MARCOS KOITI NISHIOKA “Utilização de Ferramentas de Análise Financeira nas Micro e Pequenas Empresas da Região Sul de Santa Catarina como apoio a Tomada de Decisão” Criciúma, Maio de 2004 2 MARCOS KOITI NISHIOKA “Utilização das Ferramentas de Análise Financeira nas Micro e Pequenas Empresas da Região Sul de Santa Catarina como apoio a Tomada de Decisão” Monografia apresentada a Diretoria de PósGraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Gerência Financeira. Criciúma, Maio de 2004 3 Dedico este trabalho a minha esposa Edi Luiza e meu filho Marquinhos, meus amores, que sempre estiveram ao meu lado, proporcionando-me a paz necessária para conseguir concluí-lo... 4 AGRADECIMENTOS A minha esposa Edi e meu filho Marquinhos, pela paciência e companheirismo durante este período. A meus pais, Koya e Leiko, pela minha vida e pelo incentivo incondicional aos meus estudos. A meus amigos empresários Márcio, Giovani, Marcos, Ricardo, Sebastião, João, Célio, Rainor, Juarez, Jacira, Aldori, Suzy, Pedro (in memorian), Pedrinho, Albertina, Vilmar, Jane, Antônio, Vera, Fábio, Fabrício, Cláudio, Guilherme, Maria Cláudia, Rangel, Laura, Wolmar, Eliege, Paulo, Edivane, Nivaldo, que me proporcionaram o convívio, as informações e a experiência necessária para o meu crescimento profissional. Aos colaboradores Gilmara, Gislaine, Fernando, Moacir e Márcia que muito auxiliaram nas informações de suas empresas. A todas as empresas visitadas, que tiveram a gentileza de participar da pesquisa, possibilitando um retrato fiel do perfil da região Sul de Santa Catarina. Ao SEBRAE/SC, através das agências de atendimento de Criciúma, Araranguá e Tubarão que muito contribuíram para a conclusão da pesquisa. Aos coordenadores Isabel e Euclides, que tiveram grande competência nas ações durante o curso. Aos colegas de curso, pela companhia e pela experiência trocada durante esta jornada. Aos amigos, que direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão desta caminhada. A Deus... O meu OBRIGADO!!! 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9 1.1. Definição do Trabalho .................................................................................... 10 1.2. Objetivos ........................................................................................................ 10 1.2.1. Objetivo Geral ................................................................................................. 10 1.2.2. Objetivos Específicos...................................................................................... 11 1.3. Justificativa..................................................................................................... 12 1.4. Metodologia.................................................................................................... 16 1.4.1. Métodos Predominantes ................................................................................. 17 1.4.2. Amostragem.................................................................................................... 17 1.4.3. Plano de Coleta e Análise dos Dados............................................................. 17 1.5. Estrutura do Trabalho..................................................................................... 18 1.6. Limitações ...................................................................................................... 19 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... 20 2.1. Pequenas Empresas ...................................................................................... 21 2.2. Controladoria como Instrumento de Gestão Financeira ................................. 25 2.3. Planejamento Financeiro................................................................................ 28 2.4. Indicadores Financeiros ................................................................................. 29 2.4.1. Lucratividade................................................................................................... 29 2.4.2. Rentabilidade .................................................................................................. 29 2.4.3. Controle de Caixa ........................................................................................... 30 2.4.4. Liquidez Corrente............................................................................................ 30 2.4.5. Capital de Giro ................................................................................................ 31 2.4.6. Necessidade de Capital de Giro (NCG) .......................................................... 32 2.4.7. Demonstrativo de Apuração de Resultados.................................................... 33 2.4.8. Estrutura Patrimonial....................................................................................... 35 6 3. LEVANTAMENTO, ANÁLISE E CONCLUSÕES DA PESQUISA .................. 37 4. PROPOSTA DE FERRAMENTA DE AUXÍLIO NO CONTROLE DOS RECURSOS FINANCEIROS .................................................................................... 51 5. RESULTADOS OBTIDOS COM A FERRAMENTA........................................ 53 5.1. Empresa de Confecções ................................................................................ 53 5.2. Comércio de Combustíveis, Mercado e Loja de Confecções ......................... 55 5.3. Empresa Metalúrgica...................................................................................... 58 5.4. Empresa Moveleira ........................................................................................ 60 5.5. Comércio e Prestação de Serviços de Telecomunicações............................. 62 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES......................................................... 65 7. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 69 8. ANEXOS ........................................................................................................ 70 7 RESUMO Este trabalho contempla o levantamento de informações realizado nos últimos dois anos em trabalhos de consultoria e assessoria empresarial em micro e pequenas empresas da região sul do estado de Santa Catarina. Constatou-se com este a dificuldade com que os empresários de micro e pequenas empresas possuem para controlar os recursos financeiros disponíveis, bem como de planejar adequadamente a utilização destes para minimizar os impactos negativos de tomadas de recursos de terceiros para o equilíbrio financeiro da empresa. Desta forma, constatou-se então a necessidade de criação de uma ferramenta de auxílio nos controles financeiros ao empresariado, facilitando desta forma a administração de seus negócios e conseqüentes tomadas de decisão. O trabalho contempla ainda a criação deste instrumento de auxílio, condicionando sua utilização ao manuseio de computador, mais especificamente do aplicativo Microsoft EXCEL, versão 5.0 ou versões mais avançadas. A forma de pesquisa utilizada na confecção do trabalho foi interdisciplinar, tentando focar a administração financeira sob diversos aspectos, desde sua utilização como controle para diminuição dos desperdícios, a fonte de informações para tomadas de decisão, gerando conhecimentos para a aplicação prática no cotidiano das mesmas, através de uma ferramenta de auxílio nos controles financeiros essenciais, direcionando o mesmo à solução de problemas específicos como controle de caixa, controle de contas a pagar e a receber e confecção do fluxo de caixa. 8 Finalmente, este levantamento constata uma triste realidade da economia brasileira, ou seja, a fragilidade da administração financeira nas micro e pequenas empresas, refletida nas estatísticas levantadas pelo SEBRAE/SC, onde há uma grande taxa de mortalidade das empresas em seus três primeiros anos de existência. 9 1. INTRODUÇÃO Este estudo teve origem nas experiências vivenciadas na prestação de serviços de consultoria e assessoria empresarial realizadas pela empresa MK Consultoria e Treinamento Ltda, entre o período de Setembro de 2002 e Março de 2004 em micro e pequenas empresas da região sul do estado de Santa Catarina, mais precisamente nas regiões onde se situam as cidades de Criciúma, Araranguá e Tubarão. Neste período verificou-se a precariedade de informações com que os empresários destas empresas trabalham, aumentando os riscos de insucesso nas tomadas de decisão, baseando-se muitas vezes em sua experiência cotidiana, ao invés de adotar critérios analíticos, obtendo informações estratégicas e tomando as decisões baseadas nestes critérios. Constatou-se então a necessidade de se criar uma ferramenta de auxílio para estas empresas de pequeno porte, utilizando-a como fonte de informação, auxiliando-as nas tomadas de decisão. Utilizou-se como base de dados para este trabalho 51 empresas de pequeno porte assistidas pela empresa de consultoria, numa região de aproximadamente 10.000 empresas de pequeno porte. Nestas foi apresentado um questionário com 13 perguntas, cujo conteúdo pretende determinar o perfil das empresas de pequeno porte da região, identificando as características da administração financeira das mesmas e tentando determinar, a partir destas características, as principais causas de falência e de fechamento destas empresas. Concluindo, poder-se-á sugerir alternativas para diminuir a taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas com a adoção de medidas no intuito de melhorar seus controles e, consequentemente, suas tomadas de decisão. 10 1.1. Definição do Trabalho 1.2. Objetivos A pesquisa teve como objetivos identificar o perfil das micro e pequenas empresas da região Sul do estado de Santa Catarina, trazendo informações básicas sobre os controles financeiros das micro e pequenas empresas e procurando formas de auxiliá-las na minimização de seus problemas de administração financeira, utilizando-se de uma ferramenta de controle financeiro, integrando os processos rotineiros (controle de caixa e de bancos), com os processos de planejamento financeiro (contas a pagar, contas a receber e fluxo de caixa). 1.2.1. Objetivo Geral A finalidade principal desta pesquisa foi desenvolver e apresentar uma proposta em forma de planilha eletrônica no Microsoft Excel, para auxiliar os empresários de micro e pequenas empresas a utilizarem as ferramentas de análise financeira em seu cotidiano, conscientizando-os da importância da utilização destas ferramentas nas tomadas de decisão, contribuindo desta forma para o aumento de sua competitividade, e consequentemente, de seu sucesso em um mercado cada vez mais competitivo e exigente. 