O Dom Profético: Nas Escrituras e na História Adventista
Comentário da Lição da Escola Sabatina
Lição 7 – 7 a 14 de fevereiro
1º TRIMESTRE DE 2009
O trabalho dos profetas
Pr. Renato Stencel, Diretor do Centro White – Brasil, UNASP – EC
I. Introdução
Muito embora Deus tenha usado diversos métodos para Se comunicar
com os seres humanos, o “dom profético” se tornou, entre todos, o meio
mais comum, frequente e conhecido. Como porta-voz, o profeta se destaca
como o veículo mais visível do sistema divino de comunicação.
Em sua obra A prophet among you (Um profeta entre vós), T. Housel
Jemison apresenta oito razões que justificam o emprego dos profetas como
o recurso mais utilizado por Deus:
1. Os profetas prepararam o caminho para o primeiro advento.
2. Como representantes do Senhor, os profetas mostraram ao povo que
Deus valorizava os seres humanos a ponto de escolher dentre eles
homens e mulheres para representá-Lo.
3. Os profetas eram um lembrete constante da proximidade e
disponibilidade quanto à instrução divina.
4. As mensagens comunicadas pelos profetas cumpriam o mesmo
propósito que uma comunicação pessoal do Criador.
5. Os profetas eram uma forma de manifestação do que a comunhão com
Deus e a transformadora graça do Espírito Santo pode realizar na vida
humana.
6. A presença dos profetas punha o povo à prova no tocante à atitude
para com Deus.
7. Os profetas tomaram parte no plano da salvação, pois Deus tem
coerentemente empregado uma combinação do humano com o divino
como o meio mais eficaz de alcançar a humanidade perdida.
8. O resultado mais notável da atividade dos profetas é sua contribuição à
Palavra escrita.
Mesmo tendo Deus escolhido o dom profético para ser o meio de
comunicação mais conhecido e eficaz, podemos levantar algumas
perguntas pertinentes a este ofício. Quais foram os critérios estabelecidos
por Deus para a escolha de um profeta? Deveriam ser pessoas cultas,
letradas, fisicamente fortes, com nobreza de caráter e cheias de talentos?
Centro de Pesquisas Ellen G. White 1 Ou Deus escolheu indivíduos desconsiderando os critérios e qualificativos
humanos?
Ao analisarmos o assunto, podemos observar que “não há indicação de
que Deus tenha escolhido pessoas com base em qualquer elemento ligado
à cultura, personalidade, talentos ou educação. Ele escolheu a pessoa que
melhor serviria para aquele momento específico, ou aquele que poderia
estar mais bem preparado para o serviço futuro”.(1) De fato, Deus escolheu
a pessoa certa para exercer uma tarefa determinada em dado tempo
específico com o propósito de revelar Sua soberana vontade redentora a
todos os Seus filhos.
O apóstolo Paulo exemplifica claramente este pensamento em 1
Coríntios 9:19-22, quando afirma: “Porque, sendo livre de todos, fiz-me
escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi, para
com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem
sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que
vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei,
como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas
debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei.
Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me
tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.”
Tais palavras nos levam a concluir que o Evangelho de salvação a ser
pregado a todos os povos, nações e línguas não se consumará de modo
restrito ou limitado. Na multiplicidade de dons e talentos humanos, Deus Se
valerá de muitas mentes, habilidades, personalidades em diferentes
contextos para tornar a mensagem acessível a um público mais amplo e
variado possível.
Ao destacar a amplitude da linguagem bíblica, o Dr. Jemison(2) afirma
que “uma das mais notáveis características da Bíblia é a sua
adaptabilidade às circunstâncias e necessidades de todo indivíduo em
cada geração. Ninguém pode justificar que em função do ponto de vista do
autor em relação aos seus dias, a mensagem não seja relevante à sua
realidade ou pessoa. O verdadeiro Autor é quem a planejou assim. Cada
livro revela as marcas do conhecimento, educação, personalidade e
experiência de seu autor.
