UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM TEORIA E HISTÓRIA MEU QUARTO, MEU MUNDO: Configuração espacial e modo de vida em casas de Brasília Franciney Carreiro de França MEU QUARTO, MEU MUNDO: Configuração espacial e modo de vida em casas de Brasília Franciney Carreiro de França Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de Brasília, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo – área de concentração em Teoria e História. Orientador: Prof. Dr. Frederico Rosa Borges de Holanda Membros da Banca: Prof. Dr. Luiz Amorim Profª. Dra. Sylvia Ficher Brasília, Agosto de 2001 2 À minha família, mãe e irmãos; ao meu pai Antônio Virgínio de França que me viu começar este mestrado, mas que não está mais aqui para me ver concluí-lo; ao meu companheiro Sérgio Sauer. 3 Agradecimentos______________________________________ A pesquisa e a elaboração dessa dissertação passaram por várias transformações. Da idéia ainda abstrata até sua materialização, ocorreu um processo crescente de aprimoramento e superação. Nessa construção muitas pessoas e instituições foram importantes. Embora pareça apenas mais uma formalidade, não poderia deixar de expressar a minha gratidão, mesmo correndo o risco de cometer esquecimentos. Gostaria de agradecer: Ao CNPq pelo suporte financeiro e ao Programa de Pós-Graduação da FAUUnB que me recebeu e possibilitou que eu fizesse este estudo. Aos professores Gabriel Dorfman, Jaime Gonçalves de Almeida pelo apoio e à professora Sylvia Ficher, que me ajudou a definir a área de concentração; aos colegas e amigas do mestrado, na pessoa de Emília Stenzel, arquiteta que sempre acreditou no potencial de uma egressa da matemática. Ao meu orientador, Professor Frederico de Holanda, que tem a habilidade de poucos para juntar o rigor acadêmico - culminando num alto “controle de qualidade” com uma postura amiga e de incentivo. A quem aprendi admirar ainda mais e a considerar como parceiro neste trabalho, meu muitíssimo obrigada. Às minhas amigas, que silenciosamente me foram solidárias, respeitando a minha reclusão nos últimos meses de trabalho, em especial à Marleide, Cristiane e Wânia Mara, que só entraram em contato para oferecer ajuda ou quando pensavam que eu havia terminado. À minha mãe Creusa, à minha irmã Simone, ao meu irmão Ubirajara, à minha cunhada Rosilene e às minhas sobrinhas Yara e Nayara, as quais foram sacrificadas ficando sem as férias de julho, tão esperadas, na casa da tia. A eles, todo o meu carinho e consideração. Finalmente, à pessoa que esteve comigo nos momentos mais complicados que, entre muitas qualidades, tem uma paciência imensurável. A ele, que me deu suporte em todos os sentidos, acompanhando a elaboração, lendo várias partes da dissertação, cuidando dos afazeres da casa e até me levando chá na bancada de trabalho. Ao Sérgio, que não poderia me fazer maior declaração de amor. 4 Resumo_____________________________________________ Neste trabalho são estudadas as relações sociais no espaço doméstico a partir das informações de uso, ocupação e da organização espacial de residências. Buscou-se verificar como as práticas cotidianas, envolvendo a relação entre habitantes, visitantes e empregados, estão relacionadas com a configuração espacial das casas. O objeto de estudo é constituído por 27 casas no Distrito Federal, Brasil, onde habitam estudantes dos cursos de Arquitetura da UnB, Faculdades Planalto e UniCeub. Para obter informações de uso e ocupação foram aplicados questionários e feitas entrevistas, e para o estudo da configuração das residências foram utilizadas técnicas da Sintaxe Espacial. Esse estudo buscou identificar a possível existência de um “código espacial doméstico”, para o universo analisado, explorando a Sintaxe Espacial como metodologia de estudo configuracional. Procurou também, identificar um modo de vida contemporâneo em Brasília, que se revelasse condizente ou não com sua proposta modernista. 5 Abstract_____________________________________________ In this dissertation, the social relations are studied within the domestic space related to informations of use, occupation and spatial organization of houses. The intention was to verify how the daily practice, involving the relation between inhabitant, visitors and employee are related with space configuration of houses. The object of study is formed by twenty seven (27) houses in the Distrito Federal, Brazil, where live students of Architecture of the Universities of Brasilia, Faculdades Planalto and UniCeub. The informations about use and occupation were obtained using a survey and interviews. The method of Space Syntax was used to study the configuration of the houses. This study tried to identify a possible existence of a “spatial domestic code” of the studied universe, exploring the Space Syntax as a methodology of configurational studies. It also searched for the identification of a contemporary life style in Brasilia, which could express or not the modernist ideas and concepts. 6 Índice_______________________________________________ Introdução ......................................................................................................................... 9 Capítulo 1 – Casas: estudos e contexto ....................................................................... 12 1.1. O espaço doméstico ......................................................................................... 12 1.2. Revisão bibliográfica ....................................................................................... 15 1.2.1. Witold Rybczynski, Gérard Vincent e Antoine Prost .......................... 17 1.2.2. Gilberto Freyre ..................................................................................... 18 1.2.3. Roberto DaMatta .................................................................................. 21 1.2.4. Carlos Lemos, Francisco Veríssimo e William Bittar ......................... 23 1.2.5. Geraldo Gomes, L.L.Vauthier e Marlene Milan Acayaba ................... 25 1.2.6. Le Corbusier e o Movimento Moderno................................................ 27 1.2.7. Marcelo Tramontano ............................................................................ 30 1.2.8. Julienne Hanson e a Sintaxe Espacial .................................................. 31 1.3. Contexto social e geográfico ............................................................................ 35 Capítulo 2 - O método .................................................................................................. 39 2.1. Utilização e Ocupação dos espaços .................................................................. 40 2.2. A Sintaxe Espacial............................................................................................ 42 2.2.2. As variáveis analíticas .......................................................................... 51 2.2.2.1. Integração .......................................................................................... 51 2.2.2.2. Entropia ............................................................................................. 53 2.2.2.3. Medida de distributividade................................................................ 54 2.2.2.4. Medida de simetria ............................................................................ 55 2.2.2.5. Ordem de integração ......................................................................... 55 2.2.2.6. Grau de funcionalidade ..................................................................... 56 2.2.2.7. Grau de fechamento .......................................................................... 56 Conclusão ....................................................................................................................... 57 Capítulo 3 - Ocupação e utilização dos espaços ......................................................... 58 3.1. Espaços de maior tempo de permanência da família........................................ 58 3.1.1. A cozinha ............................................................................................. 59 3.1.2. Os quartos ............................................................................................ 63 3.2. Os espaços de menor tempo de permanência da família .................................. 67 3.2.1. Sala de estar ......................................................................................... 69 7 3.2.2. Sala de jantar ........................................................................................ 71 3.2.3. Sala de TV ............................................................................................ 72 3.2.4. Varanda ................................................................................................ 73 3.3. Espaços aos quais visitante não tem acesso ..................................................... 77 3.3.1. Escritório .............................................................................................. 78 Conclusão ....................................................................................................................... 81 Capítulo 4 - Uma análise configuracional .................................................................. 83 4.1. Características básicas do sistema espacial ...................................................... 83 4.2. Variáveis analíticas........................................................................................... 86 4.2.1. Integração média dos sistemas ............................................................. 86 4.2.2. Entropia ................................................................................................ 88 4.2.3. Distributividade.................................................................................... 90 4.2.4. Simetria ................................................................................................ 92 4.2.5. Ordem de integração ............................................................................ 94 4.2.6. Grau de funcionalidade ........................................................................ 96 4.2.7. Grau de fechamento ............................................................................. 98 Conclusão ..................................................................................................................... 104 Capítulo 5 – Espaço doméstico: morfologia e modo de vida .................................. 105 5.1 - Os espaços - seus usos e suas medidas sintáticas ......................................... 105 5.1.1. A cozinha ........................................................................................... 105 5.1.2. Quartos ............................................................................................... 107 5.1.3. Salas de estar e estar/jantar ................................................................ 109 5.1.4. Sala de Jantar ..................................................................................... 111 5.1.5. Sala de TV e Sala íntima .................................................................... 112 5.1.6. A Varanda .......................................................................................... 113 5.1.7. Escritório ............................................................................................ 114 5.1.8. Área de lazer ...................................................................................... 114 5.1.9. O Exterior........................................................................................... 115 5.2. Os sistemas e o modo de vida......................................................................... 118 Conclusão .................................................................................................................... 122 Bibliografia .................................................................................................................. 125 Anexos...........................................................................................................................129 8 Introdução __________________________________________ No final do século XX, a dimensão do espaço ganhou importância nas discussões sobre a modernidade e a pós-modernidade. Nessas discussões a arquitetura aparece como sendo um ótimo campo de estudo para análises filosóficas e sociológicas. O filósofo Fredric Jameson1, por exemplo, lança mão de análises sobre a estética arquitetônica para materializar as discussões sobre as concepções pós-modernas. Para ele, as construções recentes tornam explícitas as mudanças nas formas e usos do espaço na contemporaneidade. Na arquitetura, pesquisas recentes contribuíram para ampliar o conceito de espaço arquitetônico dando a este uma nova abordagem. Nessa concepção, ele é entendido como uma situação relacional2, com um enfoque mais voltado para o usuário, suas expectativas e experiências. Diferente de Jameson, o espaço não é entendido apenas como reflexo das mudanças sociais, mas também como produtor de relações sociais. Hillier, por exemplo, defende que o espaço possui características intrínsecas que propiciam essas relações sociais. Segundo ele, “o espaço não é simplesmente função dos princípios da reprodução social, mas é um aspecto intrínseco dela, uma parte necessária da morfologia social”3. A partir dessa concepção, surge a preocupação em entender um tipo específico de espaço arquitetônico: o espaço doméstico. Esse trabalho propõe o estudo de residências, considerando a configuração espacial como base da concepção e análise dos lugares arquitetônicos. Esse estudo busca entender a estrutura doméstica a partir da relação entre o modo de vida e a configuração espacial desses espaços contemporâneos. O objeto é formado por uma amostra de vinte e sete (27) casas do Distrito Federal, Brasil, localizadas no Plano Piloto de Brasília e em algumas Cidades Satélites. 1 JAMESON, F. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. Ática, São Paulo, 1996. HOLANDA, F. & KOHLSDORF, G. Arquitetura como situação relacional. Brasília, 1995, pág. 7. (mimeo). 3 HILLIER, B. A lógica social do espaço hoje (mimeo), 1982. Tradução e Notas: Frederico de Holanda, pág. 50. 9 2 Partindo das premissas da Sintaxe Espacial4, o objetivo é aprofundar o estudo do espaço doméstico, seus significados e relações com o modo de vida das pessoas que nele habitam. Nesse sentido, esse estudo exploratório pretende: a) contribuir para a discussão sobre o espaço a partir de um enfoque arquitetônico; b) utilizar uma ferramenta ou metodologia própria da arquitetura e verificar o desempenho dessa técnica de análise configuracional de edifícios; c) caracterizar o modo de vida a partir desse estudo. Esse estudo do espaço doméstico procura entender a lógica da configuração contemporânea nas casas dessa amostra. Uma hipótese é de que transformações recentes no modo de vida – especialmente a exacerbação da individualidade – têm influência direta na sua organização espacial. Essa influência ou inter-relação é aqui estudada utilizando-se a teoria e as ferramentas da Sintaxe Espacial, comparando-se com outros estudos realizados no Brasil e em diferentes países, procurando-se saber em que medida existem, numa realidade “vernacular”, determinados “códigos” socio- espaciais, e quais são suas características em um determinado conjunto de residências em Brasília. Este trabalho está dividido em cinco capítulos, buscando entender a relação entre configuração espacial das residência e o modo de vida de seus habitantes. O Capítulo 1, está dividido em três partes: a) apresentação do tema, detalhando a linha de abordagem e o problema colocado para estudo; b) revisão bibliográfica, discutindo algumas contribuições chaves disponíveis na literatura, relacionadas ao presente estudo; c) caracterização do contexto social e geográfico da amostra, através de informações como, por exemplo, composição, renda, profissão etc., dos habitantes. O capítulo 2, apresenta a metodologia utilizada no estudo da amostra detalhando as técnicas de pesquisa e análise. Esse capítulo está dividido em duas partes: a) apresentação do primeiro nível de análise composto pelas linhas gerais que definiram as categorias e ferramentas para coleta de dados (questionários e entrevistas); b) explanação do referencial teórico, a partir da teoria da Sintaxe Espacial. A síntese da teoria buscou explicitar os principais conceitos e definições das variáveis analíticas utilizadas nesta análise. 4 Sintaxe Espacial é uma teoria de análise do espaço arquitetônico desenvolvida originalmente por Hillier e colegas da Bartlett School of Graduate Studies – University College London, e posteriormente enriquecida por pesquisadores de várias partes do mundo. 10 O capítulo 3 é dedicado à análise dos dados da amostra coletados através dos questionários e entrevistas. À luz dos trabalhos mencionados na revisão bibliográfica é feito um estudo do uso e ocupação dos vários cômodos das casas. O capítulo 4 é constituído pela análise configuracional das residências, ou seja, um estudo da organização espacial através da planta baixa de cada casa. Nesse capítulo foi aplicada a técnica da Sintaxe Espacial para estudo de edifícios. O capítulo 5 é constituído pela confrontação das informações dos capítulos 3 e 4. Constitui uma busca pela identificação do modo de vida nessas casas, a partir da sua configuração espacial e do uso dos espaços da amostra estudada. Esse capítulo está dividido em duas partes: a) a primeira é uma análise dos espaços de per si, relacionando características de ocupação e uso com os dados de configuração; b) a segunda é constituída por uma leitura das casas como um sistema, em função dos vários níveis de relações sociais entre habitantes, visitantes e empregados. Este estudo foi realizado no contexto da Área de Concentração em Teoria e História, do Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, e se justifica a partir de duas paixões: uma pela arquitetura que me fez migrar da matemática (meu curso de graduação); outra pela própria matemática da qual herdei o prazer pelo estudo teórico. Essas paixões e interesses criaram uma expectativa com relação à Sintaxe Espacial e suas pesquisas relacionadas com teorias matemáticas. 11 Capítulo 1 – Casas: estudos e contexto Existe uma paixão pelo entendimento assim como existe uma paixão pela música sem essa paixão não teria havido nem matemática, nem ciências naturais. Albert Einstein Este capítulo está dividido em três partes e tem como objetivo apresentar o tema a ser estudado, a revisão bibliográfica e o contexto socio-geográfico da amostra. Na primeira parte, o tema é apresentado ressaltando a linha de abordagem e os objetivos desse estudo. A segunda parte é composta por uma síntese de alguns estudos sobre a casa, representando uma diversidade de trabalhos sobre diferentes aspectos e diferentes áreas do conhecimento. Essa síntese tem como objetivo ressaltar os aspectos mais diretamente abordados na elaboração do presente trabalho. Por último, a amostra será apresentada quanto ao seu contexto social e geográfico. Ela será identificada, primeiramente, por meio de informações gerais sobre as casas e suas localizações, e em seguida será apresentado um sintético perfil socio-econômico e a constituição familiar de seus habitantes. 