Tecnologia da Informação – Oportunidades de negócios digitais
“Acho que existe um mercado mundial para cerca de cinco
computadores.”
Thomas J Watson
Diretor da IBM, em 1958
Entender a dinâmica da indústria de Tecnologia da Informação (TI) não é tarefa
simples, pelo fato de ser extremamente difícil definir o que é TI. Em um ambiente de
negócios cada vez mais informatizado, a tecnologia se tornou tão presente nas
organizações e na vida dos indivíduos de modo geral, que ela chega a passar
despercebida. Essa é a síntese da complexidade do setor.
No estudo deste mês, o Instituto Inovação buscou entender um pouco do histórico de
desenvolvimento das Tecnologias da Informação para, a partir de visões que focaram
seus estágios de aplicação e formas de apresentação, traçar um conceito abrangente e
ao mesmo tempo simples da TI. Esse conhecimento, associado a uma análise dos
ciclos de vida tecnológicos e da dinâmica dessa indústria, além de dados que apontam
para as tendências desse mercado, serviram como base para traçar as possíveis
oportunidades de negócio desta área.
As origens da TI
Para realizar a pesquisa histórica, partimos da seguinte definição:
“Tecnologia da Informação é a aplicação da tecnologia no
processamento de informações.”1
Nessa ótica, a história da TI se confunde com a história do homem. De certa forma,
considerando tecnologia como uma ferramenta, criada a partir de um conjunto de
conhecimentos, que melhore um determinado processo ou condição humana, a
linguagem pode ser considerada como a primeira forma de Tecnologia da Informação.
A partir do desenvolvimento das sociedades, lidar com as informações e processá-las
da melhor forma tem sido uma busca contínua da humanidade. A necessidade de
contar levou a criação do dígito e do sistema decimal (inspirados nos dedos humanos).
Foram então surgindo as primeiras ferramentas para auxiliar esse processo, sendo a
mais antiga o ábaco (instrumento oriental de madeira e contas coloridas, que auxilia
na realização de cálculos matemáticos), datado entre 1500 e 3000 A.C.2 O
aprimoramento matemático foi também bastante impulsionado pelo desenvolvimento
do comércio. A necessidade do maior controle das quantidades de mercadorias
produzidas, da realização de cálculos, impulsionou o desenvolvimento científico que
permitiu a criação de ferramentas para o controle e manipulação das informações,
desde os primeiros mecanismos de contagem até as calculadoras analógicas3.
1
BRITO, Marcela. Revista TI
CASADO, Santiago. História de la Matemática
3
A palavra analógico vem de “análogo”. O termo é usado porque que um dispositivo analógico imita
diretamente a informação que quer representar. No caso da primeira caulculadora analógica, seu dispositivo
baseava-se em discos que giravam de forma análoga ao sistema decimal, sendo que quando um disco chegava
ao algarismo nove, girava em uma unidade o disco posterior e voltava ao valor zero. Um sinal de rádio
2
O grande salto da Tecnologia da Informação, contudo, veio com a transição dos
sistemas analógicos para os digitais, que operavam diretamente com os números,
através do sistema binário4. Esse novo paradigma foi proporcionado pelos avanços da
ciência nos campos da física, química e engenharia, que criaram a válvula, a tecnologia
de armazenamentos de dados em meio magnético e os conceitos de programação
embutida e memória digital.
Em 1958, um fato tornou-se importante marco do desenvolvimento desta indústria. A
Texas Instruments descobriu como reunir em uma única pastilha de silício todos os
componentes de um circuito eletrônico, criando os circuitos integrados, que dariam
origem ao chip. Com o início de sua produção comercial, foi possível produzir
computadores em larga escala, o que gerou uma corrida tecnológica mundial, liderada
pela IBM. A empresa iria decidir, anos mais tarde, abrir sua plataforma de
programação, dando início à revolução do software e hardware, que abriu espaço para
o desenvolvimento dos mainframes, minicomputadores e microcomputadores,
baseados no sistema operacional DOS, da então desconhecida Microsoft.
A partir daí, a padronização de um sistema operacional utilizado em larga escala
permitiu a criação de programas que funcionassem em qualquer equipamento, o que
deu a Microsoft o quase monopólio do setor. Desse modo, qualquer empresa
interessada em desenvolver um equipamento ou programa compatível com o PC,
precisaria comprar as ferramentas de programação da Microsoft. A empresa soube se
aproveitar muito bem dessa vantagem evoluindo o DOS para o sistema Windows, que
introduziu a interface gráfica ao PC e a colocou definitivamente entre os
empreendimentos mais prósperos do século XX.