11 1.2.2. Objetivos Específicos a) Demonstrar a importância da utilização das ferramentas de análise financeira nas tomadas de decisão para as micro e pequenas empresas da região sul de Santa Catarina, tendo possibilidade de identificar os seus pontos críticos com antecedência; b) Conscientizar os empresários das vantagens que os mesmos irão obter com a utilização das ferramentas na sua rotina diária de trabalho, possibilitando tomadas de decisão com mais subsídios e diminuindo desta forma os riscos de decisões equivocadas; c) Desenvolver uma planilha eletrônica no software Microsoft Excel para auxiliar as micro e pequenas empresas no controle e acesso a informações estratégicas, melhorando assim a qualidade e a velocidade do fluxo de informações existentes na empresa; d) Capacitar os gestores das micro e pequenas empresas para a utilização da planilha eletrônica; e) Apresentar os resultados obtidos em empresas da região sul de Santa Catarina, assistidas durante o período de assessoria técnica na área administrativo-financeira, após a implementação dos controles financeiros e dos relatórios gerenciais, além de outras micro e pequenas empresas que foram assistidas durante o processo de desenvolvimento da pesquisa; 12 1.3. Justificativa A grande relevância das micro e pequenas empresas reside no fato das mesmas possuírem um importante papel sócio-econômico no país. As micro e pequenas empresas não somente geram riquezas, mas pode-se evidenciar como mais importante o seu papel na geração de empregos e o seu desempenho nas cadeias produtivas, em forma de fornecedores terceirizados ou quarteirizados de grandes empreendimentos produtores de bens intermediários e finais, ou mesmo como fornecedores de pequenos lotes de produção em nichos de mercado, ou em mercados especializados. Em pesquisas realizadas pelo SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (2000), demonstrou que estas empresas representam 95% das empresas industriais, 98% das comerciais e 99% das prestadoras de serviços. Destaca-se ainda que, segundo ALVIM (1998): As empresas de pequeno porte no Brasil são responsáveis por cerca de 4 milhões de empresas constituídas, 60% da oferta total de empregos formais, 42% dos salários pagos, 21% da participação no PIB (Produto Interno Bruto), 96,3% do número de estabelecimentos. Um dos grandes problemas enfrentados pela economia mundial é a escassez de trabalho. Sabemos que as micro e pequenas empresas são responsáveis pela maior parte do empregos. Segundo CUNHA (2002:23): De 1995 a 2000 as empresas formais no Brasil com mais de 100 funcionários criaram apenas 88.100 empregos. No mesmo período, as empresas de até 100 funcionários, consideradas pequenas, criaram 1,9 milhão de empregos. Traduzindo em percentuais, o crescimento do emprego nas pequenas empresas foi de 19,2%. Nas médias e grandes, 0,6%. Neste ritmo, estas precisariam de pelo menos 100 anos para criar o mesmo número de empregos gerados nos últimos cinco anos pelas pequenas. 13 Pode-se dizer ainda que, embora as micro e pequenas empresas tenham significativa importância na economia mundial, no Brasil estas empresas ainda carecem de apoio técnico gerencial, contando apenas com o apoio de órgãos como SEBRAE, SENAI e SENAC. Segundo MORAES (apud DEMORI, 1991:36): A formação e o desenvolvimento destas empresas proporcionam oportunidades para a dinamização da economia, descentralizando o capital, criando novos empregos e regionalizando a produção industrial. Poder-se-á identificar a importância desta pesquisa através de um levantamento elaborado pelo SEBRAE (1999), sobre a taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas no Brasil entre os anos de 1997 e 1999: Tabela 01: Taxa de Mortalidade das Micro e Pequenas Empresas Taxa de Mortalidade das MPE’s criadas no início de 1997 ANO SC Brasil 1997 49% 61% 1998 58% 67% 1999 63% 73% Fonte: SEBRAE/SC Verificou-se neste levantamento que, das empresas de pequeno porte que foram abertas no estado de Santa Catarina no início de 1997, 49% destas fecharam antes do final do mesmo ano. Ao final de 1998, o número acumulado de empresas que abriram no início de 1997 e fecharam antes do final de 1998 já aumentara para 58% e, ao fim de 1999, o número já alcançara expressivos 63%. Com relação à média brasileira, que é de 61%, 67% e 73%, respectivamente, as taxas de mortalidade do estado de Santa Catarina são inferiores, porém ainda muito 14 preocupantes e retratam uma triste realidade, ou seja, há grandes problemas de gestão nas micro e pequenas empresas. Pode-se então identificar algumas causas que justifiquem o problema: • Falta de planejamento financeiro, causando como conseqüência a falta de capital de giro, necessitando desta forma tomada de recursos de terceiros; • Desequilíbrio entre os prazos de pagamento e de recebimento, ou seja, prazos de pagamento menores que os prazos de recebimento, causando um aumento demasiado na necessidade de capital de giro, trazendo necessidade da busca de recursos de terceiros; • Tomada de recursos financeiros sem planejamento, buscando-se recursos pelos meios menos burocráticos, em função da urgência dos recursos, porém mais onerosos, diminuindo desta forma a lucratividade da empresa; • Tributos elevados, diminuindo a competitividade de produtos e serviços frente à concorrência externa, que possuem produção em maior escala e preços bastante competitivos; • Falta de capacitação (técnica, administrativa, empreendedora, estratégica e de liderança), dos empreendedores nas respectivas áreas de atuação; Para CAVALCANTI, FARAH e MELLO (1981:14): É de vital importância oferecer conhecimentos gerenciais para o pequeno e médio empresário, sobretudo, quando se considera que, nestas organizações, muitas vezes, o fator se encontra confundido com a direção dos negócios. 15 Ao se efetuar uma comparação entre as pequenas empresas e as grandes corporações, verifica-se que as pequenas têm menos capital humano, menor tecnologia e uma gestão na maioria das vezes familiar. Segundo MORAES (apud ALTRÃO, 2001:33): Em uma pequena empresa quase sempre os problemas recaem sobre os sócios ou proprietários, e a eles cabe buscar soluções para problemas de diversas áreas da empresa, tais como: pessoal, materiais, manutenção, finanças, propaganda. Isso acontece pelo fato de numa pequena empresa não haver departamentos distintos para cada área de atuação, e isso por si só já é um problema, pois o sócio ou proprietário não é especialista em todas as áreas, e acaba buscando as soluções à sua maneira que nem sempre são as mais adequadas; isso porque para uma pequena empresa é inviável, e, às vezes, até impossível ter departamentos específicos para cada uma destas áreas. Pode-se acrescentar ainda que no período de atuação da empresa MK Consultoria e Treinamento Ltda, assistindo micro e pequenas empresas em parceria com o SEBRAE/SC na área administrativo financeira, nenhuma das empresas assistidas (cerca de 100), possuía todas as ferramentas de controle e análise financeira implementadas. Em sua maioria, as empresas possuem somente os controles financeiros básicos (Contas a Pagar, Contas a Receber e Movimento de Caixa). Outros controles básicos como o controle de estoques e o fluxo de caixa não existiam, verificando os resultados de suas empresas somente pela situação momentânea do caixa da empresa. Assim, a solicitação por uma profissional da área financeira (consultor), para “resolver” seus problemas financeiros foi inevitável. Com a complementação dos controles financeiros básicos, somados a inclusão de outros controles na empresa (Administração de Custos, Demonstrativo de Resultados e Balancete de Verificação), constata-se uma significativa mudança de posicionamento dos empresários, compreendendo desta forma a importância dos controles recém implementados nas suas empresas. 16 Assim, pretende-se conscientizar os empresários das micro e pequenas empresas da região sul do estado de Santa Catarina, com este trabalho, da importância em se possuir controles financeiros eficazes e de se utilizar as ferramentas de análise financeira nas suas decisões. Que a utilização de uma ou outra ferramenta de controle não é suficiente para avaliar corretamente a empresa, sendo necessária à utilização de conjunto de ferramentas para que a análise traga subsídios consistentes para a correta tomada de decisão. 1.4. Metodologia A metodologia indica o caminho a ser seguido para se atingir o objetivo proposto. Segundo MORAES apud ANDRADE (1997:18): O método é o caminho que se percorre na busca do conhecimento. Etimologicamente, método é uma palavra que vem do grego methodos (meta + hodós), que significa: caminho para se chegar a um fim. Levando-se em consideração as características e os propósitos desta pesquisa, adotou-se o método de pesquisa-ação de caráter explicativo, utilizando-se como fonte de coleta de dados, a observação participante, entrevistas e questionário. Estima-se que a amostragem da pesquisa (51 empresas de um total de cerca de 10.000), seja suficiente para construir o perfil da situação da administração das micro e pequenas empresas da região sul do estado de Santa Catarina. 17 1.4.1. Métodos Predominantes Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, optou-se, nesta pesquisa, pelo Método de Pesquisa Ação, pois a mesma é concebida e realizada em estreita associação com a resolução de um problema coletivo. Tanto pesquisadores como participantes representativos do problema estão envolvidos de modo participativo, ou seja, todos estão envolvidos com a pesquisa, atuando para a solução do problema. Com relação aos objetivos da pesquisa, a mesma é de caráter explicativo, pois se tem a intenção de identificar as características da administração financeira das micro e pequenas empresas da região sul do estado de Santa Catarina, procurando as causas das altas taxas de mortalidade das micro e pequenas empresas. 1.4.2. Amostragem Devido ao tipo de pesquisa, ou seja, pesquisa-ação, e pela assistência a empresas situadas na região em questão, optou-se por escolher a amostra intencionalmente, ou seja, a amostra pré-determinada para a pesquisa, utilizando-se desta forma as empresas assistidas pela MK Consultoria e Treinamento Ltda. 1.4.3. Plano de Coleta e Análise dos Dados Na coleta de dados foram abordadas as técnicas de: a) Observação participante, onde através de várias visitas, identificou-se as causas dos problemas financeiros das empresas assistidas; 18 b) Entrevistas, onde foram entrevistados os colaboradores responsáveis pela área financeira das empresas, muitos destes os próprios proprietários; c) Questionário, coletando as informações iniciais das empresas sobre as informações disponíveis para as tomadas de decisão; 1.5. Estrutura do Trabalho O texto está organizado em seis capítulos a serem comentados a seguir: No primeiro capítulo, faz-se a definição do trabalho, apresentando-se a contextualização, o tema e a sua problemática, os objetivos do trabalho, as justificativas pela escolha do tema, a estrutura do trabalho, sua metodologia e suas limitações; O segundo capítulo aborda a literatura sobre as características das pequenas empresas, administração financeira, planejamento financeiro e indicadores financeiros; O terceiro capítulo aborda o levantamento, os resultados obtidos na pesquisa efetuada em 51 empresas da região sul do estado de Santa Catarina e algumas conclusões sobre os resultados obtidos; O quarto capítulo aborda a ferramenta proposta para auxiliar as micro e pequenas empresas nos controles financeiros; O quinto capítulo aborda os resultados obtidos em algumas empresas após a utilização da ferramenta de auxílio nos controles financeiros; O sexto capítulo trata das considerações finais e recomendações; 19 1.6. Limitações As limitações encontradas neste trabalho foram: o Embora haja grande variedade de setores entrevistados e assistidos, a amostragem não conseguiu atingir todos os segmentos da economia local; o Todas as empresas que foram entrevistadas e que foram assistidas pela empresa MK Consultoria e Treinamento Ltda, possuíam algum tipo de problema administrativo/financeiro. Assim excluiu-se uma minoria de micro e pequenas empresa bem geridas, que são exceção nesta categoria, das análises deste trabalho; o As análises dos resultados obtidos nas empresas após a implementação da ferramenta de auxílio foram baseados em apenas cinco empresas, não havendo disponibilidade de tempo para a conclusão nas outras empresas entrevistadas. Anteriormente, foi instalado o arquivo em 15 das 51 empresas entrevistadas; o A conclusão nas cinco empresas foi realizada em um espaço estreito de tempo, em termos de análises financeiras (cerca de quatro meses). Há entre os casos relatados apenas uma empresa com mais de seis meses de implementação do arquivo. Melhores resultados são esperados nas análises com um prazo maior de comparação (aproximadamente 01 ano); o Embora tenha sido desenvolvida a ferramenta de auxílio nos controles financeiros, há a necessidade de conhecimento profundo do Microsoft Excel, havendo grandes dificuldades para os usuários que não tem familiaridade com o aplicativo; 20 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Muito se tem falado nos últimos anos em controlar despesas e reduzir custos. Com a abertura do mercado para a iniciativa externa no início dos anos 90, grandes corporações internacionais instalaram-se no país, aumentando a competição entre as empresas e contribuindo para o aumento nos índices de mortalidade das micro e pequenas empresas no Brasil. Com o advento do Plano Real em 1994, a inflação que atingia níveis absurdos de dois dígitos mensais, reduziu-se a níveis de menos de um dígito anual. Consequentemente, muitas deficiências e ineficiências das empresas, que anteriormente eram “escondidas” pela simples elevação de preços de seus produtos e serviços, começaram a ter grande dificuldade em repassar os aumentos aos mesmos, pois os consumidores começaram a ter maior noção do “valor do dinheiro” e puderam assim efetuar comparações entre produtos e serviços concorrentes. Assim, houve a necessidade das empresas em começar a tratar seus custos com maior atenção, procurando diminuir os desperdícios e melhorando suas ineficiências. Em face deste ambiente globalizado, a sobrevivência das organizações torna-se cada dia mais difícil, sendo disputado cada milímetro de espaço no mercado. Desta forma, a administração financeira eficaz em uma empresa tornou-se de vital importância no seu sucesso ou no seu fracasso, quer estas sejam pequenas, médias ou grandes corporações. Podemos definir a Administração Financeira de uma empresa conforme TUNG (1993:31): 21 Pode-se definir a administração financeira como sendo a responsabilidade por obter e utilizar eficientemente os recursos necessários ao bom funcionamento da empresa. 