1.1. O espaço doméstico A preocupação em entender o espaço arquitetônico no contexto da relação espaço e sociedade, tem feito parte da história da arquitetura do século XX. Isso fez com que, em recentes pesquisas, o conceito de espaço arquitetônico fosse ampliado. Esse, por exemplo, foi definido a partir de um conceito de arquitetura como uma situação relacional, ou seja, como uma relação do ser humano com o espaço. Essa nova proposta relaciona "atributos morfológicos do espaço arquitetônico e as expectativas humanas às quais eles podem satisfazer"5. 5 HOLANDA e KOHLSDORF, 1995, pág. 7. (mimeo). 12 Se, por um lado, têm-se os atributos morfológicos do espaço, ou seja, características de sua configuração, por outro lado, têm-se as expectativas humanas a serem satisfeitas. Então, entender como se dá a relação entre uma instância imaterial ou subjetiva - as expectativas humanas - e outra material - o espaço físico arquitetônico - é o pano de fundo desse estudo. A partir desse enfoque surge a preocupação em entender um tipo específico de espaço arquitetônico, o espaço doméstico. Diante das transformações ocorridas na sociedade nos últimos séculos, o estudo da casa é o estudo de um espaço, considerado pelo antropólogo Marc Augé, como o “lugar” em contraposição ao “não-lugar”. Segundo Augé, a supermodernidade6 é uma exacerbação dos princípios da modernidade7 e é caracterizada por mudanças significativas no tempo e espaço. Essa supermodernidade é produtora do que Augé denominou de "não-lugares". Os não-lugares, segundo ele, são espaços que não podem ser definidos "como identitário, relacional e histórico”8. Para ele, os não-lugares são a medida de nosso tempo, representados “...pelos espaços públicos de rápida circulação, como aeroportos, rodovias, estações de metrô, meios de transporte e grandes cadeias de hotéis e supermercados”9. O espaço doméstico é precisamente a antítese do “não-lugar”, portanto, seu estudo é a afirmação da importância do “lugar”. Para Augé, o “lugar” como espaço circunscrito ou o “lugar antropológico”, é “aquela construção concreta e simbólica do espaço que é simultaneamente princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de inteligibilidade para quem observa, como lar, a residência, o espaço personalizado”10. A residência, esse lugar identitário e relacional, é o campo de maior produção arquitetônica. Ela é normalmente estudada a partir de suas características estéticas, semânticas e funcionais. Mas, além desses aspectos, esta deve ser estudada como uma 6 Outros autores utilizam diferentes termos para denominar o momento atual, ou seja, as mudanças sociais, culturais, política e econômicas contemporâneas, como, por exemplo, pós-modernidade (LYOTARD, J. The Post-modern condition: A report on Knowledge. Minneapolis, University of Minnesota Press, 1984), e modernidade tardia (JAMESON, 1996). 7 Para Featherstone "a modernidade contrapõe-se à ordem tradicional, implicando a progressiva racionalização e diferenciação econômica e administrativa do mundo social". FEATHERSTONE, M. Cultura de Consumo e Pós-Modernismo. Studio Nobel, São Paulo, 1995, pág. 20. 8 Para Marc Augé um lugar é identitário no sentido de que um certo número de indivíduos pode se reconhecer nele e definir-se através dele. É relacional no sentido de que esses indivíduos estabelecem relações sociais nos mesmos. É histórico no sentido de que os ocupantes do lugar podem encontrar nele rastros diversos de uma implantação antiga, o sinal de uma filiação. Para ele, Isso significa dizer que o espaço é triplamente simbólico e estabelece uma relação de complementariedade entre as realidades sociais” AUGÉ, M. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Papirus, Campinas, 1992, pág. 73. 9 AUGÉ, 1992, pág. 74. 10 AUGÉ, 1992, pág. 51. 13 estrutura configuracionalmente definida que está relacionada ao modo como vivem nele e interagem as pessoas. Para Hillier, A natureza do edifício como um objeto em si tem complexidades as quais tendem naturalmente à multifuncionalidade e diversidade da expressão cultural. É apenas pela compreensão da natureza complexa do edifício como objeto que podemos começar a entender sua tendência natural à multifuncionalidade.11 De acordo com Hanson, “toda casa configura um modo de vida, por meio da construção de interfaces sociais entre homens e mulheres, mais jovens e mais velhos, anfitriões e convidados, proprietários e empregados”12. A configuração desse espaço constitui, então, uma concepção de relações e modos de vida. O espaço doméstico, apesar de aparentemente simples, pode revelar muito sobre as possibilidades de convívio. Através do estudo desse sistema - a casa - é possível saber se este facilita ou restringe relações pessoais por meio de suas acessibilidades internas. Por outro lado, permite entender como esse sistema de relações interage com o “exterior”. O problema colocado é, então, entender a estrutura doméstica a partir da relação entre o modo de vida das pessoas e os atributos morfológicos do espaço. Esse estudo é uma tentativa de revelar um padrão que é característico das casas estudadas, identificando um espaço doméstico contemporâneo (de início do novo milênio). Esse espaço contemporâneo pode-se contrapor, ou não, ao espaço “moderno”, característico das últimas décadas. Especificamente no caso de Brasília - universo geográfico da pesquisa – esse aspecto é muito importante, uma vez que esta cidade foi concebida a partir das premissas do modernismo arquitetônico. Nesta linha de abordagem, serão utilizada as técnicas da Sintaxe Espacial, uma teoria desenvolvida por Hillier e colegas da Bartlett School of Graduate Studies, de Londres, para o estudo morfológico, ou configuracional, como ele prefere, de edifícios e assentamentos humanos. A Sintaxe Espacial tem como proposta fundamental mostrar 11 No original: “The nature of the building as an object itself has complexities which in themselves naturally tend to multifunctionality and diversity of cultural expression. It is only by understanding the complex nature of the building as object that we can begin to understand its natural tendency to multifunctionality" . HILLIER, B. e HANSON, J. The social logic of space. Cambridge University Press, Cambridge, 1984, pág. 21. (minha tradução). 12 No original: “Every home configures a way of life by constructing social interfaces between men and women, young and old, hosts and guests, owners and servants....” HANSON, J. Decoding Home and House. Cambrige University Press, Cambrige, 1998, pág. 267. (minha tradução). 14 “como e porque diferentes formas de reprodução social requerem, e se materializam em, diferentes tipos de ordem espacial”13. 1.2. Revisão bibliográfica A casa como um lugar de identidade, espaço que revela e determina estilos de vida, é colocada num patamar de destaque em fins de século XX e início do século XXI. A casa, mais do que lugar de moradia e de abrigo, conforme concluiu Monteiro, é um complexo “...imbuído de valores culturais, sociais e até psicológicos. Suas configurações sociais juntam atividades e formam experiências, que definem a qualidade de vida de seus habitantes”14. Nessa perspectiva, Hanson afirmou a importância do estudo da casa como sendo “não apenas reflexo de como indivíduos e famílias escolhem viver cotidianamente, mas da constituição social como um todo”15. Uma das coisas mais importantes que podem ser ditas a respeito de uma casa “não é que ela é uma lista de atividades ou cômodos, mas que ela é um padrão do espaço, governado por intrincadas convenções sobre quais espaços existem, como são conectados e seqüenciados, quais atividades acontecem juntas e quais são apartadas”16. Vários estudos sobre a casa foram feitos sob diferentes aspectos. A história do espaço doméstico foi contada ao longo dos períodos históricos, como no trabalho de Prost e Vincent17, e nos estudos de Rybczynski18. No Brasil, os estudos incluem análises 13 HILLIER e HANSON, 1984, pág. xi. Citado por HOLANDA, F. O espaço de exceção. Tese de doutorado apresentada na Universidade de Londres, 1997, pág. 76. (mimeo). 14 No original: “...imbued with cultural, social and even psychological values. Their spatial configurations link activities and form experiences which define the quality of life of their inhabitants”. MONTEIRO, Circe G. Activity Analysis in houses of Recife, Brasil. In. Space Syntax - First Internacional Symposium, Volume II, London, 1997, pág. 20-13. (minha tradução). 15 No original: “...not just of how individuals and families choose to live their everyday lives, but of the constitutions of society at large...” HANSON, 1998, pág.47. 16 No original: “The important thing about a house is not that it is a list of activities or rooms but that it is a pattern of space, governed by intricate conventions about what spaces there are, how they are connected together and sequenced, which activities go together and which are separated”. HANSON, 1998, pág. 02. (minha tradução). 17 VINCENT, G e PROST, A. (org). História da Vida Privada: Da Primeira Guerra a nossos dias. Companhia das Letras, São Paulo,1992. 18 RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história de uma idéia. Editora Record, Rio de Janeiro, 1986. 15 antropológicas e sociológicas encontradas, por exemplo, nos escritos de Freyre19 e DaMatta20. Incluem também trabalhos abordando vários aspectos arquitetônicos (forma, estilo, materiais, técnicas construtivas) como fez, por exemplo, Acayaba21. Existem análises de mudança de uso dos espaços da casa, como por exemplo, nos trabalhos de Lemos22 e Gomes23. Há ainda, estudos especificamente referentes aos modos de vida e novas tecnologias, como o encontrado no trabalho de Tramontano24. Esses estudos contribuem para um perfil da constituição social, antropológica, cultural e arquitetônica da casa brasileira. Outros estudos têm procurado reunir alguns desses aspectos - sociais, culturais, antropológicos - sob um novo enfoque, privilegiando a análise do espaço doméstico a partir de suas características morfológicas como, por exemplo, aqueles de Hanson25, Trigueiro26, Monteiro27, Amorim28 e Holanda29. O que se segue é um breve apanhado dos vários estudos envolvendo o espaço doméstico no século XX e final de século XIX. Todos eles abordam várias questões relacionadas ao espaço estudado, sejam elas cultural, histórica, arquitetônica ou social. A maneira como foram agrupados não significa necessariamente que estes abordem só o tema em evidência. Esse é um esforço de destacar os aspectos mais diretamente pertinentes à realização do presente trabalho. 19 FREYRE, G. Casa-Grande e Senzala: Formação da família sob o regime de economia patriarcal, 1º volume, 7º edição. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1952. 20 DAMATTA, R. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Editora Brasiliense, São Paulo, 1985. 21 ACAYABA, M. Residências em São Paulo: 1947 – 1975. Projeto, São Paulo, 1986. 22 LEMOS, C. História da casa brasileira. Editora Contexto, São Paulo, 1989. 23 GOMES, G. Engenho & Arquitetura – tipologia dos edifícios dos Antigos Engenhos de açucar de Pernambuco. Editora Fundação Gilberto Freyre, Recife, 1998. 24 TRAMONTANO, M. Novos modos de vida, novos espaços de morar – uma reflexão sobre a habitação contemporânea. Tese de Doutoramento, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 1998. (mimeo). 25 HANSON, 1998. 26 TRIGUEIRO, E, MARQUES, S. e CUNHA, V. The mystery of the social sector: Discussing old and emerging spatial structures in Brazilian contemporary homes. In: Anais do 3º International Space Syntax Symposium, Atlanta, 2001, pág. 40.1ss. 27 MONTEIRO, 1997. 28 AMORIM, L. The sectors’ paradigm: a study of the spatial and functional nature of modernist housing in Northeast Brasil. Tese de doutorado apresentada na Faculty of the Built Environment The Bartlett School of Graduate Studies, University College London, 1999. 29 HOLANDA, Frederico. Sintaxe de uma Casa-Átrio Moderna, In.: Cadernos Eletrônicos da Pós, Brasília, 1999, página da Rede Mundial www.unb.br/fau/pos_graduacao 16 1.2.1. Witold Rybczynski, Gérard Vincent e Antoine Prost Os motivos que levaram Rybczynski, Vincent e Prost a estudarem a casa foram muito diferentes. Rybczynski fez um estudo sobre o conforto no espaço doméstico, que o levou a passar por cinco séculos de história da casa incluindo diferentes culturas e sociedades. Ele fez questão de ressaltar que seu estudo não era sobre decoração de interiores, mas sobre o conceito de lar30, buscando entender o conceito de conforto a partir desse espaço. Já Vincent e Prost fizeram um estudo da história da sociedade francesa ocorrida no interior desse espaço. Segundo Vincent, o objetivo não era uma “história da vida cotidiana, já feita e refeita” mas “a história do segredo”31. Segundo ele, não é o segredo absoluto que todo homem leva consigo quando morre, mas o que está na “fronteira do dito e não dito que envolve vários níveis: o indivíduo, a família, a vila ou o bairro...”32 Em comum, entretanto, esses trabalhos resgatam, na história da casa, as mudanças que levaram o espaço doméstico a ser considerado de domínio privado, restrito à família. É esse aspecto que interessa para o presente trabalho, pois é assim que, atualmente, esse espaço é considerado. Mas isso não foi sempre assim. Segundo os estudos acima, esse é um conceito moderno, característico do século XX, resultado de mudanças sociais que vêm ocorrendo desde a Idade Média. Na Idade Média o conceito de privado não existia, “a vida era uma questão pública, e assim como as pessoas não tinham uma forte consciência de si, elas também não tinham um quarto próprio”33. O espaço de moradia não era reservado somente à família pois incluía empregados, criados, aprendizes, amigos e afilhados, famílias de “até 25 pessoas não eram pouco freqüentes. Como todas estas pessoas viviam em um ou, no máximo, dois compartimentos, não se conhecia a privacidade”34. Segundo Rybczynski, as famílias numerosas faziam com que a casa medieval fosse “um lugar público, e não privado” 35. Com a era Moderna, surge a noção de organização da vida com dois domínios opostos e claramente distintos: o público e o privado. Um dos fatores que contribuiu 30 RYBCZYNSKI, 1986, pág. 8. VINCENT e PROST, 1992, pág. 8. 32 VINCENT e PROST, 1992, pág. 8. 33 RYBCZYNSKI, 1986, pág.48. 34 RYBCZYNSKI, 1986, pág.41. 35 RYBCZYNSKI, 1986, pág.41. 31 17 para essa separação foi a especialização dos espaços em locais de trabalho e de morar. Com isso o espaço de morar ganha outras características como lugar de privacidade e intimidade. Para Rybczynski, uma conseqüência importante dessa separação foi que a casa se tornou um lugar mais privado, e “junto com esta privatização da casa surgiu um maior senso de intimidade, que identificava a casa exclusivamente com a vida familiar, dentro de casa, no entanto, a privacidade pessoal continuou relativamente irrelevante”36. Para Prost e Vincent, essa separação vem “acompanhada por uma diferenciação das normas: o universo doméstico se liberta de regras anteriormente ligadas ao trabalho que ali se realizava, ao passo que o mundo do trabalho passa a ser regido, não mais por normas de ordem privada, e sim por contratos coletivos”. Para eles, “não existe uma vida privada de limites definidos para sempre, e sim um recorte da atividade humana entre a esfera privada e a esfera pública. A vida privada só tem sentido em relação à vida pública”37. Após essa separação, o espaço doméstico passou a ser lugar de domínio privado, lugar da família. A noção de intimidade e privacidade fizeram desse um lugar restrito, de difícil penetração e o transformaram em objeto de estudo específico. 1.2.2. Gilberto Freyre No Brasil, um dos primeiros estudiosos da casa foi Gilberto Freyre. Como sociólogo e antropólogo, ele buscava o entendimento da formação da família brasileira e das relações sociais nesse espaço. Isso o levou a se debruçar sobre o significado da casa, fazendo surgir uma obra singular. Ele chamou seu trabalho de um “Ensaio de sociologia genética e de História Social, pretendendo fixar e às vezes interpretar alguns dos aspectos mais significativos da formação da família brasileira”38. Fazem parte desse estudo textos famosos como Casa-Grande & Senzala (1933), Sobrados e Mucambos (1936), Ordem & Progresso (1959)39, entre outros. Segundo Bastos, 36 RYBCZYNSKI, 1986, pág.51. VICENT e PROST, 1992, pág.21. 38 FREYRE, 1952, pág. 44. 39 BASTOS, E. Os descendentes de Prometeu. In: Caderno Mais – Folha de São Paulo, 12 de março de 2000, pág.18. 18 37 Em Casa-Grande & Senzala, Freyre afirma a importância da relação entre etnias e culturas, resgatando o papel do escravo negro como civilizador na sociedade brasileira, operando simultaneamente no processo de mestiçagem e no de difusão e incorporação do aparato cultural africano, isto é, há uma absorção de seus usos e costumes pelos brancos, que reconhecem a adaptabilidade dos mesmos à realidade tropical; em Sobrados e Mucambos, ressalta o papel do patriarcado na ordenação da sociedade nacional, operando durante séculos como garantia de sua organicidade.40 Nos estudos de Freyre, as relações dicotômicas estão sempre presentes e, como num processo de equilíbrio, o branco e o negro se misturavam no interior da casagrande. Essa mistura alterava as relações sociais e culturais, criando um novo modo de vida no século XVI. As relações de poder, a vida doméstica e sexual, os negócios e a religiosidade forjavam, no dia-a-dia, a base da sociedade brasileira. Freyre, no prefácio de Casa Grande & Senzala, afirma que a casa grande, juntamente com a senzala, representava todo um sistema econômico, político e social. Essa convicção ele estendeu para todo o Brasil, embora ela fosse mais diretamente associada ao engenho de cana e ao patriarcalismo nortista. Segundo Freyre, “a casagrande não era exclusiva dos senhores de engenho. Podia ser encontrada na paisagem do sul do país, nas plantações de café, como uma característica da cultura escravocrata e latifundiária do Brasil”41. Na casa-grande, a rotina era comandada pelo senhor de engenho, cuja estabilidade patriarcal estava apoiada no açúcar e no escravo, onde “o suor do negro ajudava a dar aos alicerces da casa-grande sua consistência quase de fortaleza. Ela servia de cofre e de cemitério. Sob seu teto viviam os filhos, o capelão e as mulheres”42. Assim estabeleciase o regime patriarcal, o pai, como o chefe da casa, tinha autoridade tanto sobre a família quanto no engenho. Sobrados e Mucambos é a outra parte desse estudo sobre as raízes sociais e a importância da casa brasileira. Nesse livro, as inúmeras inovações apresentadas em 1933, com Casa-Grande & Senzala, se ampliam e ganham completude. Para Bastos, uma dessas inovações é a “decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano”43, o que representou também mudança significativa no modo de vida e relações domésticas nas casas brasileiras. 