Em paralelo ao desenvolvimento das então nascentes indústrias de software e
hardware, o mundo assistia ao desenvolvimento das redes de comunicação, que
compõe como senda a terceira das funções essenciais da TI: processamento,
armazenamento e transporte de informação. Tal desenvolvimento foi responsável pela
expansão significativa de uma indústria, a das Telecomunicações. Criada a partir do
telégrafo e do telefone, essa indústria foi o berço na última década da telefonia celular,
responsável por cerca de um terço das receitas desse setor5, e da Internet, rede
mundial de computadores, que transformaria drasticamente as relações dos indivíduos
e das organizações com a informação.
Para ilustrar o aumento da importância das Telecomunicações nos últimos anos é
possível analisar o crescimento de sua participação no PIB do Brasil. Enquanto em
1990, a as comunicações representavam 1,38% no valor adicionado a preços básicos
analógico, por exemplo, imitam diretamente a forma, o tempo e a natureza do conteúdo do sinal que
registram, seja som ou imagem. Isso traz uma série de limitações, quanto ao armazenamento, distorções e
transmissão desse tipo de informação. Os sistemas digitais, ao contrário, transformam toda a informação em
sinais binários, digitais, que podem ser armazenados, processados e transportados de forma muito mais
eficiente.
4
O sistema matemático binário utiliza dois algarismos (0 e 1) para representar os números e realizar cálculos.
Em analogia, o sistema decimal utiliza dez algarismos (de 0 a 9) e é o sistema matemáticos regularmente
utilizado.
5
Fonte: IBGE, 2001. A Telefonia Celular contribui com 35% das receitas to setor em 2001.
do PIB, em 2002, esse número subiu para 2,72%, representando um crescimento de
97,10%, o segundo maior dentre todos os setores classificados6.
A associação da indústria da Computação à indústria das Telecomunicações é que
forma o que hoje conhecemos como Tecnologia da Informação (figura 1).
etc.
Agricultura
Varejo
Bens de Consumo
Indústrias de base
Saúde
Bancos
Telecomunicações
O que é TI
Computação
Figura 1
A figura mostra que existe uma intercessão entre indústria da computação e todos os
outros setores da economia, já que existe um grande número de softwares e
equipamentos eletrônicos, específicos para cada segmento. Basta olhar para o
funcionamento do setor bancário 20 anos atrás para perceber o impacto da TI Aplicada
a esse setor.
Compreendendo a dinâmica da indústria
Em estudo publicado na Harvard Business Review, Nicholas Carr defende que a
importância da TI tem diminuído nas organizações, pelo fato da tecnologia estar tão
difundida na sociedade, que se tornou commodity. Assim, bons investimentos em TI
não seriam mais diferencial para as empresas, que precisam buscar outras formas de
competir.
Embora seja possível afirmar que grande parte da TI que utilizamos hoje tenha se
tornado commodity, dizer que TI não gera diferencial tecnológico é ignorar o fato de
que a indústria da TI está em constante – e rápida – evolução e de que novos padrões
tecnológicos sempre surgirão, muitas vezes criando novos paradigmas que substituem
os anteriores. Assim foi com a telefonia celular, com a própria internet, com o e-mail e
6
IBGE, Participação das classes e atividades no valor adicionado a preços básicos - 1990-2002. Apenas o
setor da Indústria do Açúcar teve crescimento relativo maior que Comunicações no período.
a tendência é de que assim seja com as tecnologias que ainda estão por vir. Seria
despropositado afirmar que as empresas que investiram primeiro no e-mail não
ganharam produtividade e agilidade nas comunicações, em relação a suas
concorrentes.
Contrapondo Carr, seria mais apropriado dizer que parte da TI que utilizamos hoje se
tornou commodity, isto é, foi amplamente difundida, a qual, para efeito de distinção,
chamamos neste estudo de TI Comum. Enquadra-se nessa categoria toda gama de
tecnologias da informação que estão disponíveis de forma consolidada e
comercialmente desenvolvida, para serem utilizadas nas mais diversas aplicações. É
possível entender melhor esse conceito de TI Comum ao contrapô-lo ao de TI
Aplicada. Nessa categoria estão as aplicações das tecnologias disponíveis em TI
Comum. Por exemplo, utilizando as tecnologias da Internet, que estavam disponíveis
de forma consolidada, foi possível criar uma aplicação de envio e recebimento de
mensagens instantâneas. Em grande parte dos casos, as tecnologias disponíveis em TI
Aplicada, são direcionadas a um determinado nicho ou segmento da indústria. Isso
porque muitas das aplicações desenvolvidas a partir da TI Comum são específicas,
como no caso de software de gerenciamento ou no de equipamentos eletrônicos para a
área médica.
