PROJETO VIDA E SAÚDE – UM DESAFIO INTAGRADO HOSPITAL DA CRIANÇA – OBRAS SOCIAIS IRMÃ DULCE HISTÓRICO DA ESCOLA NO HOSPITAL O projeto da Escola no Hospital, intitulado como “PROJETO VIDA E SAÚDE – UM DESAFIO INTEGRADO” foi implantado e inaugurado no Hospital da Criança das Obras Sociais Irmã Dulce, em três de Outubro de 2001 na cidade de Salvador, Estado da Bahia, em consonância com as políticas públicas e o processo de humanização da Fundação Irmã Dulce e o Município de Salvador, com a interveniência da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (instituições parceiras) em cooperação técnica, científica cultural e financeira. Atividade pedagógica em sala de aula - 2002 Estruturado para atender crianças e adolescentes entre as faixas de 0 a 17 anos, esse hospital tem capacidade de atendimento para 100 pacientes/dia, distribuídos entre os quatro andares por faixa etária: andar térreo, 0 a 2 anos, 1º andar entre 2 a 7 anos, 2º andar entre 7 a 17 anos e no 3º andar, atendimento de Terapia Intensiva (CETIP). Construído com o auxílio de doações de notas fiscais da Campanha “Sua Nota é um Show”, já constava em seu projeto arquitetônico um espaço para o funcionamento da escola sobre a orientação da pediatra Drª Célia Silvany, que, ao visitar unidades pediátricas em outros países, observou uma dinâmica estrutural diferenciada das existentes no Brasil, denotando um tratamento diversificado no atendimento ao processo de escolarização de crianças hospitalizadas: acompanhamento pedagógico não apenas para manutenção do currículo formal da escola, mas, um currículo de educação voltado para educação da cidadania, onde todos participam diretamente dessa construção (médicos, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, enfermeiros, porteiros, pedagogos, acompanhantes etc.) formando uma equipe multidisciplinar. A partir das reflexões mediadas por Drª Célia e da sua participação no Ministério da Saúde para elaboração do CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança Hospitalizada, 1995), foi realizada uma pesquisa dentro da antiga unidade do H.C. Nesta pesquisa, foi constatado que muitas crianças apresentavam pouca ou quase nenhuma atenção ao seu processo de escolarização. Muitas se afastavam da escola por grandes períodos em decorrência da necessidade de reinternações constantes, outras, por falta de esclarecimento das famílias que sentiam dificuldades em reintegrálos em suas escolas de origem, e ainda a falta de conhecimento e/ou dificuldades de alunos e professores em lidar com situações novas e/ou difíceis em relação à atenção dos alunos que necessitam de cuidados específicos como no caso de crianças portadoras de diabetes, cardiopatias e nefroses. A Constituição Federal, em seu art.205, estabelece que “A educação é direito de todos e dever do Estado e da família será promovida e incentivada com colaboração da sociedade”; ratificada pelo Brasil em 1990 pela Convenção das Nações Unidas, subscreve, que é dever do Estado Brasileiro, “assegurar que todos os setores da sociedade, e em especial os pais e as crianças, conheçam os princípios básicos da saúde e nutrição”. Nesse sentido a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, estabelece em seu art.5º que para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino o Poder Público criará formas alternativas de acesso a diferentes níveis de ensino independente da escolarização anterior; ao que cabe a SMEC implementar tais políticas resultando na melhoria da qualidade ensino/aprendizagem; as Obras Sociais Irmã Dulce tem como objetivo prestar assistência integral aos necessitados reintegrando-os à sociedade, em seguimento à filosofia de sua fundadora: “Amar e servir aos mais pobres, dando gratuitamente assistência na saúde e na educação para a vida”. Portanto, o convênio que tem por objetivo a implementação do projeto “Educar para a Vida e a Saúde – Um desafio integrado”, consiste na disponibilização de aulas para crianças e adolescentes internados nas dependências do HC, para os fins de reduzir a evasão e atraso escolar, facilitar sua inclusão em séries correspondestes às idades e auxiliar no tratamento das enfermidades através da redução do estresse hospitalar, podendo também o paciente desfrutar de atividades lúcidas considerando que, segundo (Wallon, 1996) “o sujeito constrói-se nas suas interações” e estas contribuem na evolução de seu desenvolvimento psíquico, intelectual e afetivo. Dessa forma, o enfoque instrutivo da ação pedagógica na Escola do Hospital da OSID, erige de uma convicção de que o escolar doente/hospitalizado não deve interromper seu processo de aprendizagem no seu trajeto escolar, dando continuidade à sua escolarização. PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO (PROJETOS DIDÁTICOS) E PROPOSTA PADAGÓGICA A partir das observações realizadas nos primeiros meses de sua implantação e visando conhecer melhor a clientela, fez-se necessário à busca de levantamento e coleta de dados. Para isso, foi elaborada uma ficha diagnóstica, sob a forma de um questionário contendo questões