40 BASTOS, 2000, pág. 18. FREYRE, Prefácio da 1ª edição, 1952, pág.34. 42 FREYRE, Prefácio da 1ª edição, 1952, pág.36. 43 BASTOS, 2000, pág. 18. 41 19 Essa decadência significava a perda do poder patriarcal, como resultado das transformações sociais, econômicas e políticas, mas especialmente culturais. Com isso, “alteram-se os modos de agir tradicionais e a perda dessas tradições atinge nuclearmente a forma pela qual se organizam as relações sociais no Brasil”44, inclusive as relações familiares e uso do espaço doméstico. Segundo Bastos, a decadência do patriarcado rural é resultado da quebra da continuidade entre público e privado. Isso alterou o modo de organização do poder no país afetando a própria natureza das relações sociais e familiares. Como ele afirmou, Influências individualista, estadista e coletivistas se apresentam como desagregadoras do sistema patriarcal. É a família, como grande força permanente na formação nacional, influência conservadora e disseminadora dos valores patriarcais, a grande ameaçada. (..) Mais ainda, conferiu unidade nacional ao país, pois a forma pela qual se conseguiu a convivência pacífica das culturas foi a existência e permanência do patriarcado.45 Para Freyre, a família patriarcal – mais do que o Estado ou a Igreja – era a unidade decisiva da formação do sistema social brasileiro. Nessa perspectiva, a casa – como expressão concreta desse “familismo” – era símbolo e lugar das relações e antagonismos, bases do patriarcado. Conseqüentemente, a casa foi compreendida por Freyre como o “fator decisivo de formação de um tipo nacional de sociedade”46. As preocupações de Freyre, no entanto, não estavam centradas na configuração espacial das residências. Mesmo assim, entendeu a arquitetura da casa brasileira como expressão de estilos, de condições de convivência e funções sociais. Para ele, A arquitetura da casa-grande brasileiramente patriarcal de engenho, da fazenda ou de estância, e depois, da assobradada da cidade, mas ainda patriarcal, tornou-se expressão em suas formas arquitetônicas, em correspondência com seus estilos de convivência e suas funções sociais...47 Ressaltou que a arquitetura dessas casas expressava um modo de vida. Fez então uma associação entre a arquitetura doméstica e um estilo de convivência entre senhores e escravos. Para ele, o estudo da casa-grande serviu “de base a uma teoria patriarcalista 44 BASTOS, 2000, pág. 18. BASTOS, 2000, pág. 18. 46 FREYRE, G. Oh de casa!, Editora Artenova S.A . Recife, 1979, pág. 61. 47 FREYRE, 1979, pág. 56. 45 20 de interpretação da formação social brasileira”48. Mas aquela associação entre arquitetura e estilo de convivência limitou-se, quase que apenas, à apresentação do desenho da casa-grande do Engenho Noruega, de Cícero Dias, em Casa-grande & Senzala. Em sua obra Oh de casa!, respondendo às várias críticas em relação a Casagrande & Senzala – inclusive ao fato de ter apresentado uma casa sem sala, lugar opulento de festas e requinte, e de não ter dado significativa importância a isso –, Freyre afirmou que deixou “para outros sociólogos da História, ou historiadores tão somente, o trato de tal assunto, de quase nenhuma importância para a análise e a interpretação do complexo ou do conjunto histórico-sociológico...”49 feitas por ele. Dessa forma, Freyre explicita o limite de sua abordagem. Apesar desse limite, a contribuição de Freyre é importante para o presente trabalho na medida em que mostra a relevância da casa como chave na definição da estrutura social brasileira, e o seu conceito de estrutura familiar. Ao explicitar o limite da sua abordagem, ele aponta para a necessidade de aprofundar os estudos arquitetônico sobre as casas. Esses devem investigar como a arquitetura doméstica constitui um modo de vida como, por exemplo, nas casas construídas em Brasília nas últimas três décadas. 1.2.3. Roberto DaMatta Roberto DaMatta, como antropólogo social, faz um estudo da casa diferente da linha adotada por Freyre. Nesse sentido, ele não considera só o interior das casas, ele as analisa considerando a fronteira entre essas e a rua. Para ele, esses espaços são tidos como categorias sociológicas50 fundamentais para a compreensão da sociedade brasileira, pois elas falam da sociedade por meio de códigos sociais. Segundo DaMatta, “a casa é uma categoria que somente se define e se deixa apanhar ideologicamente com 48 FREYRE, 1979, pág. 53. FREYRE, 1979, pág. 54. 50 Categoria sociológica “é o conceito que pretende dar conta daquilo que uma sociedade pensa e assim institui como seu código de valores e de idéias: sua cosmologai e seu sistema classificatório; que a sociedade vive e faz concretamente – o seu sistema de ação que é referido e embebido nos seus valores”. DAMATTA, 1985, pág.12. 21 49 precisão quando em contraste ou em oposição a outros espaços e domínios. (...) ela só faz sentido quando em oposição ao mundo exterior: o universo da rua”51. Ao estudar a casa a partir desse elo com a rua, DaMatta explicita a defesa de um estudo da sociedade brasileira como uma sociedade relacional. Seria preciso entender essa como um sistema, onde, mais importante que “os elementos em oposição, é a sua conexão, a sua relação, os elos que conjugam os seus elementos”52. Por isso não é a casa versus a rua, mais a casa e a rua como uma situação relacional. Para ele, A casa e a rua é uma relação sobretudo complementar porque não se pode falar de casa sem mencionar o seu espaço gêmeo, a rua. Mas é preciso notar também a oposição casa/rua tem aspectos complexos. É uma oposição que nada tem de estática e de absoluta. Ao contrário, ela é dinâmica e relativa porque na gramaticalidade dos espaços brasileiros, rua e casa se reproduzem mutuamente.53 Para DaMatta, a casa e a rua “falam” da sociedade por meio de códigos sociais complementares. Para ele o “código da casa (fundado na família, na amizade, na lealdade, na pessoa e no compadrio) e o código da rua (baseado em leis universais, numa burocracia antiga e profundamente ancorada entre nós, e num formalismo jurídico-legal que chega às raias do absurdo)”54. Essa relação entre casa e rua interessa para esse estudo, especialmente a partir da maneira como DaMatta define essa relação, evidenciando sua importância. Por outro lado, os códigos sociais que caracterizam essas categorias, assim como foram definidos, podem ser diferentes de cultura para cultura e/ou sofrer mudanças ao longo do tempo. As possíveis mudanças nessa relação é uma das características a ser investigada nesse estudo. Não se pode estudar o modo de vida nos espaços domésticos em Brasília, sem considerar sua relação com o exterior: a rua. A complementariedade da casa e a rua é, tomando as reflexões de DaMatta, semelhante à relação entre o espaço público e o privado, para Prost e Vincent. A busca do entendimento de um exige, portanto, o estudo do outro. 51 DAMATTA, 1985, pág. 13. DAMATTA, 1985, pág. 21. 53 DAMATTA, 1985, pág. 47. 54 DAMATTA, 1985, pág. 20. 52 22 1.2.4. Carlos Lemos, Francisco Veríssimo e William Bittar Para Lemos, a função básica de uma casa é a de abrigo. Ela deve ser entendida “como um invólucro seletivo e corretivo das manifestações climáticas, enquanto oferece as mais variadas possibilidades de proteção”. Mas ele a considera também como um “palco permanente das atividades condicionadas à cultura de seus usuários”55. Para ele, para que essas situações domésticas, ligadas aos hábitos e práticas de uma sociedade, possam acontecer, devem ser favorecidos pelas condições propícias da edificação. Essas condições propícias, para ele, são elaboradas a partir de um programa de necessidades. Com a preocupação de entender as mudanças ocorridas nesse programa de necessidades ao longo da história, ele resgata as origens da casa brasileira fazendo o que ele mesmo chamou de “um passeio pelo Brasil ao longo do tempo visitando as várias ilhas culturais que sempre nos caracterizaram”. Ele segue: Veremos como se morou e se mora no calor úmido do norte amazônico, como se viveu no nordeste açucareiro, no sertão agreste. Na zona açucareira fluminense e nas montanhas mineiras plenas de ouro no século XVIII. E também como se morou na São Paulo do tempo dos bandeirantes. No litoral sul, de Cananéia para baixo. Quem sabe, iremos compreender melhor a casa brasileira viajando pelo tempo afora, bisbilhotando o dia-a-dia de todos.56 Nesse “passeio”, Lemos revela as várias características da casa brasileira desde as casas coloniais, passando pela casa do século XIX, chegando ao século XX. Ele baseia sua análise nos elementos condicionantes ou determinantes do partido arquitetônico, fixando-se em quatro deles: o programa de necessidades, a técnica construtiva, o clima e a intenção plástica. Ele detalha o programa de necessidades da casa da época, ressaltando o uso de cada cômodo e o seu status social dentro da casa. Nesse “bisbilhotar”, ele faz uma descrição das divisões internas das casas coloniais e explicita a função e uso de seus diversos espaços. Sua intenção é apontar as mudanças no programa de necessidades do espaço residencial, através das mudanças funcionais, até chegar às concepções e uso das casas modernistas do começo do século XX. 55 56 LEMOS, 1989, pág. 9. LEMOS, 1989, pág. 12. 23 Em sua obra Cozinhas e etc., por exemplo, Lemos faz um precioso trabalho histórico-cultural no sentido de mostrar o “caminho” percorrido por algumas dependências na estrutura da casa brasileira. Espaços como a cozinha e o banheiro - que antes eram separados da casa por questões sanitárias e, no caso da cozinha, por questões sociais - são hoje símbolos de riqueza e privacidade. Juntamente com a evolução do status desses espaços na estrutura doméstica surgiram outros cômodos, como a copa e a sala de jantar, que são também comentados por ele. Associado a essa cronologia, Lemos sempre ressaltou as mudanças tecnológicas que provocaram transformações nos hábitos do cotidiano como, por exemplo, a chegada da energia elétrica, da água distribuída por redes públicas, do gás que dispensou o fogão à lenha, até a popularização da televisão em meados do século XX. Estes são alguns exemplos dos avanços tecnológicos que mudaram o programa de necessidades do espaço doméstico nos últimos séculos, mudando também as concepções arquitetônicas das residências. Ao investigar as mudanças ocorridas no programa de necessidades, Lemos retomou a história do uso e da ocupação da casa. Reconstituiu, assim, o modo de vida nesse espaço, nos diferentes períodos históricos. Essa é uma perspectiva fundamental para o presente trabalho, pois permite entender as transformações históricas da ocupação da casa brasileira, a importância e o uso de cada cômodo e o seu papel social na estrutura doméstica. Na mesma linha de estudo de Lemos, estão os trabalhos desenvolvidos por Veríssimo e Bittar57, embora não cheguem ao nível de detalhe do uso dos cômodos, como fez Lemos. Esses autores têm o mesmo objetivo, fazer uma retrospectiva das mudanças na utilização e status dos cômodos que compuseram o espaço doméstico em 500 anos de histórica da casa brasileira, como os próprios autores o denominam. Tanto nos estudos de Lemos quanto nos de Veríssimo e Bittar, a ênfase é dada na utilização dos cômodos. Não há, portanto, uma perspectiva que contemple a relação entre os diferentes espaços da residência. Esses estudos também não estabelecem relações entre as mudanças na organização espacial e as alterações de modos de vida. Isso impõe limites para uma compreensão mais global da estrutura da casa, objetivo do presente estudo. Nos capítulos seguintes, será comentado mais pontualmente suas interpretações, à luz de novas evidências. 24 1.2.5. Geraldo Gomes, L.L.Vauthier e Marlene Milan Acayaba O trabalho de Gilberto Freyre mitificou a casa-grande dos antigos engenhos de açúcar como um ‘clássico da arquitetura brasileira’. Essa afirmação, proferida pelo próprio Freyre em 198458, instigou o arquiteto Geraldo Gomes a fazer um minucioso trabalho de levantamento histórico arquitetônico dos antigos engenhos de açúcar de Pernambuco. Nesse estudo, ele fez um apanhado histórico envolvendo questões econômicas, tecnológicas e sociais do período canavieiro, que definiram e consolidaram os engenhos como marcantes na histórica da arquitetura brasileira. Gomes fez uma análise da implantação dos edifícios, identificou os sistemas construtivos mais freqüentes e fez uma classificação tipológica desses engenhos. Classificou as casas-grandes dos engenhos de açúcar em Pernambuco em nove grupos, sendo alguns deles com sub-grupos. Como o próprio Gomes afirmou, “nessa classificação foi possível, entre outras coisas, especular sobre as prováveis origens de seus partidos arquitetônicos”59. Esse trabalho é importantíssimo para entender, por um lado, as origens de alguns elementos arquitetônicos como, por exemplo, o alpendre e a varanda, e o uso e a importância dos principais espaços na casa-grande, como salas de visitas e quartos de hóspedes. Por outro lado, apesar de não aprofundar o uso dos espaços da casa, como fez Lemos, Gomes ao se referir a esses espaços, evidenciou as rígidas regras impostas na casa-grande em relação ao espaço privado dos senhores de engenho, ressaltando, por exemplo, a formalidade existente no ato de receber visitantes e as limitações impostas a este quanto à inserção nesse espaço. As observações apresentadas por Gomes, quanto ao uso dos espaços desses edifícios apoiaram-se em estudos já feitos, dentre eles, os de Vauthier60. Segundo Freyre, “Vauthier está entre os estrangeiros que melhor têm observado os costumes da nossa gente”61. Estudioso da arquitetura colonial brasileira, Vauthier, durante os seus mais de cinco anos de residência no Brasil, produziu um precioso diário com anotações 57 VERÍSSIMO, F e BITTAR, W. 500 anos da casa no Brasil – as transformações da arquitetura e da utilização do espaço de moradia. Ediouro Publicações S.A, Rio de Janeiro, 1999. 58 Gilberto Freyre, abrindo um seminário sobre Arquitetura nos trópicos, promovido e realizado no Recife pela fundação Joaquim Nabuco em 1984. Citado por Gomes, 1998, pág.10. 59 GOMES, 1998, pág.10. 60 L.L.Vauthier - ilustre engenheiro e arquiteto francês que esteve no Brasil de 1840 a 1846. 25 sobre a casa brasileira, o qual foi publicado em revistas francesas de arquitetura, e algumas de suas cartas sobre arquitetura doméstica podem ser encontradas em Casa de Residência no Brasil62. No caso de Vauthier, esse esforço de apreensão tinha como objetivo a solução de problemas técnicos, por isso o foco eram as técnicas construtivas e os materiais usados. Segundo estudiosos como Freyre, no entanto, ele foi além disso, fazendo um precioso trabalho de investigação das influências históricas na tipologia das casas, e a origem dos materiais de construção. As suas cartas revelam sua compreensão dos aspectos sociais, históricos, ecológicos e mesmo psicológicos das construções coloniais brasileiras. Assim como Gomes e Vauthier, a preocupação com a sistematização de dados sobre a arquitetura doméstica, levou Acayaba a fazer um levantamento arquitetônico de casas em São Paulo, num período mais recente. Diferente de Lemos, Acayaba não tinha o interesse em detalhar o uso dos cômodos, mas estava incluso o interesse pelo processo construtivo. O objetivo era registrar o projeto e toda a documentação que o envolve, no sentido de revelar as mudanças ocorridas no espaço doméstico desde o processo construtivo até a intenção plástica de cada obra. Segundo ela, ao fazer tal levantamento, utilizando desenhos e fotografias de um edifício “...o objetivo é revelar o projeto, os processos construtivos, a dimensão e a disposição dos aposentos, o partido adotado e a intenção plástica implícita nessa obra”63. Nesse sentido, o trabalho de Acayaba é mais próximo do que Gomes fez com os engenhos em Pernambuco, ao revelar a tipologia das casas em São Paulo. A idéia do trabalho, segundo ela, era “constituir, a partir do levantamento de dados empíricos, uma coleção sistemática de casas, reduzida aos principais elementos de representação para mostrar a evolução da arquitetura doméstica em São Paulo no período de 1947 a 1975”64. O resultado desse trabalho foi a sistematização detalhada de material como a planta de situação, levantamentos arquitetônicos, desenhos arquitetônicos, fotografias, fichas técnicas e memoriais descritivos. Embora o enfoque dado no trabalho de Acayaba seja diferente do proposto nesse estudo, ou seja, não aprofunda o estudo da organização espacial dessas residências, o seu levantamento está entre os valiosos estudos referentes ao espaço doméstico no 61 VAUTHIER, L.L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I, FAUUSP e MEC-IPHAN, São Paulo, 1975, introdução de Gilberto Freyre, pág 3. 62 VAUTHIER, L.L., 1975. 63 ACAYABA, 1986, pág. 19. 64 ACAYABA, 1986, pág. 19. 26 Brasil. A riqueza do levantamento de Acayaba (inclusive com fotos internas das residências, além de fotos do exterior e as plantas baixas), daria, sem dúvida, um excelente material para estudo morfológico dessas residências. Tanto os trabalhos de Lemos quanto de Gomes contribuíram de maneira fundamental para o resgate das mudanças no programa de necessidade da casa brasileira. As mudanças sociais e culturais mudaram o uso de alguns espaços assim como criaram outros devida às novas exigências, como, por exemplo, a recente presença da sala de TV e o desaparecimento do quarto de hóspedes do espaço doméstico. Juntamente com Acayaba, eles registraram as mudanças de tipos da casa brasileira em diferentes períodos da história, contribuindo para o resgate histórico das mudanças desse objeto. No entanto, falou-se em mudanças no espaço doméstico (seus tipos e uso dos espaços) sem investigar como essas mudanças estavam expressas na forma de organização espacial das casas. Não se considerava também como essa organização espacial estava relacionada às mudanças de comportamento das pessoas nesse espaço. Entender melhor a relação entre a organização espacial e mudanças de uso do espaço doméstico, é a proposta deste estudo. 1.2.6. Le Corbusier e o Movimento Moderno O século XX é caracterizado por fortes mudanças que marcaram também a arquitetura. Para Kopp, a Primeira Guerra Mundial, significou um “divisor de águas de fundamental importância no que diz respeito à arquitetura, especialmente a residencial65. No contexto econômico, social e político do pós-guerra (de 1914-1918) surge a “ideologia ‘moderna’ na arquitetura e no urbanismo”66, essa ideologia estava imbuída da convicção de que se podia provocar profundas transformações no jeito de viver, via (re)organização espacial. No período do entre guerras, numa época de reconstrução, o Movimento Moderno propôs mudanças urbanísticas e arquitetônicas que implicaram novos 65 LEMOS, 1989, pág. 62. KOPP, Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. Editora Nobel, São Paulo, 1990, pág. 16. 