Tecnologia da Informação – Oportunidades de negócios digitais “Acho que existe um mercado mundial para cerca de cinco computadores.” Thomas J Watson Diretor da IBM, em 1958 Entender a dinâmica da indústria de Tecnologia da Informação (TI) não é tarefa simples, pelo fato de ser extremamente difícil definir o que é TI. Em um ambiente de negócios cada vez mais informatizado, a tecnologia se tornou tão presente nas organizações e na vida dos indivíduos de modo geral, que ela chega a passar despercebida. Essa é a síntese da complexidade do setor. No estudo deste mês, o Instituto Inovação buscou entender um pouco do histórico de desenvolvimento das Tecnologias da Informação para, a partir de visões que focaram seus estágios de aplicação e formas de apresentação, traçar um conceito abrangente e ao mesmo tempo simples da TI. Esse conhecimento, associado a uma análise dos ciclos de vida tecnológicos e da dinâmica dessa indústria, além de dados que apontam para as tendências desse mercado, serviram como base para traçar as possíveis oportunidades de negócio desta área. As origens da TI Para realizar a pesquisa histórica, partimos da seguinte definição: “Tecnologia da Informação é a aplicação da tecnologia no processamento de informações.”1 Nessa ótica, a história da TI se confunde com a história do homem. De certa forma, considerando tecnologia como uma ferramenta, criada a partir de um conjunto de conhecimentos, que melhore um determinado processo ou condição humana, a linguagem pode ser considerada como a primeira forma de Tecnologia da Informação. A partir do desenvolvimento das sociedades, lidar com as informações e processá-las da melhor forma tem sido uma busca contínua da humanidade. A necessidade de contar levou a criação do dígito e do sistema decimal (inspirados nos dedos humanos). Foram então surgindo as primeiras ferramentas para auxiliar esse processo, sendo a mais antiga o ábaco (instrumento oriental de madeira e contas coloridas, que auxilia na realização de cálculos matemáticos), datado entre 1500 e 3000 A.C.2 O aprimoramento matemático foi também bastante impulsionado pelo desenvolvimento do comércio. A necessidade do maior controle das quantidades de mercadorias produzidas, da realização de cálculos, impulsionou o desenvolvimento científico que permitiu a criação de ferramentas para o controle e manipulação das informações, desde os primeiros mecanismos de contagem até as calculadoras analógicas3. 1 BRITO, Marcela. Revista TI CASADO, Santiago. História de la Matemática 3 A palavra analógico vem de “análogo”. O termo é usado porque que um dispositivo analógico imita diretamente a informação que quer representar. No caso da primeira caulculadora analógica, seu dispositivo baseava-se em discos que giravam de forma análoga ao sistema decimal, sendo que quando um disco chegava ao algarismo nove, girava em uma unidade o disco posterior e voltava ao valor zero. Um sinal de rádio 2 O grande salto da Tecnologia da Informação, contudo, veio com a transição dos sistemas analógicos para os digitais, que operavam diretamente com os números, através do sistema binário4. Esse novo paradigma foi proporcionado pelos avanços da ciência nos campos da física, química e engenharia, que criaram a válvula, a tecnologia de armazenamentos de dados em meio magnético e os conceitos de programação embutida e memória digital. Em 1958, um fato tornou-se importante marco do desenvolvimento desta indústria. A Texas Instruments descobriu como reunir em uma única pastilha de silício todos os componentes de um circuito eletrônico, criando os circuitos integrados, que dariam origem ao chip. Com o início de sua produção comercial, foi possível produzir computadores em larga escala, o que gerou uma corrida tecnológica mundial, liderada pela IBM. A empresa iria decidir, anos mais tarde, abrir sua plataforma de programação, dando início à revolução do software e hardware, que abriu espaço para o desenvolvimento dos mainframes, minicomputadores e microcomputadores, baseados no sistema operacional DOS, da então desconhecida Microsoft. A partir daí, a padronização de um sistema operacional utilizado em larga escala permitiu a criação de programas que funcionassem em qualquer equipamento, o que deu a Microsoft o quase monopólio do setor. Desse modo, qualquer