MERCADOS sexta-feira, 3 Dezembro de 2010 Banca é lenta a analisar os créditos “As coisas não passam de um patamar para o outro radicalmente”, afirma Jorge Veríssimo, questionado sobre qual é a receptividade dos bancos à abordagens da Maxfinance para resolverem os problemas do clientes ou para encontrarem soluções alternativas às que as empresas têm no momento. “Ainda não se nota grande abertura, mas já há sinais e ainda bem que é assim”, diz o director da agência de Gaia, frisando que “já se fala e, se já se fala em vários bancos, quer dizer que há uma política no sentido de ir efectivamente analisar a situação”. É “um sinal”, acrescenta. A verdade é que “as empresas tiveram muitos vícios e agora, ou têm estrutura, ou os seus sócios têm estrutura e património para darem como garantia, ou ainda é muito difícil aprovar um crédito junto da banca”. Instado a revelar se a banca coloca muitos entraves à concessão de crédito, nomeadamente às empresas, Jorge Veríssimo não tem dúvidas: “a banca tem de ser criteriosa”. Discordando que esteja agora a ser mais criteriosa do que há um ano atrás, que, nessa altura, “ainda estaria pior”, o director da Maxfinance Nova de Gaia diz que “uma coisa é o crédito ser mais caro, que o é, quer para o particular, quer para as empresas”, mas que outra coisa bem diferente é a ponderação com que os bancos analisam cada crédito. Dificuldade da banca em financiar-se “A decisão de emprestar dinheiro é mais ponderada por parte dos bancos e demora mais tempo”, diz o mesmo responsável, embora acredite, “pelas conversas” que vai ouvindo, que se “vão abrir algumas portas”. E é por isso mesmo que a Maxfinance “também está a criar mecanismos para ir buscar empresas para colocar na banca, porque acreditamos que alguma coisa pode e deve ser feito”. Até porque, diz, “não podemos continuar a trabalhar com coisas que foram inventadas há 20 anos e à data de hoje pô-las em prática quando a vivência de hoje é diferente”. Questionado sobre se a maior lentidão com que a banca analisa os pedidos de financiamento tem a ver com um maior estudo que os bancos fazem da situação financeira das empresas ou também da maior dificuldade que os bancos têm em financiarem-se, Jorge Veríssimo não hesita: “é evidente que é a junção das duas coisas”. A banca tem, por um lado, “dificuldade em financiar-se”, mas quer, por outro, “ter o risco distribuído por vários clientes”. É que, assim, “o risco diminui e as coisas ficam mais controladas”. TERESA SILVEIRA [email protected] 33 Agência de Gaia avança na consultoria preventiva junto de empresas e particulares Maxfinance quer assessorar as empresas antes de terem problemas A Maxfinance, uma marca ligada à consultoria financeira que funciona em regime de franchising, atingiu 54 agências em 2010. A loja de Gaia, que deverá movimentar 300 milhões de euros até ao fim deste ano e que ontem, 2 de Dezembro, assinalou dois anos de actividade precisamente nesta área, quer distinguir-se pela proactividade e deixar de lado um modo de actuar mais reactivo. Em vez de esperar que os particulares e as empresas lhe batam à porta, o responsável da agência decidiu arrancar, há cerca de um mês, com uma campanha em busca dos particulares e das empresas do concelho onde desenvolve actividade. Em entrevista à “Vida Económica”, Jorge Veríssimo, director da Maxfinance Nova, está ciente de que “as empresas precisam de ajuda a vários níveis” e que o objectivo da Maxfinance é, com um estudo gratuito que se propõem realizar, “chegar aos particulares e às empresas antes ainda de terem problemas”, cativando assim novos clientes. Aproveitando que “a banca está a abrir um bocadinho mais a concessão de crédito às empresas”, Jorge Veríssimo diz que este é “um nicho de mercado que pode dar frutos, pois nunca foi trabalhado”. Para tal, “estamos a contactar pequenas e médias empresas em Gaia, para já, independentemente do sector de actividade”. É que “muito do nosso mercado é este: alguém que foi cabeleireiro durante muitos anos e abriu um salão; aquele que é empregado de um restaurante e que, ao fim de um ou dois ou três anos, abriu um restaurante; alguém que era serralheiro e trabalhava muito bem e ao fim de algum tempo abriu uma serralharia”. Ensinar a fazer planeamento e controlo de custos Até aqui nada de novo, porque, como diz Jorge Veríssimo, “estas pequenas empresas davam sempre lucro, não era preciso grande estrutura nem grande gestão e planeamento”. O problema é que “agora as coisas não são assim e é preciso ajudar estas pessoas a fazer planeamento e a fazer controlo