APRENDIZAGEM DA DOCÊNCIA: UMA ATIVIDADE DISTRIBUÍDA EM UM
CURSO NA MODALIDADE RESIDÊNCIA HOSPITALAR
COVIC, Amalia Neide – UNIFESP
[email protected]
Eixo Temático: Didática: Pedagogia hospitalar
Agência Financiadora: PETROBRAS
Resumo
O presente trabalho é fruto de estudos, análises e discussões realizadas durante o primeiro
mês de implementação do curso de formação de professores para o atendimento escolar
hospitalar. O curso tem duração de dois anos, com 40 horas semanais, sendo que as aulas são
teóricas e práticas supervisionadas. Os alunos residentes são recém formados nas diferentes
licenciaturas da educação básica e recebem bolsa de estudo para a formação. O cenário de
atendimento ao aluno é o Instituto de Oncologia Pediátrica - Grupo de Apoio ao Adolescente
e à Criança com Câncer/Universidade Federal de São Paulo. A pesquisa apresenta como
principal objetivo a criação de hipóteses formativas relacionadas à aprendizagem da docência
em um curso de especialização na modalidade residência. A temática traz no seu bojo a
reflexão da ação docente e, para tal, trabalhou-se com três esferas: Cultura, Sociedade e
Pessoalidade. Como recurso metodológico utilizou-se os pressupostos da Teoria
Fundamentada nos Dados (Grounded Theory). Em relação à literatura, preferencialmente os
autores escolhidos são da vertente Crítica e posteriores a ela. Empregou-se para a construção
de dados a transcrição das fitas de gravação de reuniões de supervisão. As análises, mesmo
que preliminares, apontam como hipótese a necessidade do uso de ações discursivas,
enquanto elemento de formação. Estas ações criam laços de cooperação entre os elementos do
grupo com vistas à emancipação, e propiciam a reflexão da própria prática e o encurtamento
entre teoria e prática. Ainda mais, as situações vividas durante os relatos de atendimentos
podem ser vistas como uma fonte importante de conteúdo formativo, quando abordadas e
refletidas, em grupo, no local da ação.
Palavras-chave: Aprendizagem da Docência. Aluno Gravemente Enfermo. Atendimento
Escolar Hospitalar. Curso de Especialização Modalidade Residência.
Introdução
Quando nos debruçamos sobre os títulos que abordam as concepções de formação de
professores, mais especificamente a aprendizagem da docência, constantemente a evidência se
dá na reflexibilidade dos professores. Argumenta-se que a concepção de racionalidade da ação
docente exige um exame mais aprofundado à luz da investigação empírica, com foco na
tomada de decisão pedagógica, na qual os professores ao provocarem um encurtamento entre
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teoria e prática, buscam emancipar-se de práticas próximas ao agir e ao pensar instrumentalcognitivo (ZEICHNER, 1993; IMBERNÓN, 2002; SACRISTÁN, 2002).
Cabe aqui situarmos rumos, mesmo que parciais, de nossa escolha epistemológica e
ainda, algumas inquietações formativas apoiadas em projetos compartilhados com a
instituição à qual pertencemos e assumidas individualmente.
As ideias acima esboçadas procuram abrir espaço para a discussão sobre
procedimentos argumentativos e normativos, enunciados pelos professores em reuniões
formativas. Essas enunciações compreendidas como esquemas interpretativos que perseguem
o consenso, orientam o que entendemos como reflexibilidade. Falamos de uma racionalidade
comunicativa, desse modo a reflexão é histórica e, ao mesmo tempo em que parte da realidade
social, é capaz de criticá-la. Com esse poder de crítica a reflexão tem um caráter
transcendental fraco, que por sua vez permite tanto o conhecimento do mundo, como a sua
reconstrução, nas dimensões sociais e intersubjetivas (HABERMAS, 2002).
O desenho da pesquisa com base nos atos comunicativos possibilita a distinção de
diferentes dimensões da realidade e a adoção de uma reflexão crítica sobre elas, com isto os
atos comunicativos do cotidiano podem receber acréscimos de saberes partilhados na
comunidade científica (SANTOS, 2003; IMBERNÓN, 2002).
De tal modo, a vertente de reflexão aplicada a este estudo é dos críticos e daqueles
posteriores a eles. Vem daí a preocupação com a emancipação da lógica do pensamento
instrumental em prol da lógica das estruturas complexas. Buscamos com isso um espaço de
complementaridade em Educação e Saúde. Com esse contorno de pesquisa as análises das
ações são de teor habermasiano, almeja-se assim, formular os problemas adequadamente
(IMBERNÓN, 2002; HABERMAS, 2003).
