„A Alemanha em meio à crise europeia“
Palestra do Cônsul Geral Axel Zeidler aos estudantes de Relações
Internacionais da ESPM em São Paulo 27.11.2015
I INTRODUÇÃO
Primeiramente, muito obrigado pelo convite. Nós diplomatas somos
generalistas e, ao longo de minha vida profissional, pude exercer
funções bem diversas. Inicialmente, eu era físico e já trabalhei até aqui
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no Brasil nessa profissão, com energia solar e eólica no Nordeste.
Depois assumi cargos como: diplomata na Representação Alemã da
ONU em Nova Iorque, Assessor de Imprensa em Brasília, Embaixador
Adjunto em Zâmbia e na África do Sul, Diretor no Departamento
Econômico em Berlim e agora sou Cônsul Geral, novamente no Brasil,
desta vez na megalópole São Paulo.
O tema, sobre o qual quero falar hoje, é “A Alemanha em meio à crise
europeia”. Esta apresentação estava pronta muito antes dos atentados
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em Paris. Mas, diante dos acontecimentos, ficamos todos horrorizados
e, portanto, vou abordar este tema também. Foram 130 assassinados, a
maioria de jovens, e 340 feridos. Muitos deles ainda lutam por suas
vidas em hospitais.
O terror do ”Estado Islâmico“ chegou à Europa. Imediatamente após os
ataques a chanceler Angela Merkel frisou que estes não se referem
somente a Paris, mas a todos nós. E pontuou: "devemos todos juntos
dar uma resposta". Está claro, a Europa tem de se unir.
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“As crises são grandes unificadoras”
(Jean Monnet)
“As crises são grandes unificadoras” disse certa vez Jean Monnet, um
dos mentores da União Europeia. Esta citação será a linha condutora da
minha apresentação e uma tese a qual eu gostaria de demonstrar. As
duas grandes crises com as quais a comunidade europeia daquela
época se confrontava eram a crise econômica mundial e a crise do
petróleo nos anos setenta. Foi exatamente nesse contexto que o
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continente decidiu unir-se ainda mais, juntar-se, integrar-se com mais
força, como se diz na linguagem popular.
Naqueles anos, pensou-se pela primeira vez seriamente sobre uma
moeda comum - em vista da crise e do colapso do antigo sistema
monetário mundial Bretton Woods, que era atrelado ao dólar e foi
suspenso pelos Estados Unidos. O Euro, nossa moeda, é então uma
reação à crise daquela época e o melhor exemplo de que Jean Monnet
tinha razão. Pois o Euro tem uma história de sucesso: hoje, ele é
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utilizado por aproximadamente 340 milhões de cidadãos em 19 países
da União Europeia, a chamada Zona do Euro, e é, ao lado do dólar, uma
moeda de referência mundial.
“Péra-lá” vocês dirão, talvez Jean Monnet tivesse razão em 1970, mas
não nos dias de hoje. A crise do euro, a crise migratória, as ameaças
terroristas, Ucrânia, Síria, Iraque, Afeganistão, Israel-Palestina – crise,
crise, crise, para onde quer que se olhe e em volta da Europa, ou seja,
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bem em frente à nossa porta. A Europa parece estar em uma crise
constante e a Alemanha está no meio dela.
A atual situação é uma prova de resistência para a Europa. E mesmo
assim, estou convencido de que as crises continuam tendo um caráter
unificador. Tenho certeza de que a Europa pode crescer neste cenário,
que a Europa precisa crescer diante de tais crises – e crescerá. Quero
explicar esta crença através da análise de duas das atuais crises, a assim
chamada “crise migratória” e a “crise europeia”.
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II CRISE MIGRATÓRIA
Mais de sessenta milhões de pessoas estão em fuga em todo mundo –
fato que não ocorria desde a criação das Nações Unidas. Muitas das
pessoas que fogem estão a procura de paz, liberdade e qualidade de
vida, têm como destino a Europa, e muitos querem ir para a Alemanha.
