RELATÓRIO PROVISÓRIO
Lisboa
novembro de 2013
Financiamento:
Parceiros:
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
Casa Pia de Lisboa, I.P.
Madalena Antunes
Maria Fátima Martinho
Casa Pia de Lisboa, I.P. & Universidade Lusíada de Lisboa
António Rebelo
Universidade Lusíada de Lisboa
Tânia Gaspar
Cátia Branquinho
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
9
PARTE 1 – A SURDOCEGUEIRA
10
PARTE 2 – METODOLOGIA UTILIZADA
19
2.1. Amostra
19
2.2. Instrumento
19
2.3. Procedimentos
21
2.4. Critérios de elegibilidade
22
PARTE 3 – RESULTADOS
23
3.1. Caracterização dos organismos
23
3.1.1. Estatuto jurídico dos organismos participantes
23
3.1.2. Distrito de pertença dos organismos participantes
24
3.2. Caracterização da pessoa surdocega
25
3.2.1. Género e Idade
25
3.2.2. Nacionalidade
27
3.2.3. Altura em que se tornou surdocego
27
3.2.4. Conhecimento da causa da surdocegueira
30
3.2.5. Nível de comprometimento da função visual
33
3.2.6. Nível de comprometimento da função auditiva
34
3.2.7. Funções adicionais afetadas
36
3.2.8. Estado civil
37
3.2.9. Nível de escolaridade
40
3.2.10. Situação face ao trabalho
41
3.2.11. Com quem vive a maior parte do tempo
43
3.2.12. Distrito de residência
44
3.2.13. Com quem fica quando tem de permanecer em casa
44
3.2.14. Benefício de apoio social
47
PARTE 4 – PUBLICAÇÕES DO PROJETO
49
CONCLUSÕES
50
REFERÊNCIAS
52
ANEXOS
55
ANEXO A – Questionário
55
ANEXO B – Listagem dos organismos participantes
58
ANEXO C – Listagem dos Organismos participantes válidos
61
ANEXO D – Avaliação dos Seminários
63
ANEXO E – Carta de Consenso
68
ANEXO F – Apresentações em Portugal relacionadas com a surdocegueira
desde 1999
ANEXO G – Comunicação Oral no Congresso Nacional
73
76
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Género da população
25
Figura 2 – Faixa etária da população
26
Figura 3 – Altura em que a pessoa se tornou surdocega
27
Figura 4 – Conhecimento da causa da surdocegueira
30
Figura 5 – Causa da surdocegueira
31
Figura 6 – Nível de comprometimento da função visual
33
Figura 7 – Nível de comprometimento da função auditiva
34
Figura 8 – Funções adicionais afetadas
36
Figura 9 – Estado civil
37
Figura 10 – Nível de escolaridade
40
Figura 11 – Situação face ao trabalho
41
Figura 12 – Com quem vive a maior parte do tempo
43
Figura 13 – Com quem fica quando tem de permanecer em casa
45
Figura 14 – Benefício de apoio social
47
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Quantidade de respostas recebidas
23
Tabela 2 – Estatuto jurídico dos organismos válidos
23
Tabela 3 – Organismos por distrito
24
Tabela 4 – Género e faixa etária da população
26
Tabela 5 – Nacionalidade da população
27
Tabela 6 – Altura em que a pessoa se tornou surdocega por género
28
Tabela 7 – Altura em que a pessoa se tornou surdocega por faixa etária
28
Tabela 8 – Altura em que a pessoa se tornou surdocega e nível de
comprometimento da visão
29
Tabela 9 – Altura em que a pessoa se tornou surdocega e nível de
comprometimento da audição
29
Tabela 10 – Conhecimento da causa da surdocegueira por género
30
Tabela 12 – Conhecimento da causa da surdocegueira por faixa etária
31
Tabela 13 – Causa da surdocegueira por género
32
Tabela 13 – Causa da surdocegueira por faixa etária
32
Tabela 14 – Nível de comprometimento da função visual por género
33
Tabela 15 – Nível de comprometimento da função visual por faixa etária
33
Tabela 16 – Nível de comprometimento da função visual e auditiva
34
Tabela 17 – Nível de comprometimento da função auditiva por género
35
Tabela 18 – Nível de comprometimento da função auditiva por faixa etária
35
Tabela 19 – Funções adicionais afetadas por género
36
Tabela 20 – Funções adicionais afetadas por faixa etária
37
Tabela 21 – Estado civil por género
38
Tabela 22 – Estado civil por faixa etária
38
Tabela 23 – Estado civil e altura em que a pessoa se tornou surdocega
39
Tabela 24 – Nível de escolaridade por género
40
Tabela 25 – Nível de escolaridade por faixa etária
41
Tabela 26 – Situação face ao trabalho por género
42
Tabela 27 – Situação face ao trabalho por faixa etária
42
Tabela 28 – Com quem vive a maior parte do tempo por género
43
Tabela 29 – Com quem vive a maior parte do tempo por faixa etária
44
Tabela 30 – Localização da residência
44
Tabela 31 – Com quem fica quando tem de permanecer em casa por género
46
Tabela 32 – Com quem fica quando tem de permanecer em casa por
faixa etária
46
Tabela 33 – Benefício de apoio social por género
47
Tabela 34 – Benefício de apoio social por faixa etária
47
INTRODUÇÃO
No âmbito do projeto “Surdocegueira: Um modelo de Intervenção”, desenvolvido pelo
Centro de Educação e Desenvolvimento (CED) António Aurélio das Costa Ferreira da Casa
Pia de Lisboa, I. P., cofinanciado pelo POAT/FSE (Projeto N.º 000401402011) e
desenvolvido em parceria com o Instituto da Segurança Social (ISS), I. P., o Instituto
Nacional para a Reabilitação (INR), I. P., o Ministério da Educação e Ciência, a Associação
de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), e a Humanitas, foi realizado no ano de 2013,
um estudo de caracterização da população surdocega em Portugal.
O estudo conta como principais objetivos: conhecer e caracterizar a incidência da
surdocegueira na população portuguesa; identificar as características específicas e
necessidades das pessoas identificadas; que o CED António Aurélio da Costa Ferreira se
constitua como um possível parceiro de intervenção
numa
competências que permitam o desenvolvimento global e
dinâmica
de
saberes
e
facilitação da integração das
pessoas surdocegas nos seus contextos de vida; realização de quatro seminários nacionais de
apresentação e discussão de dados e um congresso nacional.
Com vista à concretização dos objetivos acima referidos, foi elaborado um
questionário para conhecer o número de casos a nível nacional de pessoas surdocegas; as suas
necessidades específicas, assim como das suas famílias e profissionais que com elas
intervêm, avaliados os quatro seminários realizados nos distritos de Coimbra, Porto, Évora e
Faro e o Congresso nacional de Lisboa. Apresentando-se os dados obtidos através dos
questionários e da avaliação das comunicações no presente relatório.
Relativamente à organização e estrutura deste relatório, este encontra-se organizado
em quatro partes. A primeira apresenta alguma informação sobre a surdocegueira e a pessoa
surdocega, com o objetivo de contextualizar a problemática em análise. A segunda faz uma
breve descrição da metodologia utilizada, quer no que diz respeito à recolha dos dados, quer
ao seu tratamento. Na terceira parte procede-se à apresentação e análise dos resultados deste
levantamento. Na última parte são apresentadas as publicações referentes ao estudo,
terminando-se o relatório com uma breve conclusão.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
9
ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL
A SURDOCEGUEIRA
A surdocegueira, apesar do seu longo passado, é ainda uma deficiência pouco conhecida
pela maioria das pessoas, inclusivé, profissionais das áreas da saúde e educação (Souza,
2010). Na sua história, a surdocegueira conta com dois grandes marcos na sua divulgação, o
primeiro, a publicação da autobiografia “The History of my Life” da surdocega Hellen Keller
em 1902 (Araóz & Costa, 2008). E o segundo, a epidemia mundial da rubéola na década de
60. Esta, foi a maior causa de surdocegueira nos anos 60, 70 e 80. Só nos Estados Unidos,
nos anos de 1964 e 1965 nasceram cerca de 5.000 pessoas surdocegas (Crook, Miles &
Riggio, 1999 in Cormedi, 2011). Consequentemente, desde a epidemia da rubéola ocorrida
nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, a abordagem da educação para os indivíduos
surdocegos sofreu significativas alterações. Até então, apenas escassos casos haviam sido
reportados. Nos estados Unidos, Samuel Gridley Howe havia descrito a sua prática com a
aluna Laura Brigman, e Anne Sullivan havia dado a conhecer o seu grande progresso com
Hellen Keller. Por sua vez, na Noruega, Ragnild Kaata, um estudante surdocego é ensinado a
falar, e em França, Marie Heurtin passa a merecer maior atenção pelos níveis de linguagem
que era capaz de atingir (van Dijk & Nelson, 1998). Os serviços educacionais para
surdocegos
eram
principalmente
oferecidos
em
contexto
residencial
ou
centros
especializados, por funcionários peritos na instrução da comunicação e orientação (Ford &
Fredericks, 1995).
Ao longo da história, as pessoas surdocegas sofreram grandes dificuldades, por parte do
meio médico, por não se conhecerem as características particulares desta incapacidade; da
educação, por não se enquadrarem nos modelos de educação vigentes; e da sociedade, que
devido à escassez de informação os considerava incapazes (Cambruzzi, 2007).
Em Portugal, nos anos 60, a oferta de educação para crianças e jovens com deficiência
era ainda muito insuficiente. Somente se mantinham nas escolas regulares as designadas
classes especiais, o Instituto António Aurélio da Costa Ferreira (AACF), e algumas estruturas
da Segurança Social. O Instituto AACF, desenvolveu um importante papel na educação
especial das crianças que não se encontravam dentro dos padrões da normalidade, durante a
Ditadura Nacional implementada a partir do golpe militar no ano 1926 e, também, na
formação de professores especializados (Mesquita, 2001).
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
10
Em resposta à carência de serviços especializados, nos anos de 1960 presenciou-se uma
mobilização dos pais de crianças com deficiência, que estará na origem da criação de diversas
instituições particulares sem fins lucrativos, organizadas por tipo de deficiência para apoiar as
crianças com incapacidades. Foi na década de 70 e princípio dos anos 80, que se assistiu a um
grande aumento de instituições de educação especial. A par da Europa, estas instituições
foram reorientadas e tornadas “centros de recursos”, focadas no desenvolvimento de
atividades de apoio às escolas de ensino regular, nas terapias, na transição para a vida ativa e
no trabalho de intervenção precoce (Barroso, 2013).
Portugal, assim como a Europa, continuou a focar-se no apoio a pessoas com
multideficiência e surdocegueira e, baseando-se no decreto-lei 3/2008 de 7 de janeiro, que
visa a criação de condições para a adaptação do processo educativo às necessidades
educativas especiais dos alunos com deficiências ou incapacidades, foram criadas as
Unidades de Apoio à Multideficiência e Surdocegueira Congénita. Oferecendo uma resposta
pedagógica especializada das escolas ou agrupamentos que reunissem alunos com
multideficiência. A criação destas unidades de apoio teve o propósito de permitir que estes
alunos pudessem ter acesso a meios e recursos que lhes possibilitasse realizar aprendizagens
significativas, e interagir com os demais colegas sem necessidades educativas especiais.
As unidades de apoio especializado que constituem uma resposta educativa específica,
têm por objetivos: a inclusão educativa e social; o acesso à educação; a autonomia; a
estabilidade emocional; a promoção da igualdade de oportunidades; a preparação para a
continuação dos estudos ou para uma adequada preparação para a vida escolar ou profissional
(Lei n.º 21/2008 do Diário da República Portuguesa).
A pessoa com surdocegueira necessita de educação especial, treino e instituições de
suporte. Ajudas técnicas e medidas de reabilitação apenas direcionadas para uma das
deficiências, surdez ou cegueira, raramente têm sucesso com a pessoa surdocega. O suporte
específico requerido varia significativamente e depende da idade da pessoa surdocega, altura
de desenvolvimento da sua condição e tipo de prejuízo (Swiss National Association of and
for the Blind, 2012). Por apresentarem necessidades únicas, são pessoas que requerem um
ensino individual (Diniz, 2011).
Apesar das dificuldades na aprendizagem, interação e comunicação que os alunos possam
sentir (Swiss National Association of and for the Blind, 2012), estes devem ser inclusos não
só no âmbito específico da educação, mas também na sociedade, tentando aumentar as
oportunidades de participação e integração.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
11
Em conjunto com o desenvolvimento de entidades direcionadas ao apoio da deficiência, a
International Association for the Education of the Deafblind, uma organização internacional
que tem por objetivo a defesa dos direitos das pessoas surdocegas e que impulsiona serviços
em diferentes países do mundo, lutou para que a surdocegueira fosse percebida como uma só
deficiência e não a soma de surdez e cegueira. Conseguindo que a palavra deafblindness
(surdocegueira), em substituição de deaf-blind fosse adotada para fortalecer a natureza única
da surdocegueira (Rebelo, 1995). Esta deliberação veio reforçar a ideia de que esta condição
deve ser olhada como única e particular, visto os comprometimentos serem exclusivamente
cumulativos (Silva, 2011).
Em 1997, o Departamento de Saúde defendeu que as pessoas são consideradas
surdocegas se existir um prejuízo combinado da visão e da audição e se esse prejuízo causar
dificuldades na comunicação, acesso à informação e mobilidade. Descentrando-se de uma
definição focada em medições da acuidade visual e limiares auditivos (Alley & Keeler,
2009).
No seguimento da batalha pelo reconhecimento da surdocegueira, no ano de 2004, The
European Deafblind Network (EDbN) conseguiu através de uma campanha de pessoas
surdocegas, familiares e profissionais europeus, que a maioria dos membros do Parlamento
Europeu assinasse a “Written Declaration” reconhecendo a surdocegueira como uma
incapacidade única. Esta declaração que não tem o valor de uma legislação, é um documento
europeu que pode ser usado para que uma pessoa surdocega receba os seus direitos (DBI,
2005).
No II Congresso Europeu de Surdocegueira na Holanda, as diferenças entre os países
ocidentais e os países em desenvolvimento do terceiro mundo, constrataram nos resultados
apresentados. Mostrando que nos países em desenvolvimento se luta para estabelecer serviços
para os surdocegos na comunidade, onde as pessoas não têm idade suficiente para
experimentar os problemas relacionados com a visão e audição associados à idade. A
esperança média de vida não permite que se experiencie a surdocegueira na população mais
envelhecida. Enquanto nos países ocidentais mais desenvolvidos, o aumento da longevidade e
as quebras das taxas de natalidade geram um número elevado de população idosa com perda
severa da visão e de audição associada à idade. Para algumas pessoas mais velhas as perdas
sensoriais irão combinar em surdocegueira (Lyng, n.d.). Contudo, isto não significa que estas
aceitem a sua condição de surdocegas. Para as pessoas idosas, a sua condição não é a de uma
pessoa surdocega, mas sim de alguém com prejuízos ao nível da visão e da audição.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
12
Num estudo desenvolvido pela EDbn (2006) para compreender a situação do
reconhecimento da surdocegueira nos Estados-membro da Europa, surgiram dados de que na
União Europeia existem no mínimo 150.000 pessoas surdocegas e que estas constituem um
dos grupos sociais mais excluídos. Que as pessoas surdocegas vivem frequentemente
isoladas, impossibilitadas de trabalhar ou mesmo não conseguindo deslocar-se sem o suporte
de alguém. Muitos surdocegos, vivem aprisionados nas suas próprias casas, incapazes de
realizar simples atividades diárias e sem receber o apoio e serviços que necessitam. Quanto
ao reconhecimento da surdocegueira, foi revelado que 76% dos Estados-membro europeus
não reconhece a surdocegueira como uma deficiência distinta e que em 67% dos países não
existe um programa específico para a identificação de crianças e adultos surdocegos.
Portugal, participou neste estudo através do Instituto Politécnico de Setúbal e a situação
não foi muito diferente dos restantes países europeus. Percebendo-se que no nosso país: não
existe reconhecimento da surdocegueira como uma deficiência única; não existe um registo
do número de pessoas surdocegas que vive no país. Segundo o Instituto Nacional de
Estatística, com dados referentes ao ano de 2001, existem 636.059 pessoas com deficiência
residentes em Portugal, porém, é impossível perceber o número de pessoas surdocegas; não
há treino para profissionais; as famílias de surdocegos não têm acesso a informação; não
existem programas de intervenção específicos para crianças e adultos, apenas para jovens
adultos; os surdocegos não têm suporte para trabalhar, contrariando a necessidade de
emprego, convívio, exercício dos direitos de cidadão e de ser um interventor social. Para o
exercício destes direitos é fundamental promover a autonomia da pessoa surdocega,
ajudando-a a superar a sua dependência (Rebelo, 2002); o surdocego não usufrui de um apoio
social específico; mas têm à educação, existindo uma escola especializada, a Casa Pia de
Lisboa.
Sempre incertas, as definições de surdocegueira, um termo inclusivo que reconhece que
