RECICLAGEM QUÍMICA DE PET PÓS-CONSUMO AUXILIADA POR MICROONDAS. Luiz A. Jermolovicius1*, José T. Senise2, Cinthia T. Muranaka3 Instituto Mauá de Tecnologia – Pç. Mauá,1, 09580-900 São Caetano do Sul/SP 1 [email protected]; 2 [email protected]; 3 [email protected] Microwaves assisted chemical recycling of poly(ethylene terephthalate). Poly(ethylene terephthalate) was submitted to an acid catalytic hydrolysis enhanced by microwaves. After five minutes of irradiation by microwaves at 300 W plus nine at 800 W, the degree of depolymerization obtained was of same order as values obtained after several hours of acid hydrolysis with conventional heating. Introdução Uma alternativa para a reciclagem do PET pós-consumo é a sua despolimerização, realizada por meio de hidrólise ácida ou alcalina do PET, regenerando suas matérias primas ácido tereftálico e etileno glicol, as quais podem ser utilizadas na fabricação de novo lote de resina PET. O estado da técnica da hidrólise apresenta como agente mais potente o hidróxido de sódio (solução a 7,5 M), que consegue 98 % de despolimerização de PET em flocos, a 100 ºC e 1 bar, em 8 horas de reação [1]. O segundo agente hidrolítico em eficiência é o ácido sulfúrico (solução a 7,5 M), que proporciona uma despolimerização de 80 % de PET em flocos, a 100 ºC e 1 bar, em 160 horas de reação [1]. A reciclagem por hidrólise traz algumas vantagens como: 1) o fato de, efetivamente, eliminar-se o PET pós-consumo da biosfera [2] e não apenas mudar-lhe a forma física (de garrafas para vassouras, fios, etc); 2) a diminuição do consumo de produtos petroquímicos necessários à produção de ácido tereftálico (p-xileno) e etileno glicol (etileno); e 3) o ácido tereftálico de hidrólise não se apresenta contaminado [3] com 4-carboxibenzaldeído e monocarboxilácidos, que são co-produtos da fabricação do ácido tereftálico a partir da oxidação do p-xileno e que devem ser eliminados. Na hidrólise alcalina obtém-se, a rigor, o tereftalato de sódio que é tratado por ácido sulfúrico produzindo o ácido tereftálico. Nessa acidulação produz-se um mol de sal, especificamente sulfato de sódio, para cada mol de ácido tereftálico. Em termos de massa, para cada tonelada de ácido tereftálico produzse 0,86 toneladas de sulfato de sódio anidro, o que é um novo problema ambiental. Esse fato desaconselha o emprego da hidrólise alcalina para a despolimerização do PET pós-consumo. Na hidrólise ácida, o ácido sulfúrico atua como catalisador da hidrólise e ao final do processo resta, praticamente, intacto. Evita-se um novo problema ambiental pelo descarte do ácido sulfúrico empregado na hidrólise, recuperando-o. A tecnologia de recuperação [4], ou fortificação, de ácido sulfúrico já é conhecida de longa data pelas indústrias químicas, em especial as de nitração. Na literatura especializada há artigos [5] que descrevem a contento o mecanismo e a cinética para hidrólise em presença de ácido sulfúrico (máximo de despolimerização de 100%, com PET pulverizado a 75 – 106 micra, ácido a 3M, 190 ºC por 1 hora) . Por outro lado, existem vários artigos relatando [6, 7] experimentos nos quais foi verificada a redução do tempo de reação para diversas reações químicas devido a sua irradiação por microondas, especificamente ondas eletromagnéticas de 2,45 GHz. Não se tem uma explicação definitiva para o fenômeno da ação de microondas sobre sistemas reagentes. Foram apresentadas várias possibilidades: aquecimento volumétrico devido a choques entre molécula, formação de pontos quentes em substratos sólidos, formação de micro bolhas superaquecidas, ativação do átomo de oxigênio pela formação do oxigênio singleton [6]. Há, ainda, observações que constataram uma alteração do mecanismo de reação quando a reação é realizada sob irradiação por microondas [8, 9]. O objetivo do trabalho foi verificar se a hidrólise ácida incentivada por microondas de 2,45 GHz permite processar flocos de PET, com desempenho comparável aos dados disponíveis na literatura especializada. Essa possibilidade compõe satisfatoriamente o ciclo de vida do