ERIK ULLYSSES ALVES DE OLIVEIRA LUIZ PHILLIPE DUARTE SOUTO Memorial do projeto experimental Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade Viçosa - MG Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV 2011 ERIK ULLYSSES ALVES DE OLIVEIRA LUIZ PHILLIPE DUARTE SOUTO Memorial do projeto experimental Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade Memorial apresentado ao Curso de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa, como requisito parcial para a obtenção o título de Bacharel em Jornalismo. Orientador: Professor Joaquim Sucena Lannes Viçosa - MG Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV 2011 Universidade Federal de Viçosa Departamento de Comunicação Social Curso de Comunicação Social / Jornalismo Monografia intitulada Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade, de autoria de Erik Ullysses de Oliveira e Luiz Phillipe Duarte Souto, aprovada pela banca examinadora constituída por: _____________________________________________________ Prof. Dr. Joaquim Sucena Lannes – Orientador Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV _____________________________________________________ Prof. Dr. Erivam Morais de Oliveira Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV _____________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Frederico de Brito d‟Andréa Curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFV Viçosa, 1° de dezembro de 2011 Dedicamos este trabalho às nossas famílias, amigos, colegas de turma e de vida nesses anos em Viçosa. Ao nosso orientador, Professor Joaquim Sucena Lannes. Enfim, a todos que de alguma forma foram importantes e estiveram conosco nessa caminhada. RESUMO O livro-reportagem é um dos principais formatos do jornalismo literário. Ele tem como uma de seus recursos característicos a possibilidade de uma maior liberdade para a criatividade jornalística e um texto que se afasta das restrições do tradicional lead. O jornalismo esportivo também possui uma linguagem que se difere em relação a outros formatos, sendo mais leve, informal e divertido. Utilizando-se ambos os gêneros de jornalismo o livro-reportagem Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade narra a história do maior clássico futebolístico do estado de Minas Gerais. O encontro entre Atlético x Cruzeiro ocorreu pela primeira vez em abril de 1921. O derby já foi disputado mais de 400 vezes e leva multidões de torcedores dos dois times para os estádios. O livro mostra momentos importantes desse confronto, como os grandes jogos e as decisões. As pessoas que ajudaram a tornar este clássico um dos mais importantes do país também contam as suas histórias sobre o confronto. Assim, o livro contribui na preservação da história desse clássico. PALAVRAS - CHAVE Livro-reportagem; Atlético x Cruzeiro; futebol; clássico; história. ABSTRACT The book-report is one of the main formats of the literary journalism. It has as one of its characteristic features the possibility of greater freedom for journalistic creativity and a text away from the constraints of the traditional lead. The sports journalism also has a language which differs from others formats, being lighter, informal and funny. Using both journalistic genrers the book-report Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade tells the history of the greatest soccer derby in the state of Minas Gerais. The meeting between Atlético x Cruzeiro occurred for the first time on april 1921. The derby has been played more than four hundred times and carries to the stadiuns big crowds of the two teams‟ fans. The book shows important moments of this dispute like the greatest games and finals. The people who helped making this derby one of the most important in the country also tell their stories about the dispute. Thus, the book contributes on the preservation of this game history. KEY-WORDS Book-report; Atlético x Cruzeiro; soccer; derby; history. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO....................................................................................................8 2. MARCO TEÓRICO............................................................................................9 3. METODOLOGIA..............................................................................................13 4. DESENVOLVIMENTO....................................................................................15 5. 6. 4.1. APURAÇÃO...........................................................................................15 4.2. ESCRITA................................................................................................17 4.3. DIAGRAMAÇÃO..................................................................................18 DESCRIÇÃO.....................................................................................................18 5.1. CONTEÚDO..........................................................................................18 5.2. DESCRIÇÃO DO PRODUTO.............................................................19 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................21 ANEXOS.........................................................................................................................22 1. INTRODUÇÃO O clássico Atlético x Cruzeiro possui 90 anos de história e reúne os dois maiores times de futebol do estado de Minas Gerais. O primeiro encontro aconteceu em 21 de abril de 1921. Naquela época não havia, nem de longe, a rivalidade que existe hoje nessa disputa. O duelo foi ganhando força ao longo da primeira metade do século XX, época em que o grande derby mineiro era o jogo Atlético x América. A partir de meados do último século é que a rivalidade foi se firmando de vez. O passo principal para isso foi, em enorme medida, a construção do Mineirão, que impulsionou o crescimento à nível nacional dos dois rivais, graças aos títulos conquistados e aos grandes esquadrões formados, com destaque para o Cruzeiro da década de 1960 e o Atlético do fim dos anos 70 até meados dos 80. A escolha pelo tema como base para um trabalho de conclusão de curso se dá pela importância histórica dessa rivalidade entre azuis-celestes e alvinegros, uma das maiores de todo o futebol brasileiro. A rivalidade, inserida no cotidiano, principalmente dos mineiros está presente muito através da forma falada, por meio de conversas, discussões, provocações e brincadeiras no dia-a-dia, além de ser fomentada de tempos em tempos pelos meios jornalísticos, geralmente próximos às datas que antecedem ou sucedem os jogos entre as duas equipes. Além disso, nós dois somos torcedores dos referidos clubes, o que confere um gostinho especial falar sobre essa rivalidade. No entanto, mesmo sendo um dos maiores confrontos do Brasil, constatamos a ausência de um registro histórico mais amplo e completo sobre a trajetória do clássico. Histórias, grandes momentos, a visão dos jogadores e torcedores, tudo está espelhado por periódicos e revistas antigas. Isso quando estes não se perderam através dos tempos. Esse fato foi fundamental na definição da idéia de trabalharmos esse tema em um formato de livro-reportagem. Como o livro-reportagem permite uma grande liberdade de criação, além de se diferenciar do jornalismo praticado nas grandes redações, escolhemos tal formato para que pudéssemos contar a história desse clássico. Assim, esse trabalho se torna uma importante fonte documental para futuras pesquisas a respeito do dérby mineiro. As histórias nele contadas se manterão guardadas e seguras. O livro também é uma ótima forma para os torcedores cruzeirenses e atleticanos conhecerem um pouco mais da história do clássico que tanto amam. E para aqueles que não torcem por nenhum dos dois times, mas amam o futebol, é um livro 8 recheado de paginas memoráveis do esporte mais popular do planeta. Este memorial traz o passo a passo da realização do livro-reportagem. Primeiramente falaremos sobre o referencial teórico, trazendo conceitos de livroreportagem, jornalismo literário e jornalismo esportivo, além de termos como derby e a importância do futebol na sociedade brasileira. Tais conceitos foram essenciais como um ponto de partida para o início do livro. Logo após traçamos a metodologia utilizada para a realização do livro. O desenvolvimento do livro, como a produção das pautas, a apuração, a escrita e a diagramação do produto também consta neste memorial. Por fim o memorial traz a descrição do livro-reportagem Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade e as considerações finais sobre a realização do mesmo. 