sócio-econômica e educacional, aplicado nos três primeiros meses de trabalho de pesquisa (outubro a dezembro), onde se registrou informações de 79 crianças. Essa aplicação foi dividida em duas fases (na primeira, foram entrevistadas 20 crianças e na segunda, 59). Esse total refere-se às crianças que permaneceram sete (07) ou mais dias internadas, o que não invalidou a participação de outras, com menor permanência, sendo estas registradas em outra listagem. Visitação a uma loja de brinquedos – Shopping Barra – 2003 Na medida em que as professoras cedidas pela Rede Municipal de Ensino, Kátia Gomes Cardoso e Maria Celeste Ramos da Silva iam se envolvendo com o ambiente e com as pessoas, refletiam sobre a importância de uma ação pedagógica mais integrada, que permitisse às crianças maior participação e envolvimento nas atividades. Partindo desse pressuposto, optou-se por realizar oficinas temáticas, seguidas de abordagens idealizadas na área de ARTES, utilizando os quatro eixos estabelecidos nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Artes Visuais, Dança, Teatro e Música, valorizando a língua e os conceitos matemáticos, dando então continuidade ao processo de aprendizagem, tendo em vista o centro de interesse das crianças diante dos trabalhos realizados, a priori, com textos literários, incentivando também, desenvolver a própria sensibilidade, estimular a imaginação, além da aquisição e o cultivo do senso artístico e estético. As abordagens temáticas foram então organizadas pelos seguintes temas e sistematizados em mini-projetos didáticos que foram realizados nos meses de outubro a dezembro: Sítio do Pica-Pau Amarelo - Monteiro Lobato HQ “S – Maurício de Souza. Nossos Sentimentos: medo, realização, etc. É Tempo de Sonho: Natal alegria, ansiedade, frustração, Cada abordagem foi tratada a partir dos conhecimentos prévios, já concebidos pelas crianças, o que direcionou as estratégias e intervenções aplicadas ao planejamento, sofrendo modificações quando do interesse investigativo dos sujeitos inseridos nesse processo. Aos poucos, a dinâmica de rotina em relação às aulas foi sendo modificada, em função das constantes interferências das mães / acompanhantes que entravam e saíam e/ ou permaneciam no ambiente da sala de aula, enquanto as professoras realizavam atividades pedagógicas. Demonstravam, portanto, ansiedade e cuidados excessivos no tratamento e na atenção com as crianças, por conceberem-nas inaptas para realizar tarefas escolares como: recortar, pintar, montar, dentre outras, dificultando a interação das crianças, e de certa forma limitando suas potencialidades. A importância presencial das mães e acompanhantes e sua participação efetiva no processo pedagógico, foi traçando no quadro de diretrizes, como sujeitos participativos da ação pedagógica e por entender que a colaboração da família no apoio ao processo ensino / aprendizagem é de grande valia e ainda contribuem com a criança em seu processo afetivo e social. Cineminha - 2002 Semana da higiene bucal e aplicação de flúor - 2002 Em 2002, foi elaborado um projeto didático que respondesse às questões que emergiam dos encontros na sala de aula em relação aos cuidados com o corpo, tornando possível desenvolver atividades que contribuíssem para a valorização da vida a partir da tomada de consciência do próprio corpo, suas funções e de medidas preventivas em favor da saúde, com o tema “VIAGEM PELO CORPO HUMANO”. As ações desse projeto didático foram divididas em blocos quinzenais e contemplaram conteúdos como: conhecimento do corpo, alimentação, órgãos dos sentidos, reprodução, higiene e outros que no seu contexto pedagógico tiveram um enfoque lúdico, informativo buscando também a conscientização com o cuidado do corpo e com a saúde. Em 2003 a temática do corpo humano foi ampliada estendendo-se para a questão dos direitos. Nasceu o projeto “CORPOREIDADE E DIREITOS HUMANOS” com a finalidade de esclarecer e elucidar dúvidas e tomar decisões envolvendo tanto questões individuais, quanto coletivas. Foram discutidos durante os quatro bimestres os direitos constitucionais inerentes a qualquer ser humano como: direito à vida, ao respeito, a ter uma família, a saúde, a alimentação, ao lazer, a educação, a moradia, etc. Já em 2004, as maiores curiosidades das crianças estavam em descobrir como a tecnologia tinha avançado com os aparelhos utilizados na realização de exames e na condução das respostas apresentadas pelo computador no caso dos exames mais complexos como ultra-sonografia, ressonância magnética e outros. Assim surgiu o projeto “O HOMEM, CIÊNCIA E TECNOLOGIA” que culminou com uma semana de palestras e exposição dos trabalhos realizados pelos alunos pacientes, a I EXPO FEIRA que recebeu a visita de professores da Rede Municipal e outros profissionais da área de educação e de saúde. O projeto pedagógico desenvolvido em 2005 segue os moldes dos anos anteriores na escolha do tema central a partir das curiosidades lançadas nas discussões em sala de aula pelos alunos e acompanhantes, seguido dos ajustes feito pelos