Na contramão desse caminho, há os casos em que as tecnologias aplicadas migram
para a categoria básica, tornando-se TI Comum. Isso ocorre quando estas tecnologias
passam a ser utilizadas por um grande número de indivíduos, como no caso do e-mail,
que era uma aplicação da tecnologia disponível pela Internet e tornou-se padrão
mundial. Enquadra-se aí o próprio microcomputador, que é resultado da aplicação de
tecnologias básicas nas áreas de eletrônica disponíveis quando da sua criação. O
computador era naquela ocasião utilizado somente por grandes empresas, que
necessitavam de alto poder de processamento. Hoje, está amplamente difundido e
disponível, tornando-se base para a aplicação de outras tecnologias, logo, parte da TI
Comum. Esse caminho de volta da tecnologia aplicada para a comum ocorre quando a
aplicação é utilizada em grande escala, de forma ampla e consolidada, e perde as
características que a definem como específica para um determinado segmento.
Podemos citar como tecnologias que estão atualmente se tornando TI Comum, vindas
da TI Aplicada, os anti-virus e sistemas de segurança, de modo geral, que há um bom
tempo deixaram de ser preocupação exclusiva de bancos e governos; dentre outras.
Além das categorias TI Comum e TI Aplicada, há a categoria de TI Básica. Nessa
categoria, estão as tecnologias em desenvolvimento. São aquelas que ainda estão em
fase de protótipo nos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de empresas e
universidades. Tais tecnologias substituirão os padrões vigentes por outros, mais
avançados.
Enquadram-se também, na TI Básica, os conhecimentos conceituais e os padrões
tecnológicos que permitiram o desenvolvimento de tecnologias básicas. Um protocolo
de comunicação, por exemplo, que define métodos matemáticos para a comunicação
entre dois dispositivos digitais, não existe sozinho, sem que exista o software e o
hardware que implementarão tais métodos. Não se trata de uma tecnologia na forma
de software ou hardware, mas de um método conceitual, que deve ser aplicado em
algum software ou equipamento para funcionar. A partir do momento que esse
protocolo de comunicação é aplicado em um chip, que é então embutido em uma placa
de rede, que passa a ser reconhecida por um software capaz de se comunicar
utilizando o mesmo protocolo, então esta tecnologia tornam-se TI Comum, mas o
protocolo em si, permanece como TI Básica.
Na TI Básica, portanto, está o conhecimento essencial que permite o desenvolvimento
das tecnologias da informação.
Matriz de TI – Ex: Armazenamento de dados
CIÊNCIA
Software
Hardware
TI Básica
• Dispositivos bioeletrônicos de
armazenamento
• Miniaturização de
chips eletrônicos
MERCADO
TI Comum
• Discos rígidos
TI Aplicada
• Unidade de backup
• Chips e Cartões de
memória
Data Center
HD ATA
Gravação em
trilha magnética
• Algorítmos de
compactação de
dados
• Sistemas de arquivos
CD-RW
• Bancos de dados
• Gestão eletrônica de
documentos
• Formatos de arquivo
(Ex: PDF)
ERP
Sistema de
armazenamento
de dados
Banco de dados
relacional
Figura 2
Há na indústria da TI, na fronteira entre TI Básica e TI Comum, uma forte interação
entre ciência e mercado, já que o setor é intensivo em pesquisa e desenvolvimento.
Dessa forma, as tecnologias em desenvolvimento na categoria TI Básica são produtos
de pesquisa, que se tornam comerciais à medida que avançam para a categoria da TI
Comum. Vai de encontro a essa idéia o fato de as maiores empresa da TI atuais,
como HP, Intel e Microsoft, tenham surgido dentro de centros universitários e
mantenham laboratórios privados de pesquisa.