27 66 conceitos de estética, novos materiais, novas técnicas construtivas. Mais que isto, esse movimento implicava num novo modo de vida. Para Kopp, é esse conceito fundamental de “cultura do modo de vida” que esteve na base de todas as teorias arquitetônicas e artísticas da década de vinte: “é ele que faz nascer na arquitetura formas de habitação inteiramente novas e fundadas sobre as idéias que os revolucionários – alguns deles, pelo menos – faziam da sociedade do futuro”67. Nessa perspectiva, Le Corbusier destacou-se pelas pesquisas feitas sobre novas formas de habitações. Em suas pesquisas rumo a uma proposta de um novo modo de vida, ele projetou em 1929 a Ville Savoye. Esta residência perto de Paris passou a ser expressão dos cinco pontos que ele considerou essenciais da nova concepção de arquitetura: pilotis, planta livre, fachada livre, janela corrida e cobertura plana ou cobertura jardim. Os elementos apresentado na Ville Savoye são encontrados também na sua proposta de unidades habitacionais para a Ville Radieuse, exemplo maior de suas concepções arquitetônicas e urbanísticas. Após um rigoroso levantamento sobre as necessidades básicas do ser humano para habitar, ele propôs, no projeto da Ville Radieuse, um apartamento caracterizado pela ergonomia levada ao extremo. Essa unidade habitacional é marcada pela otimização de cada centímetro quadrado de espaço, tornando-se uma síntese dos conceitos racionais de Le Corbusier para habitação. A casa é concebida então como um espaço racional, dividido em núcleos, caracterizando o conceito de funcionalidade e praticidade da proposta de moradia. O núcleo de serviço é composto por cozinha e banheiros, com seus espaços reduzidos ao mínimo. Os quartos são concebidos somente para atender à função de dormitório, por isso também com seus espaços reduzidos. Para se ter uma idéia desse nível de racionalização, nos apartamentos, além dessas características, outras medidas deveriam otimizar o espaço. As construções eram pensadas com uma certa capacidade de transformação em termos de uso noturno ou diurno, através da remoção das divisórias corrediças: “quando fechados, esses elementos subdividiam os espaços de dormir e, abertos, ofereciam uma área de lazer para as crianças que podia ter continuidade com a sala de estar”68. Nesse novo modo de vida, a racionalização era a palavra chave. Não apenas a concepção e a construção deveriam ser racionalizadas, mas também o comportamento 67 KOPP, 1990, pág. 20. 28 dos habitantes dentro das residências deveria ser racional. Para Gropius, três condições eram essenciais para essa racionalização, Viver de outra maneira, ou seja, que cada habitante tenha seu próprio quarto, não importa quão pequeno; que a cozinha seja concebida de maneira a simplificar ao máximo o trabalho doméstico e que a mobília, enfim, não imite o mobiliário burguês, mas seja, ao contrário, concebida em função de um manutenção simples, de condições de vida higiênicas e de um preço baixo. Assim, é toda a concepção de habitação que deve ser posta em causa69. Com essa nova concepção de espaço de morar, a cozinha é um dos espaços com maiores mudanças. A nova cozinha é um elemento essencial para a simplificação das tarefas domésticas. Essa lógica fazia parte de um processo que visava otimizar, higienizar e mecanizar as cozinhas. A cozinha do final do século 19 pareceria arcaica ao lado das novas “cozinhas-laboratório” destas habitações. Nessas cozinhas, as funções foram meticulosamente analisadas pelo arquiteto Gete Schütte-Lihotzky, no sentido de reduzir sua área ao mínimo necessário, contribuindo para a diminuição do tempo gasto com os serviços domésticos. Esse estudo resultou na famosa “cozinha de Frankfurt”. A cozinha de Frankfurt tornou-se símbolo dessa racionalização extremada, por meio do conceito de existenzminimum. Esta redução da área ao mínimo necessário (ou mínimo necessário à existência) foi uma preocupação que regeu toda essa concepção de habitação. Esse conceito estava tão presente que, para Argan, “qualquer fração de espaço que não seja efetivamente habitada, dimensionada para um ato humano preciso, só poderá pertubar a percepção do espaço e a clareza das sensações”70. A compreensão dos novos conceitos de modo de vida, propostos pelo Movimento Moderno, é essencial para o presente estudo, uma vez que Brasília, universo geográfico da amostra, é fruto das concepções modernistas de arquitetura e urbanismo. A Investigação sobre as influências da proposta modernista de modo de vida (ou sua negação) em casas em Brasília nas últimas três décadas é imprescindível neste trabalho. 68 FRAMPTON, K. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo, Martins Fontes, 1997, pág.216. KOPP, 1990, pág. 53. 70 ARGAN, G. Walter Gropius e a Bauhaus, 1984. Citado por TRAMONTANO, 1998, pág.52. 69 29 1.2.7. Marcelo Tramontano O século XX, considerado o século da ciência e dos avanços tecnológicos, implicou o incremento de novos equipamentos no dia-a-dia das pessoas. Alguns pesquisadores têm estabelecido como objetivo de estudo a compreensão do alcance dessa tecnologia e sua inserção no espaço doméstico, buscando compreender como elas mudam o modo de vida nas residências. Tramontano, entre eles, dedica-se ao estudo desse tema. Segundo ele, “à sociedade pós-segunda guerra restou incorporar aos seus modos de habitar as novas e ainda incipientes mídias e todo o equipamento que lhes davam suporte, efeito das revoluções tecnológicas que contavam com a ajuda certa dos profissionais de marketing”71. Em fins de século XX, as mudanças tecnológicas mudaram consideravelmente o cotidiano das pessoas, que incluíram a presença do computador, por exemplo. Em meados do século parecia impensável o seu uso doméstico devido ao tamanho e ao preço elevado desse equipamento. Hoje estão presente em muitos lares, isso indica a medida da inserção dessa tecnologia na vida cotidiana, implicando mudança de costumes. Tramontano e os membros do GHab72, investigam as mudanças comportamentais no espaço doméstico pelo que eles denominam de “novas mídias”. Essas novas mídias são novos conceitos de informação e entretenimento, que estão acessíveis, por exemplo, pelos sistemas televisivos a cabo e via satélite, pelo sistema de telefonia celular, e pela Internet73. A preocupação desses pesquisadores é entender quais os impactos desse novo modo de vida no novo espaço de morar. Eles acreditam que decorrem daí “manifestações significativas no redesenho do espaço doméstico e na redefinição de suas funções, e toma corpo a idéia de superequipamento, disseminado, principalmente, através da publicidade e do cinema”74. Segundo Tramontano, as alterações parecem limitar-se aos seguintes níveis: a) relação entre os membros do grupo familiar; b) relação entre membros do grupo familiar e as 71 TRAMONTANO, M. PRATSCHKE, A ., MARCHETTI, M. Um toque de imaterialidade: o impacto das novas mídias no projeto do espaço doméstico, 2000, pág. 3. (mimeo) 72 GHab – Grupo de Pesquisa em Habitação, da Universidade de São Paulo. 73 TRAMONTANO, M. PRATSCHKE, A ., MARCHETTI, M, 2000, Pág.2. 74 TRAMONTANO, M. PRATSCHKE, A ., MARCHETTI, M, 2000, pág. 3. 30 novas mídias; c) relação entre membros do grupo familiar e pessoas extra-grupo; d) alteração da função dos cômodos. Estes são os eixos de sua pesquisa. O estudo do modo de vida sob o impacto dessas novas tecnologias é, sem dúvida, um aspecto importantíssimo e inevitável a ser abordado no espaço doméstico, no sentido de se entender em que medida isso muda o modo de vida nesse espaço. Este é, inclusive, um dos aspectos levantados na presente pesquisa, embora não seja o foco específico. No entanto, partindo dos níveis de alterações possíveis, citados por Tramontano, é provável, como veremos, que essas mudanças estejam diretamente ligadas à configuração desses novos espaços de morar. As mudanças na relação entre os membros do grupo familiar e desses com pessoas extra-grupo significam também mudanças na configuração dos espaços domésticos, de tal forma que estes suportem bem tais mudanças nas relações pessoais. Tramontano referiu-se a um “redesenho do espaço doméstico”, implicando possivelmente uma redefinição configuracional das casas. Veremos como esse redesenho não se restringe somente ao tamanho ou ao uso de cada cômodo da residência, o que não fica claro no trabalho de Tramontano. 1.2.8. Julienne Hanson e a Sintaxe Espacial Os primeiros estudos utilizando a Sintaxe Espacial para análise morfológica do espaço doméstico surgiram com Hanson, na década de 1970. Ela estudou edifícios e entre eles várias casas inglesas e francesas em diferentes períodos históricos. Suas publicações viraram referência para o estudo morfológico de casas por sistematizar as técnicas da Sintaxe Espacial para análise deste tipo de edifício. Entre outras análises, ela estudou casas de arquitetos famosos do Movimento Moderno, como de Loos (Casa Muller), Meier (Casa Giovannitti), Botta (casa em Pregassona) e Hejduk (Casa Diamond), e casas de arquitetos em Londres. Hanson e Hillier defenderam a importância do estudo da morfologia, sob o enfoque dado pela Sintaxe Espacial, para o projeto em arquitetura. Segundo eles uma “falta de compreensão da natureza precisa da relação entre organização espacial 31 [morfologia] e vida social é o obstáculo principal a um projeto melhor”75. Defenderam a importância dessa área de estudo para a arquitetura, como forma de aliar conhecimento teórico à competência da intuição arquitetônica. No Brasil, alguns pesquisadores estão desenvolvendo trabalhos nessa área com intuito de identificar as diferenças configuracionais existentes na arquitetura doméstica brasileira. Esses estudos contribuem e complementam as pesquisas anteriores sobre residências ao revelar a estrutura do espaço doméstico sob um outro enfoque. Estudam as casas a partir da sua configuração, ou seja, é entendida como um sistema de relações entre os espaços que as compõem. Para se ter uma idéia, em recente estudo, Trigueiro investigou a afirmativa de que os sobrados – característicos da arquitetura doméstica colonial – constituíam um único tipo. Essa afirmativa foi primeiramente feita por Vauthier, referindo-se à tipologia das casas coloniais, quando de suas anotações sobre a casa brasileira, no início do século. Segundo ele, “quem viu uma casa brasileira viu todas”76. Lemos ao estudar os sobrados paulistanos, na mesma linha de Vauthier, referiuse às divisões internas da casa colonial urbana, afirmando que “a casa popular urbana dos tempos coloniais praticamente teve a mesma planta pelo Brasil em geral, embora as técnicas construtivas tenham sido diversificados”77. Em relação aos sobrados coloniais em Pernambuco, aos quais Vauthier se referiu, Trigueiro constatou que essa premissa de semelhança generalizada estava equivocada. Segundo ela, os resultados obtidos desautorizam a premissa de que o sobrado colonial constituiu um tipo único demonstrando, sobretudo, que, para além de uma aparente semelhança geométrica e estilística, a análise de configuração espacial revela modelos estruturais, plenos de significados sócio-culturais, cujas sutilezas muitas vezes escapam às formas tradicionais de representação e leitura.78 As conclusões de Trigueiro mostram a importância da análise da configuração espacial do edifício. Ao concluir que, embora haja características comuns, as muitas diferenciações na estrutura espacial dos sobrados indicam que estes não constituíram 75 No original: “...a lack of understanding of the precise nature of the relation between spatial organization and social life is the chief obstacle to better design”. HILLIER, e HANSON,. 1984, pág. X – prefácio. (minha tradução). 76 VAUTHIER, 1975, pág. 37. 77 LEMOS, C. Alvenaria Burguesa: breve história residencial de tijolos em São Paulo a partir do ciclo econômico liderado pelo café. Editora Nobel, São Paulo, 2ª edição, 1989a, pág. 32. 32 um tipo único: os sobrados urbanos, por exemplo, são mais hierarquizados, não permitindo acessos alternativos, enquanto os sobrados semi-urbanos e a casa de sítio são mais integrados ao exterior, modificando a hierarquia espacial antes referida. Além desse trabalho, Trigueiro têm uma vasta pesquisa sobre espaços domésticos com o intuito de fazer um banco de dados sobre o assunto. Essa sistematização envolve o estudo de casas de vários períodos arquitetônicos, desde casas do período colonial, eclético, moderno, até casas contemporâneas79. Outro importante trabalho, também sobre casas no Recife, foi feito por Monteiro. Nele ela fez uma análise do padrão espacial das atividades domésticas, de diferentes grupos sociais, baseadas na análise de cada estrutura residencial. Ao mapear as atividades no espaço doméstico, ressaltou a importância da diferença entre o rótulo do espaço e sua ocupação. Na grande maioria das vezes a definição do cômodo da casa não explicita as atividades que nele acontecem. No presente estudo, para o entendimento do modo de vida se fez necessário mapeamento similar e, de fato, as categorias de atividades para tal mapeamento foram inspiradas no trabalho de Monteiro. Na mesma linha de pesquisa, Amorim estudou diversas casas em Pernambuco. Em sua pesquisa de doutoramento, dedicou-se ao estudo da relação espacial entre os “setores” das residências. Estudou como os setores íntimo, social e de serviço configuram a estrutura dos espaços domésticos em Recife. Para esse estudo, Amorim trabalhou com uma amostra de 14 casas coloniais, 32 casas ecléticas e 204 casas modernas. Em recente trabalho, Amorim discutiu outras variáveis morfológicas para o estudo das residências e ressaltou a importância de estudar os setores como importante aspecto da estrutura espacial doméstica. Afirmou que os setores “podem expressar muito das intenções dos projetistas e habitantes em isolar fortemente os diferentes setores, diferentes categorias de usuários...”80. Para esse trabalho, é de interesse o estudo feito por ele sobre as casas de arquitetos modernista em Recife, pois serão usados como parâmetros para análise. 78 TRIGUEIRO, E.B.F. Sobrados coloniais: um tipo só?. Pág. 7. (mimeo). TRIGUEIRO, E.B.F. The dinner procession goes to the kitchen: a suntactic approach to nineteenth and early twentieth century British houses. In: Anais do 1º International Space Syntax Symposium, Volume II, Londres, 1997, pág. 19.1ss. 80 No original: “can express many of the intentions of the designers and inhabitants by strongly isolating different sectors, differents categories of users...”. AMORIM, L. Houses of Recife – From diachrony to Synchrony, In: Anais do 3º International Space Syntax Symposium, Atlanta, 2001, pág. 3. (mimeo) 33 79 Esse rápido panorama ilustra a diversidade de estudos sobre os diferentes aspectos do espaço doméstico, envolvendo desde de suas características sócioantropológicas, suas formas de ocupação e uso, até sua organização espacial. Essas são algumas características que fazem do espaço doméstico um complexo objeto de estudo. Se, por um lado, ele se mostra carregado de significados, por outro, ele possui características físicas (ou morfológicas), concretamente relacionadas à maneira como as atividades acontecem. Diante desse panorama, não é a pretensão desse estudo responder a todos os questionamentos levantados nos diferentes trabalhos. A intenção é explicitar algumas diferenças de abordagem, sistematizar suas contribuições para esse estudo, e sua pertinência ao tema proposto. Lemos, na introdução do livro Alvenaria Burguesa, chamou a atenção para os cuidados necessários ao estudar a casa, dada a interdisciplinariedade do tema. Para ele, “a gama de conhecimentos necessários ao pleno entendimento do tema proposto, como se verá, está a exigir de um simples professor de história da arquitetura um saber muito além de suas limitações”81. De fato, há razões para tanto cuidado. Entretanto, a compreensão de alguns aspectos do espaço doméstico, sob esse enfoque arquitetônico, exige que fronteiras interdisciplinares sejam tocadas. Como observou Monteiro, Hillier e Hanson argumentaram que a principal dificuldade no estudo do espaço, é o paradoxo de encontrar a relação entre o “sujeitos” imateriais abstratos (parte subjetiva) e um mundo material de “objetos” (parte objetiva)82. Entender essa situação relacional, que exige essa interdisciplinariedade, é o desafio deste estudo. 81 LEMOS, C.1989a, pág.7. No original: “Hillier and Hanson (1984) argue that the main difficulty rests in the paradox of finding a relation between abstract immaterial “subjects” and a material world of “objects’. What is to be sought is a relationship between the ‘social’ subject (whether individual or group) and the spatial object acting as distinct entities: space is desocialised at the same time as society is despatialized” (Hillier and Hanson, 1984) citado por MONTEIRO, C. 1997, pág. 20-1. 34 82 1.3. Contexto social e geográfico O universo estudado neste trabalho é composto por residências unifamiliares localizadas no Distrito Federal, mais precisamente no Plano Piloto de Brasília e em algumas cidades satélites. As casas, num total de 27, estão assim distribuídas: a) Plano Piloto - 9 casas no Lago Sul, 5 casas no Lago Norte, 1 casa na W3 Sul, Asa Sul; b) Cidades Satélites - 4 casas em Taguatinga; 2 no Guará I; 1 no Guará II; 1 em Sobradinho; 1 em Samambaia; 1 no Parkway e 1 no Condomínio Santa Bárbara, próximo à Escola Fazendária; c) uma entrevistada não informou a localidade. A Figura 1 mostra o mapa do Distrito Federal, onde, os pontos na cor vermelha indicam a localidade das residências. Figura 1 35 A escolha por residências unifamiliares, é resultado da convicção de que casas apresentam maior possibilidade de configuração que expressa a escolha do habitante pela forma de organização do espaço. Isto é, num apartamento, a configuração padrão para vários moradores pode, por um lado, impor uma configuração espacial e, por outro, inibir o que poderia ser a vontade dos moradores por uma organização mais idiossincrática do espaço. Em Brasília, essa imposição é ainda mais freqüente uma vez que existem poucas variações de plantas de apartamentos, especialmente no Plano Piloto. Mesmo que estes sejam reformados, o que geralmente acontece, as possibilidades de mudanças na configuração espacial são limitadas. As possíveis mudanças não constituem um perfil que expressa as particularidades encontradas nas casas, embora seja claro que esse universo constitua, igualmente, um ótimo objeto de estudo. Quanto às casas, entretanto, por mais que o projeto sofra interferência dos arquitetos, por sobre as aspirações das famílias, ou sofra influência de revistas de arquitetura ou de quaisquer outras fontes, a residência unifamiliar ainda permite uma maior escolha do habitante por uma ou por outra configuração, quando não a busca por um projeto exclusivo. Essa busca por (assim como a maior possibilidade de) exclusividade, torna a investigação de um possível genótipo83 (que é uma hipótese do trabalho), mais interessante. Nesse sentido, essa amostra revelou uma característica importante: mais de 80% dos entrevistados classificaram como “bom” e “muito bom” morar nas casas, e mais de 33% dizem não querer mudar absolutamente nada nelas. Esses altos índices de satisfação dos entrevistados indicam a grande aceitação das residências, inclusive de moradores para os quais as casas não foram projetadas, que de fato constituem a maioria, pois 55,5% delas não foram projetadas para as famílias que as ocupam. Dentre os argumentos que justificam essa satisfação foi mencionado o fato da casa ser “confortável”, “aconchegante” e “espaçosa”. A maioria das residências são de casas acima de 200m2 - cerca de 59,6%, dessas, quase 20% estão acima de 500 m2 de área construída. Essas casas foram construídas a partir da década de 1970. Cerca de 18% são da década de 1970, mais de 37% são construções da década de 1980 e cerca de 45% são da década de 1990. 