro O Exército farrapo e seus chefes, BIBLIEx, 1992 com apoio em fontes históricas confiáveis sobrepujadas pela vitória do mito popular consagrado. Osvaldo Aranha
teve um de seus filhos integrando como soldado a FEB, em defesa da Liberdade e Democracia.
Israel Blajberg orgulhoso de pertencer a Reserva Atenta e Forte do Exército, enfatiza que dos tenentes que integraram a FEB,
a metade era constituída de oficiais oriundos do CPORs e que
constituíram a metade dos tenentes mortos em ação na FEB. Por
oportuno o primeiro comandante que tivemos no Exército ao ingressarmos em 1950, como soldado na 3ª Companhia de Comunicações em Pelotas foi o Tenente Isaac Clerman que era muito
apreciado por todos e formado pelo CPOR/PA.
Israel Blajberg dá especial atenção e muito justo destaque na
elaboração dos perfis dos 42 brasileiros descendentes de Judeus,
ao oficial brasileiro filho de judeus, a mãe descendente de imigrantes e o pai convertido ao judaísmo, o atual Marechal Waldemar
Levy Cardoso, hoje com 107 anos, o único Marechal vivo e atual
detentor do Bastão de Comando da FEB. Como Tenente Coronel comandou um Regimento de Artilharia da FEB. E deste modo
ele inicia a sua exposição apresentando os feitos dos combatentes
descendentes de judeus da FEB que se destacaram na carreira das
Armas, das artes, letras, etc. E o Marechal Levy Cardoso deu seu
incentivo poderoso ao autor conforme carta que lhe escreveu que
figura em destaque na 4ª capa do livro.
Resende, a cidade dos Cadetes, 25 de agosto de 2008, Dia
do Soldado.
Cel Cláudio Moreira Bento
Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul
14
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Prefácio
Cel Germano Seidl Vidal (ao centro) em Sessão da AHIMTB
no Forte de Copacabana, confraternizando com General Moreira e
Marechal Levy Cardoso, na posse como Acadêmico do Cel Roberto
Mascarenhas de Moraes, na Cadeira que tem por Patrono seu avô o
Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes
A obra do prezado amigo, escritor e companheiro, o Engenheiro Israel Blajberg, acadêmico do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, graças ao excelente desempenho que vem
dando curso no seu novo meio acadêmico - a Academia de História Militar Terrestre do Brasil, apresenta um quadro geral e minuciosamente pesquisado da participação dos brasileiros de origem
judaica no teatro de operações da II Guerra Mundial.
Israel Blajberg mantém até hoje os laços que adquiriu ao servir
no CPOR/RJ ainda jovem e em fase de formação profissional, de onde
saiu como oficial R/2, e com uma incansável atuação acadêmica e de
estudos sociais, culturais e militares. Suas pesquisas desenvolvidas, os
estudos e levantamentos sobre a participação dos brasileiros judeus
na II Guerra Mundial e sua atividade como pacifista, credenciam-no e
fazem quase que obrigatória a leitura desta obra.
Os judeus brasileiros que foram convocados e partiram junto à
Força Expedicionária Brasileira – FEB, para a Itália, como qualquer
outro brasileiro que lá estava, lutaram na defesa da democracia e da
liberdade, paz e harmonia entre os povos e contra o nazi-fascismo.
Quando partiram em 1944 ainda não sabiam que seria criado
o Estado de Israel, quando o Brasil teve uma ação fundamental
para o reconhecimento internacional na ONU, a partir de uma
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
15
atitude diplomática de um brasileiro, numa sessão da ONU em
29 de maio de 1947, presidida pelo Sr. Oswaldo Aranha, e que
decidiu pela divisão da Palestina Britânica em dois estados, um
judeu e outro árabe, que deveriam formar uma união econômica
e aduaneira.
Foram 42 heróis judeus brasileiros, jovens e cheios de esperança que lutaram e voltaram ao Brasil vivos após terem cumprido a
missão cívica e heróica de defender a pátria, tornando-se mais tarde
bem sucedidos nas suas diversas áreas de atuação.
Fato inusitado foi desses brasileiros de várias origens terem
omitido expressamente suas segundas identidades lastreadas em
padrões religiosos. Basta lembrar que antes tiveram a participação
declinando sua integração na comunidade judaica ainda sujeita
as regras de vida comunitária de suas origens. Vale apontar que
o soldado judeu, como todos que participaram dos 239 dias lutando no “front” italiano estavam sujeitos aos riscos do genocídio, condenados pelo mesmo ato. Apesar desse ônus duplo não
esmoreceram na sua atuação como qualquer outro incorporado
como soldado brasileiro.
Os 42 soldados integrantes da 1ª Divisão de Infantaria, lutaram
sob comando exemplar do Mal. Mascarenhas de Moraes.
Talvez tenha sido fraca a divulgação deste fato! Foram todos
heróis nacionais que suplantaram todos os riscos envolvidos e mereceram distinções. Levou-se 62 anos para serem reconhecidos nominalmente.
Vale lembrar que o mundo de hoje está sob permanente conflito por razões raciais, provocados pela intifada, o esfacelamento
da URSS e lutas regionais tratadas com participação ou não de organismos garantidores da paz. Isto vem à conta da existência de
comunidades rebeldes a sua integração ou subordinação ao poder
local. Na verdade, tais fatos decorrem de muitos anos de convivência violenta bem característica dos respectivos povos.
No Brasil, tal fato não ocorreu a despeito de uma total incompatibilidade entre o regime ditatorial de Vargas e a expectativa da
nossa gente de viver em uma sociedade livre e democrática, servindo como exemplo o propósito das forças aliadas em colaborar
para a unidade nacional.
Agradeço ao amigo Israel por nos dar grandes informações
sobre mais esta etapa na formação de um Brasil de paz, junto com
16
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
os nossos irmãos judeus brasileiros, contribuindo para a história e
para a cultura militar.
Germano Seidl Vidal
Escritor e Historiador
Participou como expedicionário Comandante de Linha de Fogo da 2ª
Bateria de Obuses do 4º Grupo de Artilharia da FEB na II GM,
atual Grupo Montese - www.guerraproscrita.com
2º Tenente em 15 de maio de 1944 designado Comandante da Linha
de Fogo da 2ª Bateria do então I Grupo do 1º Regimento de Artilharia Pesada
Curta (Grupo Escola) - I/1º RAPC (GE), função na qual permaneceu durante
toda a Campanha da Itália, somente sendo desligado dessa função quando
transferido, por necessidade do serviço, já no Brasil,
em 10 de janeiro de 1946.
Corpo Permanente da ESCOLA
SUPERIOR DE GUERRA 68/72
MONTOR - Montreal Organização Industrial e Econômica S/A, em
72/73, Editor Técnico do Projeto MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA contratado pelo MME e IPEA e realizado, durante 30 meses, por 18 Grupos de Trabalho em seis das mais conceituadas empresas de consultoria - então capacitadas
no mercado nacional para o “metier” - a fim de projetar o balanço energético
do país, para todos os tipos e formas de energia, até o ano
de 1985, num horizonte de planejamento de um decênio e meio.
Homenagem ao Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes
no ano do seu 125° Aniversário de nascimento
13 nov 1883 – 17 set 1968
Herói Nacional e Ínclito Comandante da
FEB – Força Expedicionária Brasileira,
Desenho a bico de pena pelo General Augusto Fragoso
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
17
Introdução
Coronel Nilton Freixinho, Sócio-Titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e Contemporâneo de Oswaldo Aranha, tendo servido como Ajudante de Ordens do Ministro da Guerra
Gen Eurico Gaspar Dutra. Coronel Freixinho usa da palavra dando
o seu testemunho pessoal do relevante papel político de Oswaldo Aranha naqueles tempos difíceis. O Coronel é grande amigo da
Comunidade. Em livros e artigos discorre frequentemente sobre a
tematica judaica. Ao lado, Dr Jaime Gudel(E), Mentor da Loja Herut
da Bnei Brith e o Sr Alberto Nasser (D), ex-presidente da CONIB –
Confederação Israelita do Brasil
Pede-me o Professor e Historiador Israel Blajberg para escrever algumas palavras à guisa de introdução à obra de sua autoria - “Soldados que Vieram de Longe”, editada sob a égide da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil, AHIMTB, com
apoio da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, FJERJ.
Ambos somos membros da AHIMTB, onde contribuímos
para cultivar e preservar a memória dos feitos da construção da
nacionalidade, por séculos sucessivos.
Sou testemunha de que, desde algum tempo o autor vem
se empenhando para projetar e divulgar a atuação de brasileiros
vinculados à herança e à fé judaica, que participaram dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, século 20, seja como
integrantes da Marinha Mercante, seja como militares vinculados às Forças Armadas do Brasil.
18
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Neste último aspecto, soldados brasileiros judeus participaram da guerra contra o 3° Reich em todas as frentes: na defesa
do litoral brasileiro; na campanha anti-submarino e de proteção
a comboios no Atlântico Sul; e no Teatro de Operações Europeu, integrando a Força Expedicionária do Brasil, a FEB.
O expressivo título escolhido - “Soldados que Vieram de
Longe” - de um lado, revela o estofo de historiador de Israel
Blajberg, e por outro lado, denota a natureza do combatente
brasileiro judeu, cujos antepassados, historicamente, sempre estiveram afeitos à luta armada. No meu entender, o título da obra
por si só dispensa qualquer tentativa de avaliar a propriedade
e a importância da homenagem prestada aos brasileiros judeus
que participaram da luta contra o 3º Reich germânico. Vieram
de “longe” não no sentido “geográfico”, mas sim na acepção de
“tempo histórico” de “permanência”, por séculos a fio, na história dramática do povo judeu.
A obra, em síntese, registra nominalmente os mencionados
brasileiros judeus - cerca de meia centena - especificando para
cada um a área de atuação profissional e a hierarquia à época do
conflito internacional e ao término da carreira militar. Por fim,
apresenta o esboço biográfico de vários deles.
Torna-se necessário mencionar que a vinculação de herança
e de fé religiosa dos jovens militares brasileiros judeus, confere
à participação dos mesmos na Segunda Guerra Mundial, conotação especial ao considerarmos a justa reação as inomináveis
atrocidades cometidas pelas hordas nazistas contra a comunidade judaica residente nos países que foram ocupados, na Europa,
pelo 3º Reich. No fundo, aqueles jovens militares lutaram por
uma causa que insere motivação complementar aos naturais asseios de patriotismo.
Não há de se negar a valiosa e oportuna contribuição de
Israel Blajberg, como historiador, ao registrar acontecimentos
que marcaram a Segunda Guerra Mundial, no contexto da participação do Brasil, ao lado das nações democrática.
Cel. Nilton Freixinho
Sócio Emérito da AHIMTB e do IGHMB
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
19
Capítulo 1
O Brasil na Guerra
Breve Resumo da Participação Brasileira
na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
Diversos autores já há muito vem se dedicando a descrever a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o que
portanto não será objeto deste trabalho.
Entretanto, apenas a título informativo, eis que não se trata
do objeto da presente edição, adiantamos a seguir algumas
informações alusivas, para suprir o leitor de alguns elementos
básicos que auxiliarão a compor o quadro onde se inseriram os
combatentes brasileiros judeus.
Razões da Declaração de Guerra
Os submarinos nazistas afundaram a partir de 1942, 36
navios mercantes nacionais, com perda de um milhar de vidas
preciosas brasileiras, 549 tripulantes e 502 passageiros.
Somente em um dia, 16 ago 1942, 3 navios foram afundados com perda de quase 600 vidas, o que levou o Presidente
Vargas, sob o clamor popular, a declarar em 22 ago 1942 o
Estado de Beligerância contra a Alemanha Nazista e o Eixo.
1942 - Cronologia dos Acontecimentos que determinaram a entrada do Brasil na Guerra
15.01 (quinta) - A Terceira Reunião de Consulta dos Chanceleres das Repúblicas Americanas acontece no Rio de Janeiro, para
assegurar uma resolução unânime e garantida de que as Repúblicas Americanas romperiam relações com as potências do Eixo.
28.01 (quarta) - O Governo Brasileiro atende a resolução
20
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
nº 15 da Segunda Reunião de Consulta dos Chanceleres das
Repúblicas Americanas e rompe relações diplomáticas com os
países do Eixo.
15.02 (domingo) - Torpedeado o navio Buarque.
18.02 (quarta) - Torpedeado o navio Olinda.
25.02 (quarta) - Torpedeado o navio Cabedello.
07.03 (domingo) - Torpedeado o navio Arabutan.
08.03 (segunda) - Torpedeado o navio Cayrú.
07.04 (quarta) - A primeira divisão da VP-83 chega a Natal (RN)
11.04 (domingo) - A primeira divisão da VP-83 inicia sua
atividades de busca e patrulha.
15.04 (quinta) - Instalado um destacamento do exército
em Fernando de Noronha.
Abril - Descobertos no Rio de Janeiro centrais de rádio equipadas com modernos equipamentos alemães para enviar informes
da quinta-coluna e espiões nazistas principalmente as posições
dos navios em rota de abastecimento para o Norte da África.
01.05 (sexta) - Torpedeado o navio Parnahyba.
18.05 (quarta) - Torpedeado o navio Comandante Lyra.
22.05 (sexta) - Um B-25 Mitchell operando na Base Aérea
de Fortaleza estava em patrulha próximo à costa onde o navio
Com. Lira havia sido torpedeado dias antes pelo submarino
Barbarigo. As 14:00h, a tripulação do B-25 comandado pelos
Capitães Parreiras Horta e Oswaldo Pamplona encontrou um
submarino na tona, que imediatamente começou a atirar no
B-25 com metralhadoras. Como o Brasil era neutro, as regras
de combate só poderiam ser usadas se o inimigo atacasse primeiro. A tripulação do B-25 lançou cargas de profundidade
que caíram próximo ao submarino mas não o danificaram.
23.05 (sábado) - É instituída a Comissão Mista de Defesa
Brasil-Estados Unidos.
24.05 (domingo) - Torpedeado o navio Gonçalves Dias.
01.06 (segunda) - Torpedeado o navio Alegrete.
05.06 (quarta) - Torpedeados os navios Paracuri e um pesqueiro.
26.06 (sexta) - Torpedeado o navio Pedrinhas.
25.07 (sábado) - Torpedeado o navio Tamandaré.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
21
28.07 (terça) - Torpedeados os navios Piave e Barbacena.
15.08 (sábado) - Torpedeados os navios Baependy e Araraquara.
16.08 (domingo) - Torpedeado o navio Annibal Benévolo.
17.08 (segunda) - Torpedeados os navios Itagiba, Arará e
um pesqueiro.
18.08 (terça) - O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) publica nota esclarecendo à população os torpedeamentos.
19.08 (quarta) - Torpedeado o navio Jacira.
22.08 (sábado) - Face a agressão, o Brasil após reunião do
Ministério reconhece a situação de beligerância contra a Alemanha e Itália. Fundado o Centro de Preparação de Oficiais da
Reserva da Aeronáutica.
24.08 (segunda) - A rádio de Berlim irradia para o Brasil
um comentário falso sobre o estado de beligerância.
26.08 (quarta) - A tripulação do Vultee V-11 GB2, operando da Base Aérea de Porto Alegre, comandado por Alfredo Gonçalves Corrêa atacou um U-boat próximo a Araranguá
(SC). O U-Boat foi atingido e adernou bastante, mas a aeronave
também foi danificada quando as bombas explodiram. A aeronave retornou em segurança para o aeroporto de Osório (RS) e
não para sua base.
28.08 (sexta) - A tripulação do Vultee V-11 GB2 de Manuel Rogério de Souza Coelho atacou um submarino inimigo
próximo a Iguape (SP) sem reportar qualquer dano.
31.08 (segunda) - Através do Decreto Lei 10.358, o governo declara o estado de guerra para todo o Brasil.
05.09 (sábado) - Criado o primeiro comboio regular entre
portos brasileiros.
07.09 (segunda) – Em grande operação a Polícia descobre
no Rio de Janeiro diversas bombas-relógio ocultas em pontos
estratégicos no entorno do local do Desfile Militar de 7 de Setembro. Alguns sabotadores são presos.
12.09 (sábado) - O Brasil coloca sua força naval sob o
controle operacional da Marinha dos EUA, sob o comando do
Almirante Jonas Ingram.
22
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
27.09 (domingo) - Torpedeados os navios Osório e Lages.
28.09 (segunda) - Torpedeado o navio Antonico.
03.11 (terça) - Torpedeado o navio Porto Alegre.
22.11 (domingo) - Torpedeado o navio Apalóide.
02.12 (quarta) - São estabelecidas no Rio de Janeiro a Base
de Operações Navais e a Base Aérea Naval.
Participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial
a) Exército - FEB – Força Expedicionária Brasileira, inicialmente prevista com três Divisões de Infantaria Expedicionária,
entretanto o término do conflito tornou desnecessário o envio
de outras tropas além da 1ª DIE, enviada para a Itália com 25
mil homens sob o comando do então General Mascarenhas de
Moraes, depois promovido pelo Congresso Nacional a Marechal enquanto viveu.
A FEB foi incorporada ao V Exército Americano, lutando
em terreno íngreme e montanhoso dos Apeninos, em temperaturas de até 20 graus negativos, perdendo 457 soldados mortos em combate. Teve grandes vitórias em combates famosos
como Monte Castelo, Montese, Castelnuovo, Camaiore, Colechio, Fornovo e tantos outros.
Derrotou e capturou a 148ª Divisão nazista completa sob
o comando do General Otto Freter Pico, com 20.573 homens,
dos quais 2 generais e 892 oficiais alemães, 80 canhões, 5 mil
viaturas e 4 mil cavalos.
b) Aeronáutica - 1° Grupo de Aviação de Caça, o Senta a
Pua foi enviado para a Itália sob o comando do Tenente Coronel Aviador Nero Moura.
A FAB organizou o 1° Grupo de Aviação de Caça que foi
treinado e recebeu aviões no Panamá e Estados Unidos, incorporando ao 350° Grupo de Caça americano na Itália. Tinha
458 homens, tendo perdido 8 pilotos e 16 aviões.
c) Marinha - Realizou a proteção dos comboios de navios
mercantes no Atlântico Sul, afastando os submarinos nazistas.
Escoltou os navios que transportaram a FEB para a Itália.
A Marinha realizou 195 escoltas a comboios, com 1.396
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
23
navios brasileiros e 1.505 de outras nacionalidades, perdendo
mais de 500 homens em suas missões durante a guerra.
d) Marinha Mercante – sofreu enormes perdas humanas
e em tonelagem de navios, durante a campanha submarina
nazista, mantendo ainda assim as linhas de transporte estratégico. Com a formação de comboios protegidos por navios de
guerra nacionais, as perdas praticamente cessaram.
Dos 25 mil Veteranos da FEB, estima-se que em 2008 existam cerca de 20% de remanescentes, na faixa etária acima de
80 anos. A ANVFEB realiza um trabalho de amparo aos Veteranos e descendentes.
Metade dos tenentes da FEB foram formados nos CPORs.
Eram estudantes universitários convocados. Prova do apoio
da sociedade ao esforço de guerra. Os que assim desejaram,
puderam candidatar-se a prosseguir a carreira após a guerra,
galgando postos superiores.
Na Itália existem diversos monumentos em homenagem
aos pracinhas brasileiros, onde até hoje se realizam atos recordatórios. Em 2005, nos 60 anos do Dia da Vitória Aliada
na Europa, delegações brasileiras foram a Itália, e delegações
italianas vieram ao Brasil marcar a data. Até hoje os italianos
das regiões onde a FEB operou manifestam sua gratidão por
terem sido libertados pelos brasileiros.
ORGANIZAÇÕES MILITARES FEBIANAS
Infantaria
1° BIMTz (ES) – Rio de Janeiro - RJ
6° BIL – Caçapava - SP
11° BI Mth – São João Del Rei - MG
1° BPE – Rio de Janeiro – RJ
Cavalaria
1° Esqd C L – Valença - RJ
Artilharia
1° GAC Sl – Marabá - PA
24
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
21° GAC – Rio de Janeiro - RJ
20° GAC L – Barueri – SP
11° GAC – Rio de Janeiro - RJ
Engenharia
9° BE Cmb – Aquidauana - MS
Comunicações
BEsCom – Rio de Janeiro - RJ
Intendência
21° B Log – Rio de Janeiro – RJ
Transporte da FEB para o Teatro de operações da Itália
Com exceção de 111 militares, dos quais 67 enfermeiras
que seguiram via aérea, a FEB foi transportada em navios americanos escoltados por belonaves nacionais entre 02 jul 1944 e
04 fev 1945, em 4 escalões.
O 2º escalão foi transportado no General Mann (1º RI e
outras unidades) e General Meigs (11º RI e outras unidades).
Organização da FEB
A FEB ERA CONSTITUÍDA PELA 1ª Divisão de Infantaria
Expedicionária - 1ª DIE, integrando o IV Corpo do V Exército
Americano. Sua estrutura básica compreendia:
Quartel General da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária:
Tropa Especial (QG; Destacamento de Saúde; Cia. de Manutenção; 1ª Cia. Intendência; 1º Pel. de sepultamento; Pel. de Polícia; 1ª Cia. de Transmissão), 1º Esquadrão de Reconhecimento.
Infantaria Divisionária:
1º Regimento de Infantaria (Regimento Sampaio), Vila Militar
6º Regimento de Infantaria, Caçapava,
11º Regimento de Infantaria (Regimento Tiradentes), São
João Del Rei,
Artilharia Divisionária:
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
25
I Grupo do 1º Regimento de Obuses Auto-Rebocado, originário do 1º Grupo de Obuses de São Cristóvão.
II Grupo do 1° Regimento de Obuses Auto-Rebocado, originário do I Grupo de Artilharia de Dorso de Campinho.
I Grupo do 2º Regimento de Obuses Auto-Rebocado, originário do VI Grupo de Artilharia de Dorso de Quitaúna.
I Grupo do 1º Regimento de Artilharia Pesada Curta, originário do Grupo Escola.
9º Batalhão de Engenharia de Aquidauana - MT.
1º Batalhão de Saúde.
Capítulo 2
Apoio da Comunidade
Judaica Brasileira
ao Esforço de Guerra
A participação de dezenas de combatentes judeus brasileiros nas forças brasileiras de Terra, Mar e Ar durante a Segunda Guerra Mundial é pouco conhecida. Mesmo os que se
tornaram heróis, agraciados com medalhas concedidas apenas
em casos de bravura excepcional em combate foram quase
esquecidos.
Os registros históricos da participação do Brasil na 2ª
Guerra Mundial praticamente não explicitam a participação de
brasileiros judeus. A razão é simples. Basicamente os cidadãos
de fé judaica eram mobilizados normal e regularmente como
qualquer outro. Não havia nem há soldados brasileiros judeus,
mas tão somente soldados brasileiros, o que honra e orgulha a
26
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Comunidade Judaica.
Entretanto o inimigo nazista enxergava sim uma diferenciação. Os combatentes judeus participantes do conflito além de
compartilhar dos riscos normais de uma guerra sujeitavam-se
ainda caso fossem capturados a execução sumária ou envio aos
campos de extermínio do III Reich. Foi esse lamentavelmente
o destino de quase todos os militares judeus russos (85 mil) e
poloneses (65 mil) que caíram prisioneiros dos alemães.
No Brasil a Comunidade Judaica se mobilizou, como vemos pela notícia de 27 de agosto de 1942 do Correio da Manhã sobre o ato religioso celebrado na A.R.I. provavelmente
no dia anterior em memória das vítimas do torpedeamento dos
navios brasileiros pelo Eixo.
O rabino Henrique Lemle correlacionando o sofrimento e perdas de vidas humanas na comunidade judaica européia e seus parentes, descendentes sobreviventes no Brasil
podia emocianadamente ressaltar a convergência de dor e
revolta de brasileiros e judeus: (...) seus inimigos são nossos
inimigos; seus sofrimentos são nossos sofrimentos; e suas
vítimas são nossas vítimas. (Correio da Manhã de 27 de
agosto de 1942)
O jornal “O Globo” noticiava em relação à mesma solenidade: sob os auspícios da Associação Beneficente Israelita
que Paulo Zander e Marc Leitchic da diretoria propuseram e
a reunião resolveu contribuir para a coleta patrocinada pela
Sra. Oswaldo Aranha com a quantia de 5:000$000; propos-se,
idem, a formação de um corpo de voluntarios composto de
vitimas do nazi-facismo para servir no momento atual, ao Governo e ao Brasil os quais poucos dias depois já começavam a
inscrever-se nas listas particulares para tal fim. Nos primeiros
dias o número de voluntários que já começavam a inscreverse nas listas particulares para tal fim ultrapassava de trezentos
(“O Globo” 26-08-42).
Em 19 de fevereiro de 1943 realizou-se um leilão da Liga
de Defesa Nacional (fundada em 24/3/24) na ARI para os futuros pracinhas com uma parte musical a cargo de seu coro
ensaiado pelo cantor-mor Fleishman.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
27
Consta que reuniões foram realizadas pela comunidade,
tendo havido alistamento de voluntários para o caso de o Brasil entrar em guerra, com mais de 300 assinaturas.
Esta história preciosa foi relativamente esquecida, ao contrario do que ocorreu com os combatentes judeus das demais
nações, recordados no Museu do Veterano Judeu em Israel.
A meio caminho entre Tel-Aviv e Jerusalém uma antiga
fortaleza viu de tudo. Por ali passaram de legiões romanas a
tropas do Mandato Britânico, e hoje Latrun serve de museu
para o Corpo Blindado das Forças de Defesa de Israel.
Tanques sírios e egípcios T-55 Stalin capturados ainda
com a pintura branca para o combate na neve... tanques azuis,
amarelos, lançadores de pontes, artilharia, canhões imensos,
ao lado das silhuetas esguias dos Merkavá quase colados ao
solo, escondendo-se atrás de elevações do terreno. É a maior
coleção de tanques na face da terra. Mais de 500.
Também ali situa-se o Museu dos Veteranos Judeus, assim
considerados em 2 categorias, os que lutaram nos Exércitos Aliados durante a II Guerra Mundial, e os que vieram de 44 paises
em 1947/48 como voluntários para fortalecer a nascente Tzvah
Haganah LeIsrael.(1) Este último era o chamado Machal.
Portanto, a bandeira do Brasil tremula em Latrun, junto
com as dos Aliados, como país que participou do esforço para
derrotar a Alemanha nazista. Também do Brasil seguiram voluntários Machalniks.
O museu eterniza a coragem e valentia de tantos veteranos judeus, a maioria americanos, canadenses e soviéticos.
Muitos vieram a Latrun para as comemorações dos 60 anos do
Dia da Vitória, os peitos cobertos de medalhas.
Uma lacuna porém. Até maio de 2005, o Museu de Latrun desconhecia que existem Veteranos Judeus Brasileiros da
II Guerra Mundial.
A Diretora do Centro de Informação de Latrun ficou surpresa ao saber que pelos menos 42 judeus brasileiros participaram
da luta conta a Alemanha Nazista. E trata-se de uma israelense
1- Forças de Defesa de Israel – união da Haganá e Palmach com o Irgun Tzvai Leumi e dissidências (Lehi
e Grupo Stern).
28
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
que fala português, já que casada com um brasileiro...
Mas não só ela se surpreendeu. Pouca gente além dos familiares sabia, até aquele histórico domingo do Rio de Janeiro
no Grande Templo, 1º de maio de 2005.
O objetivo desde trabalho é portanto relatar um pouco da
história destes valentes soldados que não hesitaram em exporse ao duplo perigo. Que o relato da sua epopéia fique como
exemplo de patriotismo para as futuras gerações.
Esta história aguardou mais de 60 anos para ser contada,
relato da atuação durante a 2ª Guerra Mundial de militares
brasileiros judeus servindo nas Forças de Terra, Mar e Ar. Páginas de uma epopéia gloriosa que permaneceu quase desconhecida por mais de meio século, até que uma homenagem
foi prestada a 42 ex-Combatentes judeus no Grande Templo
Israelita do Rio de Janeiro, quando o grande público tomou
conhecimento de que militares judeus da FEB destacaram-se,
tendo sido condecorados por atos de bravura em combate na
Itália com importantes medalhas, como a Silver Star do Exército Americano e a Cruz de Combate de 1ª Classe.
Igualmente no mar e no ar, tripulantes judeus a bordo de
navios das Marinhas do Brasil e Mercante e nos aviões da FAB
em missões de patrulha ao longo do litoral participaram de importantes missões no enfrentamento dos submarinos nazistas.
Aqui traçamos breves perfis de alguns destes combatentes,
o texto abordando tanto aqueles que seguiram carreira militar,
alguns alcançando o generalato, quanto veteranos que ocuparam posições de destaque na sociedade civil, nas artes, literatura, política, etc.
Dos pelo menos 42 militares brasileiros judeus que integraram as forças brasileiras de terra, mar e ar no maior conflito
do século XX, ao final de 2008 apenas 13 estão comprovadamente vivos. Sua participação foi quase ignorada. Mesmo os
que se tornaram heróis, agraciados com medalhas concedidas
apenas em casos de bravura excepcional em combate foram
praticamente esquecidos.
Em geral não se conheciam entre si. Brasileiros natos de
primeira geração, seus pais e avós eram imigrantes de países
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
29
como Marrocos, Polônia, Turquia, Rússia.
A participação judaica foi grande em termos percentuais,
mas poderia ter sido maior, não fosse o grande numero de imigrantes que constituía a massa populacional da comunidade,
portanto estrangeiros dispensados do Serviço Militar. Com efeito, da população brasileira em 1942 da ordem de 40 milhões
de habitantes, apenas 60 mil se declararam judeus segundo
o IBGE. Da ordem de 57 mil imigrantes judeus aportaram no
Brasil de 1920 a 1942, dados estes mais confiáveis, visto que
coletados nos portos.
Old Soldiers Never Die... A letra de antiga canção da I
Guerra Mundial poderá finalmente ser aplicada a militares judeus brasileiros. Eles não mais serão recobertos para sempre
pela poeira do tempo.
Nas páginas seguintes, teremos o privilégio de revelar
quem foram eles, alguns dos Heróis Brasileiros Judeus da Segunda Guerra Mundial.
Mensagens Recebidas pela Comissão
Do Coronel R/1 Oly Fischer dos Santos, ex Comandante
do Grupo Escola de Artilharia, em Deodoro, Rio de Janeiro.
Ilustre amigo Israel
Comungo inteiramente com o justo júbilo dos brasileiros
de origem israelita, que de forma tão patriótica e expressiva
se integraram no mais elevado espírito de cidadãos realmente
amantes de seu país.
Será sem dúvida uma cerimônia de alto simbolismo
de cunho marcante da integração incondicional de gente
originária de todas as origens - raças e credos - em nossa
pátria.
Muitos países de nosso planeta, mesmo alguns de dimensões geográficas expressivamente menores que as do Brasil
não tiveram este previlégio.
Vivem um eterno clima de disturbio social, de lutas sangrentas, às vezes, justamente por motivos de intolerâncias re30
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
ligiosas ou étnicas.
Cumprimento o amigo pelo seu empenho cotidiano e
exaustivo em ressaltar quanto o povo de origem judaica, que
aqui vive e labuta representa uma parcela importante em nossa
cominidade brasileira, representou e representa, no contexto
de nossa nacionalidade.
Um forte abraço
Oly Fischer dos Santos
Da Sra Devori Borger, do Museu dos Veteranos Judeus
da Segunda Guerra Mundial em Latrun, Israel, à margem da
Rodovia Tel-Aviv-Jerusalém.
Dear Mr. Blajberg,
It was a great honor to meet you in the National Memorial
Day of the Fallen. Soldiers of the IDF at Yad Lashiryon.
I was impressed from your knowledge and your deep motivation to join our important effort by suppling information
for the Museum of the Jewish. Soldier in WWII which is in
establishment.
The information that you sent regarding the participation
of the Brazilian Jewish soldiers (Incuding the general background) is very essential and useful- the summery and the lists
- since we are working on databases, individual stories and the
aspects of the Allies forces and, events and combats during the
Second Would War.
You generously suggested to send photos and further information regarding the Jewish soldiers as far as you get - that
means that we should be in current contact.
I would be very glad to supply for you information you
need for your research and use when it would be possible and
available.
“Muito obrigado”, “Shavua tov”.
Be our guest of honor.
Devori Borger
The Museum of the Jewish Soldier in WWII treasury office
Latrun Information Center - The IDF Armored Corps Library
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
31
Capítulo 3
Distribuição pelas Forças
Singulares e Unidades
Como forma de divulgar, principalmemte para as novas
gerações quem foram os bravos soldados brasileiros judeus,
seus feitos heróicos e resumos biográficos aqui se oferecem
neste livro aos estudiosos e interessados na temática militar e
judaica brasileira.
No Capítulo 6 apresentamos em ordem alfabética as minibiografias dos Heróis Brasileiros Judeus da Segunda Guerra
Mundial.
Apesar do esforço desenvolvido em 2005 pela Comissão, e
de nossas pesquisas posteriores, dois óbices restaram insanados:
1 - É provável que existam outros nomes a serem recuperados para a merecida homenagem.
2- Dos nomes constantes desta obra, alguns não puderam
ser localizados, ou seus familiares, assim não foi possível dar
o devido destaque as respectivas biografias, que ficaram carecendo do necessario detalhamento. Em alguns poucos casos
ficou faltando inclusive a confirmação final de que realmente
eram membros da Comunidade Judaica Brasileira. Optamos
por manter estes nomes na esperança de que a divulgação da
obra traga a lume novas informações, de possíveis parentes e
amigos, a serem incorporados a futuras edições.
Considerou-se neste trabalho para elaboração da Nominata, a definição de ex-combatente preconizada na legislação
brasileira, a saber:
I - integrante da Força Expedicionária Brasileira ou de Força do Exército que tenha participado ativamente de operações
bélicas ou servido em Zona de Guerra.
II - integrante da Marinha de Guerra que tenha participado
32
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
ativamente de operações de guerra, em missão de escolta, comboio ou patrulhamento oceânico ou servido em Zona de Guerra.
III - integrante da Força Aérea que tenha participado ativamente de operações de guerra na Itália, ou em missões de escolta, comboio ou patrulhamento oceânico, a bordo de aeronaves armadas, nacionais ou aliadas, engajadas em missões de
proteção às rotas marítimas; ou servido em Zona de Guerra.
IV - tripulantes embarcados a bordo de navios mercantes,
pertencentes a Companhias Nacionais e Estrangeiras, navegando em águas oceânicas ou costeiras sujeitas ao ataque de submarinos inimigos.
Constitui prova de participação ativa em operações de
guerra, um dos seguintes documentos:
I - para o ex-combatente do exército: Diploma de Medalha
de Campanha, Medalha de Sangue do Brasil, Medalha Cruz de
Combate de 1ª ou 2ª Classe, Medalha de Serviços de Guerra.
II - para o ex-combatente da Marinha de Guerra: Diploma
de Medalha de Serviços de Guerra com ou sem Estrelas, Medalha da Força Naval do Nordeste, Medalha da Força Naval do
Sul, Cruz de Guerra Naval ou Medalha de Serviços Relevantes,
em ambos os casos, acompanhados da respectiva Certidão do
Conselho do Mérito de Guerra;
III - para o ex-combatente da Força Aérea Brasileira: Diploma de Medalha de Campanha, Cruz da Aviação ou Medalha da Campanha do Atlântico Sul;
IV - para o ex-combatente da Marinha Mercante: Diploma
de uma das Medalhas de Serviços de Guerra, acompanhada da
respectiva Certidão do Conselho do Mérito de Guerra.
Além dos 42 Heróis Brasileiros Judeus da 2ª, Guerra Mundial, optamos por mencionar mais 10 Veteranos, sendo:
1 Veterano – honorário, por sua afinidade com a Comunidade Judaica;
3 Veteranos – cuja condição de integrante da Comunidade Judaica está pendente de confirmação;
1 Veterano – integrante da Parada da Vitória em Londres – 1946
5 Veteranos – Ex-combatentes Judeus de Nações Amigas residentes no país, em geral naturalizados e com filhos brasileiros.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
33
Com base no exposto, consolidamos a seguir a nominata, com
os respectivos sub-totais de nomes levantados e sua classificação:
a) Ex-Combatentes Brasileiros Judeus – 42 Veteranos
Abrahão Fainguelernt
Adio Novak
Alberto Chahon
Bernardo Stifelman
Boris Markenzon
Boris Schnaiderman
Carleto Bemerguy
Carlos Scliar
David Lavinski
David Leon Rodin
Edidio Guertzenstein
Elias Niremberg
Guilherme Bessa Filho
Heitor Sennes Pinto
Henrique Schaladowsky
Israel Hollmann
Israel Rosenthal
Jacob Benemond
Jacob David Cohen
Jacob David Niskier
Jacob Gorender
Jacob Perelmann
Jacob Zveiter
José Segal
Leão Stambowsky
Marcos Cerkes
Marcos Galper
Mauricio José Pinkusfeld
Melchisedech Affonso De Carvalho
Moises Gitz
Moyses Chahon
Pedro Kullock
Rafael Eshrique
34
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Salli Szajnferber
Salomão Malina
Salomão Naslausky
Samuel Kicis
Samuel Miller
Samuel Safker
Samuel Soichet
Saul Antelman
Waldemar Rozental
b) Figuração Honorária
Reynaldo Antônio de Borba
c) Figuração Preliminar e Provisória (Pendente de Confirmação) – 3 Veteranos
Donald Cohen Marques
Israel Bona
Jacob Chafier Sobelman
d) Integrante da Representação do Brasil na
Parada da Vitória, Londres - 1946
Miguel Grinspan
e) Ex-Combatentes Judeus de Nações Amigas no Brasil –
5 Veteranos
Akiba André Levy
Georges Schteinberg
Gerald Goldstein
Irmãos Isac e Nathan Kimelblat
Distribuição pelas Forças Singulares
A partir dos levantamentos efetuados pela Comissão Organizadora do evento Heróis Brasileiros Judeus da 2ª Guerra
Mundial realizado em 1º maio de 2005 no Grande Templo
Israelita do Rio de Janeiro, chegamos aos seguintes números:
Exército Brasileiro – FEB - 25 homens
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
35
Oficiais da Ativa - 5
Oficiais R/2 - 6
Sargentos - 6
Cabos e Soldados - 8
Exército Brasileiro – Defesa do Litoral - 4 homens
Oficiais R/2 - 2
Sargentos - 2
Total Exército Brasileiro - 29 homens
Marinha do Brasil - 4 homens
Oficiais - 2
Marinheiros - 2
FAB - 3 homens
Sargentos - 3
Marinha Mercante - 6 homens
Comandantes - 3
Comissários e Outros - 3
Total - 42 homens
Ao final de 2008, destes 42 veteranos 13 pemanecem
comprovadamente vivos, sendo que dos demais 29, alguns
não foram localizados.
A seguir apresenta-se a Nominata dos Veteranos, com o
posto que ocupavam à época da guerra, e entre parênteses, se
foi o caso, o último posto atingido ao final da carreira.
Marinha do Brasil
Ten Boris Markenzon (Almirante)
Capitão Tenente Méd Dr. Edidio Guertzenstein (Almirante)
MN Leon Stambowsky
MN Melchisedech Afonso de Carvalho (2º Ten)
36
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Exército Brasileiro – F E B
Oficiais da Ativa
Tem Alberto Chahon (Cel Mat Bel)
Tem Moyses Chahon (Gen Div)
Ten Salli Szajnferber (Cel Art)
Cap Salomão Naslausky (Cel Art)
Cap Samuel Kicis (Gen Div)
Oficiais R/2
2º Ten INF Israel Rosenthal
2º Ten INF Marcos Cerkes
2º Ten ART Marcos Galper (Major R/2)
2º Ten INF Pedro Kullock
2º Ten INF Salomão Malina
2º Ten Méd Dr Samuel Soichet
Sargentos
3º Sgt Adio Novak (Cap)
3º Sgt Boris Schnaiderman
Sgt Heitor Pinto Sennes (Maj)
2º Sgt Henrique Schaladowsky
3º Sgt Jacob Perelmann (Cap)
3º Sgt Rafael Eshrique
Cabos e Soldados
Sd Carleto Bermeguy
Cb Carlos Scliar
Cb David Lavinsky
Sd Elias Niremberg
Cb Samuel Safker
Cb Saul Antelman
Cb Moises Gitz
Sd Jacob Gorender
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
37
Exército Brasileiro – Defesa do Litoral
2° Ten R/2 ART Abrahão Fainghelernt
2° Ten R/2 INF José Segal
3º Sgt Jacob David Cohen
Sgt Waldemar Rozental (1º Ten)
Força Aérea Brasileira – Veteranos 2ª G M
S3 Bernardo Stifelman (1º Ten)
Israel Hollman
SO Jacob Zveiter (T Cel)
Marinha Mercante – Veteranos 2ª G M
Capitão-de-Longo-Curso David Leon Rodin
Capitão-de-Longo-Curso Jacob Benemond
Capitão-de-Longo-Curso Samuel Miller
1º Radio-Telegrafista Guilherme Bessa Filho
1º Comissário Jacob David Niskier
2º Comissário Mauricio José Pinkusfeld
Distribuição pelas Armas e Unidades
Aqui classificamos os 42 homens relacionados segundo
a Arma, Quadro ou Serviço, com o posto ocupado durante a
guerra e a unidade na qual serviram.
Exército Brasileiro – FEB
Oficiais - Infantaria
1º Ten Alberto Chahon – I RI – Regimento Sampaio
1º Ten Moisés Chahon – I RI – Regimento Sampaio
2º Ten R/2 Salomão Malina – 11 RI
2º Ten R/2 Marcos Cherques – CRP/FEB – DP
2º Ten R/2 Pedro Kuloc – CRP/FEB – DP
2º Ten R/2 Israel Rosenthal – CRP/FEB – DP
38
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Artilharia
Cap Samuel Kicis – I/I RAPC – 2/4 – II / 4 GO 105
Cap Salomão Nauslausky – I/I ROAuR
2º Ten Salli Szajnferber – I/II ROAuR
2º Ten R/2 Marcos Galper – II/I ROAuR
Serviço de Saúde
Asp Of R/2 Méd Dr. Samuel Shoichet – I Btl Saúde
Sargentos
Infantaria
3 Sgt Jacob Perelman – DP/FEB
3 Sgt Heitor Sennes Pinto – CRP/FEB - DP
3 Sgt Adio Novak – QG/I DIE
Artilharia
3 Sgt Boris Schnaiderman – II/I ROAuR
3 Sgt Waldemar Rozenthal – 2° GADo
3 Sgt Jacob David Cohen – 2°/3º. RAAAe
Engenharia
3 Sgt Henrique Chaladowsky, – 9 Btl Eng
Cabos e Soldados
Infantaria
Cb Samuel Safker – QG/I DIE
Sd Jacob Gorender – I RI – Regimento Sampaio
Sd Elias Nirenberg – CRP-FEB – Tropa QG
Sd Carleto Bemerguy
Cavalaria
Cb Saul Antelman, – QG/Gen Falconieri
Cb Moises Gits – CRP/FEB – DP/FEB
Artilharia
Cabo David Lavinski – I/II ROAuR
Cabo Carlos Scliar – I/I ROAuR
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
39
Exército Brasileiro – Defesa do Litoral
Oficiais
Infantaria
2º Ten R/2 José Segal, CRP/FEB
Artilharia
Sgt Waldemar Rozental, 2° GADo
2º Ten R/2 Abrahão Fainguelernt, 1° BMAC
Sargentos
Artilharia
3º Sgt Jacob David Cohen 2°/3° RAAAe
Marinha do Brasil
CT Méd Dr. Edidio Guertzenstein,
CT Boris Markenzon,
MN Leon Stambovski,
MN Melchisedech Affonso de Carvalho
FAB - Força Aérea Brasileira
SO-FT Bernardo Stifelman
Israel Hollmann,
SO Jacob Zveiter
Marinha Mercante
Cap Longo Curso Jacob Benemond,
Cap Longo Curso David Leon Rodin,
2º Comissario Jacob David Niskier,
2º Comissario Mauricio Pinkusfeld,
1º Radio-Telegrafista Guilherme Bessa Filho
40
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Capítulo 4
Grande Homenagem
Marechal Waldemar
LEVY Cardoso
Nascido em 04 dez 1900, Dia de Santa Bárbara Padroeira
da Artilharia, homem que viveu em 3 séculos, o único Marechal vivo, Veterano da 2ª Guerra Mundial, atual detentor
do Bastão de Comando da Força Expedicionaria Brasileira, um
ícone da Nacionalidade, figura querida e admirada por todos.
Há Cardosos de origem judaica, mas não é o caso do Marechal.
Sua raiz judaica provém do sobrenome Levy de sua mãe,
com origem provável na Argélia, descendente de judeus franceses.
“Disso me orgulho muito, pode crer”, afirmou o Marechal
ao imortal Arnaldo Niskier, por ocasião de uma cerimônia
onde estiveram juntos (Jornal do Comércio do Rio de Janeiro,
04/04/2005)
Sua família era toda do Rio, apenas o pai sendo natural do
Rio Grande do Sul, Antônio de Almeida Cardoso filho de portugueses, falecido quando o menino Waldemar tinha 11 anos,
passando então a ser criado por sua mãe, professora. O pai
havia se convertido ao Judaísmo para casar-se com Da. Stella
Levy, em 1898.
Tiveram 2 filhos, Armando Levy Cardoso, que consta ter
sido ativo na comunidade judaica, na época de Capitão. Alcançou o posto de Coronel, tendo falecido em maio de 1983.
O menino Waldemar foi educado na religião judaica, tendo se convertido a Religião Católica com 53 anos. Na época
comandava o Regimento de Artilharia de Itu – SP, cidade com
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
41
a qual tem fortes laços familiares.
Consta que Frei Gilberto, daquela cidade, desempenhou
papel relevante na sua conversão, cuja motivação remonta a
um episódio ocorrido durante a guerra na Itália.
Tendo o então Ten Coronel Levy se extraviado, adentrou
uma igreja para solicitar informações sobre a posição da tropa
brasileira.
O pároco não sabia, mas aproveitou para mostrar uma
antiga e valiosa imagem de Santa Barbara, a mártir cristã. Ao
retirar-se, Levy percorreu curta distância e avistou o pavilhão
nacional hasteado no ponto que procurava.
Ainda conforme relatado ao Prof. Niskier, uma pequena
medalha de Santa Bárbara que lhe foi dada pela mulher, na
véspera da partida para a guerra, o protegeu: “sou judeu, não
nego, mas Santa Bárbara, a quem venero, foi quem salvou a
minha vida.”
“Minha mãe era muito religiosa. tinha o sobrenome Levy.
não queria que me casasse fora da religião judaica, mas aconteceu”.
Assim, tendo nascido no Dia de Santa Bárbara, padroeira
dos Artilheiros, o jovem Levy Cardoso optou pela Arma de
Artilharia, e já adulto pela religião católica.
A vida de Santa Bárbara se relaciona à artilharia porque
após ser martirizada ocorreu violento temporal com raios e
trovões, semelhantes ao estrondo e clarão dos disparos de canhão. A Santa nasceu em um 4 de dezembro no século III, na
Ásia Menor, sob domínio romano. Era filha de pagãos, e seu
pai a prendeu numa torre para evitar casamento indesejável
ou seduções do cristianismo. A jovem fugiu, é trazida de volta
pelo pai e entregue ao governador Marciano que a martiriza.
Após sua morte um raio fulmina o pai. A santa tornou-se padroeira da boa morte, sendo invocada pelos devotos quando
de relâmpagos e trovões.
Sempre a cada 4 de dezembro, uma missa no Forte Copacabana celebra o Dia da Padroeira, quando o Marechal manifesta grande religiosidade e devoção à Santa.
Acompanhado por familiares e amigos, contrito ouve a pa42
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
lavra do Capelão Mlitar, e ao final recebe a Hóstia, nos últimos
anos em cadeira de rodas, devido a uma queda que sofreu em
sua residência.
Já é uma tradição seu comparecimento ao Forte de Copacabana no Dia de Santa Bárbara, que coincide com a reunião
da Ordem dos Velhos Artilheiros, da qual é o Decano. O Almoço Festivo reune Artilheiros da Ativa e da Reserva, em torno
do carismático e respeitado Marechal, que reside nas proximidades, na Rua Toneleros.
Em diversas outras solenidades sua presença confere um
clima todo especial ao evento, como no 8 de Maio – Dia da
Vitória, e no 10 de junho, Dia da Artilharia, em uma unidade
da Arma de Mallet.
Quer seja de noite ou de dia, nas Fortalezas de Santa Cruz
ou São João, na Vila Militar ou em São Cristóvão, o Marechal
está sempre presente, invariavelmente acompanhado de seu
genro, General de Exército Antônio Joaquim Soares Moreira,
ex-Chefe do Estado Maior do Exército e ex-Presidente do Superior Tribunal Militar.
A dedicação e carinho do General Moreira para com o
Marechal são notáveis. Também ele oriundo da Arma de Artilharia, está sempre junto ao Marechal, auxiliando os acompanhantes a desloca-lo em cadeira de rodas.
Na reunião de 04 dez 2007 foi inaugurada a imagem de
Santa Bárbara junto ao Portão Histórico do Forte de Copacabana, entronizada pelo Capelão da 1ª Região Militar Padre
Lindenberg, seguindo-se a Missa em homenagem à Santa no
auditório do Forte.
Toda unidade de artilharia costuma ter uma imagem da
Santa Padroeira em local de destaque.
No Cassino dos Oficiais, o Marechal Levy recebeu o Bastão de Comando da FEB, como mais antigo ex-combatente, e
da janela comandou uma Salva Festiva disparada por peças do
21º GAC.
Depois do “Parabéns” o Marechal apagou as velas e agradeceu emocionado, encerrando-se a festa com a Canção da
Artilharia.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
43
Na Homenagem aos Heróis Brasileiros Judeus da 2ª Guerra Mundial, o Marechal Levy compareceu ao Grande Templo
Israelita, no Centro do Rio, mesmo em cadeira de rodas, embora não tivesse sido um dos homenageados, pois a Comissão
considerou que a religião atual deveria prevalecer.
Entretanto, mais tarde concluimos que o Marechal deveria
ter sido justamente lembrado, ainda que de forma honorífica,
por ser o detentor do Bastão de Comando da FEB, o que foi sanado no 19 de abril, Dia do Exército, que recorda a Batalha de
Guararapes em 1648, quando os holandeses foram expulsos
do Brasil, e que marca as origens do Exército Brasileiro.
No Salão Nobre do Palácio Duque de Caixas, sede do Comando Militar do Leste, aproveitando a presença do Marechal,
o Autor fez a entrega informal do Diploma, homenagem que
a rigor deveria ter feito juz na solenidade realizada em maio
de 2005 no Grande Templo Israelita. O Marechal, sorridente
como sempre, agradeceu e comentou “sou judeu, não nego
minha raça, minha mãe era Stella Levy, mas pela religião sou
católico”.
Na ocasião o correligionário Melchisedec Affonso de Carvalho, Diretor Cultural da Associação dos Ex-combatentes do
Brasil foi agraciado com a Medalha da Ordem do Mérito Militar, mais alta comenda do Exército Brasileiro, pelos relevantes serviços prestados à Força Terrestre, na solenidade que foi
presidida pelo General de Exército Domingos Curado, Comandante Militar do Leste.
Da sua vida familiar judaica quando solteiro o Marechal
ainda guarda algumas recordações, embora não possa precisar a data da chegada da família de Da. Stela Levy e seus
pais e outros parentes, por nunca ter indagado, como em geral acontece dado que poucos jovens se interessam por estas
questões.
Sua mãe formou-se professora na Escola Normal na Praça
da República, onde hoje está instalada a Escola Municipal Rivadávia Correia. Com ótima classificação, foi convidada pelo
seu Profesor Bricio Filho para ser sua Assistente. Terminado
esse estágio foi classificada em uma escola no litoral. Para lá
44
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
chegar viajava de bonde de tração animal até a estação Central
do Brasil, onde embarcava no trem para Campo Grande. De
lá, um pajem contratado pelo marido Armando a conduzia a
cavalo até a escola.
Fazia o caminho de volta chegando em casa ao anoitecer.
O marido lhe pedia que deixasse de lecionar, mas ela insistia,
alegando ser seu dever ENSINAR, o que fez sucessivamente
nas escolas do Alto do Morro do Castelo, que subia a pé, Rua
do Vianna em São Cristóvão, Rua Mariz e Barros, e finalmente
na Escola Teophilo Ottoni da Rua Senador Furtado na Praça da
Bandeira, quando se aposentou.
Ao final do séc XIX, quando Stella e Armando se casaram
a população judaica do Brasil era pequena, apenas 300 indivíduos segundo o IBGE, mas diversos autores como o Casal
Wolff, AJC e outros estimam que um número mais real seria
da ordem de 3 mil almas.
O Marechal recorda que relacionavam-se com seu pai
Armando Levy, Wolf Klabin e Horácio Lafer, da Indústria de
Papel Klabin, as famílias Azulay, Kanitz (ou Kaminitzer) e a
família Abraão, cujo filho Rafael (Rafa) possuía uma fazenda
de café em São Paulo.
Havia outros familiares judeus, como Armando Lyndaimer, casado com uma tia de Da. Stella Levy também chamada Stella, Henry Levy, Frances da Alsácia que emigrou para o
Brasil após a guerra de 1870 e casou com Clara, uma prima de
Stella Levy. Tiveram um filho, René, que foi o melhor amigo
do Marechal durante a sua vida.
Elias Toruzman, judeu marroquino de Casablanca, emigrou para o Brasil, casando-se com Rachel, outra prima de
Stella Levy.
Isaac Nahon, casou-se com a tia mais velha do Marechal,
Maria, tendo uma filha, Fortunée, e um filho também chamado
Isaac Nahon, que chegou a General de Exército.
O jovem Waldemar freqüentou uma sinagoga no Centro
da cidade do Rio de Janeiro, não se recordando exatamente o
local, talvez na Rua do Rezende. Como todo menino judeu,
foi circuncidado e fez o Bar Mitzvá, cerimônia que marca a
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
45
maioridade religiosa aos 13 anos, e que ele recorda ser designada como Tefilim e sido oficiada por um judeu a quem
chamavam de Rabi.
Seus pais foram sepultados no Cemitério do Caju, e conforme acredita o Marechal, sua genitora o foi no cemitério judaico ali existente.
A memória do Marechal é prodigiosa, recordando, em
suas próprias palavras, que quando foi fazer o Tefilim, lhe foi
entregue uma oração, escrita como se pronuncia em hebraico
(que ele não dominava), assim: “Baru, Batai, Adonai, Mitzvá,
Achê, Eloeinu, etc ...“
O jovem Waldemar não praticava a religião, mas todos
respeitavam o Yom Kippur (Dia do Perdão, o mais sagrado do
ano).