empresa interessada em desenvolver um equipamento ou programa compatível com o PC, precisaria comprar as ferramentas de programação da Microsoft. A empresa soube se aproveitar muito bem dessa vantagem evoluindo o DOS para o sistema Windows, que introduziu a interface gráfica ao PC e a colocou definitivamente entre os empreendimentos mais prósperos do século XX. Em paralelo ao desenvolvimento das então nascentes indústrias de software e hardware, o mundo assistia ao desenvolvimento das redes de comunicação, que compõe como senda a terceira das funções essenciais da TI: processamento, armazenamento e transporte de informação. Tal desenvolvimento foi responsável pela expansão significativa de uma indústria, a das Telecomunicações. Criada a partir do telégrafo e do telefone, essa indústria foi o berço na última década da telefonia celular, responsável por cerca de um terço das receitas desse setor5, e da Internet, rede mundial de computadores, que transformaria drasticamente as relações dos indivíduos e das organizações com a informação. Para ilustrar o aumento da importância das Telecomunicações nos últimos anos é possível analisar o crescimento de sua participação no PIB do Brasil. Enquanto em 1990, a as comunicações representavam 1,38% no valor adicionado a preços básicos analógico, por exemplo, imitam diretamente a forma, o tempo e a natureza do conteúdo do sinal que registram, seja som ou imagem. Isso traz uma série de limitações, quanto ao armazenamento, distorções e transmissão desse tipo de informação. Os sistemas digitais, ao contrário, transformam toda a informação em sinais binários, digitais, que podem ser armazenados, processados e transportados de forma muito mais eficiente. 4 O sistema matemático binário utiliza dois algarismos (0 e 1) para representar os números e realizar cálculos. Em analogia, o sistema decimal utiliza dez algarismos (de 0 a 9) e é o sistema matemáticos regularmente utilizado. 5 Fonte: IBGE, 2001. A Telefonia Celular contribui com 35% das receitas to setor em 2001. do PIB, em 2002, esse número subiu para 2,72%, representando um crescimento de 97,10%, o segundo maior dentre todos os setores classificados6. A associação da indústria da Computação à indústria das Telecomunicações é que forma o que hoje conhecemos como Tecnologia da Informação (figura 1). etc. Agricultura Varejo Bens de Consumo Indústrias de base Saúde Bancos Telecomunicações O que é TI Computação Figura 1 A figura mostra que existe uma intercessão entre indústria da computação e todos os outros setores da economia, já que existe um grande número de softwares e equipamentos eletrônicos, específicos para cada segmento. Basta olhar para o funcionamento do setor bancário 20 anos atrás para perceber o impacto da TI Aplicada a esse setor. Compreendendo a dinâmica da indústria Em estudo publicado na Harvard Business Review, Nicholas Carr defende que a importância da TI tem diminuído nas organizações, pelo fato da tecnologia estar tão difundida na sociedade, que se tornou commodity. Assim, bons investimentos em TI não seriam mais diferencial para as empresas, que precisam buscar outras formas de competir. Embora seja possível afirmar que grande parte da TI que utilizamos hoje tenha se tornado commodity, dizer que TI não gera diferencial tecnológico é ignorar o fato de que a indústria da TI está em constante – e rápida – evolução e de que novos padrões tecnológicos sempre surgirão, muitas vezes criando novos paradigmas que substituem os anteriores. Assim foi com a telefonia celular, com a própria internet, com o e-mail e 6 IBGE, Participação das classes e atividades no valor adicionado a preços básicos - 1990-2002. Apenas o setor da Indústria do Açúcar teve crescimento relativo maior que Comunicações no período. a tendência é de que assim seja com as tecnologias que ainda estão por vir. Seria despropositado afirmar que as empresas que investiram primeiro no e-mail não ganharam produtividade e agilidade nas comunicações, em relação a suas concorrentes. Contrapondo Carr, seria mais apropriado dizer que parte da TI que utilizamos hoje se tornou commodity, isto é, foi amplamente difundida, a qual, para efeito de distinção, chamamos neste estudo de TI Comum. Enquadra-se nessa categoria toda gama de tecnologias da informação que estão