ERIK ULLYSSES ALVES DE OLIVEIRA
LUIZ PHILLIPE DUARTE SOUTO
Memorial do projeto experimental
Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade
Viçosa - MG
Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV
2011
ERIK ULLYSSES ALVES DE OLIVEIRA
LUIZ PHILLIPE DUARTE SOUTO
Memorial do projeto experimental
Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade
Memorial
apresentado
ao
Curso
de
Comunicação Social / Jornalismo da
Universidade Federal de Viçosa, como requisito
parcial para a obtenção o título de Bacharel em
Jornalismo.
Orientador: Professor Joaquim Sucena Lannes
Viçosa - MG
Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV
2011
Universidade Federal de Viçosa
Departamento de Comunicação Social
Curso de Comunicação Social / Jornalismo
Monografia intitulada Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade, de autoria de
Erik Ullysses de Oliveira e Luiz Phillipe Duarte Souto, aprovada pela banca
examinadora constituída por:
_____________________________________________________
Prof. Dr. Joaquim Sucena Lannes – Orientador
Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV
_____________________________________________________
Prof. Dr. Erivam Morais de Oliveira
Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV
_____________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Frederico de Brito d‟Andréa
Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV
Viçosa, 1° de dezembro de 2011
Dedicamos este trabalho às nossas famílias,
amigos, colegas de turma e de vida nesses
anos em Viçosa. Ao nosso orientador,
Professor Joaquim Sucena Lannes. Enfim, a
todos que de alguma forma foram
importantes e estiveram conosco nessa
caminhada.
RESUMO
O livro-reportagem é um dos principais formatos do jornalismo literário. Ele tem como
uma de seus recursos característicos a possibilidade de uma maior liberdade para a
criatividade jornalística e um texto que se afasta das restrições do tradicional lead. O
jornalismo esportivo também possui uma linguagem que se difere em relação a outros
formatos, sendo mais leve, informal e divertido. Utilizando-se ambos os gêneros de
jornalismo o livro-reportagem Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade narra
a história do maior clássico futebolístico do estado de Minas Gerais. O encontro entre
Atlético x Cruzeiro ocorreu pela primeira vez em abril de 1921. O derby já foi
disputado mais de 400 vezes e leva multidões de torcedores dos dois times para os
estádios. O livro mostra momentos importantes desse confronto, como os grandes jogos
e as decisões. As pessoas que ajudaram a tornar este clássico um dos mais importantes
do país também contam as suas histórias sobre o confronto. Assim, o livro contribui na
preservação da história desse clássico.
PALAVRAS - CHAVE
Livro-reportagem; Atlético x Cruzeiro; futebol; clássico; história.
ABSTRACT
The book-report is one of the main formats of the literary journalism. It has as one of its
characteristic features the possibility of greater freedom for journalistic creativity
and a text away from the constraints of the traditional lead. The sports journalism also
has a language which differs from others formats, being lighter, informal and funny.
Using both journalistic genrers the book-report Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma
rivalidade tells the history of the greatest soccer derby in the state of Minas Gerais. The
meeting between Atlético x Cruzeiro occurred for the first time on april 1921. The derby
has been played more than four hundred times and carries to the stadiuns big crowds of
the two teams‟ fans. The book shows important moments of this dispute like the greatest
games and finals. The people who helped making this derby one of the most important
in the country also tell their stories about the dispute. Thus, the book contributes on the
preservation of this game history.
KEY-WORDS
Book-report; Atlético x Cruzeiro; soccer; derby; history.
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO....................................................................................................8
2.
MARCO TEÓRICO............................................................................................9
3.
METODOLOGIA..............................................................................................13
4.
DESENVOLVIMENTO....................................................................................15
5.
6.
4.1.
APURAÇÃO...........................................................................................15
4.2.
ESCRITA................................................................................................17
4.3.
DIAGRAMAÇÃO..................................................................................18
DESCRIÇÃO.....................................................................................................18
5.1.
CONTEÚDO..........................................................................................18
5.2.
DESCRIÇÃO DO PRODUTO.............................................................19
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................21
ANEXOS.........................................................................................................................22
1.
INTRODUÇÃO
O clássico Atlético x Cruzeiro possui 90 anos de história e reúne os dois maiores
times de futebol do estado de Minas Gerais. O primeiro encontro aconteceu em 21 de
abril de 1921. Naquela época não havia, nem de longe, a rivalidade que existe hoje
nessa disputa. O duelo foi ganhando força ao longo da primeira metade do século XX,
época em que o grande derby mineiro era o jogo Atlético x América.
A partir de meados do último século é que a rivalidade foi se firmando de vez. O
passo principal para isso foi, em enorme medida, a construção do Mineirão, que
impulsionou o crescimento à nível nacional dos dois rivais, graças aos títulos
conquistados e aos grandes esquadrões formados, com destaque para o Cruzeiro da
década de 1960 e o Atlético do fim dos anos 70 até meados dos 80.
A escolha pelo tema como base para um trabalho de conclusão de curso se dá
pela importância histórica dessa rivalidade entre azuis-celestes e alvinegros, uma das
maiores de todo o futebol brasileiro. A rivalidade, inserida no cotidiano, principalmente
dos mineiros está presente muito através da forma falada, por meio de conversas,
discussões, provocações e brincadeiras no dia-a-dia, além de ser fomentada de tempos
em tempos pelos meios jornalísticos, geralmente próximos às datas que antecedem ou
sucedem os jogos entre as duas equipes. Além disso, nós dois somos torcedores dos
referidos clubes, o que confere um gostinho especial falar sobre essa rivalidade.
No entanto, mesmo sendo um dos maiores confrontos do Brasil, constatamos a
ausência de um registro histórico mais amplo e completo sobre a trajetória do clássico.
Histórias, grandes momentos, a visão dos jogadores e torcedores, tudo está espelhado
por periódicos e revistas antigas. Isso quando estes não se perderam através dos tempos.
Esse fato foi fundamental na definição da idéia de trabalharmos esse tema em um
formato de livro-reportagem.
Como o livro-reportagem permite uma grande liberdade de criação, além de se
diferenciar do jornalismo praticado nas grandes redações, escolhemos tal formato para
que pudéssemos contar a história desse clássico.
Assim, esse trabalho se torna uma importante fonte documental para futuras
pesquisas a respeito do dérby mineiro. As histórias nele contadas se manterão guardadas
e seguras. O livro também é uma ótima forma para os torcedores cruzeirenses e
atleticanos conhecerem um pouco mais da história do clássico que tanto amam. E para
aqueles que não torcem por nenhum dos dois times, mas amam o futebol, é um livro
8
recheado de paginas memoráveis do esporte mais popular do planeta.
Este memorial traz o passo a passo da realização do livro-reportagem.
Primeiramente falaremos sobre o referencial teórico, trazendo conceitos de livroreportagem, jornalismo literário e jornalismo esportivo, além de termos como derby e a
importância do futebol na sociedade brasileira. Tais conceitos foram essenciais como
um ponto de partida para o início do livro. Logo após traçamos a metodologia utilizada
para a realização do livro. O desenvolvimento do livro, como a produção das pautas, a
apuração, a escrita e a diagramação do produto também consta neste memorial. Por fim
o memorial traz a descrição do livro-reportagem Atlético x Cruzeiro: A trajetória de
uma rivalidade e as considerações finais sobre a realização do mesmo.
2.
MARCO TEÓRICO
Introduzido no Brasil por Charles Miller no final do século XIX o futebol
ganhou importância cada vez maior na vida do brasileiro. Filho de um escocês e uma
brasileira de origem inglesa, Miller foi para a Inglaterra estudar aos nove anos de idade,
tendo lá entrado em contato com o esporte. Ao regressar ao Brasil ele traz além da bola
também o livro de regras introduzindo de fato o esporte bretão em terras brasileiras.
O gosto pelo esporte somado a diversos outros aspectos como, por exemplo, a
difusão do rádio no Brasil a partir das décadas de 1920 e 30 ajudou a popularizar o que
hoje é conhecido como “paixão nacional”. Atualmente, como importante forma de
entretenimento no Brasil, é inegavelmente um elemento integrante da cultura nacional.
Assim, práticas relacionadas ao interesse pelo esporte são comuns na vida de
uma considerável parcela da população. De tal forma é que tal esporte ganha o status de
fenômeno social (Rinaldi, 2000) que hoje possui.
O futebol foi e continua sendo um elemento importante da cultura
brasileira. Enquanto fenômeno social, sempre esteve muito em
consonância com a forma de a sociedade se organizar, assim como
outros elementos da cultura popular – carnaval, arte, religião, música e
outros. Sendo assim, o futebol expressa a própria sociedade brasileira
em sua forma de manifestação cultural construída historicamente.
(RINALDI, 2000, p.167-68)
Ao longo da difusão do esporte no país começaram a surgir os clubes que com o
passar do tempo foram ganhando importância. Clubes de uma mesma cidade ou
próximos ao começar a se destacar geram as primeiras rivalidades. Esses jogos viriam a
9
ser chamados de derbys ou clássicos.