Waldemar jejuava durante 24 horas, inclusive sem beber
água, indo a pé de casa até a Sinagoga, como preconiza a Lei
Mosaica.
Turma de 18 de Janeiro de 1921 da Escola Militar
do Realengo a que pertence o Marechal Levy Cardoso
A Turma de Aspirantes-a-Oficial formada em 18 de janeiro
de 1921 na Escola Militar do Realengo daria ao Brasil importantes personalidades históricas, diversos Marechais e Generais que viriam a ter papel preponderante em acontecimentos
relevantes da história pátria:
Pertenciam à esta Turma: Ministro da Guerra, General
Jair Dantas Ribeiro; Chefe do Estado-Maior do Exército, General Humberto de Alencar Castello Branco; Comandante
do I Exército, General Armando de Moraes Ancora; Comandante do II Exército, Gen Amaury Kruel; o Comandante do III Exército, General Benjamim Rodrigues Galhardo;
Chefe do Departamento Geral do Pessoal, General Arthur
da Costa Silva; Chefe do Departamento de Provisão-Geral,
General João de Segadas de Viana; Comandante da 4°
RM, General Olímpio Mourão Filho, Generais Adhemar de
Queiroz, futuro Ministro da Guerra;João Baptista de Mat46
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
tos, escritor e historiador militar; Octacílio Terra Ururahy;
Nilo Augusto Guerreiro Lima; Estevão Taurino de Rezende
Netto; João Batista Rangel; José Theófilo de Arruda; Emílio
Maurell Filho; Ignácio de Freitas Rolim e Antônio Accioly
Borges.
Por Armas, entre outros, estes foram alguns de seus integrantes mais conhecidos:
INFANTARIA: Humberto de Alencar Castello Branco,
Olympio Mourão Filho, Aguinaldo Caiado de Castro, Nilo Augusto Guerreiro Lima, Jair Dantas Ribeiro, Ignácio de Loyola
Daher, João Baptista de Mattos, Armando Levy Cardoso.
CAVALARIA: Armando de Moraes Ancora, Estevão Taurino de Rezende Neto, Amaury Kruel.
ARTILHARIA: Waldemar Levy Cardoso, Alcides Gonçalves Etchegoyen.
ENGENHARIA: Edmundo Macedo Soares e Silva, Otacílio
Terra Ururahy.
WALDEMAR LEVY CARDOSO é o último Marechal
vivo do Exército Brasileiro, posto que foi extinto em 1967,
e a que chegaram militares como Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, Manuel Luís Osório, Patrono da
Arma de Cavalaria, Deodoro da Fonseca, proclamador da
República, Cândido Rondon, paladino da causa indígena,
Juarez Távora, Cordeiro de Farias, Costa e Silva, Eurico
Gaspar Dutra, Floriano Peixoto, Sousa Aguiar, Lott, Hermes
da Fonseca, Castello Branco, José Pessoa, Mascarenhas de
Moraes, Aguinaldo Caiado de Castro, Ângelo Mendes de
Moraes, Carlos Machado Bittencourt, João de Deus Mena
Barreto, João de Segadas Viana, José Pessoa, Odílio Denys
e outros.
O Marechal Levy assesntou praça aos 09 jan 1918 como
voluntário na Escola Militar, passando para a Reserva em
06 out 1966 com 48 anos, 08 meses e 28 dias de tempo de
serviço militar.
Cursou o Colégio Militar da Capital Federal, Escola Militar do Realengo – 1918/1921, Escola de Artilharia – 1933 e
Escola de Estado Maior – 1935/1937.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
47
Casou-se com Da. Maria da Glória de Oliveira Levy
Cardoso,nascida em 23 de junho de 1907 e falecida em
2006.
Sua carreira militar foi vasta e profícua, servindo em
diversa unidades de Artilharia, tendo sido Comandante do
1º Regimento de Obuses Auto Rebocado, unidade da Força
Expedicionária Brasileira em campanha na Itália – 1944/45,
a convite do General Cordeiro de Farias, Comandante da
Artilharia Divisionária. Sua unidade teve desempenho destacado na conquista de Monte Castelo, Castelnuovo e Montese.
Em 1951, foi enviado para a Europa como adido militar às
embaixadas do Brasil na França e na Espanha.
Retornando ao Brasil em 1953, foi comandar o Segundo
Regimento de Obuses 105 em Itu-SP, onde servira como Aspirante tendo permanecido até a promoção a general-de-brigada.
Em 1957, foi nomeado para a chefia do gabinete do ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, em seguida
Diretor da Diretoria de Aperfeiçoamento e Especialização –
1961; Comandante da 2ª Divisão de Infantaria – 1961; Diretor
da Diretoria de Serviço Militar – 1963;
Após a revolução de 1964, assumiu a chefia do Departamento Geral de Pessoal e Departamento de Provisão Geral.
Passou para a reserva em 1966, com a patente de marechal. Em abril de 1967, foi nomeado presidente do Conselho
Nacional do Petróleo, cargo que manteve até março de 1969,
quando assumiu a presidência da Petrobras. Deixou a presidência em novembro de 1969. Entre 1971 e 1985, foi conselheiro da Petrobras.
Possui as seguintes Medalhas e Condecorações:
Medalha Militar de Prata – 1934
Medalha de Guerra – 1945
Medalha Militar de Ouro – 1949
Medalha Marechal Hermes de Prata com 1 coroa – 1956
Medalha do Pacificador – 1957
Medalha Mérito de Santos Dumont – 1957
48
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Medalha Militar de Ouro com passadeira de Platina - 1958
Cruz de Guerra com Palma – 1945
Croce Valore Militare (Itália) – 1945
Bronze Star (EUA) – 1946
Cruz de Combate de 2ª Classe – 1947
Ordem do Mérito Militar – 1955
Ordem do Mérito Naval - 1958
Promoções:
ASPIRANTE: 18/01/1921
2º TENENTE: 11/05/1921
1º TENENTE: 07/09/1922
CAPITÃO: 26/06/1929
MAJOR: 05/03/1940 - merecimento
TENENTE-CORONEL: 24/06/1943 - merecimento
CORONEL: 25/03/1948 - merecimento
GENERAL-DE-BRIGADA: 09/08/1954
GENERAL-DE-DIVISÃO: 25/03/1961
GENERAL-DE-EXÉRCITO: 25/11/1964
MARECHAL-DE-EXÉRCITO: 06/10/1966 - Inatividade
Coronéis Levy Cardoso (esq.) e Isaac Nahon na época
em que comandaram o Regimento MALLET
de Santa Maria da Boca do Monte - RS
Seria interessante destacar que tanto o Coronel Levy
Cardoso quanto o Coronel Isaac Nahon comandaram a mais
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
49
tradicional unidade da Arma de Artilharia do Exército Brasileiro, o Regimento MALLET, onde também serviu o neto
do segundo, Tenente Coronel Paulo Antônio Nahon Penido
Monteiro.
Decano das unidades de Artilharia de Campanha do
Exército Brasileiro, foi criado em 4 de maio de 1831, com a
denominação de Corpo de Artilharia a Cavalo em Rio Grande
de São Pedro (RS).
Sob o comando de Mallet, participou da Campanha contra Oribe e Rosas, na qual adquiriu o legendário apelido de
“Boi de Botas”, participando da maior batalha da América do
Sul, Tuiuti, em 24 de maio de 1866, onde enfrentou mais de
vinte cargas da Cavalaria paraguaya: “Eles que venham! Granada e metralha, espoletas a seis segundos!... Por aqui eles
não passam!... Por aqui não entram!”.
Em 1925 o 5º RAM instalou-se em Santa Maria (RS),
recebendo em 1932 a denominação histórica “Regimento
Mallet”. 54 integrantes da unidade integraram a Força Expedicionária Brasileira na Itália.
Posteriormente recebeu a denominação 3º Regimento de
Artilharia 75mm Auto Rebocado, 3º Regimento de Obuses
105mm e atualmente 3º Grupo de Artilharia de Campanha
Autopropulsado, o “Regimento Mallet”, por ter recebido em
1971 obuseiros M 108 105mm autopropulsados.
Abriga o Memorial Mallet, onde repousam os restos mortais do Patrono da Artilharia e sua esposa, e o museu, que
possui um fragmento de osso de Santa Bárbara. A relíquia
é guardada em estojo de prata guarnecido de ouro, protegida por uma tampa redonda de cristal atada com um cordão
de seda vermelha com o selo do Vaticano, e tem certificado
de autenticidade assinado pelo vigário-geral do Vaticano. Ela
foi recebida como doação pelo marechal Levy Cardoso, excomandante do Regimento Mallet, quando visitou o mosteiro
de Monte Casino, na Itália, em 1945.
O grupo de Santa Maria construiu uma capela que abriga
o estojo com o fragmento de osso e imagens de Santa Bárbara
e Nossa Senhora da Conceição, padroeira do 3º GAC.
50
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Foto 2
Foto 1
Foto 3
Foto 4
Legenda das Fotos:
Foto 1 - Marechal Levy e o Autor na solenidade do Dia da Artilharia, 10 jun 2008, no 11°
Grupo de Artilharia de Campanha – Grupo Montese, na Vila Militar – Rio de Janeiro.
Foto 2 - Diploma concedido ao Autor pela Ordem dos Velhos Artilheiros, assinado pelo
Decano Marechal Levy Cardoso.
Foto 3 - Brasão de Armas da mais tradicional unidade da Arma de Artilharia do Exército
Brasileiro, o Regimento MALLET de Santa Maria - RS.
Foto 4 - Marechal Levy e o Presidente da FIERJ Sérgio Niskier na Tribuna de Honra do
Desfile Militar de 7 de Setembro de 2007, na Av. Presidente Vargas, Rio de Janeiro.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
51
Capítulo 5
HOMENAGEM ESPECIAL
Os Bravos que Vieram de Longe
Participação Especial do General Ruy Leal Campello,
Veterano do Regimento Sampaio
da FEB e do Batalhão Suez
Este é um depoimento precioso, da lavra de um grande
Soldado, que aos 92 anos o elaborou especialmente, escrevendo penosamente à mão devido a dores que o acometiam, ao
longo de vários meses em 2008, para este livro, em meio as
vicissitudes da luta travada pelos últimos remanescentes vivos
da gloriosa Força Expedicionária Brasileira para manter acesa
a chama que ilumina a memória dos feitos de nossos patrícios
na Segunda Guerra Mundial, constituída pela ANVFEB – Associação Nacional dos Veteranos da FEB.
O General CAMPELLO é Presidente do Conselho Deliberativo da ANVFEB, e desejou prestar a sua homenagem aos
colegas de turma da Escola Militar do Realengo, os Irmãos
Chahon e o Ten Pinto Duarte.
I - Introdução
Estamos vivendo novo século. São passados mais de sessenta anos.
O Brasil foi, então, envolvido em sangrentos acontecimentos e obrigado a responder afrontosos atos que feriram sua soberania. Era a II Grande Guerra que assolava todos os recantos
de nossos continentes. Tivemos que preparar representação,
isto é, um braço forte - militar - para apoiar os aliados e revidar
os ataques sofridos ao longo da costa brasileira, contra unidades de nossa marinha mercante. Tal foi, sem dúvida, o motivo
cruciante que levantou a opinião nacional e acabou por exibir
52
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
o rompimento diplomático e a seguir - o estado de guerra contra as potências do eixo.
E o Brasil foi à guerra. Na península italiana, no Continente Europeu, de onde partiram os navegadores e as caravelas
de Dom Manuel, de Sagres; Colombo, o Genovês; Vasco da
Gama e aqui aportou Cabral.
Muito se tem escrito - loas e acerbas críticas - que vão do
desempenho glorioso, a impiedosas considerações, que abrangem todos os setores envolvidos políticos e militares - e o mesmo povo que acudia às ruas exigindo revide aos “ataques do
eixo”, passado o tempo, esquece seus mártires e despreza os
feitos de seus bravos soldados, aí incluídos aqueles que escrevem “abalizadas opiniões” para diminuir os êxitos e aumentar
as falhas ocorridas e que, em havendo nova feita, ocorrerão
certamente.
Tendo vivido os acontecimentos, função da profissão
abraçada, com ardor e dedicação labutado toda uma vida, não
posso deixar passar sem frustração tal sentimento, quando, no
último quartel da existência, assisto, leio ou escuto opiniões,
que tocam fundo a alma de velho soldado e combatente da
arma de infantaria. Em algum ponto e, ninguém é perfeito,
podemos ser apontados por um senão. Assumimos a responsabilidade, mas estamos conscientes de havermos procedido
visando, sempre e apenas, ao cumprimento do dever.
O devaneio acima surgiu após recentes comemorações do
sexagésimo terceiro aniversário da tomada de Monte Castelo, a 21 de fevereiro de 1945. Incluo, ainda, recente envolvimento com o grupo de veteranos congregados na ANVFEB
(Associação Nacional de Veteranos da Força Expedicionária
Brasileira). A Associação encontra-se em difícil situação, sem
recursos financeiros para fazer frente aos encargos administrativos e quadros capazes de enfrentar a eventualidade, pois seus
associados são cidadãos que já ultrapassaram oitenta anos!
Ao finalizar este intróito devo incluir a razão que me obriga recordar fatos e passagens vividas, quando, como jovem
tenente, integrei a 5° Cia Fuzileiros do Regimento Sampaio.
Decidi atender solicitação de dedicado professor Israel BlajSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
53
berg, que planeja editar trabalho exaltando a conduta de jovens brasileiros, durante o desenrolar da Campanha da Itália e
intitula o trabalho, “SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE”.
Examinando a relação apresentada, todos israelitas, retirei dois
nomes. Eis que foram colegas de nossa turma de cadetes da
saudosa Escola Militar de Realengo, matriculados em 1938,
portanto, época em que o fantasma da II Grande Guerra preparava-se para mostrar suas garras avassaladoras.
Tentaremos mostrar o desempenho dos sempre lembrados
companheiros Alberto Chahon e Moyses Clahon, dois irmãos
que viveram, como todos nós jovens tenentes da arma de infantaria todas as agruras da guerra, integrando o Regimento
Sampaio. A exposição relativa a Moyses Chahon é mais ampla, pois participou de todas as operações do II BI (Major Syseno), justamente o meu batalhão e daí a decisão de mostrar
nossas observações que retratam os embates enfrentados na
campanha pelos executantes de 1° escalão de combate. No
que respeita ao caro companheiro e amigo Alberto, integrando
o 1° BTL (Major Uzeda) do mesmo Regimento citamos, um
resumo, mas sua conduta merece toda admiração e é digna de
ser apontada.
II - Dois Tenentes
O Tenente Alberto Chahon, mais moço dos citados, comigo serviu no 2° Regimento de Infantaria, quando se iniciou a
organização da FEB. Foi classificado no 1° Batalhão do Regimento Sampaio e exerceu função de realce como “oficial de
transmissões”, termo usado na época para indicar importante
necessidade de combate e chefia, isto é, as comunicações necessárias ao comando, no que respeita o estabelecimento das
ligações, transmissão de ordens e informações de combate. No
1° Batalhão de Sampaio permaneceu durante toda a campanha. Viveu as dificuldades da entrada em ação no ataque, de
29 de novembro de 1944, a Monte Castelo, a defensiva de
inverno no Vale do Reno; o ataque vitorioso a Monte Castelo de 21 de fevereiro de 1945; as operações da ofensiva da
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
primavera em Montese e a perseguição das colunas inimigas
até o Vale do Pó. Em nenhum momento ouvi ou presenciei
atos ou reclamações, que atingissem sua atuação profissional,
principalmente, no seu Batalhão (Btl Uzeda), cujo comandante
não poupava àqueles que apresentassem alguma falha. Alberto
Chahon continuou sua carreira, já agora, no posto de Coronel
e fazendo parte de quadro especial, pois concluira o curso do
instituto Militar de Engenharia (QMB), Material Bélico. Calmo,
simples e cortês, compareceu sempre às reuniões de sua turma
- “Os cadetes de 1938”. Em setembro de 2001, perdemos o
caro companheiro e fomos homenageá-lo em seu sepultamento, no Ceminário de São Francisco Xavier (Ala Israelita).
O Tenente Moisés Chahon, irmão mais velho de Alberto,
sempre apresentou traços diversos de personalidade. Alegre e
comunicativo conosco confraternizou, nos tempos felizes de
tenentes solteiros, na Tijuca e em suas reuniões festivas. Inteligente e com facilidade no trato de idioma estrangeiro, deixou
passar oportunidade e foi ultrapassado por Alberto, que foi
declarado. Aspirante a oficial, da arma de Infantaria, um ano
antes, a de 3 de dezembro de 1940. A época era de incerteza e vamos encontrá-lo, vejam o destino, também classificado
no Regimento Sampaio, que se preparava para integrar a FEB.
Eram os tempos do 2° Batalhão (Major Syseno) e o Ten Chahon
fora assumir a sua função de comandante de pelotão da 6°
CIA. Em novembro 1944, nosso comandante do Regimento,
o sempre lembrado Coronel Aguinaldo Caiado de Castro, em
sua “Ordem do Dia” alertava seu Regimento: “Além, nas Alturas Apeninas, o “Boche” invasor e traiçoeiro vos espera...!”
Estávamos ainda acampados na área da Tenuta di S. Rossore
(PISA), em final de ajustamentos. Dias antes, final de outubro
de 1944, puro acaso, quando nos deslocávamos, vamos encontrar, em animada conversa, Alberto e Moyses Chahon que
estavam “sendo visitados” por outro companheiro de turma - o
Tenente José Maria Pinto Duarte, que integrava o 6° RI, em
ação no Vale do Serchio, pois seu Regimento fazia parte do
1° escalão da FEB e nos precedera na chegada além-mar. A
conversa seguia animada e Pinto Duarte transmitia suas obserSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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vações. O inimigo estava em retirada e seu Regimento, até o
momento, não encontrara dificuldades. O 6° RI conseguira os
promeiros louros de sua atuação. Anotei as observações. Mas,
o destino acabaria por desfazer a facilidade pintada pelo nosso
entusiasmado e sempre lembrado companheiro. Ele seria, mais
adiante, uma das vítimas a lamentar! O inimigo, na verdade,
manobrava em retirada, até a linha de alturas escolhida para
quebrar o ímpeto ofensiva do nosso GT (Grupamento Tático)
que atuava no Vale do Serchio e, tinha razão, a advertência de
nosso Comandante, o Coronel Caiado.
III - Entrada em Ação
Finalizados os reajustamentos necessários, o nosso 2° Batalhão (Major Syseno), entra em ação no Vale do Reno, substituindo tropa do 6° RI. A 6° CIA, do Tenente Moyses Chahon ocupa
posição a oeste da 5° CIA, região de Áfrico-Volpara. Tivemos,
então, os primeiros contatos com o inimigo. Grande tensão e
apreensão. Surgem as primeiras baixas. O frio já mostrava suas
dificuldades. A leste do dispositivo do 2° Batalhão sobressaiam
às alturas de Torre de Nerone e Soprassaso que tinham amplo domínio de observação sobre nossas posições. Ação de artilharia e
morteiros. Patrulhas que procuram sondar os pontos sensíveis do
dispositivo. A lama e as alturas dificultam o aprovisionamento e
remuniciamento. São empregados muares dos alpinos italianos.
Mais adiante, as linhas avançadas aparecem cobertas de
panfletos. Eram os tiros de propaganda inimiga que, aquela altura, já identificara a nacionalidade da tropa que o enfrentava.
Procurava, assim, influir na moral de nossas tropas. Os panfletos
poderiam ser utilizados como salvo-condutos.
Nas posições defensivas e, naqueles dias de verdadeira
adaptação à vida do infante em campanha, tivemos, todos nós,
ocasião de provar nossas condições físicas e morais necessárias
aos embates que estavam por acontecer. A 29 de novembro o 1°
Batalhão (Uzeda), tomara parte em operação de ataque a Monte
Castelo. A notícia chegara ao conhecimento dos 2° e 3° Batalhões, em posição, na frente defensiva. Claro que o impacto do
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
insucesso foi recebido com preocupação. Logo a seguir, início
de dezembro, o inverno já fazia sentir seus efeitos. Os Batalhões
(2° e 3°) que estavam em linha são substituídos, colocados em
reserva e reajustam seus efetivos. Haverá nova operação de ataque a Monte Castelo, em data ainda não conhecida em nosso escalão, mas nos reconhecimentos realizados indicavam que logo
estaria para acontecer. A 12 de dezembro, a operação é desencadeada. O 2° Batalhão, incluindo a 6° CIA do Tenente Moyses
Chahon, torna parte no ataque. As três subunidades, a 4°, 5° e
6° CIA, são engajadas e sofrem pesadas baixas. A visibilidade
não permitia o apoio necessário dos fogos de artilharia e dos carros de combate americanos. A infantaria não conseguiria e não
conseguiu quebrar as resistências alemãs que em suas casamatas e dominando a observação do compartilhamento de ataque,
impede a progressão do escalão de ataque, causando pesadas
baixas. A 6° CIA e ai estão os Tenentes Apolo Rezk, Moyses
Chahon e Deschamps, assim como os demais integrantes da 4°
e 5° CIAS, tiveram papel importante e provaram sua tempera de
infantes. O Tenente Apolo foi o mais sacrificado, pois, vencido
pelas dificuldades de observação, foi envolvido e seu pelotão é
praticamente dizimado pelo fogo ajustado do inimigo. Ao cair da
tarde, a operação é encerrada e a tropa atacante retorna às bases
de partida. Muitos ali ficaram e seus corpos só foram recuperados mais tarde, por ocasião da ofensiva da primavera. A neve,
que começara a cair, seria a mortalha daqueles que, sem medo e
com denodo, cumpriram o sagrado dever de servir ao seu Exército e a sua Pátria. Devo acrescentar que esta dissertação é difícil
de resumir e tudo o mais que ainda falta relatar. Eis que, como o
Tenente Moyses Chahon, enfrentamos o inimigo e, na pele e na
alma de jovens oficiais, sentimos os efeitos da dolorosa jornada e
experimentamos o amargor da derrota e do insuscesso.
V - Ataque a Monte Castelo a 21 de fevereiro
O IV CEx que enquadrava a nossa DIE recebera o reforço
de uma divisão: a 10° DIMnth, especialmente preparada para
combater em regiões montanhosas e que estava concentrada
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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na região de Vididiatico, no limite oeste da zona de ação, tendo ao Norte, justamente, os conjuntos montanhosos de Monte Capel Buzo (1.151) Pizzo di Campiano - Monte Belvedere
(1140) - Monte Gorgolesco (1120), cuja posse era essencial
para o sucesso da ofensiva. O cenário daquelas alturas, observando a Região Norte e Nordeste da localidade da Gaggio
Montano, onde surgia Monte Castelo (977), era menos íngreme. A observação da topografia deixava ver a dificuldade do
ataque, sem anular, em um primeiro lance, o domínio das elevações citadas a oeste. Desta vez, porém, Monte Castelo seria
atacado pela DIE, após a ação da 10° DI Mnth, e em cobertura
de seu flanco leste para permitir a progressão visando às passagens que levavam ao Vale do Pó.
Tomaram parte na jornada, o 1° Ten. Alberto Chahon
como oficial de transmissões do 1° BI (Major Uzeda) assegurando as ligações e transmissões de ordens e o 1° Ten. Moyses
Chahon, na 6° CIA, 2° BI (Major Syseno) que seria lançado no
prosseguimento da operação de La Serra.
VI - De La Caselina - La Serra
Os dia que se seguiram, após o êxito do ataque a Monte
Castelo, exigiram grande atenção e redobrados reforços. Monte Castelo era nosso!
Entretanto, os alemães ofereciam séria resistência, ainda
em Torracia, dificultando a progressão da 10° DI Mnth. Era
necessário anular a obstinação inimiga. O 2° BI (Major Syseno) é lançado a Leste, na direção Caselina La Serra, com a
missão de conquistar Cota 958 - La Serra, em condições de
prosseguir sobre Roncovelio. Operação de grande importância, pois o sucesso tornava difícil a manutenção de Torracia
pelo inimigo.
O desempenho dos Tenentes Apolo e Chahon foi merecedor de destaque, bem assim o Tenente Deschamps e os
demais integrantes da 5° Cia, Tenente Bicudo, Segismundo e
Moacir. Estão incluído também e com destaques os Tenentes
Bordeaux e Acioli do 3° BI (Major Franklin).
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
A noite de 24/25 de fevereiro, passada em Caselina, foi
enfrentada debaixo de pesados bombardeios desencadeados e
destacamos o desempenho dos Cap. Cmt. da 6° e da 5° Cia,
pela calma e segura atuação orientando a ação de combate de
seus pelotões. O Pelotão Chahon ultrapassa Bela Vista e conquista 958. O Tenente Apolo sofre leve ferimento e é substituído pelo Sargento Schultz, mais tarde promovido a 2° Tenente.
O Pelotão Deschamps é lançado em reforço para La Serra. A
operação tem sucesso, afinal, e a frente 950 - La Serra - Seneveglio está em nossas mãos.
VIII - Montese - Ofensiva da Primavera
Recebemos ordens para reconhecimentos de novas
posições:
Campo Del Sole - Tamburini - Sassomolare, a sudeste de
Montese, onde deveríamos substituir tropa americana da 92°
DI, cujos efetivos eram constituídos por homens de cor e somente os oficiais superiores brancos. Um tipo de segregação
racial, para os brasileiros estranho. Hoje, tal atitude mudou.
A conduta dos homens da 92° DI era displicente, inclusive
abandonando material.
Diversas proclamações foram distribuídas às tropas atacantes: Do Supremo Comandante Aliado do Teatro de Operações
do Mediterrâneo, Marechal H.G. Alexandre; Do CMT do V
Exército, Tenente Gen. L. K. Truscott Jr e do CMT da DIE, Gen.
Mascarenhas de Moraes. Os textos das proclamações mostravam, de maneira incisiva, a certeza do êxito e da vitória final
que resultaria da ofensiva a desencadear. A operação ganhou o
nome de “Ofensiva da Primavera” e teria início a 10 de abril.
Nesse interim, foram realizadas patrulhas à luz do dia. Face
a Montese visando 747 e 759, ao comando do Tenente Iporan
e Sargento Max Wolf, do 11° RI. O desempenho do Sargento
Wolf mostrou sua intrepidez e bravura e sua morte, à frente de
seus homens, notável exemplo de abnegação e liderança.
Mais a leste, na frente da 4° Cia, em Creda e Possessione,
o Aspirante Amorim e Aspirante Mega, lutam com denodo e
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
59
determinação, resultando o ferimento do Aspirante Amorim e
a morte do Aspirante Mega, além do soldado enfermeiro Wilson Bonfim, vitimado em campo minado.
A 5° Cia recebe ordem de reforçar à 6° Cia, a leste do
dispositivo, permanecendo, ainda na defensiva ocupando,
810 - Campo Del Sole. Pouco mais tarde, já na região de
Sassomolare, em reforço a 6° Cia, assistimos a chegada do
General Mascarenhas acompanhado de um grupo de oficiais
de seu estado-maior. O Cmt da Cia, Capitão Wolfango tem,
então, oportunidade de apontar os pontos no terreno que
estão mais à frente, ocupados por seus pelotões e que encontram dificuldades pela reação inimiga de ultrapassar 744, Pelotão Chahon e Apolo. O local, de onde observam a frente,
Posto de Observação (PO) , é hoje, histórica fotografia e dali
foi possível mostrar ao General Mascarenhas, o comportamento do ataque em curso. Pouco mais adiante, o General
Cmt retira-se.
IX - Perseguição - Final das Operações
A DIE organiza 3 GT (Grupamentos Táticos) ao comando dos Gen. Cordeiro, Falconiere, Zenóbio com a missão
de continuarem a ofensiva visando o cerco do Exército da
Ligúria. A 2 de maio, recebe a DIE ordem de cessar as hostilidades tendo em vista a rendição total das forças inimigas.
O nosso 2° BI (Major Syseno) ocupa PIACENZA e o Quartel
General da DIE é localizado em Alexandria. A missão que
nos cabe então, é de ocupação do território italiano, livre
agora do jugo nazi-fascista!
A 8 de maio, é divulgada a notícia do término oficial da
guerra na Europa!
A operação denominada “ofensiva da primavera” iniciada em 14 de abril tivera seu final a 2 de maio, e exigira
dos integrantes dos dois Exércitos aliados - o V Exército
Americano e o VIII Exército Britânico - determinação e denodo nas diversas fases da campanha em que foram envolvidos.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
X - Considerações Finais
Estamos chegando ao final do nosso trabalho e não foi
fácil consegui-lo. O tempo passado e o peso dos anos, têm influência muito grande. Procuramos fazer o possível para satisfazer ao pedido do professor Blajberg. De início, achamos que
ficaria mais apropriado intitular a nossa resposta: “OS BRAVOS
QUE VIERAM DE LONGE”
A FEB foi organizada, mobilizada para a guerra, lançando
mão do sistema de mobilização vigente, previsto na Lei do
Serviço Militar - convocando reservistas das diversas classes e
categorias para completarem os quadros das unidades combatentes, agora e então, obedecendo a novos padrões de unidades, quadro de efetivos e funções, não existentes no Exército
em tempo de paz. Evidente, portanto, que as mudanças necessárias exigiam reestruturação dos quadros de organização.
Daí, o importante papel da reserva, em particular os oficiais da
reserva, que foram integrar os novos quadros de organização.
Os oficiais da ativa, profissionais de carreira, efetuaram o
enquadramento e o preparo dos convocados, especialmente,
aos destinados às pequenas unidades. O total empenhado foi
apreciável. Sua conduta e desempenho atenderam à expectativa. A realidade da campanha enfrentada, a entrada em ação,
o combate, mostrou a todos a necessidade e o valor do exemplo, da disciplina e da iniciativa, fatores importantes para os
comandantes e lideres na ação e condução de seus homens.
Julgo que foram bravos, muito em particular, os integrantes de primeira linha, os nossos soldados que, vindos de todos
os recantos do País, enfrentaram as agruras da missão que lhes
foi imposta. Não havia preconceito de cor ou religião. Havia,
enfatizamos, elementos de credos e religiões diversas. Assim
era e é o Brasil. À terras distantes e desconhecidas, foram mandados em revide ais infaustos e mortais golpes desferidos pelas
nações totalitárias e como prova de nosso compromisso com a
liberdade e a democracia.
Da relação apresentada pelo professor Blajberg, selecionamos dois oficiais, por coincidência, irmãos e integrantes de
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
61
nossa turma de aspirantes da saudosa Escola Militar do Realengo. É oportuno acrescentar que destacamos também um outro
companheiro daqueles tempos, o 1° Ten. José Maria Pinto Duarte, que foi abatido pelo inimigo no VALE DO SERCHIO. Colocamos, em apêndice, a homenagem de que foi alvo, quando
foi organizado o livrinho da TURMA DE ASPIRANTES (cadetes
de 1938). Mais de 60 (sessenta) tenentes de nossa turma, inclusive da FAB, entraram em ação na CAMPANHA ITÁLIA.
Os tenentes Alberto e Moyses Chahon compartilharam conosco em toda a caminhada do glorioso Regimento Sampaio, do
RIO ARNO ao VALE DO PÓ, nas operações realizadas, durante
a II Grande Guerra. Seu desempenho foi escrito baseado na bibliografia existente e na memória do autor. É claro que, em se tratando de um resumo, foram deixados de parte muitos detalhes.
Os elogios a que fizeram jus sintetizam passagens da atuação de
cada um deles e não podem suscitar dúvidas ou considerações.
O calor do combate e a emoção ao recordar os quadros e
as situações que vivemos permanecem gravados e íntegros nas
minhas lembranças de velho combatente da FEB.
A figura inolvidável do nosso Comandante de Regimento,
o Coronel Aguinaldo Caiado de Castro, que preparou a unidade moral e profissionalmente; o Major Syseno Sarmento,
Comandante do 2° BI, figura ímpar de soldado e chefe que
exerceu o comando do Batalhão, durante toda a campanha,
transmitindo a seus comandados, carinho e solidariedade, em
todas as agruras enfrentadas; o nosso Comandante da 5ª Cia
Fzos, Capitão Valdir Moreira Sampaio, um exemplo de Capitão de Infantaria, digno de ser apontado e seus subalternos
(Tenentes Segismundos, Darcídio, Bicudo, Gilson, Moacir e
Evilásio), não podem ser esquecidos. Hoje, não estão mais presentes, mas o seu trabalho e convivência permanecem através
o passar inexorável dos tempos. Nossos bravos graduados e
soldados que suportaram as dificuldades surgidas e os esforços
dispendidos para que as missões fossem cumpridas, mostraram
o valor dos soldados brasileiros. Muitos tombaram ou foram
vítimas de seqüela durante o desenrolar da campanha, mas
souberam elevar bem alto o conceito do Exército e do Brasil!
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Homenagem Póstuma
1° Ten. Inf. José Maria Pinto Duarte
8 fev 1920 (Rio de Janeiro – DF)
31 out 1944 (S. Quirico, Itália)
Cadete do Realengo, 1938
Apirante de Infantaria, 1940
Comandante do Pelotão de Metralhadoras
Tombou em Combate
Promovido Post-Mortem ao Posto de Capitão
Medalha de Campanha
Medalha de Sangue
Cruz de Combate de 1ª Classe
“Os Bravos Camaradas do 6°RI”
Fonte de Consulta: Um Capitão de Infantaria da FEB - Biblioteca
do Exército Editora - Ruy Leal Campello - 1999
Gen Ruy Leal Campello, Presidente do Conselho Deliberativo da
ANVFEB – Associação Nacional dos Veteranos da FEB, faz um pronunciamento por ocasião do almoço em 16 jul 2008, comemorativo dos 45 anos
da fundação da ANVFEB.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Capítulo 6
Homenagens
Individuais e Nominata
a) Ex-Combatentes Brasileiros Judeus – 42 Veteranos
Abrahão Fainguelernt
Filho de Bella e Jacob, Abrahão nasceu no Paraná aos 23
set 1923.
Como tantos estudantes da tradicional Escola Polytechnica, Alma Mater da Engenharia Nacional, apresentou-se como
voluntário para cursar o CPOR/RJ, no quartel de São Cristóvão,
ao lado da Quinta da Boa Vista.
Sentou praça como Aluno do CPOR/RJ em 16 mar 1942,
tendo sido declarado Aspirante a Oficial da Reserva de Artilharia em 29 set 1943, em 12° Lugar na turma de 81 alunos, com
média 7,329.
Aos 06 jan 1944 foi reincluido ao serviço ativo do Exército, para fins de Estágio de Instrução no 3° Grupo de Artilharia
de Costa e Forte Copacabana.
Terminado o Estágio no Forte Copacabana, por Decreto
de 17 abr 1944 o Presidente da Republica o promoveu ao posto de 2° Tenente.
Abrahão foi convocado para o Serviço Ativo e mandado
realizar o Curso de Especialização em Artilharia de Costa para
Oficiais da Reserva na EsACos, Fortaleza de São João, tendo
sido diplomado em 03 ago 1944 com média 9,7 em 2° Lugar
numa turma de 25 alunos. Na sua Folha de Alterações o Comandante da Escola o conceitua como Oficial calmo, pontual,
inteligente, um dos melhores da turma, podendo ser aproveitado para Instrutor, revelando na parte prática boa aptidão para
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
os comandos de seu posto e superiores.
Em 07 ago 1944 Abrahão foi incluído no 1° Grupo de
Artilharia de Costa e Fortaleza de Santa Cruz, em Jurujuba –
Niterói, onde foi Oficial Subalterno da 1ª Bateria.
O Comandante, Tenente Coronel Henrique Sadok de Sá
o elogiou pela sua conduta e colaboração ao Grupo no curto
período em que serviu, mostrando primar por excelente educação civil e militar.
Aos 14 dez 1944 foi transferido por necessidade do serviço para a 1ª Baterial Móvel de Artilharia de Costa, na Vila
do Mosqueiro, Estado do Pará, onde desempenhou as funções
de Comandante das 1ª e 2ª Seções, Oficial de Tiro e Transmissões, Encarregado da Escola Regimental, Encarregado dos
Paióis e Oficial de Educação Física.
O Comandante da Bateria o elogiou em Boletim como “
... Oficial de escol, disciplinado, estudioso e inteligente, bastante competente em qualquer assunto, principalmente na
parte referente a eletrotécnica, deixando uma lacuna difícil
de ser preenchida. Lamentando o seu afastamento, formulo
os melhores votos de felicidades ao Ten Abrahão para que
na vida civil, e na nobre profissão que abraçou, cujos estudos interompeu para prestar seu concurso a defesa da Pátria
durante os dias negros da maior conflagração mundial, continue empregando os maiores esforços para ver brilhantemente coroado seu ideal.
No Pará, serviu até ser licenciado do Serviço Ativo aos 04
jan 1946, tendo participado efetivamente de operações bélicas
durante o conflito mundial, cumprindo missões de Vigilância e
Segurança do Litoral com a sua Bateria no período de 03 nov
1944 a 08 mai 1945, o Dia da Vitória Aliada na Europa.
Seu tempo total de serviço militar foi de 03 anos, 06 meses e 13 dias, o que lhe deu o direito a pensão especial concedida em 18 out 96, nos termos do Art 53, inc. II do ADCT
(Constituição Federal de 1988) e Lei 8059/90.
Retornando a vida civil, Abrahão retomou os estudos na
Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, onde
recebeu o Prêmio ENG ADOLPHO MURTINHO, do CONFEA
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
65
– Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, como melhor
aluno em 1947 das cadeiras de Eletrotécnica Geral, Medidas
Elétricas e Magnéticas, Estações Geradoras, Transmissão de
Energia Elétrica e Aplicações Industrias da Eletricidade.
Distinto Oficial da Reserva de Artilharia, que honrou as
tradições da Arma de Mallet na Defesa da Costa brasileira contra uma possível invasão nazista, deixou-nos aos 06 dez 2000,
deixando a viúva, Sra Miriam Fainguelernt.
Adio Novak
Adio Novak nasceu em 12 ago 1920 no Rio de Janeiro,
filho de Motta e Vera Novak, tendo sido 3º Sgt da FEB, e transferido para a reserva no posto de Capitão R/1 de Infantaria. Foi
condecorado com as Medalhas de Guerra e de Campanha.
Era filho de Motta e Vera Novak. Frequentava a Sinagoga
Beith Yacov de Copacabana na Rua Capelao Alvares da Silva.
Seu filho Markus Novak e esposa Ana Lúcia Novak tomaram a si a honrosa tarefa de preservar a memória deste dedicado ex-combatente, pela organização de um minucioso arquivo,
que inclui fotos, DVDs das suas apresentações no Rockefeller
Center, recortes de jornais, quadros com medalhas, enfim uma
pleiade de valiosos documentos que ficam assim para a posteridade, alguns inclusive doados em vida por ADIO para o
Museu da FEB na Rua das Marrecas, a casa da FEB que Adio
tanto prestigiava tendo sido um dos primeiros sócios.
Adio embarcou para a Itália em 22 set 1944, integrando a
tropa do QG do Gen Olympio Falconiere da Cunha.
Na Itália foi incorporado ao QG / I DIE. Foi ao Front para
combate na Itália, mas dadas as suas habilidade de fama internacional, foi requisitado para desempenhar atividades especiais tais como servir de Intérprete oficial entre os exércitos
americano e brasileiro e atuar no Serviço Especial da FEB para
entretenimento dos soldados brasileiros.
Formou o primeiro time de futebol da FEB que teve como
participantes os jogadores Perácio, Jeninho e o goleiro Gilmar
que se tornaram não só campeões do seu próprio time, mas
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
também foram importantes jogadores do Botafogo.
Convidado a fazer parte do Serviço Especial da FEB para
entretenimento dos soldados, o fato de ter vivido no exterior
e a fluência em inglês e outras línguas o credenciaram a servir
de intérprete oficial entre oficiais dos exércitos americano e
brasileiro.
Os judeus tem grande tradição nas artes, no teatro, na
música, mas no que concerne a outras especialidades, como
as que Adio praticava, a história já registra menor participação
relativa.
Na área dos grandes circos, houve importantes nomes
judeus, principalmente na Europa Central, como inigualável
Harry Houdini.
Malabarista, contorcionista e mágico, conhecido como o
rei das escapadas, na verdade era o judeu hungaro Erik Welaz,
que deveria ter sido rabino, assim como seu pai, que morreu
pouco depois de emigrarem para Nova Iorque.
Nascido em 1874 em Budapeste – Hungria, com 9 anos já
montava e desmontava que tipo de fechadura, indo trabalhar num
circo. Abria algemas, escapava de baús trancados no fundo do Rio
Hudson e de jaulas, e se libertava de camisas de força pendurado
nos arranha-céus de NYC. Morreu em 1926. Sua habilidade para
escapar era enorme, graças as fechaduras da infância.
Adio Novak foi o nosso Houdini, e recebeu como prêmio
pela sua participação ativa e importante no Exército Brasileiro
uma viagem à Europa.
Em suas alterações militares oficiais consta um elogio do
comandante da FEB, General Mascarenhas de Morais pela sua
participação especial na Campanha da Itália, documento hoje
incorporado ao acervo do Museu da FEB.
O Cap Adio retornou ao Brasil em 28/jul/1945. Foi dos
primeiros sócios da ANVFEB, sob nº 813, e identidade militar
1G 258.731. Morava na Rua Raul Pompéia em Copacabana.
Este bravo soldado brasileiro faleceu em 7 de junho de 1988,
e sua memória ficará eternizada como uma das glórias da comunidade judaica brasileira na sua contribuição a derrota do nazismo e restabelecimento das liberdades na Europa e no Mundo.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Alberto Chahon
Alberto Chahon, nascido em 12 dez 1919 no Rio de Janeiro, sentou praça como Cadete da Escola Militar do Realengo
aos 28 abr 1938, sendo declarado Aspirante a Oficial da Arma
de Infantaria aos 3 dez 1940.
Em sua rica e extensa carreira militar ao longo de 39 anos,
serviu em diversificadas Organizações Militares, como 14°
Batalhão de Caçadores em Florianópolis, 2° Regimento de
Infantaria, Rio de Janeiro, 1° Regimento de Infantaria, Regimento Sampaio, da Vila Militar no Rio de Janeiro, quando
participou da Campanha da Itália, tendo embarcado em 22
set 1944 no posto de 1° Tenente, ao qual fora promovido aos
15 abr 1943.
Na guerra era comandante do Pelotão de Transmissões
do Regimento Sampaio, encarregado das comunicações do
comando com as subunidades no front, o que o levou a exporse inúmera vezes ao perigo nas primeiras linhas de combate,
para garantir a chegada das ordens a tempo e a hora, as vezes
sob a inclemência de tempestades de chuva e neve e sob fogo
inimigo. Participou de ações importantes empreendidas pelo
Regimento, como as batalhas de Monte Castelo.
Foi a guerra junto com o irmão Moyses, do mesmo Regimento, fato que foi noticiado na imprensa da época.
Por sua atuação foi agraciado pelo Presidente da República com a Cruz de Combate de 2ª Classe, concedida aqueles
que demonstraram heroísmo em combate em ações coletivas.
Retornou da guerra em 22 ago 1945. Após a promoção
a Capitão aos 25 dez 1945 veio a ser matriculado na Escola
Técnica do Exército, atual IME, formando-se em Engenharia
Industrial de Armamento, sendo transferido para a Arma de
Comunicações do Quadro de Engenheiros Militares.
Serviu durante 6 anos no Arsenal de Guerra do Rio, e durante quase 5 anos como Diretor Técnico do Corpo de Bombeiros
do então Distrito Federal, de onde foi para o DEPT – Departamento de Estudos e Pesquisas Tecnológicas do Exército, de onde
saiu para tornar-se Diretor do Arsenal de Guerra de São Paulo.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Foi promovido a Coronel do Quadro de Material Bélico
aos 25 dez 1966, tendo passado para a Reserva em 08 abr
1974.
Foi agraciado com as seguintes Medalhas: Cruz de Combate de 2ª Classe, Medalha de Campanha, Cavaleiro da Ordem
do Merito Militar de 1ª Classe, Medalha Militar com Passador
de Ouro (30 anos), Medalha de Guerra, Pacificador, Mérito do
Engenheiro Militar, Marechal Mascarenhas de Moraes, Conquista de Monte Castelo, Centenário do CBDF.
Na vida civil foi Chefe da Assessoria de Planejamento e
Coordenação da ECT e Engenheiro da Itaipu Binacional. Faleceu aos 11 set 2001.
Bernardo Stifelman
Nascido aos 20 mar 1914, Bernardo era natural da Colonia Philipson, em Santa Maria da Boca do Monte, Rio Grande
do Sul, filho de Guilherme Stifelman e Rosa Goldenberg Stifelman. Seria interessante recordar um pouco da incrivel história de como judeus foram parar no interior do Rio Grande,
transformando-se em autênticos gauchos…
O anti-semitismo grassava na Rússia Czarista e na Polônia,
ela mesma durante anos subjugada pelos russos.
Entre os que também tentaram amenizar o sofrimento de
seus irmãos, destacou-se o Barão Maurice de Hirsch. Descendente de uma antiga família de banqueiros e industriais da Baviera, destacou-se como financista em Bruxelas, e fez fortuna
construindo ferrovias para o então poderoso Império Otomano.
Nas suas andanças pelas obras, viu como seu povo sofria,
castigado pelo isolamento e pela miséria que lhes impunham
as autoridades religiosas. Era igual ou pior que na Polônia e
Rússia. D_eus, em sua infinita sabedoria, submetia Seu povo
a provações, enquanto dele saiam nomes como Jesus Cristo,
Moises, Freud, Einstein, Marx, e por que não, Steven Spielberg
e Madonna...
As guerras russo-turcas pioraram a situação, e se de um lado
os maltratavam, de outro sadicamente não os deixavam sair. Era
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
69
caro vencer a burocracia e partir. Os judeus eram pobres, e Hirsch, junto com sua esposa Clara de Bischoffsheim tentou minorar
a calamidade criando centros educativos e de ajuda.
A perda do único filho determinou o lançamento de todas
as energias e fortuna do casal num dos esquemas filantrópicos
mais extraordinários da história. A Tzedaka, milenar palavra
hebráica que significa caridade, a que o judaísmo obriga seus
fieis, passou a ser o centro das suas vidas, ainda que estivessem
longe de serem religiosos, muito menos ortodoxos.
O barão fundou a Jewish Colonization Agency, que comprava terras no interior do Brasil, Argentina, Estados Unidos e
Canadá, e pagava as passagens dos judeus que quisessem sair
da Europa sofrida e se transformarem em agricultores naquelas terras abençoadas, carentes de povoação e mão-de-obra,
onde prosperariam e conservariam sua ricas tradições, como
relatado amplamente em Los Gaúchos Judios, Gerchunoff, e El
Moises de Las Américas, Dominique Frischer, Ateneo.
Os Stifelman poderiam ter escolhido Moiseville no Pampa
argentino, Erechim ou Quatro irmãos, onde ate hoje existem
judeus descendentes daqueles trazidos pelo barão. Mas por
alguma razão preferiram Santa Maria, passando a desfrutar da
vida rural com que sonharam na Rússia.
Maurice e Clara continuaram salvando seus irmãos, criavam escolas, serviços públicos, entidades assistenciais.
Mas, ao contrario das ferrovias, o barão nunca visitou as
terras que comprou. E sem a sua presença, problemas diversos acabaram arquivando os sonhos grandiosos de instalar milhões de judeus. Ainda assim, milhares foram trazidos, e sua
descendência hoje se multiplicou. O grande publico nem sonha quem são eles. Muitos se surpreenderiam em saber quanta
gente importante descende daqueles que um dia perambularam de pés descalços, com seus pais e avos, pelo solo poeirento dos Pampas, gaúchos ou argentinos
... Ministros, médicos, generais, advogados, escritores, e
ate revolucionários,
Em sua luta, o barão se tornou amigo do Príncipe de Gales, que viria a ser Eduardo VII, passando longos períodos em
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Londres. Cosmopolita, com passaporte austríaco (a família viveu por gerações na Baviera), morava em enorme complexo
de mansões em Paris, sua primeira base de operações foi Bruxelas, e fez fortuna na Turquia.
Em 1955, a JCA se transformou na ICA - Israel Colonization
Agency, que ate hoje perpétua a memória do barão, ajudando
kibutzim, instituições agronômicas e concedendo bolsas para
estudo e pesquisa agropecuários.
Como tantos de seus correligionários, o jovem Bernardo
deixou o interior, atraido pela cidade grande, onde foi ser auxiliar de escritorio na Cooperativa dos Funcionários da Viação
Férrea do Rio Grande do Sul, nas horas vagas frequentando o
Circulo Social Isralelita em Porto Alegre.
Gostava de aviões, que observava aterrisando e decolando no então longinquo aeroporto, depois Salgado Filho. Dai
para alistar-se na Aeronautica foi um passo.
Mandado servir na Base Aérea de Recife, foi Sargento e
Sub Oficial, Fotógrafo de Voo, Metralhador e Bombardeador.
Eram tempos difíceis, a Alemanha já dominava meia Europa, Polônia, França, estendia seus tentáculos malignos para
a Africa, e os submarinos ameaçavam a navegação atacando
nossos navios em plena costa brasileira.
Bernardo passava longas horas a bordo de aeronaves patrulhando o Atlântico. Mas felizmente a ameaça nazista ao
Brasil se desvaneceu, assim como os sonhos malévolos do III
Reich de dominar a América Latina, em seus pretensos mil
anos que foram apenas 12.
Assim, em razão de sus dedicada atuação, o 1° Sargento Q-FT Bernardo foi condecorado com a Medalha Militar da
Campanha do Atlântico Sul, pelo Ministro da Aeronáutica, e
promovido a Sub-Oficial, em 07 dez 1945, pelo Ministro da
Aeronautica Armando Trompowski.
Em 23 jul 1953 o Presidente da República decretou a sua
passagem para a Reserva, no posto de 1° Tenente, por ter realizado missõe de patrulhamento no Atlantio Sul, garantindo a
livre navegacao dos comboios ao longo da costa barsileira.
Na vida civil Bernardo dedicou-se ao plantio de café e
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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depois ao comércio, residindo hoje em Lauro de Freitas, município próximo a Salvador, Bahia, onde nas tardes calmas costuma observer o mar azul e o céu a sua frente, recordando os
tempos da juventude em que observava os antigos aviões em
Porto Alegre, e as missões que cumpriu ali mesmo sobrevoando aquele mesmo mar hoje a sua frente.
Boris Markenzon
Nascido no Rio de Janeiro em 28/05/1915, era filho de
Adolfo Markenson e Anna Markenson, imigrantes russos que
se fixaram no Rio de Janeiro. Tinha um irmão, Samuel, médico
e professor.
Boris cursou o Colégio Militar na Rua São Francisco Xavier na Tijuca, e a Escola Naval, na Ilha de Villegaignon, Rio
de Janeiro, onde foi praça de Aspirante de 26 abr 1934, sendo
declarado Guarda-Marinha do Corpo da Armada na Turma de
23 dez 1938.
Como jovem Tenente esteve embarcado até o final da
Guerra, participando de operações de escolta a comboios de
navios mercantes. Sonbre aquela época, seus filhos Ricardo e
Roberto não recordam a presenca do pai em casa, apenas as
chegadas e partidas, e a apreensão da mãe, Da. Amália.
Os filhos tambem cursaram a Escola Naval, tornando-se
Oficiais de Marinha.
Havia o risco da presença de submarinos alemães, responsáveis por dezenas de torpedeamentos de navios mercantes
nacionais. Em um destes navios, o Anibal Benévolo, estava o
cunhado de Boris, Mauricio Pinkusfeld, irmão caçula da esposa, lamentavelmente desaparecido no mar no afundamento.
Foi promovido a Capitão Tenente aos 10 dez 1951, sendo
nomeado Capitão dos Portos da Paraíba, e promovido a Capitão de Corveta aos 17 mar 1952.
Em 1957 serviu na Força de Transporte da Marinha, a bordo do Navio Transporte Ary Parreiras.
Realizou o Curso de Submarinos e de Comando da Escola
de Guerra Naval.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Em 1958 foi Imediato do Navio Transporte de Tropas Barroso Pereira, que transportou o Batalhão Suez para a região
de Gaza, onde atuou como Força de Paz da ONU no período
1957-1967.
Em 1959 tirou o CEMCFA – Curso de Estado Maior e Comando das Forças Amadas, na ESG – Escola Superior de Guerra.
Em 1960 era Chefe da 4ª Seção do EMFA – Estado Maior
da Forças Armadas, no Palácio Monroe, na Cinelândia, Rio.
Em 1961 comandou o contra-torpedeiro Greenhalg.
Em 1964 foi Capitão dos Portos do Pará e Amapá, e Delegado do Trabalho Marítimo. Por diversas vezes exerceu interinamente o comando do 4° Distrito Naval.
Recebeu a Medalha de Serviços de Guerra, Medalha da
Força Naval do Nordeste, Mérito Tamandaré, Medalha Militar
em Ouro – 30 anos de Bons Serviços, Ordem Nacional do
Mérito da República do Paraguay.
No posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra, passou para a Reserva em 16 out 1964, e por ter servido em Zona de Guerra
e com mais de 35 anos de serviço, elevado na inatividade ao
posto de Vice-Almirante.
Falecido em 07/08/1988.
Boris Schnaiderman
A FEB era um verdadeiro microcosmo da Sociedade Brasileira, com homens de diversos estados do Brasil, tanto é que
até hoje existem associações de ex-combatentes em mais de
vinte cidades brasileiras.
Havia nordestinos, sulistas, nortistas, pretos, brancos, enfim, era o Brasil que ali estava. Consequentemente, o grau de
instrução dos pracinhas variava bastante, encontrando-se nas
fileiras desde aqueles pouco afeitos as letras até artistas e intelectuais de elevada expressão, alguns dos quais integrantes da
Nominata deste volume, como Boris Schnaiderman.
Jornalista e Escritor consagrado, gentilmente nos enviou
suas informações, que reproduzimos ao final. Ficou conhecido
como tradutor, ensaísta e maior autoridade em literatura russa
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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no Brasil, ele que nasceu na Rússia justamente em 1917, ano
da Revolução de Outubro. Desde os anos 40 traduziu diretamente do russo grandes autores como Dostoievski, Tchekov,
Tolstoi e Gorki, entre outros.
