TalentosHumanos Humanos Uma visão nada romântica: Fernando “dominando” uma cobra Em 1985, Fábio teve que atravessar um rio nas proximidades de Joinville, SC. A ponte, como mostra a foto, havia sido destruída Trabalho no campo, uma atividade que requer determinação Realizar trabalhos no campo não tem nada de poético como muitos imaginam. Às vezes, envolve perigos e sustos; mas, dificilmente, surpresas, pois os talentosos deste mês, todos do Departamento de Meio Ambiente, são altamente qualificados para as funções que exercem. 24 • maio 2004 • Linha Direta nº 308 “Contemplação da natureza simplesmente não existe”, declara Rodrigo De Filippo. “A visão romântica do nosso trabalho esconde os riscos a que estamos submetidos. Eu olho para a paisagem, não como um amante da natureza, mas como um profissional que verifica sinais de degradação do solo, desmatamentos, erosão, poluição...”, explica. A permanência desses profissionais longe da “civilização” dura cerca de dez dias e não causa nenhum trans- torno como pode parecer. “Na minha área, a biologia, você já é adaptado a isso desde a faculdade. A vocação também é muito importante, pois, se você não consegue superar tais desconfortos, não serve para esse tipo de trabalho. Eu gosto e curto muito o que faço”, revela Fernando Vieira Machado. Fábio Henninger de Araújo faz uma advertência: “se você não se conforma com o novo ambiente, certamente se sentirá agredido. Não se deve ‘importar’ a realidade de onde se vive para outro local”. O que poderia ser um rally para muitos faz parte da rotina pela qual passa o pessoal do Departamento de Meio Ambiente Solicitados a fazerem um pequeno relato sobre as suas experiências durante “esse tal trabalho no campo”, Rodrigo resume: “eu percorro reservatórios num pequeno barco com motor de popa. Chego a ficar seis horas dentro dele, espremido entre equipamentos e caixas de isopor com gelo para a preservação das amostras de água. Durante a construção de Serra da Mesa, tínhamos que alcançar os pontos de amostragem de carro. Em cinco dias rodávamos 3.400 km, 70% do percurso em estradas de chão mal conservadas. Mas me considerei um privilegiado, porque a caixa de isopor me permitia tomar refrigerante gelado com sanduíche de mortadela frio”. Fernando conta que, como trabalha “com a fauna silvestre, existe sempre a sensação de se deparar com um animal peçonhento, mais precisamente com cobras, como jararacas e cascavéis”. Rodrigo lembra que nem por isso “nenhum de nós tem direito a insalubridade e, menos ainda, a periculosidade”. Sandra Martins Verboonen ressalta que “a vida rural tem vantagens, como o silêncio, o cheirinho de mato, a terra molhada, a tranqüilidade, a solidariedade...”. Pela Primeira Vez De que precisam aqueles que estão saindo da cidade pela primeira vez? Unânimes, não titubeiam em afirmar que as principais coisas são a confiança na equipe e a humildade. Sandra avisa que, além de “ouvir os FOTOS A RQUIVOS P ESSOAIS Não tem tempo ruim: Sandra a bordo de um helicóptero durante o estudo do corredor da LT Assis-Araraquara, SP Isso não é papo de pescador: Rodrigo ao lado de um piraíba de 135 kg pescado no rio Tocantins, GO conselhos dos mais experientes”, não se deve desprezar, “aqueles menos graduados, que têm um profundo conhecimento da região. É importante, também, saber reconhecer seus limites e nunca ultrapassá-los sob o risco de colocar toda a equipe em perigo”. Fábio alerta que “sempre se aprende com a nova realidade, o que é um grande ganho cultural. Lá é um outro Brasil, o Brasil rural”. Rodrigo fala que “humildade é fundamental, porque os que moram no campo, têm muito a ensinar”. Fernando aconselha a “procurar conversar com alguém experiente, para que possa tirar as dúvidas e não ir com medo de enfrentar as situações”. Linha Direta nº 308 • maio 2004 • 25