disponíveis de forma consolidada e comercialmente desenvolvida, para serem utilizadas nas mais diversas aplicações. É possível entender melhor esse conceito de TI Comum ao contrapô-lo ao de TI Aplicada. Nessa categoria estão as aplicações das tecnologias disponíveis em TI Comum. Por exemplo, utilizando as tecnologias da Internet, que estavam disponíveis de forma consolidada, foi possível criar uma aplicação de envio e recebimento de mensagens instantâneas. Em grande parte dos casos, as tecnologias disponíveis em TI Aplicada, são direcionadas a um determinado nicho ou segmento da indústria. Isso porque muitas das aplicações desenvolvidas a partir da TI Comum são específicas, como no caso de software de gerenciamento ou no de equipamentos eletrônicos para a área médica. Na contramão desse caminho, há os casos em que as tecnologias aplicadas migram para a categoria básica, tornando-se TI Comum. Isso ocorre quando estas tecnologias passam a ser utilizadas por um grande número de indivíduos, como no caso do e-mail, que era uma aplicação da tecnologia disponível pela Internet e tornou-se padrão mundial. Enquadra-se aí o próprio microcomputador, que é resultado da aplicação de tecnologias básicas nas áreas de eletrônica disponíveis quando da sua criação. O computador era naquela ocasião utilizado somente por grandes empresas, que necessitavam de alto poder de processamento. Hoje, está amplamente difundido e disponível, tornando-se base para a aplicação de outras tecnologias, logo, parte da TI Comum. Esse caminho de volta da tecnologia aplicada para a comum ocorre quando a aplicação é utilizada em grande escala, de forma ampla e consolidada, e perde as características que a definem como específica para um determinado segmento. Podemos citar como tecnologias que estão atualmente se tornando TI Comum, vindas da TI Aplicada, os anti-virus e sistemas de segurança, de modo geral, que há um bom tempo deixaram de ser preocupação exclusiva de bancos e governos; dentre outras. Além das categorias TI Comum e TI Aplicada, há a categoria de TI Básica. Nessa categoria, estão as tecnologias em desenvolvimento. São aquelas que ainda estão em fase de protótipo nos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de empresas e universidades. Tais tecnologias substituirão os padrões vigentes por outros, mais avançados. Enquadram-se também, na TI Básica, os conhecimentos conceituais e os padrões tecnológicos que permitiram o desenvolvimento de tecnologias básicas. Um protocolo de comunicação, por exemplo, que define métodos matemáticos para a comunicação entre dois dispositivos digitais, não existe sozinho, sem que exista o software e o hardware que implementarão tais métodos. Não se trata de uma tecnologia na forma de software ou hardware, mas de um método conceitual, que deve ser aplicado em algum software ou equipamento para funcionar. A partir do momento que esse protocolo de comunicação é aplicado em um chip, que é então embutido em uma placa de rede, que passa a ser reconhecida por um software capaz de se comunicar utilizando o mesmo protocolo, então esta tecnologia tornam-se TI Comum, mas o protocolo em si, permanece como TI Básica. Na TI Básica, portanto, está o conhecimento essencial que permite o desenvolvimento das tecnologias da informação. Matriz de TI – Ex: Armazenamento de dados CIÊNCIA Software Hardware TI Básica • Dispositivos bioeletrônicos de armazenamento • Miniaturização de chips eletrônicos MERCADO TI Comum • Discos rígidos TI Aplicada • Unidade de backup • Chips e Cartões de memória Data Center HD ATA Gravação em trilha magnética • Algorítmos de compactação de dados • Sistemas de arquivos CD-RW • Bancos de dados • Gestão eletrônica de documentos • Formatos de arquivo (Ex: PDF) ERP Sistema de armazenamento de dados Banco de dados relacional Figura 2 Há na indústria da TI, na fronteira entre TI Básica e TI Comum, uma forte interação entre ciência e mercado, já que o setor é intensivo em pesquisa e desenvolvimento. Dessa forma, as tecnologias em desenvolvimento na categoria TI Básica são produtos de pesquisa, que se tornam comerciais à medida que avançam para a categoria da TI Comum. Vai de encontro a essa idéia o fato de as maiores empresa da TI atuais, como HP, Intel e Microsoft, tenham surgido dentro de centros universitários