O termo derby que no Brasil por vezes é associado ao futebol se origina, na
verdade, do turfe. A palavra é introduzida no contexto esportivo brasileiro depois da
difusão do turfe no país, o que se deu em grande medida a partir da construção do
Jockey Club no Rio de Janeiro em 1868 e do Derby Club em 1885, que posteriormente
viriam a se fundir dando origem ao Joquey Club Brasileiro. A introdução da palavra no
país se encontra em um período no qual outros termos esportivos também foram
incorporados juntos ao vocabulário inglês como goalkepper, half-time, match, goal, etc.
“Entre essas várias palavras, importamos também o derby, que se referia a uma
famosa e tradicional corrida de cavalos na Inglaterra, disputada em Epsom, por animais
de três anos com o objetivo de observar e determinar o melhor cavalo de uma geração.”
(ZAGO, 2003, p.61) Dentro do turfe a palavra derby passou a expressar as disputas
realizadas nos joqueys:
Com o passar dos anos, acostumou-se a chamar qualquer corrida de
“derby”. A palavra passou então a ser sinônimo, dentro do universo do
turfe, de „corrida‟, „embate‟, „confronto‟, „disputa‟, „peleja‟, ou
„combate‟. (ZAGO, 2003, p.61)
A conceituação derby pode ser assim um sinônimo de “clássico”, termo que
atualmente é mais recorrente. Numa definição do Dicionário Aurélio, clássico significa:
“jogo entre equipes de dois clubes importantes”.
Esses conceitos serão tratados dentro do jornalismo esportivo, que teve sua
maior difusão a partir da popularização do futebol no Brasil no começo do século XX
quando já apresentava uma linguagem própria e característica, como observa Reis
(2009). Este gênero se caracteriza assim, por apresentar uma linguagem diferenciada
baseada em recursos como um vocabulário formado por termos mais informais, bem
como a exploração do aspecto emocional presente em muitas práticas esportivas.
Barbeiro e Rangel (2006) afirmam que a linguagem esportiva nos veículos da
imprensa vem evoluindo através das décadas. Como exemplos citam as primeiras
locuções esportivas do rádio no Brasil, onde a linguagem usada era a da emoção
extrema. Os locutores muitas vezes gritavam na hora do gol para poder passarem ao
ouvinte a “explosão do gol”. Por vezes a locução não correspondia à realidade do lance.
Da década de 1950 até os anos 70, segundo os autores, eram as crônicas que
ditavam o ritmo no jornalismo esportivo. Nélson Rodrigues, José Lins do Rêgo, João
Saldanha e Mário Filho foram alguns dos principais nomes da imprensa esportiva, com
10
seus textos carregados de paixão e adjetivos, muitas vezes mais do que os lances e
jogadores mereciam. A partir de 1980, o jornalismo esportivo passou a buscar a
objetividade do jornalismo convencional, sempre preso às amarras das redações. Isso
tornou o esporte quase frio. Atualmente, o que podemos observar é uma tentativa de
conciliar a emoção com a objetividade no jornalismo esportivo.
Os dois autores afirmam ainda que a linguagem jornalística nos dias de hoje
“esta bem caracterizada de veículo para veículo” e que por vezes o repórter se torna
personagem da própria reportagem.
Algumas TVS adotam o estilo do jornalista-personagem, em que a
função não é só passar a informação, relatar o fato. É preciso “viver”
aquela emoção para o telespectador. O repórter faz rapel, escala
montanha, luta, chora, sofre e vive até a última gota a emoção do
esporte. Ele é tão protagonista quanto o atleta. (BARBEIRO e
RANGEL, 2006, p. 55)
Para os jornalistas, esportivos ou não, a prática do jornalismo atualmente está
atrelado diretamente a textos curtos e a objetividade, além das amarras do lead e o do
deadline. Quase não há espaço nas grandes redações para o jornalismo de imersão.
Assim, uma das maneiras do jornalista fazer uma reportagem de profundidade, com
uma linguagem e objetivos diferentes dos que imperam nas redações, é através do livroreportagem.
Belo (2006) diz que o livro-jornalismo é um instrumento aperiódico de difusão
de informações de caráter jornalístico. Devido a sua característica, permite uma
profundidade difícil de ser alcançada em outras mídias. Pode-se neste gênero reunir uma
maior quantidade de informações, uma melhor contextualização, bem como uma
construção narrativa mais elaborada que o aproximariam assim da literatura
Para Belo o livro-reportagem não possui uma data definida de nascimento. Sabese que muito antes deste conceito ser definido, antes destes chegarem aos círculos
acadêmicos ou entre os jornalistas, já haviam sido publicadas diversas narrativas de
não-ficção. Ainda assim, segundo o autor, é possível estabelecer que a reportagem em
livro ganha força como subgênero da literatura na Europa do século XIX, o que
poderíamos considerar como um ponto de partida.
Segundo Pena (2006), nos séculos XVIII e XIX, a influência da literatura nos
jornais era grande. Ela comandava tanto as redações quanto a linguagem e o conteúdo
dos jornais. E uma das principais formas de junção entre o jornalismo e a literatura eram
11
os folhetins.
Os folhetins foram importantes para o fortalecimento do modelo capitalista nos
jornais. Afinal, com o aumento das vendas, crescia o número de anunciantes que, por
sua vez, pagavam cada vez mais pelos espaços nos jornais. “Publicar narrativas
literárias em jornais proporcionava um significativo aumento nas venda e possibilitava
uma diminuição dos preços, o que aumentava o número de leitores e assim por diante.”
(Pena, 2006).
Em contrapartida, o jornalismo naquele período ainda não havia se constituído
em uma profissão como a conhecemos hoje:
Era uma atividade intelectual e política. Uma batalha de idéias. Parte
dos jornais nem sequer publicava reportagens: páginas e páginas eram
preenchidas com artigos, ensaios, editoriais e até literatura. A distinção
entre jornalismo e literatura, hoje muito clara, não estava de todo
estabelecida. (BELO, 2006, p.19)
O desenvolvimento da imprensa, juntamente com a crescente ascensão da
imprensa americana acabou por criar moldes e padrões para o jornalismo. A busca pela
isenção, pelo afastamento do jornalista do fato retratado e pelo furo jornalístico fez com
que o jornalismo acabasse se distanciando da literatura.
Durante a Segunda Guerra Mundial, vários jornais do mundo enviaram
correspondentes ao front de batalha e, na busca pela informação mais rápida e objetiva
possível passou a ser usado o lead, pois era necessário que os correspondentes
passassem a informação através do telegrafo, que era um meio caro e instável. Assim,
definiu-se que era necessário passar toda a informação em um único parágrafo, o que
acabou sendo adotado por todos os jornais e que impera até os dias de hoje.
Ao fim da guerra, se opondo ao lead, o que se viu foi o fortalecimento do
jornalismo literário, motivado principalmente pelo relato de John Hersey sobre os
sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima publicado pela revista The New Yorker
no dia 31 de agosto de 1946, um ano após o fim da guerra. No ano seguinte a
reportagem foi transformada em livro e causou uma grande virada nos rumos das
produções jornalísticas.
Surgiu então, nos Estados Unidos da década de 1960, o New Journalism, que
consistia na técnica de narrar os fatos de uma forma mais aprofundada e com o
jornalista muitas vezes deixando transparecer a sua opinião ou até mesmo participando
da narrativa, uma oposição à ditadura do lead e da pirâmide invertida. Elementos que
não eram diretamente ligados à prática jornalística eram expostos nas reportagens. Na
12
realidade tais elementos são muito mais próximos da literatura, como a narração, a
descrição cena por cena e a reconstrução de ambientes e épocas.
Do New Journalism surgiram vários expoentes como Truman Capote, Tom
Wolfe, Norman Mailer e Gay Talese. Algumas obras como A Sangue Frio, Medo e
Delírio em Las Vegas e Radical Chic, foram publicadas em jornais e revistas como a
Rolling Stone e posteriormente viraram livros e acabaram de tornando expoentes
máximos do jornalismo literário.
No Brasil todo este processo ocorreu de forma defasada em relação aos Estados
Unidos e à Europa. O lead só ganhou força nos anos 50 e a reportagem em livro
retomou o seu fôlego durante a década de 80.
Ao fazer a pauta, apurar os fatos e escrever o livro-reportagem, o jornalista o faz
de forma distinta da sistematização das redações. Ele se insere nos fatos narrados. Como
o autor não busca necessariamente a objetividade, fica livre para retratar a realidade de
uma forma menos „engessada‟ e mais literária. Para Pena (2006) os jornalistas sérios e
comprometidos com a verdade, com o espaço reduzido, buscam formas de exporem o
seu trabalho. E o jornalismo literário seria uma dessas formas.
Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os
limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da
realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes
burocráticas do lead, evitar os definidores primários e, principalmente,
garantir perenidade e profundidade aos relatos. No dia seguinte, o
texto deve servir para algo mais do que simplesmente embrulhar o
peixe na feira. (PENA, 2006, p. 13)
O jornalismo literário proporciona a possibilidade de o jornalista fazer um
mergulho mais aprofundado nos fatos, além de tornar a leitura mais agradável para os
leitores, algo fundamental também no jornalismo esportivo.
3.