Estão também, na fronteira entre TI Básica e TI Comum, os padrões tecnológicos
abertos ou open starndards. Tratam-se de tecnologias de desenvolvidas forma
centralizada, padronizada e pública por uma organização isenta, responsável por ouvir
as demandas do mercado e das empresas do setor e coordenar a evolução de tal
padrão,7
O objetivo dos processos de padronização é evitar que diferentes padrões tecnológicos
de uma mesma aplicação gerem incompatibilidades na indústria. É o que ocorre
quando empresas tentam impor seus formatos proprietários de tecnologia. Um
exemplo foi a competição entre diferentes formatos de gravação e reprodução de
vídeo, na década de 80, que fazia com que fitas para video-cassetes VHS não
funcionassem nos modelos baseados na tecnologia BETAMAX.
Há, contudo, no esforço da indústria a caminho da padronização algumas contradições,
já que padronizar significaria perder o domínio comercial sobre certas tecnologias.
7
Os padrões abertos têm também como característica o fato de seguirem uma metodologia própria e bem
definida de desenvolvimento. São exemplos de padrões abertos o HTML (linguagem das páginas de internet),
o XML (linguagem de comunicação de dados) e o SIP (protocolo para comunicação multimídia).
Enquanto parte da indústria volta-se para criar aplicações proprietárias totalmente
fechadas,.em oposição aos totalmente abertos, há uma terceira via, que utiliza parte
dos conceitos do open standard, porém reserva-se aos direitos comercialização. Um
exemplo é a Simbyan, empresa que desenvolve sistemas operacionais para telefones
celulares, criada por um consórcio formado pelas principais fabricantes de aparelhos
celulares do mundo.
É este o mesmo dilema que envolve a temática do software livre, da qual são ícones os
sistemas Windows e Linux. A principal questão do dilema software livre vs. Proprietário
é quem paga a conta pelo desenvolvimento. No meio dos extremos, estão empresas
que adotam posicionamentos híbridos, desenvolvendo aplicações privadas para
padrões públicos, abrindo partes de sues códigos-fonte ou concentrado seus modelos
de negócio em serviços agregados à tecnologia.
Fica mais fácil entender o dilema da padronização e da abertura de código quando se
pensa nos ciclos de desenvolvimento de tecnologia em TI. A velocidade com que a
indústria cria novos padrões é tão grande, que o tempo necessário para que uma
empresa imponha seu próprio padrão cria uma barreira de entrada a seus padrões,
uma vez que rapidamente surgem evoluções daquela mesma tecnologia. Com
tecnologias padronizadas, os novos padrões são adotados de forma coordenada por
todos os players, fazendo com que os sistemas sejam compatíveis entre si e tornando
a evolução para novas gerações tecnológicas muito mais simples.
As figuras 3 e 4 ilustram a velocidade dos ciclos tecnológicos na TI. No gráfico, está
representada a Lei de Moore, pela qual o fundador da Intel, Gordon Moore, preveu, em
1975, a velocidade de evolução dos microprocessadores. Segundo ele, o número de
transistores por área (que determina a capacidade de processamento), dobra a cada 2
anos, enquanto os custos permanecem constantes.
A Lei de Moore
C o m plex ida de do s C ircu ito s In tegra do s
Transistores
T rsist o re s
1 010
0 09
Itanium
910
0 08
P entium 4
P entium III
P entium II
107
8 0 06
10
P entium
710
0 05
i486
4
610
00
i386
80286
103
5 0 02
8086
10
400
8080
4004
300
1972
1974
1978
1982
1985
1989
1993
1997
1999
2002
2004
Fonte: Intel – MOORE, Gordon. No exponential is forer, but we can delay forever. Fevereiro de 2003.
Figura 3
Essa é a fórmula da obsolescência programada, adotada como mantra pela indústria
da TI, em que o preço dos produtos top de linha mantém-se sempre constante. À
medida que os produtos mais modernos vão sendo adotados pelo mercado, o preço
cai, dando lugar a uma nova geração tecnológica, mais eficiente, que se torna o novo
“top de linha”. Após algum tempo, com a queda do preço, tal tecnologia se difunde no
mercado, enquanto aquela anterior, que outrora estava no topo, é descontinuada.