e mantenham laboratórios privados de pesquisa. Estão também, na fronteira entre TI Básica e TI Comum, os padrões tecnológicos abertos ou open starndards. Tratam-se de tecnologias de desenvolvidas forma centralizada, padronizada e pública por uma organização isenta, responsável por ouvir as demandas do mercado e das empresas do setor e coordenar a evolução de tal padrão,7 O objetivo dos processos de padronização é evitar que diferentes padrões tecnológicos de uma mesma aplicação gerem incompatibilidades na indústria. É o que ocorre quando empresas tentam impor seus formatos proprietários de tecnologia. Um exemplo foi a competição entre diferentes formatos de gravação e reprodução de vídeo, na década de 80, que fazia com que fitas para video-cassetes VHS não funcionassem nos modelos baseados na tecnologia BETAMAX. Há, contudo, no esforço da indústria a caminho da padronização algumas contradições, já que padronizar significaria perder o domínio comercial sobre certas tecnologias. 7 Os padrões abertos têm também como característica o fato de seguirem uma metodologia própria e bem definida de desenvolvimento. São exemplos de padrões abertos o HTML (linguagem das páginas de internet), o XML (linguagem de comunicação de dados) e o SIP (protocolo para comunicação multimídia). Enquanto parte da indústria volta-se para criar aplicações proprietárias totalmente fechadas,.em oposição aos totalmente abertos, há uma terceira via, que utiliza parte dos conceitos do open standard, porém reserva-se aos direitos comercialização. Um exemplo é a Simbyan, empresa que desenvolve sistemas operacionais para telefones celulares, criada por um consórcio formado pelas principais fabricantes de aparelhos celulares do mundo. É este o mesmo dilema que envolve a temática do software livre, da qual são ícones os sistemas Windows e Linux. A principal questão do dilema software livre vs. Proprietário é quem paga a conta pelo desenvolvimento. No meio dos extremos, estão empresas que adotam posicionamentos híbridos, desenvolvendo aplicações privadas para padrões públicos, abrindo partes de sues códigos-fonte ou concentrado seus modelos de negócio em serviços agregados à tecnologia. Fica mais fácil entender o dilema da padronização e da abertura de código quando se pensa nos ciclos de desenvolvimento de tecnologia em TI. A velocidade com que a indústria cria novos padrões é tão grande, que o tempo necessário para que uma empresa imponha seu próprio padrão cria uma barreira de entrada a seus padrões, uma vez que rapidamente surgem evoluções daquela mesma tecnologia. Com tecnologias padronizadas, os novos padrões são adotados de forma coordenada por todos os players, fazendo com que os sistemas sejam compatíveis entre si e tornando a evolução para novas gerações tecnológicas muito mais simples. As figuras 3 e 4 ilustram a velocidade dos ciclos tecnológicos na TI. No gráfico, está representada a Lei de Moore, pela qual o fundador da Intel, Gordon Moore, preveu, em 1975, a velocidade de evolução dos microprocessadores. Segundo ele, o número de transistores por área (que determina a capacidade de processamento), dobra a cada 2 anos, enquanto os custos permanecem constantes. A Lei de Moore C o m plex ida de do s C ircu ito s In tegra do s Transistores T rsist o re s 1 010 0 09 Itanium 910 0 08 P entium 4 P entium III P entium II 107 8 0 06 10 P entium 710 0 05 i486 4 610 00 i386 80286 103 5 0 02 8086 10 400 8080 4004 300 1972 1974 1978 1982 1985 1989 1993 1997 1999 2002 2004 Fonte: Intel – MOORE, Gordon. No exponential is forer, but we can delay forever. Fevereiro de 2003. Figura 3 Essa é a fórmula da obsolescência programada, adotada como mantra pela indústria da TI, em que o preço dos produtos top de linha mantém-se sempre constante. À medida que os produtos mais modernos vão sendo adotados pelo mercado, o preço cai, dando lugar a uma nova geração tecnológica, mais eficiente, que se torna o novo “top de linha”. Após algum tempo, com a queda do preço, tal tecnologia se difunde no mercado, enquanto aquela anterior, que outrora estava no topo, é descontinuada. 