de custos”, pois “elas sabem executar, mas para a parte de gestão nunca tiveram formação para tal”. Trabalhando na área da consultoria financeira, a Maxfinance Nova opera nos ‘check-up’ financeiros, no crédito à habitação e automóvel, nos seguros, na certificação energética, entre outros. E o seu director realça as diferenças entre a sua actividade e a de um bancário. “O consultor financeiro trabalha para o cliente e o bancário trabalha para o banco, têm objectivos diferentes; o consultor trabalha em prol das necessidades de cada cliente e o bancário não, que trabalha para objectivos do banco; o consultor financeiro é alguém independente da banca, porque nós trabalhamos com banca e com as financeiras, mas não somos banca, apenas fazemos qualificação financeira em função do perfil de cada cliente”, explicou Jorge Veríssimo, nesta entrevista à “Vida Económica”. “Nós ajudamos a decidir, mostramos as mais-valias, mas é o cliente que decide”, nota o mesmo responsável. E se a consultoria financeira em Portugal “ainda é vista quer por parte do particular, das empresas e, até, por parte da banca, como consultoria financeira igual a pessoas com incidentes, com A decisão está tomada: “as empresas são uma área que vamos explorar forte em 2011”, revela Jorge Veríssimo à “Vida Económica”. dificuldades e com crédito consolidado, nós não estamos cá para isso, pois queremos fazer consultoria preventiva e formativa, para ajudar as pessoas e as empresas a tomar uma decisão antes de terem problemas”. No fundo, diz, é “ajudá-las a fazer planeamento, a fazer controlo de custos”. Primeiro, diz Jorge Veríssimo, “as pessoas quase só nos procuravam para situações difíceis”, procurando a pacatez e anonimato no atendimento, mas “agora já não”. É que, “em função de todo o marketing que estamos a fazer, a grande fatia ainda é de pessoas que tem casos difíceis, mas temos já consultores financeiros no terreno a fazer prospecção e a ir de encontro ao cliente, o que quer dizer que estamos a tentar chegar ao particular e à empresa antes de eles terem algum problema”. A ideia é “tentar ver se a pessoa tem três ou quatro seguros e se neste momento é bem contratada” ou “ver se os produtos que têm financiamentos a decorrer se foram bem contratados ou se, à data de hoje, o que contratou ainda faz sentido e se não haveria possibilidade de denunciar determinada coisa”. A decisão está tomada: “as empresas são uma área que vamos explorar forte em 2011, para ver se também estão bem”. Para tal, “tivemos de preparar a equipa” e ainda vão recrutar dois economistas para fazerem auditorias. “As pessoas estão muito endividadas e com taxas de esforço violentas” A par disso, diz Jorge Veríssimo, “cada vez se vai notando empresas de mediação a contactarem-nos para nós ajudarmos em financiamentos que eles não conseguem”. Isto, além de “pessoas que vêm cá para verem se aquilo que estão a contratar estão a contratar bem ou não, quer seja localmente, quer seja através de parcerias com Braga, S. João da Madeira, no Porto”. E também estão com gabinetes de contabilidade. Questionado sobre qual é o problema mais comum quando fazem o diagnóstico da situação financeira de uma empresa ou de um particular, Jorge Veríssimo diz que há “essencialmente dois”. Nos particulares, e porque “o grosso do particular tem a ver com o crédito à habitação”, o problema é “o valor muito perto do valor de financiamento e das avaliações”. Até porque “quanto mais perto estiver esse valor mais caro vai ser o crédito”. O segundo problema, que é “devido a todo este facilitismo que vivemos nos últimos anos”, tem a ver com o facto de “as pessoas estarem muito endividadas e estarem com taxas de esforço violentas”. E se “há situações em que as pessoas conseguem contratar sozinhas”, outras há em que “precisam de fiadores” e outras, ainda, em que “já nem dependem delas, pois mesmo com fiador já não conseguem”. Já nas empresas, não se tratando da aquisição de habituação, mas de financiamento, surge outro tipo de problemas, devido ao facto de “muitas delas, nos últimos três ou quatro anos, terem exercícios negativos e também ao facto de haver muitas vezes um conjunto de produtos que estão desajustados”. “Às vezes uma conta corrente é feita para uma determinada tesouraria para seis meses ou um ano e por vezes decorrem seis anos e a conta corrente ainda está a funcionar”, exemplifica Jorge Veríssimo. E, aí, “vamos transformá-la em financiamentos de médio/ longo prazo, pois não faz sentido estar ali a pagar comissões desnecessárias”. TERESA SILVEIRA [email protected]