METODOLOGIA
O primeiro passo para a realização do livro foi a pesquisa bibliográfica. Os
processos de pesquisa foram importantes para complementar a abordagem sobre o
objeto principal através de um maior conhecimento do jornalismo esportivo e de sua
linguagem, de elementos que marcam as grandes rivalidades do futebol, bem como
sobre as formas pelas quais os torcedores se apropriam dessa paixão criada pelos
13
grandes clássicos, assim como o futebol se tornou um elemento de identificação
cultural. Nesse sentido, os livros Jornalismo Esportivo, de Paulo Vinícius Coelho,
Manual do Jornalismo Esportivo de Barbeiro e Rangel, os artigos Futebol:
Manifestação Cultural e Ideologização, de Wilson Rinaldi, e O dérby campineiro:
futebol, sociedade e imprensa de Campinas, de Vitório Zago foram bastante explorados.
Outro livro bastante utilizado foi Os Donos do Espetáculo, de André Ribeiro, para
compreendermos
a
evolução
da
mídia
esportiva
em
consonância
com
o
desenvolvimento do próprio futebol no Brasil, além da contextualização do mesmo.
Os livros Jornalismo Literário de Felipe Pena, Livro-reportagem de Eduardo
Belo e Páginas Ampliadas de Edvaldo Pereira Lima, serviram para a fundamentação do
livro-reportagem, além de orientar a estrutura e o modo de produção do mesmo, uma
vez que o nosso trabalho se enquadra dentro de tal formato.
Em um segundo momento realizamos a pesquisa documental, que serviu para a
verificação e recolhimento de dados e fatos importantes de toda a história do objeto
trabalhado no livro. Assim, as pesquisas feitas em acervos antigos, como periódicos,
jornais e revistas de época, puderam trazer o conhecimento de diferentes períodos,
principalmente em relação ao que se refere aos momentos mais remotos do clássico.
Também foram utilizados obras como Páginas Heróicas – Onde a imagem do Cruzeiro
resplandece, de Jorge Santana e Atlético Mineiro: Raça e Amor, de Ricardo Gallupo.
Outro método bastante utilizado foi o das entrevistas. Foram ouvidos exjogadores para que os mesmos pudessem dar as suas opiniões sobre o clássico mineiro,
os momentos, jogos mais marcantes e suas relações com os clubes que defenderam.
Essas entrevistas também tiveram o objetivo de preservar a memória desses jogadores,
para que elas não se percam através do tempo e se tornem assim fontes para pesquisas
futuras.
Também foram entrevistados torcedores dos dois clubes. Eles foram
questionados sobre qual foi o jogo mais marcante para eles. Dessa forma, pudemos
constatar como um jogo pode fazer parte da vida dessas pessoas. A felicidade e orgulho
com que elas narravam os gols, as jogadas, as locuções de um narrador ou a
perplexidade de outros se tornaram um ponto chave no livro.
Por fim, pudemos imaginar como seria a produção do livro, a linguagem
utilizada, a sua estruturação, a quantidade de capítulos e a forma de expormos todos os
dados que coletamos.
14
4.
DESENVOLVIMENTO
O trabalho teve início no primeiro semestre de 2011 na disciplina Pesquisa da
Comunicação – COM 390. Na disciplina ministrada pela professora Mariana Brêtas
teríamos que escolher um tema e criar um projeto que deveria ser desenvolvido no
segundo semestre, em Projetos Experimentais em Jornalismo – COM 490. Como
sempre gostamos do jornalismo esportivo, de futebol e principalmente dos nossos times
do coração, Cruzeiro e Atlético, decidimos fazer um projeto que envolvesse os dois
clubes. Assim, optamos por produzir um livro-reportagem sobre a rivalidade entre os
dois rivais. Desta forma, no final do primeiro semestre procuramos o professor Joaquim
Lannes para que pudesse nos orientar, uma vez que este possui uma larga experiência na
área do jornalismo esportivo.
4.1.
APURAÇÃO
No início de agosto, juntamente com nosso orientador definimos os primeiros
passos para a produção do livro. Decidimos que nossa pesquisa deveria começar com a
leitura de obras que pudessem nos ajudar na realização do nosso trabalho. Nesse sentido
a leitura dos livros Jornalismo Literário de Felipe Pena, Livro-reportagem de Eduardo
Belo e Os Donos do Espetáculo de Andre Ribeiro foram de suma importância.
Depois partimos para a pesquisa documental do livro. Como no início do livro
falaríamos da chegada do futebol a Belo Horizonte, o artigo Belo Horizonte: O lazer e o
esporte na cidade moderna, de Marilíta Rodrigues foi a principal fonte utilizada para
tratarmos do assunto.
Em seguida, pesquisamos sobre o surgimento dos clubes, o nascimento e a
afirmação do clássico, bem como as histórias e números que os cercam. Algumas obras
como Atlético Mineiro: raça e amor, de Eduardo Galuppo, Galo - Uma Paixão
Centenária de Eduardo Murta e Páginas Heróicas - Onde a Imagem do Cruzeiro
Resplandece de Jorge Santana, além da tese de mestrado de Euclides de Freitas,
intitulada Belo Horizonte e o Futebol: Integração social e identidades coletivas (18971927) foram bastante utilizadas para cumprir tais objetivos.
A internet também foi uma importante aliada no processo de apuração. Em um
primeiro momento buscávamos as informações em blogs e sites especializados em
futebol, dentre outros. Mas como estes não são fontes totalmente seguras partimos para
15
a pesquisa em acervos de periódicos disponíveis na internet. Assim chegamos a
arquivos de jornais digitalizados como o Diário de Minas, Jornal do Brasil e Folha de
S. Paulo, além de revistas como a Revista do Cruzeiro, Revista Alterosa e a Revista
Placar.
Esta última, aliás, foi uma de nossas principais fontes no que se refere a dados,
fotos, notícias e entrevistas antigas. O nosso trabalho em relação aos números que
envolvem o clássico foi feito justamente tendo como referência uma edição especial da
revista intitulada Os Grandes Clássicos, publicada em 2005 e que adquirimos através de
um site de compras pela internet.
Outros sites importantes para a nossa apuração foram o globoesporte.com,
superesportes.com, o site da Administração dos Estádios de Minas Gerais – ADEMG, o
site da Federação Mineira de Futebol – FMF, da Prefeitura de Belo Horizonte – PBH,
além dos sites dos próprios clubes.
No final de setembro fomos até a cidade de Belo Horizonte para podermos
recolher materiais. Fomos aos dois clubes, mas infelizmente nossos objetivos não foram
plenamente alcançados nas visitas. Conseguimos através de uma pesquisa feita do
acervo da Hemeroteca Histórica de Minas Gerais – localizada na Biblioteca Estadual
Luiz de Bessa – alguns jornais com importantes registros históricos para a remontagem
da história do clássico. Também tivemos acesso a alguns arquivos fornecidos pelo
Atlético através do Centro Atleticano de Memória. Já o Cruzeiro, se limitou apenas a
passar os números do clássico. Também não conseguimos falar com nenhum dirigente
dos clubes.
Foi nessa viagem a Belo Horizonte que conseguimos entrevistar três exjogadores dos dois clubes. Evaldo, que atuou pelo Cruzeiro, Marques, que jogou pelo
Atlético, e Valdir Benedito que defendeu os dois clubes. Tais entrevistas tiveram grande
importância para o nosso livro. Outra entrevista que realizamos foi com o ex-atacante
atleticano Reinaldo. A entrevista foi feita por telefone no dia 3 do novembro. Nos
anexos deste memorial serão trazidos as decupagens de todas as entrevistas com os exjogadores.
Também foram feitas entrevistas com torcedores dos dois times, afinal, a torcida
é parte fundamental do clássico. Ela é a alma de qualquer clássico, além de ser o maior
bem de qualquer clube.
16
4.2.
ESCRITA
No início do mês de setembro, já de posse de alguns materiais, começamos a
escrever o livro. Novamente Livro-reportagem, de Eduardo Belo, foi muito importante.
Assim como o livro de Barbeiro e Gurgel, Manual do Jornalismo Esportivo. Este último
foi fundamental para compreender a linguagem do jornalismo esportivo.
Um texto atraente contém o máximo de informações relevantes
distribuídas de maneira clara e criativa. Cada linha chama a leitura da
próxima, cada parágrafo desperta o interesse pelo seguinte. A primeira
informação é aquela que vai direcionar o texto e nela o jornalista opta
pelo último acontecimento que interferiu diretamente no fato.
(BARBEIRO e GURGEL, 2006, p. 52)
Um de nossos maiores receios sempre foi o de pender mais para um dos dois
times durante o processo da escrita, já que somos torcedores dos times retratados.
Novamente, através do livro de Paulo Vinícius Coelho, pudemos compreender que
podemos sim escrever sobre o nosso time e sobre o rival mantendo a isenção. Em uma
passagem do livro, Coelho cita como exemplo dessa possibilidade justamente o clássico
mineiro e um dos maiores jornalistas e escritores mineiros, o atleticano Roberto
Drummond.