1
Entrante
Top de linha
Tecnologia C
Tecnologia B
2
3
4
Tempo 1
Tempo 2
Tempo 3
Tempo 4
Tecnologia A
Tecnologia B
Tecnologia C
Tecnologia D
Tecnologia A
Tecnologia B
Tecnologia C
Tecnologia A
Tecnologia B
Dominante
Padrão
Em declínio
Descontinuada
Extinta
Tecnologia D
tempo
Nova
entrante
Dominante
Tecnologia A
Extinta
Adoção tecnológica
Ciclo de vida de tecnologias em TI
Descontinuada
Tecnologia A
Figura 4
É a adoção da lei de Moore, que garante a constância das margens das empresas da TI
e dá previsibilidade ao mercado. Baseadas nessa dinâmica, é que elas conseguem
realizar o planejamento de seus negócios no longo prazo. Exatamente por entenderem
esse processo, que as grandes empresas investem pesadamente em pesquisa, pois
precisam garantir o domínio sob as próximas gerações tecnológicas para manter suas
taxas de crescimento.
Acompanha essa lógica, uma outra dinâmica, a dinâmica orientada ao surgimento de
novos mercados a partir de uma nova tecnologia ou de uma nova geração tecnológica.
São nesses momentos, que a expectativa de ganho dos mercados pode ultrapassar o
potencial real dos produtos e serviços desenvolvidos a partir de uma determinada
tecnologia. Foi assim com a internet, principalmente, nos EUA, e com a terceira
geração da telefonia móvel, sobretudo na Europa. São as chamadas bolhas econômicas
que possuem uma alta associação com o surgimento de novas tecnologias.
Oportunidades de negócios em TI
Analisando o histórico de TI, suas definições, seu ciclo de desenvolvimento e as
tendências apontadas pelo mercado, o Instituto Inovação listou os principais nichos de
Tecnologia da Informação que poderão oferecer oportunidades de negócios nos
próximos anos. São eles:
•
•
•
Voz sobre IP
TV Digital
Webservices
•
•
•
•
Segurança digital
Computação móvel
Nanoeletrônica
3G
Estes segmentos estão plotados na figura 5 abaixo, de acordo com sua aplicabilidade
(disponibilidade tecnológica, potencial e consolidação), convergência (economia gerada
em comunicações, quantidade de aplicações ou dispositivos conectados) e barreiras de
entrada (competição, complexidade tecnológica, custo e demanda).
Oportunidades de Negócio em TI
TI Comum
TV
Digital
Convergência
TI Básica
TI Aplicada
Voz sobre IP
Webservices
3G
Computação
móvel
Aplicabilidade
Nanoeletrônica
Segurança
digital
Menores
barreiras
de entrada
* - Ponto de vista do desenvolvedor da tecnologia
Figura 5
A figura indica ainda onde estão as TI Básicas, TI Comums e TI Aplicadas. A partir de
sua análise, é possível ver que o setor de segurança digital está deixando de ser TI
Aplicada e tornando-se TI Comum, o que é um forte indicador da tendência de
crescimento dessa temática nas organizações.
A seguir, tratamos um pouco de cada área.
Voz Sobre IP
No sistema tradicional de telefonia, a voz trafega em uma rede analógica, distribuída
por um emaranhado de cabos e centrais telefônicas. Ao lado dos cabos telefônicos,
estão cabos elétricos e, especialmente nas empresas, os cabos de rede, por onde
trafegam os dados digitais.
A tecnologia Voz Sobre IP (VoIP) permite que a voz seja trafegada pela mesma rede
que transporta os dados, economizando infra-estrutura e barateando sensivelmente os
custos de comunicação. Essa queda nos custos se dá pelo uso da rede mundial, a
Internet. A partir da tecnologia, da mesma forma que um e-mail sai do Rio de Janeiro
e chega a Hong Kong em segundos e sem custos além dos de acesso à rede, uma
chamada de voz pode ser estabelecida entre esses dois pontos a “custo zero”, ou com
o custo aproximado de um e-mail8.
Nos EUA e na Europa, a tecnologia VoIP já está sendo utilizada em associação a linhas
telefônicas públicas, o que faz com que qualquer pessoa com uma conexão à internet e
a assinatura do serviço tenha uma linha local nesses países virtualmente, enquanto
está fisicamente em qualquer outro lugar do mundo. Dessa forma, é possível receber
ligações de Nova York na sede do Rio de Janeiro, e vice-versa, pagando-se apenas
uma ligação local, que pode já estar incluída no pagamento do plano de acesso.
Os serviços baseados em VoIP têm diversas outras aplicações, das quais destacam-se
também as possibilidades de oferecer videoconferência e ensino a distância. Já
incomodam as operadoras de telefonia fixa e de longa distância, que vêem ameaçadas
suas receitas de longa distância. O segmento traz oportunidades para o surgimento de
novos players, que podem se aproveitar das vantagens econômicas e possibilidades
tecnológicas para conquistar nichos de mercado.