2. MARCO TEÓRICO Introduzido no Brasil por Charles Miller no final do século XIX o futebol ganhou importância cada vez maior na vida do brasileiro. Filho de um escocês e uma brasileira de origem inglesa, Miller foi para a Inglaterra estudar aos nove anos de idade, tendo lá entrado em contato com o esporte. Ao regressar ao Brasil ele traz além da bola também o livro de regras introduzindo de fato o esporte bretão em terras brasileiras. O gosto pelo esporte somado a diversos outros aspectos como, por exemplo, a difusão do rádio no Brasil a partir das décadas de 1920 e 30 ajudou a popularizar o que hoje é conhecido como “paixão nacional”. Atualmente, como importante forma de entretenimento no Brasil, é inegavelmente um elemento integrante da cultura nacional. Assim, práticas relacionadas ao interesse pelo esporte são comuns na vida de uma considerável parcela da população. De tal forma é que tal esporte ganha o status de fenômeno social (Rinaldi, 2000) que hoje possui. O futebol foi e continua sendo um elemento importante da cultura brasileira. Enquanto fenômeno social, sempre esteve muito em consonância com a forma de a sociedade se organizar, assim como outros elementos da cultura popular – carnaval, arte, religião, música e outros. Sendo assim, o futebol expressa a própria sociedade brasileira em sua forma de manifestação cultural construída historicamente. (RINALDI, 2000, p.167-68) Ao longo da difusão do esporte no país começaram a surgir os clubes que com o passar do tempo foram ganhando importância. Clubes de uma mesma cidade ou próximos ao começar a se destacar geram as primeiras rivalidades. Esses jogos viriam a 9 ser chamados de derbys ou clássicos. O termo derby que no Brasil por vezes é associado ao futebol se origina, na verdade, do turfe. A palavra é introduzida no contexto esportivo brasileiro depois da difusão do turfe no país, o que se deu em grande medida a partir da construção do Jockey Club no Rio de Janeiro em 1868 e do Derby Club em 1885, que posteriormente viriam a se fundir dando origem ao Joquey Club Brasileiro. A introdução da palavra no país se encontra em um período no qual outros termos esportivos também foram incorporados juntos ao vocabulário inglês como goalkepper, half-time, match, goal, etc. “Entre essas várias palavras, importamos também o derby, que se referia a uma famosa e tradicional corrida de cavalos na Inglaterra, disputada em Epsom, por animais de três anos com o objetivo de observar e determinar o melhor cavalo de uma geração.” (ZAGO, 2003, p.61) Dentro do turfe a palavra derby passou a expressar as disputas realizadas nos joqueys: Com o passar dos anos, acostumou-se a chamar qualquer corrida de “derby”. A palavra passou então a ser sinônimo, dentro do universo do turfe, de „corrida‟, „embate‟, „confronto‟, „disputa‟, „peleja‟, ou „combate‟. (ZAGO, 2003, p.61) A conceituação derby pode ser assim um sinônimo de “clássico”, termo que atualmente é mais recorrente. Numa definição do Dicionário Aurélio, clássico significa: “jogo entre equipes de dois clubes importantes”. Esses conceitos serão tratados dentro do jornalismo esportivo, que teve sua maior difusão a partir da popularização do futebol no Brasil no começo do século XX quando já apresentava uma linguagem própria e característica, como observa Reis (2009). Este gênero se caracteriza assim, por apresentar uma linguagem diferenciada baseada em recursos como um vocabulário formado por termos mais informais, bem como a exploração do aspecto emocional presente em muitas práticas esportivas. Barbeiro e Rangel (2006) afirmam que a linguagem esportiva nos veículos da imprensa vem evoluindo através das décadas. Como exemplos citam as primeiras locuções esportivas do rádio no Brasil, onde a linguagem usada era a da emoção extrema. Os locutores muitas vezes gritavam na hora do gol para poder passarem ao ouvinte a “explosão do gol”. Por vezes a locução não correspondia à realidade do lance. Da década de 1950 até os anos 70, segundo os autores, eram as crônicas que ditavam o ritmo no jornalismo esportivo. Nélson Rodrigues, José Lins do Rêgo, João Saldanha e Mário Filho foram alguns dos principais nomes da imprensa esportiva, com 10 seus textos carregados de paixão e adjetivos, muitas vezes mais do que os lances e jogadores mereciam. A partir de 1980, o jornalismo esportivo passou a buscar a objetividade do jornalismo convencional, sempre preso às amarras das redações. Isso tornou o esporte quase frio. Atualmente, o que podemos observar é uma tentativa de conciliar a emoção com a objetividade no jornalismo esportivo. Os dois autores afirmam ainda que a linguagem jornalística nos dias de hoje “esta bem caracterizada de veículo para veículo” e que por vezes o repórter se torna personagem da própria reportagem. Algumas TVS adotam o estilo do jornalista-personagem, em que a função não é só passar a informação, relatar o fato. É preciso “viver” aquela emoção para o telespectador. O repórter faz rapel, escala montanha, luta, chora, sofre e vive até a última gota a emoção do esporte. Ele é tão protagonista quanto o atleta. (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 55) Para os jornalistas, esportivos ou não, a prática do jornalismo atualmente está atrelado diretamente a textos curtos e a objetividade, além das amarras do lead e o do deadline. Quase não há espaço nas grandes redações para o jornalismo de imersão. Assim, uma das maneiras do jornalista fazer uma reportagem de profundidade, com uma linguagem e objetivos diferentes dos que imperam nas redações, é através do livroreportagem. Belo (2006) diz que o livro-jornalismo é um instrumento aperiódico de difusão de informações de caráter jornalístico. Devido a sua característica, permite uma profundidade difícil de ser alcançada em outras mídias. Pode-se neste gênero reunir uma maior quantidade de informações, uma melhor contextualização, bem como uma construção narrativa mais elaborada que o aproximariam assim da literatura Para Belo o livro-reportagem não possui uma data definida de nascimento. Sabese que muito antes deste conceito ser definido, antes destes chegarem aos círculos acadêmicos ou entre os jornalistas, já haviam sido publicadas diversas narrativas de não-ficção. Ainda assim, segundo o autor, é possível estabelecer que a reportagem em livro ganha força como subgênero da literatura na Europa do século XIX, o que poderíamos considerar como um ponto de partida. Segundo Pena (2006), nos séculos XVIII e XIX, a influência da literatura nos jornais era grande. Ela comandava tanto as redações quanto a linguagem e o conteúdo dos jornais. E uma das principais formas de junção entre o jornalismo e a literatura eram 11 os folhetins. Os folhetins foram importantes para o fortalecimento do modelo capitalista nos jornais. Afinal, com o aumento das vendas, crescia o número de anunciantes que, por sua vez, pagavam cada vez mais pelos espaços nos jornais. “Publicar narrativas literárias em jornais proporcionava um significativo aumento nas venda e possibilitava uma diminuição dos preços, o que aumentava o número de leitores e assim por diante.” (Pena, 2006). Em contrapartida, o jornalismo naquele período ainda não havia se constituído em uma profissão como a conhecemos hoje: Era uma atividade intelectual e política. Uma batalha de idéias. Parte dos jornais nem sequer publicava reportagens: páginas e páginas eram preenchidas com artigos, ensaios, editoriais e até literatura. A distinção entre jornalismo e literatura, hoje muito clara, não estava de todo estabelecida. (BELO, 2006, p.19) O desenvolvimento da imprensa, juntamente com a crescente ascensão da imprensa americana acabou por criar moldes e padrões para o jornalismo. A busca pela isenção, pelo afastamento do jornalista do fato retratado e pelo furo jornalístico fez com que o jornalismo acabasse se distanciando da literatura. Durante a Segunda Guerra Mundial, vários jornais do mundo enviaram correspondentes ao front de batalha e, na busca pela informação mais rápida e objetiva possível passou a ser usado o lead, pois era necessário que os correspondentes passassem a informação através do telegrafo, que era um meio caro e instável. Assim, definiu-se que era necessário passar toda a informação em um único parágrafo, o que acabou sendo adotado por todos os jornais e que impera até os dias de hoje. Ao fim da guerra, se opondo ao lead, o que se viu foi o fortalecimento do jornalismo literário, motivado principalmente pelo relato de John Hersey sobre os sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima publicado pela revista The New Yorker no dia 31 de agosto de 1946, um ano após o fim da guerra. No ano seguinte a reportagem foi transformada em livro e causou uma grande virada nos rumos das produções jornalísticas. Surgiu então, nos Estados Unidos da