Temos atenção também, com o que nos rodeia e com o espaço multiprofissional que
ocupamos na Educação e Saúde. A fim de considerar tal preocupação formativa, procuramos
nos apropriar de diferentes tradições de pensamento, com elas discutir e, propor um conteúdo
formativo, para esse grupo de professores, que contemple as necessidades e as possibilidades
do processo de escolarização de crianças gravemente enfermas (COVIC, 2008; COVIC &
OLIVEIRA, 2011).
A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) é a Universidade que acolhe o curso
de especialização na modalidade residência. Por estar em consonância com as necessidades
formativas do grupo de professores que atendem ao grupo de pacientes neoplásicos do
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Instituto de Oncologia Pediátrica – Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com
Câncer/Unifesp ofereceu alternativas viáveis para que o mesmo fosse realizado.
Cabe ainda a colocação, que o curso de especialização tem carga horária total de 3840
horas distribuídas em dois anos. No primeiro ano os alunos são considerados “Residentes 1
(R1)” e no segundo ano “ Residentes 2 (R2)”. O curso possui 40 horas semanais e o horário
de aulas teóricas e de práticas supervisionadas são variáveis ao longo dos dois anos. Os alunos
são bolsistas e realizam a supervisão professores Doutores ou Doutorandos designados como:
tutores, supervisores e preceptores.
Em uma parte do curso os Residentes têm aula em conjunto com outros residentes
multiprofissionais da Universidade, em outra, as aulas transcorrem com os residentes da área
da saúde e ainda, existe o componente disciplinar dos conteúdos da Educação.
O tratamento de crianças e adolescentes gravemente enfermos, como no caso do
câncer, cresceu na contemporaneidade em complexidade. (PETRILLI, 2000). Com isso, o
aumento de exigência, em termos de especificidades, dos serviços de suporte
multiprofissional ao paciente.
O regime ambulatorial de hospital-dia, a permanência em casa de apoio/família ou
ainda situações prolongadas de internação na unidade de Transplante de Medula Óssea,
colocam o processo de escolarização dos alunos-pacientes no patamar dos serviços que
exigem dedicação continuada e não setorizada em espaço-tempo escolar. Justifica-se com
isso, tanto a necessidade formativa do curso como a de uma investigação; sendo que este
estudo se configura como suporte, para buscas de evidências que fundamentem um estudo
ampliado.
Situamos, agora, os desafios que os professores residentes vivenciam na construção de
um currículo de acompanhamento escolar aos alunos pacientes neoplásicos.
A educação dos jovens com câncer enfrenta alguns obstáculos, semelhantes àqueles
enfrentados por estudantes com deficiência, ou ainda, crianças cronicamente enfermas. A
doença e seus tratamentos podem causar dificuldades, diretas na aprendizagem, ou outras
indiretas, como as discriminações. As interrupções do ano escolar e o insucesso nas
aprendizagens pesam sobre o futuro dos alunos que realizam tratamento de câncer. A
manutenção da escolaridade contribui não só para evitar a defasagem escolar, mas também,
para consolidar alguns referenciais de identidade como aquele de ser estudante e a saída da
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condição de enfermo. (COVIC, PETRILLI, &KANEMOTO, 2004; LARCOMBE et.al., 1990;
DEASY-SPINETTA, 1993, VANCE & EISER, 2002)
Ao observamos a literatura, a escolarização não é a principal preocupação dos alunos
doentes com câncer ou dos seus familiares no momento do diagnóstico ou início do
tratamento da doença. Todavia, ela aparece logo após as primeiras sessões de quimioterapia;
assim, os professores hospitalares devem assumir junto com os alunos e familiares, esse
primeiro momento do tratamento (COVIC, 2008; ZEBRACK,et.al.,2002; HUDSON, et. al
2003).
A Tabela-1: Tempo de Afastamento Escolar, ilustra o período médio de tratamento
para cada uma das neoplasias, podemos observar que interrupções no ano escolar existirão e
um trabalho de acolhimento escolar a esses alunos pode ser significativo no sentido de
prevenir exclusão dos sistemas de ensino, já que vários estudos mostram uma forte ligação
entre a não conclusão do ensino médio e a presença de efeitos tardios em adultos curados do
câncer durante a infância (COVIC, 2008; ZEBRACK, et.al. 2002; OPPENHEIM, 1996).