36 Quanto à composição familiar da amostra, esta se apresenta, relativamente diversificada. Encontra-se famílias monoparentais, casais com dupla renda sem filhos84, e famílias nucleares. A predominância é ainda da família nuclear (70% dos casos), seguida de famílias monoparentais (14%) e de casais sem filhos (3,70%)85. Nessa composição familiar, a maior renda ainda é a do pai, em mais de 59%, seguido pela mãe com cerca de 18%. Para a coleta de dados foram escolhidos estudantes de cursos de arquitetura e urbanismo. A escolha desse público é resultado, unicamente, de questões operacionais. A perspectiva era alcançar um público que oferecesse pouca resistência à abordagem e capaz de fornecer, com maior facilidade, dados como, por exemplo, a planta baixa das residências. A escolha de alunos do primeiro, segundo e terceiro semestres, deu-se devido à preocupação em atingir um público mais “desinteressado”, ou seja, sem vícios de interpretação do contexto ora estudado, garantindo assim uma maior idoneidade das informações. A preocupação em diversificar a amostra, para que esta não fosse reduzida aos alunos da UnB – Universidade de Brasília, levou à coleta de dados em outras duas faculdades: na IESPLAN – Instituto de Estudos Superiores Planalto e UniCeub – Centro Universitário de Brasília. No IESPLAN e no UniCeub, os dados foram coletados em diferentes turnos letivos. No Uniceub, os dados são dos alunos do segundo período vespertino e no IESPLAN do segundo período noturno. Na UnB, foram coletados dados no primeiro período e no terceiro período letivos. A escolha do público alvo, entretanto, já se constituiu num recorte da classe social que compõe o universo em estudo. Das famílias entrevistadas, cerca de 74% têm renda familiar acima de 20 salários mínimos. Entre esses, o maior índice, 33,33%, são de famílias com renda acima de 50 salários mínimos. Dados do IBGE indicam que, para a região centro-oeste, somente 6,5% das famílias estão classificadas nesse rendimento mensal. Outra informação importante é o grau de instrução dos moradores. A pessoa com maior renda na casa têm terceiro grau completo, cerca 60% dos casos. O segundo maior 83 Genótipo é um conceito, emprestado da biologia e usado pela Sintaxe Espacial, para identificar um grupo com característica recorrentes, um código para identificar os objetos estudados. 84 DINKS - double income no kids . Cfr. TRAMONTANO, 2000, pág. 2. 37 índice é de pós-graduados, cerca de 22%, e na seqüência, de terceiro grau incompleto, cerca de 11%. Essas informações colocam as famílias da amostra numa classificação social bem acima da média. Como veremos no capitulo 3, o universo estudado é tipicamente de classe média, o que resulta num objeto propício para essa investigação, uma vez que é nessa classe social onde estão expressas as novas concepções de uso, conforto e tecnologia, graças aos recursos financeiros característicos dessa classe social. As possíveis mudanças configuracionais e comportamentais podem ajudar a entender as tendências mais recentes, particularmente se comparadas às residências modernas estudadas por outros autores. Estaremos diante de um genótipo pós-moderno? 85 O restante, cerca de 12% não informaram. 38 Capítulo 2 - O método O meu intento não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir a sua razão, mas somente mostrar de que maneira procurei conduzir a minha. Descartes O estudo do espaço doméstico, sob a ótica do presente trabalho, ou seja, considerando sua sintaxe, assim como o modo de vida que nele se desenvolve, requer dois níveis de análise. O primeiro nível será constituído pela análise da casa a partir de dados referentes à maneira como a família vive nesse espaço, seus costumes, seu dia-adia. O segundo será constituído pela análise da configuração desse espaço. O primeiro nível têm como objetivo fazer uma aproximação do modo de vida; entender como as pessoas utilizam os espaços, quando, para quê e por quem são ocupados, e o grau de satisfação em relação ao espaço habitado. A partir daí, a investigação é uma tentativa de mapear como se dão as interfaces sociais no complexo estudado. Para isso, os dados foram coletados em duas etapas: a) a aplicação de questionários; b) entrevistas com público selecionado a partir dos questionários. No segundo nível, o espaço será analisado a partir da sua sintaxe. Essa análise possibilitará conhecer a casa numa outra dimensão. Não a dimensão social lato senso, como no primeiro momento, mas determinadas características físicas, ou seja, um estudo de sua configuração em termos de barreiras e permeabilidades que conformam tipos de acesso diferenciados – mais ou menos diretos – entre os cômodos. Essa etapa será feita a partir da análise das plantas baixas das residências e de sua implantação. Os dados para análise configuracional foram coletados com a aplicação dos questionários, quando foi solicitado aos entrevistados que desenhassem as plantas de suas casas. O estudo dessa dimensão propicia uma leitura das casas como sistemas formados por espaços ou ambientes que se relacionam. Será possível ver como a lógica destes sistemas está relacionada com as interações sociais descritas no primeiro momento. 39 2.1. Utilização e Ocupação dos espaços No espaço doméstico, são muitas as variáveis envolvidas para caracterização de um modo de vida, conforme visto nas pesquisas envolvendo a casa. Contudo, e ciente da complexidade do objeto, o que se pretende explorar nesse estudo é a maneira como as pessoas vivem e utilizam esse espaço, buscando identificar um determinado estilo de vida através das relações sociais ocorridas em seu interior. Essas relações serão analisadas sob três aspectos: a) relação entre os habitantes; b) relação desses habitantes com os visitantes; c) relação dos habitantes com empregados. Segundo Hanson, “casas são sensíveis a relações sociais somente quando constróem e contêm interfaces entre diferentes tipos de habitantes e diferentes categorias de visitantes”86. O visitante é todo aquele que não faz parte do grupo que mora na residência. Para entender essas relações sociais, a aplicação de questionários e as entrevistas procuraram identificar quais espaços são mais usados e quais são menos usados pelos habitantes. Identificar também quais são os espaços mais usados para receber visitantes e quais são, normalmente, os espaços inacessíveis a eles (para maiores detalhes ver o questionário de pesquisa no Anexo 1). Com o propósito de caracterizar melhor a utilização desses espaços, foram elaboradas questões referentes às atividades que são realizadas. As atividades foram agrupadas em cinco categorias87: 1) tarefas domésticas (cozinhar, lavar louça, lavar roupa e passar); 2) lazer passivo (ver TV, ler, ouvir música, jogos de computador, fazer ginástica)88; 3) lazer interativo (encontrar amigos, beber, namorar); 4) necessidades comuns (tomar café, almoçar, jantar), e 5) necessidades privadas (escovar dentes, tomar banho, dormir, repousar, fazer amor). Outra maneira utilizada para caracterizar o uso do espaço foi mapear a localização dos equipamentos que fazem parte do cotidiano das pessoas. Para isso foi 86 No original: “Houses are sensitive to social relations only insofar as they construct and constrain interfaces between different kinds of inhabitant, and different categories of visitor.” HANSON, 1998, pág. 77. (minha tradução). 87 Essas categorias foram sugeridas por MONTEIRO, 1997, pág. 20.3. 40 incluída uma questão sobre a localização de tais objetos. Apenas alguns equipamentos foram incluídos como, por exemplo, televisão, aparelho de som, computador e aparelho de ginástica, porque esses equipamentos podem, mais diretamente, indicar mudanças de comportamento e de utilização dos diferentes espaços da casa. Foram incluídas ainda outras questões procurando saber se as pessoas entrevistadas gostam ou não do bairro e da casa onde moram, tendo por objetivo pesquisar o grau de satisfação do lugar habitado. Esse conjunto de questões – entre outras presentes no questionário - tem como objetivo retratar as atividades no espaço doméstico, possibilitando assim um mapeamento dessas atividades. Os dados coletados foram digitados e compõe um pequeno banco de dados89, servindo de base para a análise do presente trabalho. De posse dos resultados dos questionários, foram selecionados cerca de 20% da amostra para entrevistas semi-estruturadas. Essas entrevistas tiveram como objetivo aprofundar algumas informações dadas no questionário, permitindo melhorar a aproximação quanto à maneira como vivem os habitantes das residências. Elas foram feitas através de um roteiro que tinha por objetivo fazer com que as pessoas descrevessem em detalhes as atividades de um dia comum e de um final de semana. Ao descrever, elas deveriam explicitar porque os espaços foram escolhidos (em função da resposta dada no questionário), o que os caracteriza para tal atividade, a sua decoração etc. (para maiores detalhes ver o roteiro de entrevistas no Anexo 2). As casas selecionadas foram: as casas 3, 16, 17, 18 e 26. Essas casas foram selecionadas porque formam uma amostra representativa da diversidade encontrada no conjunto estudado. Essa diversidade foi estabelecida a partir de alguns critérios: a) configurações mais e menos permeáveis; b) configurações mais e menos setorizadas, ou seja, plantas que apresentam os setores de serviço, social e íntimo claramente separados, ou não; c) casas com diferentes tamanhos, em termos de área construída; d) casas em diferentes localidades. O alcance desse processo investigatório é limitado pelo nível de detalhamento de algumas atividades. Esse limite é o que Tramontano, em seu estudo sobre o modo de vida, chamou de atividades que acabam “ficando de fora”, como os diversos níveis, 88 O termo "lazer passivo" refere-se a atividades que, embora possam ser feitas coletivamente, não têm um caráter de interação direta entre as pessoas. 89 Banco de dados feito pela autora no aplicativo ACCESS, no Windows 98. 41 formatos e natureza das relações entre os membros do grupo. Para ele, esses níveis seriam constituídos por uma conversa entre pai e filho, o namoro dos adolescentes, as confissões entre irmãs, a atividade sexual de todos, das relações sexuais entre os pais aos momentos solitários dos filhos de exploração do próprio corpo, as longas conversas entre coabitantes... A tentação de inseri-las na esfera do entretenimento é grande, mas seria reduzir sua importância no próprio cotidiano das pessoas90. 2.2. A Sintaxe Espacial A Sintaxe Espacial tem suas origens no início dos anos de 1970, como visto anteriormente. Segundo Holanda, a expressão “Sintaxe Espacial” apareceu pela primeira vez no artigo “Space Syntax”91, publicado em 1976, embora alguns textos anteriores de Hillier e Leaman já apresentassem as idéias básicas ali discutidas. Entretanto, a mais completa sistematização dos conceitos, das categorias analíticas básicas e do referencial epistemológico da teoria, foi feita no livro The Social Logic of Space92, de Hillier e Hanson, editado em 1984. A Sintaxe é definida por Hillier e Hanson como “uma metodologia, ou um conjunto de técnicas para a representação, quantificação e interpretação da configuração espacial em edifícios e assentamentos”93. Segundo Loureiro, ela procura demonstrar, tanto empírica quanto teoricamente, a autonomia do objeto estudado para, em seguida, argumentar que é através da compreensão desta autonomia que se pode entender a forma material da cidade e do edifício, como um aspecto intrínseco de sua existência social94. Isto é, ela parte do pressuposto de que uma determinada configuração espacial tem características intrínsecas que suportam melhor determinados comportamentos e 90 TRAMONTANO, 1998, pág.231. HILLIER, B, A LEAMAN, P. STANSALL e M. BEDFORD. “Space Sintax”, Environment & Planning, 1976. Citado por HOLANDA, 1997, pág. 75. 92 HILLIER e HANSON. The social logic of space, Cambridge University Press, Cambridge, 1984. 93 No original: “...set of techniques for the representation, quantification and interpretation of spatial configuration in buildings and settlements” (HILLIER, B. e HANSON, J. e GRAHAM, H. Ideas are in things: an application of the space syntax method to discovering house genotypes, in: Enviroment and Planning B: Planning and Design, 1987, v.14, pág. 363.) (minha tradução). 94 LOUREIRO, C. Classe, controle, encontro: o espaço escolar. Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999, p. 50-51. (mimeo). 42 91 relações humanas. Ela será utilizada, portanto, como uma metodologia capaz de explicitar a relação entre os espaços residenciais e suas formas de uso e convívio. Nesse sentido, a partir da análise da configuração espacial das residências, podese entender como as mesmas, ao longo da história, responderam ou não a determinadas expectativas sociais em relação ao espaço. O conceito de configuração é de fundamental importância na Sintaxe Espacial. Para Hanson, relações espaciais existem onde há algum tipo de ligação entre dois espaços. Configuração existe quando as relações existentes entre dois espaços são mudadas de acordo como relacionamos cada um a um terceiro ou a qualquer número de espaços. Descrições configuracionais, portanto, trabalham com a maneira pela qual um sistema de espaços está relacionado para formar um padrão, em vez de [trabalhar] com as propriedades mais localizadas de qualquer espaço particular95. A teoria da Sintaxe Espacial possibilita estudar o espaço a partir do sistema de relações espaciais – de proximidade, distâncias, circunscrição, seqüenciamento etc - que constitui o edifício ou assentamento. Isso é possível a partir da topologia, por isso, adota-se uma análise topológica, ao invés de geométrica, nessa abordagem do espaço arquitetônico. Os pesquisados da Sintaxe acreditam que esta é uma das maneiras que melhor permitem estudar as relações entre configurações espaciais e os sistemas de encontros (e distanciamentos) que se dão entre as várias categorias de pessoas. A Topologia é uma das mais recentes áreas de estudos na matemática. Embora vários matemáticos tenham contribuído para o desenvolvimento dessa área, a maior referência é sem dúvida Poincaré96. Ele dedicou-se a um dos ramos da Topologia, a chamada topologia combinatória, também chamada de Analysis situs97. A topologia combinatória “é o estudo de aspectos qualitativos intrínsecos das configurações espaciais que permanecem invariantes por transformação”98. Uma transformação topológica é, por exemplo, a deformação de um balão sem furá-lo ou rasgá-lo. 95 No original: “Spatial relations exist where there is any type of link between two spaces. Configuration exists when the relations which exist between two spaces are changed according to how we relate each to a third, or indeed to any number of spaces. Configurational descriptions therefore deal with the way in which a sustem of spaces is related together to form a pattern, rather than with the more localised properties of any particular space" HANSON, 1998, pág.23. (minha tradução). 96 Poincaré - famoso matemático, nasceu em Nancy - França, em fins de século XIX e morreu em 1912. Ver BOYER, C. B. História da Matemática. Editoria Edgard Blücher Ltda. São Paulo, 1996. 97 Analysis situs - livro de Poincaré, publicado em 1895 que virou referência para os estudos em topologia, por ser o primeiro a fornecer um desenvolvimento sistemático do assunto. BOYER, 1996, pág. 420. 98 BOYER, 1996, pág. 420. 43 Hillier, referindo-se à simetria - uma das propriedades da topologia que é fundamental também para a Sintaxe Espacial - ressalta que “um objeto possui simetria se ele mantém sua forma depois de alguma transformação”99. Por isso, a topologia é popularmente chamada de “geometria de borracha” ou também de “geometria sem medidas”, pois para ela “a natureza dos elementos não tem importância, só as relações entre os elementos são importantes”100. Dessa forma, o conceito topológico é adotado na teoria da Sintaxe Espacial porque lida com o espaço do ponto de vista das suas relações. Para Boyer, a topologia é “um dos mais favorecidos e fecundos campos de pesquisa no século XX. Ao lidar com aspectos matemáticos mais qualitativos do que quantitativos, ela rompe com o estilo prevalecente na análise matemática do século XIX”101. A utilização da topologia, portanto, dá à teoria da Sintaxe Espacial uma característica inovadora. 99 STEWART e GOLUBITSKY, Fearful simmetry. Citados por HILLIER in: Space is the machine – a configurational theory of architecture. Cambridge University Press. Cambridge.1996, pág. 103. 100 BOYER,1996, pág. 432-433 101 BOYER, 1996, pág. 420 44 2.2.1. Técnicas e conceitos básicos da Sintaxe Espacial Para ser estudado como um sistema, o espaço doméstico é decomposto em unidades elementares. No caso da Sintaxe, esta decomposição pode ser feita em unidades de uma dimensão, chamadas de linhas axiais, em unidades de duas dimensões, chamadas de espaços convexos e em unidades de três dimensões, chamadas campos visuais102. A Sintaxe propõe, assim, três níveis possíveis de análise. A técnica adotada nesse estudo, no entanto, será a da convexidade, uma vez que o que se pretende estudar é a maneira como as pessoas usam ou ocupam o espaço, onde elas se agrupam e o que fazem nesse local. A decomposição do espaço será feita, portanto, em unidades bi-dimensionais, ou espaços convexos, a partir da planta baixa das residências. Os espaços convexos são unidades de duas dimensões, circunscritas por polígonos convexos, ou seja, polígonos que não podem ser cruzados por segmentos de retas em mais de dois pontos. A Figura 2a ilustra essa definição, enquanto a Figura 2b, ilustra o que seria um espaço côncavo. Figura 2 a Figura 2b Figura 2 - ilustrando a definição de espaço convexo. cf. Hillier e Hanson, 1984, pág. 98. 