2.1. Pequenas Empresas Muitos são os fatores que caracterizam as micro e pequenas empresas. A sua classificação em micro e pequenas empresas não é tão simples. Segundo MATIAS e JÚNIOR (2001:01): Podem ser utilizados vários critérios. Entidades governamentais, bancos e entidades de classe usam critérios diferentes. Alguns dos critérios mais utilizados para classificar as empresas de pequeno porte: número de empregados, faturamento, investimento (ativo permanente), capital registrado e quantidade produzida. A primeira está diretamente relacionada à questão fiscal e legal; já a segunda é, em termos gerais, a mais usada, inclusive pelo SEBRAE e por outras instituições de amparo a pequena empresa. A Tabela 02 apresenta as classificações das empresas pelo número de empregados: Tabela 02: Classificação de Porte por Número de Empregados Porte da Empresa Indústria Comércio e Serviços Micro Até 19 empregados Até 09 empregados Pequeno Porte De 20 a 99 empregados De 10 a 49 empregados Média De 100 a 499 empregados De 50 a 99 empregados Grande Maior que 500 empregados Maior que 100 empregados Fonte: SEBRAE/SP, 1997 Verifica-se que na indústria, as empresas de pequeno porte são as que possuem menos de 100 empregados em seu quadro de colaboradores. Já no comércio e na prestação de serviços, este número diminui para menos de 50 colaboradores para serem enquadradas empresas de pequeno porte. Este é o foco de nossa pesquisa, ou seja, micro e pequenas empresas. 22 A Tabela 03 traz outra forma de classificação para o porte das empresas. Esta faz a classificação de acordo com seu faturamento: Tabela 03: Classificação de Porte por Faturamento Porte da Empresa Faturamento Anual Micro Até R$ 120.000,00 Pequeno Porte Acima de R$ 120.000,00 até R$ 1.200.000,00 Média e Grande Acima de R$ 1.200.000,00 Fonte: SEBRAE/SC, 2003 Esta classificação está de acordo com a lei nº 9.317/96 que institui a Lei do Simples, ou seja, das empresas que poderão se beneficiar de pagamento simplificado de impostos. Para tanto, devem se enquadrar na faixa de faturamento descrita na Tabela 03. Caso a empresa fature acima de R$ 1.200.000,00 anuais, a mesma fica impossibilitada de usufruir da Lei do Simples. As pequenas empresas (micro e pequeno porte) caracterizam-se pela forma de administrar e pelas deficiências de recursos, tanto financeiros, técnicos, quanto estratégicos. Segundo MORAES apud ALTRÃO (2002): A administração normalmente é centralizada na pessoa do proprietário, que tem um lado positivo, torna-se ágil o processo, com decisões rápidas e desburocratizadas. Mas tem o lado negativo, que é a sobrecarga, que pode trazer o esgotamento tanto físico quanto mental, o que pode causar erros na solução dos problemas. A afirmação mostra uma realidade: embora torne o processo mais ágil e dinâmico, sobrecarrega o gestor da empresa, que centraliza todas as tomadas de decisão da empresa em todos os níveis, ou seja, desde o nível operacional até o nível estratégico. Assim, há carência de tempo para traçar adequadamente o planejamento estratégico da empresa, para administrar os recursos financeiros, para 23 administrar a produção. Comparativamente, em uma grande organização, há pessoas específicas para cada uma das atividades, tendo assim vantagem com relação às micro e pequenas que centralizam todas as atividades em uma única pessoa. Segundo MATIAS e JÚNIOR (2001:03): O pequeno empresário geralmente é um empreendedor. O empreendedor tem uma visão do futuro e faz de tudo para transformar o presente em um futuro de sucesso. O empreendedor, na maioria dos casos, é uma pessoa que consegue antecipar acontecimentos em suas empresas, procurando planejar de forma adequada sua empresa para que os acontecimentos gerem situações favoráveis ao seu negócio, e monitorando estes acontecimentos para efetuar as correções necessárias para que os efeitos negativos sejam minimizados. MATIAS e JÚNIOR identificam os pontos fortes e fracos das micro e pequenas empresas. Pontos fortes: Flexibilidade, obtida através de sua estrutura menor; Pouca Burocracia e Administrativo reduzido, trazendo agilidade em suas decisões, podendo alterar situações que poderiam ser desastrosas para a empresa em prazo muito inferior as grandes corporações; Maior integração entre pequenos empresários, empregados, clientes, fornecedores e comunidade (cadeia produtiva), criando um ambiente colaborativo maior que os encontrados nas grandes corporações; Atendimento diferenciado aos clientes devido a sua maior integração, administrando suas necessidades; 24 Pontos fracos: • Dificuldade na obtenção de recursos financeiros (crédito, financiamentos e investimentos). Os investidores têm pouco interesse em empresas de menor porte devido ao longo prazo para o retorno dos investimentos; • Falta de resistência a momentos de instabilidade e dificuldade da empresa devido ao capital de giro limitado; • Visão de curto prazo da maioria dos empresários de pequenas empresas; • Falta de profissionais bem qualificados nas pequenas empresas; • Inexistência de políticas de segurança, incentivos, benefícios, treinamento e desenvolvimento dos colaboradores, visando sua motivação e satisfação; • Burocracias legais; • Ter de se sujeitar às imposições de preços de grandes fornecedores e/ou grandes clientes, limitando-se assim as negociações de valores e de margens; • Concorrência das grandes corporações; • A pequena empresa é muito sensível a desentendimentos entre sócios e a eventos pessoais como doenças, morte; • Pouca organização política, não defendendo os interesses das pequenas empresas no que tange às decisões relacionadas ao governo; • Desinformação sobre os acontecimentos econômicos, sociais e políticos; • Falta de disciplina e de organização; 25 As pequenas empresas, por questões de recursos, normalmente, não têm condições de ter em suas linhas de produção, a mesma tecnologia em equipamentos e o mesmo nível de planejamento que as médias e grandes empresas, dificultando assim a obtenção de produtos de qualidade exigidos pelo mercado com a produtividade solicitada. A maioria das pequenas empresas têm pouca ou nenhuma tolerância com relação aos desperdícios. Assim, o controle de custos e despesas é considerado um ponto crítico para as micro e pequenas empresas. Para MORAES apud RESNIK:“A administração de uma pequena empresa é a arte do essencial. É tirar o máximo do mínimo”. 2.2. Controladoria como Instrumento de Gestão Financeira Com o aumento da concorrência entre as empresas e o aumento da complexidade das organizações empresariais, a função de controle passa a ser de essencial importância para o desenvolvimento e o sucesso das organizações. Segundo PIAI apud KANITZ (1976): Mas a controladoria não é apenas administrar o sistema contábil da empresa. Por isso os conhecimentos de contabilidade ou finanças não são mais suficientes para o desempenho da função de controladoria. Atualmente o controlador se cerca de um verdadeiro batalhão de administradores organizacionais, psicólogos industriais, analistas de sistemas, especialistas em computação, estatísticos e matemáticos que têm a tarefa de analisar e dirigir, à luz de cada um dos seus campos de conhecimento, um imenso volume de informações necessárias ao cumprimento da função de controladoria. Estes profissionais que assessoram o controlador não se limitam às informações quantitativas. 26 Para se conseguir obter controles eficazes em uma empresa, é necessária a implementação de uma cultura organizacional que conscientize os colaboradores da importância de se efetuarem os lançamentos corretamente nos controles da empresa, quer estes sejam controles contábeis, gerenciais, organizacionais, motivacionais, etc. Segundo TUNG (1993:34): A filosofia e a prática da administração sofreram mudanças profundas, tanto científicas como éticas, já que a cada dia a estrutura econômica se torna mais complexa. O administrador deve ser inteligente, capacitado e, mais que tudo, deixar-se impulsionar por sua responsabilidade perante a sociedade. Além das qualidades de liderança, ele precisa possuir conhecimentos técnicos adequados. A tarefa da controladoria requer a aplicação de princípios sadios que abrangem todas as atividades empresariais, desde o planejamento inicial até a obtenção do resultado final. Por planejamento, entende-se que o controller deve medir as possibilidades de sua empresa perante às realidades externas, para fixar objetivos, estabelecer políticas básicas, elaborar o organograma com responsabilidades definidas para cada cargo dentro da organização, estabelecer padrões de controle, desenvolver métodos eficientes de comunicação e manter um sistema adequado de relatórios. Neste sentido, a controladoria deve ter a liberdade necessária para o acompanhamento de todos os processos realizados, sendo independente hierarquicamente em relação às demais áreas da organização. Sua atuação não se restringe somente ao acompanhamento financeiro, mas deve abranger todos os aspectos relacionados aos objetivos da empresa, integrando as informações ligadas aos aspectos internos da empresa e também às informações externas. A controladoria deve assim auxiliar o processo decisório da empresa. PIAI apud RICCIO (1993) abordam com clareza o escopo de atuação da controladoria: 27 Entende-se, portanto, que para exercer de maneira correta sua função, monitorando o sistema de mediação da empresa, a Controladoria deve dispor dos seguintes enfoques de responsabilidade: • Contabilidade Financeira – onde buscará o custo do produto para fins de apuração de estoques e todos os elementos do sistema contábil para fins de suporte externo; • Contabilidade Gerencial – onde buscará o controle das decisões e de seus impactos na empresa para fins de gestão de negócios; • Contabilidade Estratégica – onde buscará o exercício da estratégia competitiva através da gestão e mensuração dos custos das atividades de produção e administração, para apoiar sinergicamente às funções que compõem a empresa, estruturada na gestão estratégica global. A Controladoria desta forma deve analisar todos os aspectos da empresa: o financeiro, que verifica os custos dos produtos da empresa, apurando os valores agregados nos estoques existentes na empresa, determinando desta forma os valores a serem disponibilizados; o gerencial, verificando a antecipando os impactos referentes às decisões, buscando formas de maximizar os lucros e minimizar os impactos negativos; estratégico, onde buscará sempre a melhoria dos processos e redução de custos. TUNG (1993:33) ainda escreve: Por motivos óbvios, as pequenas empresas não apresentam divisão de trabalho nem condição para criar controladoria. A empresa pode ser dirigida e controlada pela mesma pessoa. A produção e a comercialização são submetidas às decisões de um só gerente. Os problemas financeiros são por vezes resolvidos pelo próprio dono, que também dirige a seleção do pessoal e os assuntos jurídicos. Já as empresas de médio ou grande porte precisam dividir tais tarefas em áreas distintas, como as que acabamos de mencionar. No contexto da administração financeira, a Controladoria funciona como órgão de observação, que planeja e pesquisa, procurando sempre mostrar à cúpula os pontos de estrangulamento atuais ou futuros capazes de colocar a empresa em perigo ou de reduzir a rentabilidade. Independentemente de se criar ou não a controladoria nas pequenas empresas, deve-se ter em mente que é essencial que se tenham as informações necessárias para a tomada de decisões. Neste caso, as informações sobre todos os departamentos da empresa devem ser obtidas de forma a auxiliar o gestor da empresa na tomada de decisões. 