Boletim
Farmacovigilância
Número 6
Agosto 2011
FDA restringe o uso de 80 mg de Sinvastatina
A Food and Drug Administration recomenda que o uso de medicamentos contendo 80 mg de sinvastatina, a dose
mais elevada aprovada para reduzir os níveis de colesterol, seja reduzida devido ao risco de lesão muscular.
Conforme o FDA , esta dose só deve permanecer para pacientes que estiverem em uso do medicamento de 80mg
por 12 meses ou mais sem apresentar efeito da doença (lesão muscular). A agência recomenda que os médicos não
iniciem o tratamento de dislipidemias em seus pacientes com apresentações de 80 mg do medicamento.
A Agência informa que, na identificação de pacientes em uso de 40 mg de Sinvastatina, apresentando ainda níveis de
colesterol elevados, o profissional deve procurar uma estatina diferente para substituir o fármaco, evitando elevar a
dose de Sinvastatina.
Todas as estatinas, apesar de seu benefício comprovado na redução do risco de ataques cardíacos e derrames,
apresentam algum risco de uma lesão chamada miopatia, que caracteriza-se por fraqueza muscular ou dor
inexplicável. No entanto, o risco é maior para os pacientes submetidos a 80 mg de sinvastatina, especialmente no
primeiro ano de tratamento. A lesão muscular é muitas vezes causada por interações com outros medicamentos. Um
fator adicional consiste no fato de que algumas pessoas são geneticamente predispostas a apresentar miopatia com o
uso de Sinvastatina.
O FDA revisou os rótulos de medicamentos contendo sinvastatina para incluir as novas restrições e também para
incluir recomendações de dose quando estes medicamentos são usados com outros fármacos o que poderia
aumentar os níveis de sinvastatina no corpo, aumentando assim o risco de miopatia.
Salienta-se que a dose de 80mg de Sinvastatina tem-se mostrado apenas 6% mais eficaz do que a dose de 40mg na
redução dos níveis de colesterol. Além da duplicação da dose não ser duas vezes mais eficaz, aumenta a chance de
ocorrer uma forma rara de miopatia, chamada rabdomiólise, que pode levar a insuficiência renal e também a morte.
Os profissionais da saúde devem ficar alertas caso pacientes apresentem:
• dor muscular, sensibilidade ou fraqueza
• urina escura ou vermelha
• fadiga inexplicável
Durante o próximo ano, a agência vai monitorar dados para determinar se as mudanças na rotulagem são bem
sucedidas no sentido de limitar o uso de 80 mg de sinvastatina.
As novas recomendações do FDA são baseadas na revisão do estudo Study of the Effectiveness of Additional
Reductions in Cholesterol and Homocysteine (SEARCH) e na análise de dados da agência, de 2010, sobre o uso de
sinvastatina e o aumento do risco de danos musculares.
Fonte: Food and Drug Administration (FDA)
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HSL: [email protected]
REAÇÃO ADVERSA A MEDICAMENTO
MIOPATIA POR SINVASTATINA
Caso clínico:
Paciente do sexo masculino, 79 anos, é internado no HSL no dia 25/04/11 apresentando desorientação há 3 dias com piora
progressiva; há uma semana parou de deambular. Internado para investigação da desorientação. Histórico: paciente com
câncer de próstata, TVPs prévios (trombose venosa profunda), incontinência urinária, perda da deambulação, desorientação.
Em casa fazia uso de Pravastatina, Losartana, Androcur (acetato de ciproterona). O paciente não se adaptou à Pravastatina o
qual foi substituído por Sinvastatina 20 mg 2cp dia. Na internação recebeu a seguinte prescrição: Sinvastatina 20mg 1 cp
noite VO, Varfarina 5mg 1cp tarde VO, Hidroclorotiazida 50mg 2cp dia VO, Acetato de Ciproterona 50mg 2 cp dia VO,
Zolpidem 10mg 1 cp noite VO, Risperidona 2mg ½ cp dia VO, Diazepam 5mg 8/8h EV (SN), Tiamina 5000 1 amp manhã IM,
Captopril 25mg 1 cp VO (SN), Omeprazol 20mg 1cp antes do café VO, Metoprolol 100mg 1cp 2x dia VO, Valsartan 80mg ½ cp
manhã VO. No dia 26/04, a Farmácia Clínica informa sobre interação medicamentosa entre Sinvastatina X Varfarina a qual
pode aumentar o risco de sangramento e também miopatia ou rabdomiólise. A Farmacêutica sugeri então monitorar CK. No
dia 27/04, o exame laboratorial revela CK de 4027 U/L, muito acima dos níveis normais. A Farmacêutica então conversa com
familiares do paciente que relatam fraqueza e dor nas pernas como queixas do paciente. No dia 29/04, é suspenso
Sinvastatina, em 01/05 CK apresentou-se 1239 U/L.
