A PRODUÇÃO LITERÁRIA PARA CRIANÇAS EM SANTA CATARINA: EXPERIÊNCIA NARRATIVA COM O LIVRO PACOTE QUE TAVA NO POTE, DE ELOÍ BOCHECO Simone Cristiane Silveira Cintra (UFSC) [email protected] Eliane Santana Dias Debus (UFSC) [email protected] Introdução Este texto apresenta e traz à discussão aspectos de uma atividade realizada com a produção literária para crianças produzida em Santa Catarina: a contação da história O pacote que tava no pote, de Eloí Bocheco. Com esta história, a autora catarinense abre a série1 de quatro volumes com as aventuras da bruxinha Elisa no Ribeirão do Araçá e na imaginação do leitor. O pacote que tava no pote foi contada por estudantes que integram o Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob a orientação da professora Simone Cintra e acompanhamento da professora Eliane Debus, para um grupo de crianças do 2º ano do Ensino Fundamental e outro do 4º ano do Ensino Fundamental, da Escola Municipal Desdobrada Adotiva Liberato Valentim, localizada no Bairro Costeira do Pirajubaé, Florianópolis (SC). Antes de adentrarmos na reflexão propriamente com a experiência realizada com o livro de Eloí Bocheco se faz necessário descrever os outros projetos de pesquisa e extensão aos quais o referido trabalho está estreitamente vinculado. Iniciamos no ano de 2011 o projeto de extensão A produção literária para crianças e jovens em Santa Catarina: dialogando com o projeto “Clube da leitura: a gente catarinense em foco” (Pro-extensão/UFSC/2011); o projeto de pesquisa A produção literária para crianças e jovens em Santa Catarina: 1 Nesta série encontramos, além do título citado, Contra feitiço, feitiço e meio (2006); A chave que o vaga-lume alumiou (2006) e Gaitinha tocou, bicharada dançou (2008), todos ilustrados por Mari Ines Piekas, que encanta o leitor com o jogo de cores e o diálogo entre narrativa e imagem. escritores, ilustradores e seus livros (Funpesquisa/UFSC/2011) e a pesquisa de pós-doutorado Teatro, Literatura para a Infância e Prática Educativa: diálogo entre fazeres2. O projeto de extensão teve como objetivo a formação continuada dos professores e bibliotecários da Rede Municipal de ensino de Florianópolis vinculados ao projeto Clube da Leitura: A gente catarinense em foco, participaram da formação 12 professoras, 1 supervisora, 5 bibliotecárias e 1 auxiliar de bibliotecária; contemplando 9 escolas de diferentes regiões do município. Um dos objetivos fundamentais do projeto consistia em fornecer aos mediadores da leitura no espaço escolar um conhecimento ampliado sobre a produção literária de nosso estado, possibilitando a aproximação com os escritores, ilustradores e seus títulos. Em 2011, o projeto estava na sua terceira edição e participamos da formação dos profissionais envolvidos, em particular na fundamentação teórica da Literatura Infantil e Juvenil em Santa Catarina, e também quanto às perspectivas de trabalhos com as obras do acervo do Clube. Participando efetivamente de todas as etapas do Clube da Leitura, colaboramos na leitura e seleção de títulos de escritores de Santa Catarina; no trabalho com os livros selecionados – realizando vivências expressivas e reflexivas sobre as práticas de fruição, criação e reflexão que as professoras e bibliotecárias iriam desenvolver junto ao seu grupo de crianças ou de adolescentes –, bem como na promoção da visita de escritores às escolas. Dos escritores selecionados pelo grupo de professoras e bibliotecárias a ser trabalhado com os estudantes e que compunha o acervo disponível para o projeto estava o livro de Eloí Bocheco O pacote que tava no pote. Com o objetivo de subsidiar o trabalho do grupo de educadores, realizamos uma biografia da escritora e a resenha do livro. Na interlocução com o projeto de pesquisa A produção literária para crianças e jovens em Santa Catarina: escritores, ilustradores e seus livros que buscava mapear a produção literária que de Santa Catarina debruçamo-nos sobre a produção literária de Eloí Bocheco realizando a resenha de seus outros títulos. Por outro lado, e integrado aos demais projetos, a professora Simone Cintra incorporou a experiência com o livro O pacote que tava no pote às ações de formação que integram sua pesquisa de pós-doutorado e que buscam articular a literatura e o teatro. Esta experiência foi vivenciada por estudantes do Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de Pedagogia da UFSC e consistiu na preparação e contação da história de Eloí Bocheco. 