uma pessoa com diferentes níveis de incapacidade que vivencia problemas únicos (Alley &
Keller, 2009), sofreram várias alterações ao longo dos anos. Ainda na década de 90, na XII
Conferência Mundial do Estoril a Deafblind International (DBI) definiu surdocegueira como
uma combinação de diferentes graus de deficiência visual e auditiva que multiplicam o
impacto de uma sobre a outra, criando uma incapacidade grave e única. Nesta definição,
todas as pessoas surdocegas defrontam desafios na comunicação, acesso à informação e
mobilidade, estando impedidas de compensar um dos sentidos de distância prejudicados com
o outro. O fato de não existir uma compensação do sentido visual com o sentido auditivo e do
auditivo com o visual, responsáveis por receber informações temporais, direcionais e
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
13
simbólicas à distância, faz com que existam impactos únicos na vida do indivíduo. Estando a
compensação sensorial restrita aos sistemas percetivos como o tato, e aos sistemas
propriocetivos, que incluem os sentidos cinestésico e vestibular. O toque, o contato físico, a
aproximação, o movimento e a interação, têm um papel fundamental na vida da pessoa
surdocega (Cormedi, 2011).
Os profissionais da área, são igualmente da opinião que a surdocegueira não é apenas a
soma das perdas visuais e auditivas, mas de um fator multiplicador, uma vez que a
combinação da privação de sentidos origina graves problemas na comunicação,
desenvolvimento e educação (Chiari et al., 2006). Para Maia (2000, citado por CaderNascimento, 2003) a surdocegueira é uma deficiência particular devida à perda da audição e
visão, resultando a junção de ambas as perdas no impedimento da utilização dos sentidos de
distância.
Por sua vez, uma pessoa surdocega descreveria a surdocegueira da seguinte forma: “Se
pensarmos na surdez como a cor amarela e na cegueira como a cor azul, quando as juntamos
não temos a cor amarelo-azul, mas sim uma cor completamente diferente, verde” (Alley &
Keeker, 2009, p. 26).
As pessoas surdocegas constituem um grupo com grandes diferenças e especificidades.
Estas divergem no seu grau de perda moderado ou profundo da função visual e auditiva,
idade de aquisição, nível de desenvolvimento da linguagem, forma de comunicação, e nível
de independência (Dalby et al., 2009). Podendo ainda coexistir outras incapacidades
associadas à incapacidade ou prejuízo visual ou auditivo (Janssen, Riksen-Walraven & van
Dijk, s.d.).
O prejuízo visual e auditivo tem consequências relevantes na saúde mental da pessoa
surdocega. A perda súbita ou progressiva de um ou mais sentidos, para além dos efeitos
cumulativos na comunicação, prejudica a confiança, a independência (du Feu & Fergusson,
2003) e pode causar uma dificuldade extrema no alcance das metas de vida essenciais (Araóz,
1999).
O grupo populacional de pessoas surdocegas é heterogéneo e mais numeroso do que se
imagina. No entanto, é muito difícil saber o número de pessoas surdocegas devido à sua
heterogeneidade e dispersão geográfica. Os nascimentos prematuros, a meningite e síndromes
diversos, são as principais causas de surdocegueira congénita. A rubéola, apesar de ainda ser
uma grande etiologia das pessoas surdocegas, atualmente deixou de ser uma causa
importante, graças há vacinação das mulheres em idade de gestação (ONCE, s.d.).
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
14
Alsop (2002) referiu quatro grupos de etiologias para as causas da surdocegueira:
I)
hereditária –
pode estar associada à síndrome de Usher, geralmente
distinguida por surdez congénita e perda gradual do campo visual a partir do
período da pré-adolescência e levar a cegueira na idade adulta;
II)
pré-natal – muitas vezes relacionada com complicações congénitas devido a
infeções, como rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis ou síndrome de
álcool fetal;
III)
complicações no nascimento – como prematuridade;
IV)
pós-natal – relacionada com infeções, meningite, traumas ou tumores.
Em 2011 (National Consortium on Deaf-Blindness), num estudo realizado com 9.387
crianças para que fossem compreendidas as etiologias primárias da surdocegueira, constatouse que as dez principais etiologias eram: etiologia não determinada (1.736); síndromes
hereditários (1.281); complicações na prematuridade (1.108); síndrome de Charge (824); prénatal/ complicações congénitas (513); pós-natal/ complicações não congénitas (377);
citomegalovírus (332); microcefalia (275); hidrocefalia (247); e asfixia (235).
A surdocegueira pode ser congénita ou mais tarde desenvolvida e tem frequentemente um
processo progressivo (Göransson, 2008). O facto de uma pessoa ser surdocega congénita ou
adquirida, implica grandes diferenças nos aspetos funcionais. Se a surdocegueira é adquirida
após a aquisição da linguagem, a pessoa surdocega pode continuar a utilizá-la, desde que
não existam outras complicações associadas que impeçam essa utilização.
Apesar de existirem vários estudos europeus sobre a situação e suporte daqueles que
nasceram surdocegos, existe ainda uma lacuna na tentativa de compreensão das
circunstâncias de vida da maioria da população surdocega, as pessoas que foram confrontadas
com a perda ou deterioração da visão e audição após o desenvolvimento da linguagem (Swiss
National Association of and for the Blind, 2012).
Na experienciação da surdocegueira, quatro grupos de pessoas podem ser identificados.
Aqueles que têm surdocegueira congénita:
1) pessoas com prejuízos ao nível da visão e audição desde o nascimento ou
precocemente na infância, crucialmente antes do desenvolvimento da comunicação e
habilidades da linguagem;
E aqueles que têm surdocegueira adquirida:
2) pessoas que são cegas desde o nascimento ou infância precoce, e que
subsequentemente se tornaram surdos ou com prejuízos ao nível da audição;
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
15
3) pessoas que são surdas desde o nascimento ou infância precoce e que posteriormente
tiveram uma perda de visão;
4) pessoas que adquiriram uma combinação de prejuízos ao nível da audição e da visão
numa fase mais tardia da sua vida (Alley & Keeler, 2009).
Chen (1999) defende que o comprometimento das funções visual e auditiva do
surdocego, podem variar entre perdas moderadas a profundas. Por sua vez, Miles & Riggio
decompõem esta população em quatro grupos distintos: aqueles que são surdos profundos e
cegos; os surdos com baixa visão; os que têm prejuízo auditivo e são cegos; e os que têm
alguma visão e audição (1999, citado por Cormedi, 2011).
A surdocegueira pode ser classificada quanto ao tempo da sua aquisição, como
surdocegueira pré e pós-linguística podendo estas ser distinguidas face ao processo de
aquisição da linguagem. Enquanto na surdocegueira pré-linguística a pessoa adquire a
incapacidade antes da aquisição da linguagem, desenvolvendo o olfato e o contacto corporal
como sentidos compensadores, na surdocegueira pós-linguística a pessoa fica com os seus
sentidos visual e auditivo prejudicados após a aquisição da linguagem. Apresentando
dificuldades de comunicação diferentes da surdocegueira pré-linguística, e resultando noutros
problemas como a aceitação emocional da perda, os limites e a dependência de recursos
(Massini, Teodoro, Noronha & Ferraz, 2007).
Na literatura é frequentemente referido que a perda da independência e da liberdade,
associada à necessidade de pedir ajuda ao outro, são as consequências mais difíceis
decorrentes da perda da visão. Por sua vez, os obstáculos na comunicação, interação e
contacto são tidos como os grandes prejuízos decorrentes da perda da audição. A pessoa
surdocega experiencia estas duas realidades.
A comunicação é o meio de interação, a maioria da população utiliza palavras para
comunicar, mas a pessoa com surdocegueira não utiliza palavras para comunicar, porque a
maioria não consegue falar. Os seus métodos de interação e comunicação podem ser descritos
como “conversas com o corpo”. A participação nestas “conversas corporais” requere um alto
nível de sensibilidade, um insight especial e competências consideráveis de escuta por parte
dos técnicos e cuidadores. A comunicação diária com os cuidadores é essencial para o bemestar mental e funcionamento social do surdocego. Contudo, na prática, as pessoas
surdocegas e os seus cuidadores experienciam grandes dificuldades na expressão das suas
intenções e no entendimento mútuo (Janssen, s.d.).
A perda dos dois sentidos, provoca grandes mudanças de vida no indivíduo, mudanças
emocionais, nos relacionamentos, na vida diária, em casa, na escola, no trabalho, e na
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
16
sociedade em geral. Ser um cidadão ativo que se sente parte do meio envolvente e vive nos
mesmos termos que as outras pessoas, é um enorme desafio para a qualidade de vida das
pessoas com surdocegueira. O conceito de qualidade de vida deve ser entendido como o
conhecimento do indivíduo sobre a sua posição na vida, no âmbito do seu contexto cultural e
de valores, nos quais ele vive em relação às suas metas, expetativas, normas e interesses.
Podem ainda sofrer alterações de acordo com a saúde física, estado psicológico, nível de
dependência, relações sociais, crenças e características do ambiente do sujeito (WHO, 1997).
Para além dos comprometimentos visual e auditivo, a pessoa surdocega pode ainda ter
prejuízos em outras funções adicionais como a intelectual, motora, voz, e funções sensoriais
adicionais como a olfato, o paladar, e o tato (Göransson, 2008; Araóz, 1999).
Atualmente, existe um consenso de que as crianças atualmente diagnosticadas como
surdocegas são frequentemente neurologicamente muito prejudicadas. Muitas dessas crianças
tem também graves problemas ortopédicos, algumas são medicamente fragéis, e podem
manifestar comportamentos indesejáveis, como condutas auto-agressivas ou explosões de
raiva (van Dijk, Klomberg & Nelson, 1997).
Nos programas desenvolvidos para pessoas surdocegas, o uso da comunicação para
satisfação das necessidades serve como motor de desenvolvimento cognitivo (Diniz, 2011).
De acordo com Reyes (2004, citado por Ikonomidis, 2009), a comunicação permite o
acesso à aprendizagem, ao conhecimento e à relação com o outro. Para o autor, os programas
de intervenção com pessoas surdocegas devem incluir o desenvolvimento e a potencialização
das competências comunicativas, através de um sistema de comunicação adaptado às
características únicas e especiais da pessoa.
A seleção da forma de comunicação mais adequada a cada pessoa depende das
capacidades cognitivas, motoras, táteis, visuais, auditivas, da memória e do nível de
representação.
Assim, os sistemas
de
comunicação alternativa podem ser agrupados:
sistemas gestuais ou motores (movimentos corporais, gestos isolados, língua gestual adaptada
e datilografada, escrita em braille e na mão); sistemas bi-dimensionais (desenhos de
contornos, figuras ou fotografias representativas); e sistemas tri-dimensionais (objetos de
referência, braille) (Diniz, 2011).
A comunicação com a pessoa surdocega depende da função da pessoas com quem se quer
comunicar, do seu sistema de comunicação, do que o conhecemos e da capacidade de utilizálo com maior ou menor fluidez (ONCE, s.d.). O técnico, apesar da escassez de formação
específica na área, deverá ser capaz de adaptar-se a toda e qualquer pessoa surdocega.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
17
Na Europa, mais especificamente no centro da Holanda em St. Michielgestel, Jan van
Dijk, diretor de trabalhos e pesquisas que influenciaram fortemente a educação dos
surdocegos congénitos, são formados diversos profissionais que atuam por todo o mundo na
área da surdocegueira, inclusivé Portugal.
Para este estudioso, o desenvolvimento da comunicação na educação de surdocegos dáse pela ênfase do movimento para enfatizar a exploração do ambiente (Araóz, 1999) e o
desenvolvimento da criança deve ser considerado no início do ensino da língua (van Dijk,
1966).
Jan van Dijk defende que quando um bebé nasce, este precisa interpretar e compreender
o ambiente ao qual tem de adaptar-se, através de um comportamento significativo e coerente.
Um pré-requisito para esta adaptação é que o cérebro perceba a informação proveniente dos
sentidos de distância. A criança é exposta a um fluxo contínuo dessas experiências e tem de
se habituar ou cessar a resposta a alguns estímulos para prestar atenção a estímulos
específicos (seleção). A criança habitua-se seletivamente baseando-se num estímulo relevante
ou não relevante. Este é um elemento básico de aprendizagem. Existem dois níveis diferentes
no processo de atenção: “nível tónico”: nível de ativação basal do cérebro e determinação do
limiar para o estímulo alcançar o estado de consciência; e “nível fásico”: nível de atenção
seletiva, onde um dos estímulos sai do fluxo contínuo (van Dijk, Klomberg & Nelson, 1997).
A abordagem coativa de van Dijk
apresenta procedimentos que podem possibilitar
condições adequadas ao desenvolvimento da comunicação em surdocegos pré-lingísticos.
Esta abordagem parte do princípio que as atividades propostas precisam ser realizadas em
conjunto com a criança, através do movimento de mão sobre mão. Para isto é fundamental o
envolvimento afetivo dos participantes. A relação afetiva promoverá um ambiente no qual a
criança se sentirá segura para participar nas atividades. O autor ao abordar os vários níveis
de comunicação reporta-se a seis fases, identificadas por ele como: nutrição, ressonância,
movimento coativo, referência não representativa, imitação e gesto natural. Estas fases
constituem-se num processo dinâmico de incorporação de estímulos sociais, podendo ser
sequenciais ou cumulativas.
Assim, para a intervenção na surdocegueira, seja com comprometimento exclusivo da
visão e audição ou com outras funções comprometidas, o autor defende que devem ser
realizados programas de estruturação das informações e das atividades que ajudem a criança
na organização das suas experiências. Os seus estudos e a sua prática formam a generalidade
dos atendimentos de surdocegos congénitos no mundo (van Dijk, 1999 in Araóz, 1999).
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
18
DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA UTILIZADA
2.1. AMOSTRA
No estudo “Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção” foram identificados 135 casos
de pessoas surdocegas residentes em Portugal, dos quais 81 (60%) pertenciam ao género
masculino e 54 (40%) ao género feminino. Com idades compreendidas entre os dois e os
noventa e nove anos de idade. Centrando-se na média dos 40,1 anos de idade e desvio padrão
de 21,3.
Sendo 17,8% crianças e adolescentes (0 - 18 anos), 24,4% jovens adultos (19 - 35 anos),
45,9% adultos (36-64 anos) e 11,9% idosos (mais de 65 anos). E maioritariamente residentes
na região de Lisboa e Vale do Tejo (48.5%), no Norte (32,8%), no Centro (11,1%), no
Algarve (4,5%) e no Alentejo (2,9%). Não tendo sido identificada nenhuma pessoa surdocega
residente nas regiões autónomas.
2.2. INSTRUMENTO
Para a recolha dos dados, foi elaborado um questionário pelo CED António Aurélio da
Costa Ferreira, submetido para análise e aprovação à Comissão Nacional de Proteção de
Dados (CNPD) e ao departamento de Monitorização de Inquéritos em Meio Escolar do
Ministério da Educação (MIME), com o intuito de caracterizar a totalidade de pessoas
surdocegas que reside Portugal.
Este instrumento permitia recolher informação sobre:
a) os organismos respondentes, mais especificamente:
 o número de entidades nacionais que intervêm com esta população; e a sua
distribuição no país;
 a sua identificação: nome, distrito, concelho, localidade, morada, contacto telefónico,
fax e eletrónico;
 o seu estatuto jurídico, se era uma Cooperativa de Solidariedade Social, um Hospital –
Ministério da Saúde, Centro Distrital de Segurança Social, Santa Casa da Misericórdia,
Instituto Particular de Solidariedade Social, Fundação, Centro de Saúde, Agrupamento
Escolar/ Escola, devendo preencher o campo “outro” e indicar qual, caso não pertencesse a
nenhum dos organismos apresentados;
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
19
 o responsável pelo preenchimento, o serviço no qual desempenha funções e o seu
contacto de e-mail.
b) as características das pessoas surdocegas, designadamente:
 a sua identificação: género, data de nascimento (dia-mês-ano), nacionalidade, e
naturalidade;
 a altura em que a pessoa se tornou surdocega, tendo a possibilidade de assinalar uma
das respostas: nasceu surdocega ou ficou surdocega até aos dois anos; nasceu surdo e perdeu
a visão; nasceu cego/ baixa visão e perdeu a audição; e perdeu a visão e a audição depois dos
dois anos de idade;
 se tem conhecimento da etiologia da surdocegueira, com opções de resposta sim e
não, devendo caso tivesse, indicar qual a causa no campo correspondente;
 o nível de comprometimento da função visual, se existe um prejuízo ao nível da baixa
visão ou da cegueira;
 o nível de comprometimento auditivo, se há a existência de surdez moderada, severa
ou profunda;