Desde o início deste ano, acolhemos, somente na Alemanha,
aproximadamente um milhão de pessoas, especialmente de regiões de
conflito como a Síria, o Iraque ou o Afeganistão.
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Todos vocês conhecem as imagens – campos para refugiados lotados,
milhares de pessoas que chegam diariamente à fronteira e que
precisam ser alimentadas, cuidadas e acolhidas. No inverno europeu, a
situação ficará ainda mais tensa, pois faz frio e as pessoas que fugiram
através dos Balcãs ou do Mediterrâneo estão enfraquecidas e
necessitam com urgência de um alojamento aquecido.
Somente nas pequenas cidades fronteiriças da Alemanha, chegam
aproximadamente 10 mil imigrantes todos os dias. Isso transformou o
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país e a Europa durante os últimos meses. Por um lado, mostrou-se,
principalmente na Alemanha, uma onda de solidariedade sem igual.
Milhões de cidadãos ajudam a receber os refugiados, doam roupas,
brinquedos, comida, tempo e Know-How; acompanham os refugiados
nas questões burocráticas junto aos órgãos públicos, prestam ajuda
durante os seus primeiros passos e lhes ensinam alemão. Ao mesmo
tempo, o grande número de supostos “desconhecidos” na Alemanha
suscita também o medo, seja de uma islamização, de uma “superestrangeirização” ou de supostos estrangeiros criminosos, que ainda
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por cima “tomariam” os empregos dos alemães. Os ataques em Paris
também incitaram o medo contra refugiados, por serem a maioria
muçulmanos. Dessa forma, tais temores infelizmente causam um clima
de rejeição e de violência que contrastam com a Alemanha acolhedora
e diversificada.
Devemos nos contrapor fortemente a todos esses arruaceiros,
populistas e agitadores. Afinal, por que todas essas pessoas vêm até
nós? Elas vêm, pois tem a esperança de uma vida melhor. A maioria dos
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refugiados foge exatamente do terror e da violência, que agora
alcançou o coração da Europa. Eles buscam a nós porque defendemos
valores como humanidade, solidariedade e respeito aos direitos
humanos. Exatamente esses valores constituem o cerne, o fundamento
da União Europeia e são exatamente esses valores que devem ser
decisivos na forma como tratamos os refugiados.
Isso vale tanto para a Alemanha como para a União Europeia. A
Alemanha previu em seu orçamento mais alguns bilhões de Euros para
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ajudar os refugiados. Nenhum país da Europa acolheu mais cidadãos da
Síria do que nós. Ao mesmo tempo, estamos combatendo também as
causas do êxodo dos países de origem. Desde o início do conflito na
Síria, a Alemanha disponibilizou mais de um bilhão de euros para
ajudar; foram doados mais 75 milhões de euros para a Agência da ONU
para Refugiados UNHCR e para o Programa de Combate à Fome WFP.
Isso é um exemplo também no âmbito internacional.
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Porém, mesmo com a melhor das intenções, nenhum país que agir de
maneira isolada será capaz de resolver os atuais desafios. Aqui, todos
são chamados. A Europa será medida pela maneira como lida com a
crise migratória.
No momento, quatro países de União Europeia estão acolhendo dois
terços de todos os refugiados. São eles a Itália, Áustria e Suécia, e
Alemanha. Está clara, a situação não pode ficar assim. Por mais solícitos
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que sejam os alemães – não podemos absorver e integrar
permanentemente mais de um milhão de refugiados anualmente.
Por isso, nós trabalhamos com perseverança e determinação em achar
soluções internacionais e especialmente europeias. Para isso,
precisamos voltar a confiar no fato de que o egoísmo nacional não traz
nenhuma saída e que uma ação conjunta beneficia a todos. Somente
juntos, no contexto europeu, podemos encontrar soluções satisfatórias.