TV Digital
Os aparelhos de TV disponíveis atualmente utilizam freqüências de rádio para a
recepção analógica das imagens e som que reproduzem. Com o avanço das redes de
comunicação, uma nova geração de aparelhos vem sendo desenvolvida. A TV Digital
receberá dados binários – e não mais analógicos – o que lhe trará uma série de
vantagens.
A primeira delas é que por ser um canal digital, a rede poderá ser utilizada para
transportar não apenas imagens e sons, mas também dados, possibilitando que
serviços possam ser agregados ao aparelho, como acesso à internet, telefonia via
VoIP, leitura de e-mails, dentre outros serviços interativos. Alguns protótipos de
serviços desenvolvidos para a TV Digital permitem, por exemplo, a compra imediata do
CD do cantor que está se apresentando na tela ou do vestido da protagonista da
novela, a partir do controle remoto. Há também a possibilidade de assistir a filmes,
vídeos, programas e documentários sob demanda, de acordo com a conveniência. A
8
Com a tecnologia Voz Sobre IP (VoIP), é possível migrar parte ou todo o tráfego de voz das redes de
telefonia convencionais para a internet. Assim, a realização de uma chamada de longa distância custa apenas
os custos de acesso à internet, mais os custos de conversão da chamada IP para a rede de telefonia pública
local, quando aplicável. Essa conversão IPÆrede de telefonia convencional é feita na localidade geográfica
próxima do número destino da ligação, por isso, os custos nesse caso são o de uma ligação local. A ligação
passa a custar o mesmo que um e-mail.
qualidade da imagem também é beneficiada, pois o formato digital evita distorções e
interferências na imagem, que ganha em definição.
Outra vantagem é que a transmissão em forma digital economiza infra-estrutura,
sendo possível transmitir mais dados com menor largura de banda, em comparação às
redes atuais. O canal de transmissão também pode variar, podendo ser satélite,
microondas ou cabos terrestres.
As principais barreiras aos players que desejam oferecer serviços de dados, conteúdo e
infra-estrutura para a TV Digital no Brasil está na indefinição do padrão a ser adotado
pelo país. O governo brasileiro tende a criar o seu próprio sistema, em detrimento aos
já desenvolvidos nos EUA, Europa e Japão, sob o argumento de gerar divisas para o
país (e não royalties para o exterior), ao mesmo tempo em que se criam
oportunidades para o desenvolvimento dos centros de pesquisa e indústrias no país,
interessadas em explorar o modelo de TV Digital.
Webservices
Permitir a comunicação entre sistemas diferentes, que rodam em plataformas
operacionais diversas, comunicando-se com distintos bancos de dados, através da
internet. Esse é o objetivo dos webservices. Baseados em tecnologias padronizadas,
como o XML, os webservices são canais de comunicações entre aplicações.
Um webservice é uma espécie de “conexão” que uma aplicação cria com outra, para
enviar e receber informações. A padronização da forma com que essas conexões são
feitas, utilizando o padrão aberto XML, permite que uma enorme gama de serviços
seja criada.
A título ilustrativo, uma empresa que trabalha com administração de ações e títulos
em bolsa de valores poderia criar um webservice que permitisse a consulta, em tempo
real, pela internet, do valor de determinada ação. Esse serviço poderia ser acessado
por diversas aplicações, como Microsoft Excel para colocar os valores sempre
atualizados em planilhas, por seu website, que permitiria a consulta online a seus
clientes ou por suas aplicações gerenciais, que ganhariam em agilidade.
Extrapolando esse exemplo, que trata de aplicações mais simples, os webservices
podem ser usados para permitir a comunicação entre sistemas de clientes e
fornecedores de toda uma cadeia produtiva, disparando processos automaticamente.
Os diferenciais dos webservices estão nos baixos custos de comunicação (Internet), e,
especialmente, na facilidade de integração (simples, padronizada e compatível com
qualquer sistema operacional).
Há aí uma enorme gama de oportunidades no desenvolvimento de webservices
públicos ou privados para as mais variadas aplicações.