e a existência de funcões adicionais afetadas para além da visão e audição,
nomeadamente, afetação das funções: intelectual; motora; voz; ou outras funções adicionais
(olfato, paladar, tacto), permitindo descrever qual ou quais; ou se existe outra função
prejudicada, permitindo a descrição da mesma. Esta opção permitia várias opções de
resposta, de entre as referidas anteriormente;
 a caracterização da pessoa surdocega:
o estado civil: solteiro/a, divorciado/a, casado/a, união de facto; viúvo/a;
o nível de escolaridade: sem escolaridade; 1.º ciclo (1.º - 4.º ano); 2.º ciclo (5.º 6.º ano); 3.º ciclo (7.º - 9.º ano); secundário (10.º - 12.º ano); licenciatura ou
outro, caso fosse assinalada esta resposta, era pedida a descrição do nível de
escolaridade;
o situação face ao trabalho: estudante; empregado/a; formação profissional;
desempregado/a; actividade ocupacional; reformado/a/ pensionista; ou outra, e
qual;
o com quem vive a maior parte do tempo: sozinho/a; numa instituição; com a
família; ou outra situação e qual;
o localização da residência, com a nomeação do distrito e concelho;
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
20
o com quem fica quando tem de permanecer em casa: sozinho/a; com irmãos;
com os pais; outros familiares; outra pessoa;
o se beneficia de algum tipo de apoio social e caso beneficie, qual é o apoio.