Autor de Guerra em Surdina, livro autobiográfico e semificcional que relata sua experiência como Pracinha da FEB,
onde serviu no 2° Grupo do 1° Regimento de Obuses Auto
Rebocado, tendo embarcado aos 02 jul 1944 e retornado aos
18 jul 1945. Boris era 3° Sargento e foi destacado para a Central de Tiro como controlador vertical, pelos seus conhecimentos matemáticos de engenheiro, formado pela Escola Nacional
de Agronomia na então Universidade Rural do km 47 da antiga Rio-São Paulo em Seropédica, Estado do Rio.
Boris não pôde fazer o CPOR, privativo de brasileiros natos, mas como engenheiro agrônomo deveria se naturalizar e
prestar o Serviço Militar, para poder exercer a profissão. Era a
norma do Estado Novo.
Em 1960 foi o primeiro professor do Curso de Língua e
Literatura Russa da USP.
Atualmente reside em Higienópolis, uma cidade de São
Paulo.
Informações sobre Boris Schnaiderman
(Chnaiderman, nos registros oficiais)
Nasci em Úman, Ucrânia, em 1917, mas fui levado para
Odessa quando tinha cerca de um ano. Tive formação russa.
A família emigrou para o Brasil em fins de 1925. Residimos uns seis meses no Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo,
onde cursei o primário e o secundário.
Meu pai estabeleceu-se no Rio de Janeiro em 1934, quando o ajudei numa lojinha de perfumes. Ingressei em 1937 na
Escola Nacional de Agronomia, pela qual me diplomei como
engenheiro-agrônomo.
Devido à legislação do Estado Novo, só poderia registrar
meu diploma depois de me naturalizar e obter o certificado
de reservista. Minha naturalização saiu em 1941, e em 1942
cumpri o serviço militar no Segundo Grupo do 1º Regimento
de Obuses Auto-Rebocado (nome dado à unidade, depois que
74
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
foi incorporada à FEB), onde fiz curso de sargento.
De posse da documentação exigida, tornei-me funcionário do Ministério da Agricultura, lotado no Instituto de Ecologia Agrícola, na Baixada Fluminense.
Convocado nas vésperas do embarque do Primeiro Escalão da FEB para a Itália, fui designado para a função de calculador de tiro, na qual permaneci no decorrer da campanha. De
regresso ao Rio de Janeiro, reassumi o meu cargo no Ministério
da Agricultura, do qual me demiti pouco depois.
Tendo residido ora no Rio ora em São Paulo, reingressei
em 1948 na carreira de agrônomo do Ministério da Agricultura, sendo designado para a Escola Agrotécnica de Barbacena
(Minas Gerais), onde permaneci até 1953, quando me demiti
novamente, passando a residir em São Paulo.
Trabalhei como redator de uma enciclopédia e, em 1960,
tornei-me professor da Universidade de São Paulo, onde fundei o Curso de Russo. Paralelamente, fui tradutor de obras literárias russas (atividade a que me dediquei durante muitos
anos, pois minha primeira tradução de livro saiu em 1944).
Publiquei também artigos e livros de literatura, que incluem
Guerra em Surdina (ficção-documento sobre os brasileiros na
guerra) e algumas coletâneas de ensaios.
Aposentado da USP em 1979, continuo minhas atividades
literárias até hoje.
Sou casado com Jerusa Pires Ferreira e tenho dois filhos
de minha primeira esposa, Regina Schenkman Schnaiderman,
já falecida.
B.S.
Carleto Bemerguy
Não foi possível fazer contacto ou identificar familiares ou
pessoas que pudessem falar sobre Carleto Bemerguy. As pesquisas também não revelaram maiores detalhes. Entretanto, outros
membros da Comunidade Judaica o identificaram como tal, informando ter ido a guerra, ignorando seu paradeiro atual.
Os registros da Associação Nacional de Veteranos da FEB
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
75
dele dizem ter dido Soldado, tendo embarcado aos 08 fev 1945
integrando o CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal e
retornado em 22 ago 1945 no 1° Regimento de Infantaria, Regimento Sampaio.
Isto significa que após algum tempo na retaguarda recebendo instrução foi mandado a linha de frente para suprir uma
baixa, incorporando-se ao 1° RI.
Carlos Scliar
Carlos Scliar nasceu em Santa Maria da Boca do Monte
aos 21 jun 1920. Foi um dos grandes mestres brasileiros da
gravura e da pintura.
Embarcou para a Itália aos 22 set 1944, integrando o 1°
Grupo do 1° Regimento de Obuses Auto Rebocados, retornando em 28 jul 1945 com a Tropa do QG.
Mais adiante reproduzimos trechos de uma entrevista ao
VERDE OLIVA, onde o artista fez reminiscências sobre o seu
período na FEB.
Em 1950, após voltar da Europa, Scliar recebeu convites
para a realização de murais, sobre o levante do Gueto de Varsóvia (SP), teve projetos aprovados por Oscar Niemeyer, para
Brasília e ainda para os Estados Unidos, através do Itamaraty.
Em 1966, Carlos Scliar realiza o mural para o Banco Aliança, em edifício projetado por Lúcio Costa, em 1973 para a
Manchete, onde surgiria o primeiro grande painel sobre Ouro
Preto.
Carlos Scliar realizou inúmeras mostras individuais de
pintura, desenho e gravura, trabalhos criados em seus ateliês
de cabo Frio e Ouro Preto.
Também integrou centenas de coletivas no Brasil e exterior. Suas obras estão em Museus e coleções nacionais e estrangeiras.
Sobre Scliar, escreveu o mestre Oscar Niemeyer:
“Um dia, em Paris, André Malraux me falou do seu “museu imaginário” e comentou: “Cada um de nós tem o seu museu. Coisas que leu e viu emocionado, guardando-as cuidado76
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
samente no seu subconsciente”.
No meu pequeno museu, guardo com especial carinho a
obra de Scliar.
Obra feita de amor e beleza; de coerência e personalidade. E quando dela me lembro, nela adiciono, sem querer,
sua figura generosa, entregue à sua pintura, é claro, mas sem
esquecer o mundo em que vive, com suas misérias revoltantes. E, como também não me alheio de tais problemas, esse
aspecto humano do nosso amigo assume para mim um peso
maior. Não é apenas um grande artista, mas um homem que
preza a vida e seus semelhantes, pronto a com eles dividir e
participar.”
(Oscar Niemeyer, texto para exposição “Scliar: Obras Recentes”, Galeria AM Niemeyer, março de 1981).
Em entrevista para Verde-Oliva, Setembro/Outubro 1997
- Ano XXV Nº 157 Scliar menciona que mudou sua percepção
da vida após integrar a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na
2ª Guerra:
“Nasci em Santa Maria (RS) em 1920. Por acaso, meu pai
passou por lá a caminho de Porto Alegre. Ele trabalhava em
Buenos Aires. Em Santa Maria, encontrou uma organização
especialista em roupas e lá conheceu minha mãe, uma operária.
Hoje sou “Honoris Causa” na Universidade. Acho curiosa
a minha cidade. Tenho muito orgulho em dizer que sou de
Santa Maria da Boca do Monte, pois fui levado para Porto
Alegre e só voltei em 1950.
A FEB foi decisiva para a pessoa e para o artista. Como
artista, era muito menor.
É a miscigenação, que tem uma formação peculia-ríssima.
O índio, o ibérico, o negro, cada um deles trouxe a sua contribuição. Isso nada mais é do que a origem do Exército em
Guararapes.
Essa experiência toda que tenho acumulada me faz dizer
que o problema social era muito importante e a FEB foi uma
ruptura nesse sentido. Foi uma experiência densa e marcante
porque eu tinha a sensação de que todo dia seria o último lá
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
77
na FEB.
A guerra é isso.
“Sinto que foram esses desenhos, quase um mil, não
sei exatamente quantos, tantos rasguei, quase tantos quantos
guardei...”
Fui do Grupo Levi Cardoso – I Grupo – I/1º RO/AuR, atuando na central de tiro na função de controlador horizontal.
Na primeira vez em que se organizou a Unidade de Artilharia, sediada em São Cristóvão, o Cel Levi Cardoso me
consultou se aceitaria fazer um curso. Aceitei, fui aprovado
e promovido a cabo. Na Itália, com a experiência de artista
gráfico, fui trabalhar no serviço especial para a imprensa, na
confecção do “Cruzeiro do Sul”.
Eu, que até então pintava só o lado social em torno de
mim, achei que tinha de mostrar que a vida poderia ser bela.
Nós tínhamos de lutar para que o mundo fosse melhor do que
era. Tinha de mostrar que o mundo dependeria da gente. A
guerra me ensinara isso. A guerra me deu a sensação de quanto a vida é uma coisa precária. A guerra a gente controla até
um certo ponto.
A FEB, no meu ponto de vista, significa para o Brasil realmente a consciência de que o Estado Novo, nascido da influência do fascismo, não tinha mais razão de ser e que a vontade do povo, daqueles que fazem a grandeza do País, tem de
ser respeitada.
Para nós, o nazismo, com seus campos de concentração, onde milhões de pessoas foram exterminadas por razões
ideológicas, raciais e religiosas, foi uma monstruosidade que
não cabe em lugar nenhum. Eu tive com os nossos soldados e
superiores uma relação respeitosa, atenciosa, de tal maneira
condizente com as expectativas.
Aprendi, mas aprendi na pele porque, para mim, a guerra
foi uma lição de que cada dia poderia ser o último e, por isso,
era essencial vivê-lo. Hoje, vejo um mundo como algo que
precisa ser reformulado e depende de nós.
A experiência da FEB, para mim, foi tremendamente rica.
Acho que todos os que passaram pela experiência da FEB devem
78
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
ter aprendido ensina-mentos decisivos para a vida pessoal.
Primo de Carlos, o médico e escritor Moacyr Scliar enviou um texto que foi lido em 1º de maio de 2005 no Grande
Templo Israelita, no Rio de Janeiro, durante a homenagem aos
Heróis Brasileiros Judeus da Segunda Guerra Mundial, e que
aqui segue:
“Ser primo do Carlos Scliar era para mim motivo de orgulho. Aliás não só para mim, para toda a família. Que não
era pequena. Nove filhos a minha avó Ana trouxera da Rússia
e todos eles também tiveram um número razoável de filhos.
Resultado: uma grande tribo de gente voltada sobretudo para a
cultura: vários músicos, um fotógrafo e cineasta, vários profissionais liberais... Mas em Carlos eu via um modelo, sobretudo
por causa da coerência e da dignidade com que sempre se
dedicou à sua arte.
Mais que isto, desde cedo revelou-se um militante que
acreditava em um mundo melhor, sonho que partilhava com
numerosas pessoas, entre elas Jorge Amado e Zelia Gattai.
Foram os primeiros escritores que conheci, e isto graças ao
Carlos, que lhes servia de anfitrião cada vez que vinham a
Porto Alegre.
Eu admirava o talento de Carlos. Um talento que ele,
generosamente, tratou de me transmitir. Um dia, eu ainda
garoto, resolveu me ensinar a desenhar. Deu-me um lápis,
uma folha de papel, e pediu que eu o retratasse. Desenhei
um círculo com vários pontinhos dentro. Ele olhou aquilo,
meio espantado, e perguntou o que era o círculo. A tua cara,
respondi. E esses pontinhos, ele indagou. A barba, foi minha
resposta. Ele não disse nada, mas não voltou ao assunto. Em
compensação, quando comecei a escrever minhas primeiras
historinhas, era a ele que mostrava. Lia, anotava, dava sugestões. E indicava-me autores para ler; foi graças a ele que descobri Clarice Lispector. Até hoje lembro Carlos lendo em voz
alta o belíssimo conto “Uma galinha”, que tinha publicado
na revista Senhor.
Antes disso, porém, ele foi para a guerra. De novo, aquilo
me encheu de orgulho. Mas seus pais sofriam muito. Pior ainSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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da, a mãe, Cecília, faleceu quando ele estava na Itália. Meu tio
Henrique, desnorteado, não sabia como dar a notícia ao filho,
numa época em que as comunicações eram precárias. Entrou
em contato com Rubem Braga, que era então correspondente
de guerra junto aos pracinhas e pediu que o fizesse. Numa crônica notável, Braga conta que procurou Carlos e encontrou-o
felicíssimo: era sua primeira folga no fronte e ele ia aproveitar
para visitar Florença. Braga adiou a revelação: “Não se pode
estragar a primeira visita de um jovem artista a Florença.”
No fronte e na vida Carlos Scliar foi um lutador admirável
e humano. Faz falta. Faz muita falta.”
Junto ao Canal de Itajuru, em Cabo Frio no Rio de Janeiro
está instalado um extenso repositório de sua obra, o Instituto
Cultural Carlos Scliar, que dispõe de um acervo de 150 obras
do próprio Carlos e de outros renomados artistas e que foram
doados pelo pintor para a instituição, juntamente com a belíssima casa, um sobrado do final do sec. XVIII adquirido em
ruínas em 1960, dos herdeiros do Marechal Candido Rondon,
onde o artista residiu por 40 anos.
Scliar faleceu em 28 de abril de 2001 no Rio de Janeiro,
onde foi cremado, e as cinzas, atendendo a seu pedido, lançadas no mar de Cabo Frio.
David Lavinski
Em 1944, David estava acantonado no Forte de Campinho, subúrbio do Rio de Janeiro, com o seu Grupo de Artilharia. Embarcou em 22 de setembro com o 2º e 3º dos 5 escalões
da FEB, integrando o Grupamento General Cordeiro de Farias,
Comandante da Artilharia Divisionária da FEB. Era véspera de
Yom Kippur. A bordo do navio da Marinha Americana, U.S.S.
General W. A. Meenor, de transporte de tropas, o gaúcho de 4
Irmãos David Lavinsky ouviu pelo fonoclama um Rabino Capelão Naval americano convocando os judeus que estivessem
a bordo para o Kol Nidrei.
Compareceram trinta militares da fé mosaica, entre brasileiros e americanos. A cerimônia teve de ser interrompida pela
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
ameaça de ataque de submarinos nazistas e o navio começou
a navegar em zigue-zague, o que provocou enjôo em muitos
expedicionários, inclusive David, que se julga um homem valente, tendo sido a única ocasião em toda a sua vida que sentiu
medo, muito medo.
David era cabo, servindo no I Grupo do 2º Regimento de
Obuses Autorebocado (I/2º ROAuR). Pertence a uma família
de agricultores judeus que até hoje se dedica ao plantio de
soja e trigo no Rio Grande do Sul. Nasceu na antiga Erechim,
hoje município de Getulio Vargas, aos 5 de março de 1920,
filho de Gregório e Sara.
Como outros Veteranos judeus, David descende de imigrantes que vieram da Rússia no projeto financiado pelo Barão
Maurice de Hirsch, que fundou a Jewish Colonization Agency,
que comprava terras no interior do Brasil, Argentina, Estados
Unidos e Canadá, e pagava as passagens dos judeus que quisessem sair da Europa sofrida e se transformarem em agricultores
naquelas terras abençoadas, carentes de povoação e mão-deobra, onde prosperariam e conservariam sua ricas tradições.
David Lavinsky, gaúcho de Quatro Irmãos reside atualmente em Belo Horizonte.
Havia acabado de prestar o serviço militar e dado baixa
como cabo telegrafista e motorista quando o Brasil declarou
guerra aos países do Eixo. Era reservista de 1ª categoria quando, aos 14 de fevereiro de 1944 foi incorporado como voluntário ao estado efetivo do grupo, sendo promovido a Cabo
Metralhador.
Alistou-se como voluntário e aceitou a função de soldado
“para evitar a extinção do povo judeu”, segundo suas próprias
palavras. Até o dia em que, já embarcado no navio norte-americano que transportava o contingente militar brasileiro para a
Itália, foi chamado pelo alto-falante para a cerimônia do Iom Kipur, não conhecia outro judeu que tivesse participado da FEB.
A tripulação era toda norte-americana e como houvesse
muitos judeus a bordo, havia um rabino-capelão, que oficiou
parte da celebração, que teve de ser interrompida pelas manobras que o navio precisou fazer para fugir dos torpedos dispaSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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rados pelos submarinos alemães.
Já no front, Lavinsky participou de toda a campanha da
Itália dirigindo caminhões que transportavam munição para as
unidades de artilharia. Trata-se do Grupo Bandeirante, antigo I
Grupo do II Regimento de Obuses 105mm de Quitauna, hoje
transformado no 21 Grupo de Artilharia de Campanha Leve
de Barueri, a unidade que até hoje comemora a última missão
de tiro na Itália, a 01:45 da madrugada do dia 29 de abril de
1945, coincidindo com a rendição da 148 DI alemã.
David foi elogiado pelo Capitão Comandante da 2ª Bateria, Walmicki Ericsson, nos seguintes termos: “Agradeço e
louvo o Cabo David Lavinski pela eficiência e cooperação na
marcha e ocupação de posição na noite de 13 para 14 de novembro de 1944.”
A 15 de junho de 1945, recebeu mais um elogio individual do Cmt Bia: “O Cabo David Lavinski, metralhador durante
toda a Campanha da Europa, mostrou ser um subordinado disciplinado, zeloso com o material que lhe foi distribuído, sempre pronto para atender as ordens e de eficiente manejo da sua
metralhadora. Apesar dos rigores do inverno, sempre esteve
alerta de sentinela. É um cabo cioso de suas funções dotado de
espírito militar e sobretudo de boa educação.
A 20 de junho foi novamente elogiado individualmente
pelo Cmt Bia nos seguintes termos: “O Cabo 456 David Lavinski, metralhador, pela atuação que teve no desempenho
das suas funções na ofensiva da primavera que começou com
o ataque ao triangulo Montese - Montelo – Monte de Bufani, e
culminou com o ataque as rotas do inimigo na Itália. Sempre
que necessário estava a postos, conservando em bom funcionamento as metralhadoras que lhe foram confiadas, disciplinado, honesto, trabalhador e tem perfeita consciência do cumprimento do dever.”
A 5 de julho, o Exmo. Sr Major General U. S. Army Willis
D. Crittenberg conferiu-lhe o título de MEMBRO HONORÁRIO do IV U. S. Army Corps.
Aos 15 de agosto, já no Brasil, foi licenciado do serviço
ativo do Exército, indo residir na Estação de Erebango – RS.
82
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Por ter participado das operações de guerra na Itália, David foi condecorado pelo Presidente da República com a Medalha de Campanha pelos relevantes serviços prestados ao esforço de guerra, em diploma assinado pelo Ministro da Guerra,
General Pedro Aurélio de Góis Monteiro.
DAVID LEON RODIN (*)
David Leon Rodin nasceu aos 05/10/1912 no Rio de Janeiro, filho de Isaak e Elisa Rodin.
Seus pais eram da Rússia, o pai de Odessa e a mãe de
Dubessá na Bessarabia. Quando jovens, no início do século
XX, emigraram para a Argentina onde se conheceram e se casaram.
Viveram alguns anos na Argentina e depois vieram para a
cidade de Santos, no Brasil, onde montaram um pequeno hotel. Mais tarde se mudaram para o Rio de Janeiro e se estabeleceram na Praça Onze, onde Isaak montou uma loja de antiguidades, próxima à Rua de Santana, e Elisa, exímia cozinheira,
uma pensão. Lá, tantos judeus como não judeus se deliciavam
com sua culinária tipicamente judaica.
Foi em um sobrado na Rua Benedito Hipólito 65, na Praça
Onze, bairro em que naquela época se concentrava a maioria
da comunidade judaica do Rio de Janeiro, que David Leon
Rodin nasceu e passou grande parte de sua vida.
Desde cedo, manifestou aos pais seu sonho de viajar e
conhecer lugares distantes e remotos e lhes disse que queria
entrar para a Marinha, o que, então, não foi levado em conta
por julgarem ser um sonho efêmero. Diziam-lhe que ele seria
médico, engenheiro ou advogado, como seus colegas.
David cursou o primário na Escola Pública Clementino
da Silva, na Rua do Senado, próxima a sua residência. Prestou
concurso para o Colégio Pedro II, na antiga Rua Larga e atual
Av. Marechal Floriano, tendo passado em 1º lugar, e onde cursou o ginásio e o científico.
(*) A partir de texto original fornecido pelo seu filho, Eng°. Naval Mauro Rodin.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
83
Em busca da realização de seus sonhos, prestou concurso,
em 1927, para a Escola de Formação de Oficiais da Marinha
Mercante do Brasil, obtendo a 1ª colocação, onde formou-se
como Praticante de Piloto, em 13 de novembro de 1929, aos
17 anos.
Por ser filho único, David teve sérias rusgas com seu pai
que era radicalmente contrário a carreira que ele pretendia seguir e que o sujeitaria a ausências prolongadas e fora do convívio familiar. Mas quem tem sonhos e ideais deve persegui-los,
assim o fez David, vindo a tornar-se o primeiro Comandante
brasileiro judeu da Marinha Mercante Brasileira.
Por isto e por ser rígido e exigente com seus comandados, e consigo mesmo no cumprimento de suas obrigações,
era conhecido como o “Comandante Judeu”, o que muito o
orgulhava.
Em 1935, aos 23 anos, já embarcado como Piloto em navios do LLOYD BRASILEIRO, conheceu numa festividade judaica Cecilia Sintob, também da Praça Onze, que viria tornarse sua mulher.
Por ser da Marinha Mercante, ocorreu um fato pitoresco
neste relacionamento: David apaixonado por Cecilia, por diversas vezes tentou pedi-la em casamento aos seus pais, como
era o costume da época, mas o pai de Cecília, Isaac Sintob,
opunha-se terminantemente ao casamento pois achava que
ele, David, sendo da Marinha, deveria ter uma mulher em
cada porto.
David, desanimado, achando que ia perder a noiva, apelou para um amigo que era delegado de polícia, pedindo-lhe
que intimasse Isaac Sintob. Este muito assustado compareceu
à delegacia e, após saber do que se tratava, explicou ao delegado porque não queria o casamento. O delegado, muito
paciente, conversou com Isaac e explicou-lhe a sincera intenção de David. Depois de muita conversa e persuasão, Isaac
concordou com o casamento, que ocorreu com grande pompa
em 20/03/1937, na casa dos pais de David.
Por força das constantes e ininterruptas viagens, David
pouco participou da vida comunitária, porém fazia questão
84
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
que seus filhos tivessem uma tradicional educação judaica, comandada por Cecília, oriunda de família seguidora de preceitos judaicos ortodoxos. Quando aportava no Rio, freqüentava
a Sinagoga da Rua de Santana; em outras cidades, procurava
Sinagogas mais próximas do porto.
O primeiro embarque de David ocorreu em 29/11/1929
no navio “Barbacena” na categoria de Praticante de Piloto.
Cada categoria exigia um período mínimo de prática,
quando então David retornava aos estudos na Escola de Marinha Mercante para galgar nova categoria, e assim sucessivamente.
Desta forma, foram muitos os navios de embarque e as
funções desempenhadas por David, inclusive durante a 2ª
Guerra Mundial.
ANTES DA 2ª GUERRA
• Praticante de Piloto – navios “Barbacena” e “Alegrete”,
de 20/11/1929 a 09/02/1931;
• 2º Piloto – navios “Ayuroca”, “Rodrigues Alves”, “Parnaíba”, “Mantiqueira” e “Comandante Alcídio”, de 12/03/1932 a
17/02/1937;
• 1º Piloto – navios “Rodrigues Alves”, “Comandante
Capela”, “Annibal Benévolo” e “Aracajú”, de 19/03/1937 a
31/01/1941.
DURANTE A 2ª GUERRA
• Como Capitão de Cabotagem ou Imediato, fez parte do
comando dos navios “Murtinho” e “Pirineus”, no período de
01/02/1941 a 22/12/1945, realizando 65 viagens em “Zona de
Risco Agravado” para assegurar o abastecimento e o transporte
de materiais necessários à obtenção da vitória, sob a orientação das autoridades navais brasileiras, ao lado das Nações
Unidas.
Foi agraciado pelo Presidente da República com a “MEDALHA DE SERVIÇOS DE GUERRA COM 3 ESTRELAS”, outorgada pelo CONSELHO DO MÉRITO DE GUERRA DA MARINHA DO BRASIL, em 02/07/1948. Como reza o Diploma
assinado pelo Ministro da Marinha, Almirante Sylvio de Noronha, “pelos serviços prestados durante a II Guerra Mundial ao
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
85
lado das Nações Unidas contra os países do Eixo, a bordo de
navios mercantes nacionais ou estrangeiros, empregados em
assegurar o abastecimento e o transporte de materiais necessários a obtenção da Vitória, tornou-se merecedor da MEDALHA
NAVAL DE SERVIÇOS DE GUERRA, COM 3 ESTRELAS”.
APÓS A 2ª GUERRA
• Capitão de Cabotagem, no navio “Sabará”, de 02/01/1946
a 09/10/1946;
• Capitão de Longo Curso, nos navios “Comandante Capela”, “Sabará”, “D. Pedro II”, “Duque de Caxias”, “Joazeiro”,
“Rio Tocantins”, “Rio Guaiba”, “Carioca”, “Loide Equador”,
“Goiasloide”, “Ascanio Coelho”, “Comandante Ripper”, “Jangadeiro”, “Rodrigues Alves” e mais tantos outros navios de
09/10/1946 a 10/04/1967.
David era membro da ASSOCIAÇÃO DOS EX-COMBATENTES DO BRASIL, seção do então Distrito Federal, sob a
matrícula 12.720 e ident. 15.068.
Ainda como Capitão de Longo Curso, foi nomeado para
chefiar a representação do LLOYD BRASILEIRO na Holanda,
com a missão de fiscalizar a construção de 8 navios para aquela autarquia. Lá ficou durante 26 meses.
Foi também o responsável pela chefia da fiscalização da
construção de 6 navios na Polônia para o LLOYD BRASILEIRO, bem como de, no comando, trazê-los ao Brasil.
Foi professor da Escola de Marinha Mercante e incentivava
jovens brasileiros judeus seguir carreira na Marinha Mercante.
Enquanto navegava, como Capitão de Longo Curso, tinha
por norma convocar judeus para fazerem parte de sua tripulação
e dentre os mais assíduos se destacavam o 1º Comissário Jacob
Niskier Z”L e o Assistente de Comissaria David Blinder Z”L.
No início de abril de 1964, David, por ser dirigente do
Sindicato dos Oficiais de Náutica da Marinha Mercante, permaneceu recluso durante 92 dias, em regime de incomunicabilidade, em Belém do Pará.
No final de 1967, por força da grave diabetes que lhe acometia, deixou de navegar e assumiu a chefia da Área Técnica
do LLOYD BRASILEIRO, exercendo o cargo de SUPERINTEN86
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
DENTE TÉCNICO DA FROTA, que era constituída por mais
de 60 navios, e considerada, então, uma das maiores frotas do
mundo. Ocupou este cargo até dezembro de 1972 quando de
sua aposentadoria.
David falava correntemente idish, russo, inglês, francês,
alemão e um pouco de japonês.
David faleceu em 20/03/1974, data em que completava
37 anos de casamento com Cecília Rodin, deixando 6 filhos:
Sara, Rachel, Alberto, Mauro, Jane e Aiza.
Com certeza, David Leon Rodin, realizou todos os seus
sonhos de criança de vir a conhecer o mundo inteiro.
Edidio Guertzenstein
Nascido em São Paulo em 21 de Junho de 1918 era filho
caçula do reverenciado Rabino Marcos Guertzenstein e Sara
Guertzenstein.
Formou-se em Medicina com 21 anos de idade e prestou
concurso para o Quadro de Saúde da Marinha do Brasil, na
qual ingressou no posto de 1º Tenente.
Ao longo da II Guerra Mundial permaneceu embarcado,
tendo cumprido cerca de 180 dias de mar em missões de escolta a comboios na costa brasileira e nas rotas do Caribe e em
operações com as forças da IV Esquadra norte-americana. Seu
Tempo em Campanha na Segunda Guerra foi de 15 mar 1944
a 16 mai 1945.
Pela sua participação na II Guerra foi agraciado pelo Presidente da Republica com a Medalha Naval de Serviços de
Guerra com 2 Estrelas, que premia os que participaram das
operações visando assegurar as comunicações marítimas necessária a vitoria, sendo o Diploma assinado pelo Ministro da
Marinha Almirante Sylvio de Noronha.
Fato marcante no período foi o nascimento de sua primeira
filha, Solange, em 19 de Abril de 1944, quando encontrava-se
embarcado, a familia não tendo como participar-lhe a notícia.
Após o término do conflito teve uma carreira destacada,
sendo um dos primeiros Oficiais-Médicos da Marinha do BraSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
87
sil designados para cursar nos Estados Unidos. Especializouse em Cirurgia Pulmonar no Saint Albans Naval Hospital, em
Nova York, e fez curso de cirurgia torácica em Boston, onde
foi assistente do renomado cirurgião Professor Overholt.
Foi Diretor do Sanatório Naval de Nova Friburgo e implantou a Clínica de Cirurgia Torácica do Hospital Naval Marcilio
Dias, a qual na época constituiu-se em referência no tocante à
cirurgia pulmonar.
Recebeu diversas condecorações, nacionais e estrangeiras, incluindo-se a Ordem do Mérito Naval.
Promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra, solicitou transferência para a Reserva, no posto de Contra-Almirante.
Autor de livros sobre cirurgia pulmonar, Edidio Guertzenstein foi Presidente da FIERJ – Federação Israelita do Rio de
Janeiro, no período de 1965 a 1968.
Faleceu em 28/06/1978.
Elias Niremberg
Elias nasceu a 14 set 1919, tendo embarcado aos 08 fev
1945 integrando o CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal, e retornado em 18 jul 1945 integrando a Tropa do QG.
Consta que, por dominar a lingua inglesa, atuou como
interprete junto aos Altos Comandos da FEB e do V Exército
Americano.
Elias teria sido motorista do Marechal Mascarenhas de
Moraes.
Reside em Porto Alegre – RS, e teria sido um dos introdutores do Synteko no Brasil, gozando de boa situação financeira,
o que lhe teria permitido auxiliar a Regional de Porto Alegre da
Associação de Veteranos, sendo bastante ativo e comparecendo assiduamente aos Encontros Nacionais.
Guilherme Bessa Filho
Nascido aos 08 jan 1922 em Guajará-Mirim, Rondônia,
era filho de Guilherme Bessa e Cecilia Pereira Lopes. Foi casa88
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
do com a Sra. Guita Litwack Bessa.
Era Primeiro Rádio-Telegrafista da Marinha Mercante, tendo sido tripulante de navios navegando em Zona de Guerra,
fazendo jus a Medalha de Serviços de Guerra com 3 Estrelas,
outorgada pelo Presidente da República, sendo o Diploma assinado pelo Ministro da Marinha Almirante Sylvio de Noronha.
Falecido aos 15 dez 89, foi sepultado no Cemitério Comunal Israelita, no Caju, Rio de Janeiro.
Heitor Sennes Pinto
Heitor é outro ex-combatente oriundo das Colônias estabelecidas no Rio Grande do Sul pelo Barão Hirsch.
Como 3° Sargento embarcou com o Centro de Recompletamento de Pessoal da FEB aos 08 fev 1945, retornando em 17
set 1945 com o DP – Depósito de Pessoal.
Foi transferido para a Reserva de 1ª Classe aos 03 ago
1966.
Sua mãe, Dona Maria Zilberstein, já falecida, era conhecida na Colônia de Quatro Irmãos como uma pessoa de grande
coração. Adotou diversas crianças pobres, a quem transmitiu
seu nome.
Henrique Schaladowsky
Henrique nasceu aos 26 abr 1919 no Rio de Janeiro, filho
de Samuel e Ana.
Na juventude freqüentou o Cabiras e o Clube Azul e Branco.
Embarcou para a Itália como 2° Sargento do 9° Batalhão
de Engenharia aos 22 set 1944, retornando com a mesma unidade aos 13 ago 1945.
Sua unidade desemenho relevante papel, como primeira tropa de Engenharia a atravessar o Oceano Atlântico para
combater em outro continente, tendo Henrique pertencido a
Companhia de Comando e Serviços, o primeiro elemento do
9° BE e da FEB a entrar em ação aos 06 set 1944 no Teatro de
Operações da Itália.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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O 9º Batalhão de Engenharia de Combate foi criado pelo
decreto nº 4.799, de 06 de outubro de 1942, e organizado no
quartel do 1º Batalhão de Engenharia (atual BEsEng) na cidade
do Rio de Janeiro, com efetivos locais, e do 2º Batalhão de
Engenharia, da cidade mineira de Itajubá.
Deslocou-se para Aquidauana, no então Estado de Mato
Grosso, no dia 1º de dezembro de 1942, ocupando ao chegar,
o aquartelamento já existente desde 1922, e que no momento
era ocupado por um Grupo de Artilharia.
Em agosto de 1943 foi designado para compor a 1ª Divisão
de Infantaria Expedicionária da Força Expedicionária Brasileira
(FEB), que lutaria na 2ª Grande Guerra Mundial (1939-1945).
Posteriormente à designação, seguiu para a cidade fluminense
de Três Rios, a fim de realizar os treinamentos, visando o embarque para o Teatro de Operações da Europa.
Incorporado à 1ª DIE/FEB, o 9º Batalhão de Engenharia
participou da Campanha da Itália (1944-1945), durante a 2ª
Guerra Mundial, realizando importantes trabalhos de engenharia e cooperando eficazmente nas conquistas de Monte
Castelo, CastelNuovo, Camaiore e Montese, além da manobra
divisionária que culminou com a rendição incondicional da
148ª Divisão de Infantaria Alemã.
O livro “A FEB por Seu Comandante”, do Comandante das
Tropas Brasileiras na Itália, Marechal Mascarenhas de Moraes
(1960), descreve a participação brasileira na 2ª Guerra Mundial, durante a Campanha da Itália: “A Primeira tropa brasileira
a cumprir missão de combate em território italiano foi a 1ª Cia
do 9º BE Comb (9º Batalhão de Engenharia de Combate), comandada pelo capitão Floriano Möller...”.
Naquela oportunidade uma das pontes construídas foi denominada “Aquidauana”.
Por seus gloriosos feitos na Campanha da Itália, a Bandeira Nacional do 9º Batalhão de Engenharia de Combate foi
agraciada com as seguintes condecorações: Cruz de Combate
1ª Classe, Ordem do Mérito Militar e Medalha Italiana “Valore
Militare”.
Após a Chegada ao Brasil, o 9º Batalhão de Engenharia de
90
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Combate foi desmobilizado, e reduzido a uma companhia.
Durante a desmobilização, em 1945, o comandante do
Batalhão na Campanha da Itália, Coronel Machado Lopes, percebeu a importância histórica da participação do 9º BE Cmb
na 2ª Guerra Mundial, guardando consigo parte dos arquivos
históricos da Campanha na Itália, que serviram posteriormente
para a criação do Museu do 9º BE Cmb, hoje denominado
Museu Marechal José Machado Lopes, em homenagem ao seu
insigne comandante.
Em 1956, o então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, restabelece o 9º Batalhão de Engenharia de Combate, com a designação histórica de “Batalhão Carlos Camisão”,
homenagem ao insigne comandante da “Retirada da Laguna”.
Em 06 de outubro de 2007 o 9º Batalhão de Engenharia
de Combate - Batalhão Carlos Camisão, comemorou seu 65º
Aniversário, unidade de grande importância para a Engenharia
Militar Brasileira
Henrique recebeu a Medalha de Guerra e a Medalha de
Campanha.
Na vida civil Henrique dedicou-se ao comércio, tendo
sido empresário de uma cadeia de lojas de eletrodomésticos.
Falecido em 13 mar 1967.
Israel Hollmann
Israel era mecânico de vôo da FAB, também de Quatro
Irmãos e já falecido.
Era primo dos também ex-combatentes Heitor Sennes Pinto e Moisés Gitz, os três originários da Colônia Agrícola de
Quatro Irmãos, criada pelo Barão Hirsch no interior do Rio
Grande do Sul.
Israel Rosenthal
Israel nasceu no Rio de Janeiro aos 7/fev/21. Seus pais Rubin e Clara emigraram da Bessarábia, hoje Moldávia, no começo do século XX, indo morar na Praça XI. Israel estudou no CoSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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légio Nacional e apresentou-se como voluntário para prestar o
Serviço Militar. Prestou exame de admissão para o Centro de
Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, CPOR/RJ,
tendo sido aprovado e matriculado no Curso de Infantaria.
Entre seus contemporâneos, havia vários rapazes judeus,
que simultaneamente cursavam faculdades e o CPOR, entre os
quais Marcos Cerkes, Pedro Kullock e Salomão Malina, que integraram a FEB, e os médicos Isac Faerchtein e Jacob Kleiman,
que não foram a guerra, bem como Reuven Josef Rosental,
Aluno do 2° Ano do Curso de Artilharia falecido em 15 set
1944, em decorrência de um acidente quando montava um
cavalo que disparou durante exercício na Barreira do Vasco,
indo de encontro a um bonde.
Israel formou-se Cirurgião-Dentista pela Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil em 1943, tendo
obtido um dos primeiros registros no CRO-RJ sob nº 196.
Em concorrida cerimônia no Estádio do Vasco da Gama
em São Januário, Israel foi declarado Aspirante a Oficial da
Arma de Infantaria, na Turma de 1944.
A 19 de dezembro de 1944, o Aspirante a Oficial R/2 Israel foi convocado para o serviço ativo, apresentando-se no
Centro de Recompletamento de Pessoal – CRP/FEB, tendo sido
classificado no 2º RI e designado subalterno da Companhia de
Metralhadoras do III Btl.
Aos 8 de fevereiro de 1945 embarcou no transporte de
tropas americano USS General Meighs, com destino ao Teatro
de Operações da Itália.
Naquela época, o Brasil era ainda um país essencialmente
agrícola, com a população carente de serviços de saúde, particularmente dentários.
Um soldado com dor de dente ou um canal infeccionado
era um soldado fora de combate, assim, dada a carência de
profissionais no Brasil em geral, e na FEB em particular, Israel
dada a sua condição de cirurgião dentista formado foi logo
requisitado pelo Comando.
Ele seria tão útil ao esforço de guerra em um Gabinete
Odontológico, empunhando brocas e boticões, quanto no
92
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
front à frente de um Pelotão de Infantaria.
Assim, Israel foi reforçar o atendimento aos soldados que
sofriam, e não eram poucos, já que para 25 mil homens, havia
apenas 25 dentistas, uma relação extremamente baixa.
Como resultado, Israel e seus colegas do Serviços Odontológico trabalhavam quase sem parar 7 dias por semana, saindo
do Gabinete praticamente apenas para dormir. O horário era
de 7 as 12 e 13 as 17, mas frequentemente ultrapassado, com
as refeições feitas também no Gabinete. Como agravante não
havia energia elétrica no Deposito de Pessoal, que enquadrava
o Gabinete.
Era um dos 4 únicos oficiais combatentes formados em
Odontologia, já que os demais pertenciam ao Serviços de Saúde do Exército, e pela sua atuação exemplar, Israel foi elogiado
em Boletim pelo Major Virgilio, Chefe do Serviço de saúde do
Deposito de Pessoal da FEB.
“... apesar de pertencer aos Quadros das Armas, pelos
inestimáveis serviços profissionais prestados, cooperando para
o bom êxito e eficiência do Serviço de saúde, demonstrando
conhecimentos amplos e amor a profissão, a par de esmerada
educação civil e militar. Disciplinado, possuidor de espírito de
camaradagem, muito tem contribuído para o bom andamento
do Serviço Odontológico.”
O Boletim estava assinado pelo Coronel Mario Travassos,
Comandante do DP/FEB.
Em 4 de agosto de 1945, por Decreto do Presidente da
República, foi promovido ao posto de 2º Tenente da Reserva,
tendo aos 28 de agosto de 1945 se deslocado juntamente com
o III Btl Inf em caminhão de Francolise para Nápoles, onde
ocorreu o embarque no Navio de Transporte de Tropas Duque
de Caxias, com destino ao Brasil via Lisboa.
Em 3 de setembro, tropa desembarcou em Lisboa, desfilando diante do Presidente da República Portuguesa, quando
este condecorou todos os elementos do III Btl Inf com a Medalha de Ouro do Valor Militar.
Por ter participado das operações de guerra na Itália, Israel
foi condecorado pelo Presidente da República com a Medalha
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
93
de Guerra e Medalha de Campanha pelo relevantes serviços
prestados ao esforço de guerra, em diplomas assinados pelo
Ministro da Guerra, General Pedro Aurélio de Góis Monteiro.
Retornando ao Brasil, Israel continuou praticando os valores morais militares, como Conselheiro Nato da associação
Nacional dos Veteranos da FEB, aonde chegou a Presidente
do Conselho Fiscal, dividindo um gabinete com o falecido
eminente General César Montagna de Souza, Presidente do
Conselho Deliberativo, e ex-Presidente do Clube Militar, no
prédio da Rua das Marrecas que abriga o Museu da FEB e serve
de sustentáculo para as ultimas poucas centenas de Veteranos,
todos já na casa dos 80 anos.
Israel atuou também como voluntario na Policlínica da
Sociedade Beneficiente Israelita, fundada em 06 abr 1920, na
Rua Joaquim Palhares 595, Praça da Bandeira, conforme o Diretor Médico Dr Bernardo Grabois, em delaração datada de 29
jul 1947.
Israel aposentou-se no Serviço Público Estadual, e vem
atuando na ANVFEB durante décadas ajudando a defender os
interesses dos veteranos, nem sempre lembrados em sua necessidades mais elementares.
Pela sua valiosa atuação, foi agraciado com diversas condecorações, entre as quais:
Membro Efetivo do I Congresso Brasileiro de Medicina
Militar – São Paulo, 1954.
Medalha da Vitória, Ass. Dos Ex-Combatentes do Brasil,
Seção Rio – 1985.
Medalha da Conquista de Monte Castelo – Regimento
Sampaio, 21/fev/1990.
Medalha Marechal Mascarenhas de Moraes – 1992.
Diploma Colaborador Emérito do Exército – 2003.
Diploma da Ass. dos ex-Combatentes do Brasil – Seção
Nova Iguaçu.
Este dedicado Soldado Brasileiro de fé judaica, após tantos
anos de bons serviços prestados ao Exército e aos Veteranos da
FEB em uma carreira exemplar seguiu para a Itália no mês de
abril de 2005, como membro da Delegação Oficial do Exército
94
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Brasileiro as comemorações dos 60 anos da Vitória Aliada na
Europa.
A seguir transcrevemos reportagem Os garotos que vieram
do Brasil para lutar pela liberação da Itália de Alberto Riva, suplemento “II Venerdì” do jornal “La Repubblica” - 01/04/2005
(traduzido do italiano), realizda na sede da ANVFEB na Rua das
Marrecas 35, Lapa, Rio de Janeiro, com depoimentos pretados
por Israel e seu grande amigo e irmão de armas Cel Sérgio
Gomes Pereira, Presidente da ANVFEB, também ele oriundo
do CPOR/RJ.
Eram os 25 mil homens da Força Expedicionária Brasileira, que chegaram após o General Clark. Sessenta anos depois,
retornam em peregrinação em Roma, Nápoles, Livorno. E nos
Apeninos, onde os uniformes de inverno lhes foram fornecidos
pelos norte-americanos. Porque eles, a neve, nunca tinham
visto.
Do Pão de Açúcar aos Apeninos. Existe um pedaço de memória italiana no centro do Rio de Janeiro. Um prédio de cinco andares, apertado por edifícios de cimento e vidro na Rua
das Marrecas, antiga estrada do bairro da Lapa. Sérgio Gomes
Pereira, 81 anos, coronel reformado, sobe todos os dias até o
quinto andar e senta atrás da sua mesa. É o Presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, a Força Expedicionária
Brasileira, que de julho de 1944 até maio de 1945, teve seus
homens junto às tropas norte-americanas do General Clark em
território italiano. Para o Exército Brasileiro, sob o comando do
General Mascarenhas de Moraes, era a primeira missão além
das fronteiras nacionais. Para muitos daqueles homens, a primeira neve, jamais vista, e a primeira viagem, talvez a única,
fora do Brasil. Dos 25 mil soldados, 457 nunca mais voltaram
a ver a Baia de Guanabara, e quase 2.000 voltaram feridos e
mutilados.
Agora, depois de exatamente sessenta anos daquela expedição, Sérgio prepara-se para atravessar novamente o oceano:
no final de abril estará chefiando uma delegação na Itália, empenhado em um tour nos lugares da memória: Roma, Staffoli,
Pistoia, Montese, Collecchio, Gaggio Montano... Nomes de
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
95
pequenas cidades que, no português claro do Coronel Gomes
Pereira, soam familiares. Nomes de batalhas. No térreo de Rua
das Marrecas 35, onde se encontra o Museu da expedição,
aqueles nomes são fotografias em preto e branco, ou velhos
uniformes colocadas nas paredes, armas enferrujadas seqüestradas às SS, medalhas, cartas, recordos. “A sede da FEB é
aqui” explica Sérgio Gomes “porque todos partimos do Rio. O
porto era protegido, enquanto os outros eram ameaçados pelos submarinos alemães e italianos. Muitos navios tinham sido
atacados e ocorreram mortes entre civis. Entramos em guerra
por este motivo”.
Para a guerra os tinha levado Getúlio Vargas, o Presidenteditador, que governava sem interrupções desde a Revolução
dos anos trinta. Até 1941, o Brasil tinha se mantido neutro.
Mas, após Pearl Harbour, tinha declarado sua solidariedade
aos Estados Unidos, portanto tinha cortado suas relações diplomáticas com o Eixo. A Alemaha de Hitler não tinha gostado - mesmo porque deste modo o Brasil tornava-se uma base
preciosa para as missões Aliadas na África do Norte - e tinha
começado torpedear os navios da marinha mercante ao longo
da costa do nordeste do País.
Assim, em 22 de agosto de 1942, após outro afundamento, Vargas reuniu seus ministros e declarou guerra aos inimigos
da democracia. Ele que não era exatamente um democrata.
“Tornou-se um ditador somente em um segundo tempo” lembra Sérgio Gomes. “Não era fascista nem comunista, queria
somente o poder. Mas não havia liberdade. As cartas que enviávamos do front, e aquelas que recebíamos, eram abertas e
censuradas”.
Antes, porém, ocorreu a viagem: “angústia” admite o coronel “e também medo. Não sabíamos aonde iríamos desembarcar. Somente no final descobrimos de estar em Nápoles.
Mas a viagem não tinha terminado. O golfo era cheio de navios afundados. Assim, muitos foram transferidos para Livorno,
com lanchas de desembarque que os norte-americanos tinham
já usado na Normandia”. A Itália, para Sérgio Gomes, nascido
no Rio mas por motivos familiares criado em São Paulo, apre96
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
sentava-se de modo inesperado: “Pobreza” é a palavra que lhe
saí da boca. “Fome absoluta. Eu não fui para Livorno, desembarquei em Nápoles para acompanhar um soldado em hospital
e aquilo que pude ver impressionou-me.
A Itália estava pagando seus pecados”. E por falar nisto,
Sérgio olha para um antigo companheiro que ainda hoje está
com ele, na associação. O Tenente dentista Israel Rosenthal,
aqui, confirmando aquelas lembranças como se fossem suas
próprias.
“Eu, ao invés, fui para Livorno”, conta Rosenthal “e chegar lá foi um pesadelo. O mar revolto, ninguém ficou de pé.
Assumi logo o serviço junto à um hospital de campanha em
Staffoli. Acredito de ter feito mais de cinco mil cirurgias. Não
tínhamos energia elétrica nem água. Lembro que daquela localidade vinha um médico italiano que me pedia o anestésico
porque ele não tinha mais”. Continua Sérgio: “Naqueles dias
fizemos muitas amizades.
Nossos mortos foram sepultados em Pistóia, onde hoje há
um monumento. Do meu pelotão morreram dezessete. Subimos para o norte e as batalhas foram duras: Monte Castello,
Montese, Vignola. Não era fácil se orientar. Em cada um de
nossos pelotões, tinha pelo menos um “partigiano” com a função de apoio. Eles conheciam bem as trilhas. Nos acompanhavam e logo após desapareciam para não serem presos pelos
alemães”.
Uma página de história que ficou, não sabemos porque,
às margens do conflito. Mesmo se entre os brasileiros desembarcados na Itália houvesse pessoas que, posteriormente, tornariam-se famosas. Aquele que muitos consideram o maior
cronista brasileiro, Ruben Braga (1913-1990), correspondente
do Diário Carioca. Ou o pintor Carlos Scliar (1920-2001), que
trouxe de volta uma agenda cheia de desenhos. Tinha Celso
Furtado (1920-2004), que depois se tornou o maior economista brasileiro. “Partimos juntos e fizemos a viagem na mesma
cabine” conta Rosenthal. “Estudava direito e falava um perfeito
inglês, era o interprete”.
As lembranças, nas palavras dos veteranos, se acumulam.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Nas velhas fotografias, irreais paisagens geladas e soldados
enfiados em uma espécie de saco branco com capuz: “Os
uniformes para o inverno, tinham sido fornecidas pelos norteamericanos. Nos partimos como se tivéssemos que combater
na África...”.
E a saudade do Rio de Janeiro? Sérgio Gomes tem um
flash: “Era um sábado de carnaval, acredito, no final de janeiro. Posicionamos-nos nas proximidades de Gaggio Montano,
na neve. Do nosso rádio, ao invés das ordens da base, em um
determinado momento ouvimos uma música. Era a festa que
estava se desenvolvendo no Cassino da Urca, no Rio, o cassino onde se apresentavam todos os grandes da época, como
Carmen Miranda. Não lembro o que fosse, mas era um samba,
disto estou certo”.
Jacob Benemond
Jacob Benemond, Capitão-de-Longo-Curso, comandava o
Olinda, segundo navio nacional a ser torpedeado por submarino nazista. Conseguiu salvar toda a tripulação, a deriva no mar
gelado durante 36 horas.
Jacob Benemond nasceu em Belém do Pará aos 05 agosto
de 1881 e faleceu em 23 out 1960 no Rio de Janeiro.
Era filho de Abraham Benemond e Emilia Benemond, Freqüentava a Sinagoga Shell Guemilut Hassadim.
Pelo heroísmo demonstrado no episódio do afundamento
do Olinda, o Comandante Benemond foi condecorado pelo
Presidente da República com as medalhas:
Medalha de Serviços de Guerra, tendo em consideração
os valiosos serviços prestados ao país.
Medalha do Mérito Naval com 3 Estrelas como recompensa aos valiosos serviços prestados em 18 de fevereiro de 1942
ao ser o Olinda torpedeado por um submarino alemão, quando com risco da própria vida corajosamente efetuou em meio
ao pânico geral o salvamento dos 46 homens da guarnição,
reunindo-os em duas baleeiras abastecidas que permaneceram
à espera de socorro durante 30 horas consecutivas.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Ordem do Mérito Naval
Durante as comemorações da Semana da Marinha, várias
personalidades foram condecoradas com a Ordem do Mérito
Naval, entre outras, o Sr. Cornélio Verolme, General Pantaleão
Pessoa, Dr. Daniel Carvalho e a filha do Sr. Jacob Benemond,
homenageado “post mortem”.
Medalha Mérito Tamandaré
Segundo Arthur Oscar Saldanha da Gama, em A Marinha
do Brasil na Segunda Guerra Mundial p.112:
O Olinda navegava às 12h30min do dia 18 de fevereiro de
1942, na posição de 36 56’N e 37 30’W, na costa da Virgínia,
Estados Unidos, sendo denunciado por aeronave espiã, que
deu a sua rota, velocidade e posição ao U-432, do CapitãoTenente Heinz-Otto Schultze, o mesmo que havia torpeado o
Buarque.
A nave veio, antes, à superfície, mandando o mercante
parar. Em seguida, limpo e bem manobrado, como havia bom
tempo, atracou no costado, chamando ao seu convés o Comandante do mercante, Sr. Jacob Benemond, que se fez acompanhar do 2° Telegrafista com os papéis de bordo.
Os oficiais do submarino, polidamente, interrogaram-nos
em inglês fluente e fotografaram os papéis do navio. O comandante, que dava ordens aos seus homens em alemão, mandou
de volta os brasileiros com a ordem de abandonar o navio e,
depois, desatracou com facilidade.
Esperou que todos embarcassem nas baleeiras, que foram
arriadas e, a tiros de canhão, pôs a pique o Olinda. A tripulação de 46 homens, foi salva pelo USS Dallas. O Olinda era o
ex-Kanemer-land e ex-Cara, inglês, agora da Carbonífera RioGrandense, afretado à CIA. Comércio e Navegação. Levava
para Nova-Iorque 53.400 sacos de cacau, sacas de café e de
mamona. Deslocava 4.086 t brutas e 2.532 líquidas, comprimento 109,7 m boca 15,31 m, pontal 7,62 m, calado 6,30 m e
velocidade 9 nós. Salvaram-se os 46 homens da tripulação.
Compilado de O Brasil e a Segunda Guerra Mundial,
Ministério das Relações Exteriores.
Três dias depois, nas proximidades da mesma área, ouSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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tro navio nosso foi atacado, em pleno dia, às 12h30min de
18 de fevereiro, por um submarino nazista, do tipo de bolso,
sem prévio aviso; a vítima fôra o vapor do Olinda, de 4.085
toneladas brutas de deslocamento, da companhia Comércio e
Navegação, fretado a Companhia Carbonífera Rio-grandense,
que navegava para Nova-Iorque, procedente de Santa Lúcia,
prossessão britânica, nas Pequenas Antilhas, de onde havia
partida na tarde do dia 9, sob o comando do Capitão Jacob
Benemond.
O submarino, usando um canhão de pequeno calibre, fez
14 disparos contra o navio, sendo que apenas três projéteis
atingiram o alvo, desmantelando a antena e a estação radiotelegráfica.
Duas baleeiras foram arriadas ao mar com os 46 homens
da tripulação. Quando essas estavam razoavelmente afastadas
do navio, o submarino aproximou-se das baleeiras e homens
de sua guarnição exigiram a presença do comandante e do radiotelegrafista, aos quais os oficiais alemães inquiriram sobre
os documentos de bordo, a natureza da carga, bem como, por
segurança própria, se haviam, tido tempo de emitir pedido de
SOS. Tiraram duas fotografias, uma dos náufragos nas baleeiras
e outra do Comandante e do radiografista a bordo do submarino, quando da entrevista.
Em seguida, após o retorno às baleeiras, foi novamente
o Olinda alvejado pelo submarino, de uma distância de um
quarto de milha, que disparou cerca de 20 tiros contra o navio,
que, embora bastante adernado, levou aproximadamente uma
hora para ir ao fundo.