(…) Em Minas é mais fácil ver cruzeirenses e atleticanos jurar amor
eterno a seus clubes. O jornalista e escritor Roberto Drummond
morreu escrevendo sobre o Atlético Mineiro, falando sobre sua
mineiridade e sobre os tempos em que via o ponta Lucas aprontando
para a fenomenal defesa do Cruzeiro. Mas, atleticano doente, nunca se
eximiu de elogiar o Cruzeiro, especialmente aquele famoso dos anos
60, em que jogaram Tostão e Dirceu Lopes. Tanto assim que criou o
nome para a torcida que os cruzeirenses se orgulham até hoje: China
Azul. A torcida cruzeirense crescia tanto e tão rápido quanto a
população da China. Só que azul (…) (COELHO, 2003, p. 57)
Assim, em alguns momentos, sobretudo no segundo capítulo, utilizamos um
pouco de ironia e sarcasmo, além de deixarmos a nossa paixão falar um pouco mais
alto, porém buscando manter o máximo de isenção possível.
Com todo material recolhido finalizamos a escrita do livro. Nesse ponto a ajuda
do nosso orientador foi importante para podermos estruturar o livro. Resolvemos então
dividir o livro em quatro capítulos. O primeiro e o segundo tratam dos primeiros anos
de futebol em BH, bem como da fundação dos clubes, o início e a afirmação do
17
clássico, a afirmação dos mesmos no cenário nacional, além de clássicos marcantes. No
terceiro capítulo, foi tratada a paixão que envolve a disputa. E no quarto os números
mais gerais que envolvem o duelo Atlético x Cruzeiro. Com o material pronto
entregamos para o professor Joaquim Lannes para que pudesse revisar. Após a sua
revisão, as correções e apontamentos feitos por ele, fizemos a diagramação do livro.
4.3.
DIAGRAMAÇÃO
A diagramação inicialmente foi feita apenas por um dos autores do livro, Luiz
Phillipe Souto. Após alguns problemas de saúde do primeiro, o outro integrante também
ajudou no processo. Assim, os dois puderam participar desta etapa, escolhendo as fontes
e o seu tamanho, alguns detalhes como a forma das tabelas, e disposição das imagens
nas páginas, além da correção de pequenos detalhes. O livro foi composto com a fonte
Constantia, em tamanho 10. Para os títulos e subtítulos, optamos pelo uso da Agency
FB, em tamanho 14. Essa mesma fonte também foi usada para a folha de rosto, os
cabeçalhos e para a numeração de páginas. A arte da capa do livro foi criada pelo nosso
colega de turma Diogo Rodrigues. Depois de ter a capa pronta pudemos enfim terminar
esse processo.
Revisamos o texto mais duas vezes. A primeira revisão foi feita através da leitura
propriamente dita, corrigindo pequenos problemas ainda restantes, como repetições de
palavras, pequenos erros de concordância e grafia, entre outros. A segunda aconteceu
por meio do corretor do Word 2007, sanando assim, eventuais erros de digitação,
problemas com espaços, entre outros. Terminado esse processo, levamos o material a
uma gráfica da cidade para que os livros pudessem ser impressos. Assim, mandamos
imprimir três exemplares para os membros da banca, e após as considerações feitas por
estes foram impressos mais dois livros para ficarem nos arquivos do curso e da
universidade, além de alguns exemplares para nós, para alguns amigos e familiares.
5.
DESCRIÇÃO
5.1.
CONTEÚDO
O livro-reportagem Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade é
composto por quatro capítulos. Estes quatro capítulos foram divididos em quatro partes
18
simulando as passagens de uma partida. A primeira é intitulada 1º Tempo, contém os
dois primeiros capítulos, O surgimento do Clássico e A afirmação da rivalidade, e traz
em suas páginas as fundações dos clubes, as origens do clássico, as primeiras
polêmicas, finais memoráveis, alguns dos grandes jogos disputados entre as equipes,
dentre outros.
À segunda parte demos o nome de 2° Tempo, contendo o terceiro capítulo que
mostra o principal sentimento das torcidas pelos seus respectivos times, a Paixão, além
disso, o capítulo retrata as provocações entra as torcidas e os grandes jogadores.
A terceira parte recebeu o nome de Acréscimos, abrigando o quarto capítulo,
intitulado Números do Clássico, e contêm as principais estatísticas que envolvem o
confronto como o retrospecto, os maiores artilheiros, as maiores séries invictas e as
maiores goleadas. E a última, chamada Apito final, traz as considerações finais, bem
como a bibliografia e os créditos das imagens, ilustrações e entrevistados.
Decidimos dividir o livro dessa forma por entendermos que ele possuía quatro
partes distintas, uma mais histórica, primeiro e segundo capítulos, a segunda que retrata
os sentimentos envolvidos no confronto, terceiro capítulo, a terceira parte, que é mais
fria e contêm os números, e a quarta parte que finaliza o livro. Assim, a história do
clássico, bem como as estórias e as emoções que o envolvem ficaram bem estruturadas
nas páginas do nosso livro.
5.2.
DESCRIÇÃO DO PRODUTO
O livro-reportagem Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade possui os
seguintes dados técnicos:
Número de páginas: 196.
Formato: 15,8 cm x 21 cm.
Páginas: papel sulfite.
Capa: colorida, papel fotográfico 240 g.
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das principais características do livro-reportagem é a profundidade exigida,
tanto em relação ao conteúdo quanto em relação à dedicação dos jornalistas no tema
19
abordado. O livro-reportagem proporciona um maior detalhamento dos fatos relatados,
uma liberdade maior para seus autores, já que estes não precisam ficar presos ao lead ou
a pirâmide invertida, além de uma linguagem diferente daquela utilizada pelos jornais
diários. Por outro lado, tal formato demanda tempo e um mergulho profundo do
jornalista durante a sua produção.
Durante quatro meses nos dedicamos à realização deste trabalho. Foram várias
as etapas. Pesquisa bibliográfica e documental, entrevistas, decupagens, a produção do
livro e a revisão final. Mergulhamos nas estórias do clássico e de todo o universo que o
envolve e os trouxemos para as páginas deste livro.
A realização deste livro também foi importante em relação à oportunidade que
tivemos de botar em prática o que aprendemos durante o curso. Desde as técnicas
aprendidas na disciplina de Técnicas de Reportagem Entrevista e Pesquisa, passando
pelas disciplinas de Redação em Jornalismo, até as de Editoração Gráfica e
Planejamento Gráfico. Além disso, tivemos uma experiência diferente daquelas que
sempre tivemos dentro da sala de aula. Pudemos fazer um trabalho sem a pressa das
redações que marcam o jornalismo atual.
Apesar de os dois clubes estarem sempre presentes nos jornais e do clássico
entre eles ser um dos maiores do país, observou-se que falta material do clássico em si.
Neste livro fizemos uma abordagem diferente daquela convencional da grande mídia,
onde a história, os grandes jogos, momentos marcantes e inusitados são deixados de
lado. Assim trouxemos relatos daqueles que ajudaram a escrever a história do clássico,
além da paixão dos torcedores. Dessa forma, o livro vai além do tratamento superficial
dado pelos veículos de imprensa e mantém viva a história do clássico e de alguns
jogadores e torcedores, que fizeram e fazem parte dele.
Esperamos que o livro e este memorial sirvam como fontes de pesquisas para
futuros alunos do curso que tenham como objetivo a realização de um livro-reportagem
como projeto de monografia. Nosso trabalho também é uma nova fonte para quem se
interessa pelo clássico Atlético x Cruzeiro, para quem se interessa pelo futebol, por boas
histórias, mas principalmente pelos torcedores dos dois clubes.
O nosso próximo objetivo com este livro é levá-lo a alguma editora ou jornalista
que possa nos ajudar a publicá-lo. Afinal, um livro que narra a trajetória de uma
rivalidade que mexe com o sentimento de centenas de pessoas, que mobiliza por inteiro
um dos maiores estados do Brasil e que já nos brindou com diversos ídolos e momentos
inesquecíveis, não merece ficar restrito a poucas pessoas.
20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBEIRO, Heródoto e RANGEL, Patrícia. Manual do Jornalismo Esportivo. São
Paulo: Contexto, 2006.
BELO, Eduardo. Livro-reportagem. São Paulo: Contexto, 2006. (Coleção
comunicação)
COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003.
COUTO, Euclides de Freitas. Belo Horizonte e o futebol: integração social e
identidades coletivas (1897-1927). Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais /
Gestão de Cidades. Pontifícia Universidade Católica – MG.
GALUPPO, Ricardo. Atlético Mineiro: raça e amor. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do
jornalismo e da literatura. São Paulo: Manole, 2004.
MURTA, Eduardo. Galo – uma paixão centenária. Belo Horizonte: Gutenberg, 2008.
PENA, Felipe. Jornalismo Literário. São Paulo: Contexto, 2009.
RIBEIRO, André. Os donos do espetáculo. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2007.
RINALDI, Wilson. Futebol: manifestação cultural e ideologização. Revista da
Educação Física / UEM: 2000, v. 11, n.1. Disponível em:
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/3804/2618>. Acesso
em 15 nov. 2011.
REIS, Caroline Viana. Fiel: Tem Urubu na Toca!
RODRIGUES, Marilita. Belo Horizonte: o lazer e o esporte na cidade moderna. (Texto
disponível no site da prefeitura de BH)
SANTANA, Jorge. Páginas heróicas - Onde a imagem do Cruzeiro resplandece. São
Paulo: DBA, 2003.