Os ministros de Relações Externas da Alemanha e Itália escreveram um
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artigo conjunto que dizia: ”Para nós, é a hora de dar um mergulho para
darmos uma resposta europeia abrangente e de longo prazo,
caracterizada pela solidariedade e responsabilidade".
Isso significa: necessitamos de um plano de distribuição europeu, um
mecanismo permanente que divida as responsabilidades de forma justa
entre todos os Estados-Membros da União Europeia. E, após Paris,
precisamos mais do que nunca proteger as fronteiras externas da União
Europeia. A chanceler Merkel frisou novamente: isso não é nada fácil!
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Se não protegermos nossas fronteiras externas de maneira eficaz, um
princípio básico da integração europeia estará em jogo: o de fronteiras
internas abertas. Por isso, devemos fortalecer as instituições europeias
existentes. A FRONTEX, Agência Europeia de Cooperação nas
Fronteiras, necessita de mais pessoal e deve ser expandir para tornarse uma autoridade europeia de defesa de fronteiras. Além disso,
necessitamos também de um órgão europeu para asilados, regras
comuns e dignas para a admissão e o reconhecimento de refugiados,
bem como uma política eficaz de regresso.
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Para chegarmos a soluções realistas, também está claro que nem todas
as pessoas podem ficar conosco, mas somente aqueles que fogem de
guerras, da violência e da perseguição política. Devemos, portanto,
entrar em acordo na Europa sobre os países de origem seguros, para
onde possamos encaminhar as pessoas de volta rapidamente e assinar
um acordo de repatriação com esses países. Em suma, o que
precisamos é de uma política europeia comum para o asilo, para os
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refugiados e para a migração! O que precisamos é de coragem para
mais Europa!
Mesmo que possa não parecer, tudo isso nos leva de volta à minha
tese: As crises são grandes unificadoras. Pois é exatamente nessas
questões políticas que a Europa PRECISA cooperar e se unir.
Por isso, a Alemanha não está medindo esforços em trabalhar com
todos os Estados-Membros para alcançar uma solução construtiva. E
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mesmo que no momento ainda não tenhamos a perspectiva de uma
solução ampla, tenho certeza de que ao final sairemos desta crise
fortalecidos e mais unidos. Pois há muito tempo, críticas são feitas à UE
pela falta de uma política conjunta adequada para a questão dos
refugiados. A crise agora nos proporciona a oportunidade de alcançar
uma maior integração e unidade europeia, uma política europeia para
os refugiados e para o asilo político que também corresponda aos
nossos valores e que se baseie na solidariedade e no humanismo.
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Gostaria de citar o nosso Ministro das Relações Externas, Frank-Walter
Steinmeier: “Sempre houve crises na Europa. A crise dos refugiados é
particularmente grave. Mas a história da Europa nos ensina que
também esta crise será superada".
III A CRISE DO EURO
O fato de esta crise migratória estar nos ocupando tanto, de ela ser
considerada a maior prova para a União Europeia, que será decisiva
para o seu futuro, tudo isso fez com que a crise do Euro, ou
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anteriormente a crise da Grécia, quase tenha caído no esquecimento.
Que quase ninguém fale disso no momento, em minha opinião, não se
deve apenas a um efeito de deslocamento em função da crise dos
refugiados, mas também há um primeiro sinal da recuperação
econômica que muitos julgavam não ser mais possível.
Há oito anos, a crise financeira mundial teve início nos EUA. A ela
seguiu-se a crise do Euro, que na verdade não é uma crise do Euro, e
sim uma crise de endividamento de governos de alguns países da Zona
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do Euro. A crise de dívidas públicas está ligada à crise financeira
mundial, na qual os governos salvaram, com somas bilionárias, bancos
da falência. Mas, em alguns países da Zona do Euro, ela é também uma
expressão da falta de uma política orçamentária sólida de longo prazo.
Muitos países simplesmente gastaram mais do que arrecadaram. Para
isso, não é necessário ter muitos conhecimentos de economia: em
longo prazo, não funciona. Isso não vale apenas para a Zona do Euro.