2 Desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pela Profa. Dra. Simone Cristiane Silveira Cintra, sob a supervisão da Profa. Dra. Eliane Santana Dias Debus, com apoio do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Desta forma, retornamos ao projeto de extensão, levando a história para ser contada, pelas estudantes de Pedagogia, à Escola Municipal Desdobrada Adotiva Liberato Valentim, na qual estavam sendo realizadas diferentes atividades com o livro de Eloí e que recebeu a visita da autora durante a atividade de fechamento do trabalho realizado junto ao projeto Clube da Leitura: A gente catarinense em foco. Além da contação da história, acompanhamos o trabalho com o livro de Eloí desenvolvido pela bibliotecária e pela professora do 4º Ano do Ensino Fundamental, período matutino, da Escola Básica Municipal Adotiva Liberato Valentim. Nessa etapa, as contribuições junto à bibliotecária e professora se deram tanto na exploração da história como no acompanhamento da visita da escritora à escola. Acompanhamos, também, as estudantes de Pedagogia à escola nas duas vezes em que a história foi contada, podendo, assim, participar da efetivação do processo vivido na universidade por meio das atividades de elaboração da forma de contar. A história foi contada em dois momentos distintos: primeiramente para um grupo de crianças do 2º ano, no dia 15 de setembro e, depois, na ocasião da visita da autora à escola, com a participação das crianças do 4º ano, no dia 04 de outubro3. Socializamos, aqui, imagens fotográficas destes momentos: Livros de Eloí Bocheco que compõe o acervo do Clube da Leitura Fonte: acervo da pesquisa 3 No dia 04 de outubro, a aluna Aline Cavalheiro acompanhou, pela manhã, a visita da escritora Eloí Bocheco, com alunos de 4º ano. No período da tarde, tivemos a colaboração de Rafaella Machado, orientanda de mestrado (Programa de Pós - Graduação em Educação) da Professora Doutora Eliane Debus, que fez os registros com fotos. A história sendo contada para crianças do 2º ano Fonte: acervo da pesquisa A história sendo contada para crianças do 4º ano, no dia da visita de Eloí Bocheco à escola Fonte: acervo da pesquisa I. A experiência com o livro O pacote que tava no pote: objetivos e pressupostos teóricos A experiência com o livro O pacote que tava no pote foi incorporada às ações formativas e investigativas da pesquisa de pós-doutorado Teatro, Literatura para a Infância e Prática Educativa: diálogo entre fazeres a partir da possibilidade de integração entre projetos explicitada acima. Esta pesquisa, desenvolvida desde agosto de 2011, configura-se como uma proposta de formação e de investigação ao prever a realização de práticas de formação inicial de educadores e a investigação do processo formativo desenvolvido. Tem a formação artística e cultural do educador da infância4, assim como, as inter-relações entre esta e a construção de práticas educativas, como tema e foco do trabalho desenvolvido em ambas as ações. A dimensão formativa da pesquisa engloba a atuação da pesquisadora em disciplinas e em atividades de formação complementar do curso de Pedagogia da UFSC. Essa atuação iniciou-se por meio de elaboração e coordenação de atividades de expressão teatral e fruição literária, objetivando a experimentação e a integração de elementos dessas linguagens artísticas, assim como, a criação de cenas teatrais inspiradas em textos da literatura produzida para a infância. Entretanto, a experiência com o livro O pacote que tava no pote ampliou a atuação docente da pesquisadora, incorporando à mesma a realização, junto às estudantes de Pedagogia, de práticas de mediação da leitura literária. A dimensão investigativa tem contemplado as seguintes ações: 1. Estudos bibliográficos sobre linguagem teatral, literatura e infância, interfaces da arte com a formação de educadores e no âmbito da Pedagogia da Infância; 2. Análise dos dados, construídos durante as ações de formação, objetivando identificar as potencialidades formativas das experiências, de fruição e criação artística, vividas pelas estudantes e estabelecer relações entre as potencialidades identificadas com os saberes fundamentais à construção da prática do educador da infância. II. A experiência com o livro O pacote que tava no pote: descrição e análise Iniciamos o trabalho com as estudantes propondo a leitura dos livros: Contra Feitiço Feitiço e Meio e O pacote que tava do pote, de Eloí Bocheco, ambos lidos pelos alunos da Escola Básica Municipal Adotiva Liberato Valentim. Após a leitura, passamos a pensar em 4 Usamos o termo educador da infância para referirmo-nos aos professores da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. A opção por essa