1 Entrante Top de linha Tecnologia C Tecnologia B 2 3 4 Tempo 1 Tempo 2 Tempo 3 Tempo 4 Tecnologia A Tecnologia B Tecnologia C Tecnologia D Tecnologia A Tecnologia B Tecnologia C Tecnologia A Tecnologia B Dominante Padrão Em declínio Descontinuada Extinta Tecnologia D tempo Nova entrante Dominante Tecnologia A Extinta Adoção tecnológica Ciclo de vida de tecnologias em TI Descontinuada Tecnologia A Figura 4 É a adoção da lei de Moore, que garante a constância das margens das empresas da TI e dá previsibilidade ao mercado. Baseadas nessa dinâmica, é que elas conseguem realizar o planejamento de seus negócios no longo prazo. Exatamente por entenderem esse processo, que as grandes empresas investem pesadamente em pesquisa, pois precisam garantir o domínio sob as próximas gerações tecnológicas para manter suas taxas de crescimento. Acompanha essa lógica, uma outra dinâmica, a dinâmica orientada ao surgimento de novos mercados a partir de uma nova tecnologia ou de uma nova geração tecnológica. São nesses momentos, que a expectativa de ganho dos mercados pode ultrapassar o potencial real dos produtos e serviços desenvolvidos a partir de uma determinada tecnologia. Foi assim com a internet, principalmente, nos EUA, e com a terceira geração da telefonia móvel, sobretudo na Europa. São as chamadas bolhas econômicas que possuem uma alta associação com o surgimento de novas tecnologias. Oportunidades de negócios em TI Analisando o histórico de TI, suas definições, seu ciclo de desenvolvimento e as tendências apontadas pelo mercado, o Instituto Inovação listou os principais nichos de Tecnologia da Informação que poderão oferecer oportunidades de negócios nos próximos anos. São eles: • • • Voz sobre IP TV Digital Webservices • • • • Segurança digital Computação móvel Nanoeletrônica 3G Estes segmentos estão plotados na figura 5 abaixo, de acordo com sua aplicabilidade (disponibilidade tecnológica, potencial e consolidação), convergência (economia gerada em comunicações, quantidade de aplicações ou dispositivos conectados) e barreiras de entrada (competição, complexidade tecnológica, custo e demanda). Oportunidades de Negócio em TI TI Comum TV Digital Convergência TI Básica TI Aplicada Voz sobre IP Webservices 3G Computação móvel Aplicabilidade Nanoeletrônica Segurança digital Menores barreiras de entrada * - Ponto de vista do desenvolvedor da tecnologia Figura 5 A figura indica ainda onde estão as TI Básicas, TI Comums e TI Aplicadas. A partir de sua análise, é possível ver que o setor de segurança digital está deixando de ser TI Aplicada e tornando-se TI Comum, o que é um forte indicador da tendência de crescimento dessa temática nas organizações. A seguir, tratamos um pouco de cada área. Voz Sobre IP No sistema tradicional de telefonia, a voz trafega em uma rede analógica, distribuída por um emaranhado de cabos e centrais telefônicas. Ao lado dos cabos telefônicos, estão cabos elétricos e, especialmente nas empresas, os cabos de rede, por onde trafegam os dados digitais. A tecnologia Voz Sobre IP (VoIP) permite que a voz seja trafegada pela mesma rede que transporta os dados, economizando infra-estrutura e barateando sensivelmente os custos de comunicação. Essa queda nos custos se dá pelo uso da rede mundial, a Internet. A partir da tecnologia, da mesma forma que um e-mail sai do Rio de Janeiro e chega a Hong Kong em segundos e sem custos além dos de acesso à rede, uma chamada de voz pode ser estabelecida entre esses dois pontos a “custo zero”, ou com o custo aproximado de um e-mail8. Nos EUA e na Europa, a tecnologia VoIP já está sendo utilizada em associação a linhas telefônicas públicas, o que faz com que qualquer pessoa com uma conexão à internet e a assinatura do serviço tenha uma linha local nesses países virtualmente, enquanto está fisicamente em qualquer outro lugar do mundo. Dessa forma, é possível receber ligações de Nova York na sede do Rio de Janeiro, e vice-versa, pagando-se apenas uma ligação local, que pode já estar incluída no pagamento do plano de acesso. Os serviços baseados em VoIP têm diversas outras aplicações, das quais destacam-se também as possibilidades de oferecer videoconferência e ensino a distância. Já incomodam as operadoras de telefonia fixa e de longa distância, que vêem ameaçadas suas receitas de longa distância. O segmento traz oportunidades para o surgimento de novos players, que podem se aproveitar das vantagens econômicas e possibilidades tecnológicas para conquistar nichos de mercado. TV Digital Os