ZAGO, Vitório Luis Oliveira. O dérbi campineiro: futebol, sociedade e imprensa de
Campinas. Disponível em:
<http://www.cmu.unicamp.br/seer/index.php/resgate/article/view/165/166>. Acesso em
18 nov. 2011.
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ANEXOS
Entrevistas
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ENTREVISTAS
Entrevista com Marques Batista de Abreu, ex-atacante do Clube Atlético Mineiro, e
Valdir Benedito, ex-volante do Clube Atlético Mineiro e do Cruzeiro Esporte Clube.
Entrevista realizada em Belo Horizonte no dia 27 de setembro de 2011.
Luiz Phillipe Souto: Qual dos clássicos para vocês foi mais marcante?
Marques Batista de Abreu: Um que é vivo na minha memória e na memória do
torcedor é aquele de 99. A gente se classificou no Campeonato Brasileiro em sétimo
lugar e o Cruzeiro em segundo. Aí houve o cruzamento. O Cruzeiro era um time muito
mais forte que o nosso. E aí o espírito alvinegro cantou mais alto e nós atropelamos
eles. Atropelamos um time melhor do Cruzeiro. Foi um 4 x 2 e depois um 3 x 2.
Valdir Benedito: Em 99. O Cruzeiro jogava por dois empates. E nós tiramos eles em
dois jogos. Aquilo lá parecia que a gente tinha ganhado uma Copa do Mundo. Depois do
jogo só festa da torcida.
L.P: Qual desses dois clássicos foi mais importante?
M: Acho que os dois. Por que sacramentava uma classificação pra uma semifinal.
Foram dois jogos que marcaram. O 4 x 2 por eu ter feito gol. E o outro eu participei
bem também. Dei passe para gol.
L.P: Qual gol dos que você marcou nos clássicos foi mais importante?
M: No jogo de 99 eu fiz dois gols que foram importantes. Mas, no ano 2000, na final,
no primeiro jogo, eu fiz um gol de cabeça. Meu menino tinha acabado de nascer. Ele
nasceu na quinta-feira. O jogo foi no sábado. Eu consegui fazer o gol e a gente fez uma
homenagem para o Rafael. Aquele famoso „nana-neném‟. Esse gol eu sempre lembro.
Foi uma falta na nossa defesa. O Velloso saiu rápido com Guilherme, que estava
ajudando a defesa. O Guilherme tocou no Lincoln. O Lincoln lançou o Ramón e o
Ramón cruzou para mim, de cabeça. Foi uma jogada de contra-ataque.
L.P: Qual o sabor da vitória em um clássico?
M: É o jogo da rivalidade né. Esse jogo para a cidade de Belo Horizonte. Você jogar
bem, conseguir sair vitorioso, fazendo gol, além de deixar a sua moral elevada e a
confiança acima da média, a satisfação pessoal é inexplicável. Você sair do Mineirão
vencendo o seu maior rival. Mineirão lotado. Quantas vezes jogamos no Mineirão
lotado contra o Cruzeiro? Fica na memória.
V: Se você ganhar o clássico no outro dia você tá bonito. Pode sair na rua. Bom demais!
L.P: Para você, que jogou dos dois lados, o sabor é o mesmo?
V: Claro que a gente é sempre profissional. Mas no Atlético é diferente.
L.P: Como é a expectativa antes de um clássico?
M: É um campeonato à parte. Na semana que antecede o jogo a rivalidade entre as
torcidas é acirrada. Para nós que jogamos fomos atletas né? De repente você num posto
ou vai numa padaria: “domingo é o clássico eim”. Tem sempre aquela cobrança. É um
jogo realmente diferente. E movimenta toda a nossa Belo Horizonte e o estado. É um
jogo que sempre marca.
L.P: As farpas trocadas fora do campo influenciam para vocês
M: Não. Pra quem joga, peso nenhum. O cara já ali dentro do vestiário se desliga e se
concentra só no que vai acontecer dentro do campo. É muito mais pra movimentar os
bastidores, a imprensa, torcida.
V: Também acho que não.
L.P: É possível comparar a rivalidade Atlético x Cruzeiro com as rivalidades de outros
estados?
M: Eu joguei em São Paulo e joguei no Rio. Tanto um como o outro estado têm a
rivalidade. Tem quatro equipes grandes né? Tem a rivalidade, mas, diferente do que
acontece aqui e acredito que no sul também, Inter e Grêmio. A rivalidade acho que é
muito maior aqui. Os ânimos são muito mais acirrados.
V: Eu joguei também em Porto Alegre. Grenal é „fóda‟! (risos)
L.P: A pressão das arquibancadas quanto a bola rola no clássico influencia?
M: A gente queria ir pro estádio e ver o estádio cheio mesmo. Quanto mais cheio
melhor.
V: A partir do momento que começou o jogo parece que bate um negócio na gente que
você desliga desse negócio de torcida.
M: O que a gente era de, às vezes, chegar no Mineirão e você ver as ruas todas paradas.
Olhava para fora e a torcida toda lá dominando as ruas. A gente comentava dentro do
ônibus: hoje é 60 mil. Hoje vai ser fóda. Vamos atropelar esses caras! A motivação ela
chegava ali nas ruas do Mineirão.
L.P: Defina o que é para vocês o clássico Atlético x Cruzeiro.
M: É um jogo diferente de qualquer outro que a gente tenha jogado. Campeonatos
regionais ou campeonato nacional. A adrenalina é outra. A ansiedade para jogar é outra.
Até a bola rolar é diferente de outro jogo qualquer, em que você está relaxado. O
clássico é um jogo de estado de alerta durante a semana e durante os 90 minutos
V: Clássico é do céu pro inferno e do inferno pro céu!
L.P: Teve algum clássico que marcou alguma grande revira-volta pra vocês?
V: Em 93 nós estávamos há dez jogos sem ganhar. Nós pegamos o Cruzeiro e
ganhamos. Não perdemos mais nenhuma depois no Brasileirão. Nós quase
classificamos. Faltou um ponto.
M: Teve um jogo. Eu já tinha jogado alguns clássicos e não tinha marcado ainda. E
aquilo me incomodava e a própria imprensa já tava me pressionando em relação a isso.
E aí eu consegui fazer o gol e a gente tinha um tempo também que não ganhava do
Cruzeiro em 99. Pra mim o clássico da revira-volta foi esse, o do meu primeiro gol.
L.P: Que lembrança você tem daquele 2 x 2 que você marcou o gol do empate no
finalzinho e que vocês eram favoritíssimos?
M: Esse foi um ano que gente tinha um time melhor que o do Cruzeiro. O Cruzeiro saiu
com 2 x 0, dois gols do Alex. Passou os 40, tava 2 x 0 ainda. O Ramón bateu a falta fez
2 x 1. E aí eu fiz o gol já perto dos 45. E no finalzinho a gente ainda teve uma chance. O
Alexandre quase fez o gol. Isso aí é a história do clássico. Não dá para você fazer uma
previsão antes. Muitas vezes já aconteceu do nosso lado e do lado deles também que o
time não tão bem para enfrentar o clássico. Ele consegue a revira-volta e consegue uma
seqüência importante, o que aconteceu com a gente em 99.
Entrevista com José Reinaldo de Lima, ex-atacante do Clube Atlético Mineiro.
Entrevista realizada por telefone no dia 3 de novembro de 2011.
Erik Ullysses: Qual foi o gol em clássicos que mais te marcou mais?
Reinaldo: Tem sim. Tem o da final de 76. Eu tabelei com Paulo Isidoro no meio de
campo. Saí e o Raúl veio e eu toquei por cima dele.
E.U: E qual foi o clássico que mais te marcou?
R: Foi esse. Pelo gol marcado.
E.U: Para você o quê é o clássico Atlético x Cruzeiro?
R: Eu acho que é quando Minas se divide ao meio. É uma das maiores aqui de Minas. E
é emocionante pela presença do público, pela rivalidade, por tudo né? É um clássico! A
tradição!
E.U: Qual é a sensação de vencer um clássico?
R: É muito agradável. Sem dúvida! O sabor da vitória é muito bom, uai. Ainda mais
quando o seu arqui-rival é da mesma cidade, do mesmo estado. É muito intenso mesmo!
É muito bom quando você vence e te dá um impulso muito grande, uma força muito
grande. E você vê a sua superioridade. Você avalia a sua superioridade.
E.U: Você acha que as farpas trocadas entre os dirigentes na imprensa às vésperas de
um clássico influenciam os jogadores dentro de campo?
R: Ah não, jogador vai pra concentração justamente para isso. Pra ficar ausente de todo
esse anti-clássico, essa discussão, essas polêmicas. Jogador ele só está mesmo focado na
bola, no jogo.
E.U: Do final da década de 70 e durante os anos 80 o Atlético praticamente dominou o
futebol mineiro. Você acha que hoje é possível um time um dos dois times ter um
domínio parecido?
R: Eu acho que sim. O Atlético é uma das maiores forças do futebol daqui de Minas
Gerais, tem condição de formar uma grande equipe. E vai estar sempre disputando. O
atlético é grande! Da mesma forma o Cruzeiro também tem condição, o América que está
aparecendo. Precisa abrir mais o futebol de Minas para outros clubes também surgirem.
Entrevista com Evaldo Cruz, ex-jogador do Cruzeiro Esporte Clube.