II. Principais funções dos profetas
Ao iniciarmos a discussão deste assunto, podemos levantar algumas
importantes questões que serão respondidas ao longo desta seção: (a) De
que forma Deus usou estas pessoas em sua diversidade de talentos,
experiências, capacidades e educação? (b) Qual foi o alcance das
atividades dos profetas ao exercerem seu ofício? (c) É a capacidade de
prever os acontecimentos futuros a principal função de um profeta?
Centro de Pesquisas Ellen G. White 2 A seguir, apresentaremos de forma resumida as principais funções
delegadas por Deus aos Seus porta-vozes, os profetas:
1. Falar por Deus – A função principal de um profeta não é a de
predizer acontecimentos futuros, mas, se colocar como um instrumento nas
mãos de Deus a fim de se tornar Seu porta-voz. Ele deve dizer aquilo que
Deus diria Se estivesse entre o povo, ou seja, comunicar Sua vontade em
toda e qualquer circunstância. Em face às necessidades, os profetas
deveriam trazer orientações pessoais, familiares, coletivas.
2. Revelar os planos de Deus – A Palavra de Deus nos mostra em
Amós 3:7 que: “Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem
primeiro revelar o Seu segredo aos Seus servos, os profetas”. A revelação
antecipada por Deus dos capítulos da história humana visa a fortalecer e
encorajar o povo a fim de que se preparare para o enfrentamento dos
desafios e possíveis crises. Tal função confere ao profeta certo grau de
credibilidade, sobretudo quando suas predições se cumprem conforme a
revelação divina. Podemos aferir as palavras do profeta de acordo com o
princípio estabelecido por Moisés em Deuteronômio 18:22 que diz: “Sabe
que, quando esse profeta falar em nome do Senhor, e a palavra dele se
não cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o Senhor
não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele.”
3. Fortalecer e guiar os governantes – Em tempos de paz ou guerra,
prosperidade ou adversidade, os líderes encontraram nas palavras dos
profetas orientação, conforto e coragem para enfrentar os possíveis
desafios. Infelizmente, muitos dos líderes não buscaram o auxílio divino,
outros apenas rejeitaram os conselhos de Deus. É de se notar que os
líderes sempre foram objeto do cuidado e atenção divinos e, no curso da
história humana, Deus tomou todas as providências para ajudá-los em
cada uma das circunstâncias vivenciadas. Sua intenção era orientá-los de
tal maneira que não viessem a cometer erros, o que poderia comprometer
todo o destino de uma geração de Seus filhos, proliferando assim a ação
maléfica do pecado no mundo.
4. Encorajar o povo à fidelidade – Em nossa jornada cristã rumo ao
Céu, Deus comunica palavras de encorajamento que nos trazem
motivação para prosseguirmos com firmeza em nossa caminhada.
Geralmente, palavras de encorajamento são acompanhadas de censura e
reprovação; raramente são encontradas sozinhas. Em paralelo ao
encorajamento, Deus estabelece novos caminhos a serem seguidos. Uma
das principais tarefas dos profetas é a de encorajar o povo a permanecer
firme à revelação divina e prosseguir rumo a novas conquistas.
5. Reprovar o pecado – Quer sua tarefa fosse reprovar a injustiça
social, erradicar a idolatria, ou protestar contra a imoralidade, os profetas
receberam poder adicional da parte de Deus para exercer esta tarefa com
coragem e vigor. A voz de reprovação do profeta era a voz de reprovação
de Deus a qual era pronunciada a despeito das consequências.
6. Ensinar o povo – Na essência da palavra, nem todos os profetas
eram professores; no entanto, por meio de seus ensinamentos, o povo
Centro de Pesquisas Ellen G. White 3 aprendia os princípios do reino de Deus. Eles tornaram esses princípios
claros a toda a nação, estipulando sempre os parâmetros requeridos por
Deus. Suas mensagens eram revestidas de uma linguagem didática,
repleta de conselhos e instruções práticas.
