Universidade Católica de Petrópolis – Introdução à Teologia I e II – Prof° Bruno Tamancoldi O JUDAÍSMO: BERÇO DA RELIGIÃO OCIDENTAL. Prof° Bruno Tamancoldii O judaísmo é uma crença que se apoia em três pilares: na Torá, nas Boas Ações e na Adoração. Por ser uma religião que supervaloriza a moralidade, grande parte de seus preceitos baseia-se na recomendação de costumes e comportamentos “retos”. A história do judaísmo começa com Abraão, por volta de 2.100 a.C. Abraão, filho de Terach, natural de Ur, Caldeia (atualmente o território Iraquiano), recebe de Deus a ordem para que abandonasse sua terra e procurasse novo lugar. È considerado o pai dos Judeus e dos Árabes (por isso, venerado por ambos). Essa história dá-se, pois Abraão teve dois filhos, um com uma escrava, ao qual colocou o nome de Ismael, e o outro com sua mulher, ao qual colocou o nome de Isaac. O primeiro é o Pai dos Árabes e o segundo é o pai dos Judeus. (cf. Ex.21,1-21 e 25,1218). Ao abandonar Ur, Abraão partiu para a terra que Deus o havia indicado, local onde seria “fundado” o povo de Deus. Quando Abraão morreu, seu poder de patriarca passou para seu filho Isaac e deste para Jacó (Israel), que dividiu em doze tribos, pois teve doze filhos. Um deles era José que, por inveja dos irmãos, foi vendido como escravo para os egípcios. (cf. Gn. 37). José era muito sábio e foi tão querido pelo faraó que ganhou cargos e poderes imensos: tornou-se primeiro ministro. Houve uma grande fome em toda a terra, mas, por intermédio das interpretações de José, o Egito resguardou-se e tornou-se o seleiro do mundo. O único povo que tinha reserva de alimentos. Diante disso, os irmãos de José foram pedir comida no Egito e encontraram-se com o irmão, outrora vendido como escravo, mas, agora, primeiro ministro do Egito. José acolheu os irmãos e deu-lhes terras para o cultivo. Assim, os israelitas começaram a prosperar. Esse foi o problema: prosperaram tanto e se tornaram tão ricos e numerosos que assustaram o reino egípcio. Resultado: foram subjugados militarmente e submetidos à escravidão. O faraó, que não era o mesmo, pois passaram-se quase 400 anos desde a vinda de José, segundo o relato Bíblico, ainda não estava satisfeito. Pretendia interromper de forma definitiva sua expansão: decidiu, então, Universidade Católica de Petrópolis – Introdução à Teologia I e II – Prof° Bruno Tamancoldi que todos os varões que nascessem nas famílias israelitas deveriam ser mortos. E, assim, foi feito de forma cruel.(cf. Ex 1, 22). Um desses bebês, cujo destino certo era a morte, foi escondido pelos pais dos soldados egípcios. Os pais conseguiram isso durante três meses. Quando a vida do bebê passou a correr perigo eminente, seus pais colocaram-no no rio Nilo. (cf. Ex 2, 3). Quis Deus, segundo o relato Bíblico, que uma das filhas do faraó visse uma cestinha presa nos juncos (planta típica da marginal do rio Nilo), e ela, por sua vez, tratou de resgatá-lo. O menino recebeu o nome de Moisés, ou Moschê, que significa retirado das águas, ou nascido das águas. (cf. Ex 2, 10b). Moisés cresceu dentro do reino egípcio, sempre muito bem tratado. Era considerado (príncipe do Egito) e tratado como tal. Um dia, enquanto ainda vivia no reino, Moisés foi visitar uma das obras faraônicas e viu um hebreu ser muito maltratado e ferido por um egípcio. Irado, Moisés matou o egípcio e escondeu o corpo na areia. O faraó, desde então, passou a procur uma forma de matar Moisés. No entanto, ele conseguiu fugir para a terra de Madiã. Foi ali que Moisés conheceria sua primeira mulher, filha do sacerdote local Jetro, a mulher chamava-se Séfora. Ela lhe deu um filho, que ganhou o nome de Gerson (que significa “hóspede”): “Porque sou apenas um hóspede em terra estrangeira” (cf. Ex 2, 22). Segundo o relato Bíblico, Deus apareceu para Moisés, pela primeira vez numa fogueira de sarça feita no monte Horeb. E, disse-lhe: “(...)” Moisés, Moisés!”“Eis-me aqui!”, respondeu ele. E, Deus: “não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa. Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”“.(...) “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi os clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. E, desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazer subir do Egito para uma terra que mana leite e mel.” (cf. Ex 3, 1-6). Uma passagem Bíblica belíssima: é quando começa a primeira grande movimentação de um povo na história. Universidade Católica de Petrópolis – Introdução à Teologia I e II – Prof° Bruno Tamancoldi A Bíblia fala em 600 mil, vagando pelo deserto durante 40 anos, em direção à terra prometida, alguns teólogos colocam que o número era menos de 50 mil, pois muitos não deixaram o Egito. Durante essas quatro décadas, Deus comunico-se diretamente com Moisés e deu todas as leis a serem seguidas por seu “povo eleito”. Os dez mandamentos, o conjunto de leis sociais e penais, as regras dos alimentos, direitos de propriedade... Enfim, tudo foi transmitido por Deus a Moisés, que retransmitia cada palavra ao povo que o seguia. Era o nascimento