aparelhos de TV disponíveis atualmente utilizam freqüências de rádio para a recepção analógica das imagens e som que reproduzem. Com o avanço das redes de comunicação, uma nova geração de aparelhos vem sendo desenvolvida. A TV Digital receberá dados binários – e não mais analógicos – o que lhe trará uma série de vantagens. A primeira delas é que por ser um canal digital, a rede poderá ser utilizada para transportar não apenas imagens e sons, mas também dados, possibilitando que serviços possam ser agregados ao aparelho, como acesso à internet, telefonia via VoIP, leitura de e-mails, dentre outros serviços interativos. Alguns protótipos de serviços desenvolvidos para a TV Digital permitem, por exemplo, a compra imediata do CD do cantor que está se apresentando na tela ou do vestido da protagonista da novela, a partir do controle remoto. Há também a possibilidade de assistir a filmes, vídeos, programas e documentários sob demanda, de acordo com a conveniência. A 8 Com a tecnologia Voz Sobre IP (VoIP), é possível migrar parte ou todo o tráfego de voz das redes de telefonia convencionais para a internet. Assim, a realização de uma chamada de longa distância custa apenas os custos de acesso à internet, mais os custos de conversão da chamada IP para a rede de telefonia pública local, quando aplicável. Essa conversão IPÆrede de telefonia convencional é feita na localidade geográfica próxima do número destino da ligação, por isso, os custos nesse caso são o de uma ligação local. A ligação passa a custar o mesmo que um e-mail. qualidade da imagem também é beneficiada, pois o formato digital evita distorções e interferências na imagem, que ganha em definição. Outra vantagem é que a transmissão em forma digital economiza infra-estrutura, sendo possível transmitir mais dados com menor largura de banda, em comparação às redes atuais. O canal de transmissão também pode variar, podendo ser satélite, microondas ou cabos terrestres. As principais barreiras aos players que desejam oferecer serviços de dados, conteúdo e infra-estrutura para a TV Digital no Brasil está na indefinição do padrão a ser adotado pelo país. O governo brasileiro tende a criar o seu próprio sistema, em detrimento aos já desenvolvidos nos EUA, Europa e Japão, sob o argumento de gerar divisas para o país (e não royalties para o exterior), ao mesmo tempo em que se criam oportunidades para o desenvolvimento dos centros de pesquisa e indústrias no país, interessadas em explorar o modelo de TV Digital. Webservices Permitir a comunicação entre sistemas diferentes, que rodam em plataformas operacionais diversas, comunicando-se com distintos bancos de dados, através da internet. Esse é o objetivo dos webservices. Baseados em tecnologias padronizadas, como o XML, os webservices são canais de comunicações entre aplicações. Um webservice é uma espécie de “conexão” que uma aplicação cria com outra, para enviar e receber informações. A padronização da forma com que essas conexões são feitas, utilizando o padrão aberto XML, permite que uma enorme gama de serviços seja criada. A título ilustrativo, uma empresa que trabalha com administração de ações e títulos em bolsa de valores poderia criar um webservice que permitisse a consulta, em tempo real, pela internet, do valor de determinada ação. Esse serviço poderia ser acessado por diversas aplicações, como Microsoft Excel para colocar os valores sempre atualizados em planilhas, por seu website, que permitiria a consulta online a seus clientes ou por suas aplicações gerenciais, que ganhariam em agilidade. Extrapolando esse exemplo, que trata de aplicações mais simples, os webservices podem ser usados para permitir a comunicação entre sistemas de clientes e fornecedores de toda uma cadeia produtiva, disparando processos automaticamente. Os diferenciais dos webservices estão nos baixos custos de comunicação (Internet), e, especialmente, na facilidade de integração (simples, padronizada e compatível com qualquer sistema operacional). Há aí uma enorme gama de oportunidades no desenvolvimento de webservices públicos ou privados para as mais variadas aplicações. Segurança digital O fenômeno da convergência tem feito com que as informações circulem a velocidades cada vez maiores e por um maior número de dispositivos e redes. O próprio avanço