Entrevista realizada em Belo Horizonte no dia 21 de setembro de 2011.
Luiz Phillipe: Quando você chegou ao Cruzeiro? Como foi?
Evaldo: Eu comecei a minha carreira no Fluminense em 61 e fiquei lá até 66. Fui
juvenil, aspirante e profissional. Eu tinha problemas no Fluminense porque eu
machucava demais, eu joguei com o Procópio lá em 64 e fomos campeões e o Procópio
me indicou para o Felício, para o Cruzeiro. E eu não conhecia Belo Horizonte, eu não
conhecia nada, mas eu vi o time jogar um amistoso com o Fluminense lá no campo do
Fluminense, e o Tostão não foi, mas o Dirceu arrebentou com o Fluminense! Jogou
muito! Eu não pude jogar por que eu estava machucado. Meu contrato estava
terminando, aí o dirigente falou: é pegar ou largar. Aí eu larguei. Aí o Procópio me
indicou pra cá e eu vim pra cá, pra ganhar menos! Cheguei no Cruzeiro em março de 66
sem conhecer nada, a estrutura do Cruzeiro era fraca em vista do Fluminense, porque
times do Rio e São Paulo eram superiores mesmo aos outros, principalmente de Minas
Gerais. Mas o time do Cruzeiro era muito bom, o que segurou de fato o futebol mineiro
era o Cruzeiro que tinha um time muito bom. Quando eu cheguei o Mineirão tinha sido
inaugurado há menos de um ano, e era uma febre danada, o pessoal tudo doido e o que
eu notei aqui: o campo que a gente treinava era ruim, o material que a gente usava era
ruim, a torcida do Cruzeiro era pouca, a maioria era do Atlético, mas o time era muito
bom. Então eu notei que foi crescendo a torcida pelas vitórias, pelos títulos e pela
cabeça do presidente Felício Brandi, que não pode deixar de ser citado, que contratou
uma relações públicas, chamada Ignêz Elena, outra que tem que ser lembrada sempre. A
gente fez um trabalho aqui de visitar presídio, escolas, hospitais... A Ignêz pedia, quase
que obrigava agente, e o Felício acreditou e comprou muito material, material de escola
bola, régua, lápis, caderno e a gente ia nos colégios entregar. Então juntou uma coisa
com a outra: o Cruzeiro começou a ser conhecido, no campo ganhando e os meninos
torcedores aparecendo. Para você ter uma idéia a torcida do Atlético tomava conta do
Mineirão quase todo, o Cruzeiro era um cantinho, mas foi crescendo, foi ganhando,
menino gosta é disso aí, de torcer para time ganhador. Então o Cruzeiro ganhava tudo,
então o time foi crescendo e é essa torcida que é hoje. O Cruzeiro tinha um time que
ficou quase oito anos juntos, então, além de ser um time bom era um time de
companheiros. Um gostava do outro, sentia falta quando o outro não aparecia, quando
tinha algum problema olhava para a cara do sujeito e falava assim: 'Você está com
algum problema?' 'Não, não tenho não!' 'Mas você não é assim?' O time dentro e fora de
campo era um time unido.
Erik Ullysses: Como eram os clássicos contra o Atlético?
E: O Cruzeiro fez grandes clássicos contra o Atlético, independente do Cruzeiro ser um
time melhor na época, mas os jogos eram sempre duros por causa da camisa, rivalidade.
Jogo de Atlético e Cruzeiro durava pelo menos 15 dias antes e 15 dias depois, o
comentário era geral.
O time era bom, e fazia a festa, de 66 quando cheguei aqui até 70, o Cruzeiro
ganhou praticamente tudo aqui. Não tinha campeonato nacional, era só campeonato
regional. O campeonato durava! Era só de domingo a domingo, era um horror. Hoje se
joga quase todo dia. Mas o time era muito bom, a gente achava uma festa. A supremacia
era nossa porque o time era bom, mas contra o Atlético o jogo era duro. Dificilmente
tivemos um 4 x 0, um 3 a 0, mas a maioria era jogo de 1 x 1, 0 x 0, 1 x 0 e o time do
Atlético tinha uma capacidade, uma torcida muito maior do que a nossa e o jogo era
sempre duro. Agora, em 71, aí o Cruzeiro já estava caindo. O Tostão tinha machucado
um dos olhos, foi vendido para o Vasco, os jogadores começaram a ter uma vida
paralela. Piazza, Tostão, o próprio Dirceu Lopes começaram a ter um 'negociozinho'
próprio. Então os treinos começaram a dar uma relaxada e o Atlético subiu, contratou o
Telê que foi campeão em 71 e o time de fato era muito bom. O time encaixou, e quando
o time encaixa vai embora. Então o nosso já estava querendo desintegrar e só não
desintegrou porque o Felício não vendia ninguém, o Felício só segurava. Mas as
cabeças já não eram as mesmas e o time já não estava unido como era no início.
L.P: Qual foi o gol mais marcante que você fez em clássicos e por quê?
E: Eu peguei esse apelido de jogador de terceiro tempo por que antigamente não tinha
desconto. Eram 45 minutos mesmo, o time pode fazer cera que for. Um cara cai, aí entra
massagista, e descontava nada. Deu 45 minutos era 'pi, pi, pi, pi'. Hoje não, o cara cai, aí
desconta três minutos, cinco minutos. Eu fiz uns dois gols contra o Atlético depois do
tempo. Mas por causa disso, a gente não para de correr. Um nós empatamos em 1x1 e o
outro acho que nós ganhamos de 1x0, mas não tenho certeza, minha cabeça não guarda
não. 1x1 eu me lembro, foi até quando voltamos da Taça Brasil. Depois da Taça Brasil a
gente iria jogar o último jogo contra o Atlético, mas a gente já era campeão aqui
também. Só que tem essa rivalidade né? Se o Atlético ganha da gente falam sempre são
campeões do Brasil, campeões em cima dos campeões do Brasil. Só que a gente tava
perdendo de 1x0 e no finalzinho eu fiz o gol e empatei.
L.P: E qual o jogo mais marcante?
E: O melhor jogo foi um 3 x 3 em 67. Que foi decidido em 68 por que tinha férias de
jogadores. Esse foi o jogo mais marcante de todos os Atlético x Cruzeiro. Nós
perdíamos de 3 x 0, o Tostão saiu machucado e o Procópio foi expulso. Agora você
pensa bem: Você perdendo um clássico por 3 x 0, o melhor jogador nosso machucado e
o Procópio expulso. Jogar com dez fica complicado. Hoje você vê que o time tá com
dez e o jogador fica: “Nó, nós perdemos jogando com dez”. Não tinha esse negócio,
você tinha que ir para cima. Você vai tomar 18, mas nós não estamos nem aí, nós íamos
para cima. E nós fomos para cima e fizemos um e fizemos dois. Tem torcedor que até
hoje fala: “Pô vocês me sacanearam, 3 x 0 eu fui embora”. Nós empatamos 3x3 e nós
tivemos uma jogada com uma bola na trave, acho que foi o Piazza quem bateu e quase
que a gente ganha o jogo.
O primeiro tempo terminou 2x0, eu acho que o Atlético fez o terceiro no início
do segundo, mas a minha cabeça não guarda. Eu sei que eles estavam ganhando de 3 x 0
e em seguida o Natal fez um e depois fez outro e o Piazza fez um gol de Pênalti.
E.U: Como foi a campanha do título da Taça Brasil de 1966?
E: O Cruzeiro tinha um time bom, mas eu sempre falo: o Cruzeiro era um time de Belo
Horizonte, um time de Minas Gerais, o Cruzeiro não era um time do Brasil. Pouca gente
conhecia. Falava-se no Tostão. O Tostão inclusive foi para a Seleção, mas o Cruzeiro e o
futebol mineiro não eram falados. Tanto é que, antes do Mineirão o futebol mineiro
contratava os jogadores veteranos dos times de Rio e São Paulo para virem para cá.
Com o advento do Mineirão a coisa mudou. Felício manteve jogadores novos. Tostão
com 19, Dirceu com 19, Natal, e contratou outros jogadores novos também. Para o
Cruzeiro vieram eu, o Raúl, Cláudio. O Atlético também contratou jogadores novos.
Então o futebol cresceu com o Mineirão. O Mineirão deu uma ajuda tremenda.
Nós começamos contra o Americano de Campos, depois contra o Fluminense e
foram jogos relativamente tranqüilos. Os jogos mais duros que nós passamos nas fases
aí foram contra o Grêmio, nem foram contra o Santos, foram contra o Grêmio. O
Grêmio tinha um time forte e eles já treinavam muito, muita física. A física nossa era de
acordo com o resultado. Se ganhasse era tudo mole, se perdesse aí fazia uma física. Não
era algo planejado. Os times do sul já tinham um planejamento, por ser encostado ali na
Argentina, no Uruguai eles já tinham outra mentalidade. Então ganhar deles, cada
homem grande e bom de bola, era difícil. Nós empatamos lá em 0 x 0 e aqui ganhamos
de 2 x 1, mas numa dureza danada. Essa foi a fase mais difícil.