28 2.3. Planejamento Financeiro Como podemos identificar, o objetivo fundamental em qualquer empresa é conseguir o maior lucro possível, compatível com o bem estar da coletividade e com o crescimento sadio das suas atividades. Desta forma, deve-se utilizar todos os meios e técnicas disponíveis para se conseguir melhorar o desempenho da empresa. O planejamento financeiro é um dos principais instrumentos para esta melhoria, pois serve de base para analisar o comportamento futuro da empresa. Segundo TUNG (1993:116): Em decorrência do maior número de produtos, acirra-se a concorrência enquanto as fontes de recursos multiplicam-se mas ficam mais onerosas. Em conseqüência, a empresa desprovida de um sistema adequado de planejamento e controle acaba em situação desvantajosa, por vezes fatal. Naturalmente. Mecanismo algum de trabalho, por mais eficiente que seja, pod substituir a capacidade ou o talento do administrador, mas dadas as limitações naturais do ser humano, para atingir suas metas, é para ele indispensável a técnica do planejamento e do controle financeiro. Podem-se citar algumas características do planejamento financeiro: • Um plano financeiro a longo ou a curto prazo serve de guia para o comportamento da empresa, projetando as condições atuais para um futuro incerto, devidamente ajustadas a novas condições; • Flexibilidade quando da aplicação, sofrendo mudanças de acordo com as circunstâncias em que está se situando a empresa; • Há a participação direta dos responsáveis pela empresa; • Proporciona disciplina nas operações; • Identifica e distingue o necessário e o supérfluo; • Cria na empresa o senso de responsabilidade quanto ao cumprimento dos objetivos estabelecidos; 29 2.4. Indicadores Financeiros 2.4.1. Lucratividade Pode-se definir a Lucratividade como sendo a relação entre o Lucro apurado no período, ou seja, o restante de recursos existentes após a diminuição dos gastos do período de seu faturamento, e o total de sua receita líquida. Ou seja, Lucratividade = Lucro Líquido Faturamento Líquido Com este indicador financeiro, é possível quantificar o quão interessante o negócio é, ou seja, qual é a “sobra” de recursos após o pagamento de todas as obrigações financeiras da empresa. 2.4.2. Rentabilidade Define-se Rentabilidade como sendo a relação entre o Lucro Líquido do Período e o Capital Investido no negócio. Ou seja, Rentabilidade = Lucro Líquido Capital Investido Com este indicador financeiro verifica-se a viabilidade econômica do negócio, ou seja, verifica-se sua atratividade financeira. Quanto maior for a 30 rentabilidade do negócio, maior será sua atratividade financeira, ou seja, maior será o retorno sobre os investimentos. 2.4.3. Controle de Caixa O Controle de Caixa é um instrumento essencial para o correto controle dos recursos financeiros na empresa. Deste serão retiradas as informações necessárias para a elaboração do Fluxo de Caixa, ou seja, das perspectivas futuras de pagamentos e recebimentos, bem como de determinar quais são os recursos financeiros disponíveis no momento. Segundo TANAKA (2003: 19): A responsabilidade do controle de caixa é processar a movimentação diária de entradas e saídas de recursos financeiros na empresa, através do recebimento de vendas à vista, do recebimento de vendas a prazo, da cobrança de juros, ou através de desencaixe relativo ao pagamento de fornecedores, de salários, de obrigações fiscais, etc. Todas essas atividades devem ser processadas através de numerários à vista. 2.4.4. Liquidez Corrente Define-se Liquidez como sendo a relação entre o Ativo Circulante, ou seja, os recursos financeiros de curto prazo aos quais a empresa tem direitos (caixa, bancos, aplicações de curto prazo, estoques e Contas a Receber), e o Passivo Circulante, ou seja, as obrigações financeiras de curto prazo que a empresa possui (contas a pagar, empréstimos e financiamentos de curto prazo). Ou seja, Liquidez Corrente = Ativo Circulante Passivo Circulante 31 Quanto maior for o Índice de Liquidez Corrente da empresa, melhor será sua saúde financeira. Em outras palavras, quanto maior for o Índice de Liquidez Corrente da empresa, maior será a disponibilidade de recursos para o pagamento de suas obrigações. Assim, para que a empresa não tenha necessidade de tomada de recursos financeiros de terceiros, o Índice de Liquidez Corrente Mínimo que a empresa deverá possuir é 1. Ou seja, para cada valor monetário devido, a empresa possui outro valor monetário para o pagamento. Quanto maior for este índice, melhor será a situação da empresa. Por exemplo, se o índice for 3, para cada valor monetário devido, a empresa tem 3 valores monetários para o pagamento. 2.4.5. Capital de Giro Define-se Capital de Giro como sendo o total de recursos disponíveis para a empresa investir, quer seja em estoques de insumos, produtos, quer seja em prazos para os clientes (aumento do contas a receber), quer seja para a diminuição de seu passivo circulante, quer seja para investimentos em imobilizados. Desta forma, pode-se determinar Capital de Giro da seguinte forma: Capital de Giro = Ativo Circulante - Passivo Circulante Quanto maior for o Capital de Giro disponível na empresa, maiores serão os recursos disponíveis para investimentos (maiores prazos para clientes, estoques, imobilizado, diminuição do contas a pagar, pagamento de dividendos aos acionistas). 32 Através da apuração do Capital de Giro é possível obter, rapidamente, as origens e aplicações dos recursos de curtíssimo prazo aplicados na empresa e saber qual a representatividade de cada grupo de contas. Ele possibilita, ainda, a tomada de decisão no sentido de aumentar ou diminui os recursos para cada item da composição. 2.4.6. Necessidade de Capital de Giro (NCG) Define-se Necessidade de Capital de Giro como sendo o recurso necessário para operacionalizar a empresa. Sendo assim, define-se Necessidade de Capital de Giro da seguinte forma: NCG = (Estoques + Contas a Receber) – (Contas a Pagar) Onde: • Estoques • Contas a Receber valor total das vendas a prazo com diminuição dos descontos de duplicatas e inadimplência; • Contas a Pagar valor total das obrigações da empresa (Impostos, Salários & Encargos Sociais, Fornecedores, Comissões); valor financeiro dos estoques valorizados a preço de custo; Quanto maior for a Necessidade de Capital de Giro, maiores serão os recursos financeiros necessários para operacionalizar a empresa. Quando a empresa possui Necessidade de Capital de Giro maior que o seu Capital de Giro disponível, a empresa é obrigada a captar recursos financeiros de terceiros, através de empréstimos e/ou financiamentos, causando juros e 33 diminuição da sua lucratividade. Quando a empresa tem Capital de Giro maior que a Necessidade de Capital de Giro, a empresa tem o que se chama de Saldo de Tesouraria, cujo reflexo é verificado nos saldos de caixa, saldos bancários e aplicações financeiras. 2.4.7. Demonstrativo de Apuração de Resultados O Demonstrativo de Apuração de Resultados é um relatório gerencial para verificar o resultado que a empresa realizou durante determinado período. Segundo BASSANI, TANAKA e TOSIN (2003:28): É uma ferramenta que possibilita a apuração dos resultados operacionais de uma atividade, com base em avaliações de desempenho obtidas a cada período (mensal), a qual denominamos de apuração pelo Regime de Competência. O Demonstrativo de Apuração de Resultados proporciona inúmeras análises comparativas e de desempenho em diferentes períodos de atividade, verificando-se os resultados operacionais e promovendo ajustes necessários. Com este relatório é possível analisar a empresa de forma a verificar quais as contas que mais influem nos gastos da empresa. Desta forma pode-se efetuar a Análise Vertical da empresa, ou seja, analisar as contas do processo. É possível também efetuar-se a Análise Horizontal das contas. Para tanto são necessários dois períodos distintos para a comparação. Desta forma, é possível verificar quais as variações que ocorreram entre os períodos e avaliar a performance da empresa nos períodos comparados. Pode-se compor o quadro de Apuração de Resultados utilizando-se como referência a Tabela 04 abaixo: 34 Tabela 04: Demonstrativo de Apuração de Resultados Mês de Apuração Apuração de Resultados R$ % 1. Vendas Totais a. Vendas a Vista b. Vendas a Prazo c. ( - ) Impostos 2. Vendas Líquidas (a + b – c) 3. Custos Variáveis (d + e) d. Custo de Produto Vendido e. Comissões 4. Margem de Contribuição (2. – 3.) 5. Custos Fixos 6. Resultado Operacional (4. – 5.) 7. Receitas/Despesas Financeiras 8. Resultado do Período (Lucro/Prejuízo) Fonte: SEBRAE/SC, 2003 Onde: • Impostos: (ICMS para o caso de empresa com Tributação Normal); • Custo de Produto Vendido: inclui-se neste os valores referentes ao valor do item a ser vendido somado aos valores de frete de recebimento e de embalagem; • Custos Variáveis: Valores diretamente ligados a venda dos produtos; • Margem de Contribuição: Valor restante da redução dos Custos Variáveis das Vendas Líquidas; • Custos Fixos: Valores gastos mensalmente referentes à manutenção da estrutura da empresa; • Resultado Operacional: Resultado da diferença entre a margem de contribuição e os custos fixos; • Receitas Financeiras: Valores referentes a ganhos financeiros oriundos de aplicações financeiras ou de juros cobrados de clientes; • Despesas Financeiras: Valores referentes a juros pagos a terceiros; • Resultado Líquido: Resultado da soma entre o resultado operacional e as receitas financeiras, subtraindo-se os valores de despesas financeiras. Quando o resultado é positivo constitui-se no Lucro do Período, quando negativo, constituise no Prejuízo do Período; 35 Segundo BASSANI, TANAKA e TOSIN (2003:30): Esse instrumento funciona como uma bússola da atividade econômica, indicando em que direção a empresa está indo e fornecendo subsídios para se corrigir os novos trajetos (metas e resultados) ou, até mesmo, informando se o negócio é viável ou não. 2.4.8. Estrutura Patrimonial Estrutura Patrimonial é um levantamento realizado periodicamente pela empresa para determinar o seu nível de crescimento (quando a empresa tem lucro) ou de encolhimento (quando a empresa tem prejuízo). É a representação quantitativa de seus bens e direitos, bem como de suas obrigações com os sócios, acionistas e terceiros num determinado momento, da empresa. Da mesma forma que na Apuração do Demonstrativo de Resultados, na elaboração da Estrutura Patrimonial é possível efetuar-se as Análises Horizontal e Vertical. Na Análise Horizontal é possível avaliar se a empresa está crescendo ou encolhendo verificando-se se o Patrimônio Líquido da empresa aumentou ou diminuiu. Quando ocorre o aumento, a empresa está em crescimento e quando diminui, a empresa obteve prejuízo no período apurado. Na Análise Vertical pode-se avaliar onde estão sendo investidos os recursos financeiros da empresa. A partir desta informação é possível modificar as estratégias utilizadas para melhorar a lucratividade da empresa. Por exemplo, caso a empresa esteja investindo muito em estoques, poderá modificar a estratégia diminuindo os valores de estoque, passando parte dos recursos para o Contas a Receber, ou seja, aumentando os prazos para os clientes, melhorando desta forma o faturamento da empresa com os aumentos de prazo. 