Tabela 1 - Tempo de Afastamento Escolar
Tumor
Tempo Médio de Ausência Escolar
Durante o Tratamento
Wilms
Hodgkin
Não Hodgkin
Sistema Nervoso Central
Ewing
Neuroblastoma
Leucemias
Osteossarcoma
Transplante de Medula Óssea
127 dias
150 dias
182 dias
241 dias
245 dias
297 dias
360 dias
536 dias
350 dias
Fonte: Construído a partir dos dados de Cap. III de COVIC, 2008.
Criação de condições de reintegração social é uma das pautas de discussão da
educação e da saúde sugerida para o período de tratamento e pós-tratamento. (FAVROT, et.al.
1992; GREENBERG, et. al.1997; PECKHAM, 1991).
Para os casos mais graves, sem esperança de cura, a proposta dos textos pesquisados é
de uma releitura das ações educacionais, no sentido de que esta forneça significado no
decorrer do processo de prestação de cuidados paliativos, cujo objetivo principal é propiciar
condições dignas de fim da vida. (COVIC & KANEMOTO, 2010)
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Um curso de residência, que pretende alcançar os conteúdos acima referidos, apresenta
um processo de formação em campo de atuação profissional. São parceiros profissionais dos
professores residentes: enfermeiras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, psicólogas,
fonoaudiólogas, fisioterapeutas, nutricionistas. De igual forma, o grupo de professores
também é multidisciplinar, visto que são das diferentes áreas da Educação Básica, entre elas,
Física, Língua Materna e Estrangeira, Sociologia, História.
O curso é composto de três grupos de componentes disciplinares: Teoria Geral,
Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Específico da Teoria Geral. Parte das aulas do curso
ocorre em forma de Teoria Geral. Elas constituem um corpo de reflexão fortemente
disciplinar, composto por diferentes profissionais da Educação e da Saúde. Os docentes do
curso, por vezes, abordam nos conteúdos de aulas componentes específicos, como, por
exemplo, as demandas multiprofissionais do tratamento oncológico do sistema nervoso
central ou, ainda, as necessidades nutricionais dos pacientes anoréxicos.
Nessas aulas de Teoria Geral, além dos temas relacionados às especificidades clínicas
do atendimento à criança e ao adolescente, apresentam-se temas transdisciplinares, como:
concepção de saúde e doença, finitude humana, ética em educação e saúde, métodos de
pesquisa qualitativa e quantitativa. Enfim, apresenta-se um conjunto de conteúdos
disciplinares em condições de interface, o que exige do aluno uma reflexão, de igual modo,
entre fronteiras
As aulas de Desenvolvimento Específico da Teoria Geral, por sua vez, são trabalhadas
por docentes com formação em Educação. Em tal contexto são propostas situações problemas
que partem do cotidiano vivido pelo professor residente em seus atendimentos aos alunos
hospitalares e dos componentes vivenciados nas aulas de Teoria Geral. Assim, a reflexão se
dá pela aproximação entre teoria e prática.
Existe, como exposto, por um lado, um forte componente disciplinar permeando o
curso de residência e, por outro, um processo interdisciplinar que se sustenta nas relações
envolvidas com as ações de escolarização de crianças e adolescentes gravemente enfermos. A
esse respeito, cabe destacar, além das ações, a própria constituição da equipe
multiprofissional, igualmente residente, que atende aos alunos, enquanto pacientes em
tratamento de neoplasias da infância.
A dimensão social deste estudo é reconhecida basicamente em dois espaços. Um deles
é o que temos explicitado, ou seja, o curso de residência em atendimento escolar hospitalar, o
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outro é o do atendimento escolar ao aluno. Em relação a este último, destacamos a Escola
Móvel/Aluno Específico (EMAE), que atende aos pacientes do Instituto de Oncologia
Pediátrica (Iop-Graacc-Unifesp) em suas necessidades educacionais tanto na fase intensiva de
tratamento, como na de acompanhamento fora de tratamento. (COVIC, 2008)
Desde o seu início, a EMAE preocupou-se em consolidar aspectos considerados
indissociáveis: a intervenção pedagógica, a formação dos professores hospitalares, o
atendimento às escolas de origem dos alunos hospitalares e a produção e sistematização de
dados para pesquisa. Dada a fluidez da literatura existente sobre o tema e as disciplinas ainda
incipientes nos cursos universitários de licenciatura, tornou-se evidente a necessidade de um
processo formativo para os professores hospitalares.
Ao iniciarmos o texto falamos que dentro das teorias que envolvem a formação de
professores, interessa-nos a aprendizagem da docência, nos apropriamos dos estudos de
HALL (1997) e HABERMAS (2003), para mencionar a vertente sobre a qual ancoramos a
aprendizagem da docência. Esta se volta para um encurtamento entre o discurso teórico e o
discurso prático e, para tal, incluímos contribuições do tema: senso comum nas suas relações
com os saberes culturalmente estabelecidos como científicos.