A nacionalidade alemã do submarino agressor foi perfeitamente identificada, não só pelo comandante do Olinda, como
por diversos de seus homens. Ao sangue-frio, a habilidade e
energia do comandante, deveu-se o salvamento de todos os 46
homens da tripulação nesta triste conjuntura.
Aparecendo no local 4 aviões norte-americanos da defesa
coteira, o agressor submergiu e desapareceu; um dos aviões
comunicou aos náufragos help on way, nessa ocasião deviam
estar cerca de 40 milhas da costa do Estado de Virgínia, nos
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Estados Unidos. Vinte horas após o desastre, mais ou menos às
8h do dia seguinte, apontou no horizonte do destróier norteamericano Dallas, que recolheu os tripulantes e os transportou
para a base naval de Newport, na Virgínia.
No dia 20, o Governo brasileiro, devidamente informado
de ambas as ocorrências, enviou uma nota ao Governo alemão, por intermédio de Portugal, protestando contra os torpedeamentos dos navios Buarque e Olinda, que navegavam
fora da zona de bloqueio, fartamente iluminados, permitindo
serem facilmente reconhecidas as bandeiras que traziam.
Em março, duas outras ocorrências vieram aumentar as
nossas perdas. Na primeira foi vítima o cargueiro Arabutan,
ex-Caprera, com 7.874 toneladas de registro, de propriedade
de Pedro Brando, a serviço do Lóide Nacional S.A. e sob o comando do Capitão de longo-curso Aníbal Alfredo do Prado.
Havia partido às 16 horas do dia 6 de março de Norfolk
para o Rio de Janeiro, com escala em Port Of Spain, Trinidad, transportando 9.613 toneladas de carvão para a Estrada
de Ferro Central do Brasil. Às 15h10min do dia seguinte, este,
nas proximidades do Cabo Hatteras, foi inopinadamente torpedeado por um submarino nazista, sendo atingido na altura
do porão número cinco do lado boreste, afundando por água
aberta, em vinte minutos, a 81 milhas da costa, no ponto de
coordenadas 35 15’N e 73 50’W, de Gr. Na emergência, o
comandante determinou a expedição dos sinais de socorro e
deu-se início à faina de salvamento.
O submarino, segundo o primeiro-piloto, devia ter 800
toneladas de deslocamento, com cerca de 60 metros de comprimento, estava armado com um canhão de 75 mm na proa e
uma metralhadora antiaérea à ré; tinha o casco pintado de verde-garrafa e, pelas fotografias exibidas em Norfolk, por acasião
do inquérito, foi reconhecido como de nacionalidade alemã.
O atacante, que não fora pressentido pela tripulação, só
veio à tona quando o pessoal já se encontrava nas baleeiras
e o navio havia soçobrado completamente; sem hostilizar os
náufragos nem procurar obter qualquer informação, descreveu
um círculo em torno do ponto de afundamento e submergiu,
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
101
possivelmente em face da aproximação de aviões da Marinha
norte-americana, que atendiam ao pedido de socorro, lançado...
História Naval Brasileira, p. 342, editado pelo Serviço de
Documentação Geral da Marinha.
No torpedeamento desse navio, aconteceu um fato estranho, segundo relato do comandante: às 19h30min um
avião sobrevoou o navio para iluminá-lo. Hoje, sabe-se que
os alemães tinham uma aeronave espiã, com base em território norte-americano para guiar os submarinos.
Quinze minutos antes de 1h do dia 16, Buarque recebeu o primeiro torpeado.
Em seguida e após o regresso às suas respectivas baleeiras do Comandante e do 2º telegrafista foi o Olinda
novamente alvejado. Cerca de 20 projéteis foram então
disparados contra o navio, que adernou e rapidamente submergiu.
Nem o comandante, que já havia servido na linha de
Hamburgo, nem o 2º telegrafista, nem os demais telegrafistas do Olinda ofereceram dúvidas quanto à nacionalidade do submarino, unânimamente reconhecido como sendo
alemão.
Há divergências, entretanto, com relação à posição do
navio no momento do ataque, o que se deve certamente à
inexperiência do 2º piloto que se encontrava de quarto.
Segundo os seus cálculos a posição seria: Latitude, 36
56’N e Longitude 74 02’ W. De acordo com o Comandante, entretando, a posição deveria ser, aproximadamente 37
30’N de latitude 75 00’W de longitude, posição corroborada pelo 1º piloto e pelas estimativas das autoridades americanas.
Mais ou menos 20 horas depois do ataque, ou cerca das
8 horas do dia seguinte, foi a tripulação do navio brasileiro
socorrida pelo destróier americano Dallas, que a levou para
a Base Naval de Newport News, Norfolk, Virgínia.
Washington, em 24 de Fevereiro de 1942
J. Carneiro Leão
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Correspondência recebida do Consulado do Brasil
em Nolfolk - 28 de Fevereiro de 1942
Senhor Ministro,
Em obediência às ordens contidas no telegrama nº 4 dessa
Secretaria de Estado, tenho a honra de passar as mãos de Vossa
Excelência, cópias fiéis das declarações prestadas pelos senhores, Comandante Jacob Benemond: Imediato, Manuel Pereira
Gonçalves; Chefe de Máquinas Abílio Paulo de Azevedo; Piloto Rosauro de Almeida; Piloto de quarto, José da Costa Dutra;
Radiotelegrafista de quarto, Francisco Lustosa Nogueira; Marinheiro Álvaro Gustavo dos Santos e Marinheiro Manuel Bispo
da Cruz, do vapor brasileiro Olinda, afundado no dia 18 do
corrente, na Costa da Virgínia.
Das declarações em questão, depreende-se ter sido o referido vapor atacado por um submarino alemão, sem prévio
aviso; na posição estimada de latitude 36 30’00’’ Norte e longitide 75 00’00’’ Oeste, às 12,30 horas do dia 18 de fevereiro
de 1942, e posto a pique com cerca de vibte tiros de peça.
Ao sangue frio, habilidade e energia do Comandante e
Imediato, deve-se o salvamento das quarenta e seis pessoas
que compunham a tripulação do Olinda.
Aproveito o ensejo para reiterar a Vossa Excelência os protestos da minha respeitosa consideração.
J. A. Rodrigues Martins
Anexo 1:
Eu, abaixo assinado, Comandante do Vapor Olinda, brasileiro, de propriedade da Companhia Carbonífera Rio Grandense, fretado à Companhia Comércio e Navegação, sinistrado no
dia dezoito do corrente mês, às doze horas e trinta minutos, na
Coata da Virgínia, Estados Unidos da América do Norte, declaro ao cônsul do Brasil, em Norfolk o seguinte: Que o vapor
partiu do último porto de Santa Lúcia, na tarde do dia 9, do
corrente mês, com destino ao porto de Nova York; a essa hora
acima ouví um tiro de canhão, sendo em seguida verificado
pela popa do navio, um submarino que continuava atirando,
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
103
cerca de quatorze tiros, tendo atingido o navio três tiros, sendo um na altura da radiotelegrafia, outro no alojamento da
guarnição de proa e outro no costado. Imediatamente parei o
navio e dei sinal para a salvatagem, isto é, o acidente deu-se
na latitude 37 graus, trinta minutos norte, e longitude, sesenta
e cinco graus, (o) zero minutos, oeste de Greewinch. Às doze
horas e quarenta minutos, arriou-se a baleeira número dois (2),
com 23 tripulantes e as doze horas e cinquenta minutos, a de
número um (1), com a mesma quantidade de tripulantes. Fomos intimados pelo Capitão do submarino para atracar ao costado do mesmo, sendo eu interrogado pelo dito Capitão, sobre
o manifesto da carga, porém eu respondi que o manifesto se
achava a bordo. O 2º Rádio também surgiu e foi interrogado.
Depois de curto tempo, voltamos para as baleeiras, tendo em
seguida o submarino dado marcha até que se aproximou do
Olinda, cerca de um quarto de milha, tendo disparado cerca
de vinte tiros, adernando em seguida e posto a pique. Tenho a
declarar mais que o submarino e sua guarnição, são alemães.
Passamos nas baleeiras, vinte horas, quando fomos salvos por
um destroier Americano, e logo que chegamos, em Norfolk,
fomos hospitalizados no Hospital da Marinha.
Jacob Benemond - Comandante.
Jacob David Cohen
Jacob nasceu aos 25 abr 1921, filho de David e Jamile
Cohen.
Freqüentava o Templo Sidon, tradicional sinagoga da rua
Conde Bonfim na Tijuca , Rio, que congrega os descendentes
dos judeus de Sidon, no Líbano, que emigraram há cerca de 1
século para o Brasil.
O bairro reune boa parte da comunidade sefaradi carioca,
ou seja, descendentes dos judeus de Espanha (Sefarad em hebraico).
No ano de 1492 Madrid era ainda um pequeno povoado
desconhecido. na corte de Toledo, os reis catolicos Fernando
de Aragon e Isabel de Castilla haviam resolvido expulsar os
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
judeus de Espanha. numa última tentativa, o conselheiro real
Isac Abravanel tenta reverter o decreto, sem o conseguir.
Tangidos pela intolerância, os judeus de Sefarad se espalharam pelos quatro cantos do mundo civilizado de então,
abandonaram penosamente a patria em direção ao exílio, deixando para tras uma efervescentte vida judaica, uma época
incrível quando judeus e mouros conviveram lado a lado com
os cristãos.
Em 1992, Juan Carlos I, de Bourbon e Battenberg, adentraria em Madrid a primeira sinagoga erguida em Espanha nos
últimos cinco séculos, e diante da sua Reina Sofia, do General
Chaim Herzog, presidente do Estado de Israel, e de um punhado de descendentes daqueles mesmos judeus expulsos pelo
reis católicos, declararia ao mundo seu desejo real de que a
paz viesse para todos os povos...
No alto daquela casa de orações, as mesmas inscrições
da Sinagoga del Transito de Toledo foram reproduzidas, como
que a simbolizar a continuidade judaica.
A humanidade tanto deve aos que partiram da Sefarad,
e seus descendentes, que importante papel desempenhariam
nos nas ciências, artes, cultura, negócios, etc.
A sua busca por um lugar onde pudessem acreditar em
seu D_us sem ter que prestar contas ao rei, em que pudessem praticar sua religião livremente os levaram a descobrir um
novo mundo, e assim muito ajudaram a lançar as bases da
nossa sociedade civilizada.
E dentre tantos que tiveram que partir de Sefarad, estava
um remoto antepassado do Sargento Jacob David Cohen, que
via Sidon acabou chegando ao Brasil.
Várias sinagogas sefaradis se situam num raio de alguns
quarteirões tijucanos, como a Beyruthense, União Israel, Maghen David, e o Templo Sidon, este herdeiro das ricas tradições sidonenses, quase centenárias no Rio de Janeiro, a princípio instalado no centro da cidade, que reunia a comunidade
oriunda daquela cidade libanesa.
Mais tarde, com a abertura da Avenida Presidente Vargas,
houve a mudanca para a atual sede na Tijuca.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Em 1938 Jacob cursava a Escola Superior de Comércio,
realizando a Linha de Tiro na Vila Militar, onde teve como
Instrutor o Sargento Torreão, e como colega de farda o jovem
Mair Credman.
Em 1942 foi transferido para Olinda – PE, ao 2° Grupo do
3° Regimento de Artilharia Anti-aérea, onde era sargento da
Bateria de Metralhadoras.
A Bateria contava com um grande efetivo, de 200 soldados e 10 oficiais. Na época temia-se por uma invasão alemã, e
eram constantes os torpedeamento de navios mercantes nacionais, que determinaram a entrada o Brasil na guerra.
Em seus deslocamentos do Rio para o Nordeste, Jacob navegou em águas sujeitas a ação submarina alemã, mas teve
sorte, nada lhe acontecendo.
Lamentavelmente, outra foi a sorte de seus camaradas do
7º Grupo de Artilharia de Dorso, que deslocava-se com toda
a guarnição e material para o Cais do Porto, onde embarcaria
para Olinda.
Era preciso defender a nossa costa, para o que não hesitaram um só minuto, navegando pelo mar onde se escondia o
submarino nazista traiçoeiro. Não haveriam de alcançar seu
destino.
A viagem não teve retorno para 150 dos 243 artilheiros,
comandados pelo Major Landerico de Albuquerque Lima.
Corria o mês de agosto de 1942. Navios mercantes que
transportavam as tropas, o Itagiba e o Baependy não poderiam
se defender do ataque cruel, ordenado por aquele cujo nome
e sua memória sejam esquecidos.
Diante da imensidão da tragédia, o povo foi às ruas a exigir
uma resposta à tamanha covardia. Em apenas 5 dias, o U-507
torpedeou 6 navios nacionais, com a perda de 600 vidas preciosas de brasileiros.
Ao todo, com o afundamento de 35 navios mercantes, o
mar foi o túmulo de 1.050 patrícios inocentes.
O Presidente Vargas declarou guerra ao Eixo, dando uma
resposta a torpe agressão que vitimou os heróis do 7º GADo,
na viagem que não chegaria ao destino.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Passados 2 anos do repulsivo ataque, desta vez o resultado
seria diferente. Os 5 escalões da FEB desembarcaram em segurança no solo europeu, onde haveriam de derrotar os mesmos
nazistas que tantas vidas brasileiras haviam ceifado.
Ainda em Recife Jacob serviu no Estabelecimento de Material de Intendência, onde ajudou a suprir a logística necessária ao esforço de guerra, sendo em 25 mai 1945 transferido
para a Sub-Diretoria de Subsistência no Rio de Janeiro.
Era sócio efetivo da Associação dos Ex-Combatenttes do
Brasil, Seção Rio de Janeiro, por ter se deslocado em comboio
marítimo e integrado o dispositivo de Defesa do Litoral, e Pensionista do Ministério do Exército, por ter sido convocado e
ficado a disposição da Força Expedicionária Brasileira, não tendo embarcado para a Itália em função do término do conflito.
Jacob foi agraciado com a Medalha da Vitória, da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, pelo seu trabalho de união
dos veteranos, gozando de grande consideração e estima naquela casa, como relata seu filho Marco Jacques Cohen.
Jacob faleceu no Rio de Janeiro aos 72 anos, em 16 fev
1994.
Jacob David Niskier
Jacob David Niskier nasceu aos 18–6–1901 em Irati - PR.
No final do séc. XX, seus pais emigraram de Ostrowiec, cidade
na Polônia, 160 km a sudeste de Varsóvia.
Era uma cidade judaica, aonde a população chegou a ter
90% de judeus. Esta importante comunidade poucas décadas
depois seria exterminada pelo ódio.
A Família Niskier era grande e bem situada em Ostrowiec.
Muitos se salvaram do Holocausto, emigrando para diversas
partes do mundo, para onde se conseguisse o visto salvador,
como Toronto no Canadá, Estados Unidos, Israel e Brasil.
Aqui as novas gerações dos Niskier deram ao Brasil importantes nomes na Educação e Cultura, Direito, Medicina,
Engenharia e outras atividades, alguns de projeção nacional e
internacional. É uma família bastante extensa.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Jacob, como muitos brasileiros natos de primeira geração
na época, teve uma infância e juventude pobre. A regra geral
era se dirigir para o comércio. Jacob era o irmão mais velho,
mas não tinha nenhuma queda para o ramo. Chegou a ser mata-mosquitos para poder estudar.
Mas a história corre por caminhos que só o Grande Arquiteto do Universo conhece, e um dia Jacob viria a ser um
Comandante da Marinha Mercante do Brasil. Suas lides o levariam de volta a Polônia, desta vez para buscar navios que o
Brasil encomendara naquele pais, trocando-os pelo bom café
brasileiro, o que renderia anos depois o episódio que ficou
conhecido como “as polonetas”, títulos obscuros alvo de negociatas, conforme noticiavam os jornais.
Nesta ocasião Jacob teve a oportunidade de visitar Ostrowiec. As casas e propriedades de seus pais e familiares, de
onde foram tangidos pelos nazistas para o Campo de Concentração de Treblinka em 1942 / 43, ainda estavam lá.
Pouquíssimos se salvaram, e ao tentarem retornar tiveram
negado o acesso as antigas propriedades, já ocupadas por invasores.
Antes do Holocausto (1939-1945), na véspera do Shabbat
o Rynek, a praça do mercado de Ostrowiec, efervescia de carroças carregadas e donas de casa fazendo as últimas compras
para o jantar festivo. O burburinho gerado pelo palavreado em
yiddish cortando os ares em todas as direções aumentava à
medida que o anoitecer se aproximava, para de repente cessar
de vez, como por milagre. De lá, onde um dia floresceu uma
comunidade temente a D_us seguidora da Lei de Moisés e
guiada por sábios rabinos, pode se ver ao longe as Montanhas.
Reza a lenda que lá vivem as bruxas, e elas ainda estão por ali.
Mas os judeus se foram, para nunca mais retornar ...
As sementinhas daquela árvore outrora pujante do Judaísmo Europeu vieram germinar em terras abençoadas, renascendo após atravessar os 7 Mares, como Jacob o fazia nos navios
do Lloyd Brasileiro. E aqui deram frutos, sob o calor tropical
acolhedor.
Em 14 de Maio de 1948, poucas horas após a Declaração
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
de Independência do Estado de Israel, o que ocorreu graças a
uma Assembleia-Geral da ONU presidida pelo grande brasileiro Oswaldo Aranha, Jacob viveu uma experiência marcante.
Em alto mar, avistou um navio já com as insígnias do nascente Estado de Israel, o que motivou a oportunidade de enviar
uma saudação naval, a primeira recebida oficialmente por um
navio israelense. Era a primeira manifestação em águas internacionais ligada à Independência do Estado de Israel.
Jacob serviu em diversos navios que navegaram em águas
costeiras e internacionais sujeitas a ataques de submarinos nazistas.
O Brasil foi o 15º país do mundo em tonelagem de navios
afundados pelo Eixo nazi-fascista. Centenas de brasileiros inocentes foram vitimados. Mesmo na condição de país neutro,
navios brasileiros foram afundados, o que levou o Presidente
Getulio Vargas a decretar guerra ao Eixo em agosto de 1942.
Portanto, tendo navegado extensivamente em Zona de
Guerra, Jacob esteve exposto aos mesmos perigos, tendo a Lei
o reconhecido como Ex-combatente por ter sido tripulante de
navio mercante que participou de comboio de transporte de
tropas ou de abastecimentos, navegando em Zona de Guerra
sob a orientação das Autoridades Navais Brasileiras, no período mar/1941 a mar/1945, nos seguintes navios:
Santos, Cayru, Raul Soares, Afonso Pena, Guaraloide,
Cubatão, Aspirante Nascimento.
Jacob foi agraciado pelo Presidente da República com a
Medalha de Serviços de Guerra com 3 Estrelas. Como reza o
Diploma, assinado em 25/jun/1948 pelo Ministro da Marinha,
Almirante Sylvio de Noronha, “pelos serviços prestados durante a II Guerra Mundial ao lado das Nações Unidas contra
os paises do Eixo, a bordo de navios mercantes nacionais ou
estrangeiros, empregados em assegurar o abastecimento e o
transporte de materiais necessários a obtenção da Vitória, tornou-se merecedor da Medalha Naval de Serviços de Guerra,
com 3 Estrelas”.
A exemplo de todo antigo Lobo do Mar, Jacob tinha muitas histórias para contar, como o salvamento de náufragos hinSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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dus ao largo da costa nordestina, o resgate de correligionários
de portos europeus, chegando até a correr risco de prisão pela
Gestapo.
Jacob era Maçom da Loja Estrela do Norte, a qual muitos
Oficiais das Marinhas do Brasil e Mercante estavam afiliados.
Felizmente foi avisado a tempo por Membros da Maçonaria
local que não desembarcasse, sob pena de ser enviado a um
campo de concentração.
Jacob, Valente Navegador, dedicado Marinheiro Brasileiro de fé judaica, nos deixou em 1973 aos 72 anos.
Jacob Gorender
Jacob Gorender, renomado escritor, jornalista e historiador, nasceu em 20 de janeiro de 1923, em Salvador,
Filho de Ana e Nathan Gorender, seu pai, judeu ucraniano socialista, não sendo sionista, emigrou em 1905 para a Argentina, e de lá seguiu para a Bahia, onde como tantos correligionários naquela época, ganhava o sustento como vendedor
a prestação.
Gorender estudou na Escola Israelita Brasileira Jacob Dinenzon e posteriormente no Ginásio da Bahia, renomada escola pública onde estudava a elite baiana.
Cursou a Faculdade de Direito onde teve contacto com
estudantes comunistas, que participaram ativamente da mobilização pela entrada do Brasil na II Guerra, após os torpedeamentos em 1942.
Em 1943, Gorender, Ariston Andrade e Mário Alves apresentaram-se como voluntários a FEB, este último não tendo
sido aprovado no exame médico.
Gorender foi soldado da FEB, tendo servido no 1° Regimento de Infantaria, o Regimento Sampaio, da Vila Militar, Rio
de Janeiro, onde integrou o Pelotão de Transmissões, participando das batalhas da Tomada de Monte Castelo, Montese,
Campanha dos Apeninos e a ofensiva até Piacenza.
Embarcou para a Itália com o 1° Regimento de Infantaria
aos 22 set 1944, retornando com a mesma unidade em 22 ago
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
1945. Contou tempo no Teatro de Operações da Itália de 06
out 1944 a 11 ago 1945, sendo licenciado do serviço ativo
aos 15 set 1945, como Reservista de 1ª Categoria, tendo sido
agraciado com a Medalha de Campanha.
Seu Comandante foi o Capitão Castello Branco, e o Comandante do Regimento o Coronel Caiado de Castro.
Em Pistóia, na Toscana, freqüentou a sede do Partido Comunista Italiano, presenciando discurso de Palmiro Togliatti
[1893 – 1964], secretário–geral do PCI e homem de confiança
de Josef Stalin na Itália.
De volta ao Brasil militou no PCB, legalizado em 1945. Foi
sócio-fundador da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil.
Jacob, um dos grandes vultos intelectuais da FEB, reside
atualmente em São Paulo, sendo Professor Visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Jacob Perelmann
Jacob nasceu aos 29 jun 1920, filho de Marcos e Sabina
Perelman.
Embarcou para a Itália aos 23 nov 1944 com o Depósito
de Pessoal da FEB, retornando em 17 set 1945 com a mesma
unidade. Era 3° Sargento.
Jacob Perelman, sargento de Niterói, falando em yiddish
quando estava de guarda a prisioneiros alemães da 148ª Divisão de Infantaria, que se rendeu a FEB, disse-lhes que era
judeu e que poderia matá-los, mas que não o faria porque não
era como eles:
“Se fossem vocês que tivessem me aprisionado, teriam me
matado aqui ou em um campo de concentração, pois eu sou
brasileiro e judeu. E é exatamente por ser brasileiro e judeu
que eu não vou fazer isso com vocês”.
Em 15 mai 1945, gozando de licença em Florença, encontrou casualmente soldados da Brigada Judaica da Palestina,
Moiche Lerner e H. Bana, com quem confraternizou na ocasião, juntamente com o Soldado Nilton, da sua unidade.
Uma Brigada Judaica participou da II Guerra Mundial,
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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junto aos ingleses no leste da Itália, perto de Riccione, onde
há um Cemitério que reune todos os mortos.
Integrava os chamados “Exércitos menores” (havia também os canadenses e malteses lutando naquela área), que participaram da libertação da Itália.
Em 06 jun 1945 foi elogiado individualmente pelo Comandante do 2° Batalhão, Major Walter da Silva Torres.
Jacob era de Niterói – RJ, e no seu retorno o Círculo Israelita de Niterói promoveu uma festa de boas-vindas em sua
homenagem, em ago 1945, onde ele aprece na foto com mais
2 militares, não tendo sido possível esclarecer se eram também
da FEB e judeus ou não.
Foi licenciado do serviço ativo aos 02 set 1947.
Na vida civil foi Assessor Parlamentar do Senador e Marechal Caiado de Castro, no Palácio Monroe, antiga sede do
Senado no Rio de Janeiro, no período 1957-1960.
Era Sócio Fundador da Associação Nacional dos Veteranos
da FEB, matrícula 295. Recebeu a Medalha Marechal Mascarenhas de Moraes, concedida pela ANVFEB. Era bastante ativo
junto a associação.
Faleceu prematuramente em 02 abr 1973 aos 53 anos, de
doença incurável.
Jacob Zveiter
Jacob Zveiter nasceu no Rio de Janeiro – RJ no dia
15/01/1924, filho de Moysés Zveiter e Geny Zveiter, é irmão
do Ministro Waldemar Zveiter.
Serviu na Base Aérea do Galeão e em Brasília, onde e
reformou-se em 08/10/1969 no posto de tenente coronel.
Serviu em zona de guerra de 27 jan 1944 a 08 mai 1945,
como especialista em Controle de Trafego Aéreo.
Estudava medicina no Rio de Janeiro, quando foi convocado na classe de 1924 para guerra. Foi transferido do Exército
para Aeronáutica. Dentre outras missões realizou o patrulhamento do litoral brasileiro nos aviões Foch Volff e PBM Prol
Bout Marine, na época em que submarinos alemães faziam
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
reabastecimento clandestinos nas praias de Atafona e Grussaí
(Campos – RJ) e roubavam areias monazíticas no litoral do Espírito Santo.
De tenente a tenente coronel obteve elogios e citações no
curso da carreira,
Casou-se com Violet Radcliff Zveiter que trabalhou como
voluntária em fábrica de pólvoras e foguetes dos Feuu, no esforço de guerra americano.
Finda a guerra, seguiu a carreira militar.
Tem três filhos (Geny, Clara e Spencer).
Reside em Brasília com esposa, filhos, netos e bisnetos.
Serviu com os brigadeiros Eduardo Gomes, Inácio de Loiola Daher e Anísio Botelho
José Segal
Segal nasceu na cidade do Rio de Janeiro aos 25 mar 1925,
filho de Moyses Segal e Fany Segal. Sua familia originalmente
radicou-se em Nova Friburgo – RJ.
Em 26 out 1944 concluiu o Curso de Infantaria no CPOR/
RJ com a media 5,75, em 205° lugar em uma turma de 370 alunos, sendo declarado Aspirante a Oficial da Reserva da Arma
de Infantaria, e incorporado ao Centro de Recompletamento
da FEB – CRP/FEB na Vila Militar,
Sua unidade embarcou no navio de transporte de tropas
americano Gen Meiggs com destino ao Teatro de Operações
da Itália.
Segal e outros colegas permaneceram no Brasil guarnecendo o acervo da unidade para futuro emprego em caso de
necessidade, o que acabou não acontecendo devido ao término do conflito.
Aos 19 mai 1952, o Presidente da República concedeu ao
Ten Segal a Medalha de Guerra, por ter cooperado no esforço
de Guerra do Brasil.
Segal reside no Rio de Janeiro, tendo exercido a Odontologia durante várias décadas, no Serviço Publico Municipal e
em consultório particular no Largo do Machado.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Leão Stambowsky
Leão nasceu em 30 jan 1923 em Salvador-BA , tendo
sido incorporado a Marinha do Brasil, como Aprendiz de Marinheiro e mais tarde Marinheiro (Maquinas) MN-EL 2 Cl, tendo
servido em operações de guerra embarcado no Cruzador Rio
Grande do Sul, no Tender Belmonte e no Encouraçado Minas
Gerais.
Era filho de Neiman e Rachel Lanis Stambowsky. Frequentava a Hebraica do Rio de Janeiro, na Rua das Laranjeiras.
Os judeus tem uma grande tradição naval. Como se sabe
o cristão novo Gaspar da Gama aqui chegou nas caravelas de
Cabral, e Abraham Ibn Ezra, um dos primeiros integrantes da
Escola de Sagres, estabelecida pelo Infante Dom Henrique, desenvolveu os primeiros instrumentos para navegação que possibilitaram a descoberta do caminho marítimo para as Indias
e as grandes navegações portuguesas, como a descoberta do
nosso Brasil.
Assim, seu filho Eduardo Stambowski tomou a si a honrosa tarefa de preservar a memória deste dedicado ex-combatente, que cumpriu inúmeras missões embarcado em comboios
de escolta a navios mercantes nacionais, assegurando as comunicações marítimas vitais, tendo participado de operações
conjuntas com a IV Esquadra Americana, tudo isso no período
de 1/set/1942 a 31/jul/1945.
Lembra ele que seu pai nunca transigiu quando como judeu sofreu alguma discriminação, reagindo ainda que isso lhe
custasse eventualmete alguma punição. Jamais ocultou a sua
identidade religiosa, exemplo de coragem e diginidade.
Leão passou para a reserva no posto de 2º tenente aos
21/maio/1949, após 9 anos, 2 meses e 14 dias de serviço em
unidades navais.
Este bravo marinheiro do Brasil faleceu aos 20 de novembro de 1971, e sua memória ficará eternizada como uma das
glórias da comunidade judaica brasileira na sua contribuição
a derrota do nazismo e restabelecimento das liberdades na Europa e no Mundo.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Leão nunca se afastou do cumprimento do dever, como
bem o atesta o diploma recebido ao ser agraciado com a Medalha de Serviços de Guerra com 2 Estrelas, concedida pelo Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil em 21 de abril
de 1949, pelos valiosos serviços prestados ao pais, e assinado
pelo Ministro da Marinha Almirante Sylvio de Noronha.
Apenas em passant não devemos esquecer que o cristãonovo Fernando de Noronha foi um dos primeiros arrendatários
de terra do Brasil.
Assim talvez quem assinou aquele diploma de serviços
relevantes, até sem o saber, tivesse correndo em suas veias
alguns infinitésimos do precioso sangue judaico...
Leão honrou a sua imaculada farda branca, como vemos
em antigos retratos, fazendo jus a memória do Imperial Marinheiro Marcílio Dias, e tendo sempre em mente os imortais
Sinais de Barroso alçados ao mastro principal da Fragata Amazonas no Rio Paraguay.
– O Brasil Espera que Cada Um Cumpra o seu Dever
– Máquinas à Frente a Toda Força que a Vitória e Nossa.
Marcos Cerkes
Marcos nasceu aos 10 mar 1925, filho de Isaac e Raquel
Cerkes.
Cursou o CPOR/RJ, sendo declarado Aspirante a Oficial
da Arma de Infantaria.
Foi 1° Tenente na FEB.
Faleceu aos 06 abr 2003.
Marcos Galper
Marcos Galper, filho de Samuel Galper e Ana Galper nasceu no Rio de Janeiro em 10 de outubro de 1921. Casado com
Dona Paulina Galper, Reside em Copacabana
Seu pai era sobrinho de Jacob Scheineider, grande ativista
da Comunidade Judaica e ativo no teatro iídiche da época.
Em 1926, a família saiu do Rio fixando-se em Sorocaba
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onde o pequeno Marcos frequentou a Escola de Freiras, por
falta de outras.
Em 1930, mudaram-se para Campinas voltando depois
para o Rio de Janeiro onde Marcos entrou no Colégio Pedro II,
segundo colocado no exame de admissão, com média de 93
pontos, um ponto só menos do que o primeiro colocado.
Prestou exame, em 1938, na Escola Naval obtendo o primeiro lugar em matemática, mas preferiu cursar a Faculdade
de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje UFRJ), na área de
matemática.
Concluiu o Curso de Humanidades no Colégio Pedro II
sendo declarado apto para o serviço do Exército, ingressando no
CPOR/RJ como Aluno do Curso de Artilharia aos 16 dez 1940.
Em 22 jan 1943 foi declarado Aspirante a Oficial da Reserva da Arma de Artilharia, em 47. lugar na turma de 49 alunos.
Na época o curso do CPOR tinha a duração de 3 anos.
Entre seus colegas de turma de Artilharia, podemos citar Manoel Jairo Bezerra, professor de Matemática que se notabilizou
por ser um dos “4 Autores” do livro famoso adotado nas melhores escolas do Brasil, Mauro Thibau, Jayme Jakubovicz, Carlos
José Tuttman e os irmãos Antônio e Mário Raphael Vannutelli.
Mário Raphael Vannutelli reside em Brasília, tendo completado 90 anos em 27 jul 2008. Serviu junto com Galper na FEB.
As Unidades de Artilharia – o 2° Grupo do 1° Regimento
de Obuses Auto Rebocados, o 1° Grupo de São Cristóvão, comandado pelo Coronel Levi Cardoso e o 3° Grupo, do Coronel Souza Carvalho, que veio de São Paulo, faziam manobras
na região de Campo Grande e Barra da Tijuca.
Galper era Oficial de Motores da Bateria de Comando e
Serviços, do 2°/1° ROAuR, e depois Observador Avançado
da 3ª Bateria, missão de alto risco junto as primeiras linhas do
avanço da Infantaria, quando escapou da morte por ocasião
de rajada de fogo amigo que atingiu a cota 911 onde estava
posicionado.
Chegando a Itália o 2°.Grupo de Galper e Vannutelli se
deslocou para região de Vecchiano, recebendo ordem, assim
como o 6º RI, de engajar-se na frente, em área já determinada
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
pelo Comandante do IV Corpo.
O II Grupo, comandado pelo Coronel da Camino, ocupou
posição vizinha ao Monte Bastione – depois da guerra, essa
Unidade foi denominada Grupo Monte Bastione.
Lá disparou o primeiro tiro, com a Primeira Bateria do Capitão Mário Lobato Vale. Coube à Primeira Bateria dar o primeiro tiro, no Vale do Sercchio, fato glorioso para a Artilharia
brasileira, a fim de apoiar as ações do 6º RI na captura de várias localidades importantes como Barga, Massarosa, Galicano
e tantas outras.
No I Grupo de Artilharia, comandado pelo Tenente-Coronel Valdemar Levi Cardoso, estava seu irmão, 2º Tenente Antônio Vanutelli. Era subalterno da Bateria Comando do I Grupo,
oficial de manutenção da subunidade e recebia muitos elogios
nessa função. O Comandante da Bateria Comando era o Capitão Odemar Ferreira Garcia, que mais tarde, chegaria a General. Os dois, únicos filhos, sairam de casa, no Rio de Janeiro,
deixando os pais, e seguiram para Itália, para a guerra, no 1º e
no 2º Escalão. Antônio, o irmão mais novo, é falecido.
Na ofensiva de abril, a Unidade prosseguiu rumo ao Vale
do Pó, sabendo que vinha do sul, a 148ª Divisão do Exército
Alemão, com remanescentes da 90ª Divisão Panzer e da Divisão Italiana Monterosa no propósito de atravessar os rios Pó e
Panaro e prosseguir para o Norte. Houve, no início, uma refrega, porquanto os brasileiros perceberam, através da ação do 1º
Esquadrão de Reconhecimento, que o inimigo pretendia furar
o cerco. Houve tiro de Artilharia e ação da Infantaria. Como
estavam com muitos feridos, resolveram prosseguir com os entendimentos junto ao Comando da FEB para que se procedesse
a rendição.
Vannutelli esteve presente ao evento. Perto de 20 mil homens foram feitos prisioneiros. O comandante dessa Divisão
Alemã era o General Otto Fretter Pico e seu Chefe de EstadoMaior era o Major W. Kuhn, considerado um oficial de elite,
naquela época.
Coincidentemente, na FEB estava o Coronel Franco Ferreira, um oficial de Estado-Maior, de Cavalaria, que tinha sido
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adido militar na Alemanha antes da guerra, falava muito bem
alemão.
Para ir a guerra, Galper havia conseguido a intervenção do
general Cordeiro de Farias. Foi observador avançado da FEB,
regulando os tiros da artilharia junto à infantaria participando
também de patrulhas e tomando parte na batalha de Monte
Castelo, sempre como observador avançado. Possui a Medalha de Guerra e a de Campanha e é muitas vezes elogiado na
sua Folha de Alterações.
Desembarcou no Rio de Janeiro um dia antes do primeiro
escalão trazendo material de guerra capturado e também brasileiro para apresentá-lo, no dia seguinte, na parada dos pracinhas na Avenida Rio Branco.
No Rio de Janeiro, participou de curso no CPOR (COR)
para oficiais, de volta da Itália, para ficar na ativa, durante dois
anos, tirando o primeiro lugar em matemática.
Um mês antes do curso terminar pediu demissão por ter
sido nomeado professor na Universidade, cadeira de Complemento de Matemática.
Saiu do Exército 1° Tenente, mais tarde promovido a Capitão e em seguida a major da reserva.
Na Itália, tinha visitado a Brigada Judaica, perto de Nápoles. Após a fundação do Estado de Israel, vieram oficiais daquele país para o Rio convidando Marcos para ser instrutor
do exército da nova nação. Recusou o honroso convite; não
queria voltar a vida militar.
Após a guerra, tanto Galper quanto Vannutteli cursaram o
COR – Curso de Oficiais da Reserva no CPOR/RJ, que possibilitava aos Oficiais R/2 ingressarem na ativa.
Vannutelli chegou a Tenente Coronel, e Galper a Major,
sendo a sua Carta Patente de 15 mai 1969 assinada pelo General Aurélio de Lyra Tavares.
Aos 11 jun 1997, as peças de 105 mm do Curso de Artilharia do CPOR/RJ receberam as denominações históricas de
Ten Marcos Galper, Ten Mário Vannutelli, Ten Antônio Vanuttelli e Ten Alfredo Nicolau.
Gaper após o término da guerra esteve no famoso cemi118
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
tério de Anzio, onde viu centenas de Estrelas de David nos
túmulos dos soldados judeus que tombaram no famoso desembarque naquela localidade italiana.
Formou-se Bacharel e Licenciado em Matemática pela
FNFi, e Engenheiro Civil e Eletrotécnico pela UFMG.
Na vida civil foi Professor do Colégio Pedro II, Matemática e Física, Professor do DASP, Professor da Escola Técnica Nacional,Professor Adjunto do Instituto de Matemática da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Meteorologista do Escritório de Meteorologia do Ministério da Agricultura-Assessor
técnico do Ministro do Interior, Membro do Conselho Consultivo da SIDESC (Cia Siderúrgica de Santa Catarina), Membro
da Comissão de Expedições Científicas do Conselho Nacional
de Pesquisas.
Com tamanha experiência, Galper colabora ativamente
até hoje com a ANVFEB, onde é o Vice-Presidente, já há muitos anos integrando a Diretoria.
Recebeu as Medalhas de Guerra, de Campanha e Marechal Mascarenhas de Moraes.
Mauricio José Pinkusfeld
2º Comissário da Marinha Mercante.
O único Herói Brasileiro Judeu da II Guerra Mundial que
se sabe desaparecido em decorrência de operações bélicas.
O Mar foi o Túmulo de um Jovem Sonhador
In Memoriam
2 nov 1924 - 16 ago 1942
“... Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar.
Valeu a pena? Tudo vale a pena
se a alma não é pequena...”
Fernando Pessoa, cristão-novo
e o maior dos poetas portugueses
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Os Hebreus possuem tradição de grandes navegadores,
desde os marinheiros do Rei Salomão, que chegou a um lugar
nas costas da África onde hoje fica a Etiópia, encantando-se
pela Rainha de Sabbah, daí viverem hoje em Israel tantos de
seus descendentes diretos, de lá saídos como refugiados.
Possivelmente um gene remoto de um daqueles tripulantes que conduziram a Corte do Rei Salomão, adormecido
per secula seculorum, despertou em pleno Séc XX naquele
garoto sonhador da Tijuca, que secretamente admirava o
garboso uniforme branco do cunhado, marido da sua irmã
Amália, e pensava um dia vir a ser também um Oficial de
Marinha.
Mas quando uma criança nasce, o seu destino já foi traçado, e nada poderá mudá-lo. Para o cunhado Boris Markenson,
o Grande Arquiteto do Universo reservara uma carreira que o
levaria ao posto de Almirante.
Entretanto, para o jovem Pinkusfeld a primeira dificuldade viria no exame médico, ainda que aprovado nas provas para a Escola
Naval. Posteriormente, incentivado pelo cunhado Boris, ingressou
na Marinha Mercante, classificado em 4º lugar, em fev/1941, mas
a sua carreira lamentavelmente viria ser muito curta.
Em dez/1941 conclui o curso e em jan/42 o Estágio a Bordo, recebendo a Carta de 2º Comissário.
Já na segunda viagem, 16/ago/1942, o Aníbal Benévolo,
do Lloyd Brasileiro, foi alcançado na popa e na casa de máquinas por dois torpedos do submarino nazista U-507, quando navegava de Salvador rumo a Sergipe; atacado sem prévio aviso
as 4h15min da madrugada, foi ao fundo com incrível rapidez
em menos de 2 minutos. Morreram afogadas 150 pessoas, sendo 83 passageiros e 67 tripulantes, quase todos ainda recolhidos a seus camarotes, onde encontraram a morte.
Apenas o Comandante, o cozinheiro e mais outro tripulante
se salvaram. O mundo desabou sobre o Pai, Sam Pinkusfeld, e a
Professora Bertha Abramant Pinkusfeld. Ela jamais se recuperou
do golpe sofrido, a perda do caçula de 5 irmãos, o Buby.
Dizia que quando um dedo dói, a mão toda dói. Somente encontrava algum consolo indo ao túmulo do Pai, Mauricio
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Abramant, no Cemitério do Caju, onde fora enterrado em 1902.
Ainda não havia cemitério judeu, e sim a ala dos judeus e protestantes. Ali buscava conforto chorando a morte do filho querido,
que nem túmulo tivera, tendo que ser quase carregada de volta.
Vindo da Prússia nas primeiras levas de imigrantes judeus
do séc XIX, o patriarca Mauricio foi sempre lembrado, pois
a tradição conservou seu nome nos netos, bisnetos, trinetos,
tetranetos, gerando vários homônimos ao longo das décadas,
inclusive conhecido Deputado pelo Rio de Janeiro.
Não só de Portugal eram as lágrimas de que falava Fernando Pessoa. Um milhar de mães do Brasil também as verteram,
pranteando filhos covardemente assassinados em nossos navios
afundados pelos nazistas, chorando junto com a Professora Bertha, que ensinava piano no Conservatório de Villa Lobos.
Mauricio se fora na flor dos seus 18 anos. A irmã Elza pouco depois do naufrágio o reviu em um sonho. Dizia estar em
um lugar chamado Baia Negra, na costa de Sergipe. Próximo
ao local do naufrágio.
Por incrível, o lugar existia mesmo. Constava das cartas
náuticas. A família esperançada se desdobrou enviando fotos
e pedidos de informação para o lugar, ajudada pelo cunhado
Boris, à época Capitão-Tenente.
Mas de nada adiantou. Mauricio se fora para sempre. O
cozinheiro que se salvara milagrosamente visitou a família,
relatando como os nazistas metralharam impiedosamente os
sobreviventes nos botes salva-vidas.
O U-507 maldito afundou 7 navios brasileiros em 4 dias
com perda de 607 vidas preciosas, de 15 a 19 de agosto de
1942, ao longo da costa de Salvador a Maceió, num total de
14.795 TDW.
Diante do clamor popular, aos 22 de agosto de 1942, o
Presidente Getulio Vargas reconheceu o estado de beligerância entre o Brasil e os estados agressores do Eixo, a Alemanha
e a Itália.
Pode-se inferir portanto que foram estes atos de barbárie
nazista de um submarino que determinaram a final o ingresso
do Brasil na guerra.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Em 13 de janeiro de 1943, um Catalina da F.A. Americana afundou o U-507 com bombas de profundidade a NE de
Natal-RN. Todos os seus 54 tripulantes pagaram com a vida os
crimes praticados contra navios mercantes indefesos.
A Marinha Mercante arcou com as maiores perdas humanas brasileiras na Guerra, 975 mortos em 31 navios afundados.
A Marinha do Brasil perdeu 468 homens em 3 navios afundados. A FEB teve 463 mortos, e a FAB, dado o contingente, um
número comparativamente menor, 8 pilotos.
A família nunca recebeu nada das Autoridades, nem da
Comunidade Judaica, diante da enorme perda de seu filho
querido, aventurando-se nos mares infestados de submarinos,
para que o Brasil pudesse estar ligado de Norte a Sul, numa
época em que não havia as estradas que temos hoje.
Mas os verdadeiros bravos não temem, e sabem honrar o
juramento que pronunciam com destemor ao graduar-se nas
cerimônias de formatura:
“... prometo cumprir rigorosamente...”.
as ordens das autoridades
a que estiver subordinado ...
... respeitar os superiores hierárquicos, ...
... dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria;
cuja honra, integridade e Instituições,
defenderei, com o sacrifício da própria vida !“
Mauricio foi o único caso até agora conhecido dos 42 Excombatentes judeus que deu a vida pela Pátria em decorrência
de operações bélicas, como tripulante de navio mercante a
serviço do progresso do Brasil.
Possivelmente uma pensão especial e uma medalha postmortem aguardaram todo este tempo em alguma repartição.
Mas nada nunca foi requerido.
Durante 63 anos sua história foi esquecida. Mas em 1º
de maio de 2005, a memória daquele jovem brasileiro foi homenageada diante do Túmulo do Soldado Desconhecido, no
Monumento aos Mortos da II Guerra Mundial no Aterro do
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Flamengo, Rio de Janeiro.
A irmã Doroteia Lola Pinkusfeld Grossman, que tinha 11
anos quando Mauricio partiu para a viagem sem volta, última
remanescente, conduziu a tradicional coroa de flores aposta
diante da Chama Eterna, sob uma chuva de pétalas de flores .
Sem ter tido sequer uma matzeivá (pedra tumular), o nome de
Mauricio está eternizado no mármore do Monumento dos Pracinhas, junto com centenas de outros brasileiros sacrificados
no Altar da Pátria, entre os quais também um Moisés, como a
lembrar o nosso grande Patriarca.
Melchisedech Affonso de Carvalho
Nascido 16 nov 1928 em Fortaleza – Ceará, filho de Da.
Dalila M. de Carvalho, descendente de índios tabajaras e do
capitão do exército e pastor presbiteriano, Manoel Afonso de
Carvalho.
Fez o curso de grumete na E.A.M Almirante Batista das
Neves em Angra dos Reis.
Prestou serviços efetivos de operações de guerra em missão
de comboio e patrulhamento, durante o período da 2° Guerra
Mundial, quando embarcado a bordo do Destroier Bracui.
Prestou ainda, serviços embarcando no Tender Ceará,
Contra Torpedeiro Mariz e Barros e Destroier Bebebribe, Força
de Contratopedeiros, e 1° Flotilha de Contra Torpedeiros.
É Diretor Cultural da Associação dos Ex Combatentes do Brasil Seção do Rio de Janeiro, Diretor de Patrimônio da Associação
de Amigos da Marinha e Membro da The Royal British Legion e
The British & Commonwealth Society of Rio de Janeiro.
Tenente reformado, Melchisedech Afonso de Carvalho
dedica-se ativamente a causa dos Veteranos, sendo assiduo
nos eventos promovidos pela Marinha alusivos a memória dos
ex-combatentes.
É ainda Assistente da Presidente da Fundação Cultural,
Educacional e Artística Maestro Eleazar de Carvalho, onde colabora para divulgar a memória e obra do seu saudoso irmão,
que também serviu à Marinha do Brasil, tocando tuba em diSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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versas corporações e em 1928, já no Rio de Janeiro, estudando
solfejo e harmonia e integrando a Banda dos Fuzileiros Navais.
No ano seguinte, fez concurso para a Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Para prestar o concurso teve que sair
da Marinha, que perdeu um músico, mas o Brasil ganhou o
Grande Maestro Eleazar de Carvalho, a quem a música erudita
no Brasil tanto deve. Regeu as principais orquestras do mundo
e ensinou em grandes escolas americanas. Sempre voltou. Dizia: “meu lugar é aqui!”
Melchisededch participou do 5° vôo de apoio da FAB à Operação Antártica - XXI PROANTAR, realizado em maio de 2003.
Possui diversas condecorações, entre as quais Serviço de
Guerra,Força Naval do Nordeste, Ordem Mérito Naval, Medalha Mérito Tamandaré, Medalha Mérito do Pacificador, Medalha de Mérito do Ex-Combatente do Conselho Nacional da
Associação dos Ex- Combatentes, Medalha da Vitória da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil Seção do Rio de Janeiro,
Medalha de Mérito Mascarenhas de Moraes, Medalha Amigo
da Marinha, Honra ao Mérito Maçônico, Medalha Tenente
Max Wolff Filho.
Moises Gitz
Moises nasceu em Cruz Alta – RS, aos 25 out 1925, filho
de Firmina Silverston Gitz e Salomão Gitz.
Moises estudou no Heder (escola judaica) e atualmene frequenta o Círculo Israelita de Porto Alegre, onde reside.
Na juventude era vendedor, até ser incorporado a FEB,
como Cabo, tendo embarcado aos 08 fev 1945 integrando o
CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal e retornado em
17 set 1945 com o DP/FEB, Depósito de Pessoal da FEB, tendo
sido licenciado em 02 out 1945.
Seu Comandante foi o Coronel Arquimino de Carvalho.
Pelo lado materno Moises descende de escoceses e ingleses, sendo seus avós Moritz e Rachel Silverston. Seu bisavô era
o Rabino Jacob Silverston, que no começo do século passado
planejou o arruamento da cidade de Petach Tikva em Israel.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Moritz trabalhava como gerente de uma fábrica, WaterPool, cujo proprietário era seu irmão. Moritz tinha idéias socialistas, e desentendimentos com o irmão em função de uma
greve determinaram seu afastamento, tendo emigrado para a
Argentina em 1880 e de lá para o Brasil em 1912.
Moises reside atualmente em Porto Alegre.
Moyses Chahon
Moyses Chahon nasceu aos 27/08/1918 no Rio de Janeiro,
filho de José Ascher Chahon e Mathilde Gammal. Em princípios do séc. XX, seus pais emigraram de Izmir, Turquia, país
onde florescia importante comunidade judaica, há poucos
anos vítima do ódio que dinamitou uma sinagoga.
Após longa viagem de navio, a família foi morar na Rua
do Rezende. Preferiram o Brasil, País do Futuro no dizer do
correligionário Stefan Zweig, seguindo os passos de outros que
haviam partido mais cedo em busca dos ares mais amenos do
Novo Mundo.
Ali perto, Moyses estudou no Colégio Anglo-Americano
na Praia de Botafogo, e depois no Colégio Pedro II (Internato).
Cursou a Escola Militar do Realengo, praça de 28 abr 1939,
tendo sido declarado Aspirante a Oficial da Arma de Infantaria
aos 3 dez 1941.
Promovido a 1º Tenente, foi transferido para o Rio, onde
foi servir no Sampaio, o I Regimento de Infantaria, na Vila Militar. Os jornais de Florianópolis em jan/1944 noticiavam os atos
de promoção e transferência do Ministro da Guerra, já naquela época destacando suas qualidades promissoras, lamentando
a sua ausência e referindo-se em termos bastante elogiosos.
Embarcou para a Itália no 2º Escalão, aos 22 / set /1944. Na
FEB foi incorporado a 6ª Companhia do Regimento, hoje o 1º
Batalhão de Infantaria Motorizada do Grupamento de Unidades Escola. Comandou um pelotão de fuzileiros, nos ataques a
Monte Castelo em 12/12/1944 e em 21/02/1945; Conquistou
as posições inimigas em La Serra - 24/02/1945.
De amarelecidos recortes de jornais zelosamente preserSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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vados pela Família pode-se reviver uma história recoberta pela
poeira do tempo. A emoção de ler hoje estes relatos é a mesma
de exatos 60 anos, aos 24 de fevereiro de 1945, 3 dias após a
Tomada do Monte Castelo.
Segundo despacho do correspondente de guerra Joel da
Silveira, enviado especial da Agencia Meridional de algum
ponto da Itália, ao cair da tarde os pelotões comandados pelos Tenentes Moises Chahon e Apolo Miguel Rezk receberam
ordem de avançar sobre os morros de La Serra. Após 6 horas
de combate, a posição foi tomada, ficando feridos os Tenentes
Apolo e Moyses.
A valente conduta dos soldados sob pesado fogo alemão,
tomando 2 pontos fortemente defendidos foi elogiada pelo
Comandante do V Exército Americano, devido a sua grande
importância para as operações futuras.
O Correio da Manhã sob a manchete É Carioca o Tenente
Chahon divulga que ele tem 26 anos, filho de Matilde Chahon
Gammal, o endereço na Av N. Sa. de Fátima, 86/501, e que
esta senhora, alem do Ten Moyses, tem outro filho lutando
pelo Brasil, o qual se chama Alberto e é tenente do Corpo de
Transmissões.
Ao final da guerra, em 23 de maio de 1945, ainda na Itália, na cidade de Alessandria, o Comandante do V Exército
Americano, Tenente General Lucian Truscott agraciou os soldados brasileiros da FEB e da FAB que mais se destacaram com
as seguintes medalhas:
1 - Citação de Combate - Medalha “Distinguished Service
Cross” (Cruz de Serviços Distintos) – APOLLO MIGUEL REZK
(1G - 153466) – Primeiro Tenente R/2 de Infantaria.
2 - Citação de Combate - Medalha “Silver Star” (Estrela de
Prata) – MOYSES CHAHON (1G-163.603) - Primeiro Tenente
de Infantaria.
GERVAZIO DESCHAMPS PINTO (1G-149.061) - Segundo
Tenente de Infantaria.
JOÃO GUILHERME SCHULTZ MARQUES (1G-243.180)
- Primeiro Sargento de Infantaria.
AFONSO DE MELLO(1G-267.486) – Soldado de Infantaria.
126
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
3 - Citação de Combate - Medalha “Bronze Star” (Estrela
de Bronze) – concedida a 11 militares brasileiros, entre os quais
os Tenente Coronéis Humberto de Alencar Castello Branco e
Amaury Kruel, que um dia se tornariam Marechais do Exército
Brasileiro.
4 - Citação de Combate - Medalha “Air Medal” (Medalha
de Aeronáutica) – concedida a 20 pilotos de caça brasileiros,
Portanto, apenas 4 brasileiros receberam a Silver Star, entre os quais Moyses.
A única Medalha de Serviços Distintos, mais alta condecoração americana, foi concedida a apenas um brasileiro, o Ten R/2
Apolo, conhecido justamente como o maior herói da FEB, e que
comandava o outro pelotão da mesma 6ª Cia do Regimento Sampaio, junto com o pelotão de Moyses na Tomada de La Serra.
A citação expedida em Boletim do Quartel General do
V Exército, traduzida do inglês, concede a Silver Star a Moyses por atos de bravura em combate aos 23 de fevereiro de
1945, na conquista do importante objetivo de La Serra, onde
sob pesado e constante fogo de artilharia e morteiros conduziu seu pelotão no avanço sobre o ponto cotado 958, expulsando os alemães de posições extremamente bem fortificadas.