36 A composição do levantamento é definida da seguinte forma: PASSIVO Bancos Aplicações Estoques Empréstimos Financiamentos Salários & Encargos Comissões Impostos Contas a Receber Fornecedores Imobilizado Capital Social ( - ) Depreciação Patrimônio Líquido Ativo Permanente Ativo Circulante Caixa Passivo Circulante ATIVO Lucros/Prejuizos Acumulados Resultado Líquido Fonte: SEBRAE/SC, 2003 Na Estrutura Patrimonial, o Ativo (Bens e Direitos da empresa) deve obrigatoriamente ser igual ao Passivo (Obrigações da empresa). Segundo BASSANI, TANAKA e TOSIN (2003:30): Este instrumento é de fundamental importância na gestão econômica e financeira, pois ele sempre fornecerá uma fotografia da empresa em análises individuais ou comparativas entre diferentes períodos. Através de comparações, dará informações claras sobre a evolução da atividade empresarial, apurando se houve ou não um crescimento no período analisado. Esta ferramenta permite planejar ações para modificar as políticas de compras, vendas, aplicações de recursos, além de permitir o controle das obrigações da empresa. É uma ferramenta essencial ao Planejamento Estratégico, quer a empresa seja micro, pequena, média ou grande. 37 3. LEVANTAMENTO, ANÁLISE E CONCLUSÕES DA PESQUISA Após dois anos trabalhando na assessoria de micro e pequenas empresas e verificando sua dificuldade em controlar seus recursos financeiros, criouse o interesse crescente em auxiliá-los de alguma forma para diminuir este problema entre este segmento. Independentemente da área de atuação (indústria, comércio ou prestação de serviços), a dificuldade em se controlar os recursos e efetuar o planejamento financeiro da empresa para a melhor utilização dos recursos disponíveis foi sempre a grande dificuldade. Desta forma, decidiu-se por avaliar inicialmente os motivos pelos quais há esta dificuldade. Durante aproximadamente um ano foram entrevistadas 51 empresas dos diversos segmentos (indústria, comércio e prestação de serviços). Na tabela 05 a seguir, constam os ramos de atuação das empresas entrevistadas: Tabela 05 - Empresas Entrevistadas: Ramo e Segmento Ramo Acessórios Alimentício Automecânicas Combustíveis Confecções Constr. Civil (Acabam.) Eletro-Eletrônicos Engenharia Fotografia Metal Mecânico Molduras Móveis Plásticos Produtos Pet Saúde Telecomunicações Segmento Comércio Indústria / Comércio Comércio / Serviços Comércio Indústria / Comércio Indústria / Comércio Serviços Comércio / Serviços Comércio / Serviços Indústria / Serviços Indústria / Comércio Indústria / Comércio Indústria Comércio / Serviços Serviços Comércio / Serviços Nº Empresas (%) Total 1 9 10 2 12 2 1 1 1 3 1 2 1 1 2 2 2,0% 17,6% 19,5% 3,9% 23,5% 3,9% 2,0% 2,0% 2,0% 5,9% 2,0% 3,9% 2,0% 2,0% 3,9% 3,9% 38 Aplicou-se o questionário do Anexo I, obtendo-se os seguintes resultados: a) A primeira pergunta referia-se sobre a utilização de indicadores financeiros na empresa. As respostas foram tabuladas e o resultado foi verificado na figura 01: Figura 01 - A Empresa possui Indicadores Financeiros? 8% Sim Não 9 2% Fonte: Pesquisa Verifica-se que 92% dos entrevistados possuem algum tipo de indicador financeiro, sendo que apenas 8% não possuem qualquer indicador. Esta estatística verifica a grande preocupação existente entre os empresários nos controles financeiros da empresa, procurando efetuar os controles de acordo com suas limitações. Outros, porém, mesmo tendo esta preocupação, optam por não efetuarem os controles com receio de que “o negócio seja ruim”, ou que “se está sobrando dinheiro, está bom”. b) A segunda pergunta se refere aos Indicadores Financeiros utilizados pelas empresas entrevistadas. Os resultados estão mostrados na Figura 02: 39 Figura 02 - Indicadores Financeiros das Empresas 100% L ucr at iv idade 98% R ent abil idade 100% 79% 90% L iquidez Co nt r o le M o v i ment o Cai xa Capi t al de Gir o 80% 70% D emo ns t r at i v o de R es ult ado s Co nt as a P agar 60% 50% 34% Co nt as a R eceber 40% 20% 10% Co nt r o le de E s t o ques 19% 30% 9% F luxo de Cai xa 9% 6% 0% 0% 2% 6% E s t r ut ur a P at r imo ni al A dminis t r ação de C us t o s 0% Fonte: Pesquisa Das empresas que utilizam algum tipo de indicador financeiro, 100% preocupam-se com os valores do Contas a Pagar, mostrando grande responsabilidade dos empresários no cumprimento de suas obrigações. Além disso, 98% das empresas têm também o controle dos valores de Contas a Receber, indicando também que os empresários preocupam-se com os recursos que terão disponíveis. Há que se ressaltar, entretanto, que muitos dos empresários não têm noção exata dos numerários existentes neste controle. Assim, os valores poderão ser somente estimativas. Porém, apenas 19% dos empresários têm Fluxo de Caixa, embora possuam informações suficientes para confeccioná-lo. Verifica-se que uma pequena parte trata seu negócio como investimento, pois somente 9% dos empresários têm indicadores de lucratividade e 6% de rentabilidade. A grande maioria enxerga a empresa como fonte de seu sustento ao invés de enxergar seu negócio como um investimento, não se preocupando com o retorno dos valores investidos. 40 Na pesquisa, 79% dos empresários entrevistados que possuem indicadores financeiros, têm Controle de Movimentação de Caixa. Embora não colocado formalmente na pesquisa, verificou-se que 100% dos entrevistados possui controle bancário, porém não realiza conciliação com o caixa da empresa, acarretando falhas nos controles de movimentação de caixa. Um outro ponto significativo da pesquisa mostrou que somente 34% dos entrevistados que possui algum tipo de indicador financeiro, possui controle de estoques. Este indicativo demonstra que a maioria dos empresários não tem consciência de que um dos grandes causadores da Necessidade de Capital de Giro são os estoques. Outro fato bastante relevante é que somente 2% dos entrevistados na pesquisa possuem o levantamento da Estrutura Patrimonial da empresa. Ou seja, somente 2% têm noção do crescimento ou do encolhimento de sua empresa, mostrando mais uma vez que os empresários não estão tratando suas empresas como investimento, mas como fonte de seu sustento Embora 9% dos entrevistados tenham informado que possuem indicadores de Lucratividade, somente 6% possuem sistema de custos. Ou seja, somente 6% têm noção dos custos de suas empresas, tendo a maioria das empresas somente uma noção de ganho ou de perda. Verificou-se ainda que nenhuma das empresas entrevistadas verifica suas disponibilidades de Capital de Giro. Desta forma, os investimentos em estoques, prazos para os clientes, aquisição de ativos, em muitos casos, são superiores as disponibilidades da empresa, necessitando desta forma de tomada de recursos de terceiros, gerando pagamento de juros e diminuição do seu lucro. 41 Outro fato preocupante: nenhuma das empresas verifica seu índice de liquidez corrente. Ou seja, não está ciente se pode ou não honrar com seus compromissos de curto prazo. Desta forma, os casos de inadimplência com fornecedores e dificuldades financeiras são comuns por aplicarem inadequadamente seus recursos financeiros. c) A terceira pergunta efetuada no questionário refere-se ao objetivo da utilização do indicador financeiro na empresa. Os resultados estão colocados na Figura 03 a seguir: Figura 03 - Objetivos dos Indicadores Financeiros 100% Verificar Desem penho 100% Efetuar Planejam ento 80% Efetuar Controles 49% Efetuar Previsões 60% Tom ar Decisões Outros 40% 13% 6% 20% 0% 0% 0% Fonte: Pesquisa Dos entrevistados que possuem indicadores financeiros, 100% os utilizam para efetuarem controles e 49% para verificar desempenho. Entretanto os indicadores são pouco utilizados para tomar decisões (13%). Desta forma, fica comprovado que a maior parte das decisões tomadas pelos empresários de micro e pequenas empresas é executada a partir de sua experiência cotidiana, não levando em consideração os indicadores financeiros, aumentando os riscos de decisões equivocadas e comprometimento dos recursos. 42 Os indicadores financeiros também são muito pouco utilizados para efetuar planejamento (6%). Esta estatística destaca outro ponto preocupante: os empresários não estabelecem metas a serem cumpridas, ou seja, não determinam seus objetivos para determinado período, aguardando um “período melhor”. Nenhum dos entrevistados utiliza os indicadores financeiros para efetuar previsões. É outro ponto preocupante, pois com previsões baseadas em expectativas “por experiência”, o risco de que as previsões não ocorram cresce bastante, causando problemas as empresas. Utilizar o histórico para efetuar previsões é uma forma de reduzir riscos de aquisição de estoques com giro baixo, compras excessivas, comprometimento de capital de giro. d) A quarta pergunta do questionário refere-se aos controles utilizados pelas empresas que não utilizam indicadores financeiros para seus controles. Foram encontradas as seguintes respostas colocadas na Figura 04: Figura 04 - Controle das Empresas que não possuem Indicadores Financeiros 25% Saldo Bancário Saldo de Caixa 75% Fonte: Pesquisa Dos empresários que não possuem indicadores financeiros, 75% controlam seus recursos através dos saldos bancários e 25% através do saldo de caixa de 43 suas empresas. Desta forma, as decisões partem somente de um instante da empresa, ou seja, não considera o passado já realizado nem o futuro a ser realizado. A falta de planejamento financeiro é a responsável por muitos fechamentos de empresa, pois poderá acarreta desencaixe do Fluxo de Caixa da empresa, pagamento de juros a terceiros e diminuição dos lucros da empresa. e) A quinta pergunta refere-se às dificuldades encontradas pelos gestores da empresa com relação à utilização dos indicadores financeiros. A Figura 05 mostra os resultados obtidos: Figura 05 - Dificuldades de controle dos Recursos Financeiros Outros 2% Recurso Técnico Não vê necessidade Recurso Financeiro 92% 4% 20% Conhecimento Tempo 98% 18% Fonte: Pesquisa Entre as dificuldades apresentadas na pesquisa, 98% dos entrevistados relataram problemas de falta de conhecimento para controlar os recursos financeiros adequadamente, e que 92% têm problemas de recursos técnicos, ou seja, não tem capacitação para tal. Entretanto, mesmo tendo ciência do problema, os empresários tentam administrar seus recursos com suas limitações, não procurando por capacitação técnica. 44 20% dos entrevistados afirmaram ter problemas financeiros para poder controlar melhor seus recursos financeiros. Entretanto, em sua maioria, os mesmos tem gestão de estoques problemática, com grandes quantidades de produtos. Desta forma, a solução para os problemas está baseado nos controles que a empresa ainda não possui. 