década de 1960, o New Journalism, que consistia na técnica de narrar os fatos de uma forma mais aprofundada e com o jornalista muitas vezes deixando transparecer a sua opinião ou até mesmo participando da narrativa, uma oposição à ditadura do lead e da pirâmide invertida. Elementos que não eram diretamente ligados à prática jornalística eram expostos nas reportagens. Na 12 realidade tais elementos são muito mais próximos da literatura, como a narração, a descrição cena por cena e a reconstrução de ambientes e épocas. Do New Journalism surgiram vários expoentes como Truman Capote, Tom Wolfe, Norman Mailer e Gay Talese. Algumas obras como A Sangue Frio, Medo e Delírio em Las Vegas e Radical Chic, foram publicadas em jornais e revistas como a Rolling Stone e posteriormente viraram livros e acabaram de tornando expoentes máximos do jornalismo literário. No Brasil todo este processo ocorreu de forma defasada em relação aos Estados Unidos e à Europa. O lead só ganhou força nos anos 50 e a reportagem em livro retomou o seu fôlego durante a década de 80. Ao fazer a pauta, apurar os fatos e escrever o livro-reportagem, o jornalista o faz de forma distinta da sistematização das redações. Ele se insere nos fatos narrados. Como o autor não busca necessariamente a objetividade, fica livre para retratar a realidade de uma forma menos „engessada‟ e mais literária. Para Pena (2006) os jornalistas sérios e comprometidos com a verdade, com o espaço reduzido, buscam formas de exporem o seu trabalho. E o jornalismo literário seria uma dessas formas. Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lead, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. No dia seguinte, o texto deve servir para algo mais do que simplesmente embrulhar o peixe na feira. (PENA, 2006, p. 13) O jornalismo literário proporciona a possibilidade de o jornalista fazer um mergulho mais aprofundado nos fatos, além de tornar a leitura mais agradável para os leitores, algo fundamental também no jornalismo esportivo. 3. METODOLOGIA O primeiro passo para a realização do livro foi a pesquisa bibliográfica. Os processos de pesquisa foram importantes para complementar a abordagem sobre o objeto principal através de um maior conhecimento do jornalismo esportivo e de sua linguagem, de elementos que marcam as grandes rivalidades do futebol, bem como sobre as formas pelas quais os torcedores se apropriam dessa paixão criada pelos 13 grandes clássicos, assim como o futebol se tornou um elemento de identificação cultural. Nesse sentido, os livros Jornalismo Esportivo, de Paulo Vinícius Coelho, Manual do Jornalismo Esportivo de Barbeiro e Rangel, os artigos Futebol: Manifestação Cultural e Ideologização, de Wilson Rinaldi, e O dérby campineiro: futebol, sociedade e imprensa de Campinas, de Vitório Zago foram bastante explorados. Outro livro bastante utilizado foi Os Donos do Espetáculo, de André Ribeiro, para compreendermos a evolução da mídia esportiva em consonância com o desenvolvimento do próprio futebol no Brasil, além da contextualização do mesmo. Os livros Jornalismo Literário de Felipe Pena, Livro-reportagem de Eduardo Belo e Páginas Ampliadas de Edvaldo Pereira Lima, serviram para a fundamentação do livro-reportagem, além de orientar a estrutura e o modo de produção do mesmo, uma vez que o nosso trabalho se enquadra dentro de tal formato. Em um segundo momento realizamos a pesquisa documental, que serviu para a verificação e recolhimento de dados e fatos importantes de toda a história do objeto trabalhado no livro. Assim, as pesquisas feitas em acervos antigos, como periódicos, jornais e revistas de época, puderam trazer o conhecimento de diferentes períodos, principalmente em relação ao que se refere aos momentos mais remotos do clássico. Também foram utilizados obras como Páginas Heróicas – Onde a imagem do Cruzeiro resplandece, de Jorge Santana e Atlético Mineiro: Raça e Amor, de Ricardo Gallupo. Outro método bastante utilizado foi o das entrevistas. Foram ouvidos exjogadores para que os mesmos pudessem dar as suas opiniões sobre o clássico mineiro, os momentos, jogos mais marcantes e suas relações com os clubes que defenderam. Essas entrevistas também tiveram o objetivo de preservar a memória desses jogadores, para que elas não se percam através do tempo e se tornem assim fontes para pesquisas futuras. Também foram entrevistados torcedores dos dois clubes. Eles foram questionados sobre qual foi o jogo mais marcante para eles. Dessa forma, pudemos constatar como um jogo pode fazer parte da vida dessas pessoas. A felicidade e orgulho com que elas narravam os gols, as jogadas, as locuções de um narrador ou a perplexidade de outros se tornaram um ponto chave no livro. Por fim, pudemos imaginar como seria a produção do livro, a linguagem utilizada, a sua estruturação, a quantidade de capítulos e a forma de expormos todos os dados que coletamos. 14 4. DESENVOLVIMENTO O trabalho teve início no primeiro semestre de 2011 na disciplina Pesquisa da Comunicação – COM 390. Na disciplina ministrada pela professora Mariana Brêtas teríamos que escolher um tema e criar um projeto que deveria ser desenvolvido no segundo semestre, em Projetos Experimentais em Jornalismo – COM 490. Como sempre gostamos do jornalismo esportivo, de futebol e principalmente dos nossos times do coração, Cruzeiro e Atlético, decidimos fazer um projeto que envolvesse os dois clubes. Assim, optamos por produzir um livro-reportagem sobre a rivalidade entre os dois rivais. Desta forma, no final do primeiro semestre procuramos o professor Joaquim Lannes para que pudesse nos orientar, uma vez que este possui uma larga experiência na área do jornalismo esportivo. 4.1. APURAÇÃO No início de agosto, juntamente com nosso orientador definimos os primeiros passos para a produção do livro. Decidimos que nossa pesquisa deveria começar com a leitura de obras que pudessem nos ajudar na realização do nosso trabalho. Nesse sentido a leitura dos livros Jornalismo Literário de Felipe Pena, Livro-reportagem de Eduardo Belo e Os Donos do Espetáculo de Andre Ribeiro foram de suma importância. Depois partimos para a pesquisa documental do livro. Como no início do livro falaríamos da chegada do futebol a Belo Horizonte, o artigo Belo Horizonte: O lazer e o esporte na cidade moderna, de Marilíta Rodrigues foi a principal fonte utilizada para tratarmos do assunto. Em seguida, pesquisamos sobre o surgimento dos clubes, o nascimento e a afirmação do clássico, bem como as histórias e números que os cercam. Algumas obras como Atlético Mineiro: raça e amor, de Eduardo Galuppo, Galo - Uma Paixão Centenária de Eduardo Murta e Páginas Heróicas - Onde a Imagem do Cruzeiro Resplandece de Jorge Santana, além da tese de mestrado de Euclides de Freitas, intitulada Belo Horizonte e o Futebol: Integração social e identidades coletivas (18971927) foram bastante utilizadas para cumprir tais objetivos. A internet também foi uma importante aliada no processo de apuração. Em um primeiro momento buscávamos as informações em blogs e sites especializados em futebol, dentre outros. Mas como estes não são fontes totalmente seguras partimos para 15 a pesquisa em acervos de periódicos disponíveis na internet. Assim chegamos a arquivos de jornais digitalizados como o Diário de Minas, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo, além de revistas como a Revista do Cruzeiro, Revista Alterosa e a Revista Placar. Esta última, aliás, foi uma de nossas principais fontes no que se refere a dados, fotos, notícias e entrevistas antigas. O nosso trabalho em relação aos números que envolvem o clássico foi feito justamente tendo como referência uma edição especial da revista intitulada Os Grandes Clássicos, publicada em 2005 e que adquirimos através de um site de compras pela internet. Outros sites importantes para a nossa apuração foram o globoesporte.com, superesportes.com, o site da Administração dos Estádios de Minas Gerais – ADEMG, o site da Federação Mineira de Futebol – FMF, da Prefeitura de Belo Horizonte – PBH, além dos sites dos próprios clubes. No final de setembro fomos até a cidade de Belo Horizonte para podermos recolher materiais. Fomos aos dois clubes, mas infelizmente nossos objetivos não foram plenamente alcançados nas visitas. Conseguimos através de uma pesquisa feita do acervo da Hemeroteca Histórica de Minas Gerais – localizada na Biblioteca Estadual Luiz de Bessa – alguns jornais com importantes registros históricos para a remontagem da história do clássico. Também tivemos acesso a alguns arquivos fornecidos pelo Atlético através do Centro Atleticano de Memória. Já o Cruzeiro, se limitou apenas a passar os números do clássico. Também não conseguimos falar com nenhum dirigente dos clubes. Foi nessa viagem a Belo Horizonte que conseguimos entrevistar três exjogadores dos dois clubes. Evaldo, que atuou pelo Cruzeiro, Marques, que jogou pelo Atlético, e Valdir Benedito que defendeu os dois clubes. Tais entrevistas tiveram grande importância para o nosso livro. Outra entrevista que realizamos foi com o ex-atacante atleticano Reinaldo. A entrevista foi feita por telefone no dia 3 do novembro. Nos anexos deste memorial serão trazidos as decupagens de todas as entrevistas com os exjogadores. Também foram feitas entrevistas com torcedores dos dois times, afinal, a torcida é parte fundamental do clássico. Ela é a alma de qualquer clássico, além de ser o maior bem de qualquer clube. 