Confrontando intenso fogo inimigo e repetidos contra-ataques,
organizou e manteve a defesa da posição recém-conquistada,
ainda que penosamente, dado ter sido ferido ao início do engajamento. O Primeiro Tenente Moyses brava e heroicamente
liderou os seus soldados na derrota do inimigo. Ingressou no
Serviço Militar no Brasil.
Moyses recebeu ainda a Medalha Sangue do Brasil, por ter
sido ferido em ação, a Cruz de Combate de 2ª Classe, Medalha
de Campanha, Medalha de Guerra, e uma Citação de Combate
do General de Divisão João Baptista Mascarenhas de Moraes,
Comandante da FEB, expedida aos 23 de fevereiro de 1945,
onde se pode ler ao final:
“A combatividade, o espírito de sacrifício, a decisão inquebrantável, a elevada compreensão que tem da honra militar, a capacidade de comando reveladas pelo Ten Chahon,
são exemplos dignificantes que desejo por em relevo, para os
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
127
brasileiros que combatem na Itália.”
Recebeu ainda a Ordem do Mérito Militar de 1ª Classe,
Medalha Militar com Passador de Ouro (30 anos), Medalha do
Pacificador, e a Carta Patente de Cavaleiro de mérito da Ordem Militar e Hospitalar de são Lazaro de Jerusalém.
Moyses foi agraciado com a Cruz de Combate de 2ª Classe outorgada pelo Presidente da República; Em extensa citação no diploma, Moyses é louvado pela coragem com que
comandou seu pelotão, mantendo-se por 4 dias em em face
de sucessivos e violentos contra-ataques inimigos, sendo atacado a granadas de mão, desabrigado e sob fogo de artilharia
e morteiros. Nos dia seguintes melhorou as posições e repeliu
diversos contra-ataques, fazendo prisioneiros, tendo seu pelotão sofrido as maiores baixas da companhia.
Moyses retornou da Itália em 22 / ago / 1945. Transferido
para reserva no posto de General de Divisao aos 25 dez 1969,
e reformado em 22/set/1971.
Moyes Chahon, este bravo Soldado Brasileiro de fé judaica, Herói de La Serra, nos combates da Itália honrou a memória do valente cearense de Tamboril, Brigadeiro Antônio de
Sampaio, Patrono da Arma de Infantaria que dá nome ao seu
Regimento. Deixou nosso convívio em 1981 aos 63 anos.
Depoimento da Dra. Vera Chahon, filha do General Moyses Chahon e sobrinha do Coronel Alberto Chahon.
Dra. Vera Chahon é psicóloga no Rio de Janeiro, e gentilmente elaborou o relato que reproduzimos abaixo.
Julgamos oportuno preservar o estilo coloquial apenas
com ligeiras alterações, permitindo ao leitor conhecer o lado
familiar dos Irmãos Chahon, emotivo e tocante.
“Um pouquinho da história dos irmãos Chahon “
A FAMÍLIA
PAI - José Ascher Chahon - nascido em Rodes- Grécia (ele
se dizia turco na época, devido à guerras permanentes)
Chegou ao Brasil com seu irmão mais velho David.
MÃE - Mathilde Cohen (de solteira) - nascida em Smirna128
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Turquia, se dizia grega pelas mesmas razões. Falava ladino.
Faleceu em 1984.
Antes de chegar ao Brasil, minha avó Mathilde esteve antes na Argentina.
Meu avô José morreu jovem, aos 39 anos, deixando três
filhos, Rebecca, a mais velha e os dois meninos.
Papai ficou órfão aos 9 anos de idade e tio Alberto aos 7.
Vovô sofria de uma doença renal hereditária - rim policístico, que infelizmente meu pai herdou e que aos 62 anos foi a
causa de sua morte.
Muito pouco se falava desse avô, pois antes de falecer o
casal havia se separado - acredito que muito em função das
alterações da doença, que viemos mais tarde a conhecer em
nosso próprio pai.
Sempre que ele sentia dores nos rins, nos pedia para sentar
sobre suas costas fazendo peso, e lembrava-se que o pai lhe pedia
o mesmo, já separado da mãe e morando em um quarto de hotel.
Devido à situação financeira muito precária, minha avó
Mathilde passou a costurar para fora, e conseguiu bolsa de
internato para os dois meninos, no Colégio Anglo Americano.
Posteriormente tornou-se da alta costura, o que lhe garantiu
uma freguesia da “alta”. Digo isto, porque este fato teve influência na entrada dos meninos para as Forças Armadas. Inicialmente ao prestarem exames, foram barrados pelo fato de
serem judeus. Uma freguesa de vovó, esposa de um general
(Gen. Pondé) ao saber relatou ao marido, que então enviou
uma carta de recomendação, o que lhes abriu as portas.
Uma estrela de David no peito! Quanta diferença fez!
Contavam eles que foram muito discriminados no Internato, e até mesmo sofreram maus tratos por parte de uma diretora
- Miss Dayse, pois eram pobres, mal vestidos. Papai contava
do solado de seu sapato, formando uma língua, das camisetas
surradas... Muito diferente dos outros meninos.
Interessante que nunca transpareceu nenhuma queixa,
ressentimento ou mágoa. Acho que nos contava estas passagens muito no sentido de nos ensinar a valorizar as conquistas
e o esforço necessário para se vencer na vida.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
129
Os estudos acima de tudo!!! Ele foi exigente neste ponto,
mas a gente nunca se sentiu pressionado, era muito suave a
forma como exerceu sua função paterna. Minha mãe às vezes
se dirigia a ele como sendo “pai-mãe”, pois era ele que nos levava ao colégio (prá que ela pudesse dormir um pouco mais),
preparava merenda, comprava livros e encapava os cadernos,
ajudava nos trabalhos de escola. E sempre fazendo amizade
com nossos mestres. Só mais tarde percebi que era uma forma
de controlar nosso “andamento”, mas também era tão sutil e
natural, que nunca nos sentimos perseguidos ou envergonhados por sua presença constante.
Lembro uma vez - meu tio Alberto já em idade avançada
comentando o fato, e tomado de tanta emoção que me comoveu, pois não sabia que tinham sofrido a tal ponto.
Depois estudaram no Pedro II e de lá direto para a Escola
de Cadetes, após vencerem as provas dificílimas, inclusive de
esforço físico, e com a carta de recomendação do Gen. Pondé.
Seguiram carreira, papai serviu inicialmente em Florianóplolis.
Parênteses: (Nossa, Israel, ao escrever estas linhas acabei
me emocionando tanto! Fico a pensar como deve ter sido difícil a vida para eles ainda tão pequenos, vivendo a separação
dos pais, em uma época em que isto não era nada comum.
Em seguida órfãos de um pai muito querido, e separados da
mãe ao viverem no internato... Acho que para quem conseguiu vencer essas batalhas da vida e da alma, a guerra foi... não
dá para saber !).
Na época da guerra, minha avó foi chamada ao Quartel
General, pois tendo dois filhos militares, e sendo viúva, somente um deveria ir para a Itália. Escolha de Sofia! Ela retrucou
que iriam os 2, ou nenhum.
Daí em diante você já conhece parte da história.
Tio Alberto ocupou função nas telecomunicações, e ficamos sabendo das “ordens” que eram dadas, quando havia problemas nos fios, sei lá.
Na época pode-se imaginar a precariedade de tudo.
Ao voltarem da guerra, fizeram de imediato exame para
130
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
a Escola Técnica Militar (atual IME). Loucos! Passaram, mas
tiveram que esperar o ano seguinte para que fossem então promovidos a Capitão (houve alteração impedindo que 1º Ten.
ingressassem no IME).
Meus pais se casaram no Grande Templo, em 26 de janeiro de 1950.
Ambos foram grandes chefes de família, pais amorosíssimos, maridos maravilhosos, segundo as esposas.Também filhos
gratos e generosos, pois com as economias que fizeram durante
a guerra, vovó comprou uma casa geminada em Botafogo, cujo
aluguel sempre foi revertido para o casal (ela e o padrasto, um
verdadeiro e amadíssimo pai postiço e avô - Selim Gammalnascido em Alexandria, Egito). Os dois sempre se ocuparam do
bem-estar do casal, mesmo morando fora do Rio.
Papai Moyses após concluir Engenharia Mecânica de Automóveis e Industrial, fez arquitetura na Universidade do Brasil
(atual UFRJ). Mas ele era um compositor, fazia músicas, cantava e sua grande frustração era não tocar nenhum instrumento.
Isto nunca lhe impediu de cantar nos bailes, o que me surpreendia, porque apesar de muito expansivo e dado, ele era um
tímido lá no seu interior. Uma figura! Amava esportes, e ao
receber um trote da turma de Cavalaria, passou a se dedicar à
montaria. Tenho seu uniforme completo de equitação - menos
o quepe.
Aos 36 anos de idade foi diagnosticado como portador
da doença paterna, e lhe deram de 6 meses a um ano de vida,
devido à falta de recursos da medicina.
Outra batalha a enfrentar - dietas absolutas, privações de
toda ordem - inclusive de praticar esportes.
Ele cumpriu rigorosamente tudo que lhe favorecesse uma
melhor qualidade de vida, e assim foi! Trabalhava normalmente, sem nunca faltar, enfim, levou vida normal e controlada.
Gostava muito de viver! Fazia tudo pela família.
Saímos do Rio para Itajubá, sul de Minas (muito distante
na época) e lá ele serviu na Fábrica de Armas de Itajubá.
Em Juiz de Fora, serviu no Quartel sede da 4ª Região Militar, tendo chefiado o setor de moto-mecanização de toda a ReSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
131
gião Militar, em especial em março de 1964, quando apoiou
a Revolução juntamente com o Gen. Olímpio Mourão Filho,
sendo o responsável pela mobilização das tropas para o famoso encontro no rio Paraibuna.
Nunca, porém, rompeu com seu ideal de democracia, entendendo que os Presidentes militares deveriam ter realizado a
transição de poder aos civis, muito antes do ocorrido.
Mesmo morando fora , e não tendo sinagoga nem famílias
judias onde morávamos, sempre vínhamos ao Rio para todas
os festejos judaicos.
Tínhamos a sorte de comemorar com ambas as famílias,
pois moravam no mesmo prédio em Copacabana. Embora tenhamos tido na juventude pouco contato com a comunidade,
nossos avós maternos e paternos, eram muito religiosos e zelosos quanto aos princípios judaicos, mas não diria propriamente ortodoxos. Presunto, camarão, nem pensar.
Frequentávamos a Sinagoga Beth-El, do CIB - Centro Israelita Brasileiro, na Rua Barata Ribeiro em Copacabana.
Com o agravamento da doença, Papai Moysés sofreu um
transplante de rim, passando para reserva, isso após ter feito o
curso de Direito juntamento com o filho, Jose Alberto Chahon,
engenheiro do BNDES. Tio Alberto mudou-se para Barueri.
Pedro Kullock
Pedro nasceu aos 12 dez 1922 na cidade do Rio de Janeiro, filho de Manoel e Sara Kullock.
Na FEB foi Aspirante a Oficial de Infantaria tendo embarcado aos 08 fev 1945 com o CRP/FEB – Centro de Recompletamento de Pessoal, e retornado em 03 out 1945 com o DP/
FEB – Depósito de Pessoal.
Embora jovem ainda, já era um homem com grande experiência de vida e viajado, conhecia a Argentina, tinha residido
nos Estados Unidos, e por dominar o inglês ocupou a função
de intérprete junto ao V Exército.
Oriundo do CPOR/RJ, esteve sediado em Florença, o que
resultou em forte ligação emocional com esta magnífica cidade
132
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
italiana, o berço do Renascimento italiano, e uma das cidades
mais belas do mundo, terra natal de Dante Alighieri, autor da
“Divina Comédia”, marco da literatura universal.
O pessoal da FEB costuma gozar licenças nesta cidade, governada pela família Médici desde o início do século XV até
meados do século XVIII. O primeiro líder da cidade pertencente
à família Médici foi Cosme, o Velho, chegou ao poder em 1437.
Foi um protetor dos judeus na cidade, iniciando uma longa relação da família com a comunidade judaica, uma relação tensa,
que se tornaria comprometedora com a Inquisição italiana.
Florença teve antes e durante o período de governo dos
Médici uma influente comunidade judaica, que deteve um papel proeminente na arte, finanças e negócios da cidade até
que os judeus passaram a ser perseguidos mais fortemente pela
Inquisição italiana.
A Grande Sinagoga de Florença, também conhecida como
Tempio Maggiore, Templo Principal, é considerada uma das
mais belas da Europa.
Destacam-se as diversas e belíssimas catedrais de épocas
e estilos diferentes. A cidade também é cenário de obras de
artistas do Renascimento, como Michelangelo, Leonardo da
Vinci, Giotto, entre outros.
Em Florença nasceram os papas Leão X, Clemente VII,
Clemente VIII, Leão XI, Urbano VIII, Clemente XII
Por alguns dias Pedro teve sob sua responsabilidade prisioneiros da 148ª Divisão de Infantaria alemã, que se rendeu a
FEB em abril de 1945, com cerca de 20 mil homens e farto material de combate. Os prisioneiros foram entregues ao V Exército Americano que os relocou para o campo de prisioneiros de
Modena, já que a FEB não dispunha de local nem meios para
exercer a guarda.
Em dada oportunidade mandou que entrassem em forma
e se perfilassem, apresentando-se como o comandante da unidade a que estavam prisioneiros, falando em yiddish, língua
bastante parecida com o alemão, finalizando com “Ich bin
Jude” (Sou Judeu), ao que nenhum deles da suposta “raça superior” ousou responder.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
133
Na vida civil Pedro foi industrial e sócio e diretor da Construtora Servenco e da Rio Som. Tinha um hobby de projetar e
construir moto-homes com os quais viajou pelo mundo.
Era artista amador no Colégio Israelita Eliezer Steinbarg, na
Rua das Laranjeiras, do qual foi um dos fundadores. A filha Eline
herdou seus dotes artisticos, atuando mas tarde no mesmo palco.
Pedro pertencia a casta sacerdotal dos Sacerdotes do Templo de Salomão em Jerusalém. Pela tradição oral passada de pai
para filho, Pedro descendia de Aharon haCohen, irmão do Grande Patriarca Moises,e que foi o primeiro Grande Sacerdote.
Isso lhe dava certos direitos e deveres na tradição judaica,
como ser o primeiro a ser chamado na sinagoga para a leitura
da Torá (Bíblia), e não poder ter proximidade com mortos, assim não podia entrar em cemitérios.
Tansmitiu aos filhos seus valores judaicos, como relata
Paulo César. Era um empreendedor, desbravador, montando
a Rio Som, empresa que respondia por 90% dos anúncios de
radio ao início dos anos 60. Ajudou a consolidar a Servenco
no começo, junto com o pai e irmãos.
Já com mais de 70 anos aprendeu informática e fazia mapas astrológicos. No final da vida, já incapacitado ainda estudava a possibiliddade de criar avestruzes.
Faleceu em 11 de agoto de 2001.
Rafael Eshrique
Rafael era 1° Sargento, tendo embarcado aos 22 set 1944
integrando o QG do General Olympio Falconiere da Cunha,
e retornado em 22 ago 1945 integrando a Tropa do QG da 1ª
DIE - Divisão de Infantaria Expedicionária.
Há uma foto de Rafael na Itália onde faz uma dedicatoria
ao Ten Moyses Chahon.
Salli Szajnferber
Salli Szajnferber nasceu aos 04/10/1923 no Rio de Janeiro, filho de Abram e Berta. Em princípios do séc. XX, seus
134
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
pais emigraram da Polônia. Abram era um ex-combatente da I
Guerra Mundial.
Apos longa viagem de navio, a família foi morar em Guaratinguetá – SP, onde em 1932 Salli teve sua primeira experiência de “combate”, quando durante a Revolução Constitucionalista de 1932 um avião bombardeou a cidade.
Mudando-se mais tarde para o Rio, na Rua Carlos Vasconcellos, ao lado da Praça Saens Peña, na Tijuca, o menino Salli
de 11 anos prestou o Exame de Admissão para o prestigioso
Instituto La-Fayette, na Rua Haddock Lobo, que existe até hoje
como Fundação BRADESCO. Tirou 100 em todas as matérias,
nas 9 provas, escrita, oral e final.
Cursou em seguida o Colégio Militar, após o que prestou
concurso para a Escola Militar do Realengo, quando teve de
enfrentar certas dificuldades inerentes à época.
Dois itens da ficha de inscrição constituiam-se em obstáculo por vezes intransponível. Cor e Religião. Mas felizmente
haviam pessoas justas e sensíveis a quem se podia recorrer, e
Salli encontrou na pessoa do Ten Cel Inf Walfredo Reis o instrumento que materializou a vontade divina.
Sim, pois quando uma criança nasce o seu destino já foi
traçado e nada poderá mudá-lo. Salli haveria de se classificar
em terceiro lugar no concurso e aos 08/jan/1944, para orgulho dos pais, obteve o segundo lugar da turma e foi declarado Aspirante a Oficial, do Exército de Caxias, da Artilharia de
Mallet, a cujas tradições iria honrar ao longo de uma carreira
exemplar.
Logo escolheu por vontade própria servir em uma unidade expedicionária, o Grupo de Artilharia de São Paulo, I/2º
Regimento de Obuses Auto Rebocado, integrante da FEB que
estava sendo formada. Foi deslocado para a Vila Militar e daí
para o Forte do Campinho, embarcando em 22/set/1944 para
a Itália no navio americano de transporte de tropas General
Mann, 2º Escalão.
Salli combateu em 2 grandes momentos da FEB, a Tomada
de Monte Castelo e Montese. Exerceu a principio as funções
de Oficial de Motores, e em seguida de Comandante de Linha
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
135
de Fogo – CLF, e Observador Avançado da Artilharia. Somente a sua bateria deu 3.700 tiros de obus 105 mm sobre Monte
Castelo, que sumia em meio a fumaça dos bombardeios de
artilharia e de aviação.
Em Montese foi levemente ferido, quando Observador
avançado junto a 9ª Companhia do III Batalhão do 11º Regimento de Infantaria. Foi o mais sangrento combate da FEB,
com 574 baixas entre mortos e feridos. O III Grupo de Artilharia deu em Montese 9 mil tiros.
Em 28 de abril de 1945 a Bateria de Salli recebeu como
missão apoiar o 6º Regimento de Infantaria no cerco ao inimigo na Ofensiva da Primavera, o qual terminou por se render.
Era a 148ª Divisão alemã, com todo seu material, canhões,
tropa a cavalo e remanescentes da divisão Panzer Grenadier
e Bersaglieri italiana. O General Otto Fretter Pico se rendeu
com outro General italiano, 892 oficiais, 19.689 soldados, 80
canhões, 5 mil viaturas e 4 mil cavalos.
Nessa noite, a Bateria teve que fazer a guarda de 900 prisioneiros, quando foi apreendida uma enorme bandeira nazista,
que hoje se encontra no museu do 20º Grupo de Artilharia de
Campanha Leve em Barueri-SP, o Grupo Bandeirante e que justamente a cada 29 de abril a 01:45 da madrugada comemora a
última missão de tiro da Artilharia Divisionária da FEB na Itália.
Pela sua bravura em ação na tomada de Montese, foi agraciado pelo Presidente da República com a Cruz de Combate de 1ª Classe. O diploma assinado pelo Ministro da Guerra
General Pedro Aurélio de Góis Monteiro destaca sua grande
coragem, sangue frio e capacidade de ação, durante os encarniçados combates de 14 e 15 de abril de 1945. Progredindo
em terreno minado severamente batido por fogo de artilharia,
morteiro e armas automáticas, o Ten Salli cumpriu galhardamente a sua missão de Observador Avançado ajustando com
precisão os tiros da nossa artilharia.
Foi ainda elogiado em Boletim pelo Comandante do Regimento Tiradentes, 11º RI de São João Del Rei, Cel Inf Delmiro
Pereira de Andrade, pela bravura e espírito de sacrifício nas
duras jornadas de 14 e 15 de abril, junto aos pelotões terrivel136
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
mente hostilizados pelo inimigo. A sua calma, a sua competência e a sua bravura pessoal o fizeram credor da admiração
de toda a Companhia.
Após retornar da Itália, em 22/ago/1945, Salli cursou a
Escola de Educação Física do Exército, onde foi aprovado no
Curso de Instrutor de Educação física em 1º Lugar com grau
8,568, menção MB. Em 1955 fez o curso de Comando e Estado Maior na ECEME, com menção MB, e dela foi Instrutor por
3 anos.
Integrou a equipe brasileira de Pentatlo Militar na Argentina e Suécia, comandou o 6º Grupo de Artilharia de Dorso
em Castro – PR, foi membro da missão Militar Brasileira no
Paraguay, conselheiro do CND por 10 anos, e representante
do Estado Maior do Exército no EMFA.
Salli passou para a Reserva em 01/ago/1966, quando servia na 4ª Seção do Estado Maior do Exército. Por ocasião da
sua despedida, foi saudado pelo orador como um privilegiado,
por ter integrado no mais alto grau todas as capacidades do
Homem, como disse um filosofo, físicas, intelectuais e morais,
exaltando suas qualidades que o colocaram sempre nos primeiros lugares.
Salli Szajnferber, bravo Soldado Brasileiro de fé judaica,
Herói de Montese, nos combates da Itália honrou a memória
de Mallet, Patrono da Arma de Artilharia.
Salomão Malina
Salomão Malina nasceu aos 16–5–1922 no Rio de Janeiro.
Em princípios do séc. XX, seus pais emigraram de Lodz, cidade
industrial na Polônia, onde florescia importante comunidade
judaica, que poucos anos depois seria exterminada pelo ódio.
Na longa viagem de navio jamais poderiam eles sequer
imaginar, mas um dia a chegada de um menino viria alegrar a
casa simples, e estava escrito que este menino seria um pensador, e mais que isso, unindo a ação às palavras e fazendo o
caminho inverso dos imigrantes, por vontade própria iria lutar
de arma na mão contra aqueles mesmos nazi-fascistas inimigos
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
137
da Humanidade que tentavam destruir as raízes do seu povo.
A família foi morar na Praça XI, a rua judaica humilde da
época. Ali perto, Salomão estudou no Colégio Pedro II e cursou o CPOR - Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do
Rio de Janeiro, de onde saiu Aspirante-a-Oficial da Arma de
Infantaria.
Na FEB foi incorporado ao 11º Regimento de Infantaria de
São João Del Rei, hoje o 11º Batalhão de Infantaria de Montanha, tendo comandado o Pelotão de Minas, função natural
para quem havia sido mandado fazer um curso de especialização nos Estados Unidos antes da Guerra nesta área. Embarcou
para a Itália em 12/nov/1944.
As minas alemãs custaram a FEB um grande número de
vítimas, entre mortos e mutilados. Em atividade extremamente perigosa, detectando e desativando artefatos e booby-traps,
Salomão Malina e seus comandados contribuíram para evitar
maior perda de preciosas vidas brasileiras. Em reconhecimento, o Presidente da República outorgou-lhe a Cruz de Combate de 1ª Classe, medalha com a qual apenas poucos integrantes da FEB foram agraciados, por atos individuais de bravura.
Malina recebeu ainda a Medalha de Guerra e a Medalha de
Campanha.
Em extensa citação no diploma, Malina é louvado pela coragem com que comandou seu pelotão, abrindo caminho para
a passagem da Infantaria no eixo de ataque através de terreno
minado, sob pesado fogo da artilharia e de morteiros alemães,
durante o avanço do Regimento para a conquista de Montese,
uma das maiores glórias da FEB.
Malina retornou da Itália em 17/09/45, tendo sido reformado em 04/nov/1983.
Salomão Malina estudou na então Escola Politécnica do
Largo de São Francisco, depois Escola Nacional de Engenharia
da Universidade do Brasil, transferida para a Ilha do Fundão.
Na época, trabalhava em uma das maiores indústrias eletrônicas brasileiras, a SESA - Standard Electric S. A., subsidiária
da multinacional americana ITT – International Telephone &
Telegraph, que fabricava televisores e outros aparelhos no su138
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
búrbio carioca de Vicente de Carvalho. Planta que chegou a
empregar milhares, esteve fechada durante 2 décadas até dar
lugar a um moderno centro de compras, o Carioca Shopping
próximo a estação do metrô.
A Associação dos Antigos Alunos da Politécnica inaugurou em dez/2004 em sua sede, no mesmo tradicional e centenário prédio da Politécnica no Largo de São Francisco, Alma
Mater da Engenharia Brasileira, uma estatueta representando
os expedicionários alunos da casa, de autoria de Da. Silvia
Vaccani, antiga Professora da Casa, e esposa do eminente e
também Professor Ernani da Motta Rezende.
Na singela peça escultórica, um soldado de arma na mão
representa os nobres ideais daqueles estudantes, que em passeatas pediam ao Governo de Getulio Vargas que declarasse
guerra ao Eixo, após o torpedeamento de tantos navios com
perda de centenas de vidas de brasileiros inocentes.
Uma placa na parede recorda os nomes de 9 bravos, onde
figura Salomão Malina.
Os desígnios da vida impediram que Malina terminasse o curso de Engenharia. Ativista político, ele e sua família
levaram uma vida atribulada, onde não raro foi perseguido,
tendo que mudar de bairro, de cidade, ocultar-se, mudar de
identidade.
Não fosse os inúmeros recortes de jornais que descrevem
a sua trajetória, e cópias de documentos das autoridades policiais da época, judiciosamente colecionados pelo Arquivo
Público do Estado do Rio de Janeiro, teria sido difícil obter detalhes ou fotos da sua vida militar, de vez que as circunstâncias
exigiam que fotos e documentos seus não ficassem guardados
em casa.
Salomão Malina foi militante histórico, último SecretárioGeral do PCB e ao final da vida Presidente Honorário do PPS.
Antes de partir, vitimado por doença incurável de que padecia há longos anos, manifestou a vontade de ser enterrado
como judeu. Toda vida conservou o Talit (Manto Ritual) com
que cumpriu a cerimônia do Bar mitzvah (maioridade religiosa
aos 13 anos). A tradicional foto de Kipá (solidéu) e Talit que
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
139
todo menino judeu tira neste dia consta do livro de memórias,
lançado às vésperas de seu passamento.
Teve enterro judaico com velório na Assembléia Legislativa de São Paulo, onde compareceram inumeros representantes
dos setores políticos e culturais da sociedade. Frisava que suas
raízes eram autênticas, e não uma volta às origens, de vez que
sempre viveu como israelita, jamais ocultando sua fé.
Este bravo Soldado Brasileiro de fé judaica, incompreendido por uns, enaltecido por outros, mas sem dúvida um homem
fiel as suas ideias, nos deixou em 2002 aos 80 anos.
Salomão Naslausky
Salomão nasceu no Rio de Janeiro aos 20 jun 1915, filho
de Marcos e Annita.
Serviu na Itália no 1º Grupo do 1º Regimento de Obuses
Auto Rebocados, 1/1 ROAuR, sob o comando do Tenente Coronel Waldemar Levy Cardoso, tendo embarcado aos 22 set
1944 e retornado com a mesma unidade aos 22 ago 1945.
Comandou a 2ª Bateria de Obuses 105 mm.
Desempenhou importantes comissões ao longo de uma brilhante carreira militar com mais de 30 anos, como a de Comandante da Escola de Artilharia de Costa e Anti Aérea – EsACos AAe.
Foi agraciado com diversas medalhas, das quais destacam-se:
a) Concedidas pelo Presidente da República
Cruz de Combate de Segunda Classe, por ter, como Capitão Comandante da 2ª Bateria do 1º Grupo de Artilharia 105
mm da FEB, revelado capacidade profissional, sangue frio e
coragem nos combates em que tomou parte sua Unidade durante a Campanha da Itália.
Medalha de Guerra, por ter prestado relevantes serviços
no preparo e instrução de sua Unidade, concorrendo com seu
esforço para que a mesma quando empregada em combate se
apresentasse nas melhores condições de eficiência.
Medalha de Campanha, por ter como integrante da Força Expedicionária Brasileira, participado de operações de guerra na Itália.
140
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
b) Concedidas pelo Ministro de Estado dos Negócios da Guerra
Medalha do Pacificador: Medalha Militar de Ouro, por ter
completado mais de 30 Anos de Bons Serviços Militares.
Transferido para a Reserva em 30 jul 1970, na inatividade
escreveu diversos artigos com base na sua experiência de combate tendo 2 deles sido publicados na Revista Militar Brasileira, número comemorativo do 30º Aniversário da Organização
da FEB.
Barga, págs 154 – 156.
Cota 747, págs 175 – 177, onde relata seu último encontro com o Sargento Max Wolff Filho, quando o maior herói da
FEB partia para sua última patrulha, poucos minutos antes da
morte gloriosa em combate.
Conforme relata, “... – posso contar com sua artilharia,
Capitão? Perguntou ele ao passar pelo observatório, ponto
obrigatório de passagem para se atingir as posições inimigas
daquela frente...”
Depreende-se do texto que o Capitão Naslausky encontrava-se no PO do Grupo (Posto de Observação), junto as primeiras linhas de ataque da infantaria, uma atitude corajosa e
voluntária, já que o PO é guarnecido por tenentes, e ele como
Comandante da Bateria deveria estar no PC – Posto de Comando na retaguarda, junto a Central de Tiro que fica a alguns
kilometros, orientando a unidade.
Ao final do texto, o Cap Salomão presta uma homenagem
ao Sargento Wolff:
“ ... não havia mais dúvidas... morrera o herói. E ao certificar-se
da verdade, procurou o artilheiro seu abrigo individual, único lugar
em que poderia naquele momento ficar só. E lá não se conteve.
Chorou. Chorou o Artilheiro a morte do seu herói da Infantaria... “
Salomão Naslauski faleceu no Rio de Janeiro aos 11 de
junho de 1984.
Samuel Kicis
A Carreira Exemplar de um Soldado Brasileiro de Fé Mosaica (*)
(*) – Palestra apresentada no evento de 1°. de maio de 2005 no Grande Templo Israelita
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
141
Corria o ano de 1944.
Leda, uma menina de 7 anos no colo da mãe assistia da
varanda da sua casa em Deodoro, a beira da linha da Central
do Brasil, o lento e constante desfilar do imenso comboio de
vagões rolando sobre os trilhos, carregando as tropas prontas
para o embarque no Cais do Porto, onde os navios americanos de transporte aguardavam, junto com a nossa Marinha de
Guerra que faria a escolta até Gibraltar.
As tropas vinham da Vila Militar e de Minas.
Mesmo no inverno, o sol do Rio de Janeiro já era quente
de manhanzinha, bem diferente da Itália gelada para onde o
pai de Leda estava iniciando uma longa viagem naquele trem,
a viagem que não para todos teria retorno.
Com seus olhinhos de menina esperta, Ledinha conseguiu
divisar o pai a distância, na janela do trem.
Assim, com as bençãos infantis da filha, o jovem Capitão
de Artilharia Samuel Kicis, Comandante da 2ª Bateria do 4º.
Regimento de Obuses 155, seguiu para o front, junto com os
seus soldados.
Samuel vinha de longe. Seus pais, Isaac e Bertha Kicis nasceram e cresceram na Bessarabia, hoje Moldávia, região entre
a Rumania e a Russia.
Havia dezenas, centenas de pequenas cidades onde floresciam pequenas, medias e grandes comunidades judaicas.
Um mundo que acabou...
Uma terra que amargava séculos de dominação estrangeira, pelos russos, pelos prussianos, e onde a minoria judaica
alternava periodos de tranquilidade com a perseguição injustificada.
Pogrom... palavra russa que significa chacina... de judeus.
Em 1903, ali mesmo, em Kishinev, uma cidade central da
Bessarabia, houve um pogrom.
Um jovem poeta estava ali, viu e escreveu “A Cidade do
Massacre” em homenagem às vítimas inocentes.
Haim Nahman Bialik (1873-1934). Poeta. Judeu nascido
na Rússia. Falecido em Tel Aviv, que mais trade viria a ser co142
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
nhecido como o Poeta Nacional de Israel.
A profunda e emotiva descrição do poeta Bialik do sofrimento inimaginável torna-o extraordinariamente apropriado
para recordar Auschwitz.
“Que fazes aqui, filho do homem?
Levanta-te, foge para o deserto!
Leva para lá contigo o cálice de desgosto!
Levai a sua alma, rasga-a em mil retalhos!
Com raiva impotente, com coração deformado!
Verte a tua lágrima sobre rochas áridas
e manda o seu grito amargo à tempestade!
Era um prenuncio do Holocausto, que estava por vir. Não
surpreende portanto que tantos tenham decidido partir.
Os Kicis descendem do Rabino Ze’ev Wolf Kitzes, que
viveu no séc. XVIII. A grafia experimentou evoluções ao longo
dos séculos, bem como novos ramos se incorporaram: Kitces,
Keces, Keses, Kitzes, Ketzis, Kitzis, Kicis, Kitsis, Kitses, CHAREST, PEARSON, GORDON, WESTHEIMER, GREENWALD,
SIMON, ROHR, DUNSKY.
Os Kicis ouviram falar do Brasil. Um pais de onde diziam
haver tantas riquezas, até pedras preciosas restavam penduradas nas árvores.
Uma Terra Abençoada, onde vivia um povo alegre, ludico e musical, com fartura de terra e água, o sol brilhando o ano todo, onde seriam bem recebidos por um povo
hospitaleiro, descendente dos índios, dos negros escravos
e dos portugueses, e que por isso mesmo não discriminava
ninguém. Todos tinham uma oportunidade, e o sol nascia
para todos.
A viagem foi penosa. Reunindo os poucos pertences que
podiam levar, despediram-se dos familiares, que jamais iriam
rever, iniciando a viagem para a nova Terra Prometida. Como
a maioria dos imigrantes, iam de terceira classe, porque não
havia a quarta...
Não era raro que criancas e idosos não resistissem a bordo. Os pais se desesperavam ao ver o pequeno corpinho sendo
lançado ao mar. Queriam ir juntos, quase enlouquecidos, era
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
143
preciso que os amigos os segurassem para que não pulassem
a amurada.
Mas o futuro iria sorrir para aquela gente, apesar de tudo
com o coração cheio de esperança.
Ao atravessar a entrada da barra na Baia da Guanabara,
só de olhar a paisagem já gostaram daquela terra, e entre lágrimas de saudade da família distante, prometiam a D_us e
a si mesmos que tudo fariam para honrar a confiança que a
nova patria lhes depositava, tudo fazendo para serem bons
brasileiros, criando os filhos, trabalhando e estudando por um
Brasil melhor.
Do convés, os passageiros se admiravam com o cordão de
fortalezas em volta da barra. Copacabana, Duque de Caxias,
Santa Cruz, São José, São João, São Luiz, Pico, e a última, já
numa pequena ilha dentro da baia, a Fortaleza da Lage, que
seria a última barreira a repelir o inimigo invasor.
Era sinal de que o povo era hospitaleiro, mas desde a época das caravelas saberia defender-se, se necessário fosse. O
jovem casal Kicis talvez não acreditasse se lhe dissessem que
o primeiro filho um dia estaria a postos numa daquelas fortalezas, como Oficial da Artilharia de Costa...
E foi isso que aconteceu. Bertha e Isaac tiveram 4 filhos,
Fany, Olga, Mauricio e Samuel.
Ao desembarcarem no mesmo Cais do Porto jamais imaginariam que um dia o Todo Poderoso haveria de lhes conceder
a graça de ter dois filhos homens, e que eles seriam Soldados
Brasileiros, um deles haverndo de embarcar ali mesmo, para
navegando pelos mesmos mares mas no caminho de volta, lutar pela liberdade e pela democracia.
E o outro, Mauricio, também artilheiro, viria a ser admitido ao Magistério Militar, por muitos anos lecionando Frances
no Colégio Militar.
Os primeiros tempos foram duros. Trabalho arduo, de sol
a sol, fazendo jus ao ditame bíblico, de ganhar o sustento com
o suor do próprio rosto.
A família morava em São Cristóvão, onde Samuel nasceu
na vespera de Pessach, em 15 de abril de 1913 e estudou no
144
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Colégio Pedro II. O menino Samuel era estudioso e morando
no subúrbio, cresceu observando a movimentacao das tropas
dos quarteis próximos, os comboios, o tropel da Cavalaria, os
canhões ainda de tração hipomóvel.
Daí para a Escola Militar foi um passo. Aprovado no difícil
concurso de seleção, Samuel tornou-se um Cadete do Realengo, usando com orgulho a cintura o espadim, a miniatura do
sabre invicto de Caxias.
Praça de 8 de abril de 1930, como aluno do 3º Ano do
Curso Anexo a Escola Militar do Realengo.
Optou pela Arma dos fogos largos, profundos e poderosos, tendo sido declarado Aspirante a Oficial de Artilharia em
25/jan/1934. Os velhos retratos amarelecidos demonstram a
alegria dos pais imigrantes.
Seu filho Samuel, um Oficial, do Exército de Caxias, da Artilharia de Mallet, envergando com garbo o Primeiro Uniforme,
na cerimônia a que compareceu o Presidente da República.
Ali começava a carreira exemplar de um Soldado Brasileiro de fé mosáica, e que duraria quase 33 anos.
Designado para a Guarnição do Distrito Federal, foi mandado servir no histórico quartel do Forte de Campinho, que
naqueles tempos sediava o 1º Grupo de Artilharia de Dorso,
foi logo promovido a 2º Tenente aos 30 ago 1934.
Naquela época a Artilharia era hipomóvel, ou seja, as peças eram tracionadas por muares. Assim, as unidades de artilharia muito se assemelhavam as da Nobre Arma Ligeira, a
Cavalaria. Tinham baias, veterinarios, enfim, tudo que fosse
necessário.
Os canhões Krupp 75 eram as peças mais utilizadas, deslocando-se nos exercicios e nos desfiles lenta e seguramente,
daí a tropa de artilharia seguir uma cadencia diferente das demais, como o demonstra o rítmo peculiar da Canção da Artilharia.
Aos 29 de novembro de 35, Kicis teve de interromper as
férias devido aos acontecimentos que se desenrolavam na capital, tendo participado do contra-ataque aos rebeldes da Escola de Aviação Militar.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
145
Em 25 jan 1936 Samuel casou-se em Nictheroy com Da.
Ruth do Couto Pfeil, a filha do Gen João Eduardo Pfeil. O padrinho de casamento foi o Gen Alcio Souto, que era amigo do
Gen Pfeil.
Promovido a 1º Tenente aos 7 set 1936, foi transferido
para o I Regimento de Artilharia Montada, na Vila Militar.
Entre diversos elogios que constam da sua filha funcional,
destacamos aquele lavrado aos 19 de janeiro de 1937, pelo
General de Divisao Eurico Gaspar Dutra, ao deixar o Comando da I Regiao Militar:
“... apraz-me manifestar meus agradecimentos ao 1º Ten
Kicis, que foi meu collaborador, pela capacidade de trabalho
e inteligência.
Outras comissões se seguiram, em João Pessoa no 4º G A
Do, 3ª Bia AC Forte do Imbuhy em Nictheroy, 3º G A Do de
Campo Grande – MT,
Em 10 de novembro de 37 foi decretado o Estado Novo,
sem a participação da AIB no governo. Integralistas como Olbiano de Melo, Belmiro Valverde e Gustavo Barroso, ao lado
de oficiais da Marinha, no dia 11 de maio de 1938, promoveram uma tentativa insurrecional. Sob o comando do tenente
Severo Fournier, um grupo atacou o Palácio Guanabara, residência presidencial, com a finalidade de depor Vargas.
O General Dutra, ministro da Guerra, soube por telefone,
e como morava no Leme, dirigiu-se ao Forte Duque de Caxias,
onde requisitou uma tropa de 12 homens, comandada por um
jovem tenente, dirigindo-se ao Palacio, onde salvou o Presidente.
Quis o destino que naquele dia estivesse de serviço o Tenente Samuel Kicis. É fácil supor o que teria acontecido se outro oficial, de idéias integralistas, ali estivesse. Possivelmente a
História do Brasil não tivesse sido a mesma.
O Grande Arquiteto do Universo nos conduz por caminhos nem sempre claros. Não seria a primeira vez que um
brasileiro judeu entrava na história de Getúlio.
Plínio Salgado acabou seguindo em 1939 para um exílio
de seis anos em Portugal, e Kicis foi promovido a Capitão aos
146
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
25 ago 1941.
No ano seguinte, o Brasil haveria de declarar guerra aos
paises do Eixo. Era a resposta aos torpedeamentos de navios
mercantes inocentes ao longo da nossa costa.
Hitler havia decidido se vingar da ajuda brasileira ao esforço de guerra, mandando aqui seus submarinos U-boat. Mas a
nascente Aviação de Patrulha da FAB contra-atacou, conseguindo afundar alguns submarinos, e quando a Marinha do Brasil
passou a escoltar os combois, já não houve mais perdas.
O Brasil era um país eminentemente agrícola. Nem se sonhava com a infraestrura e o parque industrial que temos hoje, as
quais ainda iriam ser planejadas e construidas anos mais tarde.
Mesmo assim, um esforço nacional supremo nos capacitou a enviar para a Itália a primeira de 3 Divisões de Infantaria
Expedionária, formando a FEB – Força Expedicionária Brasileira, um Grupo de Aviação de Caça, e guarnecer o nosso litoral
com a Marinha do Brasil. Foram so na FEB 25 mil homens, dos
quais quase 500 não voltaram, além de outros milhares nas
tripulações dos navios de guerra e mercantes, e centenas de
aviadores e pessoal de terra.
Segundo o Mein Kampf, o III Reich deveria durar 1000
anos. As populações polonesas, russas e outros eslavos seria
transformadas em escravos dos arianos, sem nenhum direito a
nao ser trabalhar para a Alemanha. Os judeus, ciganos, comunistas, homossexuais e deficientes físicos e mentais nem esta
sorte teriam. Deveriam ser impiedosamente exterminados nas
câmaras de gás, a fim de que só restasse a “raça pura”.
Os brasileiros, também considerados uma raça inferior de
mestiços, e os africanos, seriam explorados quando chegasse
a sua vez, apenas fornecendo materias primas e deixados a
propria sorte para morrerem como moscas.
Dentro deste quadro tenebroso, custa a crer que houvesse,
e lamentávelmente ainda há no Brasil, embora microscópicas,
ideologias pro-nazistas, grupelhos minusculos.
Se o Afrika Korps não tivesse sido destroçado em El Alamein, e a Alemanha conseguisse estender seus tentáculos para
o outro lado do Atlântico, iriamos ter aqui no Brasil a desgraça
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
147
de conviver com traidores. Infelizmente surgiriam novos Calabares, novos Joaquim Silvério dos Reis.
Mas não foi isso que aconteceu, neste pais que o grande
escritor Stefan Zweig, também ele vítima do nazismo, definiu
profeticamente em 1942, como o País do Futuro, raciocínio
este que agora é ratificado pela CIA, ao prever que o Brasil
junto com China, India e Indonésia podem vir a tornarem-se
potências mundiais em 15 anos.
Itália
Samuel embarcou para a Itália em 19 set 1944, desembarcou na Itália já sob o frio inclemente do inverno europeu.
Logo sua Bateria foi enviada para a frente de combate. A
Artilharia da FEB era comandada pelo General Cordeiro de
Farias, e receberam diretamente na Itália vindo dos Estados
Unidos os obuseiros de 105 e 155 mm aquela época os mais
modernos, de que ainda não dispunhamos no Brasil.
O Comandante do IV Grupo era o então Ten Cel Hugo
Panasco Alvim.
Conforme Germano Seidl Vidal, 2º Tenente:
“... em 15 de maio de 1944, fui designado Comandante
da Linha de Fogo da 2ª Bateria do então I Grupo do 1º Regimento de Artilharia Pesada Curta (Grupo Escola) - I/1º RAPC
(GE), função na qual permaneci durante toda a participação
do IV Grupo de Artilharia 155mm na Campanha da Itália,
somente sendo desligado dessa função quando transferido,
por necessidade do serviço, já no Brasil, em 10 de janeiro de
1946. [...]
O primeiro tiro da Artilharia brasileira jamais disparado
fora do continente americano ocorreu as 1423 de 15 jul 1944.
Samuel comandou cerca de 200 homens, e ocupou por
inúmeras vezes os observatórios avançados do Grupo, junto
as primeiras linhas da Infantaria, em pontos considerdos extremamente perigosos. Sua bateria se destacou em qualidade
nas operações e nos objetivos alcançados .
Da sua folha de serviços constam inúmeros elogios individuais e coletivos, destacando especialmente sua inteligência
privilegiada e a capacidade de comando e organização com
148
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
que se houve a frente da 2ª Baterias de Obuse 155.
Suas promoções ocorreram sempre por merecimento:
Major – 25 set 1948
Ten Cel 25 abr 1953
Cel – 25 ago 1961
Realizou diversos cursos sempre com excelente aproveitamento, a saber:
1941 - Escola de Artilharia de Costa, menção Excelente
(grau 9,6);
1947 - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, conceito
Muito Bem (grau 9,9);
1948 - Curso de Guerra Química na Chemical Corps School (USA), nota 10,0;
1952 – ECEME, menção B;
1957 – Escola de Guerra Naval
Da sua folha de serviços neste período, verificamos ser plena de elogios, inclusive de superiores que um dia se tornariam
Presidentes da República, como o na época Comandante do Núcleo da Divisão Blindada, o General Arthur da Costa e Silva.
“....elogio o Ten Cel Kicis que integrou o meu Estado
Maior, pela capacidade de ação, inteligência, dinamismo e
garbo, destacado oficial de Estado Maior ...”
A 21 de set 1953 seu pai deixa este mundo, tendo labutado anos e anos a fio, deixando 3 filhos.
Samuel serviu em segida no EME com outras destacados
oficiais, como os então Cel Ademar de Queiroz, que viria
no futuro a ser Presidente da Petrobras, e Cel Aurélio de
Lyra Tavares, que veio a ser Ministro da Guerra e imortal
da ABL, Coronel Adalberto Pereira dos Santos, futuro VP da
República.
Aos 7 jan 56 casamento de sua filha Leda Pfeil Kicis.
Em 1957 foi mandado a Pouso Alegre – MG onde exerceu
o sub-comando do 8 R A 75 Mont
Medalhas
Pelo seu comportamento exemplar durante a Campanha da
Itália, foi condcorado com a Cruz de Combate de 2ª Classe.
No Diploma, assinado aos 6 de março de 1961 pelo MiSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
149
nistro da Guerra Marechal Odilio Denys pode se verificar
que ele esteve exposto ao fogo inimigo por muitas vezes ao
situar-se nos posto de observação avancada que acompanhavam o tiro da artilharia, conquistando elogios pelo seu espírito de sacrificio, pela assistência que dava a seus comandados,
conduzindo a sua bateria em todas as situações com calma e
coragem.
A Medalha de Campanha lhe foi concedida pelo Diploma
assinado aos 25 de março de 1949 pelo Ministro da Guerra
Gen Canronert Pereira da Costa, por ter participado de operações de guerra na Itália.
Foi também concecorado com a Medalha do Pacificador,
e com a Medalha de Ouro aos 30 anos de serviço.
Epílogo
Por decreto de 20 out 1961, o Presidente da República
promoveu o Coronel Samuel Kicis ao posto de General de Brigada, e na inatividade, elevou-o ao posto de General de Divisão, contando 32 anos, oito meses e 3 dias de efetivo serviço,
dos quais 7 meses e 20 dias de Campanha na Itália e 6 meses
de licença especial não gozada.
Samuel faleceu no Rio de Janeiro em 1984, ao 71 anos.
Este breve relato não poderia terminar sem que ressaltassemos
o importante papel das Forças Armadas, instituição nacional
única e integradora da alma brasileira, onde se funde a nossa
nacionalidade multi-racial.
Nas Forças Armadas, convivem lado a lado o filho do rico
e o filho do pobre, o negro, o índio, e o branco, o católico, o
espírita e o judeu.
No momento em que vestem a honrosa farda verde oliva
tornam-se todos iguais, companheiros, irmãos de armas, com
as mesmas oportunidades que teve um jovem filho de emigrantes de terras remotas, a quem ora prestamos a maior homenagem que poderia receber pela sua carreira exemplar, o
melhor elogio que poderia merecer:
General Samuel Kicis:
Foi um soldado brasileiro.
150
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Sala General KICIS na EsAO
A Semana da Pátria de 2008 começou auspiciosamente
para a Comunidade. Já na segunda feira dia 1° a Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais na Vila Militar inaugurou uma
placa e retrato dando o nome do General de Divisão Samuel
Kicis a sala de aula do Curso de Artilharia, em homenagem
ao herói da FEB que como capitão comandou uma Bateria no
front italiano. Estiveram presentes a filha e neta, Da. Leda Kicis
e Da.Lucia Kicis, o General Abreu, comandante da EsAO e o
Diretor de Cidadania Israel Blajberg.
Na tradicional escola fundada em 1919 ao tempo da Missao Militar Francesa, a Casa do Capitão, por onde anualmente
passam 500 capitães-alunos como pré-requisito para promoção aos postos superiores, a Sala de Aula do Curso de Artilharia passa a ostentar a denominação histórica de Sala General
de Divisão SAMUEL KICIS.
Na parede, o texto em moldura, ao lado do retrato do jovem Cap KICIS, alusivo à inauguração da denominação histórica, é motivo de orgulho para a Comunidade Judaica.
Em 1943, o entao Cap KICIS servia em uma unidade que
nao iria para a guerra. Solicitou então transferência para uma
unidade prevista para embarcar para a Italia integrando a FEB Força Expedicionaria Brasileira. Fez isso por estar determinado
a lutar contra o nazismo.
Na ocasião o Comandante da EsAO, General de Brigada José
Alberto da Costa ABREU, que aniversariava neste dia, recordou
seu pai, também ex-combatente da FEB onde foi Cabo Chefe de
Peça, familar com os fogos da Artilharia pesada que tanto sobressaltavam a tropa. o General assim se referiu ao Cap KICIS:
“Figura insigne da nossa Artilharia, deixou seu nome gravado na História. Nome bem escolhido pelos Curso, muito
pertinente, por tudo que realizou.”
O Comandante do Curso de Artilharia, Tenente Coronel Claudio Vasconcellos Santos saudou os familiares com uma bela oração.
Foi uma singela e tocante homenagem a um dos mais
destacados integrantes da Comunidade Judaica, Gen SAMUEL
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
151
KICIS, magnífico exemplo de Patriota e Soldado Brasileiro, da
Artilharia de MALLET, do Exército de CAXIAS.
Seguem-se o texto do pronunciamento do Comandante do
Curso de Artilharia da EsAO, Ten Cel Claudio Vasconcellos
Santos, e o texto da Placa Alusiva a Denominação Histórica da
Sala de Aula do Curso de Artilharia, Sala General de Divisão
SAMUEL KICIS.
SOLENIDADE DE INAUGURAÇÃO
DA SALA 01 – 01 SET 08
EXMO SR GEN BDA JOSÉ ALBERTO DA COSTA ABREU,
COMANDANTE DA ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS.
SR CORONEL VILEMAR , SUB CMT ESAO.
SR CEL VIANNA PERES, CHEFE DA DIVISÃO DE ENSINO
DA ESAO.
SENHORA LEDA, FILHA DISTINTA DO NOSSO HOMENAGEADO.
TEN ISRAEL BLAJBERG, OFICIAL DA RESERVA, E BIÓGRAFO DO HOMENAGEADO.
SENHORES OFICIAIS INSTRUTORES.
MEUS PREZADOS OFICIAIS ALUNOS DO CURSO DE ARTILHARIA 2008.
BOM DIA!
MINHAS PALAVRAS INICIAIS NÃO PODERIAM DEIXAR DE
SER DE AGRADECIMENTO. AGRADECIMENTO SIM A DEUS
QUE NOS CONCEDEU A OPORTUNIDADE E A LUZ PARA
QUE VIÉSSEMOS A HOMENAGEAR O GEN DIV SAMUEL KICIS, ATRIBUINDO O SEU NOME A SALA 01 DO CURSO DE
ARTILHARIA DA ESAO. / NO CORRENTE ANO, OS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DO EXÉRCITO RECEBERAM A INCUMBÊNCIA DO DEPARTAMENTO DE ENSINO E PESQUISA PARA
QUE HOMENAGEASSEM VULTOS HISTÓRICOS DE NOSSO
PAÍS, CONCEDENDO A DENOMINAÇÃO ÀS RESPECTIVAS SALAS DE AULA. / DESSA FORMA, NO ÂMBITO DO CURSO DE
ARTILHARIA DA ESAO, EXPEDIDOS A DIRETRIZ DE HOMENA152
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
GEAR EMINENTES ARTILHEIROS QUE TENHAM SE DESTACADO NOS POSTOS DE CAPITÃO, APRESENTANDO EXEMPLOS
DE HEROÍSMO, DEDICAÇÃO AO EXÉRCITO E INTENSO PATRIOTISMO. / APÓS UMA PESQUISA REALIZADA POR OFICIAIS ALUNOS E INSTRUTORES, FORAM SELECIONADOS
PARA A SALA 01, O NOME DO GEN KICIS, E PARA A SALA 02,
O DO MARECHAL JOÃO THOMAZ DE CANTUÁRIA.
NESSE INSTANTE EM QUE REALIZAMOS A SOLENIDADE
OFICIAL DE ATRIBUIÇÃO DO NOME DO GEN KICIS À SALA
01, PERMITAM-ME COMPLEMENTAR AS PALAVRAS DO NOSSO OFICIAL – ALUNO, NO TOCANTE AOS FEITOS DO HOMENAGEADO. CONFORME AS PALAVRAS DO TEN BLAJBERG, O
ENTÃO CAPITÃO KICIS, COMANDANTE DA 2ª BATERIA DE
OBUSES ORGÃNICA DO ATUAL 11º GAC – GRUPO MONTESE, DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL,“ ...OCUPOU
POR INÚMERAS VEZES OS OBSERVATÓRIOS AVANÇADOS
DO GRUPO, JUNTO ÀS PRIMEIRAS LINHAS DA INFANTARIA, EM PONTOS CONSIDERADOS EXTREMAMENTE PERIGOSOS...” APÓS A GUERRA, EM RAZÃO DE SUA ELEVADA
CAPACIDADE PROFISSIONAL, O GEN KICIS VEIO A RECEBER
REFERÊNCIAS ELOGIOSAS DE EMINENTES PERSONAGENS HISTÓRICOS DO PAÍS, PODENDO SER CITADOS OS MARECHAIS
ODILIO DENYS, EX-MINISTRO DA GUERRA E O MARECHAL
ARTHUR DA COSTA E SILVA, EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
DISTINTA SENHORA LEDA: SAIBA, NESSE MOMENTO,
QUE TODOS NÓS AQUI NA ESAO ESTAMOS COMPARTILHANDO COM A SENHORA A EMOÇÃO E O ORGULHO DE
VER NOME DO SEU TÃO ILUSTRE GENITOR ATRIBUÍDO A
NOSSA SALA 01 DO CURSO DE ARTILHARIA. A PARTIR DE
AGORA, NOSSOS OFICIAIS ALUNOS E INSTRUTORES PASSARÃO TER, NA MEMÓRIA DO GEN KICIS, UM EXEMPLO CONCRETO DE AMOR À NOSSA PÁTRIA E UM MODELO PLENO
DE OFICIAL DE ARTILHARIA, DIGNO REPRESENTANTE DAS
MAIS CARAS TRADIÇÕES DA NOSSA ARMA.