Discussão:
As estatinas são fármacos utilizados no tratamento das Dislipidemias e também na prevenção primária ou secundária de
Cardiopatia isquêmica. Mecanismo de Ação: inibidor da hidroxi-metil-glutaril coenzima A redutase (HMG coA redutase). A
Sinvastatina é atualmente um dos fármacos hipolipemiantes mais usados, devido à sua tolerância, benefício e baixo custo.
Reações adversas: As complicações mais importantes e indesejáveis são a elevação das enzimas hepáticas, miopatia e em
casos mais graves rabdomiólise - evento em que há necrose muscular com liberação de constituintes musculares na
circulação - mioglobinúria e insuficiência renal aguda. No geral, as estatinas estão relacionadas a um risco de miopatia que
pode progredir para rabdomiólise fatal ou não fatal. O seu diagnóstico baseia-se no aumento das enzimas musculares, como
a Creatinoquinase (CK), usualmente para mais de dez vezes o valor superior da normalidade (valores de referência para
adultos: homens 55 a 170 U/L; mulheres 30 a 135 U/L). A incidência está relacionada com a dose e o uso concomitante de
agentes que compartilham a mesma via metabólica das estatinas, por exemplo, o uso concomitante de sinvastatina e
amiodarona.
Como recomendação de uso, deve-se iniciar o tratamento com baixas doses, principalmente em idosos, bem como evitar
interações medicamentosas, dois fatores importantes para minimizar o risco de miopatias. A insuficiência renal aguda é a
mais grave complicação da rabdomiólise e a principal causa de óbito. O reconhecimento e tratamento precoce podem
prevenir a progressão da doença.
Concluiu-se que as estatinas são fármacos seguros e o benefício do seu uso supera os riscos. As complicações existem, mas
não são frequentes. Os pacientes devem ser alertados sobre as possíveis reações adversas. Torna-se importante a
identificação de pacientes com fatores de risco que predisponham a miotoxicidade, antes de começar o tratamento com as
estatinas, como também o uso prolongado de álcool ou utilização durante procedimentos cirúrgicos.
Precauções
• Usar com cuidado nos casos de:
–– uso concomitante com amiodarona ou verapamil (a dose de sinvastatina não deve exceder a 20 mg/dia).
–– uso concomitante com diltiazem (a dose de sinvastatina não deve exceder a 40 mg/dia).
• Causas secundárias de hiperlipidemias devem ser afastadas antes de iniciar o tratamento.
• Monitorar a função hepática periodicamente.
• Monitorar a função renal periodicamente.
• Monitorar níveis de CK; suspender o uso de sinvastatina se ocorrer aumento significativo dos níveis desta enzima.
• Monitorar lipídios séricos apos 4 semanas do inicio do tratamento, e periodicamente com o uso prolongado.
Orientações aos pacientes
• Orientar para a importância de comunicar ao perceber qualquer sinal de efeito adverso.
• Alertar para não consumir bebidas alcoólicas durante terapia com sinvastatina.
• Informar que a sinvastatina deve ser administrada à noite.
• Em caso de esquecimento de uma dose, usar assim que lembrar. Se estiver perto do horário da próxima dose, omitir a dose
anterior, esperar e usar no horário correto. Nunca usar duas doses juntas.
Referências:
- MAGALHÃES, MEC. Mecanismos de rabdomiólise com as estatinas. Arq. Bras. Cardiol, São Paulo, v. 85, suppl. 5, Oct. 2005.
- GAMA, Mirnaluci P. Ribeiro et al . Rabdomiólise devido ao uso de estatina em altas doses: relato de caso. Arq Bras Endocrinol Metab, São
Paulo, v. 49, n. 4, Aug. 2005 .
- FORTI, Neusa; DIAMENT, Jayme. Efeitos indesejáveis dos hipolipemiantes: condutas na prática clínica. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v.
54, n. 4, Aug. 2008 .
- Formulário terapêutico nacional 2010
Expediente
Camila Treges – Bolsista Pró-Saúde PUCRS , Kamyla Vieira – Bolsista Pró-Saúde PUCRS, Ana Paula Sperb – Bolsista Pró–Saúde PUCRS
Farm. Marizete Balen; Farm. Mayara Delwing – Farmacovigilância HSL
Profa. Dr. Ana Ligia Bender ; Prof. Dr. Flávia Thiesen ; Profa. Dr. Fernanda B. Morrone (coordenadora) - Faculdade de Farmácia PUCRS
Profa. Dr. Karen Loureiro Weigert - Faculdade de Odontologia PUCRS
Profa. Dr. Maria Helena Itaqui Lopes - Faculdade de Medicina PUCRS
Profa. Dr. Rosane Salvi – Faculdade de Biociências PUCRS
Prof. Dr Andreia Gustavo – Faculdade de Enfermagem PUCRS
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Edição nº 6