16 4.2. ESCRITA No início do mês de setembro, já de posse de alguns materiais, começamos a escrever o livro. Novamente Livro-reportagem, de Eduardo Belo, foi muito importante. Assim como o livro de Barbeiro e Gurgel, Manual do Jornalismo Esportivo. Este último foi fundamental para compreender a linguagem do jornalismo esportivo. Um texto atraente contém o máximo de informações relevantes distribuídas de maneira clara e criativa. Cada linha chama a leitura da próxima, cada parágrafo desperta o interesse pelo seguinte. A primeira informação é aquela que vai direcionar o texto e nela o jornalista opta pelo último acontecimento que interferiu diretamente no fato. (BARBEIRO e GURGEL, 2006, p. 52) Um de nossos maiores receios sempre foi o de pender mais para um dos dois times durante o processo da escrita, já que somos torcedores dos times retratados. Novamente, através do livro de Paulo Vinícius Coelho, pudemos compreender que podemos sim escrever sobre o nosso time e sobre o rival mantendo a isenção. Em uma passagem do livro, Coelho cita como exemplo dessa possibilidade justamente o clássico mineiro e um dos maiores jornalistas e escritores mineiros, o atleticano Roberto Drummond. (…) Em Minas é mais fácil ver cruzeirenses e atleticanos jurar amor eterno a seus clubes. O jornalista e escritor Roberto Drummond morreu escrevendo sobre o Atlético Mineiro, falando sobre sua mineiridade e sobre os tempos em que via o ponta Lucas aprontando para a fenomenal defesa do Cruzeiro. Mas, atleticano doente, nunca se eximiu de elogiar o Cruzeiro, especialmente aquele famoso dos anos 60, em que jogaram Tostão e Dirceu Lopes. Tanto assim que criou o nome para a torcida que os cruzeirenses se orgulham até hoje: China Azul. A torcida cruzeirense crescia tanto e tão rápido quanto a população da China. Só que azul (…) (COELHO, 2003, p. 57) Assim, em alguns momentos, sobretudo no segundo capítulo, utilizamos um pouco de ironia e sarcasmo, além de deixarmos a nossa paixão falar um pouco mais alto, porém buscando manter o máximo de isenção possível. Com todo material recolhido finalizamos a escrita do livro. Nesse ponto a ajuda do nosso orientador foi importante para podermos estruturar o livro. Resolvemos então dividir o livro em quatro capítulos. O primeiro e o segundo tratam dos primeiros anos de futebol em BH, bem como da fundação dos clubes, o início e a afirmação do 17 clássico, a afirmação dos mesmos no cenário nacional, além de clássicos marcantes. No terceiro capítulo, foi tratada a paixão que envolve a disputa. E no quarto os números mais gerais que envolvem o duelo Atlético x Cruzeiro. Com o material pronto entregamos para o professor Joaquim Lannes para que pudesse revisar. Após a sua revisão, as correções e apontamentos feitos por ele, fizemos a diagramação do livro. 4.3. DIAGRAMAÇÃO A diagramação inicialmente foi feita apenas por um dos autores do livro, Luiz Phillipe Souto. Após alguns problemas de saúde do primeiro, o outro integrante também ajudou no processo. Assim, os dois puderam participar desta etapa, escolhendo as fontes e o seu tamanho, alguns detalhes como a forma das tabelas, e disposição das imagens nas páginas, além da correção de pequenos detalhes. O livro foi composto com a fonte Constantia, em tamanho 10. Para os títulos e subtítulos, optamos pelo uso da Agency FB, em tamanho 14. Essa mesma fonte também foi usada para a folha de rosto, os cabeçalhos e para a numeração de páginas. A arte da capa do livro foi criada pelo nosso colega de turma Diogo Rodrigues. Depois de ter a capa pronta pudemos enfim terminar esse processo. Revisamos o texto mais duas vezes. A primeira revisão foi feita através da leitura propriamente dita, corrigindo pequenos problemas ainda restantes, como repetições de palavras, pequenos erros de concordância e grafia, entre outros. A segunda aconteceu por meio do corretor do Word 2007, sanando assim, eventuais erros de digitação, problemas com espaços, entre outros. Terminado esse processo, levamos o material a uma gráfica da cidade para que os livros pudessem ser impressos. Assim, mandamos imprimir três exemplares para os membros da banca, e após as considerações feitas por estes foram impressos mais dois livros para ficarem nos arquivos do curso e da universidade, além de alguns exemplares para nós, para alguns amigos e familiares. 5. DESCRIÇÃO 5.1. CONTEÚDO O livro-reportagem Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade é composto por quatro capítulos. Estes quatro capítulos foram divididos em quatro partes 18 simulando as passagens de uma partida. A primeira é intitulada 1º Tempo, contém os dois primeiros capítulos, O surgimento do Clássico e A afirmação da rivalidade, e traz em suas páginas as fundações dos clubes, as origens do clássico, as primeiras polêmicas, finais memoráveis, alguns dos grandes jogos disputados entre as equipes, dentre outros. À segunda parte demos o nome de 2° Tempo, contendo o terceiro capítulo que mostra o principal sentimento das torcidas pelos seus respectivos times, a Paixão, além disso, o capítulo retrata as provocações entra as torcidas e os grandes jogadores. A terceira parte recebeu o nome de Acréscimos, abrigando o quarto capítulo, intitulado Números do Clássico, e contêm as principais estatísticas que envolvem o confronto como o retrospecto, os maiores artilheiros, as maiores séries invictas e as maiores goleadas. E a última, chamada Apito final, traz as considerações finais, bem como a bibliografia e os créditos das imagens, ilustrações e entrevistados. Decidimos dividir o livro dessa forma por entendermos que ele possuía quatro partes distintas, uma mais histórica, primeiro e segundo capítulos, a segunda que retrata os sentimentos envolvidos no confronto, terceiro capítulo, a terceira parte, que é mais fria e contêm os números, e a quarta parte que finaliza o livro. Assim, a história do clássico, bem como as estórias e as emoções que o envolvem ficaram bem estruturadas nas páginas do nosso livro. 5.2. DESCRIÇÃO DO PRODUTO O livro-reportagem Atlético x Cruzeiro: A trajetória de uma rivalidade possui os seguintes dados técnicos: Número de páginas: 196. Formato: 15,8 cm x 21 cm. Páginas: papel sulfite. Capa: colorida, papel fotográfico 240 g. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma das principais características do livro-reportagem é a profundidade exigida, tanto em relação ao conteúdo quanto em relação à dedicação dos jornalistas no tema 19 abordado. O livro-reportagem proporciona um maior detalhamento dos fatos relatados, uma liberdade maior para seus autores, já que estes não precisam ficar presos ao lead ou a pirâmide invertida, além de uma linguagem diferente daquela utilizada pelos jornais diários. Por outro lado, tal formato demanda tempo e um mergulho profundo do jornalista durante a sua produção. Durante quatro meses nos dedicamos à realização deste trabalho. Foram várias as etapas. Pesquisa bibliográfica e documental, entrevistas, decupagens, a produção do livro e a revisão final. Mergulhamos nas estórias do clássico e de todo o universo que o envolve e os trouxemos para as páginas deste livro. A realização deste livro também foi importante em relação à oportunidade que tivemos de botar em prática o que aprendemos durante o curso. Desde as técnicas aprendidas na disciplina de Técnicas de Reportagem Entrevista e Pesquisa, passando pelas disciplinas de Redação em Jornalismo, até as de Editoração Gráfica e Planejamento Gráfico. Além disso, tivemos uma experiência diferente daquelas que sempre tivemos dentro da sala de aula. Pudemos fazer um trabalho sem a pressa das redações que marcam o jornalismo atual. Apesar de os dois clubes estarem sempre presentes nos jornais e do clássico entre eles ser um dos maiores do país, observou-se que falta material do clássico em si. Neste livro fizemos uma abordagem diferente daquela convencional da grande mídia, onde a história, os grandes jogos, momentos marcantes e inusitados são deixados de lado. Assim trouxemos relatos daqueles que ajudaram a escrever a história do clássico, além da paixão dos torcedores. Dessa forma, o livro vai além do tratamento superficial dado pelos veículos de imprensa e mantém viva a história do clássico e de alguns jogadores e torcedores, que fizeram e fazem parte dele. Esperamos que o livro e este memorial sirvam como fontes de pesquisas para futuros alunos do curso que tenham como objetivo a realização de um livro-reportagem como projeto de monografia. Nosso trabalho também é uma nova fonte para quem se interessa pelo clássico Atlético x Cruzeiro, para quem se interessa pelo futebol, por boas histórias, mas principalmente pelos torcedores dos dois clubes. O nosso próximo objetivo com este livro é levá-lo a alguma editora ou jornalista que possa nos ajudar a publicá-lo. Afinal, um livro que narra a trajetória de uma rivalidade que mexe com o sentimento de centenas de pessoas, que mobiliza por inteiro um dos maiores estados do Brasil e que já nos brindou com diversos ídolos e momentos inesquecíveis, não merece ficar restrito a poucas pessoas. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBEIRO, Heródoto e RANGEL, Patrícia. Manual do Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2006. BELO, Eduardo. Livro-reportagem. São Paulo: Contexto, 2006. (Coleção comunicação) COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003. COUTO, Euclides de Freitas. Belo Horizonte e o futebol: integração social e identidades coletivas (1897-1927). Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais / Gestão de Cidades. Pontifícia Universidade Católica – MG. GALUPPO, Ricardo. Atlético Mineiro: raça e amor. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. São Paulo: Manole, 2004. MURTA, Eduardo. Galo – uma paixão centenária. Belo Horizonte: Gutenberg, 2008. PENA, Felipe. Jornalismo Literário. São Paulo: Contexto, 2009. RIBEIRO, André. Os donos do espetáculo. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2007. RINALDI, Wilson. Futebol: manifestação cultural e ideologização. Revista da Educação Física / UEM: 2000, v. 11, n.1. Disponível em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/3804/2618>. Acesso em 15 nov. 2011. REIS, Caroline Viana. Fiel: Tem Urubu na Toca! RODRIGUES, Marilita. Belo Horizonte: o lazer e o esporte na cidade moderna. (Texto disponível no site da prefeitura de BH) SANTANA, Jorge. Páginas heróicas - Onde a imagem do Cruzeiro resplandece. São Paulo: DBA, 2003. ZAGO, Vitório Luis Oliveira. O dérbi campineiro: futebol, sociedade e imprensa de Campinas. Disponível em: <http://www.cmu.unicamp.br/seer/index.php/resgate/article/view/165/166>. Acesso em 18 nov. 2011. 21 22 ANEXOS Entrevistas 23 ENTREVISTAS Entrevista com Marques Batista de Abreu, ex-atacante do Clube Atlético Mineiro, e Valdir Benedito, ex-volante do Clube Atlético Mineiro e do Cruzeiro Esporte Clube. Entrevista realizada em Belo Horizonte no dia 27 de setembro de 2011. Luiz Phillipe Souto: Qual dos clássicos para vocês foi mais marcante? Marques Batista de Abreu: Um que é vivo na minha memória e na memória do torcedor é aquele de 99. A gente se classificou no Campeonato Brasileiro em sétimo lugar e o Cruzeiro em segundo. Aí houve o cruzamento. O Cruzeiro era um time muito mais forte que o nosso. E aí o espírito alvinegro cantou mais alto e nós atropelamos eles. Atropelamos um time melhor do Cruzeiro. Foi um 4 x 2 e depois um 3 x 2. Valdir Benedito: Em 99. O Cruzeiro jogava por dois empates. E nós tiramos eles em dois jogos. Aquilo lá parecia que a gente tinha ganhado uma Copa do Mundo. Depois do jogo só festa da torcida. L.P: Qual desses dois clássicos foi mais importante? M: Acho que os dois. Por que sacramentava uma classificação pra uma semifinal. Foram dois jogos que marcaram. O 4 x 2 por eu ter feito gol. E o outro eu participei bem também. Dei passe para gol. L.P: Qual gol dos que você marcou nos clássicos foi mais importante? M: No jogo de 99 eu fiz dois gols que foram importantes. Mas, no ano 2000, na final, no primeiro jogo, eu fiz um gol de cabeça. Meu menino tinha acabado de nascer. Ele nasceu na quinta-feira. O jogo foi no sábado. Eu consegui fazer o gol e a gente fez uma homenagem para o Rafael. Aquele famoso „nana-neném‟. Esse gol eu sempre lembro. Foi uma falta na nossa defesa. O Velloso saiu rápido com Guilherme, que estava ajudando a defesa. O Guilherme tocou no Lincoln. O Lincoln lançou o Ramón e o Ramón cruzou para mim, de cabeça. Foi uma jogada de contra-ataque. L.P: Qual o sabor da vitória em um clássico? M: É o jogo da rivalidade né. Esse jogo para a cidade de Belo Horizonte. Você jogar bem, conseguir sair vitorioso, fazendo gol, além de deixar a sua moral elevada e a confiança acima da média, a satisfação pessoal é inexplicável. Você sair do Mineirão vencendo o seu maior rival. Mineirão lotado. Quantas vezes jogamos no Mineirão lotado contra o Cruzeiro? Fica na memória. V: Se você ganhar o clássico no outro dia você tá bonito. Pode sair na rua. Bom demais! L.P: Para você, que jogou dos dois lados, o sabor é o mesmo? V: Claro que a gente é sempre profissional. Mas no Atlético é diferente. L.P: Como é a expectativa antes de um clássico? M: É um campeonato à parte. Na semana que antecede o jogo a rivalidade entre as torcidas é acirrada. Para nós que jogamos fomos atletas né? De repente você num posto ou vai numa padaria: “domingo é o clássico eim”. Tem sempre aquela cobrança. É um jogo realmente diferente. E movimenta toda a nossa Belo Horizonte e o estado. É um jogo que sempre marca. L.P: As farpas trocadas fora do campo influenciam para vocês M: Não. Pra quem joga, peso nenhum. O cara já ali dentro do vestiário se desliga e se concentra só no que vai acontecer dentro do campo. É muito mais pra movimentar os bastidores, a imprensa, torcida. V: Também acho que não. L.P: É possível comparar a rivalidade Atlético x Cruzeiro com as rivalidades de outros estados? M: Eu joguei em São Paulo e joguei no Rio. Tanto um como o outro estado têm a rivalidade. Tem quatro equipes grandes né? Tem a rivalidade, mas, diferente do que acontece aqui e acredito que no sul também, Inter e Grêmio. A rivalidade acho que é muito maior aqui. Os ânimos são muito mais acirrados. V: Eu joguei também em Porto Alegre. Grenal é „fóda‟! (risos) L.P: A pressão das arquibancadas quanto a bola rola no clássico influencia? M: A gente queria ir pro estádio e ver o estádio cheio mesmo. Quanto mais cheio melhor. V: A partir do momento que começou o jogo parece que bate um negócio na gente que você desliga desse negócio de torcida. M: O que a gente era de, às vezes, chegar no Mineirão e você ver as ruas todas paradas. Olhava para fora e a torcida toda lá dominando as ruas. A gente comentava dentro do ônibus: hoje é 60 mil. Hoje vai ser fóda. Vamos atropelar esses caras! A motivação ela chegava ali nas ruas do Mineirão. L.P: Defina o que é para vocês o clássico Atlético x Cruzeiro. M: É um jogo diferente de qualquer outro que a gente tenha jogado. Campeonatos regionais ou campeonato nacional. A adrenalina é outra. A ansiedade para jogar é outra. Até a bola rolar é diferente de outro jogo qualquer, em que você está relaxado. O clássico é um jogo de estado de alerta durante a semana e durante os 90 minutos V: Clássico é do céu pro inferno e do inferno pro céu! L.P: Teve algum clássico que marcou alguma grande revira-volta pra vocês? V: Em 93 nós estávamos há dez jogos sem ganhar. Nós pegamos o Cruzeiro e ganhamos. Não perdemos mais nenhuma depois no Brasileirão. Nós quase classificamos. Faltou um ponto. M: Teve um jogo. Eu já tinha jogado alguns clássicos e não tinha marcado ainda. E aquilo me incomodava e a própria imprensa já tava me pressionando em relação a isso. E aí eu consegui fazer o gol e a gente tinha um tempo também que não ganhava do Cruzeiro em 99. Pra mim o clássico da revira-volta foi esse, o do meu primeiro gol. L.P: Que lembrança você tem daquele 2 x 2 que você marcou o gol do empate no finalzinho e que vocês eram favoritíssimos? M: Esse foi um ano que gente tinha um time melhor que o do Cruzeiro. O Cruzeiro saiu com 2 x 0, dois gols do Alex. Passou os 40, tava 2 x 0 ainda. O Ramón bateu a falta fez 2 x 1. E aí eu fiz o gol já perto dos 45. E no finalzinho a gente ainda teve uma chance. O Alexandre quase fez o gol. Isso aí é a história do clássico. Não dá para você fazer uma previsão antes. Muitas vezes já aconteceu do nosso lado e do lado deles também que o time não tão bem para enfrentar o clássico. Ele consegue a revira-volta e consegue uma seqüência importante, o que aconteceu com a gente em 99. Entrevista com José Reinaldo de Lima, ex-atacante do Clube Atlético