ASSIM, NESSE MOMENTO TÃO REPRESENTATIVO PARA
NÓS NO DIA DE HOJE, AGRADEÇO A PRESENÇA DE TODOS,
E CONCITO-OS A MEDITAR EM TODOS OS FEITOS DO NOSSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
153
SO HOMENAGEADO.
HOJE TAMBÉM, POR UMA FELIZ COINCIDÊNCIA DE DATAS, ESTAMOS COMEMORANDO O ANIVERSÁRIO DE NOSSO
COMANDANTE DA ESCOLA, GEN ABREU, PORTANTO, COMO
COMANDANTE DO CURSO DE ARTILHARIA, EM NOME DE
TODOS OS INTEGRANTES DO CURSO, DESEJO À VOSSA EXCELÊNCIA MUITAS FELICIDADES PESSOAIS E PROFISSIONAIS,
E QUE DEUS POSSA LHE CONCEDER SAÚDE, PAZ DE ESPÍRITO E INTELIGÊNCIA PARA PODER CONTINUAR A CONDUZIR
OS DESTINOS DA NOSSA TÃO QUERIDA ESCOLA.
E ELES QUE VENHAM! POR AQUI NÃO ENTRAM!
MALLET ! BRASIL!
MUITO OBRIGADO.
Texto da Placa
Filho de imigrantes judeus da Bessarábia (hoje Moldávia),
o General Samuel Kicis nasceu em 1913 na cidade do Rio de
Janeiro e concluiu o Curso de Artilharia da Escola Militar do
Realengo em 1934. Fruto de seu excelente desempenho acadêmico foi designado para servir no histórico quartel do Forte
de Campinho, sede do 1º Grupo de Artilharia de Dorso. Ao
longo de sua brilhante carreira, realizou os seguintes cursos:
Escola de Artilharia de Costa, Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais, Curso de Guerra Química na Chemical Corps School
(USA), ECEME e Escola de Guerra Naval.
Sua brilhante carreira militar é exemplo de uma trajetória
marcada por heroísmo, patriotismo e dedicação ao Exército. Ainda como tenente participou do contra-ataque aos rebeldes da
Escola de Aviação Militar, em 1935 na capital federal. Em 1937,
comandou uma tropa de 12 homens no combate aos integralistas
que atacaram o Palácio Guanabara para depor Getúlio Vargas.
O então Capitão Samuel Kicis embarcou para a Itália em
19 de setembro de 1944, para juntar-se aos aliados contra o
eixo. Na Força Expedicionária Brasileira comandou, como Capitão, a 2ª Bateria do IV Grupo de Obuses 155mm, tendo em
suas mãos cerca de 200 homens e o maior poder de fogo com
154
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
que contava a Artilharia Divisionária da FEB. Exerceu a função
de Observador Avançado em Torre di Nerone e no quarto e
bem-sucedido ataque a Monte Castelo.
Foi condecorado com a Cruz de Combate de 2ª Classe,
Medalha de Campanha, Medalha de Guerra, Medalha do Pacificador e Medalha Militar de Ouro.
Dos 32 anos, oito meses e 3 dias de efetivo serviço prestado pelo General-de-Divisão Samuel Kicis, 7 meses e 20 dias
foram de campanha na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial.
O General Samuel Kicis faleceu no Rio de Janeiro em
1984, aos 71 anos.
Samuel Miller
Capitão de Longo Curso da Marinha Mercante, participando da 2ª Guerra Mundial, foi companheiro de viagem de JACOB NISKIER e DAVID LEON RODIN, por ocasião do conflito
mundial, e primo em segundo grau de ADIO NOVAK.
Reside em Brasília, onde colabora como Diretor Jurídico
da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil.
Possui a Medalha de Serviços de Guerra com 3 Estrelas,
outorgada pelo Presidente da República.
Samuel Safker
Samuel foi Cabo da FEB tendo embarcado aos 22 set 1944
integrando o QG do General Olympio Falconiere da Cunha,
e retornado em 22 ago 1945 integrando a Tropa do QG da 1ª
DIE - Divisão de Infantaria Expedicionária.
Residia no Rio de Janeiro, onde faleceu aos 81 anos em
27 dez 2001.
Samuel Soichet
Samuel era Aspirante a Oficial R/2 formado pelo CPOR/RJ.
Médico de Niterói, levou seu violino, e entre um e outro
atendimento empunhava o instrumento em pleno front.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
155
Consta ter sido médico da FEB. Quando dos acontecimentos que marcaram a Declaração da Independência do Estado
de Israel, em 14 de maio de 1948, Samuel teria se incorporado
ao nascente Exército de Israel, a Haganhá, onde teria atingido
a patente de Major durante a Guerra da Independência.
Foi realizar uma bolsa de residência médica nos Estados
Unidos, e acabou radicando-se naquele pais, onde faleceu.
Como tantos universitário da década de 40, Samuel cursou o CPOR – Centro de Preparação de Oficiais da Reserva.
Nos idos da década de 20 O bravo Coronel Correia Lima
teve ele uma idéia avançada para o Brasil da época, que iria
se provar acertada até hoje, revelando-se em toda a sua magnitude durante a Segunda Guerra Mundial, quando metade dos
800 tenentes da FEB era R/2, a mocidade do CPOR.
Lançou a ideia pioneira, de convocar os aunos das faculdades para cursar um centro de preparação, dos quais sairiam
como oficiais da reserva.
Desde logo obteve a adesão dos alunos da Escola Politécnica,
não fora ela a precursora do ensino militar no Brasil, já que naquele
mesmo prédio do Largo de São Francisco fora instalada por D João
VI em 1810 a Academia Real Militar, da qual descendem hoje em
linha direta o IME, a AMAN e a atual Escola Politécnica na Ilha
do Fundão. Com efeito, a mesma placa comemorativa mandada
fundir pelo Exército em 1960 ano do sesquicentenario, situa-se no
Realengo, no IME, na AMAN e no Largo de São Francisco.
E daquele prédio, ao lado da Cruz de São Francisco, sairiam nove expedicionarios para a FEB, fato até hoje ali lembrado pela estatueta do Estudante de Engenharia Expedicionário,
ao lado da Bandeira Nacional na sede da Associação dos Antigos Alunos da Politécnica.
No histórico quartel da Quinta da Boa Vista, onde hoje
está instalado o belíssimo Museu Militar Conde de Linhares,
ao longo de 35 anos, de 1931 a 1966, o Exército Brasileiro
formou a sua Reserva Atenta e Forte, no CPOR do RJ.
“Da Universidade à Linha de Frente” dali saíram os Bravos Discípulos de Correia Lima, no dizer da Canção do CPOR
o nosso fundador, patrono e guia,
156
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Seu descortino para a época era incrível. A idéia de reunir
estudantes das faculdades para construir uma reserva de alto
nível para o Exército trouxe importante aporte para a Força Terrestre, como se confirmou por ocasião da II Guerra Mundial,
quando os Oficiais R/2 foram chamados a compor expressivamente os efetivos da gloriosa FEB - Força Expedicionária Brasileira, como líderes de fração de tropa nos combates na Itália.
Deste quartel, somando-se aos oriundos de São Paulo, Recife, BH e SSA partiram mais de 400 tenentes para integrar a FEB.
Nos campos da Itália, entre tantos soldados brasileiros
tombados no cumprimento do dever, 12 jovens tenentes honraram o juramento de defender a Pátria se necessário com o
sacrifício da própria vida, dos quais meia dúzia eram oriundos
dos quadros dos CPORs, os Tenentes:
Amaro Felicíssimo da Silveira;
Ari Rauen;
José Belfort de Arantes Filho;
José Jerônimo de Mesquita;
Márcio Pinto;
Rui Lopes Ribeiro;
que repousam no Monumento aos Mortos da II Guerra
Mundial, tendo seguido os passos do patrono, honrando o legado deixado por Correia Lima.
Muitos mais se destacaram mercê de bravura excepcional
demonstrada em combate,como o legendário Major Apolo Miguel Rezk, herói maior dentre os ex-alunos do CPOR, outros
felizmente ainda se encontram entre nós.
Dia de glória para o histórico quartel da QBV, um ícone
da nossa comunidade R/2, prédio neoclássico construído em
1920, no Governo Epitácio Pessoa pelo então General Rondon,
Diretor de Engenharia do EB, onde tantos cursaram, e de onde
alguns em um dia já distante do ano de 1944 partiram rumo ao
desconhecido, para sob a bandeira brasileira, defender a democracia e a liberdade mundial nas montanhas geladas da Itália.
E entre eles estavam Samuel e mais um punhado de correligionários, que com garra e patriotismo seguiram para a Itália,
a enfrentar o duplo perigo.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
157
Saul Antelman
Saul nasceu no Rio de Janeiro aos 03 dez 1921, filho de
Isaac e Maria Antelman. Moravam na Rua 24 de Maio, estação
do Riachuelo, onde Saul se alistou no Tiro de Guerra nº 140,
da 1ª Região Militar, conertendo-se no Atirador numero 123
da classe de 1939.
A guerra iria estourar em 1º de setembro do mesmo ano.
Como reservista pelo TG 140, turma de 1939, Saul foi
convocado em 1943. Serviu no I RCD, II RMM, QG da I DIE,
atingindo a graduação de Cabo QMG 02 Cavalaria, QMP 001
– Combatente, durante a Campanha da Itália no período de
06 out 1944 a 11 ago 1945, com 2 anos 5 meses e 29 dias de
tempo de serviço militar de 02 mar 1943 a 31 ago 1945.
Saul embarcou para a Itália no navio americano de transporte de tropas MARIPOSA, em 22 de setembro de 1944, integrando o QG do General Falconieri, retornando em 22 ago
1945 com a mesma unidade.
Por ter participado das operações de guerra na Itália, David foi condecorado pelo Presidente da República com a Medalha de Campanha pelos relevantes serviços prestados ao esforço de guerra.
Saul trabalhou na Cia T. Janer, foi o seu segundo emprego após retornar da Itália, e onde se apresentou como contador, formado pelo Instituto Comercial do Rio de Janeiro, em
fev/1943.
Tradicional empresa, Saul aparece no ambiente contábil
que hoje não existe mais, onde inumeros profissionais dedicavam a escriturar a vida das empresas, nas antiga máquinas
mecânicas de contabilidade.
Saul foi reformado em 17 jul 1979, e residia na Barra da
Tijuca, no Rio, onde faleceu aos 21 / ago / 1999, aos 77 anos.
Waldemar Rosenthal
Waldemar nasceu no Rio de Janeiro aos 20 ago 1921, filho de Julio e Rebeca Rosental.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Durante a guerra integrou a 1ª Bateria do 2º Grupo de
Artilharia de Dorso, a qual em 1942, após a declaração de
guerra do Brasil aos países do Exio deslocou-se de sua sede em
Jundiaí – SP para São Sebastião, no litoral paulista, formando
com o 2º Batalhão do 5º Regimento de Infantaria de Lorena
- SP o Destacamento Militar de Defesa da Área Litorânea do
Estado de São Paulo, área de alto risco como valor estratégico
nacional, protegendo São Paulo, o mais pujante estado da federação.
O QG estava sediado no porto de São Sebastião, de onde
coordenava as operações de patrulhamento, vigilância e defesa da soberania nacional.
O Destacamento estava subordinado ao Comandante da
Segunda Região Militar, General Mauricio José Cardoso. Como
Comandante da Guarda do Porto, o Sargento Waldemar prestou honras militares por ocasião de uma visita de inspeção do
General.
Relata ainda ter conhecido o Major Severino Sombra de
Albuquerque, que lhe indagou se era judeu. Foi um breve contacto, que impressionou Waldemar pelo olhar firme e simpatia
afável do Major, que declarou ele mesmo ter ancestralidade
judaica, acreditando descender de cristãos-novos.
No mesmo ano, o Major Severino Sombra iria ser nomeado membro da Comissão Mista de Defesa Brasil -Estados Unidos no Pentágono em Washington, composta de delegados
brasileiros e americanos das três forças singulares, estabelecida em 1942 para executar o planejamento de Estado Maior
para defesa mutua do Hemisfério Ocidental.
Anos depois o General Severino Sombra iria ser presidente
do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, e criaria
uma Universidade em Vassouras, que hoje leva seu nome.
Nesta cidade o casal de historiadores Egon e Frieda Wolff
em suas andanças pelo Brasil em pesquisas históricas sobre
judeus e cristão novos descobriu um terreno vazio nos fundos
da Santa Casa, atual Asilo Barão do Amparo, onde estavam
sepultados dois judeus falecidos em meados do século XIX.
Com apoio da Prefeitura e diversos entusiastas entre os
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
159
quais o paisagista Burle Marx, que elaborou o projeto, e o General Professor Severino Sombra de Albuquerque, então presidente da Fundação Universitária Severino Sombra, foi erguido
o Memorial Judaico de Vassouras onde repousam Morluf Levy
e Benjamim Benatar, ambos de origem marroquina falecidos
em 1879 e 1852, hoje um monumento histórico integrante do
circuito turístico da cidade.
Foi então formado o Memorial Judaico de Vassouras, sob
a presidência de Luiz Benyosef, que até hoje cuida da manutenção e preservação do Memorial.
A fase em que Waldemar serviu na 1ª Bateria era de tempos incertos, em que a ameaça nazista ainda era significativa,
antes que as derrotas na frente russa e na África afastassem do
horizonte uma possível invasão nazista na costa brasileira, não
indo além dos cruéis torpedeamentos de nossos navios mercantes na guerra submarina que Hitler mandou desencadear
conta o Brasil, nação pacífica e neutra.
A quinta-coluna alemã estava ativa no Brasil, informando
secretamente aos submarinos a posição de nossos navios. A
espionagem nazi-fascista foi responsável inclusive por afundamentos de navios brasileiros em mares do Caribe.
O imenso Teatro de Operações em solo pátrio, correspondendo ao extenso litoral e as ilhas oceânicas foi guarnecido desde
1942, muito antes portanto da FEB iniciar operações na Itália.
Waldemar serviu em áreas virgens e inóspitas do litoral
paulista, àquela época zona endêmica de malária, infestada de
protozoários e anofelinos, sem infra-estrutura e sem material
adequado. Apenas pouco antes da FEB partir os Estados Unidos passaram a fornecer material moderno, inclusive uma parte sendo levada diretamente para a Itália onde nossos soldados
tomaram contacto pela primeira vez com aquele armamento.
Poranto, a unidade defrontava-se fora de sede com material precário, barracas envelhecidas e sem serviço médicoveterinario para a cavalhada, (a unidade era hipo-móvel), o
material tracionado penosamente por muares em terrreno encharcado de difícil locomoção.
As comunicações eram antiquadas, apenas telegrafo Mor160
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
se e sinalização manual. Não existia posto médico já que o
mais próximo era em Caraguatatuba.
Entretanto, reinava na tropa elevado nível moral, cívico, patriótico, espírito de renuncia, abnegação e altruísmo, nas palavras de Waldemar deixadas em diário conservado pela família.
O Presidente da República concedeu ao 2º Sargento Waldemar Rosenthal a Medalha de Guerra, por ter cooperado no
esforço de guerra do Brasil.
Passou para a Reserva como 1º Tenente, falecendo no Rio
de Janeiro em 2003.
b) Figuração Honorária
Reynaldo Antonio de Borba
Reynaldo não era judeu, mas um ex-combatente de Erechim solicitou que seu nome fosse incluído na relação dos
homenageados no Grande Templo, pos seus pais foram arrendatários de uma colônia da ICA (Jewish Colonization Association) em Quatro Irmãos – RS, que era uma colônia agrícola
judaica. Sua viúva Da. Iracema Barrozo de Borba concordou,
enviando os dados para esta justa homenagem.
Reynaldo nasceu em 07 jul 1918 em Getulio Vargas – RS,
filho de Jacintho Antonio de Borba e Maria Cristina de Borba.
Foi incorporado no 2º Regimento de Cavalaria Motorizada, tendo seguido para a FEB como Cabo. Era telegrafista. Serviu no Tetaro de Operações da Itália de 22 fev 1945 a 20 set
1945, incorporado ao Depóstio de Pessoal da FEB.
Foi licenciado do Serviço Ativo como 3º Sargento aos 15
out 1945. Recebeu a Medalha de Campanha, por ter como integrante da FEB participado de operações de guerra na Itália.
Na vida civil trabalhou como motorista da ICA em 4 Irmãos – RS, depois como motorista autônomo e na CEEE – Cia
Estadual de Energia Elétrica.
Participava da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil,
Seção de Passo Fundo – RS.
Faleceu em Erechim – RS em 07 jun 1992.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
161
c) Figuração Preliminar e Provisória
(Pendente de Confirmação) – 3 Veteranos
Donald Cohen Marques
Era Oficial da Arma de Infantaria, formado na Escola Militar do
Realengo. Consta que teria deixado o Exercito após a guerra, e se
radicado em São Paulo, onde exerceria a atividade de Corretor.
Não foi possível fazer contacto ou identificar familiares ou
pessoas que pudessem agregar informações. As pesquisas também não revelaram maiores detalhes, nem houve identificação
positiva de que o mesmo possa ser ou ter sido um membro da
Comunidade Judaica, a não ser o nome, que sugere uma forte
correlação, pois a palavra Cohen designa em hebraico a casta
sacerdotal do Templo de Salomão.
Os portadores deste nome em geral são ou possuem descedência judaica.
Israel Bona
Não foi possível fazer contacto ou identificar familiares ou pessoas que pudessem falar sobre Israel Bona. As pesquisas também
não revelaram maiores detalhes, nem houve identificação positiva
de que o mesmo possa ser ou ter sido um membro da Comunidade
Judaica, a não ser o nome, que sugere uma certa correlação.
Nos registros da Associação Nacional de Veteranos da
FEB verificamos ter sido Soldado, oriundo do Sul do Brasil,
tendo embarcado aos 08 fev 1945 integrando o CRP – Centro
de Recompletamento de Pessoal e retornado em 17 set 1945
no DP – Depósito de Pessoal.
Consta ter sido reformado em 06 de março de 1978.
Jacob Chafier Sobelman
Não foi possível fazer contacto ou identificar familiares ou
pessoas que pudessem falar sobre Jacob Chafier Sobelman. As
pesquisas também não revelaram maiores detalhes, nem hou162
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
ve identificação positiva de que o mesmo possa ser ou ter sido
um membro da Comunidade Judaica, a não ser o nome, que
sugere uma certa correlação.
Nos registros da Associação Nacional de Veteranos da FEB verificamos ter sido 1° Sargento, tendo embarcado aos 02 jul 1944 integrando o 6° Regimento de Infantaria e retornado em 18 jul 1945.
d) Integrante da Representação do Brasil na Parada da
Vitória, Londres - 1946
Miguel Grinspan
Soldado do 1° Batalhão de Guardas (Batalhão do Imperador);
1° Aniversário da Vitória Aliada na Europa,
V – E Day - 8 de maio de 1946;
Desfile em Londres da Representação do Brasil;
Soldado do BG viaja para Londres
e desfila na Parada da Vitória.
O sonho do jovem Miguel Grinspan era alistar-se para
prestar o Serviço Militar, mas a Guerra acabou antes, impedindo que ele se tornasse um Soldado da FEB.
Porém estava escrito que seu destino o levaria também a
cruzar o oceano envergando o uniforme do Exercito Brasileiro,
para uma missão igualmente gloriosa.
Miguel servia no Batalhão de Guardas, tradicional unidade
de elite sediada na Av Pedro II em São Cristóvão, sempre convocada para prestar as honras militares a autoridades nacionais
e estrangeiras. Nas fileiras do BG, Miguel prestou continência
ao Presidente da República, Ministros e Generais.
Em 1946, ao realizar-se em Londres a Parada da Vitória,
todos os Aliados mandaram representações, sendo o BG a tropa
naturalmente escolhida para representar o Exército Brasileiro.
A representação incluía 8 homens da Marinha, 8 da Aeronáutica e 8 do Exército.
A viagem ocorreu em maio/junho de 1946, sendo a delegação transportada no Navio Transporte de Tropas Duque de
Caxias da Marinha do Brasil.
Chegando em Lisboa permaneceram três dias, em seguida
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163
deslocando-se para Bordeaux na França, onde deixaram o navio, embarcando de trem para Paris.
Em Paris pernoitaram na École Militaire e no dia seguinte
seguiram para Londres, atravessando o Canal da Mancha.
O comandante do navio ficara preocupado com a alimentação em Londres, fornecendo a cada um 5 quilos de açúcar, 5
quilos de feijão, 5 quilos de arroz e 5 quilos de café, mas em
todo o período que lá estiveram nada faltou à Delegação.
Como não houve necessidade de utilização, a reserva de
alimento gentilmente cedida pelo comandante do navio foi repassada a família Kruel, que durante o período da guerra não
recebera nenhum alimento típico brasileiro.
Em Londres a Delegação foi recepcionada pela Embaixada
brasileira, cujo adido militar era o General José Pessoa.
Instalados no Hyde Park em barracas, cada qual recebeu
cinco cobertores, pois apesar de ser primavera fazia muito frio.
Tiveram a honra de receber a visita do grande estadista
Winston Churchil no acampamento, com charuto e chapéu o
qual trocou um aperto de mão com o comandante.
Miguel desfilou em continência a Família Real Britânica,
Chefes de Estado como Churchil e Attlee, Marechal Sir Mountbaten, o Herói de El Alamiem, Marechais Alexander e Smuts,
e ainda na aposição de uma coroa de flores diante do Tumulo
do Soldado Desconhecido, na Abadia de Westminster.
Nas históricas fotos do Correio da Manha e A Noite, Miguel aparece envergando o uniforme verde escuro da época,
com cinturão e bíbico, e orgulha-se até hoje de ter também
representado a Comunidade Israelita Brasileira naquela significativa parada, assim como tantos outros correligionários que
envergaram os gloriosos uniformes da FEB, Marinha do Brasil,
Marinha Mercante e FAB.
Findo o desfile da Vitória, o retorno se deu em uma aeronave da Força Aérea Inglesa (RAF) até Gibraltar, onde o Duque de
Caxias os aguardava. Houve uma parada em Recife e finalmente
o desembarque no Rio de Janeiro, a querida cidade maravilhosa.
Miguel aparece desfilando diante do Palanque, na Abadia
de Westminster, com soldados gregos de saiote e em passeio
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
com colegas por Londres.
Síntese biográfica de MIGUEL GRINSPAN
NASCIDO EM 31/12/1924, RIO GRANDE DO SUL, SANTA MARIA DA BOCA DO MONTE.
DE 1930 A 1940 VIVEU EM NILOPÓLIS ONDE CURSOU
O PRIMÁRIO E POSTERIORMENTE A ESCOLA TÉCNICA PROFISSIONAL VISCONDE DE MAUÁ,EM MARECHAL HERMES.
1946 - SERVIÇO MILITAR NO BATALHÃO DE GUARDAS, EM SÃO CRISTÓVÃO. POR OCASIÃO DO DESFILE
DOS ALIADOS DA 2ª GUERRA MUNDIAL, REPRESENTOU
O EXÉRCITO BRASILEIRO EM LONDRES PRESTANDO CONTINÊNCIA A RAINHA DA INGLATERRA.
1970 FORMOU-SE BACHAREL EM DIREITO.
MONTE SINAI – SOCIO FUNDADOR.
1998- ELEITO PARA O CONSELHO DELIBERATIVO DA
FIERJ (FEDERAÇÃO ISRAELITA DO RIO DE JANEIRO).
PARTICIPOU DO GRUPO DE TRABALHO DE PEQUENAS
COMUNIDADES da FIERJ: FRIBURGO, CAMPOS DE GOYTACASES ,PETROPOLIS,NITERÓI E TERESÓPOLIS, TENDO ORGANIZADO EXPOSIÇÃO DE FOTOS, DOCUMENTOS E OBJETOS.
2007- ELEITO 1º VICE PRESIDENTE DO MEMORIAL DE
VASSOURAS.
DIRETOR DA CRISPUN MAT. DE CONSTRUÇÃO S/A
EM 05.11.2007 APRESENTOU PALESTRA SOBRE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL COM PRESENÇA DE VETERANOS DA FEB E HISTORIADORES MILITARES, UMA PARCERIA DO MEMORIAL JUDAICO COM A UNI RIO ¨- PRESENÇA
JUDAICA NA CULTURA BRASILEIRA¨ NO AUDITÓRIO DA
UNIRIO A AV.PASTEUR,458 URCA.
e) Ex-Combatentes Judeus de Nações Amigas no Brasil
5 Veteranos
Akiba André Levy
Natural de Sidi – bel – Abbès, Argélia, Akiba nasceu a 05
fev 1927, engajando-se voluntariamente na Marinha Nacional
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
165
Francesa como Marinheiro de 2ª Classe Mecânico, durante
toda a duração do conflito mais 3 meses.
Inicialmente serviu no Aviso “La Boudeuse” baseado em
Casablanca, e posteriormente no Cruzador “Jean Bart” de 06
jun 1944 a 10 fev 1945.
Possui a Medaille Comemorative Francais de La Guerre
1939-1945, com barreta “Engage Volontaire”, Croix Du Combatant Volontaire avec Barrette “Guerre 1939-1945” e o Diploma de Reconhecimento pelos Serviços Prestados a França,
concedido pelo Secretaire d’Etat a La Defense Charge dês Ancies Combattants.
Na vida civil trabalhou na Cables de Lyon, uma empresa
do Grupo Alcatel. Em 1949 emigrou para o Brasil, onde hoje
possui uma indústria eletrônica em Pouso Alegre – MG.
É membro da Association Francaise dés Anciens Combattants a Rio de Janeiro, tendo participado do último Desfile
Militar de 7 de Setembro no Rio de Janeiro, onde ele e outro
veterano Frances, Jean Wittmer, foram os dois únicos representantes de Nações Amigas a participarem.
Georges Schteinberg
Sargento da Armée de l’Air (Força Aérea da França Livre).
Morto em Combate aos 22 out 1943.
Georges Schteinberg era Sargento do Groupe Lorraine de
Aviação.
Sua família emigrou da Russia para a França, onde Georges nasceu.
Posteriormente a família foi para o Brasil, de onde Georges se alistou nas Forças Armadas da França Livre, sediadas na
Inglaterra.
Sargento Georges Schteinberg, da Força Aérea da França
Livre, condecorado post-mortem com a Croix de Guerre avec
Palme, por Decreto de 12 de janeiro de 1945, assinado em
Paris pelo General De Gaulle.
A citação da Medaille Militaire descreve Georges como
excelente metralhador, alistado desde a primeira hora na Ar166
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
mée de l’Air, no 1º Esquadrão do 20º Grupo de Aviação Lorraine.
Seu avião foi atingido por pesado fogo de artilharia antiaérea na costa holandesa, quando excutava uma missão de bombardeio a baixa altitude sobre a Holanda ocupada. Após efetuar
uma missão de bombardeio rasante sobre uma fábrica de aviões
próxima a Roterdam em território ocupado, a 22 de outubro de
1943, com um motor em chamas, projetou-se ao solo.
Agraciado post-mortem com a Medaille Militaire avec Palme, o diploma está assinado de próprio punho pelo Gen De
Gaulle. O documento cita George como tendo uma morte gloriosa frente ao inimigo.
Durante décadas uma cruz esteve sobre a sua tumba no
cemitério militar frances na Holanda, até que o irmão pode
providenciar a troca pela Estrela de David.
Sua sepultura no cemitério militar frances na Holanda
exibiu durante 4 decadas uma cruz (reportagem de 7 / maio
/ 1976 na revista israelense 7 Iamim: “Cruz na Sepultura de
Herói Judeu”, quando Sr Octave Schteinberg, 75 anos, residente na Tijuca, visitou um outro irmão que mora em Israel),
até ser substituída pela Estrela de David na decada de 80. Em
volta, pode se ver inúmeras cruzes com a placa “Français nonidentifié”.
Do Brasil cerca de 140 franceses, dos quais 20 a 30 exibem nomes judaicos seguiram de fev / 41 a set / 44 para lutar
na II Guerra Mundial. Uma placa no terceiro andar da Maison
de France homenageia os que morreram em combate, onde
figura o nome de Georges Schteinberg, Z”L.
Os nomes constam do livreto Action des Comites France
Libre au Brésil, 1940-1945.
Um retrato do General Charles De Gaule abre o livreto,
com uma dedicatória de próprio punho:
Au Comite des Francaises du Brésil,
(ilegível)
C. De Gaulle 25/06/42
O irmão de Georges, Octave Schteinberg, viveu algum
tempo na Colônia da ICA em Resende, abandonada por baiSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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xa produtividde agrícola. As terras foram desapropriadas pelo
Pres. Getulio Vargas, juntamente com outras fazendas da região, para que nelas fosse erguida a Escola Militar de Resende,
atual AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras. Como na
colônia existiu uma sinagoga, pode-se concluir que uma terra
sagrada permeia de bons eflúvios aquele estabeleceimento de
ensino militar que forma Oficiais para o Exército Brasileiro.
Octave Schteinberg residia na Tijuca tendo falecido em
2007, mas os documentos que colocou a disposição da Comissão permitiram recuperar a memória do irmão junto a AFAC –
Asociation Francaise dês Anciens Combatants de Rio de Janeiro, identificando assim quem foi Georges, cujo nome figurava
em placas no Consulado na Maison de France e no MAUSOLÉU dos Franceses no Cemitério São João Baptista, sem que o
seu sacrifício fosse conhecido.
Muitos outros nomes, vários judaicos, aguardam nas placas e no Mausoléu que deles venha a ser removida a pátina do
tempo, que a tudo recobre.
No 11 de novembro, data do Armistício da I Guerra Mundial, a AFAC promove uma visita ao MAUSOLÉU, com honras
militares prestadas por uma Guarnição da Marinha do Brasil.
Gerald Goldstein
Gerald era estudante em Nova Iorque, quando resolveu se
apresentar como voluntário para a Marinha Mercante americana.
Durante a guerra serviu como Oficial Rádio-Telegrafista a
bordo de navios mercantes navegando em zona de guerra no
Atlântico Norte e Mediterrâneo, em águas sujeitas a ataques
aéreos, navais e submarinos.
Logo após a guerra imigrou para o Brasil, onde trabalhou
muitos anos na área bancária.
Aposentou-se mas continuou a prestar serviços voluntários
como Presidente dos Ex-Combatentes USA, e nas associações
que congregam cidadãos americanos e ingleses no Brasil.
Reside com a esposa Betty em Copacabana, e possui diversas condecorações nacionais e estrangeiras.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Irmãos Nathan e Isac Kimelblat
Nascidos na Rússia, foram dos poucos a escapar do massacre dos judeus perpetrado pelas SS em sua cidade natal, escondendo-se nas florestas vizinhas, onde se uniram a grupos de
partisans (guerrilheiros judeus), cuja história está contada em
seu livro lançado em 2007 no CIB – Centro Israelita Brasileiro,
com grande afluência de público, e presença de representantes
diplomáticos russos.
Os irmãos emigraram para o Brasil depois da guerra, onde
constituíram família e se naturalizaram.
Álbum de Fotos do Capítulo 6
Fotos pelo Autor, e Álbuns de Família
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Legenda das Fotos do Capítulo 6
( nominatas da esquerda para a direita )
Foto 1 - Exposição da Semana da Pátria no Clube Monte Sinai:
Veterano Frances Akiba Andre Levy, Capitão Laurino, da Diretoria
de Assuntos Culturais do Exército Brasileiro e o Autor.
Foto 2 - Capa do livro dos partisans Irmãos Kimelblat, lançado em
2007 no Rio de Janeiro.
Foto 3 - Tenente R/2 de Artilharia Abrahão Fainguelernt ao tempo
em que cursava o CPOR/RJ.
Foto 4 - Retrato do Tenente R/2 de Infantaria Pedro Kullock com a
dedicatória “Para Rosa, uma lembrança do mano Pedro”.
Foto 5 - Capitão de Longo Curso da Marinha Mercante Jacob Benemond.
Foto 6 - Sargento da FAB Bernardo Stifelman, Especialista em Fotografia Aérea.
Foto 7 - Marinheiro Leão Stambovski.
Foto 8 - Radiotelegrafista da Marinha Mercante Guilherme Bessa.
Foto 9 - 1° Tenente de Artilharia Waldemar Rosenthal e sua noiva.
Foto 10 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guardas
em solenidade na Abadia de Westminster.
Foto 11 - Aspecto do escritório da T. Janér, onde trabalhou Saul
Antelman (assinalado pela seta).
Foto 12 - Cabo de Cavalaria Saul Antelman.
Foto 13 - Apresentação para os pracinhas na Itália. Adio realizou
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
195
brilhante carreira artística, integrando a dupla de acrobatas Adio &
Joe, de fama nacional e internacional, não a interrompendo nem
quando servia ao exército e particularmente no Front na Itália.
Foto 14 - Tenente R/2 de Infantaria Pedro Kullock.
Foto 15 - Quadro de Medalhas trazidas da Itália por Adio Novak.
As de baixo são alemãs.
Foto 16 - Sargento Adio Novak na Itália.
Foto 17 - Tenente Alberto Chahon e sua noiva baixo o palio nupcial na Sinagoga.
Foto 18 - 1° Tenente de Infantaria Alberto Chahon.
Foto 19 - Alberto Chahon, Cadete da Escola Militar do Realengo,
Rio de Janeiro.
Foto 20 - Irmãos Chahon, ambos Tenentes na Itália.
Foto 21 - Tenente Alberto Chahon na Itália.
Foto 22 - Da. Matilde Chahon Gammal, mãe dos tenentes Chahon
entrevistada pela imprensa carioca.
Fotos 23 e 26 - Jacob David Cohen (círculo) com os colegas do
Tiro de Guerra.
Foto 24 - Soldados Jacob David Cohen com o correligionário Mair
Credman e outro não identificado.
Foto 25 - Identidade de ex-combatente do Veterano Jacob David
Cohen.
Foto 27 - Bateria de Metralhadoras onde serviu o Sargento Jacob
David Cohen, orgânica do 2°/3° Regimento de Artilharia Anti-Aérea
de Olinda – PE, 1942.
Foto 28 - 3° Sargento de Artilharia da FEB Boris Schnaiderman.
196
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Foto 29 - Gerald Goldstein, Presidente dos Veteranos USA no Rio
de Janeiro, na missa recordatória do Armistício da 1ª Guerra Mundial, Igreja dos Ingleses, Rua da Matriz, Botafogo, Rio de Janeiro, em
11 nov 2007.
Fotos 30 e 31 - Casal Betty e Gerald Goldstein com as medalhas nacionais e estrangeiras que recebeu. Gerald ainda veste hoje
o mesmo uniforme de Oficial Radiotelegrafista que usou a bordo
durante a guerra.
Foto 32 - Gerald Goldstein reúne Veteranos em sua residência:
Allain Mirabet Viallon (França), Ignacy Felczak (Polônia), Gerald Goldstein, Moyses Graziani (França), Melchisedech Affonso de Carvalho,
Charles van Hoombeck (Bélgica) e Brigadeiro Rui Moreira Lima.
Foto 33 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guardas
em solenidade na Abadia de Westminster.
Fotos 34 e 37 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guardas em passeios por Londres.
Foto 35 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guardas,
quando do Desfile do Dia da Vitória de 08 mai 1946 em Londres,
passagem do Contingente Brasileiro diante da Tribuna de Honra.
Foto 36 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guardas,
em confraternização com soldados gregos de saiote, em Londres,
1946.
Fotos 38 e 40 - Tenente de Artilharia Samuel Kicis, antes de ingressar na FEB.
Fotos 39 e 44 – Brasão de Armas da EsAO e a Bomba em Chamas,
símbolo da Arma de Artilharia, apostos na placa afixada na Sala Gen
KICIS.
Foto 41 - O mapa mostra a Bessarábia, de onde vieram os pais de
Samuel Kicis, atual Moldávia, entre a Rússia e a Romênia.
Foto 42 – Placa afixada na Sala de Instrução do Curso de Artilharia
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
197
em 01 set 2008 na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais na Vila
Militar, Rio de Janeiro, oficializando a sua denominação como - Sala
General Kicis.
Fotos 45, 46, 47, 49 e 54 - Aspectos da Sala Gen KICIS, e Turma de
Artilharia do CAO 2008 da EsAO composta de 37 capitães-alunos,
entre os quais 05 de Nações Amigas, Angola, Paraguay, Cabo Verde, São Thomé e Príncipe, quando da Inauguração em 1º set 2008
da Sala General Kicis na EsAO, presentes Da Leda Kicis, filha e Da
Lucia Kicis, neta, GEN BDA JOSÉ ALBERTO DA COSTA ABREU,
comandante DA ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS, o
Autor E BIÓGRAFO DO HOMENAGEADO, OFICIAIS INSTRUTORES Maj Paiva, Cap Aquilles, Cap Brito Jr, Cap Bianco, Maj Amorim,
Coord Ensino, Cap De Paula (leu o texto da placa), Tenente Coronel
Claudio, Comandante do Curso de Artilharia da EsAO.
Foto 48 - Convite para a dedicação da sala de aula do Curso de
Artilharia - Sala General Kicis - em 1º set 2008 na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais na Vila Militar, Rio de Janeiro.
Fotos 43, 50, 51 e 53 - Unidades onde serviu o Tenente Samuel
Kicis, antes de seguir para a Itália.
Foto 52 - Diploma do Curso de Artilharia de Costa realizado pelo
Tenente Samuel Kicis.
Fotos 55 e 56 - Tenente R/2 de Infantaria Salomão Malina.
Foto 57 - Comandante Rodin a bordo.
Foto 58 - Comandante Rodin durante Inspeção a bordo.
Fotos 59 e 60 - Comandante Rodin e esposa embarcados.
Foto 61 - O menino David Leon Rodin, futuro Comandante da
Marinha Mercante.
Foto 62 - Comandante Rodin e noiva.
Foto 63 - Marechal Levy Cardoso e o Maj R2 Galper junto com o
198
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Autor no Dia da Artilharia na Vila Militar 10 jun 2008, 11° Grupo de
Artilharia de Campanha, unidade FEBiana, o Grupo Montese.
Fotos 65 e 67 - Uma as peças de 105mm integrante da Bateria
de Obuses di Curso de Artilharia do CPOR/RJ leva a denominação
histórica de Tem Marcos Gal per. A foto foi tirada ainda no antigo
quartel da Av Pedro II que hoje abriga o 1° Batalhão de Guardas,
Batalhão do Imperador.
Fotos 64, 66, 69, 70, 72, 73 e 74 - Em sua residência de Copacabana, o Major R/2 de Artilharia Marcos Galper guarda recordações
da guerra, junto com a esposa.
Foto 68 - Major R/2 de Artilharia Marcos Galper na residência em
Copacabana recebe o Autor para discorrer sobre a sua atuação na
FEB, em 2005.
Foto 71 - O Ten R/2 de Artilharia Marcos Galper desembarcou no
Rio na véspera do Desfile da FEB na Av Rio Branco, trazendo material capturado aos alemães a bordo de um navio de transporte.
Fotos 75 a 77 - O Veterano Melchisedec Affonso de Carvalho no
Desfile Militar de 7 de Setembro em 2006 no Rio, e sendo entrevistado pelo Programa Comunidade na TV da FIERJ, em 2007 na
sede da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, da qual é Diretor
Cultural.
Fotos 78 e 85 - Fotos de Chahon com tocante dedicatória no verso. Moyses é o 1º à direita, onde escreveu no verso, em 11 de janeiro de 1945: “se os pensamentos transportassem os seres para onde
estivessem voltados, estaria agora ai para beijar carinhosamente tuas
faces, querida mãe.”
Moises
Foto 79 - O menino Moyses Chahon.
Foto 80 - Moyses, 4º em pé da esquerda para a direita aparece junto com outros oficiais. Sentado à esquerda, o futuro Presidente da
Republica, o então Tenente Coronel Humberto de Alencar Castello
Branco.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
199
Fotos 81 e 83 - Tenente R/2 Apolo Miguel Rezk, o maior herói da
FEB, e companheiro de Chahon recebe do General Lucian Truscott,
Comandante do V Exercito americano a Silver Star e a única Distinguished Service Cross recebida por um militar brasileiro (30.03.45
Lizano de Belvedere e 19.05.45 Alessandria – Itália)
Foto 82 - Veterano General Moyses Chahon e esposa no Monumento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra Mundial.
Foto 84 - Flâmula do Regimento Sampaio, 1° Regimento de Infantaria da FEB, onde serviram os Irmãos Chahon.
Fotos 87 e 90 - Fotos de Chahon na Itália, 1944.
Foto 86 - Tenente Chahon conduzindo a Bandeira Nacional na
Guarda de Honra. Em 1942 estava servindo em Florianópolis. Desfila na Parada de 7 de Setembro. Como oficial mais moderno, coubelhe ser o porta-bandeira na Guarda de Honra.
Foto 88 - Cadete Chahon com sua Turma da Escola Militar do Realengo, onde aparece na primeira fila, primeiro à esquerda.
Foto 89 - Tenente Chahon e noiva no dia do casamento.
Foto 91 - 2ª Bateria de Obuses 105mm, o Comandante Capitão
Salomão Nauslausy assinalado ao centro.
Foto 92 - Coronel de Artilharia Salomão Nauslausky quando comandante da EsACosAAe – Escola de Artilharia de Costa e Anti Aérea.
Foto 93 - Salomão Nauslausky como Capitão de Artilharia Comandante de Bateria na FEB.
Foto 94 - A Bateria de Salomão lançou projéteis por sobre as linhas
alemães contendo folhetos em alemão e português, para contrabalançar a propaganda nazista.
Fotos 95 a 97 - Comissário Jacob David Niskier em fotos da época,
com a Medalha de Serviços de Guerra com 3 Estrelas e identidade
de Veterano.
200
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Fotos 98 a 101 - No Monumento Nacional aos Mortos da 2ª.
Guerra Mundial no Rio de Janeiro, o nome de Mauricio Pinkusfeld é
um dos mais de 1.500 gravados mármore.
Foto 103 - Sargento Jacob Perelmann, de Niterói-RJ e soldado da
FEB confraternizam com integrantes da Brigada Judaica do Exercito
Inglês, durante folga em Florenza, Itália.
- Sargento Jacob Perelmann, em foto no dia que deu baixa do Exército, com dedicatória para seu cunhado.
- Envelope com carimbos da FEB de censura em tempo de guerra.
- Uma festa de boas-vindas recebeu o Sargento Jacob e outros soldados no Centro Israelita de Niterói.
Foto 104 - A ficha de Mauricio Pinkusfeld na Escola de Marinha
Mercante registra que deveria concluir o Estagio a bordo, o que lamentavelmente jamais viria a ocorrer. Ficha escolar até hoje arquivada no CIAGA - Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, na
Av. Brasil, Penha – RIO.
Foto 105 – Retrato de Mauricio Pinkusfeld em sua ficha na Escola
de Marinha Mercante.
Fotos 106 e 107 - Estas são algumas das poucas fotos que lembram
o jovem Comissário Mauricio Pinkusfeld, com um grupo de amigos
aparentemente em excursão ao ar livre. Desaparecido com menos
de 18 anos no torpedeamento do Aníbal Benévolo, em 1942.
Foto 108 - Samuel Safker na juventude.
Foto 109 - Jovem estudante Samuel Safker Samuel. O uniforme
lembra o do Colégio Militar.
Foto 110 - Cabo da FEB Samuel Safker com pais e irmãos, um dos
quais também prestava serviço militar na ocasião.
Foto 111 - Homenagem aos Cirurgiões Dentistas que integraram a
FEB: Placa aposta na OCEx – Ocontoclinica Central do Exercito, na
Rua Moncorvo Filho, próxima ao Campo de Santa, Rio de Janeiro.
Uma replica encontra-se no Museu da FEB, na Casa da FEB a Rua das
Marrecas 35 – Lapa – Rio.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
201
Fotos 112 e 113 - Tenentes Homero Ramos Ribeiro, Ítalo Castoldi
e Israel Rosenthal na Itália, 1944.
Foto 114 - 2° Tenente R/2 de Infantaria Israel Rosenthal, na Itália
em Maio / 1944.
Foto 115 - Veterano Rosenthal em solenidade no Monumento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra Mundial, Rio de Janeiro, 60º Aniversário da Tomada de Monte Castelo em 21/02/2005.
Foto 116 - Um jornal italiano entrevistou o então Presidente da
ANVFEB Coronel Sergio Gomes Pereira e o Ten Israel Rosenthal,
que posam para uma foto em frente à Casa da FEB, Rua das Marrecas, 35 – Lapa, Rio de Janeiro.
Fotos 117 e 118 - Tenente de Artilharia Salli Szajnferber, Itália
6/12/1944.
Foto 119 - Diplomada da Cruz de Combate de Primeira Classe,
concedida ao Tem Salli Szajnferber por ato de bravura individual.
Foto 120 - Broni - Bandeira da 148ª. Divisão alemã capturada por
ocasião da rendição em Collechio. À esquerda o Ten Salli.
Foto 121 - Comandante de Companhia da 148ª Divisão alemã se
entrega escoltado pelo Ten Salli, de sabre em punho, e 3º Sgt Luiz
Albuquerque Guillardecci do 6º RI.
Fotos 122 e 124 - Manchete em hebraico: Uma Cruz sobre o Túmulo do Herói Judeu.
Foto 123 - Livreto editado pelo Comitê da França Livre relacionando franceses que partiram do Brasil para lutar na 2ª Guerra Mundial,
entre os quais diversos judeus.
Foto 125 - Diploma da Cruz de Guerra concedida post-mortem ao
Sargento Georges Schteinberg.
Foto 126 - Sargento George Schteinberg, integrante da tripulação
do Groupe Lourraine, Força Aérea da França Livre.
202
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Foto 127 - Diploma da Medalha da Cruz de Guerra com Palma,
assinado de próprio punho pelo Gen De Gaulle, relatando a carreira do Sargento George Schteinberg, o ataque de bombardeiros do
Groupe Lorraine sobre território ocupado e sua morte gloriosa frente
ao inimigo.
Foto 128 - Erro reparado: em lugar da Cruz, a Estrela de David
sobre a sepultura do Sargento Georges Schteinberg.
Fotos 129 e 130 - Cadernos de Guerra – desenhos de Carlos Scliar,
Cabo de Artilharia da FEB, sobre os 11 últimos meses da Segunda
Guerra na Itália, quando registrou em desenhos “aqueles momentos
terríveis que não saem da lembrança”.
Fotos 131 a 138 - Tenente Samuel Soichet, um dos mais de 400
Tenentes R/2 oriundos dos CPORs que integraram a FEB. A história
desses bravos soldados, oriundos do meio universitário, ainda hoje é
pouco conhecida, encontrando-se perpetuada no Museu do Oficial
R/2 no atual aquartelamento do CPOR/RJ, Av. Brasil - Bonsucesso.
Fotos 139 a 142 - Jacob Zveiter foi Controlador de Trafego Aéreo
em tempo de guerra, em bases da FAB no Brasil. Passou para a Reserva como Tenente Coronel Especialista. O vemos em retrato de
2005, em Brasília-DF.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
203
Capítulo 7
Cerimônia do Dia da Vitória
Monumento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra Mundial
Homenagem da FIERJ e Bnei Brith no
Túmulo do Soldado Desconhecido - 1º de maio de 2005
Num histórico domingo do Rio de Janeiro, 1º de maio
de 2005, procedeu-se ao resgate de uma memorável página de nossa história comunitária que durante 60 anos, por
incrível que pareça, passou em brancas nuvens. A participação de judeus brasileiros nas forças de terra, mar e ar,
especialmente Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a II Guerra Mundial.
Aconteceram duas emocionantes cerimônias em homenagem aos judeus brasileiros que participaram da II
Guerra Mundial. De manhã no Monumento aos Pracinhas, e à noite no Grande Templo Israelita, que estava
lotado.
2005 foi um ano jubilar para o mundo, marcando 60
anos do Dia V-E (Vitória Aliada na Europa). No Brasil,
entre muitas solenidades em 1º de maio uma homenagem
no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro recordou os
Heróis Brasileiros Judeus da II Guerra Mundial.
Foi uma concorrida Cerimônia Cívica em que a Comunidade Judaica homenageou os brasileiros de todas as
fés que tombaram no esforço de guerra contra o nazi-fascismo, realizada no domingo 1º de maio, às 10h da manhã, no Monumento aos Mortos da 2ª Guerra, no Aterro
do Flamengo, coincidindo com a belíssima cerimônia da
troca da guarda realizada no primeiro domingo de cada
mês, quando no rodízio entre as Forças Singulares, uma
tropa da Aeronáutica passou simbolicamente a Guarda ao
204
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Túmulo do Soldado Desconhecido para o Exército, que
durante o mes de maio assume aquela honrosa missão.
Durante a cerimônia a Banda Militar executou marchas alusivas e honras de estilo foram prestadas pela tropa diante do Túmulo do Soldado Desconhecido, tombado
em todas as guerras, do qual D_us sabe o nome.
O Pavilhão Nacional foi hasteado pelo Coronel de
Artilharia Salli Szajnferber, Veterano da FEB condecorado com a Cruz de Combate de 1ª Classe, seguindo-se o
toque do silêncio pelo Cabo-corneteiro Demétrio, do 3º
COMAR, toque do Shofar pelo Hazan Nelson Zeitune e
o acendimento das velas de uma Menorá.
Torpedeamento do Anibal Benevolo.
Foi prestada uma tocante homenagem ao 2º Comissário Mauricio José Pinkusfeld, desaparecido aos 19 anos
no torpedeamento do navio mercante Anibal Benevolo
pelo submarino nazista U-507 ao largo de Sergipe, em
1942 e cujo nome encontra-se inscrito na lápide do subsolo do Monumento, que homenageia os cerca de 1.000
brasileiros, tripulantes e passageiros de navios mercantes, torpedeados por submarinos nazistas, e que tiveram
o mar como túmulo, com a aposição de flores ao Túmulo
do Soldado Desconhecido, sob uma chuva de pétalas de
flores.
Justa homenagem prestada pela coletividade israelita,
que participou ombro a ombro com seus soldados, cabos,
sargentos e oficiais das Marinha de Guerra e Mercante,
Exército e Aeronáutica na luta sem trégua contra a barbárie nazista.
É desnecessário dizer o que essa luta representou
para os israelitas, e seu significado a todos os brasileiros
judeus e não judeus que perderam suas vidas no front italiano e nos navios covardemente torpedeados em nosso
litoral.
Essa grande festa cívica foi parte integrante das comemorações do 60º aniversário da Vitória Aliada na Europa.
ocorridas no Brasil e no Mundo.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
205
Imaginário virtual Auschwitz
Monumento dos Pracinhas
Artista Plástica Marlene Rubinsztajn Blajberg
O Quadro “Salve Nossos Heróis – Pracinhas do Brasil”
Como parte das comemorações dos 60 Anos do Dia da Vitória, a Diretoria de Assuntos Culturais do Exército promoveu
Concurso de Pintura sobre temas alusivos a Força Expedicionária Brasileira.
A Artista Plástica Marlene Rubinsztajn Blajberg concorreu
com um quadro o qual foi selecionado para exposição, cujo
embasamento incorporamos a esta obra, agradecendo a gentileza da autora.
Salve Nossos Heróis – Pracinhas do Brasil - 60 anos
do Dia da Vitória - 1945 - 8 de maio - 2005.
A artista tira partido do imaginário virtual, conectando o
portão do famigerado Campo de Concentração de Auschwitz
na Polônia ocupada pelos nazistas, abrindo-se a uma imagem
de libertação passada pela luta dos Pracinhas pela Democracia, simbolizada no belo Monumento Nacional dos Mortos da
II Guerra Mundial, enaltecendo a contribuição da FEB e do
Brasil, com luta e vidas, para a derrota da Alemanha Nazista e
libertação dos inomináveis campos de extermínio.
O distico “Arbeit Macht Frei” significa em alemão “O Trabalho Liberta”.
Assim os nazistas iludiam os que iam morrer nas câmaras
de gás, tendo seus corpos cremados em seguida depois de despojados de todos os pertences.
Ainda hoje pode se ver no Museu estabelecido sobre as
instalações de Auschwitz as salas que guardavam tais despojos. Cada sala abarrotada de um determinado item.
Aproveitavam os dentes de ouro, os óculos, as pernas mecanicas, os cabelos, a pele para abajures, a gordura para sabão humano.
Inconcebível, mas verdadeiro. Era como se fosse um matadouro. Só que, como no poema de Drummond, “... não eram
bichos... ... eram homens ...”
206
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Cerimônia dos 60 Anos do Dia da Vitória
(Fotos de Jayme Finkel e do Autor)
Foto 1
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SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
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SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Legenda das Fotos do Capítulo 7
60 Anos do Dia da Vitória - Monumento Nacional aos Mortos
da 2ª Guerra Mundial - Homenagem da FIERJ e Bnei Brith
no Túmulo do Soldado Desconhecido, em 1° De maio de 2005
FOTO 1 - Eng José Alberto Chahon, filho do Gen Chahon, Veterano
David LAvinski, de Nova Lima – MG, Dra Vera Lucia Chahon, filha
do Gen Chahon, o Autor e a esposa, Marlene Rubinsztajn Blajberg,
Arquiteta e Artista Plástica.
FOTO 2 - Integrantes da Comissão: o Autor, Jayme Gersberg, Leila
Velger, Fanny Lewin, Rosita Naidin, Eng Ruy Flaks Schneider, Presidente do Grande Templo Israelita, Anna Bentes Bloch.
FOTO 3 - Aspecto parcial do publico presente no domingo 1° de
maio de 2005 no MNM2GM.
FOTO 4 - Cabo Corneteiro Demétrio, do 3°. COMAR, e Dr Nelson
Menda, da Comissão Organizadora.
FOTO 5 - O Autor e Dr Miguel Grinspan.