nomenclatura fundamenta-se em estudos e pesquisas, realizados no âmbito da Pedagogia da Infância, dedicados à educação das crianças nas creches, pré-escolas e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental. Esta Pedagogia, compreendida como campo específico na área da Educação, busca pela “articulação de campos teóricos que permitam captar o conjunto de aspectos envolvidos no processo educativo (social, familiar, cultural, psicológico, biológico etc.), no sentido de compreender as crianças e sua infância” (ROCHA, 2011, p.374). como contar as aventuras da Bruxinha Elisa. O grupo, formado por seis estudantes, escolheu o livro O pacote que tava do pote, identificando-se mais com a história e seus personagens. Nosso principal objetivo ao coordenar as atividades, junto ao processo de elaboração da forma de contar, estava centrado na possibilidade de que todas as estudantes pudessem constituir-se contadoras daquela história. Consideramos, também, a preocupação do grupo em não conseguir contar a história sem o livro, uma vez que a mesma é extensa e a experiência com de contação era inédita para todas. Passamos, então, a debater sobre nossas (im)possibilidades e ideias foram surgindo, sendo testadas, transformadas, deixadas de lado ou aderidas até chegarmos à forma final e iniciarmos os ensaios que ocorrem durante 4 encontros, com 1 hora e 30 minutos de duração. Partilhamos, abaixo, alguns dos registros fotográficos5, produzidos durante uma apresentação ocorrida dentro da universidade para um grupo de estudantes que participava de outra ação formativa da pesquisa de pós-doutorado, na intenção de melhor compreensão da forma de contar a história por nós criada. Narradora e Bruxinha Elisa Fonte: acervo da pesquisa A 1ª contadora inicia a história apresentando o livro e a “Bruxinha Elisa”, que é representada pela 2ª contadora e assim se caracteriza com o uso de um único adereço, seu 5 O projeto da pesquisa de pós-doutorado, focado neste texto, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CPSH) da UFSC, sendo autorizada pelas estudantes, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), a reprodução dos registros fotográficos em trabalhos de cunho acadêmico e científico. chapéu de bruxa. A 1ª contadora – responsável por todas as partes narrativas da história – ora lê, ora conta, mantendo o objeto livro sempre presente. Bruxinha e Andorinha Lica Fonte: acervo da pesquisa A 2ª contadora é responsável por dizer as falas da bruxinha e dialogar com os demais personagens que, posicionados em meio à plateia, ajudam-na a desvendar o mistério do “pacote que tava no pote”. A Rainha das Borboletas Fonte: acervo da pesquisa O Grupo de Contadoras Fonte: acervo da pesquisa Para refletirmos sobre como o processo que envolveu a experiência com o livro de Eloí Bocheco foi vivenciado e significado pelas estudantes, solicitamos que escrevessem sobre a experiência norteando-se pelas seguintes questões: 1. Como foi para você vivenciar a criação, os ensaios e a contação da história O pacote que tava do pote, de Eloí Bocheco, para as crianças? 2. Quais aprendizados, condutas, valores etc. você pode vivenciar durante cada etapa do processo (criação, ensaios e experiências com a contação)? Retiramos desta escrita trechos que pareceu-nos trazer indícios da relação entre o experienciado e o processo de formação artístico-cultural das futuras educadoras da infância. Indícios que nos auxiliaram na reflexão pretendida pela pesquisa e aqui considerada a partir da experiência de mediação da leitura literária com crianças. Socializamos, abaixo, os trechos selecionados, cada um deles retirado de escritas produzidas por diferentes estudantes6: Trecho 1: Percebi que temos um corpo que fala, que expressa emoções e se comunica com os outros. Trecho 2: Rompi barreiras internas e superei, em parte, grandes medos (timidez, autoconfiança). Na escola, foi uma experiência surpreendente: maravilhosa, aconchegante, mágica. 