Mineiro. Entrevista realizada por telefone no dia 3 de novembro de 2011. Erik Ullysses: Qual foi o gol em clássicos que mais te marcou mais? Reinaldo: Tem sim. Tem o da final de 76. Eu tabelei com Paulo Isidoro no meio de campo. Saí e o Raúl veio e eu toquei por cima dele. E.U: E qual foi o clássico que mais te marcou? R: Foi esse. Pelo gol marcado. E.U: Para você o quê é o clássico Atlético x Cruzeiro? R: Eu acho que é quando Minas se divide ao meio. É uma das maiores aqui de Minas. E é emocionante pela presença do público, pela rivalidade, por tudo né? É um clássico! A tradição! E.U: Qual é a sensação de vencer um clássico? R: É muito agradável. Sem dúvida! O sabor da vitória é muito bom, uai. Ainda mais quando o seu arqui-rival é da mesma cidade, do mesmo estado. É muito intenso mesmo! É muito bom quando você vence e te dá um impulso muito grande, uma força muito grande. E você vê a sua superioridade. Você avalia a sua superioridade. E.U: Você acha que as farpas trocadas entre os dirigentes na imprensa às vésperas de um clássico influenciam os jogadores dentro de campo? R: Ah não, jogador vai pra concentração justamente para isso. Pra ficar ausente de todo esse anti-clássico, essa discussão, essas polêmicas. Jogador ele só está mesmo focado na bola, no jogo. E.U: Do final da década de 70 e durante os anos 80 o Atlético praticamente dominou o futebol mineiro. Você acha que hoje é possível um time um dos dois times ter um domínio parecido? R: Eu acho que sim. O Atlético é uma das maiores forças do futebol daqui de Minas Gerais, tem condição de formar uma grande equipe. E vai estar sempre disputando. O atlético é grande! Da mesma forma o Cruzeiro também tem condição, o América que está aparecendo. Precisa abrir mais o futebol de Minas para outros clubes também surgirem. Entrevista com Evaldo Cruz, ex-jogador do Cruzeiro Esporte Clube. Entrevista realizada em Belo Horizonte no dia 21 de setembro de 2011. Luiz Phillipe: Quando você chegou ao Cruzeiro? Como foi? Evaldo: Eu comecei a minha carreira no Fluminense em 61 e fiquei lá até 66. Fui juvenil, aspirante e profissional. Eu tinha problemas no Fluminense porque eu machucava demais, eu joguei com o Procópio lá em 64 e fomos campeões e o Procópio me indicou para o Felício, para o Cruzeiro. E eu não conhecia Belo Horizonte, eu não conhecia nada, mas eu vi o time jogar um amistoso com o Fluminense lá no campo do Fluminense, e o Tostão não foi, mas o Dirceu arrebentou com o Fluminense! Jogou muito! Eu não pude jogar por que eu estava machucado. Meu contrato estava terminando, aí o dirigente falou: é pegar ou largar. Aí eu larguei. Aí o Procópio me indicou pra cá e eu vim pra cá, pra ganhar menos! Cheguei no Cruzeiro em março de 66 sem conhecer nada, a estrutura do Cruzeiro era fraca em vista do Fluminense, porque times do Rio e São Paulo eram superiores mesmo aos outros, principalmente de Minas Gerais. Mas o time do Cruzeiro era muito bom, o que segurou de fato o futebol mineiro era o Cruzeiro que tinha um time muito bom. Quando eu cheguei o Mineirão tinha sido inaugurado há menos de um ano, e era uma febre danada, o pessoal tudo doido e o que eu notei aqui: o campo que a gente treinava era ruim, o material que a gente usava era ruim, a torcida do Cruzeiro era pouca, a maioria era do Atlético, mas o time era muito bom. Então eu notei que foi crescendo a torcida pelas vitórias, pelos títulos e pela cabeça do presidente Felício Brandi, que não pode deixar de ser citado, que contratou uma relações públicas, chamada Ignêz Elena, outra que tem que ser lembrada sempre. A gente fez um trabalho aqui de visitar presídio, escolas, hospitais... A Ignêz pedia, quase que obrigava agente, e o Felício acreditou e comprou muito material, material de escola bola, régua, lápis, caderno e a gente ia nos colégios entregar. Então juntou uma coisa com a outra: o Cruzeiro começou a ser conhecido, no campo ganhando e os meninos torcedores aparecendo. Para você ter uma idéia a torcida do Atlético tomava conta do Mineirão quase todo, o Cruzeiro era um cantinho, mas foi crescendo, foi ganhando, menino gosta é disso aí, de torcer para time ganhador. Então o Cruzeiro ganhava tudo, então o time foi crescendo e é essa torcida que é hoje. O Cruzeiro tinha um time que ficou quase oito anos juntos, então, além de ser um time bom era um time de companheiros. Um gostava do outro, sentia falta quando o outro não aparecia, quando tinha algum problema olhava para a cara do sujeito e falava assim: 'Você está com algum problema?' 'Não, não tenho não!' 'Mas você não é assim?' O time dentro e fora de campo era um time unido. Erik Ullysses: Como eram os clássicos contra o Atlético? E: O Cruzeiro fez grandes clássicos contra o Atlético, independente do Cruzeiro ser um time melhor na época, mas os jogos eram sempre duros por causa da camisa, rivalidade. Jogo de Atlético e Cruzeiro durava pelo menos 15 dias antes e 15 dias depois, o comentário era geral. O time era bom, e fazia a festa, de 66 quando cheguei aqui até 70, o Cruzeiro ganhou praticamente tudo aqui. Não tinha campeonato nacional, era só campeonato regional. O campeonato durava! Era só de domingo a domingo, era um horror. Hoje se joga quase todo dia. Mas o time era muito bom, a gente achava uma festa. A supremacia era nossa porque o time era bom, mas contra o Atlético o jogo era duro. Dificilmente tivemos um 4 x 0, um 3 a 0, mas a maioria era jogo de 1 x 1, 0 x 0, 1 x 0 e o time do Atlético tinha uma capacidade, uma torcida muito maior do que a nossa e o jogo era sempre duro. Agora, em 71, aí o Cruzeiro já estava caindo. O Tostão tinha machucado um dos olhos, foi vendido para o Vasco, os jogadores começaram a ter uma vida paralela. Piazza, Tostão, o próprio Dirceu Lopes começaram a ter um 'negociozinho' próprio. Então os treinos começaram a dar uma relaxada e o Atlético subiu, contratou o Telê que foi campeão em 71 e o time de fato era muito bom. O time encaixou, e quando o time encaixa vai embora. Então o nosso já estava querendo desintegrar e só não desintegrou porque o Felício não vendia ninguém, o Felício só segurava. Mas as cabeças já não eram as mesmas e o time já não estava unido como era no início. L.P: Qual foi o gol mais marcante que você fez em clássicos e por quê? E: Eu peguei esse apelido de jogador de terceiro tempo por que antigamente não tinha desconto. Eram 45 minutos mesmo, o time pode fazer cera que for. Um cara cai, aí entra massagista, e descontava nada. Deu 45 minutos era 'pi, pi, pi, pi'. Hoje não, o cara cai, aí desconta três minutos, cinco minutos. Eu fiz uns dois gols contra o Atlético depois do tempo. Mas por causa disso, a gente não para de correr. Um nós empatamos em 1x1 e o outro acho que nós ganhamos de 1x0, mas não tenho certeza, minha cabeça não guarda não. 1x1 eu me lembro, foi até quando voltamos da Taça Brasil. Depois da Taça Brasil a gente iria jogar o último jogo contra o Atlético, mas a gente já era campeão aqui também. Só que tem essa rivalidade né? Se o Atlético ganha da gente falam sempre são campeões do Brasil, campeões em cima dos campeões do Brasil. Só que a gente tava perdendo de 1x0 e no finalzinho eu fiz o gol e empatei. L.P: E qual o jogo mais marcante? E: O melhor jogo foi um 3 x 3 em 67. Que foi decidido em 68 por que tinha férias de jogadores. Esse foi o jogo mais marcante de todos os Atlético x Cruzeiro. Nós perdíamos de 3 x 0, o Tostão saiu machucado e o Procópio foi expulso. Agora você pensa bem: Você perdendo um clássico por 3 x 0, o melhor jogador nosso machucado e o Procópio expulso. Jogar com dez fica complicado. Hoje você vê que o time tá com dez e o jogador fica: “Nó, nós perdemos jogando com dez”. Não tinha esse negócio, você tinha que ir para cima. Você vai tomar 18, mas nós não estamos nem aí, nós íamos para cima. E nós fomos para cima e fizemos um e fizemos dois. Tem torcedor que até hoje fala: “Pô vocês me sacanearam, 3 x 0 eu fui embora”. Nós empatamos 3x3 e nós tivemos uma jogada com uma bola na trave, acho que foi o Piazza quem bateu e quase que a gente ganha o jogo. O primeiro tempo terminou 2x0, eu acho que o Atlético fez o terceiro no início do segundo, mas a minha cabeça não guarda. Eu sei que eles estavam ganhando de 3 x 0 e em seguida o Natal fez um e depois fez outro e o Piazza fez um gol de Pênalti. E.U: Como foi a campanha do título da Taça Brasil de 1966? E: O Cruzeiro tinha um time bom, mas eu sempre falo: o Cruzeiro era um time de Belo Horizonte, um time de Minas Gerais, o Cruzeiro não era um time do Brasil. Pouca gente conhecia. Falava-se no Tostão. O Tostão inclusive foi para a Seleção, mas o Cruzeiro e o futebol mineiro não eram falados. Tanto é que, antes do Mineirão o futebol