Estudo da Dieta das Suindaras ( Tyto alba): Uma Atividade Cheia de Potencialidades Souza, Daniela P.¹, Azevêdo, Monique, V.², Nascimento, Atos G. S.³ [email protected]¹, [email protected]², [email protected]³ Palavras-chave: Dieta, Tyto alba, pequenos mamíferos. Área Temática: Ensino Médio e Médio Profissionalizante Resumo: O estudo da dieta das suindaras (Tyto alba) é uma atividade experimental com enormes potencialidades pedagógicas. Envolve pesquisa, trabalho de campo, trabalho laboratorial e tratamento e discussão de dados, permitindo aos estudantes, vivenciarem a interdisciplinaridade e a cooperação fazendo ciência. Foram coletadas noventa e oito pelotas completas, além de fragmentos, compreendendo dez espécies. Os pequenos mamíferos foram as principais presas na dieta de Tyto alba, representando 94,73% do número total e foram seguidos de aves (3,94%) e répteis(1,31%). Entre as espécies encontradas nas pelotas destaca-se o roedor Oligoryzomys nigripes que constitui o primeiro registro desse táxon para a EET. Os resultados encontrados confirmam a importância do estudo de pelotas de regurgito como fonte de informação sobre a diversidade da fauna de pequenos mamíferos e o papel das suindaras como potenciais agentes bióticos no controle populacional de roedores em áreas urbanas. Introdução: O estudo da dieta das suindaras (Tyto alba) é uma atividade experimental com enormes potencialidades pedagógicas. Envolve pesquisa, trabalho de campo, trabalho laboratorial e tratamento e discussão de dados, permitindo aos estudantes, vivenciarem a interdisciplinaridade e a cooperação fazendo ciência. Tyto alba é uma ave de rapina noturna, pertencente à ordem Strigiformes e à família Tytonidae. Assim como todas as corujas, são animais noturnos bem adaptados a ambientes antrópicos, habitando as partes altas de diversos tipos de edificações. Alimentam-se principalmente de roedores (Ramírez et al. 2000, Aragón et al. 2002, Bonvicino & Bezerra 2003, Bueno & Motta-Junior 2006) mas também podem ocorrer marsupiais (Motta-Junior & Talamoni 1996, Massoia et al. 1999, Bonvicino & Bezerra 2003, Roda 2006), morcegos (Escarlate-Tavares & Pessoa 2005, Sommer et al. 2005), aves, répteis e anfíbios (Motta-Junior 1996, Ramírez et al. 2000, Bueno 2003) na dieta. Tyto alba, assim como todas as corujas, possui um sistema digestório característico que lhe permite regurgitar o material não digerível (pelotas), como pelos e ossos, de suas presas. As pelotas são um material de grande utilidade para estudar a dieta das aves que as produzem já que suas análises constituem um método simples e relativamente confiável (Trejo & Ojeda 2002, Magrini 2006). As suindaras estão entre as aves mais uteis do mundo, no que se refere às atividades econômicas humanas. Com um raio de ação mais frequente igual a 1,5 Km e chegando a consumir presas de mais de 200g (Souza, 2009), estas aves desempenham um importante papel no controle populacional de roedores, funcionando como reguladoras potenciais de pragas urbanas e possíveis vetores de zoonoses, tanto em zonas urbanas como rurais (Magrini 2006). No entanto, o seu voo silencioso e fugaz e o seu grito fantasmagórico fazem com que sua convivência com os humanos não seja bem aceita devido ao preconceito contra a espécie, já que a ave está associada a diversas superstições, lendas e crenças populares, muito comuns no Brasil. Devido a sua fama, as pessoas tendem a afugenta-las para evitar os azares que creditam a sua presença, sendo cada vez mais rara a visualização dessa espécie nos centros urbanos. Objetivo: Investigar o papel das suindaras no controle de populações de roedores em ambientes urbanizados, utilizando-se pelotas de regurgito como fonte de dados sobre a dieta dessas aves, contribuindo assim para a conservação dessa espécie na área estudada. Metodologia: O estudo foi desenvolvido em uma área rural e uma urbana do estado de Pernambuco. A área rural, Estação Ecológica do Tapacurá (EET), está localizada no município de São Lourenço da Mata (8°02’S, 35°13’W; 140 