Segurança digital
O fenômeno da convergência tem feito com que as informações circulem a velocidades
cada vez maiores e por um maior número de dispositivos e redes. O próprio avanço da
Voz sobre IP, dos webservices e da computação móvel, sendo esta impulsionada pelas
redes de dados da telefonia móvel, todas tecnologias aqui apontadas como frutíferas
em oportunidades de negócio, gera preocupação com a segurança das informações aí
trafegadas.
Atuar no desenvolvimento de soluções na área de segurança, contudo, exige o
acompanhamento da corrida tecnológica, o que significa altos investimentos em
pessoal qualificado e em adoção dessas novas tecnologias assim que estão disponíveis.
Sem dúvida, devido à complexidade desse tipo de desenvolvimento, escolher um nicho
de mercado é de grande importância aos players da indústria de segurança da
informação.
Há vários caminhos a seguir dentro desse segmento. Enquanto há empresas
especializadas na detecção e remoção de vírus e pragas digitais, outras prestam
serviços para bancos, instituições financeiras, buscando evitar fraudes; ou para
governos, tentando garantir a confidencialidade das informações. Há também sistemas
de segurança específicos para comunicação em tempo real, ou para redes sem fio.
Muitas novas oportunidades estão surgindo a partir das soluções de segurança
específicas para novas tecnologias, muitas delas citadas neste estudo. A complexidade
tecnológica e a variedade de soluções de segurança criam espaço também para o
oferecimento de serviços de consultoria sobre como e quais soluções adotar.
Destaca-se, ainda, na área de segurança digital, o segmento de biometria, que pode
substituir as atuais – e frágeis – senhas alfanuméricas. A tecnologia consiste no
reconhecimento de informações únicas do corpo humano, como a impressão digital,
íris ocular ou o formato da mão, como forma de garantir o acesso a ambientes
protegidos.
Computação móvel
A primeira calculadora portátil digital surgiu há 30 anos e de lá para cá, surgiram
equipamentos portáteis com capacidade de processamento bilhões de vezes maior. A
computação móvel vem crescendo a taxas elevadas, por permitir o acesso e o
processamento de informações a qualquer hora e em qualquer lugar.
De acordo com o IDC, a venda global de computadores pessoais, que estava com
taxas de crescimento desaceleradas nos últimos dois anos, voltará a crescer a saltos
largos, subindo 11,4% em 2004 e 11,2% no ano seguinte, graças ao impulso dos
computadores portáteis9.
Esse mercado, contudo, não está restrito a notebooks e palmtops. Um segmente ainda
pouco explorado no campo da computação móvel é o da telemetria. A Telemetria é um
segmento da computação móvel que permite monitorar dados à distância, a partir de
dispositivos de computação móvel.
Uma aplicação da telemetria seria a leitura eletrônica de relógios medidores de
consumo de água ou energia elétrica e o envio dessas informações online para uma
central. Outra aplicação é o monitoramente dos batimentos do coração de doentes
cardíacos, que pode ser feito a distância por um médico. Com dispositivos telemétricos
9
IDC – Previsão de vendas mundiais de computadores pessoais em 2004-2005
é possível monitorar equipamentos elétricos para verificar descargas ou mau
funcionamento e emitir avisos quando algo estiver errado imediatamente.
O maior desafio para viabilizar o uso da telemetria está nas redes de comunicação, que
precisariam estar acessíveis, com alta disponibilidade e cobertura, o que torna seu uso
ainda caro, já que somente redes de satélite atendem a esses requisitos em nível
global. O avanço das redes celulares e sua capacidade de transporte de dados estão
mudando esse cenário, criando oportunidade para o fornecimento de novos serviços e
aplicações nesse segmento.
Nanoeletrônica
O segmente de computação móvel, tratado acima, também cria desafios e
oportunidades para a cadeia de valor dos equipamentos eletrônicos, gerando demanda
para a miniaturização dos componentes microeletrônicos.
A criação de dispositivos portáteis
funcionalidades tem guiado o foco de
nanoteletrônica. O sufixo “nano” vem
= 0,000000001 m ou um centésimo
grandezas muito pequenas.
cada vez mais leves, potentes e com mais
instituições de pesquisa em todo mundo para a
da unidade de medida nanômetro (1 nanômetro
da espessura de um fio de cabelo) e trata de
A miniaturização dos componentes eletrônicos em escalas nanométricas além de
permitir a disseminação de dispositivos portáteis é crucial para que os computadores
continuem expandindo sua capacidade de processamento. Segundo a Intel10, a
tecnologia atualmente existente só é suficiente para manter a taxa de crescimento dos
tansistores por área (fator determinante para o desempenho dos processadores) por
mais 4 ou 5 anos. Para permitir que as taxas de crescimento continuem constantes,
mantendo o ciclo de desenvolvimento de processadores é necessário partir para as
escalas nanométricas.