mineiro contratava os jogadores veteranos dos times de Rio e São Paulo para virem para cá. Com o advento do Mineirão a coisa mudou. Felício manteve jogadores novos. Tostão com 19, Dirceu com 19, Natal, e contratou outros jogadores novos também. Para o Cruzeiro vieram eu, o Raúl, Cláudio. O Atlético também contratou jogadores novos. Então o futebol cresceu com o Mineirão. O Mineirão deu uma ajuda tremenda. Nós começamos contra o Americano de Campos, depois contra o Fluminense e foram jogos relativamente tranqüilos. Os jogos mais duros que nós passamos nas fases aí foram contra o Grêmio, nem foram contra o Santos, foram contra o Grêmio. O Grêmio tinha um time forte e eles já treinavam muito, muita física. A física nossa era de acordo com o resultado. Se ganhasse era tudo mole, se perdesse aí fazia uma física. Não era algo planejado. Os times do sul já tinham um planejamento, por ser encostado ali na Argentina, no Uruguai eles já tinham outra mentalidade. Então ganhar deles, cada homem grande e bom de bola, era difícil. Nós empatamos lá em 0 x 0 e aqui ganhamos de 2 x 1, mas numa dureza danada. Essa foi a fase mais difícil. E contra o Santos era aquele caso. Você vai jogar contra o Santos, o Santos é o melhor time do mundo, tem Pelé do outro lado. Inclusive o Cruzeiro ganhou mais moral porque derrotou o Santos de Pelé. Nós fomos jogar com o Santos que era jogo decisivo, não tinha esse negócio de vantagem, fizemos 6 x 2 aqui, podíamos ter a vantagem, 'esse' trem de ganhar de quatro gols, não tinha nada disso. Eles ganhando lá teria uma terceira partida. Só que nós ganhamos aqui. Campo lotado, até chegar no estádio carro para danar. Parecia que o povo estavam todos doidos. E a gente: “Nossa senhora, parece que o jogo vai ser bom mesmo” a gente no ônibus dizia: “nossa o jogo vai ser duro mesmo, olha só o tanto de gente”. Aí fomos para o campo. A idéia nossa era, “vamos jogar né”? Ganhar? Acho que ninguém pensava nisso, se ia ganhar. A gente queria era jogar. Ia jogar contra o melhor time do Brasil ou do mundo. Só que encaixou tudo. No primeiro tempo a gente tava ganhando de 5x0. Você olha para o outra assim e fala: “Meu Deus, 5xo no Santos?”. Mas o nosso time era bom. O outro era melhor, o outro era cheio de jogador de seleção. Mas o outro era um jogo mais cadenciado e nós éramos um jogo mais rápido. Menino correndo para lá e para cá e dois grandes jogadores né? Tostão e Dirceu, e um pulmão do Piazza que jogava sozinho no meio, marcava, não dava pancada em ninguém. Marcou Pelé. Mas não era esse negócio de ficar atrás de Pelé não! Pelé pegava a bola e ele ia e tirava a bola do Pelé. Não era esse negócio de marcação individual, não tinha nada disso. O Piazza era um cavalo para marcar mesmo, tinha uma saúde! Esse foi o maior símbolo nosso de jogador, de dedicação. Mas voltou o segundo tempo com 5 x 0, aí com 14 minutos o Santos já tinha feito 2 gols. Então, “Nossa Senhora, daqui a pouco eles vão empatar”. 5x2 com 14 minutos! Mas em seguida fizemos o sexto. Aí deu um banho de água fria no Santos, e o Santos deu aquela maneirada e ficou nisso. Aí nós fomos para o segundo jogo. O segundo jogo nós jogamos no Pacaembu. Chovia. Mas a gente sabia que podíamos perder por que teríamos outro jogo. Mas ninguém pensava nisso. Pensava em jogar bola. E tomamos 2 x 0, mas era para termos tomado uns 4 ou 5. Raúl pegou pra danar. Toninho entrava sozinho e 'bum', pegava na trave. Levamos uma sorte danada no primeiro tempo. Alguns falam que nós jogamos melhor, por que no segundo tempo o campo tava menos molhado, menos alagado. Não sei se foi isso, só sei que o time se acertou, se não, o nervoso foi embora. Deve ter sido isso. E nós fomos para cima e conseguimos virar. O empate já bastava, fizemos 2 x 2 com Natal e com Dirceu, com o Tostão perdendo um pênalti quando estava 2 x 0. Depois fez um gol de falta sem ângulo. Ganhamos com competência. Mas eu sempre falo: Nosso time não era melhor, o melhor era o Santos. Mas nessas duas partidas nosso time estava iluminado. L.P: Teve soberba pelo lado do Santos? E: O time do Santos era um time de craque, mas era um time mais cadenciado, um time tranqüilo, de muita categoria. Mas o nosso time além de ter bons jogadores era um time rápido. A maioria era tudo novinho, queria tudo correr. E o pessoal mais velho não gosta de menino que corre muito. Sendo bom e correndo então. Então nosso time ganhou com competência, não teve soberba do outro lado. Do nosso lado não teve 'mascaradagem'. É que a gente gostava de jogar, esse que era o problema. A gente gostava do futebol. Para a época, Tostão ganhava um pouquinho mais que a gente, mas ninguém estava preocupado com isso. Preocupado em saber se fosse campeão quanto que iria ganhar. A gente entrava em campo, e vamos jogar. O time de lá que se segure. Sabíamos que o time era bom. Pode perder, mas vamos para cima. Ás vezes você não conseguia fazer gol, mas você criava doze chances de gols. Era bola na trave, goleiro pegando. Hoje você vê em determinados jogos e o cara faz uma defesa. E o futebol é bom por causa disso, tem que ter armação, jogada bonita, mas tem que ter gol né? Se não tiver gol não tem graça. Diferente de basquete, de vôlei que você vibra toda hora. Faltando dez segundos ás vezes você perde o jogo no basquete. No vôlei você está ganhando de 24 e não fecha, 24 a 19 e o outro vai lá e ganha. No futebol não, geralmente o melhor ganha. Só se der uma zebra danada. Se o melhor tiver centrado, tiver querendo mesmo ganha. L.P: Quando e onde você encerrou a sua carreira? E: Quebrei a perna em um jogo contra o Santos, com o goleiro Serras, não por maldade dele, por uma fatalidade. Praticamente ali a minha carreira deu uma caída, por que a medicina não era tão avançada quanto hoje. Eu fiquei um ano e três meses para voltar a jogar e as pessoas não acreditam né? Os companheiros, os próprios médicos. Então você caía e as pessoas perguntavam: 'machucou, machucou?' 'Não, não tem nada não!' Eles ficavam com aquilo na cabeça. Eu sentia que eu não tinha mais nada, mas os companheiros ficavam sempre preocupados. Mas eu joguei pra valer mesmo até 1971, depois eu voltei a jogar, mas não era a mesma coisa. Eu encerrei a minha carreira em 77 lá na Venezuela jogando pelo Deportivo Itália. Entrevista feita com Alexandre Rodrigues, torcedor do Cruzeiro Esporte Clube. Entrevista feita por e-mail. Resposta enviada no dia 15 de novembro de 2011. Erik Ullysses: Como surgiu a idéia de fazer um velório no rebaixamento do Atlético? Qual foi a sensação de ver o Atlético caindo para a série B? Alexandre Rodrigues: O velório do Atlético já vinha sendo planejado há algum tempo, então como já sabíamos que ia cair naquele jogo contra o Vasco, fomos lá na funerária e alugamos um caixão e mandamos adesivar com o símbolo deles escrito CAIU, e a palavra GAYLOUCURA, provocando os nossos rivais, lembro que a repercussão foi a melhor, pois foi uma brincadeira sadia, sem violência e depois do rebaixamento vimos atleticanos aqui na cidade mesmo só no dia que eles subiram, pois durante toda a segundona deles não achava ninguém se quer com camisa. E ainda depois vem falar que a torcida do cruzeiro que é simpatizantes né? E.U: Qual é o seu clássico inesquecível? Por quê? A.R: Olha tenho vários clássicos inesquecíveis, pois para mim ir em um Cruzeiro x Atlético é igual religião, nunca pode faltar mesmo dependendo da situação. Mas tenho três que são inesquecíveis: 1°: Cruzeiro 2 x 0 Atlético, isso em 2007, na final do mineiro, aonde no primeiro jogo da final perdemos de 4 x 0 vergonhoso para nosso rival. E no 2º jogo do final claro que só ia dar a torcida deles, mas aí que vem a historia! Lembro que fiquei a semana inteira chamando o povo para ir pro jogo, mas todos riam da minha cara falando que sou doido, que não queria ver outra goleada, etc. Mas aí peguei o carro e arrumei mais dois amigos para ir, então fomos com aquele clima tenso que estava em volta do estádio, pois eram 40 mil deles contra dois mil nossos. Entramos no estádio e vi realmente quem é torcedor de verdade e quem é de mentira, pois todos que estavam ali são os que não abandonam o clube em nenhum momento. Mas o que mais me chamou atenção nesse clássico foi que antes de entrar para o estádio a Máfia Azul chamou todos os torcedores e todos deram as mãos e rezaram um Pai Nosso, entramos todos para o jogo loucos, pois os dois mil que estavam lá cantou para os outros torcedores que não foram. E a torcida deles ficou sem entender o porquê da nossa torcida cantando sem parar e a deles não. Lembro que um amigo meu atleticano que estava do lado de lá me ligou no intervalo falando que estava me vendo e perguntou o que nossa torcida usou para ficar tão agitada assim. Pena que não ganhamos o título, mas saímos do Mineirão aplaudidos pelos nossos jogadores e com o dever cumprido de apoiar o time mesmo nessa situação difícil. 