Mas, neste caso houve uma peculiaridade: foram definidos critérios
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obrigatórios para os déficits, mas que foram ultrapassados em muito
por Estados-Membros como a Grécia, a Irlanda, a Espanha e Portugal. A
situação foi agravada pela especulação nos mercados financeiros.
Por muito tempo, parecia que essa crise foi o maior desafio que a
Europa já teve de superar. Ainda em julho e agosto, o Showdown para a
salvação da Grécia nos mantinha em constante suspense. Haverá ou
não um acordo? A Grécia deixará a zona do Euro ou não?
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Também aqui, analisando a crise do Euro, uma vez mais se provou ser
verdadeiro: As crises são grandes unificadoras. Porque hoje podemos
afirmar que a crise está sob controle. A Grécia permanece na Zona do
Euro, embora ainda nem todas as questões referentes ao novo e recém
iniciado programa foram esclarecidas. Espanha, Portugal e Irlanda se
recuperaram e concluíram com êxito os seus programas de auxílio. Lá, a
competitividade cresceu, déficits orçamentais são reduzidos. O Chipre
está fazendo um bom progresso. Em 2015, pela primeira vez em muito
tempo, houve crescimento na Europa e uma diminuição do
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desemprego. As perspectivas são bem melhores do que há dois anos,
também na Grécia, que está iniciando as reformas necessárias.
Como conseguimos isso? Com soluções europeias corajosas, com
compromissos e negociações entre os Estados-Membros e com um
claro "sim" para a Europa e para mais Europa! Portanto, juntos
- agimos rapidamente, liberamos os chamados salva-vidas, apoio
para os países em crise no valor de centenas de bilhões de Euros;
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- montamos com o Mecanismo Europeu de Estabilidade um fundo
de resgate permanente, que apoia os países mais endividados da
Zona do Euro para que os perigos para toda a Zona do Euro
possam ser evitados mais eficientemente;
- reforçamos
orçamentária
o
controle
para
que
e
a
coordenação
critérios
do
déficit
econômica
não
e
sejam
ultrapassados novamente;
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- definimos um Tratado Fiscal que obriga os Estados-Membros a
introduzir regras orçamentárias mais rigorosas e a incluir estas
regras em seus sistemas jurídicos nacionais;
- Criamos um sistema comum europeu de supervisão financeira
para melhor prevenir crises bancárias e para evitar que, no final, o
contribuinte tenha que pagar a conta, mas, em vez disso, os
autores de tais crises, os próprios bancos, o façam;
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- No caso da Grécia, concordamos, depois de intensas negociações
e compromissos dolorosos, com um pacote de reformas
abrangentes e pagamentos de ajuda financeira adicional.
Por trás de tudo isso, existe uma convicção de que a solidariedade e a
solidez são dois lados da mesma moeda. O princípio é chamado de
"prestação de serviço e compensação, responsabilidade própria e
solidariedade". Porque somente aqueles que têm uma gestão
orçamentária sólida, que assumem suas próprias responsabilidades e
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que realizam reformas poderão contar com a solidariedade dos seus
parceiros europeus.
Este é o princípio que a República Federal da Alemanha tem e com este
estávamos praticamente sozinhos durante a crise da dívida pública.
Estou convencido de que este é o caminho certo, pois desde o início da
crise, a Alemanha prossegue um objetivo claro: a Europa deve emergir
da crise mais forte do que quando entrou nela. E neste caminho,
fizemos um bom progresso. A Europa e a zona do Euro estão hoje mais
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fortes do que no início da crise. Nós mostramos que podemos agir
unidos e solidários durante a crise e que, com os mecanismos
mencionados, criamos mais uma vez "mais Europa".
É claro que a crise da dívida pública ainda não foi completamente
superada, embora estejamos caminhando para isso. No fim das contas
não esquecemos por quem somos responsáveis e agimos: pela
população da União Europeia e da Zona do Euro, que deve viver em paz
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e prosperidade; e não vamos esquecer que especialmente a população
dos países atingidos está sofrendo.