18% dos entrevistados afirmaram ter problemas de tempo para o melhor controle de seus recursos financeiros. Embora haja nesta afirmação certa coerência, pois na maior parte das micro e pequenas empresas, a maior parte das atividades (compra, venda, financeiro, produção, etc.), seja executada pela mesma pessoa, pode-se identificar que a mesma ganharia tempo otimizando atividades e eliminando atividades que não agregam valor, disponibilizando tempo para os devidos controles. f) A sexta pergunta identifica o grau de escolaridade do gestor da empresa. Os resultados constam na Figura 06 a seguir: Figura 06 - Grau de Escolaridade do Gestor 1º Grau Incompleto 10% 0% 2º Grau Incompleto 2% 22% 18% 3º Grau Incompleto Técnico Mestre Doutor 48% Fonte: Pesquisa Um outro fato muito interessante: dos entrevistados, a grande maioria (59%) têm curso superior ou nível de mestrado. Esta estatística mostra que o perfil dos 45 empreendedores está sendo modificada: estes estão se capacitando cada vez mais em busca de muita informação para a correta gestão de suas empresas. g) A sétima pergunta do questionário refere-se à idade do empresário. As respostas constam na Figura 07 a seguir: Figura 07 - Idade do Empresário/Gestor 6% 0% 2% 16% Até 25 anos 25% 26 a 35 anos 36 a 45 anos 46 a 55 anos 56 a 65 anos acima de 65 anos 51% Fonte: Pesquisa A grande maioria (76%) tem idade entre 26 e 45 anos, ou seja, a faixa de idade onde se encontra a maior parte da força de trabalho no Brasil. Ou seja, os empreendedores optam por ter o seu negócio a trabalhar como empregados. Anteriormente, os empreendedores eram em sua maioria funcionários que fizeram carreira como empregados e depois de economizar por muito tempo seus recursos, abriam seus negócios. Esta faixa etária pode ser verificada pelos 22% encontrados nesta estatística. h) Foi solicitado na oitava pergunta quais os indicadores que o gestor considerava importante para o controle financeiro da empresa. Os resultados estão relacionados na Figura 08 a seguir: 46 Figura 08 - Indicadores Importantes para a Empresa Administração de Custos 100% 27% 90% 88% 94% 94% 96% 1 20% 88% 2% 94% 100% Estrutura Patrimonial Fluxo de Caixa Controle de Estoques Contas a Receber Contas a Pagar Demonstrativo de Resultados Capital de Giro Controle Movimento Caixa Liquidez Rentabilidade Lucratividade Fonte: Pesquisa Dos entrevistados, em sua grande maioria, acham importantes quase todos os indicadores financeiros. Entretanto, Liquidez, Capital de Giro e Estrutura Patrimonial tiveram pouca lembrança nas estatística (2%, 20% e 27% respectivamente), comprovando o que foi afirmado anteriormente, ou seja, há falta de planejamento financeiro entre as micro e pequenas empresas, não há noção dos empresários quanto às suas reais disponibilidades e que os mesmos encaram suas empresas como fonte de sustento e não como investimentos que devem gerar retorno. i) A pergunta 09 do questionário refere-se aos indicadores financeiros que os empresários pretendem implementar em suas empresas. A Figura 09 mostra os resultados: 47 Figura 09 - Indicadores que pretende implementar Administração de Custos 94% 20% Estrutura Patrimonial Fluxo de Caixa 41% Controle de Estoques 33% Contas a Receber 2% 2% Contas a Pagar 1 84% 8% Demonstrativo de Resultados Capital de Giro 20% Controle Movimento Caixa 0% Liquidez 80% 92% Rentabilidade Lucratividade Fonte: Pesquisa Dos indicadores colocados para os entrevistados, a Administração de Custos é o indicador financeiro que mais foi citado para ser implementado (94%), seguido pela Lucratividade (92%) e pelo Demonstrativo de Resultados (84%). Estes indicativos mostram-nos que os empresários têm preocupação quanto ao Lucro que a empresa pode oferecer, mas que não consideram prioridade a Liquidez (0%), Capital de Giro (8%) e Estrutura Patrimonial (20%), comprovando a falta de conhecimento do qual os entrevistados sentem necessidade, ou seja, de saber quais são os indicadores financeiros necessários para gerir adequadamente seus negócios. j) A pergunta 10 questiona sobre a utilização da informática para auxiliar os empresários em seus controles. Foram obtidos os seguintes resultados, mostrados na Figura 10: 48 Figura 10 - Utilização de Informática 22% Sim Não 78% Fonte: Pesquisa O resultado das entrevistas mostra que 78% dos entrevistados afirmam utilizar da informática para auxiliar nos controles, mostrando que a informática está se tornando uma ferramenta cada vez mais usual entre as micro e pequenas empresas. Verificamos desta forma que as empresas, cada vez mais estão buscando formas para melhorar seus controles. k) A pergunta 11 questiona sobre a não utilização da informática. Os resultados são ilustrados na Figura 11: Figura 11 - Causas da Não Utilização da Informática Conhecimento 15% Recurso Financeiro Não vê necessidade 54% 31% Fonte: Pesquisa 49 Dos entrevistados que não utilizam a informática, 54% não utiliza por falta de conhecimento, 31% por falta de recursos financeiros e 15% não consideram necessária a sua utilização para auxiliar nos controles. Mesmo tendo recursos para sua capacitação e conseqüente utilização da informática, estes empresários optam por não se capacitar e continuar tendo informações incompletas, ou mesmo contratando pessoas para executar a atividade. l) A pergunta 12 questiona os empresários sobre a importância da informática no auxílio dos controles financeiros. As respostas estão ilustradas na Figura 12 a seguir: Figura 12 - Acha importante a utilização da Informática? 2% Sim Não 98% Fonte: Pesquisa 98% dos entrevistados afirma ser importante a utilização da informática para auxiliar nos controles financeiros. É uma informação interessante, pois embora considerem importante, havia um percentual de empresários que não considerava necessário para seus negócios. m) A pergunta 13 relaciona a periodicidade de verificação dos indicadores financeiros. As respostas estão ilustradas na Figura 13 a seguir: 50 Figura 13 - Frequência de Verificação dos Indicadores Financeiros 2% 0% 8% 47% Semanal Mensal Semestral Anual Não realiza verificação 43% Fonte: Pesquisa Verifica-se que 47% dos entrevistados fazem a verificação dos índices financeiros semanalmente, enquanto que 43% o faz somente mensalmente. Uma conclusão interessante a ser identificada nesta pesquisa é que as empresas que possuem maior número de indicadores financeiros efetuam a verificação mensalmente, enquanto que as empresas com poucos indicadores necessitam fazer a verificação semanalmente. Esta constatação mostra que os empresários com menor número de indicadores financeiros têm menor segurança em suas tomadas de decisão, tendo necessidade de verificar sua situação financeira mais frequentemente para tentar diminuir os riscos de decisões equivocadas. Já os que possuem maior número de indicadores financeiros, têm maior conhecimento de seu negócio, possibilitando um planejamento de maior tempo. Desta forma, as avaliações através de seus indicadores financeiros são realizadas com prazos maiores. 51 4. PROPOSTA DE FERRAMENTA DE AUXÍLIO NO CONTROLE DOS RECURSOS FINANCEIROS Durante a pesquisa, verificou-se a dificuldade que as empresa têm em controlar seus recursos financeiros. Desta forma, para tentar amenizar o problema, decidiu-se por desenvolver uma ferramenta que pudesse auxiliar os empresários nesta árdua missão de conseguir tomar a decisão correta sobre os investimentos dos recursos financeiros disponíveis na empresa. Elaborou-se assim um arquivo no Microsoft Excel, onde o empresário poderá controlar seus Saldos Bancários, Saldo de Caixa, controle de cheques prédatados, manter seu Contas a Pagar e Contas a Receber, efetuar seu Fluxo de Caixa, recebendo ainda informações por Centro de Custos e seus gastos divididos por um Plano de Contas confeccionado para cada empresa. No arquivo padrão, é possível ter o controle de até 05 contas bancárias diferentes simultaneamente. Para um número maior, há a necessidade de alteração do arquivo, porém sem muita dificuldade para tal. O Saldo de Caixa é obtido através dos valores do Caixa Interno somados às disponibilidades das contas bancárias. A movimentação de recursos (entradas e saídas), pode ser registrada no Movimento de Caixa. Lançamentos futuros serão lançados na planilha específica, indicando corretamente sua conta contábil e seu centro de custos, além dos outros registros necessários, como data de vencimento, data de quitação (quando a ocorrência for realizada), a sua descrição, valor, se a conta é a débito ou a crédito. 52 Há o controle de cheques pré-datados recebidos de clientes, que também poderão ser controlados pelo arquivo. Atualmente, esta prática é muito utilizada entre os empresários de micro e pequenas empresas, ou seja, utilização de cheques pré-datados nas negociações de compra e de venda. Com este arquivo pronto, foi proposto para que algumas das empresas entrevistadas se utilizassem do mesmo para que fossem efetuadas comparações entre as informações anteriores ao arquivo criado e após sua utilização. Os resultados podem ser apreciados na seção seguinte. 53 5. RESULTADOS OBTIDOS COM A FERRAMENTA 5.1. Empresa de Confecções Iniciou-se a utilização do arquivo do Microsoft Excel em uma empresa de confecções. A empresa era gerida de forma centralizada, com apenas a empresária gerindo o fluxo de entradas e saídas de dinheiro, calculando o custo de seus produtos baseada na sua experiência empresarial de 15 anos. Todos os outros funcionários da empresa não tinham o menor conhecimento da forma com que a empresária calculava os preços de venda dos produtos. Anteriormente a sua utilização, a empresa possuía os seguintes indicadores financeiros: Movimento de Caixa, Contas a Pagar e Contas a Receber. Em um lamentável acidente, a empresária faleceu e seus herdeiros não tinham como resgatar as informações, visto que todos os controles dos recursos da empresa estavam centralizados na empresária. Iniciou-se então um processo longo de busca de informações e implementou-se o arquivo no Microsoft Excel para auxiliar nos controles das informações financeiras. Os resultados apresentados após 04 meses de utilização foram os seguintes: Anteriormente o Movimento de Caixa era utilizado somente para verificar se havia diferença de valores entre o que existia no caixa interno e o que o controle marcava, Atualmente as informações são utilizadas para verificar o movimento diário, verificar as quantidades vendidas, verificar quais produtos estão com maior giro; 54 O controle de Contas a Pagar existente anteriormente era utilizado somente para o controle das obrigações da empresa. Atualmente, além desta função, o controle também é utilizado para a elaboração do Fluxo de Caixa da empresa, diminuindo os problemas de Necessidade de Capital de Giro e planejando melhor o comprometimento dos recursos financeiros disponíveis; O controle de Contas a Receber, anteriormente, não considerava o crediário da loja da empresa, ou seja, não considerava as “fichas” dos clientes. Desta forma, as informações sobre o contas a receber eram incompletas. Atualmente, além dos cheques pré-datados existentes, as “fichas” também estão incluídas nos valores de Contas a Receber, cujas informações são transferidas para o Fluxo de Caixa, melhorando assim a previsibilidade do negócio; Em conversa com o proprietário da empresa, o mesmo verificou, após a utilização do arquivo, que sua empresa tinha uma estrutura demasiadamente grande para o negócio, verificando as informações agrupadas. Verificou que seu custo fixo era incompatível com a realidade da empresa. Realizou então mudanças, diminuiu o número de funcionários, iniciou um processo de redução dos custos, gerando uma economia de 15% aproximadamente com as mudanças. Além disso, iniciou o processo de cálculo de custos na empresa, verificando que a empresa possuía produtos com margem negativa, e outros com margens absurdas (elevadas). Equalizou-se então os preços de venda de seus produtos, melhorando desta forma, em média, sua margem de contribuição, pois os produtos com margem negativa, e que tinham maior giro, começaram a ter margem positiva, melhorando o resultado final da empresa; 55 5.2. Comércio de Combustíveis, Mercado e Loja de Confecções Outro caso interessante foi verificado em uma empresa comercial de combustíveis. A empresa não possuía quaisquer tipos de indicadores