professores conforme as necessidades pedagógicas de cada segmento. O conteúdo central circulou em torno da temática: “O HOMEM E SUAS PRODUÇÕES ARTÍSTICAS”, potencializando reflexões a cerca do papel destas na cultura, na saúde e na educação. O macro tema foi organizado da seguinte maneira: IºBimestre: ARTES, 2ºBimestre: MÚSICA, 3ºBimestre: LITERATURA e no 4ºBimestre: ARTES CÊNICAS (Teatro: de bonecos, vara, fantoches, mímicas, sombras, etc.). Realizamos a I Exposição de Artes com a parceria da Editora Oceano retratando como tema principal “o lugar onde moro” sendo distribuído brindes para os participantes e visitantes. Iniciamos o trabalho em 2006, discutindo a nova temática que demarcará o ano letivo, centradas nos aspectos do meio ambiente e da diversidade humana, por atendermos pessoas de diversas localidades, com diferenças étnicas e sociais, portadoras de patologias diversas. O convívio pacífico, pautado no respeito e na solidariedade foram respostas apresentadas no ano anterior nas reuniões realizadas no “Clube de mães”, sendo acolhidas pela Escola para nortear a práxis pedagógica do ano em decurso: “A NATUREZA E O HOMEM: VALORES E DIVERSIDADE”. Hoje contamos com mais uma professora da Rede Municipal de Educação, a profª Jacyara Coy Souza Evangelista (desde 2003). ATIVIDADES EXTRA-CLASSE Atendendo a um dos objetivos específicos do projeto “promover a vivência de valores éticos e sócio-culturais que contribuam para a formação de pessoas que se auto-realizem”, foi pensado como meta, oportunizar a promoção de programas lúdicocriativos e sócio-culturais. Atividades como: visita a museus, teatros, parques e loja de brinquedos proporcionaram uma maior integração com o meio social e cultural. As atividades extra-classe ou extra hospital são desenvolvidas com o apoio de toda a equipe multidisciplinar (professores, serviço social, equipe médica, de enfermagem, nutrição e outros profissionais). A saída do ambiente hospitalar é autorizada pelos médicos de cada aluno/paciente como também por seus responsáveis que os acompanham nas atividades fora deste. As atividades extra-classe têm como objetivo complementar o conhecimento enfocado nos projetos pedagógicos, desenvolvidos na Escola do Hospital. A visitação na exposição dos “Quadrões” de Maurício de Souza (2001) foi uma experiência significativa para muitas acompanhantes que residem no interior do Estado e não conheciam um museu, como também para alguns alunos/pacientes oriundos do interior do Estado que foram apresentados aos gibis, através do projeto Maurício de Souza, desenvolvido na Escola do Hospital. Outras atividades tiveram igual significância como a visitação ao museu Afrobrasileiro (MAFRO / 2006) que relata a história dos povos africanos e indígenas, povos formadores da nossa cultura. Dentre as atividades planejadas visitamos parques públicos (2004), shoppings (2003), loja de brinquedos (2003) e também a Bienal do livro que é a atividade mais esperada durante o ano por todo hospital pediátrico (2004 e 2005). CICLO DE PALESTRAS E CLUBE DAS MÃES As ações integradas entre os profissionais da área de educação e saúde foram elaboradas para atender os objetivos em oportunizar uma maior qualidade ao período de permanência das crianças e suas acompanhantes, como também a integração dos pais na parceria educacional com vistas a estimular a inserção da família no processo de formação dos seus filhos. Campanhas educacionais, ciclo de palestras e oficinas de artes e artesanato tiveram a participação e envolvimento de responsáveis, crianças e funcionários. As aprendizagens que estas interações proporcionaram e proporcionam, confirmam a importância dessas ações no desenvolvimento humano dos seus participantes. Palestras sobre higienização corporal, bucal e do ambiente, planejamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis, cuidados na infância, cuidados com a alimentação, nutrição saudável e maus tratos à criança e ao adolescente foram utilizadas como estratégias para a educação em saúde contribuindo para uma melhor qualidade no processo de internação e formação cidadã. O “Clube de mães” também objetiva melhorar a qualidade do período/ permanência e a promoção de uma proposta alternativa de aprendizagem dos responsáveis pelas crianças e adolescentes. Oficinas de artes, oficinas de artesanato como: fuxico e “xuxas” para cabelo, enfeites juninos e natalinos, pintura em tecido, artesanato com jornal , revistas e outros representam uma nova fonte de renda após a alta hospitalar. As ações desenvolvidas neste projeto visam a ressignificação do espaço escolar e hospitalar partindo das interações lúdico-pedagógicas que proporcionam a transformação do espaço vivido e a construção de aprendizagens significativas. Pode-se destacar como atividades que proporcionam maior envolvimento com personagens da literatura infantil baiana em 2004, a participação dos autores Mabel Veloso e Luís Augusto que colaboraram com momentos significativos de contação de historia, disponibilizando material literário de suas autorias para os participantes.