E contra o Santos era aquele caso. Você vai jogar contra o Santos, o Santos é o
melhor time do mundo, tem Pelé do outro lado. Inclusive o Cruzeiro ganhou mais moral
porque derrotou o Santos de Pelé. Nós fomos jogar com o Santos que era jogo decisivo,
não tinha esse negócio de vantagem, fizemos 6 x 2 aqui, podíamos ter a vantagem, 'esse'
trem de ganhar de quatro gols, não tinha nada disso. Eles ganhando lá teria uma terceira
partida. Só que nós ganhamos aqui. Campo lotado, até chegar no estádio carro para
danar. Parecia que o povo estavam todos doidos. E a gente: “Nossa senhora, parece que
o jogo vai ser bom mesmo” a gente no ônibus dizia: “nossa o jogo vai ser duro mesmo,
olha só o tanto de gente”. Aí fomos para o campo. A idéia nossa era, “vamos jogar né”?
Ganhar? Acho que ninguém pensava nisso, se ia ganhar. A gente queria era jogar. Ia
jogar contra o melhor time do Brasil ou do mundo. Só que encaixou tudo. No primeiro
tempo a gente tava ganhando de 5x0. Você olha para o outra assim e fala: “Meu Deus,
5xo no Santos?”.
Mas o nosso time era bom. O outro era melhor, o outro era cheio de jogador de
seleção. Mas o outro era um jogo mais cadenciado e nós éramos um jogo mais rápido.
Menino correndo para lá e para cá e dois grandes jogadores né? Tostão e Dirceu, e um
pulmão do Piazza que jogava sozinho no meio, marcava, não dava pancada em
ninguém. Marcou Pelé. Mas não era esse negócio de ficar atrás de Pelé não! Pelé
pegava a bola e ele ia e tirava a bola do Pelé. Não era esse negócio de marcação
individual, não tinha nada disso. O Piazza era um cavalo para marcar mesmo, tinha uma
saúde! Esse foi o maior símbolo nosso de jogador, de dedicação.
Mas voltou o segundo tempo com 5 x 0, aí com 14 minutos o Santos já tinha
feito 2 gols. Então, “Nossa Senhora, daqui a pouco eles vão empatar”. 5x2 com 14
minutos! Mas em seguida fizemos o sexto. Aí deu um banho de água fria no Santos, e o
Santos deu aquela maneirada e ficou nisso. Aí nós fomos para o segundo jogo. O
segundo jogo nós jogamos no Pacaembu. Chovia. Mas a gente sabia que podíamos
perder por que teríamos outro jogo. Mas ninguém pensava nisso. Pensava em jogar
bola. E tomamos 2 x 0, mas era para termos tomado uns 4 ou 5. Raúl pegou pra danar.
Toninho entrava sozinho e 'bum', pegava na trave. Levamos uma sorte danada no
primeiro tempo. Alguns falam que nós jogamos melhor, por que no segundo tempo o
campo tava menos molhado, menos alagado. Não sei se foi isso, só sei que o time se
acertou, se não, o nervoso foi embora. Deve ter sido isso. E nós fomos para cima e
conseguimos virar. O empate já bastava, fizemos 2 x 2 com Natal e com Dirceu, com o
Tostão perdendo um pênalti quando estava 2 x 0. Depois fez um gol de falta sem
ângulo. Ganhamos com competência. Mas eu sempre falo: Nosso time não era melhor,
o melhor era o Santos. Mas nessas duas partidas nosso time estava iluminado.
L.P: Teve soberba pelo lado do Santos?
E: O time do Santos era um time de craque, mas era um time mais cadenciado, um time
tranqüilo, de muita categoria. Mas o nosso time além de ter bons jogadores era um time
rápido. A maioria era tudo novinho, queria tudo correr. E o pessoal mais velho não gosta
de menino que corre muito. Sendo bom e correndo então. Então nosso time ganhou com
competência, não teve soberba do outro lado. Do nosso lado não teve 'mascaradagem'. É
que a gente gostava de jogar, esse que era o problema. A gente gostava do futebol. Para
a época, Tostão ganhava um pouquinho mais que a gente, mas ninguém estava
preocupado com isso. Preocupado em saber se fosse campeão quanto que iria ganhar. A
gente entrava em campo, e vamos jogar. O time de lá que se segure. Sabíamos que o
time era bom. Pode perder, mas vamos para cima. Ás vezes você não conseguia fazer
gol, mas você criava doze chances de gols. Era bola na trave, goleiro pegando. Hoje
você vê em determinados jogos e o cara faz uma defesa. E o futebol é bom por causa
disso, tem que ter armação, jogada bonita, mas tem que ter gol né? Se não tiver gol não
tem graça. Diferente de basquete, de vôlei que você vibra toda hora. Faltando dez
segundos ás vezes você perde o jogo no basquete. No vôlei você está ganhando de 24 e
não fecha, 24 a 19 e o outro vai lá e ganha. No futebol não, geralmente o melhor ganha.
Só se der uma zebra danada. Se o melhor tiver centrado, tiver querendo mesmo ganha.
L.P: Quando e onde você encerrou a sua carreira?
E: Quebrei a perna em um jogo contra o Santos, com o goleiro Serras, não por maldade
dele, por uma fatalidade. Praticamente ali a minha carreira deu uma caída, por que a
medicina não era tão avançada quanto hoje. Eu fiquei um ano e três meses para voltar a
jogar e as pessoas não acreditam né? Os companheiros, os próprios médicos. Então você
caía e as pessoas perguntavam: 'machucou, machucou?' 'Não, não tem nada não!' Eles
ficavam com aquilo na cabeça. Eu sentia que eu não tinha mais nada, mas os
companheiros ficavam sempre preocupados. Mas eu joguei pra valer mesmo até 1971,
depois eu voltei a jogar, mas não era a mesma coisa. Eu encerrei a minha carreira em 77
lá na Venezuela jogando pelo Deportivo Itália.
Entrevista feita com Alexandre Rodrigues, torcedor do Cruzeiro Esporte Clube.
Entrevista feita por e-mail.
Resposta enviada no dia 15 de novembro de 2011.
Erik Ullysses: Como surgiu a idéia de fazer um velório no rebaixamento do Atlético?
Qual foi a sensação de ver o Atlético caindo para a série B?
Alexandre Rodrigues: O velório do Atlético já vinha sendo planejado há algum tempo,
então como já sabíamos que ia cair naquele jogo contra o Vasco, fomos lá na funerária e
alugamos um caixão e mandamos adesivar com o símbolo deles escrito CAIU, e a
palavra GAYLOUCURA, provocando os nossos rivais, lembro que a repercussão foi a
melhor, pois foi uma brincadeira sadia, sem violência e depois do rebaixamento vimos
atleticanos aqui na cidade mesmo só no dia que eles subiram, pois durante toda a
segundona deles não achava ninguém se quer com camisa. E ainda depois vem falar que
a torcida do cruzeiro que é simpatizantes né?
E.U: Qual é o seu clássico inesquecível? Por quê?
A.R: Olha tenho vários clássicos inesquecíveis, pois para mim ir em um Cruzeiro x
Atlético é igual religião, nunca pode faltar mesmo dependendo da situação. Mas tenho
três que são inesquecíveis:
1°: Cruzeiro 2 x 0 Atlético, isso em 2007, na final do mineiro, aonde no primeiro jogo
da final perdemos de 4 x 0 vergonhoso para nosso rival. E no 2º jogo do final claro que
só ia dar a torcida deles, mas aí que vem a historia! Lembro que fiquei a semana inteira
chamando o povo para ir pro jogo, mas todos riam da minha cara falando que sou doido,
que não queria ver outra goleada, etc. Mas aí peguei o carro e arrumei mais dois amigos
para ir, então fomos com aquele clima tenso que estava em volta do estádio, pois eram
40 mil deles contra dois mil nossos. Entramos no estádio e vi realmente quem é torcedor
de verdade e quem é de mentira, pois todos que estavam ali são os que não abandonam
o clube em nenhum momento. Mas o que mais me chamou atenção nesse clássico foi
que antes de entrar para o estádio a Máfia Azul chamou todos os torcedores e todos
deram as mãos e rezaram um Pai Nosso, entramos todos para o jogo loucos, pois os dois
mil que estavam lá cantou para os outros torcedores que não foram. E a torcida deles
ficou sem entender o porquê da nossa torcida cantando sem parar e a deles não. Lembro
que um amigo meu atleticano que estava do lado de lá me ligou no intervalo falando
que estava me vendo e perguntou o que nossa torcida usou para ficar tão agitada assim.
Pena que não ganhamos o título, mas saímos do Mineirão aplaudidos pelos nossos
jogadores e com o dever cumprido de apoiar o time mesmo nessa situação difícil.
2º e 3°: Cruzeiro 5 x 0 Atlético de 2008 e 2009- Não tem como esquecer o 'créuuu'!!
E.U: Como foi que você fez para encontra com o Montillo? Como foi a repercussão
desse encontro?
A.R: Cara foi de última hora, fui para o jogo do Cruzeiro em 'Assuncion' no Paraguai,
aí como vi que o Santino, filho do Montillo, estava internado e ele largou tudo para
viajar e jogar cheguei antes no Paraguai e fiquei sabendo do horário de desembarque do
time. Fui com mais três amigos meus que já estava lá. Aí escrevi em um papel "Fuerça
Santino!! Estamos com você Montillo!” Na hora em que vi ele, já corri nele e ele ficou
muito surpreso, aonde varias pessoas da imprensa brasileira me perguntaram o que era,
e fizeram varias matérias sobre isso. Nunca esperava que fosse repercutir assim, tanto
que logo após o jogo ganhei a camisa do Montillo que guardo com muito carinho aqui.