sendo possibilitado no final do questionário que o respondente inclua algumas
observações.
Importa salientar que este questionário possui um carácter de confidencialidade e um
guião para auxiliar os técnicos no seu preenchimento, fornecendo uma breve descrição de
todos os itens e alguns exemplos explicativos.
2.3. PROCEDIMENTOS
O processo de distribuição de questionários foi precedido por um levantamento dos
organismos que poderiam ter algum tipo de intervenção com pessoas surdocegas
(Cooperativas de Solidariedade Social, Hospitais, Centros Distritais de Segurança Social,
Santas Casas da Misericórdia, Instituições Particulares de Solidariedade Social, Fundações,
Centros de Saúde, Agrupamentos escolares e Escolas, Institutos Públicos, Centros Sociais e
Paroquiais, Lares, etc.). Uma vez que a autorizações das Comissões de Ética regionais eram
fundamentais para a aplicação dos questionários nas entidades de saúde pública, foi enviado
um pedido de autorização às Comissões de Ética do Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo,
Alentejo e do Sul, solicitando uma aprovação para aplicação dos questionários.
Procedendo-se posteriormente, por telefone ou correio eletrónico, ao contacto com os
organismos para resposta ao questionário. Sendo nesse contacto fornecidas algumas
informações sobre o projeto e seus objetivos, autorização para envio do instrumento, e pedida
colaboração do técnico no seu preenchimento e no reenvio do questionário preenchido para o
e-mail do CED António Aurélio da Costa Ferreira.
Os técnicos dos organismos eram responsáveis pelo preenchimento do questionário.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
21
2.4. CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE
Para ser incluído no estudo, o organismo teria que ter algum indivíduo com
surdocegueira associado à instituição e teria que enquadrar-se num dos seguintes critérios:
1) ser surdo profundo e cego;
2) ser surdo e com pouca visão;
3) ter baixa audição e ser cego;
4) ou ter alguma visão e audição.
Os dados recolhidos, foram introduzidos na base de dados criada para o efeito em
Microsoft Excel, e posteriormente transferidos para o software SPSS. Este processo decorreu
entre os meses de junho a novembro de 2013, embora ainda se continuem a receber alguns
questionários. Após este processo, deu-se início à análise dos dados que permitiu elaborar
este relatório. Dado que algumas das questões colocadas eram abertas, houve necessidade de
fazer uma análise de conteúdo às mesmas. Deste modo, os dados que a seguir se apresentam
incluem aspetos relacionados com dados qualitativos e quantitativos.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
22
RESULTADOS
Foram recebidos no CED António Aurélio da Costa Ferreira um total de 213
questionários relativamente a pessoas surdocegas. No entanto, uma vez que alguns tinham
apenas a caracterização dos organismos e não havia caracterização de pessoa surdocega,
devido à inexistência de pessoas surdocegas associadas à instituição, estes foram
considerados não válidos (78). Assim, para a elaboração deste relatório, foram considerados
válidos 135 questionários.
Tabela 1 – Quantidade de respostas recebidas
Total de respostas
recebidas
Respostas recebidas
consideradas não válidas
213
Respostas recebidas
consideradas válidas
78
135
3.1. CARACTERIZAÇÃO DOS ORGANISMOS
3.1.1. Estatuto jurídico dos organismos participantes
Das 135 das respostas recebidas consideradas válidas, 57,5% pertencia a um Instituto
Público, maioritariamente ao CED António Aurélio da Costa Ferreira, 20,2% a uma
Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), 9,7% a Santas Casas da Misericórdia,
6,7% a Cooperativas de Solidariedade Social, 2,2% a Centros Distritais de Segurança Social,
2,2% a Organismos de Poder Local, e 1,5% a Agrupamentos Escolares/ Escolas.
Para clarificar a distribuição da população surdocega pelos diferentes organismos com
diferentes estatutos jurídicos, apresenta-se a tabela 2.
Tabela 2 – Estatuto jurídico dos organismos válidos
Estatuto Jurídico
N
%
Cooperativa de Solidariedade Social
Organismo de Poder Local
Instituição Particular de Solidariedade Social
Centro Distrital de Segurança Social
Santa Casa da Misericórdia
Agrupamento Escolar/ Escola
Instituto Público
9
3
7
3
3
2
77
6,7
2,2
20,2
2,2
9,7
1,5
57,5
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
23
Nos dados apresentados, fica evidente que os Institutos Públicos (57,5%) e as IPSS’s
(20,2%) estão fortemente representados com o maior número de casos de pessoas surdocegas
identificados.
3.1.2. Distrito de pertença dos organismos participantes
Tabela 3 – Organismos por distrito
Aveiro
N
%
4
3
Beja
2
1,5
Braga
Bragança
7
5,2
6
4,4
Castelo
Branco
1
0,7
Coimbra
Faro
Leiria
Lisboa
Porto
Santarém
Viseu
4
3
2
1,5
2
1,5
87
64,4
12
8,9
4
3
4
3
Na tabela 3 pôde observar-se a concentração da quase totalidade da amostra na região de
Lisboa (64,4%) e nos distritos do Norte. Os distritos das regiões do Centro, Alentejo e Sul do
país, são os mais subrepresentados neste estudo. Esta situação pode ser explicada pelo grande
índice populacional da região de Lisboa e Vale do Tejo e Porto e pelo facto das unidades
especializadas de intervenção estarem predominante concentradas nas capitais.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
24
3.2. CARACTERIZAÇÃO DA PESSOA SURDOCEGA
Entrando no grande foco do estudo, será mostrada uma breve caracterização da pessoa
surdocega, analisando-se as diferenças ao nível do género e da faixa etária.
As faixas etárias apresentam-se divididas:
 criança-adolescente quando o indivíduo tem até 18 anos de idade;
 jovem adulto dos 19 aos 35 anos;
 adulto dos 36 aos 64 anos;
 e idoso quando a idade é igual ou superior a 65 anos.
3.2.1. Género e Idade
Numa análise do género da população surdocega, num n=135 percebe-se que a maioria
da população do estudo (60%) que corresponde a 81 pessoas pertence ao género masculino e
54 ao género feminino (40%).
Figura 1 – Género da população
40%
Masculino
60%
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
Feminino
25
A figura que se segue ilustra a distribuição da população por faixa etária, mostra que
45,9% dos casos identificados se concentra na idade adulta, seguida dos jovens adultos
(24,4%), das crianças e adolescentes (17,8%), e da população idosa, aquela que se faz
apresentar em menor número (11,9%). Sendo a média de idades de 40,11 e o desvio padrão
de 21,38, como referido na apresentação da amostra.
Figura 2 – Faixa etária da população
45,9%
50%
40%
30%
20%
24,4%
17,8%
11,9%
10%
0%
Crianças e
adolescentes
Jovens adultos
Adultos
Idosos
Na análise da tabela 4, podemos constatar que a amostra masculina é predominantemente
adulta (45,7%) e jovem adulta (24,7%), assim como a feminina, que apresenta 46,3% de
adultos e 24,1% de jovens adultos.
Tabela 4 – Género e faixa etária da população
Faixa Etária
Género
Masculino
Criança e Adolescente
Jovem adulto
Adulto
Idoso
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
Feminino
N
%
N
%
15
20
37
9
18,5
24,7
45,7
11,1
9
13
25
7
16,7
24,1
46,3
12,9
26
3.2.2. Nacionalidade
Em termos de nacionalidade, num n=130 fica evidente que a população é na generalidade
portuguesa (94,6%). Existindo 2,3% de indivíduos imigrantes de origem guineense, 0,8% de
nacionalidade brasileira, 0,8% são tomense e 1,5% cabo-verdiana. A distribuição da
população por frequência e percentagem apresenta-se na tabela seguinte.
Tabela 5 – Nacionalidade da população
Nacionalidade
N
%
Portuguesa
123
94,6
Guineense
3
2,2
Brasileira
S. Tomense
Cabo-Verdiana
1
1
2
0,7
0,7
1,5
3.2.3. Altura em que a pessoa se tornou surdocega
Outro tipo de informação recolhida, foi a altura em que a pessoa se tornou surdocega:
1) se nasceu surdocega ou ficou surdocega até aos dois anos;
2) se nasceu surda e perdeu a visão;
3) se nasceu cego/baixa visão e perdeu a audição;
4) ou se perdeu a visão e a audição depois dos dois anos de idade.
Ficando claro na figura 3, que num n=124, a população nasceu na sua maioria surdocega
ou ficou surdocega até aos dois anos de idade (30,6%) ou perdeu a visão e a audição depois
dos dois anos de idade (30,6%).
Figura 3 – Altura em que a pessoa se tornou surdocega
30,6%
Nasceu surdocega ou ficou
surdocega até aos dois anos de
idade.
Nasceu surdo e perdeu a visão.
30,6%
Nasceu cego/baixa visão e
perdeu a audição.
8,9%
29,8%
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
Perdeu a visão e a audição
depois dos dois anos de idade.
27
No estudo destes dados quanto ao género, representados na tabela 6, constata-se que no
geral, a amostra masculina nasceu surda e perdeu a visão (31,1%) ou perdeu a visão e a
audição depois dos dois anos de idade (31,1%). Seguida da pessoa que nasceu surdocega ou
ficou surdega até aos dois anos (27%) e da que nasceu cega/ baixa visão e perdeu a audição
(10,8%).
Por sua vez, a amostra feminina, nasceu dominantemente surdocega ou ficou surdocega
até aos dois anos (36%). Seguidamente da população que perdeu a visão e a audição depois
dos dois anos de idade (30%), dos que nasceram surdos e perderam a visão (28%) e por fim,
daqueles que nasceram cegos/baixa visão e perderam a audição (6%).
Tabela 6 – Altura em que a pessoa se tornou surdocega por género
Altura em que se tornou surdocego
Género
Masculino
Nasceu surdocega ou ficou surdocega até aos dois anos.
Nasceu surdo e perdeu a visão.
Nasceu cego/baixa visão e perdeu a audição.
Perdeu a visão e a audição depois dos dois anos de idade.
Feminino
N
%
N
%
20
23
8
23
27
31,1
10,8
31,1
18
14
3
15
36
28
6
30
Na tabela 7, verifica-se que grande parte das crianças e adolescentes nasceram
surdocegos ou ficaram surdocegos até aos dois anos (47,1%), assim como os jovens adultos
(46,9%). Diferenciando-se dos adultos, que nasceram surdos e perderam a visão (38,3%) e
dos idosos que frequentemente apresentam como causa da sua surdocegueira a perda da visão
e da audição depois dos dois anos de idade (60%). Podendo esta estar relacionada com os
prejuízos comuns ocorridos nos sentidos da distância resultantes do avanço da idade.
Tabela 7 – Altura em que a pessoa se tornou surdocega por faixa etária
Altura em que se tornou surdocego
Faixa etária
Criança e
Adolescente
Jovem Adulto
Adulto
Idoso
N
%
N
%
N
%
N
%
Nasceu surdocega ou ficou
surdocega até aos dois anos.
8
47,1
15
46,9
12
20
3
20
Nasceu surdo e perdeu a visão.
Nasceu cego/baixa visão e perdeu a
audição.
Perdeu a visão e a audição depois
dos dois anos de idade.
4
1
23,5
5,9
8
3
25
9,4
23
6
38,3
10
2
1
13,3
6,7
4
23,5
6
18,7
19
31,7
9
60
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
28
Na relação entre altura em que a pessoa se tornou surdocega e nível de comprometimento
da função visual, constata-se que à exceção daqueles que nasceram surdos e perderam a visão
e que apresentam um comprometimento visual ao nível da baixa visão (75%), todos os outros
surdocegos apresentam um prejuízo ao nível da cegueira.
Tabela 8 – Altura em que a pessoa se tornou surdocega e nível de comprometimento da visão
Altura em que a pessoa se tornou surdocega
Comprometimento da visão
Baixa visão
Cegueira
N
%
N
%
Nasceu surdocega ou ficou surdocega até aos dois anos.
17
45,9
20
54,1
Nasceu surdo e perdeu a visão.
Nasceu cego/baixa visão e perdeu a audição.
Perdeu a visão e a audição depois dos dois anos de idade.
27
1
15
75
9,1
39,5
9
10
23
25
90,9
60,5
A altura em que a pessoa se tornou surdocega varia quanto ao nível de comprometimento
da função visual, ficando demonstrado:

na sua maioria, aqueles que nasceram surdocegos ou ficaram surdocegos até aos dois
anos de idade (58,3%) e aqueles que nasceram surdos e perderam a visão (94,6%) são
mais afetados ao nível da surdez profunda;

e aqueles que nasceram cegos/ baixa visão (63,6%) ou que perderam a visão e a
audição depois dos dois anos de idade (54,5%) têm um prejuízo auditivo ao nível da
surdez moderada.
Tabela 9 - Altura em que a pessoa se tornou surdocega e nível de comprometimento da
audição
Altura em que a pessoa se tornou surdocega
Nasceu surdocega ou ficou surdocega até aos
dois anos.
Nasceu surdo e perdeu a visão.
Nasceu cego/baixa visão e perdeu a audição.
Perdeu a visão e a audição depois dos dois
anos de idade.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
Comprometimento da audição
Surdez
Surdez severa
Surdez
moderada
profunda
N
%
N
%
N
%
7
19,4
8
22,2
21
58,3
1
7
18
2,7
63,6
54,5
1
4
8
2,7
36,4
24,2
35
0
7
94,6
0
21,2
29
3.2.4. Conhecimento da causa da surdocegueira
Passando-se à análise da causa da surdocegueira por género. Das 126 respostas
recolhidas neste item, percebe-se que a maioria das pessoas conhece a causa da sua
surdocegueira. Através da observação da figura 4 constata-se que o género masculino (54%)
e feminino (46%) sabe a causa da sua surdocegueira.
Figura 4 – Conhecimento da causa da surdocegueira
46%
Sim
54%
Não
Quanto ao género, fica demonstrado que o feminino (59,6%) é aquele que
maioritariamente sabe a causa da sua surdocegueira, uma vez que o género masculino se
divide quanto ao conhecimento da causa dos seus prejuízos.
Tabela 10 – Conhecimento da causa surdocegueira por género
Sabe causa da surdocegueira
Género
Masculino
Feminino
N
%
N
%
Sim
37
50
31
59,6
Não
37
50
21
40,4
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
30
Nos grupos etários, verifica-se que todos os grupos, à exceção dos adultos, sabe a causa
dos seus comprometimentos visual e auditivo: 61,9% das crianças sabe a causa da sua
surdocegueira; assim como, 60% dos jovens adultos e 62,5% dos idosos; e apenas 45,8% dos
adultos.
Tabela 11 – Conhecimento da causa da surdocegueira por faixa etária
Sabe causa da surdocegueira
Faixa etária
Criança e
Adolescente
Sim
Não
Jovem Adulto
Adulto
Idoso
N
%
N
%
N
%
N
%
13
8
61,9
38,1
18
12
60
40
27
32
45,8
54,2
10
6
62,5
37,5
As causas da surdocegueira mais frequentemente apontadas pelos 73 sujeitos
respondentes a esta questão foram:
(1) origem pré-natal (38,4%) – cataratas congénitas, oligofrenia, atraso no
desenvolvimento psicomotor, esquizoncefalia, síndrome Sturge-Weber, síndrome Blue
Rubber, rubéola materna, hidrocefalia, síndrome congénito associado, surdez à nascença,
paralisia cerebral;
(2) origem pós-natal (34,2%) – miopia, consanguinidade, infeções, meningite,
meningoencefalite, encefalite herpética, sarampo, otites graves, sífilis, diabetes, paludismo
infeccioso, cataratas, glaucoma, retinopatia, acidentes, e tumorações;
(3) origem hereditária (24,6%) – retinite pigmentar, epilepsia, trissomia 21, trissomia 12,
osteogénese imperfecta, síndrome de Norrie, síndrome de Sticker, síndrome Charge,
síndrome Usher;
(4) complicações no nascimento (2,7%) – como prematuridade ou anóxia.
Figura 5 – Causa da surdocegueira
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
38,4%
34,2%
24,7%
2,7%
origem prénatal
origem pósnatal
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
origem
hereditária
complicações
no nascimento
31
A origem pré-natal mantém-se predominante no género masculino (39,5%) mas não no
feminino, que apresenta a origem uma pós-natal (46,7%) como a causa mais comum.
Tabela 12 – Causa da surdocegueira por género
Causa da surdocegueira
Género
Masculino
Origem pré-natal
Origem pós-natal
Origem hereditária
Complicações no nascimento
Feminino
N
%
N
%
17
11
13
2
39,5
25,6
30,2
4,7
11
14
5
0
36,7
46,7
16,6
0
Nas faixas etárias, a origem pré-natal e a pós-natal voltam a ser as causas mais comuns
em todas as idades. Metade (50%) das crianças e adolescentes apresentam a origem pós-natal,
assim como os idosos (70%) como causa mais frequente. Enquanto 50% dos jovens adultos e
45,2% dos adultos refere a origem pré-natal.
Tabela 13 – Causa da surdocegueira por faixa etária
Causa da surdocegueira
Faixa etária
Criança e
Adolescente
Jovem Adulto
Adulto
Idoso
N
%
N
%
N
%
N
%
Origem pré-natal
Origem pós-natal
Origem hereditária
3
7
3
21,4
50
21,4
9
2
6
50
11,1
33,3
14
9
8
45,2
29
25,8
2
7
1
20
70
10
Complicações no nascimento
1
7,2
1
5,6
0
0
0
0
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
32
3.2.5. Nível de comprometimento da função visual
O comprometimento da função visual apresenta como variáveis baixa visão e cegueira.
Na comparação de percentagens no estudo dos dados, num n=129, não são apresentadas
diferenças muito significativas. Existe um maior número de sujeitos com cegueira (52,7%) do
que com baixa visão (47,3%), mas a diferença percentual é de apenas 5,4%.
Figura 6 – Nível de comprometimento da função visual
52,7%
Baixa visão
47,3%
Cegueira
Na observação da tabela 14 verifica-se que mais de metade da amostra masculina tem
baixa visão (67,2%) e que quase metade do género feminino apresenta cegueira (61,5%).
Tabela 14 – Nível de comprometimento da função visual por género
Comprometimento da função visual
Género
Masculino
Baixa visão
Cegueira
Feminino
N
%
N
%
41
36
67,2
32,8
20
32
38,5
61,5
Na análise do prejuízo visual por faixa etária prevalece, a cegueira na criança e
adolescente (59,1%), continuada pelo adulto (52,5%) e idoso (69,2%). A baixa visão apenas
tem predomínio nos jovens adultos (57,6%).
Tabela 15 – Nível de comprometimento da função visual por faixa etária
Faixa etária
Criança-Adolescente
Jovem adulto
Adulto
Idoso
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
Comprometimento da função visual
Baixa visão
Cegueira
N
%
N
%
9
19
29
4
40,9
57,6
47,5
30,8
13
14
32
9
59,1
42,4
52,5
69,2
33
Na observação da tabela 16, fica evidente que aqueles que têm baixa visão (63,3%) e são
cegos (46,8%), têm predominantemente uma surdez profunda.
Tabela 16 – Nível de comprometimento das funções visual e auditiva
Comprometimento da função visual
Comprometimento da função auditiva
Surdez moderada
Baixa visão
Cegueira
Surdez severa
Surdez profunda
N
%
N
%
N
%
15
19
25
30,6
7
14
11,7
22,6
38
29
63,3
46,8
3.2.6. Nível de comprometimento da função auditiva
O comprometimento da função auditiva pode ser:
1) moderado, interferindo no desenvolvimento da fala e linguagem, mas não impedindo
que o sujeito fale;
2) severo, causando dificuldades no desenvolvimento da fala e linguagem, mas com a
utilização de um aparelho poderá receber informações utilizando a audição para o
desenvolvimento da fala e linguagem;
3) ou profundo, sem possibilidade de intervenção, no qual a fala e a linguagem
dificilmente irão ocorrer.
Como se comprova na figura 7, a população surdocega deste estudo, num n=125 tem
maioritariamente um prejuízo profundo da função auditiva (55,2%) ou seja, para estes
sujeitos, não existe uma possibilidade de intervenção e a fala e a linguagem dificilmente
serão adquiridas. Apenas 27,2% dos sujeitos tem um comprometimento auditivo moderado,
contando com alguns comprometimentos ao nível do desenvolvimento da fala e linguagem,
mas não tendo a impossibilidade de falar.
Figura 7 – Nível de comprometimento da função auditiva
27,2%
Surdez moderada
Surdez severa
55,2%
Surdez profunda
17,6%
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
34
No análise do prejuízo quanto ao género, fica evidente que a surdez profunda prevalece
em ambos os géneros, 53,3% no género masculino e 58% no género feminino.
Tabela 17 – Nível de comprometimento da função auditiva por género
Comprometimento da função auditiva
Surdez moderada
Género
Masculino
Feminino
Surdez severa
Surdez profunda
N
%
N
%
N
%
21
13
28
26
14
8
18,7
16
40
29
53,3
58
No comprometimento da função auditiva por faixa etária, é notória a prevalência de
surdez profunda em todas as faixas etárias. Encontrando-se 60% de casos de pessoas
surdocegas na faixa das crianças e adolescentes, 66,7% nos jovens adultos, 50% nos adultos e
41,7% no grupo dos idosos.
Tabela 18 – Nível de comprometimento da função auditiva por faixa etária
Faixa etária
Comprometimento da função auditiva
Surdez
moderada
Crianças Adolescentes
Jovens adultos
Adultos
Idoso
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
Surdez
severa
Surdez
profunda
N
%
N
%
N
%
3
7
20
4
15
21,2
33,3
33,3
5
4
10
3
25
12,1
16,7
25
12
22
30
5
60
66,7
50
41,7
35
3.2.7. Funções adicionais afetadas
Das 64 pessoas que relataram a coexistência de funções adicionais afetadas, 27%
reportou as funções intelectual e voz afetadas e 17,5% a função intelectual, motora, voz e as
funções sensoriais adicionais (olfato, paladar e tato) como igualmente prejudicadas.
Figura 8 – Funções adicionais afetadas
30%
27,0%
25%
20%
17,5%
15,9%
15%
9,5%
10%
11,1%
9,5%
6,3%
5%
1,6%
1,6%
0%
Intelectual
Motora
Voz
Intelectual Intelectual Intelectual, Motora e Funções Intelectual,
e motora
e voz
motora e
voz
sensoriais motora,
voz
adicionais
voz e
funções
sensoriais
adicionais
Num estudo das funções adicionais afetadas quando ao género, apenas o género feminino
apresenta uma das funções adicionais prejudicada mais frequentes, a intelectual e a voz
(31,3%), enquanto o género masculino refere apenas a coexistência da função intelectual
afetada (25,8%)
Tabela 19 – Funções adicionais afetadas por género
Funções adicionais afectadas
Género
Masculino
Feminino
N
%
N
%
Intelectual
Motora
8
1
25,8
3,2
2
3
6,2
9,4
Voz
1
3,2
5
15,6
Intelectual e motora
3
9,7
4
12,5
Intelectual e voz
7
22,6
10
31,3
Intelectual, motora e voz
5
16,1
1
3,1
Motora e voz
1
3,2
0
0
Funções sensoriais adicionais
1
3,2
0
0
Intelectual, motora, voz e
funções sensoriais adicionais
4
13
7
21,9
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
36
Na faixa etária, os resultados são ainda mais diversos. Embora os jovens adultos apontem
a funções intelectual e voz (47,8%), as crianças e adolescentes referem a intelectual e a
motora (27,2%), os adultos a intelectual (30,4%) e os idosos a voz (50%).
Tabela 20 – Funções adicionais afetadas por faixa etária
Funções adicionais afetadas
Faixa etária
Criança e
Adolescente
Jovem Adulto
Adulto
Idoso
N
%
N
%
N
%
N
%
Intelectual
Motora
0
1
0
9,1
3
0
13
0
7
1
30,4
4,4
0
2
0
33,3
Voz
Intelectual e motora
Intelectual e voz
Intelectual, motora e voz
Motora e voz
0
3
2
2
1
0
27,2
18,2
18,2
9,1
1
1
11
4
0
4,4
4,4
47,8
17,4
0
2
2
4
0
0
8,7
8,7
17,4
0
0
3
1
0
0
0
50
16,7
0
0
0
Funções sensoriais adicionais
0
0
0
0
1
4,4
0
0
Intelectual, motora, voz e funções
sensoriais adicionais
2
18,2
3
13
6
26
0
0
3.2.8. Estado civil
No estudo do estado civil da população surdocega, ficou registado que 81,8% das 132
pessoas que respondeu a este item é solteira ou divorciada, 14,4% é casada ou vive em união
de facto e que a viuvez é o estado civil menos comum (3,8%).
Figura 9 – Estado civil
3,8% 14,4%
Casado/a, união de facto
81,8%
Solteiro/a, divorciado/a
Viúvo/a
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
37
Na tabela 21, verifica-se que no estado civil em ambos os géneros, masculino (81%) e
feminino (83%) predomina a situação de solteiro ou em união de facto.
Tabela 21 – Estado civil por género
Estado civil
Género
Masculino
Feminino
N
%
N
%
Solteiro/a, divorciado/a
Casado/a, união de facto
64
13
81
16,4
44
6
83
11,3
Viúvo/a
2
2,6
3
5,7
A situação quanto ao género mantém-se na faixa etária. Todas as crianças e adolescentes
são solteiras (100%), 90,9% dos jovens adultos são solteiros ou divorciados, assim como,
78,3% dos adultos e 50% dos idosos.
Tabela 22 – Estado civil por faixa etária
Faixa etária
Crianças e Adolescentes
Jovens adultos
Adultos
Idoso
Estado civil
Solteiro/a,
Casado/a,
Viúvo/a
divorciado/a união de facto
N
%
N
%
N
%
23
30
47
8
100
90,9
78,3
50
0
3
12
4
0
9,1
20
25
0
0
1
4
0
0
1,7
25
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
38
Numa análise do estado civil pela altura em que a pessoa se tornou surdocega, fica
demonstrado que na sua maioria, os solteiros e divorciados (36%) nasceram surdocegos ou
ficaram surdocegos até aos dois anos de idade, e os casados ou aqueles que vivam em união
de facto (47,3%), assim como a totalidade dos idosos (100%) perderam a visão e a audição
depois dos dois anos de idade.
Tabela 23 – Estado civil por altura e altura em que a pessoa se tornou surdocega
Estado civil
Altura em que se tornou surdocega
Nasceu surdocega
Nasceu surdo
Nasceu cego/
Perdeu a visão e
a audição depois
ou ficou surdocega e perdeu a visão
baixa visão e
dos dois anos de
até aos dois anos
perdeu a audição
idade
Solteiro/a, divorciado/a
Casado/a,
S
união de facto
Viúvo/a
N
%
N
%
N
%
N
%
36
2
0
36
10,5
0
32
4
0
32
21,1
0
7
4
0
7
21,1
0
25
9
4
25
47,3
100
Outros dados relevantes:
Se for aprofundada a causa da surdocegueira, percebe-se:

os solteiros/ divorciados (45,9%) devem a sua surdocegueira a uma origem pré-natal;