FOTO 6 - Acenderam as velas do candelabro ritual: Veterano David
LAvinski, de Nova Lima – MG, Sr Alexandre Henrique Laks, Presidene da Associação dos Sobrevivents do Holocausto, Eng Samuel
Benoliel, Presidente da Bnei Brith, Ministro Waldemar Zveiter, Ruy
Flaks Schneider, Presidente do Grande Templo Israelita, Sr. Henri
El Mann, Presidente da Sinagoga Beth El do CIB – Centro Israelita
Brasileiro, e o Autor.
FOTO 7 - Veterano Melchisedec executa a continência durante o
toque do Shofar.
FOTO 8 - Maj Galper e Cel Frazão executam a continência durante
o toque do Shofar.
FOTO 9 - Dr Miguel Grinspan assina o Livro de Honra do Monumento.
210
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
FOTO 10 - Veteranos Melchisedech e Galper ladeando Cel Frazao,
Administrador do MNM2GM.
FOTO 11 - Cantor litúrgico Nelson Zeitune, que pronunciou a oração e o toque da corneta ritual (Shofar) de chifre de carneiro, entre
um membro da equiep de filamegem e o Cabo Demétrio.
FOTO 12 - Veterano Israel Rosenthal, Presidente do Conselho Fiscal
da ANVFEB, entrevistado pela TV GLOBO.
FOTO 13 - O Autor entrevistado pela TV GLOBO.
FOTO 14 - Major Marcos Galper entrevistado pela TV GLOBO. Cel
Frazao e Anna Bentes Bloch.
FOTO 15 - Veterano Melchisedec Affonso de Carvalho assina o Livro de Honra do Monumento.
FOTO 16 - Quadro da Artista Plástica Marlene Rubinsztajn Blajberg,
tirando partido do virtual imaginário Auschwitz – Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Munidal, exposto no Concurso dos 6º Anos do Dia da Vitória, promovido pela Diretoria de
Assuntos Culturais do Exército Brasileiro.
FOTO 17 - Toque de Silêncio pelo Corneteiro do 3° COMAR. Coronel de Cavalaria José Roberto Marques Frazão (4°) e Dr. Miguel
Grinspan (9°).
FOTO 18 - Tenente R/2 de Artilharia Ney, da Associação dos Ex-Alunos do CPOR/RJ, – Profª Dorotea Lola Grossman Pinkusfeld, irmã
do 2º Comissário Maurício José Pinkusfeld e neto, o Autor e Dr.
Miguel Grinspan, Veterano do 1° Batalhão de Guardas.
FOTO 19 - Integrantes da Comissão Organizadora junto a exposição
do CVMARJ – Clube de Viaturas Militares Antigas do Rio de Janeiro: Jaime Gersberg, Fanny Lewin, Rosita Naidin, Eng Ruy Schneider, Anna Bentes Bloch, o Autor, Eng Samuel Benoliel, Sylvia Cohn
GAlli, Leila Velger, Dr Jacob Guterman, Z”L.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
211
Capítulo 8
Cerimônia do Dia da Vitória
Grande Templo Israelita - 1º de maio de 2005
Rua Tenente Possolo, Centro - RIO
Homenagem da FIERJ e Bnei Brith
No dia 8 de maio de 2005 comemorou-se em todo o
mundo o Dia da Vitória Aliada na Europa. Em Israel, uma cerimônia no Yad VaShem reuniu cenenas de Veteranos Judeus
que integraram os Exércitos Aliados, especialmente americanos, soviéticos, britânicos, franceses, canadenses, poloneses
livres.
O primeiro-ministro Ariel Sharon e o Chefe do Estado
Maior, General Moshe Yaalom, único general de 2 estrelas
das Forças de Defesa de Israel enalteceram os veteranos judeus.
O Ministro da Defesa da Polônia, em visita a Israel na
ocasião, devolveu para um antigo oficial polonês judeu o
posto de tenente, do qual fora destituído em 1967, sob a
alegação de ser judeu. Coincidentemente, este oficial é um
funcionário da Israel Aircraft Industries, que o Ministro estava visitando no âmbito de um acordo com Israel, que irá
modernizar aviões da Força Aérea Polonesa.
No Brasil também aconteceram cerimônias, no âmbito
da comunidade maior, bem como uma que se destacou pela
grandiosidade e ineditismo, a homenagem prestada por uma
Comissão formada pela Bnei Brith, que teve também participação de outras entidades, a qual levantou os nomes ate então
quase desconhecidos de 42 Veteranos Judeus Brasileiros da II
Guerra Mundial.
Tudo foi realizado também nos devidos lugares: O Grande Templo, hoje sem público e clientela mas o maior monu212
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
mento físico e bela presença Judaica nesta cidade, completamente tomado e resplandescente em seus dois andares, e o
Monumento Nacional aos Mortos da II Guerra Mundial, no
Aterro do Flamengo.
A participação dos veteranos brasileiros judeus siquer
está registrada no Jewish War Veterans Museum de Latrun,
Israel, lacuna esta que agora poderá ser suprida.
Antecipada de uma semana, para não coincidir com as
comemorações oficiais no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, ocorreu no dia 1º de maio de 2005 a
solenidade alusiva ao Dia da Vitória, no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro, homenagenado os Heróis Brasileiros
Judeus da II Guerra Mundial.
Provavelmente o número exato jamais será conhecido.
D_us sabe os seus nomes. A Comissão pesquisou as listas
dos soldados que participaram das operações bélicas contra
a Alemanha Nazista, conseguindo levantar o número de 42
soldados, muitos já falecidos e mesmo após a solenidade encerrada tomaram conhecimento de outros não levantados nas
listas prévias.
Os 42 nomes arrolados representam um percentual elevado para a comunidade judaica da época, nucleada em imigrantes, portanto dispensados do Serviço Militar; assim, foram os
filhos desta geração de imigrantes que voluntariamente acorreram ao chamado da Pátria que acolhera seus pais e avós.
Foi emocionante a cerimônia em homenagem aos judeus
brasileiros que participaram da II Guerra Mundial, à noite, no
Grande Templo Israelita. O evento foi uma iniciativa conjunta
da FIERJ, B’nai B’rith, Grande Templo, Museu Judaico, Conselho Sefaradi e organizações femininas.
A Cerimônia inicou-se com o Templo lotado, com a entrada das Bandeiras e Estandartes Históricos da Associação
Nacional dos Veteranos da FEB, Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, Associação de Ex-Alunos do CPOR, Conselho
Nacional dos Oficiais da Reserva, e Associações de Ex-Combatentes das Nações Amigas, Polonia, USA, França, Bélgica e
Reino Unido, ao som da Canção do Expedicionário.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
213
Presentes o Marechal Waldemar Levy Cardoso, 104 anos,
único Marechal vivo do Exército Brasileiro, e filho de Da. Stella
Levy. Atual detentor do Bastão de Comando da FEB, General
de Brigada Helio Macedo, Chefe do Estado Maior do Comando
Militar do Leste, General de Divisão Roberto Viana Maciel dos
Santos, Diretor de Assuntos Culturais do Exército e ex-Adido
Militar em Israel (de kipá), Almirante Castro Leal, Comandante
do I Distrito Naval, Brigadeiro Paulo Hortênsio, Comandante
do III Comar, Adido Naval Adjunto americano Cap de Fragata Glenn Rosen, Secretário de Segurança Marcelo Itagiba representando a Governadora Rosinha Garotinho, Secretário de
Cultura Arnaldo Niskier, e o Ministro Waldemar Zveiter.
Houve 2 Mesas sobre “A Participação do Brasil na 2ª
Guerra Mundial” e “Brasileiros Judeus Que se Destacaram
no Front”, com palestras do embaixador e acadêmico Sérgio Correa da Costa, pesquisador Luiz Benyosef, Coronel
Sérgio Gomes Pereira e o engenheiro e professor Israel Blajberg, seguindo-se exibição de trechos do Documentário
“A Cobra Fumou“ O escritor Moacyr Scliar não pode comparecer, enviando um depoimento sobre seu primo Carlos
Scliar, que foi lido na ocasião.
A Banda do Regimento Avaí encantou o público, assim
como a Ala de Lanceiros do Regimento Andrade Neves em
seus uniformes históricos, e a entrada dos Estandartes Históricos de unidades FEBianas e Associações de Ex-Combatentes
Nacionais e Estrangeiras, ao longo da Guarda de Honra da
Marinha do Brasil em uniformes brancos.
A apresentação de Anna Bentes Bloch e a nominata com
entrega dos diplomas a Veteranos e Familiares, ao som da
Canção do Expedicionário emocionou a todos os presentes.
Por iniciativa da comisão que se formou através da Bnei
Brith e outras, após a tomada de decisão de se levar adiante
o empreendimento a comissão teve que levar a efeito verdadeiro trabalho de pesquisa para levantar os nomes pela inexistência de um cadastro comunitário a respeito. Foram e eram
até então um contingente de anônimos na comunidade, não
reconhecidos publicamente.
214
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Durante a cerimônia no Grande Templo houve a nominata de todos os ex-combatentes judeus, com entrega de
placas comemorativas aos presentes ou seus familiares ao
som da Canção do Expedicionário, brilhantemente executada pela Banda de Música do Regimento Avai, o 2 de Ouro
da Vila Militar, diante dos Comandantes Militares de Área,
1º DN, 3º COMAR e o Chefe do Estado Maior do CML –
Comando Militar do Leste.
O Kadish, Oração fúnebre em hebraico, foi pronunciado
pelo Rabino Henry Sobel em memória dos Brasileiros de todas as fés que tombaram nos campos de batalha, dos inocentes que morreram nos navios torpedeados em nosso litoral e
dos 6.000.000 de judeus assassinados pelos nazistas.
O Hazan (Cantor litúrgico) Nelson Zeitune realizou o toque do Shofar (Chifre de carneiro utilizado como instrumento
de sopro em rituais judaicos), seguido do Toque de Silêncio
pelo Corneteiro da Aeronáutica, Cabo Demétrio.
Há muito não via tanta sintonia fina entre o desejo sincero de reverenciar uma bela história do engajamento libertário
no Brasil e a realização de um evento a respeito.
A Interpretação do Hino Nacional Brasileiro pela cantora Ithamara Koorax emocionou os presentes, bem como as falas tocantes do Cel Salli Szanferberr representando os Veteranos presentes,
e da Dra Vera Lucia Chahon, representando os familiares.
Ao final ocorreu a Abertura da Exposição “Cadernos de
Guerra”, 40 desenhos de Carlos Scliar elaborados durante o
conflito, no salão de festas do Grande Templo.
O impacto que o evento teve sobre a opinião pública em
geral e a comunidde judaica em particular foi bastante significativo.
A Rede Globo promoveu extensa divulgação. As homenagens prestadas no Monumento foram transmitidas pela
Globonews durante todo o domingo e na segunda-feira foram
destaque no Bom-Dia Rio e RJ-TV.
O Programa da FIERJ Comunidade na TV do domingo seguinte as 9h da manhã pela TV Record foi totalmente dedicado aos eventos, com grande audiência.
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Cerimônia do Dia da Vitória
Homenagem da FIERJ e Bnei Brith
(Fotos de Jayme Finkel e do Autor)
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Legenda das Fotos do Capítulo 8
A Cerimônia do Dia da Vitória foi realizada em um local
histórico, o Grande Templo Israelita, Rua Tenente Possolo, Centro
do RIO, hoje um monumento tombado. A Homenagem da FIERJ e
Bnei Brith reuniu dezenas de Veteranos e familiares.
FOTO 1 - Dr Marcelo Itagiba, Prof Arnaldo Niskier, Eng Osias Wurman, Ministro Waldemar Zveiter, General de Exército Antônio
Joaquim Soares Moreira, ex-Chefe do Estado Maior do Exército e
ex-Presidente do STM - Superior Trinbunal Militar, ao lado do seu
sogro, Marechal Waldemar Levy Cardoso, Detentor do Bastão de
Comando da FEB, à época com 104 anos.
FOTO 2 - Ministro Waldemar Zveiter ao receber o diploma do seu
irmão, Tenente Coronel da FAB Jacob Zveiter, ladeado por dois Veteranos polneses.
FOTO 3 - Presidente da FIERJ Eng Osias Wurman dirige-se ao público presente.
FOTO 4 - Dr Ruy Flaks Schneider, Presidente do Grande Templo
Israelita, que sediou o evento.
FOTO 5 - Dr Samuel Benoliel, Presidente da Bnei Brith dirigindo-se
ao público presente.
FOTO 6 - Dr Osias Wurman Presidente da FIERJ saúda as Autoridades Civis e Militares presentes.
FOTO 7 - Parte do público estimado em mil pessoas que lotou o
Grande Templo. Em primeiro plano o Veterano Cabo de Artilharia
David Lavinski, vindo de Nova Lima – MG para o evento, Chico
Scliar, filho do ex-combatente e Pintor Carlos Scliar e Curador da
Fundação Carlos Scliar, e o filho de Salomão Malina.
FOTO 8 - Dr. Osias Wurman, Presidente da FIERJ, em vibrante pronunciamento.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
FOTO 9 - O Autro com o General Helio Chagas de Macedo Juniro, Chefe do Estado Maior, representando o General Domingos Curado, Comandante Militar do Leste, que se encontrava em
Brasília.
FOTO 10 - Anna Bentes Bloch foi a apresentadora deste histórico e
inesquecivle evento.
FOTO 11 - Presidente da Bnei Brith Eng Samuel Benoliel recebe o
Rabino Sobel, com uma Ala de Lanceiros do Regimento Andrade
Neves em uniformes históricos guarnecendo a entrada do Grande
Templo.
FOTO 12 - Brigadeiro Rui Moreira Lima, herói do 1° Grupo de
Aviação de Caça, o Senta-a-Pua (3° Da esquerda); Visão geral do
recinto, com público estimado em mil pessoas que lotou o Grande
Templo.
FOTO 13 - Veteranos Moyses Graziani (França) Jonh Mason e esposa (Inglaterra).
FOTO 14 - Bandeira Nacional portada por um Tenente do Regimento Sampaio, Estandartes da Associação dos Ex-Alunos do CPOR/RJ,
portado pelo Tenente R/2 de Infantaria Clovis Benchaia Cardoso, e
da ANVFEB pelo Tem R/2 de Engenharia Roberto Eduardo Albino
Brandão.
FOTO 15 - Ten R/2 Israel Zuckerman conduz o Estandarte do CNOR.
FOTO 16 - Veterano Frances Akiba Andre Levy.
FOTO 17 - Chegada ao Templo dos Veteranos Franceses (bibico
azul) Akiba Andre Levy e Moyses Graziani (com o estandarte da
AFAC), e poloneses (boina preta) Cap Ignacy Felcszak, Presidente da
Associacao dos Ex-Combatentes Poloneses (com bracaeira).
FOTO 18 - Apresentadora Anna Bentes Bloch, Tenente R/2 de Infantaria Israel Zuckerman, portando o Estandarte do CNOR – Conselho Nacional de Oficiais da Reserva, homenageando os 8 Oficiais
R/2 judeus formados nos CPORs.
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FOTO 19 - O Autor proferindo a palestra “General de Divisão Samuel Kicis – Veterano da FEB – A Carreira Exemplar de um Soldado
Brasileiro de Fé Mosaica”.
FOTO 20 - Dr. Jayme Gudel, Dr. Marcelo Itagiba, Secretário de Segurnaca representando o Governador, Dr. Israel Klabin, Rabio Henry
Sobel, o Autor, Marechal Levy Cardoso, Embaixador Sérgio Correia
da Costa.
FOTO 21 - Major R/2 Marcos Galper e esposa, ladeado pelo sobrinho Eng Johnny Galper, membro da ADESG de Uberlândia - MG.
FOTO 22 - A Bandeira Nacional dá entrada no recinto ao longo da
Guarda de Honra formada por alas de Marinheiros do 1° Distrito
Naval, ao som do Hino a Bandeira.
FOTOS 23 e 24 - O material promocional do evento utilizou como
marca a foto histórica da Bateria comandada pelo Capitão Samuel
Kicis, graças a sua filha, Dona Leda Kicis, que cuidadosamente preservou o acervo histórico de seu pai.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Capítulo 9
Dia da Recordação
dos Heróis e Mártires
do Holocausto
Domingo 15 de Abril de 2007 às 10 h
MNM2GM - Monumento Nacional aos Mortos
da 2ª Guerra Mundial
Homenagem ao Soldado Desconhecido
A FIERJ – Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, em nome da comunidade judaica fluminense, com
a colaboração da Administração do MNM2GM celebrou
cerimônia recordatória e Ato Cívico com a Participação
de Civis e Militares em Homenagem ao Soldado Desconhecido Brasileiro e aos Heróis que tombaram no Levante do Gueto de Varsóvia, no exato local onde aos 22 de
dezembro de 1960, o Presidente Juscelino Kubistchek de
Oliveira recebeu das mãos do Marechal João Batisa Mascarenhas de Moraes, Comandante da Força Expedicionária
Brasileira, uma urna com os restos mortais de um soldado
brasileiro desconhecido, morto em combate durante a 2ª
Guerra Mundial.
A partir de então, naquele local passaram a ser prestadas as homenagens aos bravos que sacrificaram suas vidas
no Holocausto da Pátria por ocasião da segunda Guerra
Mundial.
Tal ato recordatório visou que a data tivesse maior alcance junto a Sociedade Fluminense, marcando efeméride
tão significativa, colaborando para que principalmente as
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
223
novas gerações sejam educadas a lutar contra o racismo,
preconceito, ódio e intolerância, com os valores humanos
e morais desta ação imprimindo marcante efeito positivo
junto ao grande público.
Durante a Segunda Guerra Mundial, tanto o Brasil
quanto a Polônia, ainda que ocupada, combateram um inimigo comum: o Nazismo.
No caso da Polônia, as forças que defrontaram os nazistas eram semi-regulares, ou seja, a Resistência Polonesa, cuja expressão máxima se deu no Levante de Varsóvia
(1944), e a Organização Judaica Combatente, que lutou bravamente no Levante do Gueto de Varsóvia (abril de 1943).
Portanto o Dia do Soldado Polonês, também comemorado em agosto no MNM2GM e o Dia da Recordação
dos Heróis e Mártires do Holocausto guardam estreita correlação com a homenagem aos Soldados Desconhecidos
Brasileiros: estas 3 forças lutaram pelos mesmos ideais de
democracia e liberdade, contra o mesmo inimigo.
Dia 15 de abril de 1943 marcou o início do Levante do
Gueto de Varsóvia. Nesta data rende-se uma homenagem
aos Mártires, vítimas indefesas do Holocausto, e aos Heróis
que tombaram resistindo em luta desigual.
Após 27 dias a batalha final ocorreu na Rua Mila 18, o
bunker que abrigava o Posto de Comando da ZOB – Organização Judaica Combatente.
O Levante do Gueto foi o primeiro na Europa dominada pelos nazistas, e inspirou o grande Levante de Varsóvia
de 1944, desta vez de toda a população da cidade.
Em tributo a revolta, 19 de abril foi escolhido para simbolizar o Dia do Holocausto e do Heroísmo.
É também um dia de orações em memória aos 6 milhões de vítimas civis do Holocausto.
Assim, neste Monumento que homenageia os brasileiros mortos na Segunda Guerra, a FIERJ prestou homenagem
a estes bravos, associando-a também às vítimas e heróis
do Holocausto, lutadores contra o mesmo inimigo nazista,
apondo uma coroa de flores junto ao Túmulo do Soldado
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Desconhecido, com a finalidade de homenagear e manter
viva a imagem dos heróis que, no anonimato, lutaram até o
sacrifício da própria vida.
Participaram Autoridades Militares, Veteranos da ANVFEB e Conselho, Veteranos das Nações Amigas (Polônia,
Inglaterra, França, EUA e Bélgica).
Representações Militares, Representações Governamentais, Diretoria da FIERJ, Entidades da Comunidade Judaica e um grande público de mais de 200 pessoas.
A emoção tomou conta de todos, quando o Corneteiro
executou o Toque de Presença de Ex-Combatentes, já que
encontravam-se presentes nesta solenidade ex-combatentes
da FEB, prestando assim a merecida homenagem àqueles
que com sacrifício, bravura e glória, souberam defender a
honra da Pátria e os ideais de liberdade e democracia.
Em homenagem ao soldado desconhecido a banda executou o refrão do monumento, de autoria do ten Paulo de
Paula Pimentel, quando todos os militares presentes prestaram a continência individual.
Foi aposta uma coroa de flores junto ao túmulo do soldado desconhecido brasileiro, simbolizando com este gesto
o reconhecimento ao soldado brasileiro que como os heróis
do levante do Gueto de Varsóvia sacrificou a sua vida em
prol da liberdade, enquanto a banda executava a canção do
expedicionário.
Foi acendido o candelabro com 6 velas em respeito à
memória das vítimas, simbolizando os 6 milhões de desaparecidos no holocausto.
O corneteiro executou em seguida o toque de silêncio,
enquanto uma chuva de pétalas de rosas caia sobre a plataforma do monumento, sendo prestada a continência ao
soldado desconhecido simbolizando o respeito e o reconhecimento a todos os que morreram em combate na Segunda
Guerra Mundial, pela restauração da liberdade e da democracia no mundo.
A banda de música executou brilhantemente o o hino
dos partisans, relembrando o sacrifício daqueles heróis que
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
225
tombaram pela liberdade. Foi a primeira vez que uma banda militar execcutou o Hino dos Partisans, no Brasil.
O Encerramento com o Hino Nacional Brasileiro galvanizou os presentes a esta histórica cerimônia, que marcou
época e que doravante deverá ser realizada anualmente,
sempre recordando o heroísmo e o martírio tanto das vítimas e heróis do Holocausto quanto das vítimas civis nacionais e bravos militares brasileiros.
Ao final as Autoridades Presentes assinaram o Livro de
Honra do Monumento e os presentes visitaram o Museu e
Mausoléu.
Alexandre Henrique Laks
Uma das figuras mais carismáticas presentes foi um
Sobrevivente do Holocausto, Sr. Alexandre Henrique Laks.
Natural de Lodz na Polônia, o Senhor Laks foi prisioneiro
do Gueto durante quase toda a II Guerra Mundial, executando
trabalho escravo infantil. Em agosto de 1944 com 17 anos foi
deportado para o Campo de Extermínio de Auschwitz, tendo
sobrevivido milagrosamente até 27 de janeiro de 1945, data
em que o Campo foi libertado. Esta data foi designada pela
ONU como o Dia Mundial da Lembrança do Holocausto.
O Senhor Laks imigrou para o Brasil após a guerra. Hoje é
naturalizado, com filhos e netos brasileiros, sendo Presidente
da Associação Brasileira dos Sobreviventes do Holocausto –
Seção Rio de Janeiro. (Sherit Hapleitá em hebraico)
Aos 80 anos, dedica-se a ministrar palestras em escolas,
universidades e eventos. É autor do livro “O Sobrevivente –
Memórias de um Brasileiro que Escapou de Auschwitz”, editado pela Record em 2000, com várias re-edições e prefaciado
pelo Pe. Jesus Hortal Sanches, SJ, Reitor da PUC-RIO. O Senhor Laks costuma autografar o livro com a mensagem “Que o
meu passado não seja o futuro de ninguém”.
Especialmente nos dias que correm, quando lamentavelmente retornam as mesmas ameaças de fanatismo e intolerân226
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
cia, é fundamental manter viva a memória do Holocausto. A
pretexto de uma pseudoteoria racista que discriminava minorias, pretendendo-as inferiores, foram exterminados ignominiosamente milhões de seres humanos inocentes, entre judeus,
ciganos, deficientes físicos, homossexuais, doentes mentais,
dissidentes políticos.
As palestras do Sr. Laks enfatizam valores humanísticos
e morais, mostrando a importância da defesa dos direitos humanos, negação do preconceito, racismo e intolerância, temas
fundamentais para professores e estudantes em geral.
São mensagens de alerta e esperança em tempos melhores, a fim de evitar que tais fatos possam se repetir, que via de
regra muito sensibiliza os que a assistem.
Hino dos Partisans
(Combatentes da Resistência Judaica)
Letra: Hersh Glick (1920-1944)
Musica: Dimitri Pokras (1889-1978)
(Tradução livre do yiddish pelo Autor)
A execução do Hino dos Partisans por uma Banda Militar
foi um acontecimento único não so no Brasil, mas queremos
crer, em todo o mundo. Apenas em Israel temos conhecimento
de que o Hino é executado por bandas militares em cerimônias
realizadas no Yad Vashem em Jerusalém, o instituto e museu
que preserva a memória do Holocausto.
Nunca digas que este é o último caminho...
Ainda que nuvens de chumbo toldem o azul do ceu.
Chegou a hora que tanto esperávamos.
Marchando ao som dos tambores - aqui estamos!
Da terra de verdes palmeiras ou coberta pela branca neve,
viemos com dor, mas determinação.
Onde quer que nosso sangue seja derramado,
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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há de brotar nossa fé e valor.
Um dia o sol brilhará sobre nós,
enquanto o inimigo desaparece no passado.
Mas se a alvorada tardar demais a chegar,
que esta canção seja uma bandeira, de geração em geração.
Ela não foi escrita com tinta, mas a sangue.
Não é o canto de um pássaro em liberdade.
Um povo entre muralhas que tombam,
cantou esta canção de armas na mão!
Dia da Recordação do Holocausto e Heroísmo
Domingo 15 de abril de 2007 no MNM2GM
(Fotos de Jayme Finkel e do Autor)
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Legenda das Fotos do Capítulo 9
Dia da Recordação dos Heróis e Mártires do Holocausto,
domingo 15 de abril de 2007 às 10 h no MNM2GM
Monumento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra Mundial
Homenagem ao Soldado Desconhecido
FOTO 1 - Sr Laks ladeado por dois jovens do Movimento Juvenil Hashomer Hatzair,Sergio Niskier, Presidente, o Autor, Sra Helena Honigman,
Diretora de Eventos, Claudia Grabois, Diretora de Inclusão Social, e Da.
Lea Lozinsky e Eng Jayme Salim Salomão, Vice- Presidentes da FIERJ.
FOTO 2 - A flor branca emergindo do arame farpado simboliza a
esperança em dias melhores para a Humanidade.
FOTO 3 - General Beraldo, Major Elza Cansanção Medeiros, Enfermeira da FEB, o Autor e o Tenente R/2 de Artilharia Luiz Eugenio
Bezerra Mergulhão, da Associação de Ex-Alunos do CPOR/RJ e Grão
Mestre do Esquadrão Tenente Vaz.
FOTO 4 - Em segundo plano, entre os já citados, de paletó branco o
Veterano da FAB Sandoval Alvarenga.
FOTO 5 - Continência ao Soldado Desconhecido.
FOTO 6 - Sr Alexander Henryk Laks sobrevivente do Holocausto,
acende uma das 6 velas evocativas dos 6 milhões de mártires do
Holocausto. Ao fundo a representação da Associação dos Veterans
do Corpo de Fuzileiros Navais.
FOTO 7 - Veteranos Gerald Goldtein, Akiba André Levy, Sr Alexandre Laks, o Autor e Sergio Nislier.
FOTO 8 - Grupo de jovens de movimentos juvenis com Sr Laks e
Diretores da FIERJ.
FOTO 9 - Cel Amauri agrdece pela palestra e entrega um Diploma ao Sr Laks.
FOTO 10 - Tem Rosenthal, Eng Niskier, Sr Laks e o Autor.
FOTO 11 - Homenagem diante da Chama Etena e Túmulo doSoldaSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
231
do Desconhecido: o Autor, Eng Sergio Niskier, Presidente da FIERJ,
General de Divisão Roberto Viana Maciel dos Santos, Diretor de
Assuntos Culturais do Exército Brasileiro, e ex-Adido de Defesa em
Tel-Aviv, Tem Israel Rosenthal, Presidente do Conselho Deliberativo
da ANVFEB e Ten Melchisedec Affonso de Carvalho.
FOTO 12 - Parte do público presente. Em primeiro plano, Capitão
Ignacy Felczak, Capitão Osias Machado da Silva, herói do 1° Grupo
de Aviação de Caça, o Senta-a-Pua, Vet Allain Mirabet-Viallon, Prsidente da Association rancaise dês Anciens Combattants, do Rio de
Janeiro, e o Autor.
FOTO 13 - Vista parcial do público presente.
FOTO 14 - Veteranos John Mason, Presidente da Royal British Legion
no Rio de Janeiro e esposa, Vet Charles van Hombeeck, Presidente
da Sociedade Belga de Beneficiencia, o Autor e netinho Daniel, de
4 anos, Capitão Ignacy Felczak, Presidente da SPK – Veteranos Poloneses e Tem Melchisedech Affonso de Carvalho, Diretor Cultural da
Associação dos Ex-combatentes do Brasil.
FOTO 15 - Coroa aposta junto a Chama Eterna: “AO SOLDADO
DESCONHECIDO BRASILEIRO E AOS HERÓIS DO LEVANTE DO
GUETO DE VARSÓVIA”.
FOTO 16 - Autoridades presentes formam o dispositivo para abertura da cerimônia.
FOTO 17 - Eng Sergio Niskier, General de Divisão Roberto Viana Maciel
dos Santos, Vice-Chefe do DEP – Departamento de Ensino e Pesquisa
do Exército Brasileiro, e ex-Adido de Defesa em Tel-Aviv, General João
Tranquilo Beraldo, Diretor de Assuntos Culturais do Exército Brasileiro,
Tenente Israel Rosenthal e o Sr Alexander Henryk Laks, Presidente da
Associação dos Sobreviventes do Holocausto – Rio de Janeiro.
FOTO 18 - Eng Sergio Niskier, Presidente da FIERJ, traça um paralelo
recordando os ex-combatentes brasileiros da 2ª Guerra Mundial e do
Levante do Gueto de Varsóvia, todos lutadores pela mesma causa.
FOTO 19 - No Auditório do Monumento, o Sr Alexandre Henrik Laks,
sobrevivente do holocausto, deu o seu emocionante testemunho. Presentes Eng Sergio Niskier, Presidente da FIERJ, o Autor e o Administrador do Monumento, Coronel de Artilharia Amauri Santos de Oliveira.
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Capítulo 10
Dia da Recordação
dos Heróis e Mártires
do Holocausto
Segunda 16 de Abril de 2007 às 19 h
Sinagoga de Copacabana
No dia seguinte, segunda-feira 16 de abril às 19 h realizou-se
o Ato Religioso do Dia da Recordação, na Sinagoga de Copacabana - Rua Capelao Alvares da Silva 15, Copacabana - Transversal a
Figueiredo Magalhaes após Toneleros e Metro Siqueira Campos.
O Dia da Recordação dos Heróis e Mártires do Holocausto
(Yom Hashoá veha Gvurá em hebraico) lotou completamente
a Sinagoga Kehilat Yacov (Copacabana), reeditando as grandes
reuniões que no passado congregavam a comunidade judaica
nesta data tão significativa.
O presidente da sinagoga, Dr. Salomão Binesztok, abriu o
ato solene convidando a Banda Sinfônica da Guarda Municipal
a executar o Hino Nacional Brasileiro.
Seguiu-se a leitura pelo jovem José Mauricio Uris, do Kiruv
(organização juvenil religiosa), da proclamação anunciada pela
rádio clandestina para o Mundo Livre, pelo Comandante da Revolta, o jovem de 24 anos Marcos Anilevitch, transmitida do Posto de Comando da ZOB - Organização Judaica Combatente na
Rua Mila 18, na noite de 19 de abril de 1943, em que se iniciou
o Levante do Gueto de Varsóvia, ouvida com grande emoção
pelos presentes.
Sobreviventes acenderam as seis velas: Miriam Glat (representando seu pai Freddy Glat), Alfred Sobotka, Simon Moskal,
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Zalman Grossman, Bela e Yosef Luftman, e Samuel Rosemberg,
que relatou a sua vivência na Bélgica ocupada quando, com apenas 12 anos, passou por duras provas.
O rabino Eliezer Stauber pronunciou as orações do Kadish,
Yzkor e El Malé Rachamim, alternados com pronunciamentos
de Aleksander Laks, Sergio Niskier, da FIERJ, e Flavio Segalis, do
Conselho Juvenil Judaico.
O ex-partisan Isac Kimelblat fez um tocante relato da epopéia que ele e seu irmão Natan viveram junto com mais 28 jovens que escaparam do massacre de três mil judeus da sua cidade
natal, e que se uniram a tropas russas para combater os nazistas
de dia, escondendo-se a noite na floresta.
Encerrando a cerimônia, e a Banda Sinfônica da Guarda Municipal interpretou o “Hino dos Partisans” (“Zog Nit Kein Mol”) e foi
feita uma homenagem a quatro ex-combatentes: tenente Melchisedech Affonso de Carvalho, da Marinha do Brasil; veterano Sandoval Alvarenga, do 1° Grupo de Aviação de Caça (Senta a Pua); Oficial de Radio da Marinha Mercante Americana Gerald Goldstein,
presidente dos veteranos EUA; e Krzysztof Gluchowski, da Armya
Krajowa polonesa, que combateu no Levante de Varsóvia.
O evento foi organizado pela FIERJ, com apoio do rabino Eliezer Stauber e Aleksander Henrik Laks, presidente da Sherit Hapleitá.
Foto 1
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Foto 2
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Foto 7
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Legenda das Fotos do Capítulo 10
Dia da Recordação do Holocausto e Heroísmo
14 de abril de 2007 na Sinagoga de Copacabana
(Fotos de Jayme Finkel e do Autor)
FOTO 1 - Pronunciamento do Eng Sergio Niskier, Presidente da
FIERJ. Na Mesa: Eng Jayme Salim Salomão, VP da FIERJ, Sr Laks,
Rabino Stauber, Dr Binensztok, Dra Lea Lozinsky, VP da FIERJ, Dr
Gerson Hochmann, Presidente do Conselho Deliberativo da FIERJ.
FOTO 2 - O MONTESE de ago 2008, informativo da Associação
Nacional dos Veteranos da FEB – ANVFEB – Seção Mato Grosso do
Sul, recorda que a luta da FEB também era contra o Holocausto.
FOTO 3 - Sobrevivente acende uma vela.
FOTO 4 - Pronunciamento Sr Alexander Henryk Laks, Presidente
da Organização dos Sobreviventes do Holocausto, Seção Rio de
Janeiro.
FOTO 5 - Sr Alexander Henryk Laks, sobrevivente do Holocausto,
Rabino Eliezer Stauber, Eng Sergio Niskier, Presiente da FIERJ.
FOTO 6 - Dia da Recordação dos Heróis e Mártires do Holocausto,
16 de abril de 2007 na Sinagoga de Copacabana - Dr Salomão Binensztok, Presidente da Sinagoga, Sr Alexander Henryk Laks, sobrevivente do Holocausto, Rabino Eliezer Stauber, Eng Sergio Niskier,
Presiente da FIERJ.
FOTO 7 - Banda Sinfônica da Guarda Municipal da Cidade do Rio
de Janeiro executa o Hino Nacional Brasileiro e o Hino dos Partisans
(Guerrilheiros Judeus).
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
237
Capítulo 11
Semana da Pátria
7 de Setembro de 2007
Centro Cultural Esportivo e Recreativo MONTE SINAI
Brasil – 185 anos de Independência no MONTE SINAI
A Comunidade Judaica Fluminense através da Federação
Israelita do Rio de Janeiro – FIERJ e Centro Cultural Esportivo
e Recreativo MONTE SINAI da Tijuca comemorou a Semana
da Pátria com Cerimônia Cívica, Exposição Alusiva aos Feitos
Heróicos da FEB no domingo 2 de setembro, Mesa Redonda
Conversando com os Veteranos e Ato Religioso na Sinagoga
do Monte Sinai. A programação foi a seguinte:
SEMANA DA PÁTRIA
Promovida pela FEDERAÇÃO ISRAELITA do RIO DE JANEIRO
e COMUNIDADE JUDAICA FLUMINENSE no CENTRO
CULTURAL ESPORTIVO e RECREATIVO MONTE SINAI
Rua São Francisco Xavier 104 – Tijuca
(fte Estação Metrô São Francisco Xavier)
Domingo 02 set 2007 às 11h30
• Cerimônia Cívica – Abertura da Semana da Pátria
• Formatura e Hasteamento da Bandeira Nacional
• Canto do Hino Nacional Brasileiro
• Abertura da Exposição Temática das Forças Armadas e
Auxiliares (aberta ao público de domingo a quinta das 10 às 20 h)
• Saudação do Presidente da FIERJ as Autoridades Civis e
Militares por ocasião da Semana da Pátria
• Coquetel Comemorativo
238
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Quarta 05 set 2007 às 19h30
• Mesa Redonda: Conversando com Veteranos da FEB,
Marinha e 1º Grupo de Aviação de Caça (Senta a Pua) - Veteranos respondem perguntas do público.
• Coquetel de Confraternização
Os acordes do Hino Nacional Brasileiro executado pela Banda
da PMERJ emocionaram o público presente à abertura da Semana
da Pátria no Monte Sinai, ao ser o Pavilhão Nacional hasteado pelo
Coronel Leonardo de Andrade, Diretor do Museu Militar Conde de
Linhares, de São Cristóvão, com o Ginásio colorido pelo garance do
uniforme de gala com penacho verde amarelo do Colégio Militar,
azul do uniforme histórico da Artilharia Divisionária da Fortaleza de
Santa Cruz, em Niterói, alvos uniformes brancos do Batalhão Naval
dos Fuzileiros, da Fortaleza de São José, verde-oliva dos Alunos do
CPOR/RJ, o caqui operacional dos Bombeiros Militares do DBM 3/11
– Tijuca, e as boinas azuis dos Veteranos da FEB e do Batalhão Suez.
O Presidente Sergio Niskier homenageou as Forças Armadas
com a entrega de um distintivo da FIERJ a Major Elza Cansanção
Medeiros, primeira enfermeira voluntária da FEB, que agradeceu
em tocante oração. Foi lida mensagem do Ministro Waldemar
Zveiter, Sereníssimo Grão Mestre sobre a contribuição da Maçonaria a Independência, e o Coronel Amauri Santos de Oliveira,
Administrador do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda
Guerra Mundial dirigiu uma saudação a Comunidade Judaica.
Na quarta dia 5 a Mesa Redonda Conversando com os Veteranos despertou grande interesse dos associados e tijucanos para
ouvir o Capitão Osias Machado da Silva, do 1° Grupo de Aviação de Caça (Senta-a-Pua) representando o lendário Brigadeiro
Moreira Lima, em viagem ao Maranhão, a Major ELZA, e ao Tenente R/2 de Infantaria Israel Rosenthal, Veterano da FEB, ao som
da Banda da Escola de Instrução Especializada do Exército.
Encerrando a Semana da Pátria, em todas as 29 sinagogas do
Estado do Rio os Rabinos pronunciaram predicas alusivas à data,
invocando as bênçãos do Todo Poderoso para o Povo Brasileiro,
por ocasião das preces que abriram o Sábado Judaico na noite de
sexta feira, 7 de Setembro.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
239
Ao serviço religioso na sinagoga do Monte Sinai compareceu uma representação da Diretoria de Assuntos Culturais do
Exército, para honra e orgulho da Comunidade Judaica, e o Veterano André Akiba Levy, ex-combatente da Marinha Francesa na
2ª Guerra Mundial.
A presença marcante de nossa Comunidade foi uma bela
demonstração de nossa cidadania e nos insere de forma relevante na vida nacional, pelo sucesso de todos os eventos.
A FIERJ recebeu a seguinte mensagem dos alunos do Colégio Militar que abrilhantaram as solenidades com sua presença:
“Em nome da Sociedade Literária do CMRJ, felicitamo-os
por este período de união, data em que todas as querelas e desentendimentos são perdoados, tornando-o significante para
a manutenção de um convívio interpessoal pleno, mostrando
quão sábios são os ensinamentos da Torá.
Desejamos que a vinda deste novo ano seja consagrada
com a doçura do mel mais pura e pacífica, como o equilíbrio da
natureza.
Shana Tová”
Semana da Pátria – 7 de setembro de 2007
no C.C.E.R. Monte Sinai
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Legenda das Fotos do Capítulo 11
Semana da Pátria – 7 set 2007 no Centro Cultural Esportivo e
Recreativo Monte Sinai, comemorada com uma Solenidade Cívica
na Quadra de Esporte no domingo de manhã. Inaugiração da
Expoisção e Mesa Redonda com Veteranos da FEB.
(Fotos D’Nigris Eventos Sociais - “Marimbondo” e do Autor)
FOTOS 1, 15 e 17 - Na Cerimônia Cívica em homenagem a Semana
da PÁTRIA, uma formatura abrilhantou a solenidade, com alunos
do Colégio Militar, representação da Marinha do Brasil, soldados
da Fortaleza de Santa Cruz em Uniforme Histórico, Bombeiros e
Policiais Militares.
FOTO 2 - Cel Santos Oliveira, Administrador do Monumento dos
Pracinhas saúda o público presente, vendo-se o Autor, o Veterano
Israel de Oliveira Costa Wangler, da associação Integrantes Tropas
de Paz da OEA, um Veterano do Batalhão Suez, Tenente Coronel
Claudio Ricardo Hehl Forjaz, da Diretoria de Assuntos Culturais e
Tem Rosenthal.
FOTO 3 - Representação de Alunos do CPOR/RJ compareceu a Mesa
Redonda.
FOTO 4 - Capitão Osias Machado da Silva dá seu depoimento sobre
a atuação do 1° Grupo de Aviação de Caça na Itália, sob as vistas da
Major Elza Cansanção Medeiros.
FOTO 6 - Sara Salomão, Diretora da FIERJ, entrega uma lembrança a
Major Elza pela sua participação na Mesa Redonda.
FOTOS 5 e 7 - Aspectos da Mesa Redonda com Veteranos da Segunda Guerra Mundial.
FOTO 9 - Major Elza Cansanção Medeiros faz entusiastico pronunciamento, ao lado do Presidente Niskier e do Autor.
244
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
FOTOS 8 e 10 - Bolinhos de gefilte fish, prato típico da culinária judaica
ganham um toque verde e amarelo combinando com a Semana da Pátria.
FOTO 11 - Parte do público presente.
FOTO 12 - O Autor apesenta a Mesa Redonda com ex-combatentes,
Capitão Osias, Major Elza e Tenente Rosenthal, vendo-se ao fundo
Sara Salomção, Diretora da FIERJ.
FOTO 13 - Peças integrantes da Exposição da Semana da Pátria.
FOTO 14 - Dr Altamiro Zymerfogel, Presidente do MONTE SINAI
com o Coronel Leonardo Andrade, Diretor do Museu Militar Conde
de Linhares, em São Cristóvão, e esposa.
FOTO 16 - um dos jipes da exposição, pertencente ao CVMARJ –
Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro.
FOTO 18 - No local reservado as autoridades, Major Elza, Presidnete Altamiro, Coronel Leonardo, Coronel Amauri, Tenente José Candido da Silva (Candinho), Veterano do Regimento Sampaio e Tem
Melchisedech.
FOTO 19 - Presidente Sérgio Niskier homenageia a Major Elza Cansanção Medeiros com a aposição do broche da FIERJ.
FOTO 20 - Corte da fita inaugural da Exposição: Maj Elza, Ten Rosenthal, Cel Santos Oliveira, José Alberto e Vera Lúcia, filhos do
General Chahon e o Presidene Altamiro.
FOTO 21 - Major Galper, Tem Rosenthal, Maj Elza e Sergio
Niskier.
FOTO 22 - Dr Altamiro Zymerfogel e o Autor na Exposição da Semana da Pátria.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
245
Capítulo 12
Tributo à Memória de
Oswaldo Aranha
Dia 27 de Novembro de 2007
Cemitério São João Baptista
Os 60 anos da Resolução 181 - Partilha da Palestina, 29
de novembro de 1947 - 29 de novembro de 2007, com a
criação de um País para os Árabes e outro para os Judeus,
na Histórica Sessão da Assembléia-Geral da ONU presidida
pelo Grande Brasileiro Chanceler Oswaldo Aranha (1894 –
1960) foram comemorados no Cemitério São João Batista na
Quinta-feira 29/11/2007 às 10h, com a Presença de dez Familiares do Chanceler e Aposição de Coroas de Flores no
Jazigo Perpétuo da Família, enviadas pela FIERJ, ORGANIZAÇÃO SIONISTA DO BRASIL, LOJA HERUT DA BNEI BRITH E
AMIGOS DO MEMORIAL JUDAICO DE VASSOURAS, com
os seguintes dizeres:
A Oswaldo Aranha
Eterna Gratidão do
Memorial Judaico de Vassouras
Homenagem da FIERJ e Comunidade Judaica
Ao Grande Chanceler Oswaldo Aranha
1947 – 2007
Como Mestre de Cerimônias atuou o Diretor de Cidadania
da FIERJ, e autor deste livro.
O evento contou com a presença maciça de Familiares do
246
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Chanceler Oswaldo Aranha, a saber:
Embaixatriz Delminda Aranha Correa do Lago (Dedei), filha, Sra Taís Aranha Varnieri Ribeiro, sobrinha; Embaixatriz
Maria Ignez Barbosa, Sr Manoel Aranha Correa do Lago, Sr
Eduardo Oswaldo Terra Lopes Aranha, Sra Luciana Aranha
Hoffmann, Professor Luiz Aranha Correa do Lago, Sr Pedro
Aranha Correa do Lago, netos, e Sr Oswaldo Aranha e Srta Ana
Correia do Lago, bisnetos.
Entre as Autoridades presentes, o Cap Joaquim CAETANO
da Silva, Presidente do Conselho Nacional dos Ex-Combatentes, que participou da 2ª Guerra Mundial, servindo juntamente com Oswaldo Gudolle Aranha, filho do homenageado, e
que também ocupou o mesmo cargo; Cel Nilton Freixinho,
membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil,
contemporâneo de Aranha e que à época serviu no Gabinete
do Ministro da Guerra, General Dutra, Veterano Melchisedec
Afonso de Carvalho, Diretor Cultural da Associação dos ExCombatentes do Brasil, Seção RJ, e Gerald Goldstein, Presidente dos Veteranos USA.
Uma representação dos Veteranos do Batalhão Suez estava presente, capitaneada pelo Diretor Antonio WALTER dos
Santos, como a primeira Força de Paz brasileira, estacionada
de 1956 a 1967 na Faixa de Gaza sob os auspícios da ONU,
tendo sido enviados 20 contingentes.
A Banda de Música do 7º Batalhão da PMERJ sob a regência do Mestre 1º Sgt Mus Milton Mothe Pereira executou o
Hino Nacional Brasileiro, após o que foram lidas mensagens
da Diretora do Museu Oswaldo Aranha, em Alegrete, e de outras autoridades.
Fizeram uso da palavra o Coronel Nilton Freixinho, do
IGHMB e contemporâneo de Oswaldo Aranha, o Presidente da
FIERJ Sergio Niskier, Alberto Nasser, Presidente do Conselho
Sefaradi, Dr Gerson Hochmann, Presidente do Conselho Deliberativo da FIERJ, e o Diretor de Cidadania, Israel Blajberg, que
dirigiu uma mensagem aos presentes em nome da FIERJ.
Foram tocantes pronunciamentos, ao longo dos quais alguns dos presentes, mormente familiares do Chanceler mal puSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
247
deram conter as lágrimas.
O neto Professor Luiz Aranha Correa do Lago usou da palavra fazendo um retrospecto histórico e expressando a emoção da Família pela homenagem.
Encerrando a cerimônia, Familiares e representantes da
FIERJ, Organização Sionista do Brasil, Loja Herut da Bnei Brith
e Amigos do Memorial Judaico de Vassouras apuseram coroas
de flores verde-amarelas e azul-e-branco ao som da Canção
do Expedicionário, executada pela Banda do 7º Batalhão da
PMERJ, em homenagem a Oswaldo Gudolle Aranha, que foi
pracinha da FEB e está sepultado no mesmo Jazigo, e a seus
companheiros Veteranos presentes.
O evento marcou a singela expressão de eterna gratidão
da Comunidade Judaica Fluminense, simbolizada em ato tão
significativo para os familiares.
A seguir, reproduzidmos os pronunciamentos feitos na
ocasião:
Prof. Luiz Aranha Correia do Lago,
em nome da Família Aranha
Prezados Amigas e Amigos, Senhoras e Senhores.
É com profunda emoção e gratidão que a família Aranha
recebe as homenagens prestadas a Oswaldo Aranha, ontem,
na Assembléia Legislativa e hoje, aqui diante do seu túmulo,
por iniciativa da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro. Ao longo de toda a sua história, o povo judeu sempre
soube identificar claramente os seus inimigos, e mostrar reconhecimento e gratidão eternos para com seus amigos.
Nessas duas ocasiões foi destacado por vários oradores
que o sentimento de justiça e a busca da conciliação guiaram
sempre os passos de Oswaldo Aranha.
Sem incorrer em repetições das detalhadas evocações que
ouvimos dos eventos que levaram à histórica decisão da Partilha da Palestina há exatamente 60 anos, gostaria de partir daqueles dois traços de personalidade de Oswaldo Aranha, para
recordar alguns eventos que mostram como Oswaldo Aranha
buscou sempre lutar por seus ideais, se necessário de armas
248
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
nas mãos, mas tendo como objetivo final a paz e a concórdia.
Entre 1923 e 1926, Oswaldo Aranha participou de 4 campanhas militares em seu estado natal, sendo ferido em combate
2 vezes. Se ficou famoso por suas cargas de cavalaria, seu prestígio aumentou particularmente em função da sua conciliadora
gestão como intendente - hoje se diria prefeito – do Alegrete,
sua cidade natal, reduto tradicional da oposição federalista,
onde conseguiu de forma duradoura a colaboração de republicanos e federalistas para a modernização da cidade.
Foi também seu trabalho de conciliação, amplamente reconhecido como essencial durante o Congresso das Municipalidades, que permitiu o surgimento da Frente Única Gaúcha, em
que pela primeira vez, republicanos e federalistas – estes agora
com a denominação de libertadores - apoiaram a candidatura
única gaúcha de Getúlio Vargas à presidência da república.
Grande defensor da Aliança Liberal, Aranha em paralelo
foi o principal articulador e líder civil da Revolução de 1930.
No dia da revolta, não hesitou em tornar novamente as armas,
comandando o ataque ao quartel general em Porto Alegre.
Ministro da Justiça no governo provisório, Oswaldo Aranha não permitiu a perseguição dos vencidos, como desejavam vários revolucionários.
Logo sua luta se voltaria para outras direções: no Ministério da Fazenda, renegociou a dívida externa brasileira com firmeza e participou ativamente da Constituinte de 1934, como
líder da maioria, contribuindo para alguns de seus traços mais
democráticos.
Embaixador em Washington de 1934-1937, destacou-se
pela sua habilidade, que resultou em importante tratado comercial entre Brasil e Estados Unidos. Renunciou à embaixada
por ocasião da promulgação da Constituição do Estado Novo,
com a qual não concordava.
De retorno ao Brasil, instado por amigos temerosos da
crescente influência de elementos pró-fascistas no governo
Vargas, Aranha aceitou o Ministério das Relações Exteriores.
Já foi evocada ontem a sua atuação no sentido de alinhar
o Brasil com os aliados. Sua atuação durante a Conferência dos
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
249
Chanceleres, sentado à mesa ontem ocupada pelo nosso querido deputado Gerson Bergher, foi fundamental para o rompimento das relações do Brasil e de vários países latino americanos com o Eixo, e a partir da entrada do Brasil na Guerra assim
como o envio à Itália do Corpo Expedicionário Brasileiro, do
qual participou seu filho Oswaldo, tão amigo de muitos aqui
presentes.
Acredito que a liderança civil da Revolução de 1930 e
a decisiva atuação para a entrada do Brasil na Guerra contra
o Eixo, cruciais para o desenvolvimento do Brasil por vários
décadas, já reservariam um lugar de destaque para Oswaldo
Aranha na História do Brasil.
Mas caberia ainda a Oswaldo Aranha desempenhar papel
internacional de grande relevância, já longamente tratado ontem
e hoje, na Presidência da Assembléia Geral das Nações Unidas.
A Partilha da Palestina foi a primeira decisão de grande
importância das Nações Unidas. O seu objetivo, defendido
firmemente por Oswaldo Aranha, era a criação de um Estado
Judaico e de um Estado Árabe-palestino.
Após 60 anos, o Estado de Israel é uma realidade tangível
como almejavam os defensores da Partilha. Esperamos que a
recentíssima Conferência de Anápolis resulte finalmente em
um acordo para a formação de um Estado Palestino, que garanta a segurança definitiva do Estado de Israel e a sua convivência pacífica com seus vizinhos, como deseja ardentemente
o povo judeu em todo o mundo. Estarão assim alcançados os
ideais de paz que guiaram Oswaldo Aranha e homens e países
norteados por um sentimento de justiça na inesquecível sessão
da ONU de 29 de Novembro de 1947.
Oswaldo Aranha - Cidadão do Mundo, Herói Nacional
Pronunciamento do Diretor de Cidadania Israel Blajberg
em nome da FIERJ e da Comunidade Judaica Fluminense diante do Jazigo Perpétuo da Família.
O dia 29 de novembro de 2007 marca a data do quase mi250
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
lagre que possibilitou a criação do Estado de Israel, pela ação
pessoal e o descortino do grande brasileiro Oswaldo Aranha.
Momento de grande simbolismo, dias que antecedem Hanuká, a Festa das Luzes, quando há 2 mil anos um outro milagre também ocorreu.
E quem sabe, um terceiro milagre esteja a ponto de acontecer, quando nesta semana em Anápolis tantos paises entre
eles o nosso querido Brasil lá se reúnem em busca da tão sonhada paz entre as nações.
Quis o destino que Oswaldo Aranha encontrasse a sua
última morada aos pés do Cristo Redentor.
Do alto do Corcovado ele também nos envia as suas bênçãos, assim como abençoou as gerações de imigrantes que nos
antecederam, ao ingressarem na Baia de Guanabara sendo recebidos de braços abertos nesta Cidade Maravilhosa.
O Brasil e os judeus da Europa sofreram a brutal agressão
da Alemanha nazista e da Quinta-Coluna, mas os povos e os
brasileiros se uniram como nunca se havia visto.
O Mundo assistia horrorizado a invasão nazista da Europa. Oswaldo Aranha, tomou posse como Ministro das Relações Exteriores, vindo dos Estados Unidos onde servira antes,
encontrando o Presidente, Ministros, Ministro da Guerra e generais impressionados pelo poderio do Exército alemão. Iria
reverter esta situação.
Em 1942, ao final da Conferência dos Chanceleres das
Américas presidida por Oswaldo Aranha o Brasil cortou relações com os países do Eixo.
Foi da sua lavra o discurso onde o Brasil declarou guerra
ao Eixo. E foi a sua pena corajosa que lançou a assinatura na
resolução que permitiu acolher aqui em terras brasileiras os
judeus que escapavam do Holocausto.