102 Para Hanson, as pessoas movem-se ao longo de linhas axiais, formam grupos em espaço bidimensionais - elementos convexos - e vêem em três dimensões, os campos visuais ou isovistas. Segundo ela, as organizações convexa e axial são as dimensões arquiteturais do espaço. A convexidade relata a casa como espaço de repouso ou permanência e a organização axial expressa a estrutura da casa em relação ao movimento. HANSON, 1998, pág. 242 e 243. 45 A figura 3 é um exemplo de uma planta baixa decomposta com a técnica da convexidade. Figura 3 a – Planta Baixa 37- quintal 5 25- garagem 24- lavanderia 36- quintal 4 35- quintal 3 7- copa / cozinha 21- quarto 4 22- banho 4 20- c6 6- átrio 23- escada 3 27- mezanino 26- escrit 1 19- escada 2 8- escada1 18- c5 9- c1 33- jardim int 2 29- ban 3 2- c4 10- c2 15- ban 2 12- ban 1 14- c3 11- c4 28- roupeiro 32- jardim int 3 1- vestíbulo 4- sala 38- quintal 1 5- varanda 3- lav. 13- quarto 1 30- quarto 3 17- escrit 2 16- quarto 2 34- quintal 2 31- jardim int 1 39 - Exterior Figura 3b - Planta de convexidade, e as permeabilidades entre os espaços, cf. Holanda, 1999, pág. 3 e 5. 46 Da decomposição da planta baixa em espaços convexos, conforme figura 3, são tiradas as relações diretas de permeabilidade e impermeabilidade entre os espaços. Para detectar essa relação, algumas medidas sintáticas foram criadas a partir das chamadas relações configuracionais básicas entre os espaços. Essas relações configuracionais básicas são chamadas de simetria e assimetria, distributividade e não-distributividade. Uma relação é simétrica, quando um espaço ‘a’ está para um espaço ‘b’ assim como o espaço ‘b’ está para o espaço ‘a’, com respeito a ‘c’; assimétrica é quando ‘a’ não está para ‘b’ como ‘b’ está para ‘a’, no sentido que um controla a permeabilidade do outro a partir de um terceiro espaço ‘c’. Uma relação é distributiva entre ‘a’ e ‘b’ se existe mais que uma rota independente entre eles, incluindo uma passagem, pelo menos, por um terceiro espaço ‘c’. É não-distributiva entre ‘a’ e ‘b’ se existe algum espaço “c”, através do qual, necessariamente, deve passar a rota de ‘a’ para ‘b’103 (a figura 4 ilustra essas relações). Figura 4 - Ilustração das relações de simetria e distributividade, cf. Hillier e Hanson, 1984, pág. 148. Para melhor compreender essas definições, a figura 4 mostra cinco situações das diferentes relações entre os espaço a, b, c, d e suas respectivas representações. É possível observar que: i) mostra ‘a’ e ‘b’ numa relação simétrica e distributiva com ‘c’; ii) mostra ‘a’ e ‘b’ numa relação simétrica e não-distributiva com ‘c’; iii) mostra ‘a’ e ‘b’ numa relação não-distributiva e assimétrica com ‘c’; iv) mostra uma relação mais complexa, onde ‘a’ e ‘b’ são simétrico cada um em relação a ‘c’, mas ‘d’ é um espaço assimétrico em relação a ‘c’ e ambos assimétricos em relação respeito a ‘c’; v) mostra ‘d’ é não-distributivo e assimétrico com ‘a’ e ‘b’ os quais permanecem simétricos cada um em relação a ‘d’ (ou a ‘c’)104. 103 104 HILLIER e HANSON, 1984, pág. 148. HILLIER e HANSON, 1984, pág. 148-149. 47 Esse é o ponto de partida para a representação e análise de permeabilidade, feitas a partir dos grafos. Um grafo é a representação de um sistema onde elementos, e conexões entre eles, estão envolvidos (ver detalhamento adiante). As relações de permeabilidade e impermeabilidade, representadas nos grafos, são consideradas as dimensões básicas da configuração do espaço. Nesse sentido, os grafos são importantes representações das relações de simetria e distributividade entre os espaços, conforme definição anterior. Eles representam os passos sintáticos dentro de um sistema, ou seja, explicitam as propriedades de acessibilidade relativa entre os espaços através de uma rede de permeabilidades. Essa representação do edifício por meio do grafo de permeabilidade é originada da Teoria dos Grafos, aplicada aos estudos morfológicos em arquitetura105, como observou Loureiro: Esse tipo de representação, desde a década de 60, tem sido largamente aplicado em estudos preliminares das solicitações funcionais a serem atendidas, a partir do programa funcional, onde necessidade e suas inter-relações são inicialmente listadas(...). Apresenta a vantagem de facilitar a manipulação de um número relativamente grande de restrições ao processo de geração de formas, por permitir o uso de computadores nesta análise, partindo de uma matriz de relações que contempla todas as necessidades (de natureza diversas) contidas no programa, permitindo avaliar compatibilidades e incompatibilidade.106 Nessa rede de permeabilidade, os espaços convexos são representados por círculos e a relação de permeabilidade entre dois ou mais espaços são representados por uma linha. Um grafo pode ser construído a partir de qualquer espaço do sistema. Quando um espaço é escolhido, o grafo é chamado “justificado”, em relação àquele espaço. A figura 5 é exemplo de grafo justificado. Segundo Hillier, a grande vantagem dos grafos é que eles tornam as propriedades sintáticas básicas de simetria/assimetria, distributividade/não- distributividade muito óbvias e eles permitem também uma fácil mensuração dessas propriedades sintáticas. Para ele, os grafos justificados “permitem uma forma de análise que combina o deciframento visual de padrões com procedimentos de quantificação”107. 105 Ver STEADMAN, 1983; STEADMAN, 1976; MARCH, 1976, entre outros. Citados por LOUREIRO, 1999, pág. 183. 106 LOUREIRO, 1999, pág. 183. 107 No original: “allow a form of analysis that combines the visual decipherment of pattern with procedures for quantification”. HILLIER e HANSON, 1984, pág. 149. 48 O estudo dos grafos justificados pode ser feito a partir de suas propriedades configuracionais: a) profundidade - é uma propriedade examinada de três pontos de vista: i) a profundidade de um determinado espaço em relação a outro determinado espaço do sistema, é dada pela mínima distância que pode ser percorrida entre os dois. Essa distância, entretanto, não é métrica, mas sim topológica, ou seja, é computada em termos do número de passos sintáticos (isto é, espaços intervenientes) necessários minimamente para nos movermos de um ponto para outro; ii) a profundidade média de um determinado espaço em face do sistema inteiro é dada pela média das profundidades deste espaço em relação a todos os outros, computadas segundo procedimento descrito no item i) acima; iii) profundidade média do sistema é dada pela média das profundidades médias de todos os espaços do sistema, computadas segundo procedimento descrito no item ii) acima. Os valores de profundidade referidos nos itens ii) e iii) constituirão a base para a medida fundamental da Sintaxe Espacial, ou seja, a integração, como veremos posteriormente. b) forma anelar ou árvore - outro aspecto importante dos grafos é sua forma, a medida em que este é anelar ou em árvore. Uma estrutura é anelar quando possui rotas alternativas formadas por espaços que se comunicam entre si. Um anel é formado quando pode-se partir de um determinado espaço por uma direção e voltar-se a ele por outra. Um sistema é em árvore quando não possui anéis. Isso significa que os espaços desse sistema têm o acesso mais controlado, uma vez que há uma única rota possível entre cada espaço e todos os outros do sistema. A Figura 5 apresenta exemplos de sistemas com diferentes tamanhos (quantidade de espaços convexos), mesma distância relativa ao exterior, e com estruturas muito diferentes. O grafo 1 é tipicamente anelar e o grafo 2 é tipicamente em árvore. 49 Grafo justificado1 – residência com 37 espaços convexos Grafo justificado2 – residência com 16 espaços convexos Figura 5 – Grafos justificados. Cf.: FRANÇA, Franciney Carreiro. Análise sintática de espaços domésticos no Distrito Federal. In: Cadernos Eletrônicos da Pós, página da Rede Mundial, Brasília, 1999, pág. 9. c) os tipos de espaços pelos quais são formados - os grafos podem ser estudados também pelos tipos de espaços que os compõem. Os tipos de espaços são classificados em termos de suas relações de permeabilidade. São eles: i) tipo ‘a’ são espaços com uma única ligação e podem ser chamados de ‘terminais’; ii) tipo ‘b’ são os espaços com, pelo menos, duas ligações e que fazem parte de um sub-complexo ‘em árvore’, ou seja, fazem a ligação ou o caminho para espaços terminais; iii) tipo ‘c’ são espaços que fazem parte de um ‘anel’ simples; iv) tipo ‘d’ espaços que pertencem, pelo menos, a dois anéis. A figura 6 ilustra estes vários tipos. Figura 6 - Grafo ilustrando os tipos de espaços em função de suas conexões, cf. Hillier. 1996, pág. 318. Hillier sugeriu que existe uma relação fundamental entre o tipo de espaços convexos e o tipo genérico de comportamento humano em edifícios. Esse tipo genérico é caracterizado por ocupação e movimento. Ocupação é mais conveniente para o espaço 50 tipo ‘a’, onde o acesso é altamente controlado. O espaço tipo ‘d’ oferece escolhas e, portanto, está ligado a um crescente movimento. A partir do princípio da relação de simetria e distributividade entre os espaços, algumas medidas sintáticas foram geradas através do software New Wave108, constituindo-se em variáveis de análise configuracional. 2.2.2. As variáveis analíticas As variáveis analíticas a serem utilizadas neste trabalho, são medidas sintáticas geradas a partir da decomposição das plantas baixas das casas em unidades de espaços convexos, assim como o lote ou terreno, sendo que a área de lazer é considerado um único espaço. Nessa decomposição, a distância topológica entre esses espaços é considerada para gerar as medidas sintáticas. Nesse estudo, o exterior também é considerado como uma unidade de espaço convexo, sendo o espaço fora do complexo formado pela casa e o terreno, ou seja, a rua. As seguintes variáveis sintáticas serão utilizadas na análise da amostra: integração, entropia, medida de distributividade e de simetria, ordem de integração, grau de funcionalidade, grau de fechamento. Essas variáveis serão definidas a seguir. 2.2.2.1. Integração A integração é a principal medida da Sintaxe Espacial. Ela é obtida a partir da profundidade dos espaços, como explicada anteriormente109. A integração de um determinado espaço expressa matematicamente a distância sintática deste para todos os demais espaços do sistema. Essa “distância”, entretanto, não é geométrica, mas topológica, ou seja, é definida em termos da quantidade de espaços convexos que se 108 New Wave – software de geração das medidas de simetria dos sistemas, desenvolvidos na Bartlett School, UCL, Londres. 109 Para a fórmula da integração, assim como para outros detalhes técnicos, ver PEPONIS, J. The spatial culture of factories. Human Relations, 38, 1985, pp. 357-390 51 tem, minimamente, de percorrer para ir de uma dada posição a todas as outras. Quanto maior o valor mais integrado ao sistema, como um todo, é o espaço em questão. A integração média do sistema, por sua vez, “dá a medida em que o edifício, como um todo, é mais ou menos acessível entre todas as suas partes”110. Consiste na média das medidas de integração dos espaços convexos de cada sistema. Nesse trabalho, o valor de integração dos sistemas foi calculado considerando o exterior como um espaço convexo. O cálculo da medida de integração resulta num atributo numérico para cada unidade de espaço que varia aproximadamente em torno de 1,00 (para maiores detalhes técnicos quanto a este cálculo, ver Anexo 4). Para se ter uma idéia preliminar, os valores empíricos encontrados nessa amostra variaram de 0,603, o menor valor, a 1,247, o maior valor de integração. Algumas hipóteses são levantadas sobre a integração dos sistemas através de estudos empíricos. Esses estudos têm sugerido que “um edifício bem integrado favorece um sistema de interface intenso e informal, enquanto edifício mais segregado corresponde a status mais fortes [diferenciados] e relações constituídas de maneira mais hierarquizadas”111. Hillier mostrou que espaços tipo “a” e “d” contribuem para uma maior integração do sistema como um todo, enquanto espaços tipo “b” e “c” contribuem para uma maior segregação112. Para melhor entender o quanto integrado é o conjunto aqui analisado, serão utilizados outros estudos de caso como referência, entre estes, os trabalhos sobre sobrados coloniais, feito por Trigueiro113, e sobre as casas modernistas em Recife, feito por Amorim114. Para efeito de comparação com um universo mais amplo, foram pesquisados outros estudos sobre casas feitos por Hanson em Londres e Paris. Entre outras análises, ela estudou casas de arquitetos famosos do Movimento Moderno, como de Loos (Casa Muller), Meier (Casa Giovannitti), Botta (casa em Pregassona) e Hejduk (Casa Diamond), e casas de arquitetos em Londres. Essa comparação encontra-se no Anexo 5. 110 HOLANDA, F. Sintaxe de uma casa-átrio moderna, Brasília, 1999, pág. 4. (mimeo). Para maiores detalhes, ver também HANSON, 1998. 111 HOLANDA, F. 1999, pág. 5. (mimeo) 112 HILLIER, B. Space is the machine – a configurational theory of architecture. University Press, Cambridge, Cambridge, 1996, pág. 319. 113 TRIGUEIRO, E.B.F. 1995, pág.12-13. (mimeo). 114 AMORIM, 1999, pág. 77. 52 2.2.2.2. Entropia A medida de entropia ou “fator de diferenciação”115 é uma adaptação da medida “H” de Shanon, desenvolvida para uma teoria matemática da comunicação116. Ela quantifica o grau de variação entre os valores de integração dos edifícios, indicando a diferenciação sintática entre suas diversas partes. Menor diferenciação sintática significa sistemas mais homogêneos, enquanto maior diferenciação significa que existem, no sistema, simultaneamente espaços muito integrados e espaços muito segregados. Teoricamente, a medida pode variar entre 0 (sistemas maximamente diferenciados) e 1 (sistemas absolutamente homogêneos). A hipótese sociológica que corresponde a esta medida é: quanto mais diferenciado o sistema maiores as distâncias entre o status das categorias de pessoas e/ou práticas envolvidas. No universo empírico estudado até agora (ao qual tive acesso) estão, novamente, os trabalhos de Trigueiro117, Amorim118 e Hanson119. Dentre esses a maior entropia foi encontrada na amostra de Amorim, com 0,87 e a menor foi de 0,42 encontrada por Hanson, as quais serão parâmetros para comparação com as casas da amostra em estudo. Em relação à comparação com esses outros estudos, será feita um cálculo de entropia para cada conjunto citado, esse cálculo não é comumente usado, esta aplicação faz parte de um exercício exploratório deste estudo. O objetivo é, dessa forma, identificar qual o conjunto de casas mais entrópico, ou menos diferenciado, até agora encontrado. 115 Para o cálculo da Entropia é usada a RRA (Relativa Assimetria Real) máxima, média e mínima encontradas em cada residência. O cálculo do fator de diferenciação é dado pela expressão: DF = (H ln2)/(Ln3 - ln2), Onde H = - [((a/t ln (a/t)) + (b/t ln (b/t)) + (c/t ln (c/t))], Sendo a, b e c os valores de integração máxima, média e mínima do sistema e t a soma destes valores, para maiores detalhes, ver HANSON, 1998, pág. 31. 116 SHANON, C. WEAVER, W. The mathematical theory of communication. University of Illinois Press, Chicago, 1948. 117 TRIGUEIRO, 2001, pág. 40.1ss. e TRIGUEIRO, 1995, pág.12-13 (mimeo). 118 AMORIM, 1999, pág. 77. 119 HANSON, 1998, pág. 84, 227 e 267. 53 2.2.2.3. Medida de distributividade A medida de distributividade de um sistema, assim como a de simetria adiante, é obtida a partir da classificação dos espaços (a, b, c, d) antes comentada. Ela é a razão entre a soma dos espaços ‘c’ e ‘d’ e a soma dos espaços ‘a’ e ‘b’ e é dada pela expressão: (c + d)/(a + b), onde, a, b, c e d, correspondem ao número total dos tipos de espaços daquele sistema, conforme definição anterior. Apoiada em Hillier120, Hanson chamou os espaços tipo ‘a’ e ‘b’ de não-distributivos e os tipos ‘c’ e ‘d’ de distributivos. Em termos das relações sociais, a hipótese é de que maior distributividade num edifício significa que este “não constrói, como um todo, fortes barreiras entre as várias pessoas e/ou práticas que usam os seus espaços”121. Sistemas mais distributivos criam rotas alternativas que dão mais fluidez de movimento ao seus usuários e aumentam as possibilidades de encontros e interação entre as pessoas. Os sistemas pouco distributivos, ao contrário, possuem barreiras morfológicas que dificultam o encontro entre as pessoas. Essas barreiras aumentam o controle entre os espaços, dificultando uma maior interação. Isso resulta em práticas e utilização dos espaços de maneira mais especializada e segregada. Dentre os estudos sintáticos sobre espaço doméstico disponíveis na literatura (aos quais tive acesso), apenas dois apresentam essa medida: os estudos de Hanson122 e Holanda123. Os índices encontrados por Hanson estão entre os valores máximos e mínimos encontrados na amostra em estudo, já o índice encontrado por Holanda supera o maior índice do conjunto aqui estudado. Assim, a normalização124 entre 0 e 1, terá como limite máximo a medida encontrada por Holanda, de 2,9, e como limite mínimo a medida de 0,327, encontrada na casa 3 desta amostra. 120 HILLIER, 1996, pág. 318. HOLANDA, 1999, pág. 9. 122 A maior medida de distributividade encontrada nos estudos das casas inglesas foi 1,2075 e a menor, 0,4943. Valores que se encontram na variação da amostra estudada. HANSON, 1998, pág 171). 123 Medida de distributividade de 2,9, a maior dentre os estudos pesquisados. HOLANDA, 1999, pág.18. 124 Para o cálculo de normalização será usada a fórmula: Vnorm = (V – Vmin)/(Vmáx – Vmin), onde Vnorm é o valor gerado entre 0 e 1; V é o valor a ser normalizado; Vmin é o valor mínimo da faixa de valores definida e o Vmáx é valor máximo da faixa de variação. 54 121 2.2.2.4. Medida de simetria Outra medida, envolvendo a tipologia de espaços a, b, c e d, é a medida de simetria. Ela é a razão entre a soma dos espaços tipo ‘a’ e ‘d’ e a soma dos espaços tipo ‘b’ e ‘c’. Essa razão é dada pela expressão: (a + d)/(b + c) , onde a, b, c e d são o total dos tipos de espaços, conforme definido anteriormente. A medida de simetria indica o “grau em que o edifício classifica, mais ou menos fortemente, as pessoas e/ou práticas que organiza”125. O sistema é evidenciado quanto à hierarquização dos seus espaços, isto é, quanto maior a medida de simetria menos hierarquizado é o sistema. Um sistema altamente hierarquizado possui grandes diferenciações de importância dos seus espaços e das formas de suas utilizações. As configurações morfológicas muito hierarquizadas acabam criando ou reforçando certos “códigos comportamentais” nas residências. Esses códigos regem a utilização e estabelecem o status dos espaços do sistema. Alguns lugares acabam sendo “inacessíveis” a certas pessoas como, por exemplo, os quartos. Para melhor visualização dos dados apresentados, essa medida será normalizada entre os valores 0 e 1, sendo que quanto mais próximo de 1 significa que o sistema é menos hierarquizado. Nos trabalhos de Hanson126 e Holanda127, os quais usaram essa medida, os índices encontram-se entre o menor e o maior índice da amostra em estudo. Portanto, os extremos considerados para a normalização serão 0,571 e 6,500, respectivamente, as medidas de simetria mínima e máxima encontradas na amostra. 