O potencial da nanotecnologia é tal, que estimativas do Ministério de Ciência e
Tecnologia brasileiro apontam que entre 2010 e 2015 o mercado mundial chegará a
movimentar US$ 1 trilhão no segmento11.
Outra questão que a nanoeletrônica promete resolver relaciona-se ao consumo de
energia pelos equipamentos eletrônicos. Enquanto o poder de processamento dos
equipamentos cresce, exigindo mais energia elétrica, a capacidade de fornecimento e o
tamanho das baterias não acompanham o mesmo ritmo, o que vem trazendo
problemas para o avanço da indústria. Dessa forma, o desenvolvimento tem
caminhado para dois lados: a criação de baterias menores e mais potentes e o
desenvolvimento de sistemas eletrônicos que consumam menos energia.
Embora dentre os segmentos desse estudo, o da nanoeletrônica seja um dos mais
promissores, é o que exige o maior volume de investimentos e cujo retorno deve
ocorrer em mais longo prazo. Por essa razão, grande parte dos investimentos no setor
vem dos governos e está direcionada a instituições científicas de pesquisa. O governo
brasileiro já tem fundo de investimentos específico para o setor, que financia pesquisas
10
MOORE, Gornon. No Exponential is Forever
MCT, Temas em C&T: Nanotecnologia. Disponível em http://www.mct.gov.br/Temas/Nano/Default.htm .
É importante ressaltar que a nanoeletrônica é apenas uma das aplicações da nanotecnologia, que tem usos nas
áreas de materiais, saúde, indústria têxtil, dentre outras.
11
e empresas interessadas em seu desenvolvimento, contando hoje com R$ 77,7
milhões no orçamento de 20048.
3G
As chamadas redes de terceira geração – o 3G – prometem adicionar a transmissão de
dados em alta velocidade às redes de telefonia celular. Pretendem também harmonizar
os padrões tecnológicos utilizados para a comunicação celular em todo o mundo,
buscando a mesma faixa de freqüência de rádio e a mesma tecnologia de rede para a
comunicação, permitindo maior interoperabilidade entre operadoras. Alguns
fabricantes prometem velocidades de até 3 Mbps para cada dispositivo (cerca de 55
vezes maior que em uma conexão com um modem doméstico, de 56kpbs).
A ambição do 3G já trouxe problemas e frustrações, especialmente na Europa, onde
sua adoção consumiu enormes investimentos em infra-estrutura por parte das
operadoras, que não correspondeu às expectativas de retorno, o que tem colocado
pontos de interrogação sobre o futuro da tecnologia.
Apesar dos dimensionamentos equivocados e expectativas exageradas, os benefícios
propostos pela tecnologia de terceira geração geram muitas oportunidades de negócio
no campo da TI.
É para redes 3G que aponta o futuro da TV Digital, da voz sobre IP e da computação
móvel. Será através dessa rede que grande parte das aplicações baseadas nessas
tecnologias será oferecida e a partir dela, outros novos serviços.
Por essa razão o desenvolvimento e a efetiva implantação dessas redes é fator de
grande importância para determinar o crescimento da TI globalmente e as empresas
que se prepararem para utilizar o potencial por elas oferecido serão beneficiadas.
Referências Bilbiográficas
BRITO, Marcela. Crise de Identidade. Revista TI, São Paulo, 2001. TI Master. 3 mai
2001. Disponível em http://www.timaster.com.br/revista/
materias/main_materia.asp?codigo=348. Acesso em jun 2004
CASADO, Santiago. História de la Matemática. Sector de Matemática, Chile. Disponível
em http://www.sectormatematica.cl/historia.htm. Acesso em jul 2004
CARR, Nicholas G. IT Doesn’t Matter In: HARVARD Business Review, Harvard Business
Press, 2003. Maio 2003.
CLUBE Old Bits. Uma breve história da informática. São Paulo, 1995. CBO. Disponível
em http://cobit.mma.com.br/materias/historia1.htm. Acesso em jul 2004.
IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais. Tabela 11:
Participação das classes e atividades no valor adicionado dos preços básicos – 19902002.
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Tecnologia da Informação – Oportunidades de negócios