12 moginews.com.br Região Domingo, 9 de agosto de 2015 Especial Casal de Mogi viaja de bicicleta e percorre três países da Ásia Misturar aventura, cultura e ainda promover intercâmbio cultural: um tour de convívência e intensidade Renata Cristina José De bicicletas, carregando barracas, alimentos e em contato com a natureza, paisagens, cores e cheiros, o casal mogiano Andreza Teixeira, e seu marido Ernesto Stock, ambos de 37 anos, percorreu três países da Ásia, durante um mês e meio, conheceu costumes, gostos, comidas e afazeres de comunidades de minorias étnicas e tribos da Tailândia, Vietnã e Laos, países da península da Indochina, no sudeste asiático. Esta aventura aconteceu durante a viagem de três meses, entre janeiro e abril deste ano. O objetivo era partir de Sapa, no Vietnã, atravessar o Laos e terminar a pedalada em Chiang Mai, Tailândia, vendo manifestações artísticas características das comunidades tradicionais da região. Na viagem, conheceram a produção artesanal, tecidos, teares, confecção de seda, tingimentos naturais, arte infantil e cerâmica. Com tanta facilidade de viajar pelo mundo com comodidade, Stock, que é cineasta e fotógrafo, contou o que levou ele a mulher a fazer metade da viagem de bike. “Temos uma história, já fizemos outras viagens pedalando, no Brasil e fora, e optamos por ela novamente. Ela permite uma interação mais intensa, mais próximo de tudo, o corpo o tempo todo recebendo tudo daquele ambiente novo, o cheiro, o vento, a paisagem, além da interação com os seus moradores”. Ele disse que nos vários dias de bicicleta visitaram cerca de 15 minorias étnicas, na região montanhosa por onde passaram, com 50 comunidades diferentes. “Quando os moradores nos viam, nos convidavam para entrar, ofereciam o que comer e beber”, contou. O casal conheceu a produção de cerâmica, tintas e seda, com povos como, Red Dao, Hmong, Akha e Black Yao , que vivem de maneira totalmente sustentável. “Assim como os índios brasileiros, esses povos vivem em profunda harmonia com o meio ambiente e produzem tintas, utensílios domésticos e ferramentas, com matéria prima extraída direto da natureza, sem intermediários. Tudo o que vimos eles fazerem de perto. Uma menina de 15 anos, que é a idade em que se casam, produz à mão a seda para os seus vestidos, desde a criação do bicho-da-seda até o acabamento” Metade da viagem o casal de mogianos fez de bicicleta Sobre as dificuldades da viagem, Stock apontou apenas obstáculos de adaptação com a alimentação e comunicação. “Nada que um pouco de criatividade não resolva. O melhor é perceber como temos tantas certezas sobre nossa vida, costumes e elas podem não fazer nenhum sentido, assim como a cultura e a filosofia ocidental. Perceber que tudo pode ser totalmente diferente. Outras formas de se entender o mundo. Desconstruir nossas certezas”, avaliou. divulgação Ernesto e Andreza de bicicleta na fronteira entre o Vietnã e o Laos Ernesto Stock A educadora de artes Andreza com as mulheres Red Dao no Vietnã; viagem proporcionou muito contato humano e troca de experiências Viagem selou intercâmbio cultural Conhecer novas culturas, paisagens e se divertir, geralmente é o que procuram aqueles que embarcam em grandes viagens. Mas Andreza Teixeira e o marido Ernesto Stock fizeram mais: partiram para a Ásia em busca de expressões artísticas e encontraram, em Siem Reap, no Camboja, uma escola de artes que desafiava as condições da região. Lá iniciaram um intercâmbio cultural com alunos de artes mogianos, e crianças cambojanas. O casal, que se preparou por um semestre para realizar sua aventura de três meses pelo oriente, visitou diversos países da Ásia, incluindo o Vietnã e a Tailândia, e encontrou, no noroeste do Camboja, na pequena Siem Reap, a possibilidade de realizar um sonho: intermediar o contato de crianças de culturas diferentes, por meio de desenhos e pinturas. “Criei essa ideia há dez anos, quando fiquei por um mês em uma ilha Viagem sechou intercâmbio entre crianças de Mogi e asiáticas no sul da Bahia. Lá, percebi como as crianças tinham percepções diferentes das nossas, a partir das paisagens e culturas com a qual viviam”, contou Andreza. A partir daí, ela, que é educadora de artes e possui um ateliê em Mogi das Cruzes, resolveu incluir este objetivo em sua viagem ao Camboja. Naquele país, a escola de artes Small Art, aceitou o convite. O estabelecimento atende gratuitamente cerca de 300 crianças de 5 a 18 anos, sob o comando da professora japonesa Tomoko Kasahara, 65. E as primeiras pinturas para as crian- ças brasileiras foram feitas e entregues nas mãos do casal, com o seguinte acordo: que seriam enviados em breve, por correspondência, os desenhos e pinturas dos alunos mogianos. “A proposta é fazer com que as crianças compreendam a cultura de cada um, e isso fica mais fácil quando é um diálogo de criança para criança”, contou Andreza, que dá aulas para alunos de 3 a 15 anos. “Trouxemos as pinturas para meus alunos e é muito interessante como tudo é novo para eles. Da arquitetura às vestimentas, dos animais às co- res, tudo representa um universo novo”, compara. Agora os estudantes daqui estão prontos para se corresponderem com os cambojanos, após terminarem todas as pinturas que serão enviadas. “O desenho é totalmente livre e eles desenharam todo tipo de coisas que estão inseridas na nossa cultura, como personagens de videogames, temas de mangás, e várias outras”. Para continuar trazendo cultura a seus alunos, o mesmo intercâmbio foi estabelecido com uma professora de aquarela na Malásia, Lisa Lee e uma Ong de Bangkok, na Tailândia. “Iniciamos o projeto com os alunos do Camboja, por que a Tomoko fala inglês e tivemos melhor acesso, mas o intercâmbio cultural com os cambojanos termina neste mês de agosto, e iniciaremos com alunos da Malásia e depois da Tailândia”, concluiu. (RCJ)