O senso comum, pelos estudos de Hall, é resíduo de consensos largamente
socializados que pouco muda com o tempo. Possui conteúdo, saberes, história e por sua
característica natural, de pouca alteração, é reconhecido instantaneamente, assim, prontamente
posto em uso.
Por Habermas, acrescentamos, que esse caráter espontâneo, ideológico e inconsciente
apontado por Hall é um núcleo de autocompreensão que, quando se vê obrigado a prestar
contas, se abre ao participante, e não ao observador. Essa característica do senso comum tem
um caráter antecipatório, que deixado a si mesmo é conservador e pode legitimar ideologias e
resistências a respeito do mundo que cria, mas quando mediado pela ciência, pode estar na
origem de formas de racionalidades.
Ainda por Habermas, as teorias científicas ao se infiltrarem no mundo da reprodução
simbólica, onde circulam fatos objetivos, normas sociais e conteúdos subjetivos; deixam
intacto o âmbito do nosso saber cotidiano. Potencialmente livres das forças controladoras,
grupos podem se encontrar, em espaços onde circulam teorias científicas e, de forma
discursiva, como as reuniões de formação, suspenderem um senso comum hegemônico e
cristalizado, mesmo que temporariamente, alterando seus significados partilhados no grupo.
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Quando aprendemos sobre algo do mundo ou sobre nós mesmos, de forma
intersubjetiva, ou seja, na relação, o conteúdo de nossa compreensão se modifica. Dentro de
um grupo restrito, essa suspensão impacta os indivíduos, promovendo a alteração do senso
comum, com isso, abre espaço para reflexões das ações até então praticadas, com mobilização
de elementos teóricos observados na relação. Chamamos de espaço de aprendizagem, esse ato
de mobilização que ocorre na relação.
Desenvolvimento
Este relato aponta resultados parciais de uma pesquisa que tem como objetivo a
construção de hipóteses formativas relacionadas à aprendizagem da docência em um curso de
especialização na modalidade residência.
A construção de dados parte das gravações de reuniões diárias de supervisão onde são
enunciadas práticas locais de atendimento escolar hospitalar e as repercussões que o curso de
residência provoca nessas práticas. O recorte para esta pesquisa de cunho exploratório se dá
pelo enfoque na reverberação do curso sobre a ação.
Consideramos que essas práticas locais significam a percepção do hospital como um
local de trocas simbólicas, nesse sentido é possível a criação dentro do hospital de
atendimentos escolares descolados das tradicionais salas de aula, com currículos específicos
para cada aluno, sem, entretanto, distanciar-se do caráter escolar que esse acompanhamento
deve ter. (COVIC & OLIVEIRA, 2011; FREITAS, 2009; GEERTZ, 1997 )
O grupo é composto por cinco professores das diferentes áreas da Educação Básica:
Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Linguagem; sendo que o estudo se deu no
primeiro mês do curso.
As reuniões são gravadas e após transcrição seguimos a produção de dados e a análise
pelo método de pesquisa predominantemente qualitativo. A base é dos pressupostos da Teoria
Fundamentada nos Dados (Grounded Theory). Essa teoria tem sua origem na perspectiva
interacionista, assim, a construção do conhecimento se dá a partir da significação que
determinada situação tem na presença do outro. (CHARMAZ, 2000; GLASER, 1978)
A Teoria Fundamentada nos Dados em si, constrói hipóteses sobre um determinado
comportamento humano, pretende assim, conhecer representações da realidade. Tal intento é
sinérgico à proposta habermasiana de compreender a realidade pelo viés da ação
comunicativa.
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Após coleta dos dados empíricos, ou seja, após a transcrição da fita, a construção de
dados decorreu com: leitura flutuante por sobre o texto, abertura de um código para
localização de evidências, posteriormente agruparam-se esses códigos. Categorias foram
eleitas para os agrupamentos, sendo que nesse processo alguns códigos e agrupamentos foram
revistos e reorganizados. Por fim criaram-se hipóteses para a realidade observada.