2º e 3°: Cruzeiro 5 x 0 Atlético de 2008 e 2009- Não tem como esquecer o 'créuuu'!! E.U: Como foi que você fez para encontra com o Montillo? Como foi a repercussão desse encontro? A.R: Cara foi de última hora, fui para o jogo do Cruzeiro em 'Assuncion' no Paraguai, aí como vi que o Santino, filho do Montillo, estava internado e ele largou tudo para viajar e jogar cheguei antes no Paraguai e fiquei sabendo do horário de desembarque do time. Fui com mais três amigos meus que já estava lá. Aí escrevi em um papel "Fuerça Santino!! Estamos com você Montillo!” Na hora em que vi ele, já corri nele e ele ficou muito surpreso, aonde varias pessoas da imprensa brasileira me perguntaram o que era, e fizeram varias matérias sobre isso. Nunca esperava que fosse repercutir assim, tanto que logo após o jogo ganhei a camisa do Montillo que guardo com muito carinho aqui. E.U: Você já presenciou algo inusitado durante algum clássico? A.R: Inusitado tem vários, não só clássicos mas outros jogos. Quem não se lembra das comemorações do Alex Alves e do Kleber imitando uma galinha? Quem não se lembra do Danilinho saindo chorando do estádio por causa de provocação, entre outros, como o Marques, Kalil? Quem não se lembra do bigode do Edu Dracena de provocação ao Ziza e da torcida deles passando vergonha levantando bandeirão de cabeça pra baixa? Ou até mesmo a faixa q eles escreveram que preferem HOMEM NA SEGUNDA? Vários clássicos marcantes, que se Deus quiser quero assistir muitos ainda! Enquete realizada com os torcedores. Pergunta: Qual o seu clássico inesquecível? Torcida do Atlético: Laiana Cardoso de Oliveira, 20 anos, estudante de jornalismo: O clássico que eu considero inesquecível foi o primeiro jogo da final do Campeonato Mineiro de 2007, em que o Atlético venceu o Cruzeiro por 4x0, com gols de Éder Luiz, Marcinho e dois de Danilinho. Esse clássico foi especial, pois tinha aquele gostinho de final que faz o coração bater mais forte. Além disso, o Atlético mostrou uma superioridade incomum em clássicos. Todos os clássicos deveriam ser como aquele. Francisco Ferreira, 24 anos, promotor de vendas: Foi em 99. Acho que foi nas quartas de final (do Brasileiro) Atlético e Cruzeiro. O Atlético ganhou de 2x1. Pra mim um jogo marcante foi aquele em 99! Tava muita adrenalina no dia do jogo, aquela doidera toda. Por isso marcou. André Araújo, 30 anos, arquiteto e urbanista: Para mim um clássico inesquecível entre Atlético e Cruzeiro foi em 2007, 4x0 Atlético. Por causa do chapéu do Danilinho e do Fábio de costas no último gol. Agostinho Saraiva, 49 anos, vendedor: 99, Atlético e Cruzeiro, 3x2. Gol do Guilherme de peito. Outro gol que eu me lembro foi o do Danilinho com o Fábio de costas. Júlio Campos, 25 anos, estudante: Para mim o clássico marcante foi o clássico que o Galo ganhou de 4x0 do Cruzeiro, que o Fábio tomou aquele gol de costas do meio do campo. E foi bom demais! O narrador da Itatiaia enquanto narrava o terceiro gol se surpreendeu com o quarto gol em menos de dez segundos. E a torcida foi à loucura. Esse para mim foi o mais emocionante! Jonatas Teixeira, 23 anos, estudante: Foi o do Brasileiro do ano passado. 4 x 3 com três gols do Obina. Esse foi marcante mesmo né? Jogo pegado. Gol pra lá e gol pra cá e o Obina faz três gols ainda! Que isso? Muito massa! Queria estar no Mineirão, mas vendo em casa... Casa não. No boteco muito melhor. Priscila Almeida, 25 anos, estudante de jornalismo: O primeiro jogo da final do mineiro de 2007 foi inesquecível pra mim. Ganhar do Cruzeiro é sempre bom, agora ganhar de 4 a 0 com aquele passeio no campo, com direito ao famoso gol “Fábio de costas” é indescritível. Um tempero a mais que contribui para eu lembrar desse jogo com tanto com carinho é o fato de eu ter assistido com família e amigos em um tradicional bar atleticano de Viçosa, Minas Gerais, o Bar do Leão. Os poucos cruzeirenses que tinham saíram humilhados antes do jogo acabar. Exceto minha tia, que estava muito bêbada e tentava cantar o hino do cruzeiro a todo custo, mas as vaias sempre a atrapalhavam. Parecia que um pedacinho do Mineirão estava ali naquele lugar. Nós somos do Clube Atlético Mineiro... Era entoado a todo momento, emoção a flor da pele. Porque acho que é isso que faz o Galo ser tão especial, a torcida, que sabe aproveitar cada momento de alegria que o time nos dá, e continua firme mesmo quando os tempos não são tão felizes assim. Torcida do Cruzeiro Valter José de Oliveira, 60 anos, aposentado: Tem o de 77. Eu estava policiando. Eu estava lá no Mineirão trabalhando no jogo Cruzeiro e Atlético, trabalhando na torcida do Atlético. Tinha que torcer só com o coração, escutando zoeira lá de que quando terminasse o jogo o time do Atlético, os meninos do Atlético iriam para o Tiro de Guerra, e os do Cruzeiro iriam para o asilo. O Reinaldo fez o gol no primeiro tempo e no segundo o Revétria empata o jogo e vai para a prorrogação. Eu trabalhando na torcida do Atlético escutando eles falando: “É, nós temos que torcer para o Atlético ganhar na prorrogação, por que se for para os pênaltis o Raúl cata tudo”. E na prorrogação eles tomaram 2x0. Um gol do Lívio e o segundo gol da prorrogação do Joãozinho. Foi um clássico, em síntese, de muita emoção. Para começar trabalhando no Mineirão, fardado, na torcida adversária e escutando a gritaria deles, as palhaçadas, “nós vamos ser campeão”. Aí o Cruzeiro sapeca neles um coro e a gente saiu tranquilo, saiu feliz. Rindo à toa, como diria Carlos César Pinguim. Matheus Loureiro, 28 anos, biólogo técnico da UFV: O jogo que mais me marcou de Cruzeiro e Atlético foi a decisão do Campeonato Mineiro de 2009, Cruzeiro 5x0 em cima do Atlético. Eu estava no Mineirão, realmente é o jogo mais marcante! Show do Kleber Gladiador, que inclusive imitou galinha no final do jogo. É realmente a cena mais marcante que eu tenho de qualquer jogo do Cruzeiro! Diogo Martins, 19 anos, estudante: Foi o jogo aquele que eles meteram gol lá, 5x0. Eles haviam ganhado no ano anterior, se não me engano, e depois o Cruzeiro foi e fez 5x0. Nossa Senhora, eu zoei muito. Tinha um vizinho meu lá que eu gritei no ouvido dele o dia inteiro. Larissa Arruda, 23 anos, estudante: Quanto que ficou aquele jogo? Aquele do Foquinha, do Kérlon? 4x3. Deve ter uns três anos. Eu vi no Bar do Leão. O Leão estava muito cheio, tinha muito atleticano e a gente fez a festa lá no final do jogo, não queria nem saber. Foi o clássico que mais me marcou com certeza. Garantido! Matheus Souza, 20 anos, estudante de engenharia civil: Eu não me lembro do jogo direito assim não, mas foi 5x0. É bom ver os atleticanos sofrendo também! Eles estavam contando vitória antes. E é isso mesmo, rivalidade é para isso mesmo, você ganhar e tirar onda com os outros. Dimitre Lopes de Lima, 19 anos, estudante de economia: 5x0. O primeiro 5x0. Gol do Ramires e do Marcelo Moreno depois. O segundo foi dois gols do Jonathan. Foi esse. No ano anterior o galo tinha ganhado de 4x0, com gol do Fábio de costas e depois veio esse 5x0. Acho que foi o melhor clássico. Alexandre Rodrigues, 26 anos, gerente de loja: Cruzeiro 2 x 0 Atlético, isso em 2007, na final do mineiro, aonde no primeiro jogo da final perdemos de 4 x 0 vergonhoso para nosso rival. E no 2º jogo do final claro que só ia dar a torcida deles, mas aí que vem a historia! Lembro que fiquei a semana inteira chamando o povo para ir pro jogo, mas todos riam da minha cara falando que sou doido, que não queria ver outra goleada, etc. Mas aí peguei o carro e arrumei mais dois amigos para ir, então fomos com aquele clima tenso que estava em volta do estádio, pois eram 40 mil deles contra dois mil nossos. Entramos no estádio e vi realmente quem é torcedor de verdade e quem é de mentira, pois todos que estavam ali são os que não abandonam o clube em nenhum momento. Mas o que mais me chamou atenção nesse clássico foi que antes de entrar para o estádio a Máfia Azul chamou todos os torcedores e todos deram as mãos e rezaram um Pai Nosso, entramos todos para o jogo loucos, pois os dois mil que estavam lá cantou para os outros torcedores que não foram. E a torcida deles ficou sem entender o porquê da nossa torcida cantando sem parar e a deles não. Lembro que um amigo meu atleticano que estava do lado de lá me ligou no intervalo falando que estava me vendo e perguntou o que nossa torcida usou para ficar tão agitada assim. Pena que não ganhamos o título, mas saímos do Mineirão aplaudidos pelos nossos jogadores e com o dever cumprido de apoiar o time mesmo nessa situação difícil.