do Judaísmo. Quando Moisés morreu, assumiu o “governo” do povo um homem de nome Josué, filho de Nun, assistente direto de Moisés. Josué chegou à terra prometida, segundo o relato bíblico, em uma batalha com o grande centro populacional daquela época, ou seja, a cidade murada de Jericó. Após esse fato, Josué dividiu a terra em doze tribos, como citado no início, em virtude dos seus doze filhos que formaram as doze tribos de Israel. Algum tempo depois, o povo passou a ser governado por Juízes, por chefes religiosos e por militares, entre os quais, os dois mais famosos são: Gedeão e Sansão. Após esse período, que deve ter durado aproximadamente 200 anos desde a morte de Josué, Israel entra em um novo período, o dos Reis. Sempre calçados pelo apoio dos profetas, os reis deram grande contribuição para a expansão do território judaico. De um modo muito particular, destacam-se dois, Davi e seu filho Salomão. Logo após a morte de Salomão, as doze tribos de Israel passaram por dificuldades políticas e religiosas e foram divididas em dois blocos. O primeiro bloco tinha duas tribos com a capital em Samaria e o templo no monte Garizim. O outro bloco formou-se com dez tribos, a capital em Jerusalém, onde se localizava o grande templo construído por Salomão. (cf. I Re, 12). O território de Israel foi invadido diversas vezes. Em 587 a.C., o rei da Babilônia, Nabucodonosor, invadiu, destruiu e deportou o povo hebreu. No ano de 66 a.C, guerreiros israelitas tentaram expulsar os romanos, libertando partes do território judaico. Porém, em 70 a.C., a resposta romana foi terrível: o templo de Jerusalém foi destruído pela segunda e última vez, e o imperador romano, Adriano, ordenou a expulsão dos Judeus da Palestina (diáspora). Universidade Católica de Petrópolis – Introdução à Teologia I e II – Prof° Bruno Tamancoldi O Judaísmo é uma crença monoteísta e baseia-se nas Sagradas Escrituras. A lei, a profecia e a tradição judaica remontam a aproximadamente 3 500 anos de vida espiritual. A Torá, que também é conhecida como Pentateuco, corresponde aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento bíblico, os Salmos e os Livros Proféticos. O Talmude é uma coleção de leis que inclui o Mishná, compilação em hebraico das leis orais, e o Gemará, comentários dessas leis, feitos pelos rabinos, em aramaico. Em essência, o Judaísmo ensina que a vida é uma dádiva de Deus e, por isso é preciso esforçarmo-nos para fazermos dela o melhor possível, usando todos os talentos que o Criador nos concedeu. Toda a fé judaica gira em torno das leis mosaicas que têm como princípio os dez mandamentos ou Decálogo que são: “ Amarás a Deus sobre todas as coisas. Não tomarás seu Santo nome em vão. Lembrar-te-ás de santificar o dia de sábado. Honrarás teu pai e tua mãe. Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo” (cf. Ex 20, 1 – 21). E, também, um código doutrinal bem elaborado e dividido que tem como princípios de fé: Monoteísmo. Deus é único, a ideia de um Deus trindade é altamente herética. Deus é onipotente, onipresente e onisciente. Deus é não-fisico, nãocorpóreo e eterno. Só a Deus podem oferecer-se preces, as fontes escritas são tidas como divinas. As palavras dos profetas são verdadeiras. Moisés foi o maior profeta de todos os profetas e também o mais humilde. Ele é um grande professor para o povo judeu. Os judeus acreditam ser o povo único, o povo escolhido por Deus, uma religião altamente nacionalista. Haverá um (messias) e uma era messiânica. A alma é pura no momento do nascimento. As pessoas nascem com yêsser hattôb, uma tendência para o bem, e com um yêsser harâ, uma tendência para o mal. Consequentemente, os seres humanos são providos de livrearbítrio e podem escolher o seu próprio caminho na vida. A “profissão de fé” de um judeu é “Shemá Yisraél Adonay Elohênu Adonay achad” “ Ouve Israel, o Eterno é o nosso Deus é um” e também “(...) portanto amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração de toda a tua alma com toda a tua força ...” Universidade Católica de Petrópolis – Introdução à Teologia I e II – Prof° Bruno Tamancoldi Algo que muito me impressiona nesta religião é a riqueza de suas celebrações e das festas, que são várias. Quero destacar apenas uma, pois este tema é muito extenso e difícil de se esvair. Destaco o Bar misvá , que é a celebração da chegada de uma criança à maior idade e, por se tornar responsável, daí em diante, seguir uma vida de práticas e de observações preceituais e de amor à sua pátria e à sua religião. É uma cerimônia belíssima, onde o iniciado canto a “profissão de fé”. É claro não podemos esquecer-nos dos relatos escritos, que são belíssimos. Destaco de modo todo especial o livro dos Salmos, que é um compêndio de orações e de súplicas, e que é praticado tanto por judeus, quanto por cristãos. “ Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, Sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto. De longe penetrais meus pensamentos” Sl. 138 (heb. 139) de Davi. i Professor de História e Teologia da Universidade Católica de Petrópolis.