Reformas estruturais são sempre dolorosas. Ninguém sabe disso
melhor do que nós, alemães. Muitos de vocês provavelmente não se
lembram mais. Mas, há dez anos, em 2005, éramos “o enfermo da
Europa”. Com taxas de desemprego elevadas, dados econômicos ruins
e alta dívida pública. Naquela época, a Alemanha realizou, com a
chamada "Agenda 2010", reformas estruturais muito dolorosas. Como
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exemplo, gostaria de mencionar a redução do auxílio desemprego e
assistência social e a flexibilização do mercado de trabalho. Isso gerou a
base para uma redução do desemprego pela metade, nova riqueza,
competitividade global recuperada e crescimento dinâmico. Isso não
era apenas doloroso para as pessoas afetadas, mas também para os
políticos: eles tiveram de entregar seus mandatos nas eleições
seguintes.
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Hoje, já não somos mais o "enfermo" e sim "o homem forte da
Europa". As nossas reformas têm se revelado eficazes. Em 2015,
chegamos a um ponto histórico crucial: nenhuma nova dívida. Em
outras palavras, as finanças da Alemanha estão com uma base sólida. A
economia está crescendo significativamente. Nós temos um registro de
emprego recorde. A taxa de desemprego está menor do que esteve
desde 1991 e é a menor em toda a União Europeia.
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Também graças à nossa experiência, a Alemanha representa o caminho
da solidariedade e da solidez. Graças à nossa experiência, sabemos que
este caminho vale a pena e podemos reconhecer também o que os
nossos amigos espanhóis, irlandeses, portugueses e cipriotas, assim
como nossos amigos gregos, já realizaram.
”A Alemanha em meio à crise europeia”, esse foi o tema da minha
palestra. Espero ter conseguido transmitir a vocês que ambas, a crise
dos refugiados e a do euro, mostraram que nós assumimos
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responsabilidades na Europa em meio às suas crises. Trabalhamos para
que as palavras de Jean Monnet se mostrem verdadeiras e para que as
crises, que não escolhemos, mas que devemos superar, sejam grandes
unificadoras. Estou certo de que este será o caso ante os grandes
desafios colocados pela ameaça terrorista a nós.
No início da minha palestra, eu mencionei o euro como uma história de
sucesso e um símbolo da unificação europeia. Se vocês já estiveram na
Alemanha ou na Europa, talvez tenham notado: na moeda do euro está
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gravado: EUROPA FILIORUM NOSTRORUM DOMUS. Isso significa em
latim “A Europa [é] a casa de nossos filhos”. Essa realidade por si só
mostra que devemos agir de forma responsável em tempos de crise e,
com vista para as gerações futuras, encontrar soluções sustentáveis e
de longo prazo na Europa.
Para nós, a Europa é o futuro. Para nós, a Europa é o único âmbito
realista de política externa onde podemos ajudar a moldar a ordem
internacional. Para nós, a Europa é a nossa casa. Para nós, a Europa é
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uma comunidade de valores e com um destino comum. Para nós, a
Europa e a unificação europeia é, acima de tudo, e aqui cito novamente
a nossa chanceler, "uma grande sorte que nunca devemos esquecer,
levando em conta a história da Europa, bem como as crises e guerras
atuais."
IV RELAÇÕES TEUTO-BRASILEIRAS
Falamos muito sobre a Alemanha e a Europa, e esses eram os assuntos
que me solicitaram a falar. Mesmo assim, gostaria de aproveitar a
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oportunidade para dirigir a atenção para esse maravilhoso país, o
Brasil, que no momento infelizmente também se encontra em uma
crise econômica e política. Quero chamar a atenção especialmente para
as relações teuto-brasileiras, que são tão antigas quanto ricas.