financeiros, verificando somente os valores que seriam pagos ou recebidos no dia, não tendo noção se o saldo de caixa no dia seria positivo ou negativo. Embora suas contas mostrassem que os resultados eram positivos, o caixa da empresa não correspondia às suas expectativas, sendo necessária à busca de recursos financeiros de terceiros constantemente. Além disso, o empresário possuía dois outros empreendimentos: um mercado e um comércio de confecções. Infelizmente o empresário misturava os negócios, passando recursos de um negócio para o outro, não conseguindo obter informações se os negócios eram ou não lucrativos. Foi nesta situação que foi instalado o arquivo para auxiliar o empresário na sua gestão financeira. Os primeiros momentos foram muito difíceis, pois o empresário tinha poucos conhecimentos com o aplicativo, apagando fórmulas estabelecidas dentro do arquivo, As informações sobre os negócios custaram a ser recebidas, havendo muitas correções nos lançamentos, e muitos lançamentos que deixaram de ser considerados. Mas algumas informações foram muito interessantes para o empresário: • Havia sempre uma diferença de valores no caixa com relação aos valores vendidos nas bombas de combustível, ou seja, os valores arrecadados levantados no caixa eram diferentes aos valores levantados das vendas das bombas. A diferença era sempre a menor. Porém, o empresário não percebia esta diferença, pois não aferia as bombas. Com os controles instalados, passou- 56 se a monitorar a quantidade vendida e os valores recebidos. Atualmente as informações são verificadas diariamente, não havendo mais este problema; • Anteriormente, os combustíveis eram adquiridos a vista, sendo que o prazo médio de recebimento é de 20 dias. Devido a este desencaixe entre o prazo de pagamento e o prazo de recebimento, havia a necessidade de tomada de recursos de terceiros. As taxas de juros pagas eram de aproximadamente 4,5% ao mês. Após estudo do fluxo de caixa, obtido através da utilização do arquivo, verificou-se que era possível solicitar prazos para o pagamento dos combustíveis, com variação de 2% ao mês, sendo que o prazo máximo obtido foi de 15 dias. Assim, obteve-se uma redução de cerca de 40% nos juros pagos a terceiros mensalmente, reduzindo-se desta forma as despesas financeiras e aumentando o resultado líquido do negócio; • Verificou-se que o mercado tinha excesso de estoques de produtos que tinham giro muito baixo. Anteriormente, o empresário “aproveitava” as promoções efetuadas pelos fornecedores, comprando acima das suas necessidades, comprometendo seu capital de giro. Além disso, como o mercado está situado em uma região onde há sazonalidade mensal, ou seja, há grande movimento nos 15 primeiros dias do mês e movimento menor nos 15 dias finais, as compras eram realizadas igualmente durante o mês, causando problemas de caixa. Com estas constatações realizadas através dos controles implementados, houve uma modificação nas programações de compra, aumentando-se a demanda no início do mês e reduzindo-se no fim, obtendo-se desta forma uma diminuição na sua necessidade de capital de giro. Além disso, como a empresa trabalhava no crediário, utilizando as “fichas” de crediário do mercado, 90% de suas vendas são 57 realizadas a prazo. Entretanto, o empresário não tinha noção dos valores a receber que constavam em seu crediário. Após verificação das “fichas” e seu lançamento nos controles, constatou-se que a empresa tinha aproximadamente dois meses de faturamento em suas contas a receber, sendo que seus prazos de pagamento eram de 28 dias. Assim, realizou-se uma redução no crédito de seus clientes, e um sistema de cobrança mais eficaz, produzindo diminuição dos encargos financeiros do negócio; • Com relação ao comércio de confecções, anteriormente o negócio era gerenciado por uma pessoa da família. Com a sua saída, o negócio passou a ser gerenciado por uma vendedora. As vendas diminuíram, e as despesas aumentaram e função de mudança de ponto comercial. Os estoques, que anteriormente eram controlados rigidamente, passaram a não ser controlados. Os resultados foram terríveis. Ao ser instalado o arquivo de controle, verificou-se que o Ponto de Equilíbrio do negócio estaria muito além do que a empresa faturava. Além disso, a empresa trazia mercadorias a vista, adquiridas de fornecedores de São Paulo, e eram vendidas em prazos alongados (30, 60 e 90 dias). Ainda, havia um grande estoque de mercadorias que estavam no estoque há tempos. Com os controles, foi modificada a política de compras da empresa, passando a comprar em prazos semelhantes aos prazos praticados nas vendas, diminuindo a necessidade de capital de giro. Os estoques de produtos antigos foram liquidados a preços inferiores aos praticados normalmente pela empresa, gerando recursos para a aquisição de novos produtos. Houve uma nova mudança de ponto comercial, diminuindo as despesas com aluguel e energia elétrica; 58 5.3. Empresa Metalúrgica Outra empresa que se conseguiu obter resultados foi uma empresa metalúrgica que produz estruturas metálicas. Esta empresa, ao contrário da maioria que recebeu assessoria, não tem problemas financeiros. Entretanto, seu proprietário se preocupava com a lucratividade do negócio, pois não tinha dimensão dos valores. Como a empresa trabalha com produção sob encomenda, de acordo com os prazos estipulados pelo cliente, era difícil identificar quais projetos eram lucrativos e quais não davam retorno. Foi instalado então o arquivo para avaliar as informações existentes em seu movimento de caixa, contas a pagar e contas a receber, dividindo-se a empresa em Centros de Custos e criando-se um Plano de Contas para classificar os custos e as despesas. Os resultados dos controles foram interessantes: o A empresa conseguiu identificar gastos excessivos em itens que considerava desprezíveis, como materiais de segurança, horas extras dos funcionários, combustíveis de veículos, manutenção de ferramentas e equipamentos manuais. Embora tivesse lucro, a empresa poderia aumentar os resultados controlando de melhor forma alguns itens que considerava inexpressivos; o A retirada do proprietário era variável, ou seja, de acordo com suas necessidades, não estipulando valores mensais, causando em alguns casos problemas de caixa. Após a instalação do arquivo, o empresário passou a estipular suas retiradas, melhorando o planejamento financeiro da empresa, eliminando os problemas de caixa; 59 o O controle de estoques que anteriormente era realizado somente quando era terminado o pedido, passou a ser controlado quando se retira a matéria prima do almoxarifado, melhorando assim a visualização dos estoques existentes e das necessidades de compra; o Verificou-se que, embora a empresa disponha de grande quantidade de recursos financeiros (Capital de Giro), esta ainda necessita de tomada de recursos de terceiros (financiamentos). A empresa investe grande parte de seus recursos em prazos para os clientes. Enquanto que o prazo médio de pagamento de seus fornecedores esteja em média em 28 dias, há casos de clientes que tem prazos superiores a 180 dias. Assim, embora a empresa tenha grande disponibilidade de recursos, ainda é necessária a tomada de recursos; o Anteriormente, o empresário imaginava que a empresa não era muito lucrativa, pois não havia controle rigoroso dos estoques e os relatórios de contas a pagar e a receber eram parciais, ou seja, incompletos, pois os relatórios existentes consideravam somente o mês em questão, não estendendo as previsões para os meses seguintes. Após orientações e modificações nos relatórios, o empresário mudou sua opinião sobre sua empresa; o A empresa começou a verificar seus resultados com a confecção do Demonstrativo de Resultados mensal, baseando suas informações nos controles instalados. Desta forma, embora não tenha informação específica dos projetos, a empresa já visualiza sua lucratividade e rentabilidade; 60 5.4. Empresa Moveleira Este caso é um dos que melhor demonstra os resultados da utilização do sistema de controle. Trata-se de uma empresa do setor moveleiro, com móveis sendo produzidos em série. A empresa possuía somente os controles de contas a pagar e de contas a receber. Avaliava seus resultados pelo total de entradas e pelo total de saídas. Caso houvesse sobra de recursos a empresa teria lucro e em caso contrário, prejuízo. A empresa tem cinco anos de existência, tendo um crescimento em termos de faturamento de 10% ao ano antes da implementação dos controles financeiros. Com a implementação do arquivo contendo os controles, houve muitas mudanças na empresa: Houve o controle de movimentação de caixa, anteriormente inexistente, verificando-se que em determinados períodos do mês, a empresa adquiria matéria prima acima das condições de pagamento da empresa, causando necessidade de recursos de terceiros, ou atraso de pagamento de fornecedores. Em ambos os casos, havia o pagamento de juros. Desta forma, foram reprogramadas as compras de matéria prima da empresa, aumentando-se a freqüência de compras e diminuindo-se as quantidades por compra. Desta forma, houve uma redução significativa do pagamento de juros, em torno de 60%; Com o controle de movimentação de caixa, foi possível avaliar os custos fixos da empresa, determinando-se o seu Ponto de Equilíbrio. Baseados em informações por regime de Competência, ao invés de trabalhar com informações pelo regime 61 de Caixa, a empresa pôde modificar suas tabelas de preços, aumentando sensivelmente suas vendas e seu faturamento. O faturamento atingiu o seu pico histórico ao ser dobrado quatro meses após a implementação dos controles; Os prazos de venda foram modificados em função das necessidades da empresa, diminuindo-se os prazos, porém com preços mais atraentes para seus clientes, aumentando-se assim a liquidez corrente da empresa; Novas regiões estão sendo exploradas com a melhoria da capacidade produtiva e principalmente, com a disponibilidade de capital de giro que passou a existir em função do aumento das vendas e diminuição dos prazos; Os desperdícios passaram a ser melhor controlados em função do controle de estoques que inexistia anteriormente. Materiais de consumo como colas, tintas, pregos, parafusos, passaram a ter um controle maior. Como conseqüência, obteve-se uma diminuição de consumo da ordem de 15% nestes insumos. Além disso, com a matéria prima principal (MDF), após os controles instalados, houve uma redução de 5% nos gastos, em função de melhorias no aproveitamento das chapas. Com as mudanças, a empresa teve uma redução em seu Ponto de Equilíbrio de aproximadamente 10%; Atualmente a empresa está substituindo o arquivo do Microsoft Excel por um programa específico de gestão financeira. Porém, esta substituição se deve a verificação dos benefícios gerados pelas informações obtidas através dos controles financeiros existentes na ferramenta; 62 5.5. Comércio e Prestação de Serviços de Telecomunicações Este caso, bastante específico, ilustra uma situação bastante comum entre os empresários de micro e pequenas empresas, ou seja, a desinformação. Esta empresa comercializa produtos para telecomunicações, além de prestar serviços de manutenção e instalação dos produtos. Os empresários proprietários do negócio, dividiam as responsabilidades: um destes trabalhava com as vendas da empresa, enquanto que o outro trabalhava com a assistência técnica, ou seja, com a prestação de serviços. Basicamente a área administrativo-financeira ficava a cargo de seus funcionários. Assim, não existia controles financeiros rígidos, ou seja, havia diferenças nos controles de estoque, que em alguns casos chegavam a 10% de diferença. Os controles financeiros eram precários, ou seja, havia relatórios de contas a pagar e de contas a receber, mas não havia fluxo de caixa para provisionar pagamentos, nem para programar compras. Assim, os valores eram informados diariamente aos sócios da empresa, que efetuavam os pagamentos de acordo com as necessidades que os funcionários apresentavam. Desta forma, era freqüente a tomada de recursos financeiros de terceiros para saldar obrigações financeiras, sendo que, em seguida, havia folga financeira em função de recebimentos. Não havia divisão dos segmentos de mercado atuantes, ou seja, não havia demonstrativo de resultados da empresa separados entre os segmentos de comércio e de prestação de serviços. Verificava-se somente que na soma dos resultados a empresa era lucrativa. 