E.U: Você já presenciou algo inusitado durante algum clássico?
A.R: Inusitado tem vários, não só clássicos mas outros jogos. Quem não se lembra das
comemorações do Alex Alves e do Kleber imitando uma galinha? Quem não se lembra
do Danilinho saindo chorando do estádio por causa de provocação, entre outros, como o
Marques, Kalil? Quem não se lembra do bigode do Edu Dracena de provocação ao Ziza
e da torcida deles passando vergonha levantando bandeirão de cabeça pra baixa? Ou até
mesmo a faixa q eles escreveram que preferem HOMEM NA SEGUNDA? Vários
clássicos marcantes, que se Deus quiser quero assistir muitos ainda!
Enquete realizada com os torcedores.
Pergunta: Qual o seu clássico inesquecível?
Torcida do Atlético:
Laiana Cardoso de Oliveira, 20 anos, estudante de jornalismo: O clássico que eu
considero inesquecível foi o primeiro jogo da final do Campeonato Mineiro de 2007,
em que o Atlético venceu o Cruzeiro por 4x0, com gols de Éder Luiz, Marcinho e dois
de Danilinho. Esse clássico foi especial, pois tinha aquele gostinho de final que faz o
coração bater mais forte. Além disso, o Atlético mostrou uma superioridade incomum
em clássicos. Todos os clássicos deveriam ser como aquele.
Francisco Ferreira, 24 anos, promotor de vendas: Foi em 99. Acho que foi nas
quartas de final (do Brasileiro) Atlético e Cruzeiro. O Atlético ganhou de 2x1. Pra mim
um jogo marcante foi aquele em 99! Tava muita adrenalina no dia do jogo, aquela
doidera toda. Por isso marcou.
André Araújo, 30 anos, arquiteto e urbanista: Para mim um clássico inesquecível
entre Atlético e Cruzeiro foi em 2007, 4x0 Atlético. Por causa do chapéu do Danilinho e
do Fábio de costas no último gol.
Agostinho Saraiva, 49 anos, vendedor: 99, Atlético e Cruzeiro, 3x2. Gol do
Guilherme de peito. Outro gol que eu me lembro foi o do Danilinho com o Fábio de
costas.
Júlio Campos, 25 anos, estudante: Para mim o clássico marcante foi o clássico que o
Galo ganhou de 4x0 do Cruzeiro, que o Fábio tomou aquele gol de costas do meio do
campo. E foi bom demais! O narrador da Itatiaia enquanto narrava o terceiro gol se
surpreendeu com o quarto gol em menos de dez segundos. E a torcida foi à loucura.
Esse para mim foi o mais emocionante!
Jonatas Teixeira, 23 anos, estudante: Foi o do Brasileiro do ano passado. 4 x 3 com
três gols do Obina. Esse foi marcante mesmo né? Jogo pegado. Gol pra lá e gol pra cá e
o Obina faz três gols ainda! Que isso? Muito massa! Queria estar no Mineirão, mas
vendo em casa... Casa não. No boteco muito melhor.
Priscila Almeida, 25 anos, estudante de jornalismo: O primeiro jogo da final do
mineiro de 2007 foi inesquecível pra mim. Ganhar do Cruzeiro é sempre bom, agora
ganhar de 4 a 0 com aquele passeio no campo, com direito ao famoso gol “Fábio de
costas” é indescritível. Um tempero a mais que contribui para eu lembrar desse jogo
com tanto com carinho é o fato de eu ter assistido com família e amigos em um
tradicional bar atleticano de Viçosa, Minas Gerais, o Bar do Leão. Os poucos
cruzeirenses que tinham saíram humilhados antes do jogo acabar. Exceto minha tia, que
estava muito bêbada e tentava cantar o hino do cruzeiro a todo custo, mas as vaias
sempre a atrapalhavam. Parecia que um pedacinho do Mineirão estava ali naquele lugar.
Nós somos do Clube Atlético Mineiro... Era entoado a todo momento, emoção a flor da
pele. Porque acho que é isso que faz o Galo ser tão especial, a torcida, que sabe
aproveitar cada momento de alegria que o time nos dá, e continua firme mesmo quando
os tempos não são tão felizes assim.
Torcida do Cruzeiro
Valter José de Oliveira, 60 anos, aposentado: Tem o de 77. Eu estava policiando. Eu
estava lá no Mineirão trabalhando no jogo Cruzeiro e Atlético, trabalhando na torcida
do Atlético. Tinha que torcer só com o coração, escutando zoeira lá de que quando
terminasse o jogo o time do Atlético, os meninos do Atlético iriam para o Tiro de
Guerra, e os do Cruzeiro iriam para o asilo. O Reinaldo fez o gol no primeiro tempo e
no segundo o Revétria empata o jogo e vai para a prorrogação. Eu trabalhando na
torcida do Atlético escutando eles falando: “É, nós temos que torcer para o Atlético
ganhar na prorrogação, por que se for para os pênaltis o Raúl cata tudo”. E na
prorrogação eles tomaram 2x0. Um gol do Lívio e o segundo gol da prorrogação do
Joãozinho. Foi um clássico, em síntese, de muita emoção. Para começar trabalhando no
Mineirão, fardado, na torcida adversária e escutando a gritaria deles, as palhaçadas, “nós
vamos ser campeão”. Aí o Cruzeiro sapeca neles um coro e a gente saiu tranquilo, saiu
feliz. Rindo à toa, como diria Carlos César Pinguim.
Matheus Loureiro, 28 anos, biólogo técnico da UFV: O jogo que mais me marcou de
Cruzeiro e Atlético foi a decisão do Campeonato Mineiro de 2009, Cruzeiro 5x0 em
cima do Atlético. Eu estava no Mineirão, realmente é o jogo mais marcante! Show do
Kleber Gladiador, que inclusive imitou galinha no final do jogo. É realmente a cena
mais marcante que eu tenho de qualquer jogo do Cruzeiro!
Diogo Martins, 19 anos, estudante: Foi o jogo aquele que eles meteram gol lá, 5x0.
Eles haviam ganhado no ano anterior, se não me engano, e depois o Cruzeiro foi e fez
5x0. Nossa Senhora, eu zoei muito. Tinha um vizinho meu lá que eu gritei no ouvido
dele o dia inteiro.
Larissa Arruda, 23 anos, estudante: Quanto que ficou aquele jogo? Aquele do
Foquinha, do Kérlon? 4x3. Deve ter uns três anos. Eu vi no Bar do Leão. O Leão estava
muito cheio, tinha muito atleticano e a gente fez a festa lá no final do jogo, não queria
nem saber. Foi o clássico que mais me marcou com certeza. Garantido!
Matheus Souza, 20 anos, estudante de engenharia civil: Eu não me lembro do jogo
direito assim não, mas foi 5x0. É bom ver os atleticanos sofrendo também! Eles
estavam contando vitória antes. E é isso mesmo, rivalidade é para isso mesmo, você
ganhar e tirar onda com os outros.
Dimitre Lopes de Lima, 19 anos, estudante de economia: 5x0. O primeiro 5x0. Gol
do Ramires e do Marcelo Moreno depois. O segundo foi dois gols do Jonathan. Foi
esse. No ano anterior o galo tinha ganhado de 4x0, com gol do Fábio de costas e depois
veio esse 5x0. Acho que foi o melhor clássico.
Alexandre Rodrigues, 26 anos, gerente de loja: Cruzeiro 2 x 0 Atlético, isso em 2007,
na final do mineiro, aonde no primeiro jogo da final perdemos de 4 x 0 vergonhoso para
nosso rival. E no 2º jogo do final claro que só ia dar a torcida deles, mas aí que vem a
historia! Lembro que fiquei a semana inteira chamando o povo para ir pro jogo, mas
todos riam da minha cara falando que sou doido, que não queria ver outra goleada, etc.
Mas aí peguei o carro e arrumei mais dois amigos para ir, então fomos com aquele clima
tenso que estava em volta do estádio, pois eram 40 mil deles contra dois mil nossos.
Entramos no estádio e vi realmente quem é torcedor de verdade e quem é de mentira,
pois todos que estavam ali são os que não abandonam o clube em nenhum momento.
Mas o que mais me chamou atenção nesse clássico foi que antes de entrar para o estádio
a Máfia Azul chamou todos os torcedores e todos deram as mãos e rezaram um Pai
Nosso, entramos todos para o jogo loucos, pois os dois mil que estavam lá cantou para
os outros torcedores que não foram. E a torcida deles ficou sem entender o porquê da
nossa torcida cantando sem parar e a deles não. Lembro que um amigo meu atleticano
que estava do lado de lá me ligou no intervalo falando que estava me vendo e perguntou
o que nossa torcida usou para ficar tão agitada assim. Pena que não ganhamos o título,
mas saímos do Mineirão aplaudidos pelos nossos jogadores e com o dever cumprido de
apoiar o time mesmo nessa situação difícil.
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