2.2.2.5. Ordem de integração Outra maneira de caraterizar a organização espacial das residências é através da ordem de integração dos principais espaços da casa. Baseada em Hanson, será considerado os seguintes espaços como os “principais” da casa, para efeito deste estudo: sala, cozinha, quarto principal e exterior. Esses espaços são chamados principais 125 HOLANDA, 1999, pág. 9. A menor medida de simetria da amostra de Hanson é de 0,6059, e a maior é 4,6676. HANSON, 1998, pág. 171. 127 Medida de simetria de 1,29. HOLANDA, 1999, pág.18. 55 126 porque: a) constituem os elementos mais importantes dos vários setores da casa - social, serviço e íntimo; b) revelam, no caso do exterior, a relação que se estabelece entre o setor privado (espaço doméstico) e o público (a rua). A partir da ordem de integração das casas pode-se identificar em que lugares a organização espacial da casa investe mais fortemente. Esta variável permite também identificar a relação entre público e privado no conjunto estudado, identificando se a estrutura espacial das residências investe forte ou fracamente na relação com a rua. 2.2.2.6. Grau de funcionalidade O grau de funcionalidade permite verificar se os sistemas apresentam uma orientação mais transicional ou mais funcional de seus espaços. O grau de funcionalidade é a proporção entre o número de espaços de uso e o total de espaços convexos. É expresso pela fórmula GF = f/c, onde f é o número de espaços de atividades ou funcionais e 'c' é o numero total de espaços convexos. Para efeito de comparação, serão usados os índices obtidos por Amorim, no estudo das casas modernistas em Recife. Baixos índices de funcionalidade indicam uma planta de orientação transicional e altos valores indicam um layout de orientação funcional128. Um sistema com orientação mais transicional implica, em outras palavras, na proliferação de espaços mediadores entre lugares onde, de fato, as coisas acontecem. Isso pode ser interpretado como uma estratégia para fortalecer a identidade das categorias de usuários (habitantes, empregados e visitantes) pelo aumento da distância sintática entre elas. 2.2.2.7. Grau de fechamento O grau de fechamento129 permite analisar as casas sob um outro aspecto, ou seja, se os layouts são mais abertos ou compartimentados, se a fluidez entre espaços é maior ou menor. Um sistema é mais compartimentado na medida em que existe um maior 128 AMORIM, 1999, pág. 68. Amorim denomina essa variável de “grau de abertura”. Essa variável será denominada aqui de “grau de Fechamento”, embora utilizando a mesma fórmula para cálculo, porque esse revela a proporção dos espaços fechados em relação ao total de espaços convexos. 56 129 número de espaços definidos e separados entre si por paredes e portas. Sociologicamente, esta medida também sugere o grau de separação de pessoas e práticas no sistema: quanto maior o fechamento, mais forte é essa separação. Para o cálculo do grau de fechamento, considera-se o número de espaços fechados e o número total de espaços convexos do sistema. Esse índice é dado pela expressão Gfe= fe/c, onde fe é o número de espaços fechados e 'c' é o número total de espaços convexos. O índice de Gfe alto implica em sistemas mais compartimentados e Gfe baixo implica em sistemas mais convexamente articulados130. Para efeito de comparação serão usados os índices encontrados por Amorim nas casas modernistas do Recife. Conclusão As informações fornecidas pelos questionários e entrevistas, juntamente com a análise sintática das residências permitirão uma leitura do modo de vida nas casas da amostra. As variáveis sintáticas permitirão entender os sistemas, tanto global como localmente e, a partir do dados levantados, será possível confrontar a estrutura espacial com as informações de uso e ocupação dos espaços. Os dois níveis de análise, propostos neste capítulo, serão executados em dois momentos, no capítulos 3 e 4, respectivamente, e analisados conjuntamente no capítulo 5. Esse estudo permitirá também testar a teoria da Sintaxe Espacial para análise de residências, abrindo a possibilidade de aprofundar o uso dessa teoria. A sua aplicação permitirá analisar possíveis redundâncias e inconsistências, contribuindo assim para aprimorar essa técnica de análise morfológica na arquitetura. 130 AMORIM, 1999, pág.68. 57 Capítulo 3 - Ocupação e utilização dos espaços A casa não é apenas reflexo de como indivíduos e famílias escolhem viver cotidianamente, mas da constituição social como um todo. Julienne Hanson Neste capítulo, as casas serão analisadas a partir dos dados fornecidos pelos entrevistados com o objetivo de identificar a maneira como vivem as famílias nesse edifício, seus costumes, seu dia-a-dia. Esses dados serão confrontados com outros obtidos através de um resgate histórico da utilização e ocupação dos principais cômodos das residências, identificando as mudanças de uso ocorridas ao longo da história da casa brasileira. Isso será feito através de informações quanto à utilização e a função de cada cômodo e as preferências dos habitantes. Mais especificamente, a partir da análise dos seguintes elementos: a) espaços mais utilizados pela família; b) espaços menos utilizados por ela; c) espaços mais utilizados para receber visitantes; d) espaços aos quais o visitante geralmente não têm acesso; e) espaços utilizados pelos empregados. Esses eixos dão um perfil da ocupação e utilização dos espaços: quando, para quê, e por quem são ocupados. 3.1. Espaços de maior tempo de permanência da família Mesmo desconsiderando o tempo de repouso, o quarto é o espaço de maior tempo de permanência da família. Segundo os dados, este aparece como o primeiro espaço mais citado, com 29,63% das indicações. Seguido pela cozinha como segundo espaço de maior tempo de permanência, com 18,52%. O quarto e a cozinha aparecem como sendo, respectivamente, os espaços de individualidade e coletividade eleitos pela família. Em um dos depoimentos o 58 entrevistado expressa bem essa constatação. Quando perguntado sobre o espaço que mais gosta na casa, ele respondeu: “Do meu quarto e da cozinha. No primeiro tenho privacidade... e na cozinha temos integração”. A Tabela 1 mostra os espaços mais utilizados pelas famílias da amostra pesquisada. É possível observar que o itens “quartos” e “cozinha” apresentam os maiores índices. À exceção da sala de TV e da sala de estar, todos os demais itens receberam poucas citações. Tabela 1- Espaço de MAIOR tempo de permanência da família131 Cômodos Quartos Cozinha Sala de estar Sala de TV Escritório/biblioteca Copa Sala de estar/TV Sala de jantar Varanda Mezanino Quintal Sala de estar/Jantar Total % de respostas Primeiro Nº 8 5 4 4 2 1 1 1 1 27 100 Segundo % Nº 29,63 5 18,52 12 14,81 1 14,81 5 7,41 2 3,70 3,70 3,70 1 3,70 1 100 27 100 Terceiro % Nº 18,52 10 44,44 1 3,70 1 18,52 4 7,41 3,70 3,70 100 5 3 1 1 1 27 100 % 37,04 3,70 3,70 14,81 18,52 11,11 3,70 3,70 3,70 100 3.1.1. A cozinha A cozinha, sua localização e status, passou por várias mudanças ao longo da história da casa brasileira, recebendo influência das transformações sociais durante o ciclo canavieiro, passando pelo ciclo do café, até as novas perspectivas em nossos dias. Apesar de não ter como objetivo descreve esse processo em detalhes, é importante observar que a cozinha já foi cômodo separado da casa, considerado lugar ‘sujo’ até ser lugar ‘asseptizado’ e adquirir um caráter estritamente funcional, como veremos a seguir. 131 As Tabelas 1, 2, 3 e 4, com dados de uso/ocupação, apresentam, além dos dados em relação ao “PRIMEIRO” espaço mais citado, as colunas com dados dos segundo e terceiro espaços. Foram usados para esta análise somente os dados da primeira coluna, mas, a título de informação foram expostos os dados referentes às demais citações. 59 Até início do século XIX, segundo Lemos, a cozinha era espaço separado da casa, o que ele denominou da “extroversão da cozinha”. Para Lemos, esta era a primeira constante arquitetônica nos partidos da habitação brasileira a “Cozinha separada, no quintal. Cozinha no alpendre. (...) Sempre a cozinha menosprezada, lugar dos negros”132. Essa separação entre a cozinha e os demais cômodos tinha, portanto, uma conotação social muito forte pois “na casa do branco, ou do pardo metido a branco, a cozinha está sempre isolada da habitação, sendo o traço de união entre ambos o elemento servil”133. Durante todo o século XIX e meados de século XX, vários acontecimentos fizeram com que a cozinha viesse definitivamente para dentro da casa. Ela deixou de ser um “puxado” nos fundos ou um anexo da casa para ser um cômodo que compõe o corpo da residência. Entre esses acontecimentos são muito significativos: a) abolição da escravatura; b) a revolução industrial; c) as Primeira e Segunda Guerras Mundiais. A abolição da escravatura provocou uma diminuição da mão-de-obra escrava para os serviços na cozinha. Isso fez com que crescesse a utilização de mão-de-obra branca e, com o tempo, até as próprias donas das casas passaram a trabalhar na cozinha. Ela deixou de ser, portanto, associada aos negros e ao trabalho escravo. A distinção social que se refletia na distância física dos lugares começa a enfraquecer e a cozinha aglutina-se à casa. Com a revolução industrial, e a conseqüente evolução de alguns utensílios domésticos, mudou-se o jeito de trabalhar na cozinha. Um bom exemplo dessa mudança, é o grande fogão a lenha que começa a perder a importância diante dos fogões a gás. A significativa diferença de tamanho, por exemplo, entre esses dois utensílios domésticos contribuíram para a diminuição do tamanho das cozinhas em relação às cozinhas das casas de engenho. Segundo Tramontano, o que vai alterar as atribuições da cozinha, no entanto, é a mudança do status da mulher rica dentro da sociedade. Isso gerou mudanças também dentro de casa, já a partir da década que precede a Guerra de 1914. Para ele, a mulher foi “empurrada à força para o papel de ‘Rainha do lar’ pela crescente falta de pessoal doméstico qualificado - em número cada vez menor mesmo nas residência das família mais abastadas”134. 132 LEMOS, 1978, pág. 67. LEMOS, 1978, pág. 67. 134 TRAMONTANO, 1998, pág. 81. 133 60 Já no primeiro pós guerra, a crescente utilização da mão-de-obra feminina em indústrias e trabalhos fora de casa, associados aos novos avanços tecnológicos, contribuíram para mais uma mudança na cozinha brasileira. Isso exigiu a concepção de um lugar com pouco espaço para a desordem e mais equipamentos para agilizar as tarefas domésticas. Para Tramontano, “uma cozinha prática e funcional era a exigência dos novos tempos, otimizar os gestos e os passos necessários às atividades de cozinhar (...), devido à escassez de pessoal doméstico e ao desenvolvimento de novos equipamentos”135. Com essa preocupação, surgiu o conceito do existenzminimum, conforme definido no capítulo 1, proposto pelo movimento moderno arquitetônico, na primeira metade do século XX. Nessa proposta, esse espaço era pensado unicamente com a função de preparo dos alimentos e não era prevista área para refeições, ou deveria ser apenas para refeições rápidas, ou seja, espaços pequenos e de pouca permanência. Figura 7 - Schüte-Lihotzky, Frankfurter Küche, 1926 - FRAMPTON,1997 pág. 166. Essas transformações paulatinas fizeram surgir desde a cozinha das casas coloniais, com dimensões menores do que as das casas de engenho, até a cozinha de dimensões mínimas da proposta modernista. No conjunto estudado, cerca de 33% dos entrevistados forneceram as medidas das cozinha, o tamanho dessas, em média, é de 18,5 m2, tendo cozinha com até 36m2. Isto é, são mais próximo das cozinhas das casas coloniais, típicas no Centro-Oeste, do que da cozinha de dimensões mínimas. De fato, isso é interessante, porque constitui uma volta a padrões pré-modernistas, ou simplesmente a não-aceitação dessa proposta. 135 TRAMONTANO, 1998, pág. 79. 61 No conjunto analisado, além dessa característica física, a mais importante constatação em relação à cozinha é o fato dela ser eleita como o espaço de convívio da família. Ela é o lugar das conversas informais, das refeições em conjunto, de momentos de lazer. Essa característica difere, e muito, do que antes era pensado da cozinha da classe média no século XIX. Isso contraria frontalmente a afirmação de Lemos de que “na casa proletária, tolera-se a superposição estar-serviço, ou melhor, nela a família pode usufruir de momentos de lazer dentro da cozinha, o que jamais ocorrerá numa casa de classe média.”136. A preferência pela cozinha como espaço de convívio muda também sua função, em relação às concepções das últimas décadas. Além de espaço para preparo das refeições, passou também a ter a função de espaço coletivo da família. Ela incorporou, então, a função de um outro espaço, surgido em meados do século XX, o espaço da copa. A copa - que já teve o nome de office, devido à influência francesa no início do século, foi concebida para ser um espaço de convivência, especialmente através das refeições em família. Segundo Tramontanto, “o office vai tomar o nome de copa, recebendo os mesmos azulejos da cozinha e os móveis da sala de jantar [e tinha a] função de espaço de sociabilidade - transição entre a instância ‘de rejeição’ e a ‘de prestígio’”137, referindo-se à cozinha e à sala de jantar, respectivamente. A copa já foi, segundo Lemos, “o local de estar preferido da família de classe média.(...) Na copa, as crianças faziam as lições, o dono da casa lia jornais enquanto a ‘patroa’ lavava o trem da cozinha”138. Esse espaço, anexo à cozinha para servir as refeições, está agora perdendo lugar para a cozinha. As cozinhas aumentaram de tamanho, como já mencionado, e passaram a ter a função da copa, fazendo com que essa praticamente desaparecesse. É significativo que das 27 casas estudadas, apenas 7 (25,9%) tenham especificamente copas. As demais têm as chamadas copa-cozinhas, ou seja, cozinha com espaço para mesa, às vezes com espaço demarcado por um balcão. Outra importante característica das cozinhas da amostra é a presença de vários equipamentos. Além dos eletro-eletrônicos mais comuns das últimas décadas, como microondas, lava-louça, geladeira, outro equipamento muito presente é a televisão. A 136 LEMOS, 1989, pág. 11. TRAMONTANO. 1998, pág. 108. 138 LEMOS, 1978, pág. 150. 137 62 cozinha aparece como o terceiro espaço que apresenta maior ocorrência de televisores nas casas, superando inclusive os índices da sala de estar. Fica atrás somente do quarto e da sala de TV, respectivamente, o primeiro e o segundo espaço com maior ocorrência desse aparelho. Na década de 1930, a copa “ganhou mais um habitante, o rádio (...) o que falava alto dentro de artísticas caixas de madeira”139. O rádio, a grande novidade que invadia os lares na época, é hoje substituído pela televisão. A TV é o eletro-doméstico mais utilizado nas casas, que têm, em média, 4,15 aparelhos por residência140. Diferente do rádio que é só ouvido, a TV precisa ser assistida, o que exige permanência no espaço. Sua presença na cozinha é um dos fatores que ilustram o fato desse espaço ser de permanência da família, o que novamente, contesta a visão de Lemos para as casas de classe média, quando observa que “é na casa modesta que a televisão e o fogão coabitam o mesmo compartimento”141. 3.1.2. Os quartos O quarto é talvez o espaço que mais tenha sofrido alterações nas últimas décadas. Sofreu alterações em termos de tamanho, função, conforto, sendo considerado inclusive como símbolo de status social. Mais do que isso, o quarto pode ser um dos principais símbolos das mudanças no modo de vida das pessoas, como reflexo das alterações ocorridas nos últimos tempos, com o advento da modernidade. Segundo Lemos, no final do século XIX, “as famílias receberam os benefícios da água potável distribuída por redes públicas, do gás, do combustível para luminárias e fogões e da energia elétrica”142. Com esse benefício o banheiro passou a ser uma das novidades incorporadas nas casas brasileiras. Sinônimo de conforto e motivo de ostentação, esses espaços com latrina, banheira, ou chuveiro, e pia passaram a ser incorporados ao interior. Os banheiros, 139 LEMOS, 1978, pág. 150.. Para se ter uma idéia do que representa esse índice de televisores, a média de pessoas por residência (da amostra) é de 4,74, ou seja, é quase uma TV (0.87) por habitante. 141 LEMOS, 1978, pág. 201. 142 LEMOS, 1978, Pág. 56. 63 140 assim como as cozinhas, deixaram de ser associados ao “sujo” para serem vistos, além das questões sanitárias, como símbolos de status e sinal de prosperidade dos habitantes. Primeiramente, o banheiro vincula-se à casa pelos fundos, junto à cozinha. Depois, já na década de 1960, passou a ser localizado próximos aos quartos e também próximo à sala de estar, dando origem aos chamados “banheiros sociais”. Para Veríssimo e Bittar, “a localização do banheiro em relação ao organograma básico da habitação é típica nas novas construções: apenas um na zona íntima próxima à circulação, junto aos quartos”143. Segundo, Bittar e Veríssimo, surge, nos anos 1970, a “febre” das suítes, compostas do quarto conjugado a banheiro privativo e com espaço destinado a trocar roupa e, excepcionalmente, uma pequena saleta. Segundo eles, “as casas abastadas, projetadas por arquitetos e publicadas nas revistas especializadas, adotam imediatamente essa solução, acoplando um banheiro ao quarto do casal, conferindo-lhes a privacidade”144. Figura 8 – Planta baixa da casa 4 O banheiro privativo de um quarto se transformou em um dos diferenciais das casas nesse período. Isso aconteceu em dois níveis, primeiro, porque nem todas as casas tinham suíte, dando aos donos dessas casas um status social diferente; segundo, nem todos da casa tinham suíte. Ela era privilégio dos donos, geralmente pai e mãe, estabelecendo assim uma diferenciação social em relação aos demais habitantes. Tornou-se comum nas casas de classe média ter uma suíte para os donos da casas e ter um banheiro social para os demais moradores. 143 144 VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág. 104. VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág. 94. 