6 A reprodução da produção escrita das participantes da pesquisa foi por elas autorizada, mediante assinatura do (TCLE), no entanto, optamos em não nomear os trechos citados por entendermos que essa identificação não é necessária à reflexão aqui pretendida. Trecho 3: A apresentação foi a melhor parte, é certo que o nervosismo e o frio na barriga comparecem nesta hora, mas o prazer de ter contato com as crianças e a autora supera tais sintomas e faz todo o processo tornar-se inesquecível e rico em aprendizagem. Trecho 4: Aprendemos as técnicas básicas de expressão, de compreender uma história e poder transmiti-la com emoção, mas sem perder a sua essência. Os ensaios foram intensos, diversificados, foram feitos muitos ajustes em nossa maneira de atuar. Foi de grande importância para nossa carreira acadêmica e para nossa bagagem cultural e literária (reflexão realizada por duas das estudantes, de forma conjunta). Trecho 5: Foi uma experiência muito enriquecedora para minha formação, já que permitiu lidar com outra linguagem, no caso com o teatro, e perceber que temos um corpo que fala, que expressa emoções e se comunica com os outros. Ao longo da nossa formação o corpo, o teatro, e as artes de modo geral não são trabalhados com profundidade, ainda não alcançou um espaço relevante e valorizado na nossa profissão. Retomando os objetivos da pesquisa – que consistem em identificar as potencialidades formativas das experiências, de fruição e criação artística, vividas pelas estudantes e em estabelecer relações entre as potencialidades identificadas e os saberes fundamentais à construção da prática do educador da infância – é possível, junto aos trechos citados acima, indicarmos que a experiência aqui analisada compreendeu etapas distintas e significativas ao processo de formação artístico-cultural das futuras educadoras da infância. Etapas que consistiram na fruição da obra; criação da forma de contar (escolha das personagens; adereços e objetos; trechos ditos ou lidos; entonações e gesticulações), nos ensaios e na contação para dois diferentes públicos. Podemos, também, indicar que a experiência, em seu todo, possibilitou às estudantes a experimentação de diferentes linguagens, potencializando, assim, a vivência e a construção de aprendizados acerca das possibilidades da arte, em especial da literatura e de práticas da medicação da leitura literária, junto a elementos da linguagem teatral, em contextos educativos vividos com e entre adultos e crianças. Uma experiência, na qual a literatura de Eloi Bocheco mediou o encontro das futuras educadoras da infância com as crianças da Escola Básica Municipal Adotiva Liberato Valentim. Um encontro que agiu como potencializador do processo de formação artístico-cultural de todos os que dele participaram: crianças, estudantes de Pedagogia, professoras, membros da comunidade que também estiveram presentes e a própria escritora. Discussões sobre a formação artístico-cultural do professor e ações que possibilitam o acesso de professores ao conhecimento, obras e processos artísticos têm feito parte, ainda que de forma muito tímida, de estudos e práticas de formação docente. Estas discussões e ações têm ocorrido, também, em atividades dentro das escolas e demais instituições educativas, visando à incorporação da arte ao cotidiano compartilhado por adultos e crianças, tanto nas instituições de Educação Infantil, como nas escolas de Ensino Fundamental, pois, como sintetiza Nogueira (2010), como formador de futuros cidadãos, o professor, antes de tudo, precisa estar conectado com o mundo da cultura, cultura essa entendida como patrimônio de todos. É inerente ao seu ofício fazer as mediações necessárias para que seu aluno possa tomar posse de todo esse patrimônio. Contudo, se ele mesmo não possui os instrumentos de análise necessários para esse fruir mais aprofundado, como estimular esse processo em seus alunos? Daí a necessidade de investimentos vigorosos nessa direção (p.11-12). No tocante à formação do educador da infância, podemos incluir outra preocupação às apontadas pela autora: a necessidade do educador (re)conectar-se com suas dimensões e possibilidades criadoras e poéticas, uma vez que a criança da educação infantil, em especial, mas, também a dos anos iniciais, tem os seus modos de pensar, agir e sentir mediados por necessidades e possibilidades muito próximas das que norteiam o fazer artístico: o desprendimento lógico-racional; a intimidade com a brincadeira, com a invenção e a fantasia; a possibilidade de dizer de si e do mundo por meio da poesia, das cores, dos gestos [...] (CINTRA, 2011, p.22). A proximidade da infância com arte ou o modo de ser da arte tem sido estuda por diferentes autores. Como escreveu Luciana Loponte (2008), a partir de uma frase do filósofo francês e Gilles Deleuze, [...] de algum modo, de alguma forma, a arte diz, pinta, canta, dança, imagina, fantasia o que dizem as crianças. Ou melhor, poderíamos dizer que o modo com o qual a arte diz coisas sobre a vida e o mundo tem a ver com o modo com o qual as crianças dizem, com que interpretam esse mesmo mundo (p.112). Portanto, quanto mais possibilidades os educadores, em formação inicial e continuada, tiverem para