enquanto os casados/ unidos de facto (62,5%) e os idosos (100%) têm surdocegueira
devido a uma causa pós-natal.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
39
3.2.9. Nível de escolaridade
Relativamente ao nível de escolaridade, verifica-se que para um n=131, 37,4% das
pessoas com surdocegueira não tem escolaridade, seguida do 1.º ciclo (29%), e do 3.º ciclo
(13,7%). O nível menos representado é a frequência de ensino superior, com apenas um caso
(0,8%). No entanto, existe outro valor, que mesmo que não se apresente em dominância
merece ser incluído, a existência de nove pessoas detentoras de um curso superior ao nível da
licenciatura (6,9%).
Figura 10 – Nível de escolaridade
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
37,4%
29,0%
13,7%
6,9%
6,1%
3,1%
3,1%
0,8%
Dos níveis de escolaridade predominantes, sem nível de escolaridade e 1.º ciclo, é
maioritário em ambos os géneros. No género masculino 32,1% não tem qualquer nível de
instrução, e 32,1% tem o 1.º ciclo. No feminino, 45,3% também não tem escolaridade e
24,5% tem o 1.º ciclo.
Tabela 24 – Nível de escolaridade por género
Género
Sem
escolaridade
Masculino
Feminino
Préescolar
1.º ciclo
Nível de escolaridade
2.º ciclo
3.º ciclo Secundário
Licenciatura
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
Frequência
Ensino
Superior
N
%
25
24
32,1
45,3
3
1
3,8
1,9
25
13
32,1
24,5
5
3
6,4
5,7
12
6
15,4
11,3
3
1
3,8
1,9
5
4
6,4
7,5
0
1
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
0
1,9
40
Quanto à faixa etária: as crianças e adolescentes têm ou frequentam o 1.º ciclo (26,1%)
ou o 3.º ciclo (26,1%); os jovens adultos são maioritariamente não instruídos (66,7%); os
adultos têm o 1.º ciclo (39%); e os idosos ou não têm escolaridade (43,8%) ou têm o 3.º ciclo
(43,8%).
Tabela 25 – Nível de escolaridade por faixa etária
Nível de escolaridade
Sem escolaridade
Ensino pré-escolar
1.º Ciclo (1.º - 4.º ano)
2.º Ciclo (5.º - 6.º ano)
3.º Ciclo (7.º - 9.º ano)
Secundário
Licenciatura
Outro: frequenta o Ensino Superior
Criança e
Adolescente
N
%
4
17,4
3
13,1
6
26,1
3
13
6
26,1
0
0
0
0
1
4,3
Faixa etária
Jovem adulto
Adulto
N
22
0
2
1
5
1
2
0
%
66,7
0
6,1
3
15,1
3
6,1
0
N
16
0
23
4
7
3
6
0
Idoso
%
27,1
0
38,9
6,8
11,9
5,1
10,2
0
N
7
1
7
0
0
0
1
0
%
43,7
6,3
43,7
0
0
0
6,3
0
3.2.10. Situação face ao trabalho
A situação face ao trabalho foi decomposta em sete variáveis: estudante, formação
profissional, atividade ocupacional, reformado/a/ pensionista, empregado/a, desempregado/a
e outra (e.g. trabalho em casa). Destacando-se a situação de reforma (27,5%), a atividade
ocupacional (23,3%) e estudante (20%) como as situações profissionais mais frequentes da
totalidade da amostra em estudo (n=135).
Figura 11 – Situação face ao trabalho
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
27,5%
23,3%
20,0%
12,5%
8,3%
2,5%
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
5,8%
41
Na análise da atividade relacionada com o género, destacam-se igualmente as situações
de atividade ocupacional (23,6%) e reformado/ pensionista (29,2%) para o género masculino,
e estudante (25%), reformado/ pensionista (25%) e atividade ocupacional (22,9%) para o
feminino.
Tabela 26 – Situação face ao trabalho por género
Género
Estudante
Masculino
Feminino
N
%
12
12
16,7
25
Formação
profissional
N
%
3
0
Actividade
ocupacional
N
%
4,2
0
17
11
Situação face ao trabalho
Reformado/a Empregado/a
23,6
22,9
Desempregado/a
Outra
N
%
N
%
N
%
N
%
21
12
29,2
25
7
3
9,7
6,2
5
2
6,9
4,2
7
8
9,7
16,7
Nas faixas etárias, fica demonstrado que as crianças e adolescentes são dominantemente
estudantes (78,3%); mais de metade dos jovens tem uma atividade ocupacional (58,6%); e
que a maioria dos adultos (35,2%) e a totalidade dos idosos estão em situação de reforma
(100%).
Tabela 27 – Situação face ao trabalho por faixa etária
Faixa etária
Situação face ao trabalho
Estudante
Crianças e
adolescentes
Jovens
Adultos
Idosos
Formação
Profissional
Atividade
ocupacional
Reformado/a
Empregado
/a
Desempregado
/a
Outra
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
18
78,3
0
0
1
4,3
0
0
0
0
0
0
4
17,4
3
3
0
10,3
5,6
0
0
3
0
0
5,6
0
17
10
0
58,6
18,5
0
0
19
14
0
35,2
100
3
7
0
10,3
13
0
3
4
0
10,3
7,4
0
3
8
0
10,3
14,8
0
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
42
3.2.11. Com quem vive a maior parte do tempo
Na análise do campo “Com quem vive a maior parte do tempo”, podemos observar que
em grande escala a amostra (n=131) vive com a família ou numa instituição. Dos indivíduos
incluídos, 56,5% vive com a família 32,8% reside a maior parte do seu tempo numa
instituição.
Figura 12 – Com quem vive a maior parte do tempo
56,5%
60%
50%
40%
32,8%
30%
20%
8,4%
10%
2,3%
0%
Sozinho/a
Numa
instituição
Com a família
Outra situação
No estudo do género é frequente em ambos os géneros viver com a família, uma vez que
62,8% dos homens e 47,2% das mulheres reportou esta situação habitacional.
Tabela 28 – Com que vive a maior parte do tempo por género
Género
N
%
Com quem vive a maior parte do tempo
Numa
Com a
Com família de
Instituição
família
acolhimento não
formal
N
%
N
%
N
%
Masculino
6
7,7
22
28,2
49
62,8
1
1,3
0
0
Feminino
5
9,4
21
39,6
25
47,2
1
1,9
1
1,9
Sozinho/a
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
Outra
pessoa
N
%
43
Na faixa etária, as crianças e adolescentes (78,3%) e os adultos (66,6%) vivem com a
família, e os jovens adultos (56,3%) e os idosos (50%) vivem numa instituição.
Tabela 29 – Com quem vive a maior parte do tempo por faixa etária
Faixa etária
Criança-Adolescente
Jovem adulto
Adulto
Idoso
Com quem vive a maior parte do tempo
Sozinho/a
Numa
instituição
N
0
1
6
4
N
5
18
12
8
%
0
3,1
10
25
%
21,7
56,3
20
50
Com a família
N
18
13
40
3
Família
acolhimento
%
78,3
40,6
66,6
18,8
N
0
0
1
1
%
0
0
1,7
6,2
Outra pessoa
N
0
0
1
0
%
0
0
1,7
0
3.2.12. Distrito de residência
A localização da residência, num n=134, assim como do organismo, concentra-se nos
distritos de Lisboa (43,3%) e Porto (17,9%), os grandes centros urbanos do país.
Tabela 30 – Distrito de residência
Distrito
N
%
Aveiro
5
3,7
Beja
3
2,2
Braga
9
6,7
Bragança
7
5,2
Castelo Branco
2
1,5
Faro
6
4,5
Guarda
1
0,7
Leiria
2
1,5
Lisboa
58
43,3
Portalegre
1
0,7
Porto
24
17,9
Santarém
3
2,2
Setúbal
2
1,5
Viana do Castelo
4
3
Viseu
7
5,2
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
44
Outros dados relevantes:
Quanto ao género, não são registadas alterações. O género masculino habita em maior
número em Lisboa (45%) e no Porto (21,2%), tal como o feminino, onde 40,7% dos sujeitos
vive em Lisboa e 13% no Porto.
Na faixa etária, a exceção dos idosos, mantêm-se os resultados: 69,6% das crianças e
adolescentes reside em Lisboa; assim como, 69,7% dos jovens adultos; e 25,8% dos adultos;
os idosos (31,3%) concentram-se no distrito de Bragança.
3.2.13. Com quem fica quando tem de permanecer em casa
Na questão “Com quem fica quando tem de permanecer em casa”, numa amostra de 111
sujeitos respondentes, fica salientado que 33,3% da amostra fica sozinha e 40,5% fica com os
pais.
Figura 13 – Com quem fica quando tem de permanecer em casa
45%
40,5%
40%
35%
33,3%
30%
25%
20%
12,6%
15%
10%
7,2%
6,3%
5%
0%
Sozinho/a
Com os
irmãos
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
Com os pais
Outros Outra pessoa
familiares
45
No estudo de género, ficar sozinho (34,3% do género masculino e 31,8% do género
feminino) ou com os pais (41,8% do género masculino e 38,6% do género feminino), foram
as respostas maioritárias nesta variável.
Tabela 31 – Com quem fica quando tem de permanecer em casa por género
Com quem fica em casa
Género
Masculino
Sozinho/a
Com os irmãos
Com os pais
Com outros familiares
Outra pessoa
Feminino
N
%
N
%
23
5
28
6
5
34,3
7,5
41,8
8,9
7,5
14
2
17
2
9
31,8
4,5
38,6
4,5
20,5
Nas faixas etárias fica claro que as crianças e adolescentes ficam com os pais (77,7%),
assim como como os jovens adultos (53,6%), os adultos ficam sós (45,3%) e os idosos ficam
com outra pessoa que não da sua família (58,4%).
Tabela 32 – Com quem fica quando tem de permanecer em casa por faixa etária
Com quem fica em casa
Faixa etária
Criança
Adolescente
Jovem
adulto
Adulto
Idoso
N
%
N
%
N
%
N
%
Sozinho/a
Com os irmãos
1
0
5,6
0
9
3
32,1
10,7
24
3
45,3
5,7
3
1
25
8,3
Com os pais
Com outros familiares
14
2
77,7
11,1
15
0
53,6
0
16
5
30,2
9,4
0
1
0
8,3
Outra pessoa
1
5,6
1
3,6
5
9,4
7
58,4
Outros dados relevantes:
Numa comparação entre as variáveis “Com quem fica quando tem de permanecer em
casa” e “Com quem vive a maior parte do tempo” verifica-se que todos aqueles que ficam em
casa sós, quando têm que permanecer em casa, vivem a maior parte do tempo sozinhos
(100%); e os que ficam em casa com os pais, vivem a maior parte do tempo numa instituição
(51,7%) ou com a família (41,8%).
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
46
3.2.14. Benefício de apoio do social
Quando questionados sobre o benefício de apoio social, grande parte dos sujeitos (n=96)
respondeu ter um qualquer tipo de benefício (80,2%).
Figura 14 – Benefício de apoio social
19,8%
Sim
Não
80,2%
Os indivíduos do género masculino (78%) e os do género feminino (83,4%) auferem na
sua grande maioria um apoio social.
Tabela 33 – Benefício de apoio social por género
Benefício apoio social
Género
Masculino
Sim
Não
Feminino
N
%
N
%
46
13
78
22
31
6
83,4
16,6
Quanto ao apoio por faixa etária, verifica-se que o mesmo é predominantemente auferido
em todas as idades: criança e adolescente (83,3%), jovem adulto (87,5%), adulto (75,4%), e
idoso (86,7%).
Tabela 34 – Benefício de apoio social por faixa etária
Faixa etária
Benefício de apoio social
Sim
Não
N
%
N
%
Criança-Adolescente
10
83,3
2
16,7
Jovem adulto
14
87,5
2
12,5
Adulto
40
75,4
13
24,6
Idoso
13
86,7
2
13,3
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
47
PUBLICAÇÕES DO PROJETO
Artigos Científicos

Gaspar, T.; Rebelo, A.; Antunes, M.; & Martinho, M. (em
preparação).
Deafblindness in Portugal: Routhes for the Future. American Annals of the Deaf.

Gaspar, T.; Rebelo, A.; Antunes, M.; & Martinho, M.
(em
preparação). A
Intervenção em Crianças e Adolescentes con necessidades educativas especiais. Revista de
Psicologia da Criança e do Adolescente.

Gaspar, T.; Rebelo, A.; Antunes, M.; & Martinho, M. (em
preparação). A
Surdocegueira em Portugal. Revista de Estudos Demográficos – Instituto Nacional de
Estatística.
Comunicações Orais

Gaspar, T. et al. (2013). Intervenção com crianças e jovens com necessidades
especiais. V Congresso Latinoamericano de Ninez, Adolescencia e Familia. Cuba, 18 de
Outubro 2013

Gaspar, T. (em preparação). Projecto Surdocegueira – Um Modelo de Intervenção,
Lisboa, 3 e 4 Dezembro de 2013.

Gaspar, T. (2013). Projecto Surdocegueira – Um Modelo de Intervenção, Faro, 4 de
Outubro.

Gaspar, T. (2013). Projecto Surdocegueira – Um Modelo de Intervenção, Évora, 5
Julho.

Gaspar, T. (2013). Projecto Surdocegueira – Um Modelo de Intervenção, Porto, 20
Junho.

Gaspar, T. (2013). Projecto Surdocegueira – Um Modelo de Intervenção, Coimbra, 7
Junho.
Comunicações Poster

Gaspar, T., Rebelo, A., Antunes, M., Liques, P., Martinho, M. & Anselmo, A. (em
preparação). In V Congresso Internacional de Psicologia da Criança e do Adolescente. A
Intervenção com Crianças e Adolescentes com necessidades educativas especiais. Portugal,
Lisboa.
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
48
CONCLUSÕES

A maioria da população do estudo é de nacionalidade portuguesa (94,6%), pertence ao
género masculino (60%) e concentra-se na idade adulta (45,9%). Sendo a média de idades
de 40,11 anos.