Além das funções acima citadas, podemos destacar ainda outras
responsabilidades que eram pertinentes aos profetas. Em muitas
circunstâncias, eles (a) agiram como consultores; (b) agiram como
conselheiros; (c) pronunciaram juízos; (d) reprovaram o estado pecaminoso
tanto em nível pessoal como coletivo; (f) operaram milagres, etc.
III. A função de Ellen G. White na IASD
O ministério de Ellen White e o surgimento da Igreja Adventista do
Sétimo Dia são inseparáveis. Tentar entender um sem o outro tornaria a
ambos ininteligíveis e inexplicáveis.(4) Ellen White e a história da Igreja
Adventista do Sétimo Dia, em conceito e estrutura, são parte de uma
mesma obra de arte em seus mais variados tons e matizes. Sua presença
e participação se destacam em cada fase desde sua origem, crescimento e
desenvolvimento da IASD durante seus setenta anos de ofício profético.
A influência que Ellen G. White exerceu e o papel que cumpriu na IASD
podem ser resumidos em oito aspectos: (1) consultoria no desenvolvimento
doutrinário; (2) salvar membros de fanatismo e falsos ensinos; (3)
promover a organização da Igreja; (4) orientar a IASD frente aos
problemas; (5) guiar os planos; (6) revelar os futuros eventos; (7) encorajar
e auxiliar nos estudo das Escrituras e (8) guiar os membros no viver
cristão.
Uma das declarações mais significativas que revela a importância
funcional da vida e obra de Ellen G. White para a IASD, foi escrita por
Uriah Smith numa das edições da Review and Herald em 1866.(4)Ao
enfatizar o valor dos escritos dela, ele afirmou:
“Seus frutos revelam que a fonte da qual eles procedem é oposta ao
mal. Eles tendem à mais pura moralidade. Desaprovam todo vício e
exortam à prática de cada virtude. Apontam para os riscos e perigos que
deveremos enfrentar em nossa caminhada para o reino eterno. Eles
revelam os enganos de Satanás e nos advertem contra suas ciladas. Têm
desarraigado todo tipo de fanatismo que o inimigo tem tentado inserir em
nosso meio. Têm exposto perversidades secretas, tornado conhecido erros
ocultos e lançado por terra os motivos nocivos dos mal intencionados. Eles
têm protegido a causa da verdade contra as mãos perigosas. Eles têm nos
edificado e re-edificado para mais íntima consagração a Deus, mais
zelosos esforços por santidade de coração e maior diligência na causa e
no serviço do nosso Mestre. Eles nos conduzem a Cristo… nos levam às
Escrituras… têm trazido conforto e consolo a muitos corações, têm
fortalecido o fraco, encorajado o abatido e levantado o desanimado. Eles
Centro de Pesquisas Ellen G. White 4 têm trazido ordem em meio à confusão, endireitado terrenos encurvados, e
lançado luz sobre o que era sombrio e obscuro.
IV. Conclusão
Os profetas foram pessoas comuns como qualquer um de nós.
Enfrentaram tentações, pecados, foram perseguidos, maltratados e, muitas
vezes, mortos. Casaram-se, formaram famílias e educaram filhos. Foram
pessoas que sofreram dores e sentimentos de tristeza pela dureza e
impiedade dos seus concidadãos ao rejeitarem o registro da revelação
divina comunicada por eles. Sentiram profunda mágoa e dor demonstrados
por aqueles que recusaram seguir os caminhos do Senhor.
Mas, sob a liderança do Espírito Santo, os profetas fizeram todas as
coisas conforme o plano estabelecido por Deus. Foram servos que
ocuparam o lugar de Deus, falaram por Ele, agiram por Ele, e O
representaram perante a humanidade.
Bibliografia
1. Jemison, T. H. A prophet among you, Mountain View, CA: Pacific Press
Publishing Association, 1955, p. 33.
2. Idem, p. 34, 35.
3. Douglass, H. Mensageira do Senhor, Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, p. 28.
4. White, E.G. Review and Herald, 12 de junho de 1866.
Centro de Pesquisas Ellen G. White 5 
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