Se no alto daquela montanha tantos emigrantes enxergaram a salvação, bem perto o mausoléu da FEB nos recorda
que neste mesmo Jazigo Perpétuo da Família Aranha também
repousa seu filho, Oswaldo Gudolle Aranha, um dedicado e
valoroso ex-combatente.
Aquele jovem, na época o filho do Ministro das RE não
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
251
hesitou em envergar voluntariamente o uniforme de pracinha
da FEB, honrando o nome de seu pai.
A FEB vitoriosa trouxe conseqüências extraordinárias, mudou o País, depois dela tivemos a volta da Democracia. A FEB
representou um momento fundamental na vida brasileira, na
história do Brasil, que também a Oswaldo Aranha devemos.
Oswaldo Aranha era filho do Alegrete, na planície do pampa riograndense, antiga capital farroupilha da fronteira oeste,
berço de grandes combates históricos.
Estudou no Colégio Militar tendo integrado seu Esquadrão
de Cavalaria.
Defendeu o governo no Rio Grande do Sul como líder
militar civil, tendo sido ferido gravemente em combate, com
um tiro de fuzil no combate de Seivalzinho, próximo a Lavras
do Sul, por pouco não tendo perecido. Liderou no Rio Grande
do Sul a Revolução de 30, tendo participado do ataque ao QG
da 3ª. Região Militar.
Foi o primeiro a defender de forma notável em 1946 a
memória do grande líder farroupilha Marechal Bento Manoel Ribeiro, conforme abordado no livro O Exército Farrapos e
seus Chefes, do Cel Cláudio Moreira Bento.
Oswaldo Aranha, Cidadão do Mundo e grande herói nacional.
A ele, como Presidente da Assembléia-Geral da ONU, o
Povo de Israel deve o seu Estado.
Os judeus do mundo inteiro, e do Brasil em especial,
jamais olvidaram Aranha, uma das mais significativas homenagens sendo a praça que leva seu nome ilustre, em singelo
bloco no coração da Cidade Santa de Jerusalém, bem próximo da Muralha Ocidental do Templo de Salomão, onde nos
caracteres dos alfabetos hebraico e da língua portuguesa, está
indelevelmente gravado seu nome.
Passados quase 2 mil anos, aquele Muro santificado pontifica novamente sobre uma pátria judaica, graças a este ilustre
brasileiro.
Em nome da FIERJ e da Comunidade Judaica Fluminense,
em comunhão com seus estimados descendentes, reverencia252
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
mos a memória do Chanceler Oswaldo Aranha, grande brasileiro, expressando o nossa reconhecimento, o nosso agradecimento e a eterna admiração dos seus compatriotas.
Mensagens recebidas pela FIERJ
Do Prof Luiz Aranha Corrêa do Lago
Prezado Israel,
conforme combinado encaminho-lhe a minha breve fala
no cemitério ontem. Gostaria de aproveitar a oportunidade
para agradecer a forma como voce conduziu a cerimônia, que
muito emocionou a família. Foi um prazer conhecê-lo. Um
abraço, Luiz Aranha Corrêa do Lago.
Profª Andréa de Oliveira, Diretora do Museu Oswaldo
Aranha de Alegrete, saudação lida pelo Dr Nelson Menda
O Museu Oswaldo Aranha, nessa data tão significativa
presta homenagem junto à comunidade Judaica ao “Cidadão
do Mundo”, aquele que nasceu para servir o seu país, não para
se sevir dele.
Homem que escreveu a história do Rio Grande, do Brasil
e da ONU. Que teve o seu berço aquecido no fogo das revoluções e bravamente atravessou rincões ao soar dos cascos dos
cavalos gaúchos, da mesma forma que atravessou mares em
busca da paz.
Andréa Oliveira - Diretora MOA
Mensagem do Cel Cláudio Moreira Bento
Presidente da Academia de História Militar Terrestre
do Brasil (AHIMTB) e Instituto de História e Tradições do
Rio Grande do Sul (IHTRGS), lida na Solenidade de Homenagem ao Chanceler Oswaldo Aranha - Cemitério São João
Baptista.
Osvaldo Aranha estudou no Colégio Militar tendo integrado seu Esquadrão de Cavalaria.
Defendeu o governo no Rio Grande do Sul como líder
militar civil, tendo sido ferido gravemente em combate com
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
253
um tiro de fuzil no combate de Seivalzinho próximo a Lavras
do Sul e por pouco não perecido.
Liderou no Rio Grande do Sul a Revolução de 30 tendo
participado do ataque ao QG da 3ª Região Militar.
Foi o primeiro a defender a memória do General Bento
Manoel Ribeiro conforme abordado no meu livro O Exército
Farrapos e os seus chefes.
Natural de Alegrete, foi um grande herói nacional, e a ele,
como Presidente da Assembléia-Geral da ONU, Israel deve o
seu Estado.
(a) Cel Cláudio Moreira Bento
Do Tenente R/2 de Comunicações
Elizio Damião Gonçalves de Araújo
Bravo e Caro Israel
Obrigado por transmitir um pouco da memória do belo e
singelo acontecimento. Fiquei emocionado ao ler no seu texto,
a referência às plagas da fronteira oeste, o Alegrete, vizinha à
minha saudosa Uruguaiana, onde nasceu Oswaldo Aranha.
Abração
Elizio
Do Gen Eng. BUENO,
da Turma de 1937 da Escola Militar do Realengo
Caro amigo,
Gostaria de estar presente a justa homenagem ao ilustre
Brasileiro Oswaldo Aranha.
Tenho só boas lembranças do Político honrado que é um
exemplo para nos.
Um cordial abraço
Gen Bueno
A solenidade da FIERJ inseriu-se nas amplas homenagens a Oswaldo Aranha, iniciativa vitoriosa do Conselho
Sefaradi que encontrou eco junto às mais importantes
lideranças da coletividade, da família Aranha, da mídia
e da sociedade maior. A idéia de lembrar o papel funda254
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
mental desempenhado por Aranha na Partilha da Palestina, partiu de uma deliberação do Conselho Sefaradi.
Em agosto e setembro de 2007 foi lançada, no Rio
Grande do Sul, a campanha em prol da construção do
Memorial Oswaldo Aranha, belíssimo projeto de Oscar
Niemeyer que obteve amplo respaldo da sociedade e das
mais altas autoridades estaduais e federais.
A Revista Shalom publicou textos de grande relevância sobre “Oswaldo Aranha e a Partilha da Palestina”. O
Jornal “O Globo” publicou esclarecedor artigo do Jornalista Osias Wurman sobre o tema. O Alef de 23/11
e 25/11 veiculou matérias sobre Aranha, a Partilha da
Palestina e a criação do Estado de Israel. O Programa de
Teresa e Gerson Bergher e o “Comunidade na TV”, da
Fierj, destacaram as solenidades homenageando um estadista que, apesar de não judeu, mais ajudou os judeus
nos últimos 2.000 anos.
Essas comemorações são um privilégio nosso, de
brasileiros e de mais ninguém, porque nenhuma outra
nação do mundo pode compartilhar da honra e do orgulho de ter tido uma figura pública do quilate de Oswaldo
Aranha.
No Dia 28/11, quarta-feira, às 18:30h ocorreu Cerimônia Cívica no Palácio Tiradentes, na Rua Primeiro de
Março, com a presença de familiares de Oswaldo Aranha, no mesmo Plenário onde Aranha pronunciou seu
famoso discurso de apoio do Brasil às forças aliadas, em
janeiro de 42, que mudou o próprio rumo da guerra.
No Dia 29/11, quinta-feira, às 16:00h. de Israel e
11:00h do Brasil houve Sessão Solene no Knesset, em Jerusalém, com a presença de vários familiares de Oswaldo
Aranha especialmente convidados para esse ato cívico.
Dia 13/12, quinta-feira, às 16:00h houve uma Sessão Especial na Câmara Federal em Brasília. Iniciativa
da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, com apoio
da Conib e de suas federadas. O orador foi o Deputado
Ibsen Pinheiro.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
255
Tributo à Memória de Oswaldo Aranha
29 de novembro de 2007 no Cemitério S. J. Baptista
256
Foto 1
Foto 2
Foto 3
Foto 4
Foto 5
Foto 6
Foto 7
Foto 8
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Foto 9
Foto 10
Foto 11
Foto 12
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
Foto 13
257
Legenda das Fotos do Capítulo 12
Tributo à Memória de Oswaldo Aranha, Presidente da Assembléia Geral da ONU que deliberou sobre a Partilha da Palestina,
nos 60 anos da data, em 29 nov 2007 no Cemitério S. J. Baptista.
(Fotos do Autor)
FOTO 1 - Coroas enviadas pela FIERJ, ORGANIZAÇÃO SIONISTA
DO BRASIL, LOJA HERUT DA BNEI BRITH E AMIGOS DO MEMORIAL JUDAICO DE VASSOURAS, formadas com flores nas cores
verde-e-amarela e azul-e-branca, vendo-se na lateral os nomes de
10 membros que repousam eternamente no Jazigo Perpétuo da FAMILIA ARANHA.
FOTO 2 - Sérgio Niskier, Presidente da FIERJ saúda a Familia ARANHA, vendo-se a a bisneta Ana de Ouro Preto Correa do Lago (E), o
Autor Eng Israel Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ, a neta Embaixatriz Maria Ignez Barbosa (D) e ao fundo o Sr B. Herzog, sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, um dos personagens descritos
no Livro Sobreviver de Sofia Débora Levi.
FOTO 3 - Neto do Chanceler, Professor Luiz Aranha Correa do Lago
pronuncia palavras de agradecimento pela homenagem da FIERJ,
recordando o caráter conciliador de seu avô e passagens históricas.
Em primeiro plano a neta Embaixatriz Maria Ignez Barbosa (E) e a
filha Embaixatriz Delminda (Dedei) Aranha Correa do Lago (D).
FOTO 4 - Neta do Chanceler, Luciana Aranha Hoffmann e Bisnetos
Oswaldo Aranha e Ana de Ouro Preto Correa do Lago.
FOTO 5 - Dr Nelson MENDA, Coordenador do Conselho Sefaradi
no Rio de Janeiro, colaborador na organização dos eventos que
marcaram os 60 anos da Partilha da Palestina, transmitindo a mensagem enviada especialmente pela Profª Andréa de Oliveira, Diretora do Museu Oswaldo Aranha de Alegrete.
FOTO 6 - Veterano Melchisedec Afonso de Carvalho, Diretor Cultural da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, o Autor Israel
Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ, 1° Sargento Milton Mothe Pereira, Mestre da Banda de Música do 7° Batalhão da PM de
258
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Alcântara, Veterano Gerald Goldstein, Oficial Radiotelegrafista da
Marinha e Presidente dos Veteranos USA do Rio de Janeiro.
FOTO 7 - Veterano Melchisedec Afonso de Carvalho, Diretor Cultural da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil (E), o Autor Israel Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ (D) ladeiam 2 netos do
Chanceler.
FOTO 8 - Veterano Melchisedec Afonso de Carvalho, Diretor Cultural da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, o Autor Israel
Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ, Capitao Joaquim CAETANO da Silva, Presidente do Conselho Nacional dos Ex-Combatentes, que participou da 2ª Guerra Mundial, servindo juntamente com
Oswaldo Gudolle Aranha, filho do homenageado, e que também
ocupou o mesmo cargo.
FOTO 9 - O Sr Alberto Nasser, ex-presidente da CONIB saúda a família Aranha, recordando a inauguração da Praça Oswaldo Aranha
no coração de Jerusalém durante a sua gestão, vendo-se os bisnetos
Oswaldo Aranha e Ana de Ouro Preto Correa do Lago e o Autor,
Eng Israel Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ.
FOTO 10 - O Autor com Veterano Gerald Goldstein, Sergio Niskier,
Presidente da FIERJ, Vitoria Saul Sulam, do Conjunto Angeles y Malahines e Nelson Menda, do Conselho Sefaradi.
FOTO 11 - Ao final da solenidade, familiares do Chanceler com
alguns dos presentes, e Veteranos da 2ª Guerra Mundial.
FOTO 12 - Neto do Chanceler, Eduardo Oswaldo Terra Lopes Aranha, Raphael Hallacke da Equipe de Som da FIERJ, o Autor Israel
Blajberg, Diretor de Cidadania pronunciando uma mensagem da
FIERJ em nome da Comunidade Judaica Fluminense aos descendentes de Oswaldo Aranha, diante do Jazigo Perpétuo da Família
ARANHA, Sergio Niskier, Presidente da FIERJ e o neto Professor
Luiz Aranha Correa do Lago.
FOTO 13 - A expressão de familiares e demais pessoas presentes
demonstra o forte impacto emocional da cerimônia. Durante os tocantes pronunciamentos, alguns dos presentes, mormente familiares do Chanceler mal puderam conter as lágrimas. Vê-se na foto Da.
Lucy Wegner (4ª Da D), coordenadora do Grupo Chai da ARI. Ainda criança, emigrou da Alemanha poço depois da Noite de Cristal,
graças a intervenção pessoal do Chancler Oswaldo Aranha.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
259
Capítulo 13
Dia Internacional de
Recordação do Holocausto
24 de Janeiro de 2008 - Itamaraty
A FIERJ-Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro e
o Centro de Informação da ONU no Rio de Janeiro, a exemplo
do ocorrido em 2007 realizaram em 25 de janeiro de 2008,
sexta-feira, das 10:30h às 12:00h, uma cerimônia referente ao
DIA INTERNACIONAL DA ONU DE LEMBRANÇA ÀS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO, no Salão Nobre do Palácio Itamaraty, na Rua Marechal Floriano, 196, Centro, Rio de Janeiro,
onde se situa o Centro de Informação da ONU.
O evento inclui a inauguração da exposição HOLOCAUSTO NUNCA MAIS, organizada pelo Museu Judaico do Rio de
Janeiro, e um ato cívico com a manifestação das autoridades
presentes.
Dia 25 de Janeiro, data fixada pela ONU para marcar o
Dia de Libertação do Campo de Extermínio de Auschwitz,
foi criada com a recomendação para que sejam promovidas
ações políticas e educacionais em todos os países membros
da ONU.
Desde 2007 a FIERJ e a ONU vem marcarando a data,
sendo que neste ano de 2008 tivemos a honrosa presença do
Exmo. Sr. Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva,
do Exmo. Sr. Governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio
Cabral, do Exmo. Sr. Governador do Estado da Bahia Jaques
Wagner, diversas autoridades de todos os escalões, militares,
ex-combatentes brasileiros e de nações amigas, partisans, líderes comunitários e religiosos.
O simbolismo desta data é muito claro, pela memória dos
260
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
que tombaram, e pelo alto significado da luta contra o preconceito, o racismo, a discriminação, o anti-semitismo, e todas
as demais formas de intolerância correlata, e principalmente
contra o esquecimento e a tentativa de apagar o Holocausto da
história, perpetrado pelo idólatras do fascismo e do nazismo.
Ter em mente um mundo melhor para todos, é a lição a
ser tirada do Holocausto. Foi assim que nasceu o Estado de
Israel, das cinzas do Holocausto, chegando a ser o que é hoje.
Nunca esquecer o imenso sofrido causado pelo Holocausto
ao Povo Judeu, e cuidar que isto nunca mais se repita contra
quem quer que seja.
Em 2005 a Assembléia Geral das Nações Unidas reuniuse em sessão especial para marcar o 60º aniversário da libertação dos campos de concentração nazistas e, mais à frente,
reafirmando a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
HUMANOS adotou por consenso a resolução 60/7 intitulada
“Recordação do Holocausto”.
Segundo a resolução, co-patrocinada pelo Brasil, “o Holocausto, que resultou no assassinato de um terço do povo judeu, juntamente com inúmeros membros de outras minorias,
será sempre uma advertência para todo o mundo dos perigos
do ódio, fanatismo, racismo e preconceitos”. A resolução também fala na necessidade de que sejam absorvidas as lições do
Holocausto com o objetivo de ajudar a prevenir atos futuros
de genocídio.
Em janeiro de 2007, a ONU adotou nova resolução condenando as declarações que negarem a ocorrência do Holocausto. O Brasil foi co-patrocinador dessa resolução, aprovada
por consenso por mais de 100 países.
Esta foi a terceira vez que o Presidente Lula compareceu à
cerimônia, sendo que nos dois anos anteriores, 2006 e 2007,
participou dos eventos realizados em São Paulo.
Segundo o presidente Lula, “o Holocausto deve ser lembrado com indignação por nós, pelos nossos filhos, pelos filhos dos nossos filhos e por todas as gerações futuras”. Para o
Presidente, “nós devemos promover os valores mais elevados
da solidariedade: paz e tolerância. E transformar esses valoSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
261
res em ações concretas contra o anti-semitismo, os preconceitos de raça, religião e classe”. Durante as cerimônias de que
participou, o presidente Lula enfatizou os investimentos do
governo federal para aprimorar os mecanismos de combate à
discriminação, à intolerância e ao preconceito, por meio da
atuação das Secretarias dos Direitos Humanos e de Promoção
da Igualdade Racial e do Ministério da Justiça.
O Veterano da FEB Major Joaquim Thiago participou da
Cerimônia, na ocasiao obteve do Presidente LULA e do Governador Sérgio Cabral a promessa de que intercederão para
reverter o grave quadro em que se encontra a ANVFEB, por
falta de recursos para se manter em funcionamento.
O General de Divisão Moyses Chahon foi retratado na Exposição ao lado do então Ten Cel Castello Branco, durante a
Campanha da Itália em 1945.
O então Tenente Chahon foi um dos poucos brasileiros
agraciados com a Silver Star concedida pelo Exército Americano, por heroísmo em combate na Tomada de La Serra.
Seu filho, Engenheiro José Alberto Chahon do BNDES estava presente e foi retratado ao lado do painel da exposição
onde aparece o pai. um jovem tenente na ocasião.
A Banda da Cia Independente de Músicos da PMERJ foi
convidadada pela FIERJ para participar da Cerimônia, quando
executou com brilhantismo o Exórdio Presidencial à chegada
do Presidente Lula ao Salão Nobre, e o Hino Nacional Brasileiro à abertura do Ato Solene.
Trechos do Discurso do Presidente LULA
Ao iniciar seu pronunciamento, assim se expressou o Presidente LULA:
Meus amigos, minhas amigas,
Eu acho que se nós tivéssemos encerrado este ato na fala
do brigadeiro Ruy Moreira Lima, já estaria de bom tamanho o
ato, porque é a testemunha viva do que aconteceu lá. Eu ainda
não tinha nascido.
Portanto, Deus o preserve por mais algumas décadas para
262
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
contar essas histórias em outros dias 25 de janeiro.
Minhas amigas, meus amigos, jornalistas aqui presentes.
Agradeço o honroso convite da comunidade judaica do
Rio de Janeiro para participar deste ato.
... o Presidente prossegue seu pronunciamento ...
O Brigadeiro Ruy Moreira Lima do Senta a Pua - 1° Grupo de Aviação de Caça participou como um dos oradores da
Cerimônia, contando aos presentes que um piloto brasileiro
abatido em combate foi capturado pelos nazistas e mandado
para o campo de concentração de Sztetin na Polônia, onde
testemunhou as barbaridades cometidas contra os judeus. A
seguir reproduzimos as suas palavras, por transcrição.
Pronunciamento do MAJOR-BRIGADEIRO-DO-AR
RUI BARBOSA MOREIRA LIMA
Locutor:
Representando todos os combatentes brasileiros e dos
exércitos amigos convidamos a fazer uso da palavra ao Brigadeiro Ruy Moreira Lima, piloto com mais de 90 missões de
combate pela Força Aérea Brasileira.
( Palmas )
Brigadeiro Moreira Lima:
Quando entrei aqui na casa, um repórter me perguntou se
era necessário uma reunião desse tipo para relembrar.
Agora mesmo tivemos aqui um palestrante que fez um
discurso muito bonito, em que ressaltou não se poder esquecer um fato dessa natureza, porque não se compreende que a
vida humana haja sido tratada dessa maneira, com tamanho
desprezo, com deboche, com raiva.
Judeus, poloneses, russos, prisioneiros, eslavos, ciganos,
essa gente toda foi morta, morta friamente, com vontade de
matar.
Criaram uma palavra nova, que aprendi noutro dia, chama-se despovoação; matar, porque a Alemanha precisa de espaço, para lá colocar os nazistas.
Não era a Alemanha, eram os nazistas, é preciso que se
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
263
preste muita atenção, os nazistas, esses bandidos, insensíveis,
matadores profissionais, matavam de uma maneira terrível, foram escolhendo, foram matando aos poucos, matavam nas valas, depois criaram salas de biometria, medindo peso, altura.
Assassinavam com um tiro na cabeça, na nuca, a vítima
caía sobre um lençol; mas estava se gastando muito lençol,
muita lentidão, passaram a matar pela fome, tirando a comida.
Estou falando como membro de um esquadrão da Força
Aérea que combateu na Itália, que combateu contra o nazifascismo.
Tínhamos aqui uma ditadura forte, horrível como todas,
a do Presidente Vargas, terrível, terrível, porque as ditaduras
não respeitam nada, não respeitam as leis, não respeitam coisa
nenhuma.
( Palmas )
Nesse meu esquadrão éramos 49 pilotos, 9 morreram
em combate, 5 caíram prisioneiros, 3 foram recolhidos pelos
partisans, pelos guerrilheiros, e ficaram até o fim da guerra, 6
voltaram por doença, estafa aérea, pneumonia, problemas de
coluna, infelizmente um, por covardia; não se pode apontar,
porque nasceu assim, geneticamente; essa pessoa nem poderia
estar ali, mas foi, e voltou.
Esse grupo não teve recompletamento, não se pensou,
sabe Presidente, e foi a cúpula que não pensou em recompletamento.
Ao final da guerra, na primavera restavam 22 pilotos, o comandante americano, (N.: o Brig. Pergunta pelo Embaixador),
o comandante americano chamou o nosso comandante: vocês
já deram a sua parte, vocês agora vão descansar, eu tenho 90
pilotos lá em Nápoles e vou substituí-los porque vocês já chegaram ao limite de vocês.
Não, não chegamos, quando se defende a pátria, quando
se defende o ideal o limite é sempre o final, até para morrer,
por isso é que fazemos o juramento, de defender a pátria até
a morte.
Não senhor, ninguém vai ceder o lugar para ninguém,
nem nossos aviões vão ser emprestados para ninguém, nem
264
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
nosso sargentos vão voar para ninguém, nos vamos voar quantas missões forem necessárias.
Não teríamos chances de operar mais de 15 dias; se a
guerra durasse mais de quinze dias o Grupo parava, seria uma
vergonha para o Brasil. É bom porque foi a história que vivemos, e aqui no Brasil se esconde a história.
Por isso é que vocês, judeus estão aqui, reunidos e eu estou aqui com vocês, batendo palmas, e gritando, por que;
EU VI !!!
EU VI !!!
( Palmas intensas )
Nós tivemos um colega que foi prisioneiro em Sztetin (*).
Ninguém sabe por que que ele caiu na Itália, atravessou a Alemanha e foi parar na fronteira da Polônia, Prússia Oriental.
Permaneceu preso até a ocupação, perdeu 12 kg esse rapaz. A
comida eram 3 batatas por dia, um pedacinho de pão, um chá
de ersatz, uma sopa no fim da noite que também não era sopa,
era alguma coisa rala qualquer.
Eu até não digo nada contra os alemães, porque também
estavam passando fome, eles estavam passando mal.
Mas esse homem, neste campo de prisioneiros, eram 10 mil
prisioneiros, lá em Sztetin ele reclamava por falta de comida:
mas não estão dando comida, vamos morrer, cada dia morria
alguém, inanição, entrava em avitaminose, caiam os dentes.
1º de maio os russos entraram, libertaram todo mundo, o
comandante era Gabreski, um grande ás americano, ainda vivo.
Gabreski proibiu saídas do campo, não havia segurança.
Alguns, mais jovens, mais afoitos saíram e morreram. Foi montada uma ponte aérea de B-17 para transporte dos prisioneiros
libertados.
Esse colega meu estava no campo, um dia saiu e foi visitar
um campo de judeus. Ele era mineiro, sabe Dornellles (**),
era mineiro, e me dizia: Rui você nunca me viu chorar, seu
apelido era “Moita Paes”, falava pouco. Quando escrevi um
(*) - Notas do Transcr.:
(*) - Sztetin, Prússia, hoje na Polônia, fronteira com a Alemanha.
(**) - Ex-Ministro e Deputado Francisco Dornelles
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
265
livro, “Senta a Pua”, contando a história do Grupo de Caça, ele
disse o seguinte:
Quando vi o quadro, fiquei com vergonha, com vergonha de ter reclamado, por ter sido maltratado nesse
campo...
Por aí vocês têm uma idéia...
É uma pena que só tenha esse tempo para falar....
( Palmas intensas )
O Brigadeiro retorna ao seu lugar intensamente ovacionado, sendo cumprimentado de pé pelo Ministro e Deputado
Francisco Dornelles e pelos Vice-Presidentes da FIERJ Jayme
Salim Salomão e Lea Lozinski.
Em 09 de fevereiro de 2008, eram as seguintes as contagens das visualizações dos vídeos do evento, divididos em 5
segmentos no YouTube:
Brig. Moreira Lima – 3153
Pres. Lula – 720
Abertura – 363
Outros Oradores – 221
Clipe Holocausto – 564
Total – 5021
Curriculum Vitae
MAJOR-BRIGADEIRO-DO-AR RUI BARBOSA MOREIRA LIMA
Nascido aos 12 jun 1919 em Colinas, Estado do Maranhão, filho do Desembargador Bento Moreira Lima e
Sra. Heloísa Barbosa Moreira Lima. Casado com D. Julinha.
Ingressou na Escola Militar do Realengo, como Cadete, em 31 de março de 1939, onde cursou os dois primeiros anos, escolhendo a Arma de Aviação.
Com a criação do Ministério da Aeronáutica em 20 de
janeiro de 1941, foi transferido em março daquele ano,
para a Escola de Aeronáutica dos Afonsos. Concluiu o
Curso em 30 de setembro de 1942, sendo promovido ao
posto de Aspiran te Aviador.
266
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Como 2° Tenente Aviador, servindo na Base Aérea
de Salvador, inscreveu-se como voluntário para servir no
1º Grupo de Aviação de Caça. Neste período, cumpriu
19 missões de Patrulha e Cobertura de Comboio.
Realizou o treinamento de Piloto de Caça em Aguadulce, Panamá, em aeronave P-40, repetindo o treinamento na Base Aérea de Suffolk, Nova York, agora no
avião que iria combater na Itália, o P-47 – Thunderbolt.
Piloto de combate da Esquadrilha Verde, sua primeira
missão foi em 06 NOV 44 e a última em 01 MAI 45. Em
18 Jun 45, partiu de Pisa para os EUA para levar novos
aviões P-47 para o Brasil. Na Campanha da Itália, realizou
94 missões de guerra, sendo atingido pela Artilharia Antiaérea alemã em nove destas.
Obteve todas as promoções, a partir de CapitãoAviador, pelo critério de merecimento. Durante os anos
em que permaneceu na Aviação de Caça, exerceu todos
os cargos exigidos para um Piloto de Caça, desde Ala de
Esquadrilha até Comandante do 1º Grupo de Aviação de
Caça.
Desempenhou o cargo de Comandante do Grupo de
Transportes Especial e da Base Aérea de Santa Cruz entre
14 AGO 1962 e 02 ABR 1964, quando teve então seus
direitos políticos cassados. Pertenceu ao Conselho Nacional de Segurança e à Comissão Aeronáutica Brasileira
em Washington, EUA.
Autor de vários textos sobre aviação e sobre os integrantes do Grupo de Caça, o mais destacado deles o livro
“Senta a Pua!”.
Recebeu as seguintes condecorações como Piloto
de Caça em combate: Cruz de Aviação, Fita A, com
três Estrelas; Medalha da Campanha da Itália; Cruz
de Aviação, Fita B; Distinguished Flying Cross (Cruz
de Bravura dos EUA); Air Medal com quatro estrelas;
Croix de Guerre Avec Palme, da França; Medalha da
Confederação de Ex-Combatentes da Europa, Presidential Unit Citation (USA).
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
267
Proclamação de Mordechai Anielewicz,
Comandante da Resistência do Gueto na
Noite do Levante do Gueto de Varsóvia
- 19 de abril de 1943 (Adaptação do Autor)
Nós, Combatentes do único reduto livre da Europa
neste momento, apelamos ao Mundo para que se lembre
de nós.
Que nos ajudem.
Sabemos que vamos morrer - não importa.
Hoje, véspera da Páscoa Judaica, começamos a percorrer
mais uma vez o Caminho da Liberdade.
Vamos morrer - estamos conscientes disso.
O sangue judeu não mais será derramado em vão.
Lutando contra o nazismo neste gueto de Varsóvia, iniciamos um novo porvir para o Povo Judeu.
Aqui tremula a bandeira azul-e-branca do Povo de Israel.
Aqui, com a nossa morte, nasce a semente do futuro Estado.
Não nos esqueçais...
Viva a Liberdade e a Fraternidade dos Povos!
Viva o Povo de Israel!
Mordechai Anielewicz
Comandante da ZOB – Organização Combatente Judaica
A FIERJ recebeu diveras mensagens alusivas a data, das
quais transcrevemos duas:
Do General Aureliano Pinto de Moura, Presidente do
IGHMB, Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.
Prezado Israel
Não poderia deixar de comparecer a tão significativo
evento. Lá estarei junto aos amigos relembrar as vítimas desse
triste e trágico episódio da História para à Humanidade.
Um abraço
Aureliano
268
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Do Tenente R/2 Moacir Torres, Presidente da AORA
Associação dos Oficiais da Reserva da Amazônia
Prezado Companheiro,
Agradeço enormemente o convite enviado.
Apresento retratação formal por não ter podido me fazer
presente.
No entanto, apresento em meu nome e em nome dos Oficiais da Amazônia, todo o respeito pelo Povo Judeu, por todos
os aspectos que o constituem, principalmente pela vossa história e contribuição para toda humanidade.
Nossas orações são para que não mais aconteçam atrocidades como no holocausto. Mas saibam todos que em caso
alguém tente façanha semelhante, encontrará no Soldado Brasileiro, um forte opositor; e, nós, Soldados da Amazônia, estaremos prontos para garantir a Liberdade e os Direitos Humanos mesmo que custe nossa própria vida.
SHALOM! SELVA!
Ten Torres - Pres. AORA.
Dia Internacional de Recordação do Holocausto
24 de janeiro de 2008 no Itamaraty
Foto 1
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Foto 2
Foto 3
Foto 4
Fotos 5 e 6
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Foto 8
Foto 9
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Foto 10
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SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
Foto 12
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Legenda das Fotos do Capítulo 13
Dia Internacional de Recordação do Holocausto
24/jan/2008 no Itamaraty
(Fotos de Isaac Markman e do Autor)
FOTO 1 - Brigadeiro Ruy Moreira Lima, do Senta a Pua - 1° Grupo
de Aviação de Caça usa da palvra em vibrante pronunciamento na
Cerimônia alusiva ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do
Holocausto no Salão Nobre do Palácio Itamaraty. Sentados: Sérgio
Cabral, governador do estado do Rio de Janeiro, e sua senhora Adriana Ancelmo Cabral, Jaques Wagner, governador do estado da Bahia,
e sua companheira Maria de Fátima Carneiro de Mendonça, Paulo
Vannuchi, secretário Especial dos Direitos Humanos, Da. Marisa, esposa do Presidente, Dr Cláudio Lottemberg, presidente da Conib.
FOTO 2 - Segundo o presidente Lula, “o holocausto deve ser lembrado com indignação por nós, pelos nossos filhos, pelos filhos dos
nossos filhos e por todas as gerações futuras”. Para o Presidente,
“nós devemos promover os valores mais elevados da solidariedade:
paz e tolerância. E transformar esses valores em ações concretas contra o anti-semitismo, os preconceitos de raça, religião e classe”. Durante as cerimônias de que participou, o presidente Lula enfatizou os
investimentos do governo federal para aprimorar os mecanismos de
combate à discriminação, à intolerância e ao preconceito, por meio
da atuação das Secretarias dos Direitos Humanos e de Promoção da
Igualdade Racial e do Ministério da Justiça.
FOTO 3 - Pronunciamento do Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
FOTO 4 - Pronunciamento da Embaixadora de Israel, Tzipora Rimon.
FOTOS 5 e 6 - O grande público que lotou o Salão Nobre do Itama272
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
raty, na Rua Marechal Floriano, no centro do Rio de Janeiro, vendose Veteranos Boina Azuis do Batalhão Suez.
Em primeiro plano, o Vice-Presidente da CONIB conversa com a
Dra. Clara Ant, Assessora Especial do Presidente Lula.
FOTO 7 - Eng José Alberto Chahon, filho do General Chahon, junto
ao retrato em que aparece seu pai.
FOTO 8 - O 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira que lutou nos céus da Itália durante a 2ª Guerra Mundial
tinha como símbolo e grito de guerra o Senta a Pua, idéia do então
Capitão Aviador Fortunato Câmara de Oliveira, Comandante da Esquadrilha Azul.
FOTO 9 - Símbolo da ONU para o Dia Internacional de Recordação
das Vítimas do Holocausto.
FOTO 10 - Presidente LULA inaugurou a Exposição Holocausto
Nunca Mais no Saguão do Museu Histórico e Diplomático, deixando a sua assinatura no Livro de Visitantes.
FOTO 11 - Uma exposção organizda pelo Museu Judaico marcou
a data, celebrada oficialmente em 27 de janeiro, estabelecida pela
Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005, para lembrar
o dia da libertação dos prisioneiros do campo de concentração
nazista de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polônia, em 1945. Em
janeiro de 2007, a ONU adotou nova resolução condenando as
declarações que negarem a ocorrência do Holocausto. O Brasil foi
co-patrocinador dessa resolução, aprovada por consenso por mais
de 100 países.
FOTO 12 - Tenente Chahon com a FEB na Itália, em grupo lnde
se incluía o futuro Presidente da República, então Tenente Coronel
Humnberto de Alencar Castello Branco.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
273
Posfácio
Foi com um grande sentimento de realização que participei dos trabalhos que levaram a final a redação deste volume. Trata-se de um esforço que praticamente dá
continuidade a obra pioneira de Da. Frieda Wolff, que em
seu fantástico labor historiográfico sobre os judeus no Brasil, abordou aqueles que seguiram carreira nas Forças Armadas, temática geralmente pouco conhecida, mesmo na
comunidade judaica, que trouxe a lume diversos nomes,
alguns dos quais constando deste livro, e que citamos a
seguir:
Tenente-coronel Francisco Leão Cohn, da Guarda Nacional, com atuação brilhante como Ajudante de Ordens,
Quartel-mestre Geral e comandante do 6° Batalhão de Caçadores. Para a Guerra do Paraguai, levou um dos batalhões do primeiro contingente do Rio de Janeiro, em 1865,
recebendo a bandeira das mãos do Imperador Dom Pedro
II, ao embarcar.
Leão Zagury, de Macapá, também da Guarda Nacional, cujo diploma com data de 13 de agosto de 1906 está
exposto no Museu daquela cidade.
Irmãos Aarão e Elias Isaac Benchimol, de Belém. Aarão ingressou na Escola Militar do Realengo em 1930 na
Arma de Cavalaria, e com a modernização do Exército tomou parte em diversos cursos de especialização nos Estados Unidos, servindo durante a Guerra no Recife e em
Fernando de Noronha, promovido a General-de-Divisão
por merecimento em 1962. Seu filho Isaac é Capitão-deMar-e-Guerra.
Irmãos General Samuel Kicis e General Maurício Kicis,
ambos de Artilharia. Maurício se dinstinguiu durante a Intentona Comunista em 1935.
General Abraham Ramiro Bentes, também de Artilharia, era membro de comissões tratando da recuperação de antigas fortalezas em Mato Grosso e a Santa
Cruz, RJ, servindo em diversos estados como Paraíba e
274
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
São Paulo.
Irmãos Levy Cardoso, filhos de Antônio de Almeida
Cardoso que se converteu ao judaísmo por amor à dona
Estella Levy. Armando, filho mais velho, foi reformado no
posto de Coronel. Waldemar, como tenente-coronel de Artilharia, participou da campanha da Itália.
Na Marinha, Leão Amzalak, o primeiro de que se tem
conhecimentno, filho de Isaac Amzalak, da Bahia, e irmão
das três beldades - Simy, Esther e Mary Roberta - que Castro Alves imortalizou em alguns de seus poemas. Leão sentou praça como Aspirante em 1879; acompanhou o príncipe Augusto na visita à Portugal, a bordo do encouraçado
“Solimões”. Segundo-Tenente em 1886, primeiro-tenente
em 1889, foi transferido para a Reserva em 1894, devido
a sua participação na Revolta da Marinha. Em 1900 era
Capitão-Tenente servindo na Biblioteca e no Museu Naval
ingressando depois na Marinha Mercante.
Capitães-de-Mar-e-Guerra Edidio Guertzenstein a Boris
Chigris, entre outros, que serviram como médicos da Marinha. Boris trabalhou num navio socorro, um rebocador
de Alto Mar assistindo os navios na costa brasileira do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul e, mais tarde, cardiologista, no Hospital Marcílio Dias, servindo com Amihay
Burlá depois Almirante e Diretor do Hospital Central da
Marinha onde também serviram Marcus Blank, urologista,
Luís Blank, anestesista, drs. Mink e Brenner, cardiologistas
como Boris que foi, no final da carreira, transferido para
Brasília fundando na então nova capital o primeiro hospital da Marinha e convidado a ser médico cardiologista do
presidente Médici.
Na Aeronáutica, Milton Castro, carioca que já nos idos
de 1935 era aviador da Marinha de Guerra, depois, instrutor de pilotos de caça. Em 1942, a época do novel Ministério da Aeronáutica foi cedido para a Panair do Brasil,
na falta de pilotos civis. Lá pilotou o pequeno mas seguro
Lodstar e mais tarde os Constellation, tendo realizado o
primeiro vôo da Panair para o Oriente Médio.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
275
Mais recentemente o Brigadeiro Médico Dr Waldemar
Kichinewsky, que foi Diretor do Hospital Central da Aeronáutica no Rio Comprido, Rio de Janeiro e Presiente da
Sociedade Brasileira de Radiologia.
A lista é extensa e continua sendo aumentada até hoje,
nas Forças Singulares e Auxiliares.
Enfim, sentado ao computador, extraindo dados de
antigas folhas de alterações e diplomas de medalhas descrevendo tantos atos de heroísmo, desprendimento, patriotismo, aflorava um grande orgulho por ser brasileiro, um
patrício daqueles bravos soldados, e também um correligionário da fé judaica.
Lembrava que se tivesse nascido 20 anos antes, eu poderia ter sido um deles. Mas o destino não quis assim, e
vim ao mundo como dizia meu saudoso pai, Abram Blajberg, Z”L, no mês da vitória, em 31 de maio de 1945,
portanto 23 dias após o término da guerra na Europa aos
8 de maio...
Somos da tribo de Levy. Num passado remoto, distante antepassado em meio ao deserto não se deixou iludir pelo bezerro de ouro, aguardando que nosso Grande
Patriarca Moises descesse do Monte Sinai trazendo as
Tábuas da Lei, o que nos chegou até hoje em dia por
tradição oral.
Assim, fomos sagrados como Guardiães do Tabernáculo, tendo a honra da Leitura da Torah nas Sinagogas logo
após os descendentes dos Cohanim (Cohen = Sacerdote
do Templo de Salomão).
Sob outros sobre-nomes, mas com o mesmo descortino e esperança continuamos a trilhar a estrada da vida, satisfazendo-nos em ter nosso sustento, poder recordar nosso
passado, esperando do futuro somente alegrias.
Somos tementes a D_us, o Grande Arquiteto do Universo, fiéis a Lei de Moises, e apesar dos nomes às vezes
complicados, que se repetem ad aeternum honrando a memória de nossos pais e avós, somos tão brasileiros quanto
qualquer brasileiro.
276
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Síntese da
ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE
DO BRASIL - AHIMTB
Fundada em 1º de março de 1996
Fundada em Resende, A Cidade dos Cadetes do Exército,
há 12 anos, em 1º de março de 1996, aniversário do término da
Guerra do Paraguai e do início do ensino militar na AMAN.
A Academia de História Militar Terrestre do Brasil, ou simplesmente AHIMTB, desenvolve a História das Forças Terrestres do Brasil: Exército, Fuzileiros Navais, Infantaria da Aeronáutica, Polícias, Bombeiros, Auxiliares e outras forças que as
antecederam.
Possui sede e foro em Resende, mas de amplitude nacional, tem como patrono o Duque de Caxias e como patronos de
cadeiras historiadores militares terrestres assinalados, por vezes também ilustres chefes militares, como os marechais José
Bernadino Bormann, José Pessoa, Leitão de Carvalho, Mascarenhas de Moraes, Castelo Branco e generais Tasso Fragoso,
Alfredo Souto Malan e Aurélio de Lyra Tavares, Valentim Benício. Foram consagrados em vida como patronos de cadeiras,
em razão de notáveis serviços à História Militar Terrestre do
Brasil, os generais A. de Lyra Tavares, Jonas de Moraes Correia, Francisco de Paula Azevedo Pondé, (*) Severino Sombra
e Umberto Peregrino, o Almirante Hélio Leôncio Martins e os
coronéis Francisco Ruas Santos recém falecido, Jarbas Passarinho e Helio Moro Mariante da Brigada Militar RGS.
Figuram como patronos civis Barão do Rio Branco, Dr Eu(*) Vide Biografia do Gen Moyses Chahon
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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gênio Vilhena de Morais, Gustavo Barroso, Pedro Calmon e
José Antônio de Mello pelas contribuições à História Militar
Terrestre do Brasil.
Entre os fatores da escolha de Resende ressalta ser a AMAN
a maior consumidora de assuntos de História Militar que hoje
ministra a seus cadetes no 2º, 3º e 4º anos, através de sua cadeira de História Militar, o único núcleo contínuo e dinâmico
de estudo e ensino de História Militar no Brasil. A Academia
possui como órgão de divulgação o jornal O GUARARAPES já
no seu número 58 que é dirigido a especialistas no assunto e
à autoridades com responsabilidade de Estado pelo desenvolvimento deste assunto de importância estratégica. Divulgação
que potencializa através de sua Home page - já com mais de
700 mil visitas www.ahimtb.org.br.
A Academia desenvolve seu trabalho em duas dimensões: 1ª a clássica como instrumento de aprendizagem em
Arte Militar com vistas ao melhor desempenho constitucional
das Forças Terrestres, com apoio em suas experiências passadas etc. A 2ª com vistas a isolar os mecanismos geradores de
confrontos bélicos externos e internos para que colocados à
disposição das lideranças civis estas evitem futuros confrontos
bélicos com todo o seu rosário de graves conseqüências para a
Sociedade Civil Brasileira.
A Academia dá especial atenção à juventude masculina e
feminina estudando nos sistemas de ensino das Forças Terrestres Brasileiras, com vistas a promover encontro dela com as
velhas gerações e as atuais de historiadores militares terrestres
e soldados terrestres e, além, tentar despertar no turbilhão da
hora presente, de ingresso no insondável 3º milênio, novas gerações de historiadores militares terrestres, especialidade hoje
em vias de extinção por falta de apoio e sobretudo estímulo
editorial. Constatar é obra de simples raciocínio e verificação!
É assunto que merece, salvo melhor juízo, séria reflexão de
parte de lideranças das Forças Terrestres com responsabilidade
funcional de desenvolver a identidade e as perspectivas históricas das mesmas e, além, as suas doutrinas militares expressivamente nacionalizadas calcadas na criatividade de seus qua278
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
dros e em suas experiências históricas bem sucedidas o que se
impõe a uma grande nação, potência, ou grande potência do
3º Milênio.
No desempenho de sua proposta ela vem realizando sessões junto à juventude militar terrestre brasileira, a par de posses
de novos acadêmicos do Exército, Fuzileiros Navais, Infantaria
da Aeronáutica e Polícias e Bombeiros Militares que vêm progressivamente mobilizando e integrando em sua cruzada cultural e centralizando subsídios em seu Centro de Informações de
História Militar Terrestre do Brasil em Resende, junto a AMAN.
Outra finalidade da Academia é enfatizar para os jovens
com os quais contata a importância da História do Brasil e a
de sua subdivisão - A História Militar Terrestre do Brasil. A
primeira como a mãe da identidade e perspectiva históricas
do Brasil e, a segunda como mãe da identidade e perspectivas
históricas das forças terrestres brasileiras no contexto das do
Brasil e, como em todas as grandes nações, potências e grandes potências mundiais, Isto por ser subsidiária de soluções
táticas, logísticas e estratégicas militares brasileiras que nos
últimos 500 anos foram responsáveis, em grande parte, pelo
delineamento, conquista, definição e manutenção de um Brasil de dimensões continentais.
Soluções capazes de contribuírem para o desenvolvimento
da doutrina militar terrestre brasileira, com progressivos índices
de nacionalização, como a sonharam o Duque de Caxias e os
marechais Floriano Peixoto e Humberto Castello Branco.
Complementarmente procura a Academia apontar aos
jovens, seu público alvo, os homens e instituições que lutam
patrioticamente, a maioria das vezes sem nenhum apoio, para
manter acesas e vivas as chamas dos estudos de História do Brasil e seus desdobramentos com o apoio na análise racional e não
passional de fontes históricas, íntegras, autênticas e fidedignas,
que com grandes esforços garimpam, ao invés das manipulações
históricas predominantes entre nós feitas por historicidas, fruto
das mais variadas paixões, fantasias e interesses, o que Rui Barbosa já denunciava em seu tempo. Confirmar é obra de simples
verificação e raciocínio. E se os jovens disto se convencerem e
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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exercerem o seu espírito crítico será meia batalha ganha.
A Academia vem atuando em escala nacional com representantes em todo o Brasil em suas várias categorias de sócios
e já possui em Brasília, junto ao Colégio Militar, funcionando
a sua Delegacia Marechal José Pessoa e instalou no Colégio
Militar de Porto Alegre a Delegacia General Rinaldo Pereira
Câmara e, em Fortaleza a delegacia Cel José Aurélio Câmara.
E no Rio de Janeiro no IME, a Delegacia Marechal João Batista
de Matos e em Curitiba a Delegacia Gen Luiz Carlos Pereira
Tourinho. E em São Paulo as delegacia Cel Pedro Dias de Campos voltada para a História da PMSP e ao abrigo da Associação
de Oficiais da Reserva da Polícia Militar de São Paulo cujos
quadros contam com dois acadêmicos e mais a Delegacia Gen
Bertholdo Klinger abrigada no QG da 2ª DE.
Em Pelotas possui a Delegacia Fernado Luis Osório homenagem ao grande historiador militar neto do General Osório.
Em Caxias do Sul a Delegacia Gen Morivalde Calvet Fagundes,
grande historiador da Revolução Farroupilha e ao abrigo do
Grupo Conde de Caxias. Este é em síntese o perfil da Academia de História Militar Terrestre do Brasil que pretende ser um
fórum cultural para o debate de assuntos históricos de natureza
doutrinária e em especial para militares da Reserva das Forças Terrestres do Brasil para aproveitar as valiosas experiências
que colheram em suas vidas na caserna. A Academia completou 12 anos, e já orgulha de haver muito realizado. Seu sucesso continuado depende do empenho, solidariedade e vontade
cultural de seus membros e da sensibilidade das lideranças de
nossas Forças Terrestres em apoiar e estimular a iniciativa de
grande benefício e insignificante custo para as mesmas a serviço do objetivo atual 1º do Exército que a Academia estendeu
as outras forças terrestres do Brasil.
“Pesquisar, preservar, cultuar e divulgar a memória histórica, as tradições e os valores morais culturais e históricos do
Exército Brasileiro.
Claudio Moreira Bento
Presidente da AHIMTB
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Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
Delegacia da AHIMTB no Rio de Janeiro
MARECHAL JOÃO BAPTISTA DE MATTOS
vos.
Nascido no alvorecer do século, neto e bisneto de escra-
Em 1918, poucos anos decorridos da Abolição torna-se
um Cadete do Realengo, ingressando no Exército que acolhe
e irmana a juventude, independente do berço, de qualquer
origem, transformando a todos em soldados brasileiros.
Declarado aspirante a oficial da arma de infantaria, sua
turma de 1921 da antiga Escola Militar daria ao Brasil outros
Marechais, como Castello, Costa e Silva, Kruel, Maurell, e
Levy Cardoso, o último ainda vivo.
Esteve à frente de tropa em combate, tornou-se o Historiador dos monumentos.
Presidiu o IGHMB, IHGB, SBG.
A Delegacia RIO desta Academia tem o pivilégio de ostentar o seu nome honrado, de soldado exemplar, educador
dedicado e historiador eminente, Marechal João Baptista de
Matos.
SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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Curriculum Vitae Sintético do Autor
Israel Blajberg
Brasileiro nato de 1ª geração. Nasceu no Hospital da Cruz
Vermelha no Rio de Janeiro aos 31 de maio de 1945.
Engenheiro Eletrônico pela Escola Nacional de Engenharia
da Universidade do Brasil, Turma Povo Brasileiro de 1968.
Engenheiro da ITT Standard Electric, Westec e Ecodata, de
1968 a 1973.
Engenheiro Chefe de consultoria na MONTOR S. A. Projetos e Sistemas (Montreal Engenharia) e BELL CANADA de 1973
a 1975.
Em 1975 prestou Concurso Público para o BNDES. Exerceu
cargos executivos nas Áreas de Planejamento e Social, atualmente Engenheiro da Área de Planejamento no último nível da
carreira.
Especialização em Engenharia Econômica. Realizou cursos
no Brasil e no exterior em informática e tecnologia: Universidade
de Ohio, Instituto Politécnico Nacional do México, como Bolsista da OEA, estágios na EPA em Washington e Boston e no Departamento de Proteção Ambiental do Estado de Massachussets.
Admitido em 1969 no Quadro do Magistério Público Federal. Lecionou nas Escolas de Engenharia e Química e no Instituto de Eletrotécnica da Universidade do Brasil até 1975.
Desde 1972 Professor Adjunto IV da Escola de Engenharia
da Universidade Federal Fluminense. Presidiu as Comissões do
Prêmio Acadêmico Walder Moreira e dos 40 Anos de Telecomunicações da UFF.
Ex-aluno do CPOR/RJ, Turma Marechal Rondon, Artilharia
282
Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE
1965. Assessor Cultural da Associação dos Ex-Alunos e colaborador do Museu do Oficial R/2.
Indicado pelo BNDES para cursar a ESG - Escola Superior
de Guerra em 2004, CAEPE – Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia, Turma Vontade Nacional e 2007 pelo CLMN
– Curso de Logística e Mobilização Nacional, Turma Cinqüentenário do CLMN.
Sócio da ADESG, Clube de Engenharia, Associação dos
Antigos Alunos da Politécnica (Vice-Diretor Técnico-Cultural),
Arquivo Histórico Judaico Brasileiro e Sociedade Brasileira de
Genealogia Judaica.
Diretor de Cidadania da FIERJ – Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, gestão Sergio Niksier 2007-2008.
Diretor Acadêmico do Memorial Judaico de Vassouras.
Gestão Luiz Benyosef 2007-2008.
Diretor de Relações Públicas da Associação Nacional dos
Veteranos da FEB, e Editor do Boletim Informativo. Gestão Cel.
Helio Mendes 2008-2009.
Sócio Titular do IGHMB, Cadeira 79 – Marechal Mascarenhas de Moraes.
Membro da Comissão Organizadora do Conselho Internacional de História Militar - Rio 2011.
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – Cadeira 24 – Cel. Mário Clementino.
3º Vice-Presidente e Delegado da Delegacia Rio de Janeiro
- Marechal João Baptista de Mattos.
Em 2005 participou da Delegação Brasileira para a Marcha
da Vida na Polônia e Israel.
Em 2006 participou da Delegação Mundial dos Descendentes de Ilza, Polônia, na re-inauguração do antigo Cemitério
Israelita daquela cidade.
Em 2007 participou do Seminário Latino-Americano Ensinando o Holocausto, no Yad Vashem, Jerusalém.
Agraciado com diversos diplomas e condecorações do Ministério da Defesa, Exército, Aeronáutica e Associações de excombatentes nacionais e estrangeiras, e admitido na Ordem dos
Velhos Artilheiros.
Tem diversos trabalhos publicados e apresentados em conSOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg
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gressos nacionais e internacionais no âmbito da sua atuação no
BNDES, como Educação Ambiental, Resíduos Sólidos, Ciência
e Tecnologia e Telecomunicações.
Realizou trabalhos voltados para Genealogia, História Oral
da Imigração e Histórias Familiares, reais e semificcionais, alguns premiados em concursos literários.
Concurso BNDES 50 anos. Obteve premiação com o trabalho 24 Horas na Vida de um Brasileiro, onde mostra a presença
do BNDES no dia a dia dos brasileiros.
Recebeu o Prêmio UFF de Literatura com o trabalho Adeus
à UFF em dez/2007.
BNDES – Jornal VÍNCULO da Associação de Funcionários,
colaborador permanente, escrevendo sobre a contribuição dos
funcionários da Casa ao Desenvolvimento Econômico e Social
do Brasil, tendo sido homenageado nos 40 Anos do Vínculo em
2008.
O ADESGUIANO – dez 2004 – publicou o texto “Aventura Amazônica”, que relata as Viagens de Estudo realizadas
pela Turma Vontade Nacional, também publicado em Revista
Verde-Oliva, editada pelo CComSEx, edição de dez/2004.
Autor de trabalhos sobre a Real Academia Militar de Artilharia, Fortificação e Desenho, onde se graduou, e suas sucessoras. Pesquisador do prédio do Largo de São Francisco.
Seus estudos propiciaram inúmeros textos originais apresentados em eventos científicos e publicações civis e militares,
especialmente sobre a atuação das forças brasileiras na II GM,
na preservação da memória dos feitos das armas nacionais, associado a eventos alusivos em cuja organização participou.
Colaborou com artigos para A DEFESA NACIONAL, REVISTA DO EXÉRCITO BRASILEIRO, Revistas do Clube Militar,
Naval e da Aeronáutica, Revista Shalom, Jornal ALEF, Visão
Judaica, O NOSSO JORNAL, Jornal do Clube dos Oficiais da
PMERJ e outros.
Israel Blajberg
Rua Visconde de Cabo Frio, 25 - apto. 201
Tijuca – Rio de Janeiro / RJ – Cep: 20510-160
[email protected] - [email protected]
Tels.: (21) 2268-3078 e 9483-8045
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