A amostra nasceu na sua maioria surdocega ou ficou surdocega até aos dois anos de
idade (30,6%) ou perdeu a visão e a audição depois dos dois anos de idade (30,6%).
Sendo que o género masculino nasceu surdo e perdeu a visão (31,1%) ou perdeu a visão e
a audição depois dos dois anos de idade (31,1%) e o feminino, nasceu dominantemente
surdocego ou ficou surdocego até aos dois anos (36%). Quanto à faixa etária, verificou-se
que a maioria das crianças e adolescentes nasceram surdocegos ou ficaram surdocegos até
aos dois anos (47,1%), assim como os jovens adultos (46,9%). Enquanto os adultos,
nasceram surdos e perderam a visão (38,3%) e os idosos perderam a visão e a audição
depois dos dois anos de idade (60%).

A causa da surdocegueira é conhecida por ambos os géneros e todas as faixas etárias, à
exceção dos adultos. A causa mais frequentemente apontada foi a de origem pré-natal
(38,4%). Mantendo-se esta origem no género masculino (39,5%), mas não no feminino,
que apresenta a origem pós-natal (46,7%). Na faixa etária, metade (50%) das crianças e
adolescentes e dos idosos (70%) apresentam a origem pós-natal como mais frequente,
mas 50% dos adultos e 45,2% dos adultos refere a origem pré-natal.

Existe um maior número de sujeitos com cegueira (52,7%) do que com baixa visão
(47,3%). Sendo que o género feminino existe um maior número de casos de baixa visão e
no feminino de cegueira (47,1%). A cegueira predomina em todas as faixas etárias, à
exceção dos jovens adultos. Aqueles que têm baixa visão (63,3%) e são cegos (46,8%),
são geralmente afetados por surdez profunda.

O prejuízo profundo da função auditiva (55,2%) é o mais comum. Prevalecendo em
ambos os géneros e todas as idades.

Quando reportada a coexistência de funções adicionais afetadas, a funções intelectual e
voz (27%) são as mais comuns. Numa análise de género, estas são as funções reportadas
no género feminino (31,3%), mas não no masculino, referindo estes um prejuízo ao nível
da função intelectual (25,8%). Nas faixas etárias os resultados são divergentes, os jovens
adultos apontam a funções intelectual e voz (47,8%), as crianças e adolescentes referem a
intelectual e a motora (27,2%), os adultos a intelectual (30,4%) e os idosos a voz (50%).
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
49

A grande maioria da amostra é solteira ou divorciada (81,8%). Verificando-se em ambos
os géneros e todas os grupos etários. Sendo que grande parte das pessoas com este estado
civil nasceu surdocega ou ficou surdocega até aos dois anos.

A ausência de escolaridade e de 37,4%, seguida do 1.º ciclo (29%), e do 3.º ciclo (13,7%).
Apenas 6,9% tem uma licenciatura. A ausência de um nível de escolaridade ou
habilitações ao nível do 1.º ciclo são comuns aos dois géneros. Nas faixas etárias, os
resultados são mais heterogéneos, sendo que as crianças e adolescentes tem ou
frequentam o 1.º (26,1%) ou o 3.º ciclo (26,1%), os jovens adultos são maioritariamente
não instruídos (66,7%), assim como os idosos (43,3%), que apresenta o mesmo número
de casos com um nível de escolaridade de 3.º ciclo, e os adultos têm apenas o 1.º ciclo
(39%).

Das situações face ao trabalho estudadas, destacam-se a situação de reformado/
pensionista (27,5%), a atividade ocupacional (23,3%) e estudante (20%) como as
situações profissionais mais frequentes. Verificando-se no as situações de atividade
ocupacional (23,6%) e reformado/ pensionista (29,2%) para o género masculino, e
estudante (25%), reformado/ pensionista (25%) e atividade ocupacional (22,9%) para o
feminino. Na faixa etária, ficou demonstrado que as crianças e adolescentes são
dominantemente estudantes (78,3%); mais de metade dos jovens tem uma atividade
ocupacional (58,6%); e que a maioria dos adultos (35,2%) e a totalidade dos idosos estão
são reformados/ pensionistas (100%).

A população surdocega vive com a família ou numa instituição e na sua maioria na região
de Lisboa. Esta situação verifica-se quanto ao género e grupo etário. Apenas os idosos
vivem em maior número no distrito de Bragança (31,3%).

Quando têm que permanecer em casa, ficou demosntrado que 33,3% fica sozinho ou com
os pais (40,5%). Mantendo-se nos géneros e grupo etário, excetuando os idosos, que
referem ficar com outra pessoa (58,4%).

Grande da população surdocega masculina e feminina de todas as idades tem direiro a um
qualquer tipo de benefício de apoio social (80,2%).
Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
50
REFERÊNCIAS
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internet
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Surdocegueira: Um Modelo de Intervenção
53
ANEXOS
ANEXO A – QUESTIONÁRIO
ANEXO B – LISTAGEM DOS ORGANISMOS PARTICIPANTES
A

Agrupamento de Escolas D. Nuno Álvares Pereira

Agrupamento de Escolas da Benedita

Agrupamento de Escolas da Quinta do Conde

Agrupamento de Escolas de Avelar Brotelo de Odivelas

Agrupamento de Escolas José Maria dos Santos

Agrupamento de Escolas Luís de Camões

Agrupamento de Escolas Marcelino Mesquita

Agrupamento de Escolas de Mealhada

Agrupamento de Escolas de Telheiras

Agrupamento de Escolas de Viana do Alentejo

Associação de Amor para a Educação de Cidadãos Inadaptados da Lourinhã

Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) – Delegação do Algarve

Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) – Delegação de Braga

Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) – Delegação de Viseu

Associação de Socorros Mútuos de São Francisco de Assis de Anta

Associação Fermentelense de Assistência

Associação Nacional de Intervenção Social – Centro de Apoio à Intervenção Precoce
na Deficiência Visual

Associação Obras Sociais S. Vicente de Paulo / Casa Ozanam

Associação para a Educação de Crianças Inadaptadas - A.P.E.C.I.

Associação para o Desenvolvimento Integral de Barrosas

Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental de
Santarém

Associação Pró Cidadão Deficiente Integrado
C

Câmara Municipal da Maia

Cáritas Paroquial de Beijós

Cáritas Paroquial de Vilar

Casa do Povo da Freguesia do Ramalhal – Creche

Casa Pia de Lisboa, I. P.

Casa Pia de Lisboa, I. P. – Centro de Educação e Desenvolvimento António Aurélio
da Costa Ferreira

Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor

Centro de Recuperação de Crianças Deficientes e Inadaptadas de Oliveira de Azeméis
(CERCIAZ)

Centro Paroquial de Santo Cristo de Outeiro

Centro Social de Belazaima

Centro Social do Souto

Centro Social e Paroquial da Moita de Anadia

Centro Social e Paroquial de Santa Eufémia

Centro Social e Paroquial de São Geraldo de Carrapatas

Centro Social e Paroquial de Vilarinho da Castanheira

Centro Social São Cristóvão de Nogueira da Regedoura

Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos com Incapacidades (CERCI) de
Espinho

Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos com Incapacidades (CERCI) de
S. João da Madeira

Cooperativa de Educação e Reabilitação para Cidadãos Inadaptados de Cascais
(CERCICA)
E

Escola Artística António Arroio

Escola Secundária com 3.º Ciclo do Ensino Básico Emídio Navarro

Escola Secundária de José Afonso

Escola Secundária de Odivelas

Escola Secundária do Cartaxo

Escola Superior de Enfermagem do Porto
F

Fundação Joaquim Lourenço
I
Instituto de Segurança Social, I.P. - Centro Distrital Porto – CAO Condessa de Lobão
J

Junta de Freguesia de S. Bartolomeu - Borba
L

Lar de Santo António - Centro Social Paroquial de Santo António de Campelos

Lar de São Bento
M

Município de Vila de Rei

Município de Vila do Conde
O

Obra Social Padre Miguel
P

Palácio D'EL Rei - Lar de Idosos, Lda.
S

Santa Casa da Misericórdia de Carrazeda de Ansiães

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – Obra Social do Pousal

Santa Casa da Misericórdia de Mértola

Santa Casa da Misericórdia de Vinhais
U

Unidade de Deficiência do Centro Social e Paroquial de Alfena
ANEXO C – LISTAGEM DOS ORGANISMOS PARTICIPANTES
VÁLIDOS
A

Agrupamento de Escolas de Telheiras

Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) – Delegação do Algarve

Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) – Delegação de Braga

Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) – Delegação de Viseu

Associação Nacional de Intervenção Social – Centro de Apoio à Intervenção Precoce
na Deficiência Visual

Associação Obras Sociais S. Vicente de Paulo / Casa Ozanam

Associação para a Educação de Crianças Inadaptadas - A.P.E.C.I.

Associação para o Desenvolvimento Integral de Barrosas

Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental de
Santarém
C

Câmara Municipal da Maia

Cáritas Paroquial de Beijós

Cáritas Paroquial de Vilar

Casa Pia de Lisboa, I. P.

Casa Pia de Lisboa, I. P. – Centro de Educação e Desenvolvimento António Aurélio
da Costa Ferreira

Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor

Centro Paroquial de Santo Cristo de Outeiro

Centro Social do Souto

Centro Social e Paroquial da Moita de Anadia

Cooperativa de Educação e Reabilitação do Cidadão Inadaptado (CERCI) de Espinho
F

Fundação Joaquim Lourenço
I

Lobão
Instituto de Segurança Social, I. P. – Centro Distrital Porto – CAO Condessa de
L