Porque, com crise lá ou cá, o Brasil é e continua sendo o nosso parceiro
estratégico na América Latina. Isso foi confirmado mais uma vez, de
maneira impressionante, nas primeiras consultas intergovernamentais
alemãs-brasileiras que foram realizadas em Brasília em agosto deste
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ano. Esse formato é para nós uma expressão de uma parceria muito
especial e o Brasil é o único país da América Latina com o qual
mantemos essas consultas intergovernamentais. Pois nelas ocorre um
encontro não apenas das Chefes de Governo, a chanceler Angela
Merkel e a presidente Dilma Rousseff, mas de seus governos como um
todo. Representando a Alemanha, vieram ao Brasil neste ano 11
ministros e vice-ministros junto com a chanceler para uma troca de
informações com os seus colegas brasileiros. Entre outras coisas, eles
acordaram uma cooperação mais estreita nas áreas da economia e
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ciência, tecnologia e inovação, bem como em assuntos ambientais e na
proteção internacional do clima. Este último, tendo-se em vista a 21ª.
COP Conferência do Clima que se realizará em alguns dias em Paris.
Como grandes economias, o Brasil e a Alemanha podem trabalhar
juntos para garantir que sejam definidas metas ambiciosas referentes
ao clima. Dessa forma, podemos assumir juntos a responsabilidade pelo
clima global.
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No âmbito internacional, já estamos trabalhando juntos e também essa
cooperação foi
novamente
consolidada
durante as consultas
intergovernamentais. Assim, nos engajamos no G4, juntamente com os
nossos parceiros japoneses e indianos, por uma reforma do Conselho
de Segurança das Nações Unidas e de todo o sistema das Nações
Unidas. Pois ele acaba de completar 70 anos e deveria refletir hoje a
realidade geopolítica do século vinte e um. A Alemanha e o Brasil
engajaram-se junto às Nações Unidas por mais privacidade na era
digital. Também essa cooperação na política cibernética é exemplar.
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Mas as relações teuto-brasileiras não existem apenas nessa esfera
política, que talvez possa lhes parecer um pouco abstrata. Não, bem
pelo contrário, são os inúmeros contatos da sociedade civil e das
empresas desse e do outro lado do Atlântico que tornam as relações
teuto-brasileiras tão ricas e tão cheias de vida.
Somente aqui em São Paulo, existem aproximadamente mil empresas
alemãs, que geram cerca de 15% do PIB industrial do Brasil. Existe
também uma grande população de origem alemã no país, inúmeras
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escolas alemãs e uma diversificada cooperação cultural e científica.
Símbolos das excelentes relações teuto-brasileiras aqui em São Paulo
são, por exemplo, o Goethe Institut, o Centro Alemão de Pesquisa e
Inovação e a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. Eu
quero convidar a todos a participar dessas vibrantes relações bilaterais.
Visitem o Goethe-Institut em Pinheiros, com seu belo jardim interno
em um antigo convento, com um Café charmoso e uma grande
biblioteca. Aprendam alemão ou participem de um dos muitos eventos
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culturais organizados pelo Goethe-Institut e por nós do Consulado.
Deem o seu like no Facebook e sigam as nossas múltiplas atividades,
falem com os colegas do Centro Alemão de Ciência e Inovação e, se já
falam um pouco de alemão ou já tem alguma relação com a Alemanha,
candidatem-se, por exemplo, para um estágio na Câmara de Comércio
e Indústria Brasil-Alemanha ou em uma empresa alemã!
Pois as pessoas jovens, interessadas e abertas para o mundo como
vocês são o futuro das relações teuto-brasileiras! Espero ter conseguido
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hoje despertar o interesse de vocês pela Alemanha, pela cooperação
entre os nossos dois países, e ter sensibilizado vocês um pouco para a
nossa posição no coração da Europa – tanto geograficamente como
politicamente. Terei imenso prazer em responder as suas perguntas.
Muito obrigado!
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Download

Palestra do Cônsul Geral da Alemanha