m de altitude) e possui 776 ha, sendo 382 ha ocupados por remanescentes de Floresta Atlântica e 394 ha pelo lago formado pelo represamento do Rio Tapacurá. A vegetação ao redor do lago é formada por florestas secundárias, campos e canaviais (Roda 2006). As pelotas foram coletadas em ruínas de uma igreja localizada em uma ilha circundada pelo lago. Na área urbana, a partir de entrevistas com os moradores da comunidade escolar os locais de pouso das corujas foram mapeados e os pontos de coleta definidos pelos estudantes. As pelotas foram coletadas em um abrigo sob o telhado de um edifício residencial, situado no entorno da escola, na cidade do Recife, capital de Pernambuco. Uma coleta foi realizada no período de novembro de 2013 na EET e no período entre fevereiro e agosto de 2014 foram feitas coletas na área urbana. Após coletadas, as pelotas completas foram imersas em água para a separação das partes identificáveis e contáveis das presas. Os indivíduos foram identificados ao menor nível taxonômico possível com base nos crânios (completos ou fragmentados), mandíbulas e molares, com auxílio de bibliografia especializada, seguindo nomenclatura proposta por Wilson & Reeder (2005), além da comparação com exemplares depositados na Coleção de Mamíferos UFPE. Resultados e Discussões Ao todo foram coletadas noventa e oito pelotas completas, além de fragmentos, compreendendo dez espécies. Na área rural, os pequenos mamíferos foram as presas mais frequentes na dieta de Tyto alba, representando 94,73% do número total e foram seguidos de aves (3,94%) e répteis(1,31%). Entre os mamíferos as espécies dominantes foram o roedor Holochilus sciureus (25,4%) e Necromys lasiurus (12,1%) o marsupial Monodelphis domestica (14,9%), e o morcego Molossus molossus (9,7%). Na área urbana os mamíferos também foram dominantes (92,3%). O rato do telhado, Rattus rattus foi o principal item da dieta seguido pelo camundongo, Mus musculus. A diferença entre a composição das presas nas duas áreas pode estar relacionada às diferenças entre a disponibilidade destas presas nos locais de coleta. Holochilus sciureus forrageia em áreas abertas como pastos e pântanos e torna-se assim mais vulnerável à predação que outras espécies que habitam fragmentos florestais (Vargas et al. 2002, Roda 2006), o que possibilita a sua alta representatividade na dieta na área rural. Mus musculus possui uma ampla distribuição e é uma espécie associada à presença humana, constituindo um recurso em abundância em diversas localidades e por isso bem representada na dieta de Tyto alba em muitos estudos (Marti' 1974, Calvario et al. 1992, Bellocq 1998, Ramírez et al. 2000, Aragón et al. 2002, Bond et al. 2004, Cirignoli & Pardiñas 2004, Torre et al. 2004, Bontzorlos et al. 2005). A ausência desta espécie na EET pode ser justificada pelo fato da coleta de pelotas ter sido feita em uma área com atividade antrópica menos extensiva. Entre as espécies encontradas nas pelotas destaca-se o roedor Oligoryzomys nigripes que constitui o primeiro registro desse táxon para a EET. Espécies como Rattus rattus, Mus musculus, Necromys lasiurus e Oligoryzomys nigripes estão associadas a doenças, como a peste, leishmaniose, doença, de Chagas, esquistossomose, febres hemorrágicas, hantaviroses e outras. Estas espécies mantêm e fazem circular os agentes infecciosos, por longo período de tempo (FNS, 1993) Conclusão Os resultados encontrados confirmam a importância do estudo de pelotas de regurgito como fonte de informação sobre a diversidade da fauna de pequenos mamíferos e o papel das suindaras como potenciais agentes bióticos no controle populacional de roedores em áreas urbanas. Nesse sentido, ações de conscientização das populações quanto a sua utilidade, desmistificando a sua fama de ave de mau agouro, são essenciais tanto para a sua conservação como para a manutenção dos seus efeitos benéficos às populações humanas. Referências Bibliográficas: Aragón, E.A., B. Castillo, & A. Garza. 2002. 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