Para a análise da reflexibilidade que circula nas falas dos professores residentes
trabalharemos com três esferas: Cultura, Sociedade e Pessoalidade. Na construção dos
resultados, para cada uma das esferas em destaque, apontamos a barreira que se apresentou
quando da busca de consenso e também, como o grupo significou o conhecimento posto em
uso. Essa é a expressão da racionalização para a esfera em estudo. (ARENDT, 1981)
Assim ao destacarmos a esfera da Cultura, obtivemos que a reprodução da cultura
hospitalar, no sentido em que Goffman a emprega, alterada agora, pela presença do grupo de
profissionais da Educação, pode ser observada nas enunciações dos professores, quando estes
se percebem como profissionais que praticam com seus alunos uma atividade de vida diária.
Essa atividade aproxima-se da nutricionista e distancia-se da fisioterapeuta, já que a última,
diferente da primeira, necessita de demanda para atender ao paciente. Como barreira na busca
de consenso esteve presente o valor prescrito a determinados serviços de saúde em detrimento
de outros sociais ou educacionais. (GOFFMAN, 2007)
Quanto a Sociedade, chegamos que a integração social fica caracterizada pela
coordenação das ações nas situações vividas durante as reuniões de planejamento, tanto com
os demais professores, como com os demais profissionais. Os residentes percebem-se como
sujeitos capazes de reivindicarem validade para suas condutas. Como barreira, os diferentes
instrumentos de entrevistas de início de atendimento que causam um estado de anomia aos
participantes da pesquisa em função da quantidade de informação que circula nos
atendimentos aos alunos.
Por fim, em relação à Pessoalidade, esta foi significada pela formação de identidade.
Como barreira a ausência de referentes teóricos comuns ao grupo e o sentido que cada
profissional tem sobre o poder de decisão do outro.
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Considerações Finais
Este trabalho busca hipóteses formativas, as considerações finais seguem a estrutura
da apresentação de resultados. Consiste em dissertarmos sobre as esferas da Cultura,
Sociedade e Pessoalidade.
Em relação à esfera da Cultura, a racionalidade do conhecimento se deu em torno da
essência do senso comum partilhado, ou seja, a diferenciação dos saberes. Os pesquisados
percebem que quando há valoração do conhecimento das diferentes áreas do saber, existe
perda de sentido e de legitimidade do papel docente.
Por desconstrução, o grupo questiona a posição que cada serviço multiprofissional
ocupa no atendimento ao paciente. Estabelece uma relação entre os serviços prestados e as
ontologias presentes nesses serviços e, por fim, propõe uma resposta para a demanda
educacional presente no hospital, assume que o serviço escolar faz parte do corpus do
tratamento.
Para a esfera da Sociedade, temos que a racionalidade manifesta-se nos
questionamentos sobre a reprodução de padrões sociais presentes no significado do termo
Escolar. O modelo Escolar partilhado socialmente nas escolas de origem dos alunos
hospitalares e, também, no imaginário que circula socialmente, não prevê, por exemplo,
individualização de percurso. Pelas contradições presentes nas necessidades dos dois espaços
escolares – o hospitalar e o tradicional -, o grupo discute sobre a valoração da reprodução do
caráter Escolar, para a construção de identidade do grupo.
A reflexibilidade se manifesta na construção da categoria solidariedade, assim, as
condutas dos professores se encontram distribuídas na comunidade e, a reciprocidade também
se faz presente. Existe com isso a construção de um tecido social que dá significado de
pertença à comunidade.
Em relação à esfera da Pessoalidade, o processo de ruptura com a tradição cultural
disciplinar, se por um lado tende a perda de motivação, por outro, promove novos
significados em relação a si e ao contexto.
A reflexibilidade se explicita com a abertura para a responsabilidade pessoal na
superação da dicotomia presente na relação sujeito-objeto. O poder normativo presente nessa
relação tem um fraco teor de diferenciação entre o fazer e o ser, a busca de diferenciação,
provoca a autonomia.
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Entre considerações instrumentais, conceituais, relacionadas com a teoria e a realidade
e, também pelo caráter entre fronteiras do estudo, construímos hipóteses que tratam:
• Da dificuldade do estabelecimento de padrões generalizáveis, com isto, a
prática de pesquisa tem que prever tal situação;
• A inclusão de elementos linguístico nos espaços formativos do curso como,
reuniões de supervisão, de discussão de casos e, outras; favorece a criação de
esquemas explicativos e princípios de ações que perseguem a emancipação.
Percebemos nas enunciações dos professores a circulação de uma mistura criativa de
cooperação e concorrência, mas não de especificidades puramente técnicas. Isto revela, neste
primeiro momento da pesquisa, que o grupo de professores residentes busca solução para suas
questões com base no relacionamento e não somente na argumentação de validação das
teorias. Ressaltamos também, que o equilíbrio entre cooperação e concorrência, esteve
presente quando da solução de um problema local e comum ao grupo.
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