da Voz sobre IP, dos webservices e da computação móvel, sendo esta impulsionada pelas redes de dados da telefonia móvel, todas tecnologias aqui apontadas como frutíferas em oportunidades de negócio, gera preocupação com a segurança das informações aí trafegadas. Atuar no desenvolvimento de soluções na área de segurança, contudo, exige o acompanhamento da corrida tecnológica, o que significa altos investimentos em pessoal qualificado e em adoção dessas novas tecnologias assim que estão disponíveis. Sem dúvida, devido à complexidade desse tipo de desenvolvimento, escolher um nicho de mercado é de grande importância aos players da indústria de segurança da informação. Há vários caminhos a seguir dentro desse segmento. Enquanto há empresas especializadas na detecção e remoção de vírus e pragas digitais, outras prestam serviços para bancos, instituições financeiras, buscando evitar fraudes; ou para governos, tentando garantir a confidencialidade das informações. Há também sistemas de segurança específicos para comunicação em tempo real, ou para redes sem fio. Muitas novas oportunidades estão surgindo a partir das soluções de segurança específicas para novas tecnologias, muitas delas citadas neste estudo. A complexidade tecnológica e a variedade de soluções de segurança criam espaço também para o oferecimento de serviços de consultoria sobre como e quais soluções adotar. Destaca-se, ainda, na área de segurança digital, o segmento de biometria, que pode substituir as atuais – e frágeis – senhas alfanuméricas. A tecnologia consiste no reconhecimento de informações únicas do corpo humano, como a impressão digital, íris ocular ou o formato da mão, como forma de garantir o acesso a ambientes protegidos. Computação móvel A primeira calculadora portátil digital surgiu há 30 anos e de lá para cá, surgiram equipamentos portáteis com capacidade de processamento bilhões de vezes maior. A computação móvel vem crescendo a taxas elevadas, por permitir o acesso e o processamento de informações a qualquer hora e em qualquer lugar. De acordo com o IDC, a venda global de computadores pessoais, que estava com taxas de crescimento desaceleradas nos últimos dois anos, voltará a crescer a saltos largos, subindo 11,4% em 2004 e 11,2% no ano seguinte, graças ao impulso dos computadores portáteis9. Esse mercado, contudo, não está restrito a notebooks e palmtops. Um segmente ainda pouco explorado no campo da computação móvel é o da telemetria. A Telemetria é um segmento da computação móvel que permite monitorar dados à distância, a partir de dispositivos de computação móvel. Uma aplicação da telemetria seria a leitura eletrônica de relógios medidores de consumo de água ou energia elétrica e o envio dessas informações online para uma central. Outra aplicação é o monitoramente dos batimentos do coração de doentes cardíacos, que pode ser feito a distância por um médico. Com dispositivos telemétricos 9 IDC – Previsão de vendas mundiais de computadores pessoais em 2004-2005 é possível monitorar equipamentos elétricos para verificar descargas ou mau funcionamento e emitir avisos quando algo estiver errado imediatamente. O maior desafio para viabilizar o uso da telemetria está nas redes de comunicação, que precisariam estar acessíveis, com alta disponibilidade e cobertura, o que torna seu uso ainda caro, já que somente redes de satélite atendem a esses requisitos em nível global. O avanço das redes celulares e sua capacidade de transporte de dados estão mudando esse cenário, criando oportunidade para o fornecimento de novos serviços e aplicações nesse segmento. Nanoeletrônica O segmente de computação móvel, tratado acima, também cria desafios e oportunidades para a cadeia de valor dos equipamentos eletrônicos, gerando demanda para a miniaturização dos componentes microeletrônicos. A criação de dispositivos portáteis funcionalidades tem guiado o foco de nanoteletrônica. O sufixo “nano” vem = 0,000000001 m ou um centésimo grandezas muito pequenas. cada vez mais leves, potentes e com mais instituições de pesquisa em todo mundo para a da unidade de medida nanômetro (1 nanômetro da espessura de um fio de cabelo) e trata de A miniaturização dos componentes eletrônicos em escalas nanométricas além de permitir a disseminação de dispositivos portáteis é crucial para que