PET, eliminando Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros 927 seu acúmulo na biosfera e diminuindo a necessidade de consumo de produtos petroquímicos para a produção do ácido tereftálico e etileno glicol. Ainda, permite produzir resina PET reciclada que é a própria resina virgem e portanto sem restrições de mercado. Experimental A hidrólise ácida foi processada com PET pós-consumo na forma de flocos, tal e qual como é processado pelos recicladores. Os flocos apresentam superfícies que variam de 2 x 6 a 7 x 10 mm2. Na literatura especializada, os autores tem utilizado o PET moído a 75 – 106 micra. Para não introduzir custos adicionais ao processo de reciclagem do PET, os flocos não foram moídos como recomenda a literatura. Essa moagem a nível de micra apresenta conveniência do ponto de vista cinético, pois a área exposta do PET passa a ser maior; porém não é conveniente do ponto de vista do processo de reciclagem, pois introduz uma operação a mais que encarece o produto final. Como agente hidrolítico, foi utilizado solução aquosa a 3 M de ácido sulfúrico. A rigor, o ácido sulfúrico é apenas o catalisador da hidrólise, ficando a ação hidrolítica a cargo da água. A hidrólise foi processada em um forno Milestone ML 1200 de microondas para digestão de amostras, com rotor de seis vasos de digestão com capacidade de 100 mL em Teflon, um sensor interno de temperatura (fibra óptica) e um sensor interno de pressão. Cada vaso foi carregado com 0,5 g de PET em flocos e 25 mL da solução de ácido sulfúrico. O material foi irradiado por 5 minutos com 300 W de microondas, seguido de um repouso de 1 minuto e finalizado por uma irradiação de 800 W por 7 a 9 minutos. Após resfriamento dos vasos de Teflon, o material da hidrólise foi filtrado, lavado e dissolvido em excesso de solução de soda fatorada. Por titulação determinou-se a quantidade de ácido tereftálico formado, e calculou-se a percentagem de PET hidrolisado. adotado, com a irradiação por microondas, permite atingir condições drásticas de reação em pouco tempo. Tabela I – Grau de Hidrólise de PET em Função do Tempo de Irradiação por Microondas. tempo de tempera- pressão nível e- hidrólise irradiaçã tura má- máxima nergético do PET o (min) xima (ºC) (bar) (kJ/g ) (%) 12 225 21 2,7 0,0 13 230 22 3,0 27,8 14 280 44 3,3 72,9 Conclusões Os resultados experimentais obtidos permitem admitir que a hidrólise de PET em flocos, catalisada por ácido sulfúrico e processada sob irradiação de microondas de 2,45 GHz atinge um nível de despolimerização comparável ao dos processos descritos na literatura, com a vantagem de fazê-lo em tempo reduzido (cerca de 14 minutos ao invés de horas). Agradecimentos Os autores gostariam de agradecer a colaboração do Prof. B. Schneiderman, E.R. de Castro, A. Selmikaitis, R.B. do Nascimento, e R.M. Botelho. Agradecem ainda ao Instituto Mauá de Tecnologia – IMT e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (bolsa de iniciação científica, processo 02/13299-0). Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. Resultados e Discussão Os resultados experimentais estão resumidos na tabela I e permitem observar que dois minutos de diferença entre os tempos de irradiação são suficientes para atingir um nível energético que promova uma hidrólise sensível do PET. Extrapolando os dados experimentais para uma hidrólise de 100 % do PET, encontra-se um tempo de 14,5 minutos. Note-se que os dados publicados preconizam um período de horas para atingir tal hidrólise, com aquecimento convencional. A explicação prende-se ao fato de que o procedimento 928 5. 6. 7. 8. 9. S.D. Mancini, M. Zanin Polímeros: Ciência e Tecnologia 2002, 12(1),34-40. C. Regazzi Meio Ambiente (CNI) 2000, 2(11), 8. H.G.Franck, J.W. Stadelhofer, Industrial Aromatic Chemistry, Springer-Verlag, Germany, 1988. P.H. Groggins, Unit Processes in Organic Synthesis, 5ed, MacGraw-Hill/Kogakusha, Tokyo, 1958. T. Yoshida et al Ind. Eng. Chem. Res. 2001, 40, 75-79. P. Lidström et al Tetrahedron 2001, 57,92259283. S. 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