conviver com a arte, maior tornam-se suas referências para compreender os processos que constituem as linguagens infantis e os modos que as crianças dispõem para acolherem e produzirem cultura (DEBUS, 2006). Considerações Finais Assim como as demais ações de investigação por nós realizada junto à pesquisa aqui focada, a análise e reflexão das atividades de fruição, de criação e de mediação da leitura literária junto às crianças vividas pelas estudantes de Pedagogia, resultaram na construção de modos de pensar e organizar experiências de formação inicial de educadores da infância. Experiências que primem por subsidiar processos de construção de saberes e fazeres relativos às práticas educativas desses educadores, principalmente, aqueles relacionados à mediação literária, à valorização e expressão das diferentes linguagens e a ampliação dos repertórios vivenciais e culturais da criança, objetivando o seu processo de desenvolvimento e aprendizagem. Considerando que as experiências formativas e investigavas, discutidas neste texto, pautaram-se, de forma mais efetiva, em atividades com as linguagens da literatura, e também do teatro quando da criação da forma de contar a história para as crianças, nossas reflexões apontam a impossibilidade de pensarmos a mediação do educador junto ao encontro da criança com a literatura sem considerar a carência de experiências estéticas e artísticas que predomina a vida e a formação dos mesmos. Assim como ocorre com outras linguagens artísticas, a distância entre os educadores e a literatura é também recorrente. Nosso trabalho com as alunas do curso de Pedagogia da UFSC têm evidenciado o quanto a falta de familiaridade em relação às linguagens da arte ainda se faz presente na maioria das experiências cotidianas das futuras educadoras, incluindo as experiências vividas nos espaços da educação acadêmica. Neste sentindo, a incorporação da experiência com o livro O pacote que tava no pote às ações de formação que integram a pesquisa de pósdoutorado obteve resultados amplamente favoráveis. Esta incorporação ampliou as práticas de fruição e de criação artística oferecidas aos que irão dedicar-se à educação das crianças, potencializando o encontro das estudantes com a literatura produzida para a infância, assim como, suas possibilidades de oferecer e mediar o encontro de seus futuros alunos com esta literatura. A realização e análise desta atividade, junto aos projetos de extensão e pesquisa aos quais está vinculada, foram também responsáveis pela inclusão de uma nova ação formativa no plano de trabalho do período de renovação da pesquisa de pós-doutorado Teatro, Literatura para a Infância e Prática Educativa: diálogo entre fazeres. Trata-se da criação de um grupo – sob nossa orientação e formado pelas estudantes do PET Pedagogia e demais estudantes do curso – com a tarefa de intensificar a criação e experimentação de práticas de mediação da leitura literária com crianças em escolas e demais instituições educativas, na intenção de promover mais encontros, entre as(os) estudantes e as crianças, por meio da literatura e das demais linguagens contempladas por essas práticas de mediação. Referências BOCHECO, Eloí. O pacote que tava no pote. Il. Mari Ines Piekas. São Paulo: Paulinas,2003. _____. Contra feitiço, feitiço e meio. Il. Mari Ines Piekas. São Paulo: Paulinas, 2006. _____. A chave que o vaga-lume alumiou. Il. Mari Ines Piekas. São Paulo: Paulinas, 2006. _____. Gaitinha tocou, bicharada dançou. Il. Mari Ines Piekas. São Paulo: Paulinas 2008. CINTRA, Simone C. S. Experiências com a linguagem teatral na formação do educador da Infância. In: Anais do VII Colóquio sobre o ensino de Arte – AAESC. Florianópolis, SC, 2011. p.13-24. Disponível em: < http://sistemas.virtual.udesc.br/cursos/encontro_anais/>. Acesso em 09/09/2012. DEBUS, Eliane. Festaria de brincança: a leitura literária na Educação Infantil. São Paulo: Paulus, 2006. LOPONTE, Luciana Gruppelli . Arte e metáforas contemporâneas para pensar infância e educação. Revista Brasileira de Educação, v. 13, p. 112-122, 2008. NOGUEIRA, Monique Andries Formação cultural: questões teóricas. In: Salto para o Futuro: Formação cultural de professores, Rio de Janeiro, p. 8 - 13, 17 jun. 2010. Disponível em < http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/10343907-formacaocultural.pdf>. Acesso em 09/09/2012. ROCHA, Eloísa Candal. Educação e Infância: trajetórias de pesquisa e implicações pedagógicas. In: ROCHA, Eloísa Candal; KRAMER, Sonia (Org). Educação Infantil: enfoques em diálogo. Campinas, SP: Papirus. 2011, p.367-384.