os computadores continuem expandindo sua capacidade de processamento. Segundo a Intel10, a tecnologia atualmente existente só é suficiente para manter a taxa de crescimento dos tansistores por área (fator determinante para o desempenho dos processadores) por mais 4 ou 5 anos. Para permitir que as taxas de crescimento continuem constantes, mantendo o ciclo de desenvolvimento de processadores é necessário partir para as escalas nanométricas. O potencial da nanotecnologia é tal, que estimativas do Ministério de Ciência e Tecnologia brasileiro apontam que entre 2010 e 2015 o mercado mundial chegará a movimentar US$ 1 trilhão no segmento11. Outra questão que a nanoeletrônica promete resolver relaciona-se ao consumo de energia pelos equipamentos eletrônicos. Enquanto o poder de processamento dos equipamentos cresce, exigindo mais energia elétrica, a capacidade de fornecimento e o tamanho das baterias não acompanham o mesmo ritmo, o que vem trazendo problemas para o avanço da indústria. Dessa forma, o desenvolvimento tem caminhado para dois lados: a criação de baterias menores e mais potentes e o desenvolvimento de sistemas eletrônicos que consumam menos energia. Embora dentre os segmentos desse estudo, o da nanoeletrônica seja um dos mais promissores, é o que exige o maior volume de investimentos e cujo retorno deve ocorrer em mais longo prazo. Por essa razão, grande parte dos investimentos no setor vem dos governos e está direcionada a instituições científicas de pesquisa. O governo brasileiro já tem fundo de investimentos específico para o setor, que financia pesquisas 10 MOORE, Gornon. No Exponential is Forever MCT, Temas em C&T: Nanotecnologia. Disponível em http://www.mct.gov.br/Temas/Nano/Default.htm . É importante ressaltar que a nanoeletrônica é apenas uma das aplicações da nanotecnologia, que tem usos nas áreas de materiais, saúde, indústria têxtil, dentre outras. 11 e empresas interessadas em seu desenvolvimento, contando hoje com R$ 77,7 milhões no orçamento de 20048. 3G As chamadas redes de terceira geração – o 3G – prometem adicionar a transmissão de dados em alta velocidade às redes de telefonia celular. Pretendem também harmonizar os padrões tecnológicos utilizados para a comunicação celular em todo o mundo, buscando a mesma faixa de freqüência de rádio e a mesma tecnologia de rede para a comunicação, permitindo maior interoperabilidade entre operadoras. Alguns fabricantes prometem velocidades de até 3 Mbps para cada dispositivo (cerca de 55 vezes maior que em uma conexão com um modem doméstico, de 56kpbs). A ambição do 3G já trouxe problemas e frustrações, especialmente na Europa, onde sua adoção consumiu enormes investimentos em infra-estrutura por parte das operadoras, que não correspondeu às expectativas de retorno, o que tem colocado pontos de interrogação sobre o futuro da tecnologia. Apesar dos dimensionamentos equivocados e expectativas exageradas, os benefícios propostos pela tecnologia de terceira geração geram muitas oportunidades de negócio no campo da TI. É para redes 3G que aponta o futuro da TV Digital, da voz sobre IP e da computação móvel. Será através dessa rede que grande parte das aplicações baseadas nessas tecnologias será oferecida e a partir dela, outros novos serviços. Por essa razão o desenvolvimento e a efetiva implantação dessas redes é fator de grande importância para determinar o crescimento da TI globalmente e as empresas que se prepararem para utilizar o potencial por elas oferecido serão beneficiadas. Referências Bilbiográficas BRITO, Marcela. Crise de Identidade. Revista TI, São Paulo, 2001. TI Master. 3 mai 2001. Disponível em http://www.timaster.com.br/revista/ materias/main_materia.asp?codigo=348. Acesso em jun 2004 CASADO, Santiago. História de la Matemática. Sector de Matemática, Chile. Disponível em http://www.sectormatematica.cl/historia.htm. Acesso em jul 2004 CARR, Nicholas G. IT Doesn’t Matter In: HARVARD Business Review, Harvard Business Press, 2003. Maio 2003. CLUBE Old Bits. Uma breve história da informática. São Paulo, 1995. CBO. Disponível em http://cobit.mma.com.br/materias/historia1.htm. Acesso em jul 2004. IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais. Tabela 11: Participação das classes e atividades no valor adicionado dos preços básicos – 19902002.