63 Com a instalação dos controles financeiros na empresa foi possível se verificar o seguinte: A empresa trabalha em dois segmentos distintos: comércio e prestação de serviços. No comércio, a empresa vende produtos de alto valor agregado e em quantidades relativamente grandes, com necessidade de poucos recursos humanos, ou seja, poucas pessoas. Na prestação de serviços, há a necessidade de uma quantidade maior de pessoas envolvidas no processo, sendo que o faturamento é reduzido. Após a instalação dos controles, verificou-se que era necessário aumentar-se o faturamento com prestação de serviços, visto que há custos fixos elevados neste segmento, como manutenção de veículos, salários e encargos sociais, manutenção de equipamentos, etc. Já no segmento de comércio, verificou-se a necessidade de melhorar as concessões de crédito para os clientes. Antes da instalação dos controles, a empresa tinha problemas de caixa por falta de recebimento de clientes. Mesmo assim, a empresa continuava a conceder e a aumentar os valores a estes clientes inadimplentes. Os vendedores da empresa estavam interessados somente em receber as comissões de venda, desinteressando-se dos recebimentos. Houve uma mudança nos recebimentos de comissões, tornando seu recebimento vinculado ao recebimento dos clientes; Com relação aos estoques, havia problemas de trocas de referências, porém de mesmo valor. Assim, nos estoques havia problemas de quantidades com relação aos controles efetuados. Produtos de pouco giro nos estoques eram comprados em função dos lançamentos incorretos no sistema. Com a instalação dos controles, houve uma modificação nas compras, melhorando o giro das 64 mercadorias, comprando somente os produtos com giro elevado e reduzindo-se o estoque médio da empresa, diminuindo-se sua Necessidade de Capital de Giro; Com a diminuição da Necessidade de Capital de Giro a empresa começou a investir em novos segmentos, como o de telefonia celular. Desta forma, o segmento de prestação de serviços teve o aumento de demanda necessário, viabilizando o negócio; Atualmente a empresa substituiu o arquivo do Microsoft Excel instalado por um sistema de gestão financeira. Esta substituição também se deve aos resultados positivos obtidos com o arquivo, verificando suas vantagens e visualizando as informações possíveis que o arquivo disponibiliza; Entretanto, a empresa tem tido problemas com o sistema de gestão instalado. Por problemas de conhecimento, a empresa criadora do sistema não disponibiliza as informações necessárias para as análises. Assim, as informações são transportadas do sistema de gestão para um arquivo do Microsoft Excel para efetuar os relatórios e as análises. 65 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Após realizarem-se as análises dos resultados obtidos com a implementação do arquivo do Microsoft Excel em algumas empresas, podemos concluir que o mesmo é uma excelente ferramenta de auxílio nos controles financeiros e nas análises dos indicadores financeiros. Verificou-se nos cinco casos apresentados que houve uma sensível melhora nos controles financeiros das empresas, ampliando a visão dos empresários com relação as suas possibilidades de investimentos dos recursos disponíveis. Informações como fluxo de recursos, prazos para a disponibilidade dos recursos, investimentos realizados em estoques, disponibilidade de recursos, aumentam os subsídios dos empresários para suas tomadas de decisão. Com os controles, as tomadas de decisão a partir dos índices financeiros têm maior consistência e os riscos de decisões equivocadas diminuem. Além disso, a ferramenta de auxílio tem custos mais baixos com relação a qualquer outro sistema de gestão financeira, pois depende somente de conhecimento no aplicativo. Já nos sistemas tradicionais de gestão financeira, há a necessidade de aquisição do software, e em alguns casos, há a necessidade de pagamento de mensalidade (aluguel) de utilização do sistema. Entretanto, há que se ressaltarem alguns aspectos importantes para a implementação da ferramenta de auxílio: • Há grande resistência por parte dos empresários de micro e pequenas empresas na sua conscientização da importância em se tomar decisões baseadas em indicadores financeiros. A maior parte das decisões, anteriormente, era tomada a partir das experiências anteriores. Porém, após a 66 utilização da ferramenta de auxílio, as decisões sobre aquisição de produtos/mercadorias para estoques puderam ser verificadas com melhor utilização dos recursos financeiros, ao passo que anteriormente esta aquisição era realizada baseada na experiência dos compradores. Além disso, grande parte dos desperdícios que ocorrem nas micro e pequenas empresas são realizadas em função do desconhecimento dos números; • É essencial o conhecimento do aplicativo Microsoft Excel para a utilização da ferramenta de auxílio. Na ferramenta há comandos que exigem conhecimento avançados do aplicativo. Entretanto, torna-se bastante prática a sua utilização após a adaptação do usuário à ferramenta; • Há grande dificuldade de adaptação para a utilização da ferramenta. Como há a necessidade de lançamento em várias planilhas diferentes, a possibilidade de erros de lançamentos é grande. Estes erros contribuem para que o empresário seja desestimulado a utilizá-la; • É necessário que a empresa tenha ao menos um computador com configurações mínimas para a utilização da ferramenta. Computadores antigos terão problemas para a utilização, pois terão sua velocidade de processamento diminuída em função do tamanho do arquivo. Empresas com computadores muito antigos ou que não possuem computador terão de efetuar investimentos neste sentido para ter as informações. E como as empresas deste porte têm poucos recursos financeiros para investimentos, fica complicada a utilização em alguns casos; 67 • Os empresários não priorizam as informações financeiras, mas colocam como mais importante o atendimento ao pedido de seus clientes. A verificação de lucratividade não ocorre, não há verificação se o volume vendido é suficiente para o pagamento de todos os custos e despesas, não há verificação de rentabilidade. Assim, somente percebem que o negócio tem problemas quando já estão com suas disponibilidades comprometidas e em muitos casos, com problemas irreversíveis. Esta é uma das maiores causas da mortalidade das micro e pequenas empresas; • Há por parte dos empresários, a dificuldade em se solicitar auxílio. O orgulho predomina na maior parte deles, causando grandes problemas para suas empresas. O reconhecimento de erros em função de decisões equivocadas, a falta de humildade para reconhecer o pouco conhecimento, a falta de informação, todas estas deficiências são muitas vezes escondidas pelo empresário. Desta forma, os empresários se vêem como auto-suficientes e não solicitam auxílio. Quando o fazem, a situação da empresa já se tornou crítica, tornando o processo na maioria dos casos irreversível. Muito há que se fazer para diminuir os índices de mortalidade das micro e pequenas empresas no país. Mas a conscientização dos empresários de micro e pequenas empresas da necessidade de se trabalhar com planejamento e controle é fundamental para esta redução. Esta ferramenta desenvolvida para auxiliá-los nos controles é apenas um passo a ser realizado pelos empresários. Outras ferramentas de auxílio no planejamento, nas análises de resultado também são necessárias para diminuir esta triste realidade nacional, a de que de cada 03 empresas, 02 não sobrevivem ao terceiro ano de vida. 68 69 7. BIBLIOGRAFIA ANDRADE, M. M. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação: noções práticas. 2ª Edição. São Paulo/SP. Editora Atlas, 1997; BASSANI, Adenilson G., TANAKA, Edmilson K., TOSIN, Francisco C. Gestão e Estratégias Financeiras Empresas Industriais e Comércio Lojista. Curitiba/PR. Edições SEBRAE/SC, 2003; ALVIM, Paulo C. R. de C. O papel da informação no processo de capacitação tecnológica das micro e pequenas empresas. Brasília. Revista: Ciência da Informação, v. 27, p. 28 -35, jan./abr. 1998; CAVALCANTI, Marly; FARAH, Osvaldo E.; MELLO, Álvaro A.A. Diagnóstico Organizacional: Uma metodologia para Pequenas e Médias Empresas. São Paulo/SP. Editora Loyola, 1981; CUNHA, Rodrigo Vieira da. A Migração do emprego. Revista: Você S/A. São Paulo, ed. 46, p. 22-29, abril 2002; GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo. 2 ª Edição. Editora Atlas S.A., 1989; MATIAS, Alberto Borges; JÚNIOR, Fábio Lopes. Administração Financeira nas Empresas de Pequeno Porte. São Paulo. Editora Manole Ltda, 2002; MORAES, João Vicente de. Sistemas de Custos para Pequenas Empresas Industriais. Florianópolis/SC. 99 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina, 2002; PIAI, Marilda A. B. Metodologia para Implementação de Sistema de Controladoria. Florianópolis. 108 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, 2000; TANAKA, Edmilson Koji. Controles Financeiros Essenciais. Curitiba/PR. Edições SEBRAE/SC, 2003; TUNG, Nguyen H. Planejamento e Controle Financeiro das Empresas Agropecuárias. São Paulo/SP. Edições Universidade -Empresa Ltda, 1990; TUNG, Nguyen H. Controladoria Financeira das Empresas: Uma abordagem prática. 8ª Edição. São Paulo/SP. Edições Universidade -Empresa Ltda, 1993; 70 8. ANEXOS 71 Questionário de Avaliação dos Controles das Micro e Pequenas Empresas Empresa: Ficha: End.: Nº Compl. Cidade: Estado: Tel.: Email: Data: Contato: Segmento: 01. A empresa possui indicadores financeiros? Sim Não 02. Se sim, indique quais: Lucratividade Capital de Giro Contr. de Estoques Rentabilidade Dem. Resultados Fluxo de Caixa Liquidez Contas a Pagar Contr. Mov. Caixa Estrut. Patrimonial Contas a Receber Adm. Custos 03. A determinação dos indicadores financeiros nas empresas é realizada para: Verificar desempenho Efetuar Planejamento Efetuar Controles Efetuar Previsões Tomar Decisões Outros 04. Se não, como a empresa controla os recursos financeiros? R: ___________________________________________________________ 72 05. Quais as principais dificuldades em se controlar os recursos financeiros? Recurso Financeiro Tempo Conhecimento Recurso Técnico Não vê necessidade Outros 06. Grau de escolaridade do empresário ou gestor da empresa: 1º grau incompleto 2º grau incompleto Técnico 3º grau incompleto Mestre Doutor 07. Idade do empresário ou gestor da empresa: Até 25 anos 26 a 35 anos 36 a 45 anos 46 a 55 anos 56 a 65 anos Acima de 65 anos 08. Na sua opinião, quais indicadores você acha importante para a empresa? Lucratividade Capital de Giro Rentabilidade Dem. Resultados Liquidez Fluxo de Caixa Contas a Pagar Contr. Mov. Caixa Contr. de Estoques Estrut. Patrimonial Contas a Receber Adm. Custos 09. Quais indicadores pretende implementar na empresa? Lucratividade Rentabilidade Capital de Giro Dem. Resultados Contr. de Estoques Fluxo de Caixa 73 Liquidez Contas a Pagar Estrut. Patrimonial Contr. Mov. Caixa Contas a Receber Adm. Custos 10. Utiliza a informática para auxiliar nos controles? Sim Não 11. Se não, por que? Conhecimento Recurso Financeiro Não vê necessidade 12. Acha importante a utilização da informática para facilitar os controles? Sim Não 13. Qual a freqüência de verificação dos indicadores financeiros? Semanal Mensal Semestral Anual Observações: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________