Lar de Santo António - Centro Social Paroquial de Santo António de Campelos

Lar de São Bento
M

Município de Vila do Conde
P

Palácio D'EL Rei - Lar de Idosos, Lda.
S

Santa Casa da Misericórdia de Carrazeda de Ansiães

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – Obra Social do Pousal

Santa Casa da Misericórdia de Mértola

Santa Casa da Misericórdia de Vinhais
U

Unidade de Deficiência do Centro Social e Paroquial de Alfena
ANEXO D – AVALIAÇÃO DOS SEMINÁRIOS
Avaliação dos Seminários de Coimbra, Porto, Évora e Faro
No total dos quatro seminários foram preenchidas 229 fichas de avaliação, 66 (32,4%) no
seminário de Coimbra, 60 (29,4%) no Porto, 78 (38,2%) em Évora e 25 em Faro (10,9%).
Na generalidade, os participantes consideraram a clareza das comunicações (46,9%),
estrutura dos encontros (46,2%) e dinâmica dos encontros (49,3%) satisfatórias.
Relativamente ao cumprimento de objetivos (48,4%), pertinência para a prática profissional
(41,4%) e interesse dos conteúdos (48,2%), foram avaliadas como muito satisfatórias. Apesar
destes resultados positivos e das críticas positivas como a classificação dos seminários como
uma boa iniciativa, bom trabalho, interessante e enriquecedor, os participantes incluíram
ainda alguns comentários/sugestões para melhoria dos mesmos. Assim, na sua maioria, os
participantes gostariam de melhorar a organização e gestão do espaço das apresentações, de
ter um programa menos longo para o tempo disponível e de ver os horários estabelecidos
cumpridos. Sugerindo um maior número de encontros sobre a surdocegueira, uma melhor
gestão do tempo e a inclusão de um tema sobre trabalho realizado em residências de
acolhimento, salas e ateliers.
Avaliação Global dos Seminários
60%
50%
Muito
insatisfatório
Insatisfatório
Pouco satisfatório
40%
30%
20%
10%
0%
Satisfatório
Seminário de Coimbra
No seminário de Coimbra, à semelhança das avaliações dos três seminários, a maioria
das avaliações de todas as seis dimensões foi positiva. Na sua grande maioria, os
participantes classificaram a clareza das comunicações (47%), estrutura dos encontros (50%),
cumprimento dos objectivos (54%), pertinência para a prática profissional (42,4%) e
dinâmica do encontro (54,7%) como satisfatórias e o interesse dos conteúdos (50,8%) como
muito satisfatório.
Avaliação do Seminário de Coimbra
60%
50%
Muito
insatisfatório
Insatisfatório
Pouco satisfatório
40%
30%
20%
10%
0%
Satisfatório
Seminário do Porto
No
seminário
do
Porto,
mantiveram-se
as
avaliações
das
seis
dimensões
comparativamente ao seminário anterior. A clareza das comunicações (45%), estrutura dos
encontros (41,7%), cumprimento dos objetivos (50,9%), pertinência para a prática
profissional (40%) e dinâmica do encontro (55,2%) são avaliadas como satisfatórias e o
interesse dos conteúdos (43,3%) como muito satisfatório.
Avaliação do Seminário do Porto
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Muito
insatisfatório
Insatisfatório
Pouco satisfatório
Satisfatório
Muito satisfatório
Seminário de Évora
O seminário de Évora, tal como os seminários de Coimbra e Porto, teve uma avaliação
positiva. As dimensões da clareza de comunicações (50,7%), estrutura do encontro (50%),
cumprimento de objetivos (44,6%) e dinâmica dos encontros (48,7%) foram avaliadas como
satisfatórias e a pertinência para a prática profissional (48,1%) e interesse dos conteúdos
(53,9%) como muito satisfatória.
Avaliação do Seminário de Évora
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Muito
insatisfatório
Insatisfatório
Pouco
satisfatório
Satisfatório
Muito
satisfatório
Seminário de Faro
O último seminário, o de Faro, tal como os seminários anteriores, teve uma avaliação
positiva. As dimensões da clareza de comunicações (40%), estrutura do encontro (25%),
cumprimento de objetivos (44,6%), a dinâmica dos encontros (40%) e o interesse dos
conteúdos (44%) foram avaliadas como satisfatórias e a pertinência para a prática profissional
(33,3%) como muito satisfatória.
Avaliação do Seminário de Faro
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Muito
insatisfatório
Insatisfatório
Pouco
satisfatório
Satisfatório
Muito
satisfatório
ANEXO E – CARTA DE CONSENSO
Estudo Surdocegueira Um Modelo de Intervenção
Carta de Consenso
Caros Colegas
O objetivo desta carta de consenso é propor recomendações para profissionais, políticos e
comunidade em geral sobre a pessoas surdocega, e como promover qualidade de vida e
oportunidades para e com esta população.
Agradecia que cada um de vós refletisse sobre as seguintes quatro questões e o resumo
dos dados do nosso estudo e acrescentasse comentários e sugestões tendo em conta a sua
experiência e área do conhecimento.
No final irei integrar os comentários e produzir um documento com autoria de todos, que
será apresentado no Congresso nacional em Lisboa no dia 3/4 de dezembro de 2013.
As três questões centrais serão:
I - Quais as principais necessidades e oportunidades da pessoas surdocega, tendo em
conta a sua idade, género, onde habita, comorbilidades e tendo em conta o nível de
surdocegueira e o momento de perca de ambas os sentidos.
II - Quais as principais necessidades e oportunidades que os profissionais dos diversos
sectores e disciplinas têm quando trabalham com pessoas surdocegas
III - Quais as principais necessidades e oportunidades que os familiares e cuidadores de
pessoas surdocegas
IV - Sugestões de modelo de intervenção global e tendo em conta a perspetiva ecológica
O PRESENTE ESTUDO ... Surdocegueira Um Modelo de Intervenção
A pessoa Surdocega deve ser compreendida sob uma perspetiva desenvolvimental na
qual as diferentes fases do desenvolvimento têm necessidades e exigem competência
diferentes e sob uma perspetiva ecológica na qual a pessoa é influenciada por fatores ao nível
do micro, meso, exo e macro sistema no seu conjunto.
A surdocegueira descreve uma condição que combina acentuadas limitações nos
domínios sensoriais (visão e audição) em diferentes graus (Deafblind International, 2006 &
Sense, 2006).
Do ponto de vista sensorial pode ser agrupada: Os que são surdos profundos e cegos; Os
que são surdos com baixa visão; Os que têm perdas auditivas e são cegos; Os que têm alguma
visão e audição (Miles & Riggio, 1999).
A pessoa Sudocega depara-se com diversas limitações visuais e auditivas,
nomeadamente, a) Dificuldades na exploração do mundo; b) Dificuldades na movimentação;
c) Dificuldades no acesso à informação; d) Dificuldades de aprendizagem; e) Dificuldades de
comunicação; limitações ao nível das funções mentais (CIF, 2004; Miles, 1998; Miles &
Riggio, 1999)
A Educação é um ponto-chave da intervenção e deve centrar-se em atividades da vida
real e focalizar o currículo na comunicação, orientação e mobilidade.
O estudo …
Foram identificadas mais pessoas surdocegas nos grandes centros urbanos (Lisboa e
Porto), perto de 60% do género masculino. Cerca de 14% crianças e adolescentes, cerca de
75% adultos e cerca de 11% de idosos (65 ou mais anos de idade).
Quando se tornou surdocego?
Perto de um terço nasceu surdo e perdeu a visão e cerca de outro terço nasceu surdocega
ou ficou até aos 2 anos de idade. Mais de um quarto perdeu a visão depois dos dois anos e
uma minoria nasceu cego/baixa visão e perdeu a audição.
Causa da surdocegueira, em 45% não é conhecida a causa.
Comprometimento da função visual
Cerca de metade tem baixa visão e outra metade tem cegueira.
Comprometimento da função auditiva
Mais de 60% tem surdez profunda, um quarto tem surdez moderada e cerca de 15%tem
surdez severa.
Nível de escolaridade
Mais de um terço da amostra (39,5%) não tem um nível de escolaridade;; 28,9%
frequentou o 1.º Ciclo; e apenas 14,9% frequentou o 3.º Ciclo.
Um terço da amostra de crianças e adolescentes tem o 3.º Ciclo (33,3%);Mais de metade
dos jovens adultos (68,8%) e dos idosos (53,8%) não tem escolaridade; 40,7% dos adultos
tem o 1.º Ciclo.
Situação face ao trabalho
Pouco mais de um quarto tem atividade ocupacional, Pouco mais de um quarto está
reformado/ pensionista e cerca de um quinto é estudante.
As mulheres mais frequentemente estão a estudar, os homens mais frequentemente estão
reformados/ pensionistas e pouco mais de um quarto em ambos os géneros tem atividade
profissional.
A maioria das crianças e adolescentes estuda (93,3%), Mais de metade dos jovens
adultos tem uma atividade ocupacional (60,7%); Mais um terço dos adultos está reformado/
pensionista (32,7%); Todos os idosos estão reformados/ pensionistas (100%).
Com quem vive
Mais de metade vive com a família e mais de um terço vive numa instituição.
São os homens que mais vivem com a familia.
São as crianças/adolescentes e os adultos que mais vivem com a familia. Os jovens
adultos e os idosos vivem mais numa instituição.
Com quem fica em casa
Mais de um terço fica sozinho, cerca de outro terço fica com os pais e uma minoria fica
com outros.
As crianças/adolescentes e os jovens adultos ficam com os pais, os adultos quase metade
fica sozinho e quase metade dos idosos fica com irmãos.
Apoio social
Mais e 80% beneficia de algum apoio social.
As mulheres são as que mais recebem apoio social.
Os adultos são os que menos recebem apoio social.
Os resultados do estudo trazem-nos diversas questões
Diagnóstico/report tendo em conta os diferentes graus de surdocegueira
Conhecimento/report da causa
Diferenças ligadas à idade, impacto no desenvolvimento, respostas na saúde educação e
sociais tendo em conta as diferentes necessidades das etapas do desenvolvimento
Diferenças ligadas ao género, ao nível dos apoio e oportunidades.
Os que são surdocegos adquiridos depois dos dois anos, que trabalho de prevenção
deveria ser feito?
Nível de escolaridade e atividade ocupacional, reflexão face às diferenças de idade.
Intervenção ao nível do apoio formal e informal, tendo em conta a idade, género e
localização geográfica.
Quais as necessidades dos profissionais, pessoas surdocegas, famílias, população em
geral ao nível do conhecimento, apoio (saúde, educação, social), formação, legislação, etc.?
Que outras questões lhe trazem estes resultados? Que outras questões devem ser
respondidas?
Avaliação do seminários de disseminação
Na generalidade, os participantes consideraram a clareza das comunicações, estrutura dos
encontros e dinâmica dos encontros satisfatórias. Relativamente ao cumprimento de
objetivos, pertinência para a prática profissional e interesse dos conteúdos, foram avaliadas
como muito satisfatórias.
Apesar destes resultados positivos e das críticas positivas como a classificação dos
seminários como uma boa iniciativa, bom trabalho, interessante e enriquecedor, os
participantes incluíram ainda alguns comentários/sugestões para melhoria dos mesmos.
Assim, na sua maioria, sugeriram um maior número de encontros sobre a surdocegueira,
uma melhor gestão do tempo e a inclusão do tema “trabalho realizado em residências de
acolhimento, salas e ateliers”.
Anexo F – Apresentações em Portugal relacionadas a Surdocegueira desde 1999

XII Conferência Mundial da Dbi
Data: julho 1999
Organização: Casa Pia de Lisboa
Local: Escola de Hotelaria e Turismo

Colóquio “Helen Keller e a Surdocegueira”
Data: junho de 2004
Organização: Associação de Surdos do Porto e Departamento Juvenil e Cultural
Local: Associação de Surdos do Porto

Seminário “Preparar Hoje o Futuro: Novos Horizontes para a pessoa Surdocega em
Portugal”
Data: junho de 2005
Organização: Associação de Surdos do Porto
Local: Junta de Freguesia de Santo Ildefonso

Congresso Nacional “Surdocegueira – Os Horizontes de uma realidade”
Data: julho de 2005
Organização: CED António Aurélio da Costa Ferreira
Local: Biblioteca Orlando Ribeiro

Estudo “Criança Surdocega – Uma abordagem Proativa”
Data: 2005 a 2006
Organização: CED António Aurélio da Costa Ferreira

Seminário “Surdocegos Adultos – Construir o Futuro”
Data: julho de 2006
Organização: CED António Aurélio da Costa Ferreira
Local: Centro Cultural Casapiano em Belém

Seminário “Exclusão Social e Escolar do Cidadão Portador de Surdez e
Surdocegueira”
Data: maio de 2006
Organização: Escola Secundária de Tavira
Local: Escola Secundária de Tavira

Palestra-Debate sobre a Pessoa Surda e Surdocega
Data: março de 2007
Organização: Associação de Surdos do Porto e Centro de Tradutores e Intérpretes de
Língua Gestual
Local: Escola Secundária de Vizela

Seminário “Surdocegueira – Revisitando Caminhos”
Data: 2008
Organização: CED António Aurélio da Costa Ferreira
Local: Centro Cultural Casapiano

A Pragmática dos Sentidos na Comunicação: Surdocegueira e Multideficiência
Data: junho de 2010
Organização: Direção Regional de Educação do Norte Através do Gabinete de
Acompanhamento à Educação Especial
Local: Auditório do Conservatório de Música do Porto

Intervenção Educativa com Alunos com Multideficiência e Surdocegueira
Congénita: uma perspetiva curricular
Data: dezembro de 2010
Organização: Direção Regional de Educação do Norte através do Gabinete de
Acompanhamento à Educação Especial
Local: Escola Artística Soares dos Reis, Porto

Formação em “Surdocegueira na criança em idade escolar”
Data: novembro de 2010 a junho de 2011
Organização: Associação Presença – Formação de Técnicos
Local: Escola Superior de Educação de Lisboa

Dissertação “As Tecnologias na Surdocegueira Adquirida como forma de apoio à
autonomia, comunicação, escolarização e lazer”
Data: 2011
Instituição: Instituto Politécnico de Lisboa – Escola Superior de Educação de Lisboa
Realização: Ana Sofia Diniz, orientada pela Prof. Doutora Inês Sim-Sim

Palestra Deafblind: A vida enquanto pessoa Surdocega
Data: julho de 2012
Organização: Associação de Surdos da Alta Estremadura
Local: (não especificado)

Ação de Formação “Comunicação e Trabalho de Equipa na Surdocegueira: papel
do Terapeuta da Fala”
Data: setembro de 2012
Organização: Associação Presença
Local: Anditec – Sala de Formação, Telheiras

Seminário Regional “Surdocegueira: um modelo de intervenção”
Data: junho de 2013
Organização: CED António Aurélio da Costa Ferreira
Local: Hotel Dona Inês em Coimbra

Seminário “Surdocegueira: um modelo de intervenção”
Data: junho de 2013
Organização: CED António Aurélio da Costa Ferreira
Local: Belver Beta Porto Hotel

Seminário Regional “Surdocegueira: um modelo de intervenção”
Data: julho de 2013
Organização: CED António Aurélio da Costa Ferreira
Local: Hotel D. Fernando em Évora

Seminário “Surdocegueira: um modelo de intervenção”
Data: outubro de 2013
Organização: CED António Aurélio da Costa Ferreira
Local: Hotel de Hotelaria e Turismo de Faro

Congresso Nacional “Surdocegueira: um modelo de intervenção”
Data: dezembro de 2013
Organização: CED António Aurélio da Costa Ferreira
Local: Centro Cultural de Belém
ANEXO G – COMUNICAÇÃO ORAL DO CONGRESSO NACIONAL
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relatório provisório - Programa Operacional de Assistência Técnica