64 Esse quadro mudou nas décadas de 1980 e 1990, quando as suítes deixaram de ser privilégio do casal e passaram a integrar os demais quartos da casa. Do universo estudado, 22 casas foram construídas nas décadas de 1980 e 1990, sendo que 12 dessas, mais de 50% da amostra, apresentam mais de uma suíte na casa. Algumas têm suítes para todos os habitantes (ver casa 22 e 27). O gráfico 1 ilustra o crescimento do número de suítes por década. G r á fi c o 1 - N ú m e r o d e c a s a s c o m s u íte s p o r d é c a d a 5 Nº de casas 4 3 1 s u íte 2 s u íte s 2 3 s u íte s q u a tr o 1 0 D é ca d a d e 1970 D é ca d a d e 1980 D é ca d a d e 1990 O crescimento do número de suítes nas últimas décadas contribuiu para acrescentar aos quartos características de espaços mais confortáveis e mais privativos. Nesse complexo chamado quarto, outras funções foram agregadas. Lemos já sinalizava para a invasão da televisão no setor íntimo das casas, quando ela se popularizou na década de 50. Ele dizia que “a televisão também foi invadindo as zonas de repouso, instalando-se nos dormitórios, aos pés da cama”145. De fato a TV invadiu os quartos, mas, em fins de década de 90, não foi só ela. O elevado número de equipamentos encontrados nesses espaços, com TVs, aparelhos de som, computadores e aparelhos de ginástica, confirmam essa tendência. O quarto é citado como um dos espaço com maior ocorrência de televisores, 24,10% dos casos, e de aparelhos de som, 22,54% da amostra. Esses índices superam, respectivamente, a presença desses equipamentos nas salas de TV e nas salas de estar. O quarto é ainda o segundo lugar citado com maior ocorrência de computadores e o terceiro em equipamentos de ginástica. No gráfico 2, é possível ver a grande 145 LEMOS, 1989, pág. 73. 65 inserção desses equipamentos no espaço doméstico, e seu alto índice de inserção, especificamente, nos quartos. Nele pode-se visualizar que o quarto está entre os espaços com os maiores índices de ocorrência desses equipamentos na casa. Eles aparecem como os espaços mais usados para comportar todos esses equipamentos. A presença de tantos equipamentos revela que o quarto passa a ser um espaço de múltiplas atividades. É lugar para descanso, sala de estudo, local de trabalho, diversão e lazer. Essa sobreposição de atividades era esperada no final da década de 1990. Veríssimo e Bittar já afirmavam que “para várias camadas da população, o quarto é sala de visitas, escritório, sala de estudos, local de trabalho e, ocasionalmente, lugar de descanso e do amor”146. Curiosamente, essa multifuncionalidade lembra a idade média onde existia esse tipo de ocupação. Gráfico 2 - Localização dos equipamentos 25 Ocorrência 20 15 10 5 0 Lazer Co pa Co zinha Qt o emp . Es c./ B ib lio . M ezanino Quart o s Sala d e es t ar Sala d e jant ar Sala d e TV Sala í nt ima Varand a Tipo de espaço funcional Aparelhos de som Computadores Equip. de ginástica TV A diferença é que, na Idade Média, as pessoas dormiam no mesmo lugar que comiam. Para Rybczynski, “a vida era uma questão pública, e assim como as pessoas não tinham uma forte consciência de si, elas também não tinham um quarto próprio”147, o que permitia uma concepção diferente para a utilização dos cômodos das casas. O que se tem hoje é que as pessoas comem no mesmo lugar que dormem, ou seja, ocorreu uma inversão: não é a sala que serve de dormitório, mas é o dormitório que serve de sala, entre outras coisas. Essa multifuncionalidade dos quartos só reforça a noção de privacidade tão característica do espaço doméstico contemporâneo. 146 VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág. 95. 66 Pressupunha-se que a multifuncionalidade dos cômodos com a sobreposição de atividades, dar-se-ia por questões de espaço físico. Em outras palavras, apenas a falta de recurso iria justificar o uso de cômodos para várias atividades como, por exemplo, lazer e descanso. Essa era a perspectiva de Lemos quando escreveu que a moradia do homem rico de haveres e de poder não apresenta em seus cômodos a hipótese de superposição de funções ou de atividades da habitação. Ali sempre houve uma dependência para cada mister. A casa do rico sempre foi muito grande e a do pobre muito pequena, de reduzido número de cômodos, muitas vezes resumida a uma só dependência148. Talvez a observação se justificasse para determinada época, pois na amostra estudada, que é um universo de casas de classe média, onde os edifícios são espaçosos (em média com 350 m2) nesses, os quartos são, na maioria, esses complexos multifuncionais. Possuem banheiro privativo, televisores, som, computadores e aparelhos de ginástica, oferecendo motivos e atrativos suficientes para justificar a sua indicação como espaço de maior tempo de permanência da família. Se isto antes resultava de restrições impostas por pequena área construída, transformou-se numa opção que constitui o modo de vida dos habitantes dessas residências. 3.2. Os espaços de menor tempo de permanência da família e os mais usados para receber visitantes De maneira geral, os espaços menos utilizados pelas famílias estudadas são a sala de estar, a varanda, a sala de jantar e o escritório. A sala de estar é disparado o espaço de menor tempo de permanência da família, indicado como o primeiro espaço menos utilizado, com 26,92% de respostas, seguido pela varanda com 19,23% das indicações, e a sala de jantar com 15,38% (Tabela 2). Por outro lado, todos esses espaços são os mais utilizados para receber visitantes. A sala de estar é indicada com 59,26% das respostas, seguida pela varanda, com 14,81%, e pela sala de jantar, com 11,11% (Tabela 3). 147 148 RYBCZYNSKI, 1999, pág. 48. LEMOS, 1989, pág. 70. 67 Essa inversão indica claramente a separação dos espaços das casas em espaços mais destinados à família, e espaços mais destinados aos visitantes. Existem, no entanto, alguns espaços que, tanto estão entre os eleitos como de permanência da família, como entre os espaços escolhidos para receber visitantes. Estes são os espaços de transição dentro desse sistema de relações humanas, como será visto mais adiante. Tabela 2- Espaço de menor tempo de permanência da família Cômodos Sala de estar Varanda Sala de jantar Escritório/biblioteca Cozinha Sala de TV Mezanino Sala de estar/jantar Sala íntima Garagem Quartos Subsolo Área de lazer Copa Total % de respostas Primeiro No 7 5 4 3 2 2 1 1 1 26 96,30 Segundo % No 26,92 2 19,23 9 15,38 4 11,54 3 7,69 3 7,69 2 3,85 1 3,85 3,85 0,00 0,00 1 0,00 0,00 0,00 100 25 92,59 % 8,00 36,00 16,00 12,00 12,00 8,00 4,00 0,00 0,00 0,00 4,00 0,00 0,00 0,00 100 Terceiro No % 6 2 3 4 3 1 1 1 3 1 25 92,59 24,00 8,00 12,00 16,00 12,00 4,00 4,00 0,00 0,00 4,00 12,00 4,00 0,00 0,00 100 Tabela 3- Espaços mais usados para receber visitantes Cômodos Sala de estar Varanda Sala de jantar Área de lazer Cozinha Sala de TV Copa Escritório/biblioteca Mezanino Quartos Total % de respostas Primeiro Nº 16 4 3 2 1 1 0 0 0 0 27 100,00 % 59,26 14,81 11,11 7,41 3,70 3,70 0,00 0,00 0,00 0,00 100 Segundo Nº 6 5 8 1 5 1 0 1 0 0 27 100,00 % 22,22 18,52 29,63 3,70 18,52 3,70 0,00 3,70 0,00 0,00 100 Terceiro Nº % 2 0 2 5 4 6 1 1 1 3 25 92,59 8,00 0,00 8,00 20,00 16,00 24,00 4,00 4,00 4,00 12,00 100 68 3.2.1. Sala de estar Ao longo da história da casa brasileira, a sala sempre esteve presente exercendo a sua função principal: a de receber. Ao longo dos séculos, contudo, ela sofreu algumas transformações, passando da atribuição exclusiva de receber as pessoas, na casa grande, a um uso que incluía a permanência da família, em nossos dias. Como observaram Veríssimo e Bittar, do conjunto de salas de receber da casa-grande patriarcal, observamos a pequena sala social da morada urbana colonial, ou mesmo o grande salão do sobrado nobre setecentista, com seu mobiliário mais faustoso, tetos estucados, além de alfaias importadas. (...) Prenuncia-se aí a implantação deste setor social que irá marcar o século XIX.149 Durante todo o século XIX, a sala era o principal espaço do setor social, sendo chamada de sala de visitas e, até meados do século XX, esse era o espaço destinado a receber visitantes. Segundo Lemos, era espaço sempre fechado, “aguardando os raríssimos comparecimentos previamente combinados, geralmente nos aniversários de gente da casa, onde não havia a hipótese de qualquer tipo de superposição de atividades”150. Gomes chamou atenção de que Vauthier já havia comentado a hospitalidade de que havia sido testemunha “ilustrando a privacidade da parte íntima e de serviços da casa quando explica que o salão de visitas se comunica diretamente com a escada externa”151. No século XX, para alguns autores, começaram a desaparecer as várias salas para receber, como eram na casa-grande patriarcal. Segundo Veríssicmo e Bittar, na segunda metade do séc. XX “com a influência americana e a racionalização do espaço, surge a sala única, mantendo parte do ‘ritual ancestral de receber’”152. Mas essa parece ser parte da proposta modernista, já na primeira metade do século. Nas casas modernistas estudadas por Amorim, a maioria possuem somente uma sala de estar, geralmente aberta para sala de jantar. A sala passou assim a ser, simultaneamente, de estar para a família, e o lugar para receber os visitantes. 149 VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág. 61. LEMOS, 1989, pág 70. 151 VAUTHIER, 1975, pág.81, citado por GOMES, 1998, pág. 92. 152 VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág.58. 150 69 Para Lemos, na década de 50, com a popularização da televisão, a sala de visitas desapareceu como unidade da habitação, “a televisão uniu a sala de jantar à sala de estar e, nisso, outra modernidade na arquitetura domiciliar. Foi o fim definitivo da sala de visitas”153. De fato, como já foi mencionado, da década de 50 para cá a televisão invadiu a casa brasileira. Se, num primeiro momento, ela acabou com a sala de visitas, em seguida fez surgir outro cômodo na estrutura doméstica, ou seja, a sala de TV. A TV entrou pela sala de estar mas, com o tempo, exigiu uma sala própria, e acabou chegando nos quartos e até na cozinha. Os dados levantados neste trabalho indicam uma redução drástica da presença da TV no espaço destinado à sala de estar. Essa aparece como o quinto espaço com maior índice de ocorrência de televisores, perdendo para a cozinha, que é o terceiro, e até para a dependência de empregada, que é o quarto lugar com maior índice. Apenas 9 casas, cerca de 30%, possuem TV's na sala de estar. Destas casas, apenas uma tem sala de TV. Isso indica uma tendência de que os televisores somente ocupam a sala de estar, na falta de um espaço próprio. Essa crescente saída da TV, e o aumento do número de aparelhos de som na sala de estar, conforme gráfico 2, dão a esse espaço outra característica. A sala de estar não é o espaço coletivo da família. Alguns dos entrevistados deixaram isso bastante claro, afirmando que a sala de estar é reservada para receber visitantes porque “foi decorada com este intuito, possui espaços para acomodar os visitantes”. Segundo outro entrevistado, a sala de estar é o espaço destinado para receber visitantes porque é “o ambiente mais apropriado, pois é mais arrumado, menos bagunçado”. Outro ainda afirmou que existe “um piano, o qual atrai os visitantes”. A sala passa a ser um espaço mais requintado, lugar para ouvir música, para manter conversas, para receber pessoas externas. Ela funciona assim como um filtro, permitindo a recepção de visitantes que não são tão íntimos da família. Os mais íntimos vão para sala de TV, ou mesmo chegam à cozinha, que é o espaço informal da casa. Apenas as pessoas muito íntimas tem acesso aos quartos. Os dados indicam claramente a sala de estar como um espaço formal. Essa característica formal remete esse espaço ao status dado à chamada sala de visitas do séc. XIX, ou seja, um lugar reservado, preparado apenas para receber visitantes, indicando que a proposta de sala única (lugar para receber e também de convívio da família) de 153 LEMOS, 1989, pág 72. 70 fato não se consolidou. O que se tem hoje, é a permanência dessas salas, sob um outro rótulo. A sala de estar, na maioria das casas, é de “estar” mesmo só na presença de visitantes, que não têm acesso a outros cômodos da casa. 3.2.2. Sala de jantar A sala de jantar é, para alguns autores, a evolução da varanda do século XIX. Segundo Tramontano, esse é um espaço com dimensões bem maiores do que os demais espaços representativos das casas, e “parece resultar de um compromisso entre a antiga varanda e suas ascendentes européias”154. Já para Lemos, esse espaço é a transformação da varanda porque “a família, onde come, permanece”. Segundo ele, foi assim que “surgiu mais uma zona de estar na casa (...) enquanto a velha varanda foi desaparecendo, inclusive o uso da palavra, firmando-se a expressão ‘sala de jantar’”155. Se Lemos está certo quando diz que “onde a família come, permanece”, então é possível entender porque a sala de jantar é hoje um espaço pouco utilizado por ela. Primeiro, esse espaço perdeu o status de lugar de refeições da família para a copa; depois a copa perdeu lugar para a cozinha, como visto anteriormente. Com isso, a família distanciou-se da sala de jantar em prol do uso da cozinha. A sala de jantar aparece, na amostra estudada, entre os espaços pouco utilizados pelos moradores. É um espaço bastante reservado. Até mesmo quando ela é utilizada para trabalho e estudo, o que acontece em algumas casas que não possuem escritório, esta apenas aparece como o terceiro espaço mais utilizado. O mesmo acontece nas demais residências, onde a sala de jantar é muito pouco utilizada para as refeições em família. Ver Tabela 3. Contudo, a sala de jantar não desapareceu do programa de necessidades da casa da classe média. Na lista dos espaços mais utilizados para receber visitantes, ela aparece como o terceiro mais utilizado, como vimos, com 11,11% das respostas. É o espaço destinado a recepções que exigem formalidades. Em entrevista, alguns dizem não freqüentar mais a sala de estar e de jantar porque “os móveis que os compõe são antigos, ‘pesados’, que impõe um certo ar de respeito...”. 154 155 TRAMONTANO, 1998, pág. 107. LEMOS, 1978, pág. 150. 71 É interessante notar, a propósito, que a sala de jantar atual resgata a tipologia da casa de engenho. Gomes, ao estudar os vários tipos de casas de engenho em Pernambuco, ressalta que em algumas casas “a sala de jantar não é separada do salão ou parlatório e esta peça é a única franqueada aos estranhos”156. Essa especialização da sala de jantar reforça ainda mais a distinção entre espaços da família e de visitantes. 3.2.3. Sala de TV Conforme vimos anteriormente, quando a TV apareceu na década de 50, ela ocupou a sala de estar. Com a sua popularização ela saiu da sala de estar e passou a ter um espaço próprio, a sala de TV. Lemos ressalta essa mudança afirmando que “em todos os programas, surge o novo elemento, a sala de televisão, uma nova sala de especialização total”157. Com o aumento do número de aparelhos de televisão nos quartos - espaço com maior ocorrência - a sala de TV passa a ser o segundo espaço com maior ocorrência. Embora continue sendo o espaço coletivo para assistir televisão, a crescente perda de função específica faz com que ela agregue diferentes atividades. Deixa de ser espaço com ‘especialização total’, como era no final da década de 50, para ser espaço com múltiplas funções. Na sala de TV é possível encontrar também outros equipamentos que caracterizam essas novas atividades, como os aparelhos de som e de ginástica. Ela aparece como o quarto espaço mais citado com aparelhos de som e como o terceiro, juntamente com a varanda, com equipamentos de ginástica (ver Tabela 5). Pela Tabela 6, pode-se constatar que essa sala aparece como o espaço mais citado para as atividades como ver TV, ler, ouvir música, fazer ginástica. Além disso, ela aparece como o quarto espaço mais citado para necessidades privadas como, por exemplo, dormir ou repousar. É o quinto espaço para lazer interativo, isto é, encontrar amigos, beber, namorar. Algumas vezes, no entanto, é a sala íntima que exerce a função da sala de TV. Geralmente junto aos quartos, essa sala abriga um aparelho de TV utilizado de uma forma mais privativa pelos membros da família. Dentre as muitas atividades 156 157 GOMES, 1998, pág. 92. LEMOS, 1989, pág 72. 72 encontradas na sala de TV, uma chama a atenção: esse espaço, juntamente com a chamada sala íntima, faz o papel de quarto de hóspede. Esse espaço é utilizado, portanto, também para acomodar pessoas, em substituição aos antigos quartos de hóspedes. O quarto de hóspedes estava presente no programa de necessidades das residências até fins do século XIX, bem ao lado do vestíbulo. Geralmente esse quarto estava em posição simétrica à do escritório e, como observou Tramontano, “este cômodo mantém com o restante da casa uma relação muito parecida com a que mantinham as alcovas de visitantes do passado”158. Gomes ressaltou que, nas casas grandes, os quartos de hóspedes, embora compondo o corpo da casa, eram isolados e algumas vezes “ocupam nesse caso um local inteiramente diverso ou são situados na outra extremidade do corredor das senzalas”159. Somente uma casa da amostra, a casa 25, possui especificamente o quarto de hóspede, localizado no pavimento térreo, próximo à porta de entrada principal, e fora do setor íntimo. As residências, estudadas demonstram claramente, portanto, a tendência de eliminar esse espaço na organização e estrutura doméstica em nossos dias. Com o seu desaparecimento do programa de necessidades, outros espaços assumem essa função, como é o caso da sala íntima e de TV, na amostra em estudo. É nessas salas que iremos encontrar o sofá-cama, peça essencial para transformar esse espaço em local de repouso. Essas múltiplas atividades fazem com que a sala de TV, por um lado, apareça como o terceiro espaço mais utilizado pela família (ver Tabela 1) e, por outro lado, apareça como o quinto espaço mais utilizado para receber visitantes. Segundo alguns entrevistados, dependendo do grau de intimidade, o visitante é recebido na sala de TV. 3.2.4. Varanda A varanda é tão presente na casa brasileira que chega a ser considerada como uma de suas características marcantes. Mas existem várias possibilidades para explicar a origem desse elemento arquitetônico. Apesar da grande utilização, não há uma certeza sobre as suas origens. 158 159 TRAMONTANO, 1998, pág. 107. GOMES, 1998, pág. 92. 73 A palavra “varanda”, segundo Lemos, "tem origem oriental e foi incorporada no linguajar europeu pioneiramente pelos portugueses e espanhóis. Já em 1498, no roteiro de viagem de Vasco da Gama, há menção à palavra ‘varanda’, como sendo um local alpendrado de permanência aprazível”160. Segundo Gomes, as varandas ou alpendres, existem nas casas portuguesas bem antes de serem construídas no Brasil: “sua origem provável é o sequeiro mas podem ter evoluído para um espaço de circulação, proteção e até ter encontrado sua vocação de lazer contemplativo tão associada à modorra tropical”161. Ele enfatiza ainda que a varanda foi encontrada em outros lugares como nas grandes casas rurais nos Estados Unidos. As “...varandas periféricas já existiam desde o séc. XVIII, no sul dos Estados Unidos, como a casa Parlange, na Luisiana francesa, construída em 1750, um clássico do estilo colonial francês”162. Na casa brasileira, a varanda aparece, primeiramente, como o alpendre, o “telhado que se prolonga para fora da parede mestra da casa e que é apoiado em sua extremidade por colunas”163. O alpendre aparece na frente, na parte posterior e, às vezes, circundava toda a casa, desde o ciclo da cana - nos grandes casarões de engenho . Gomes encontrou o alpendre ao longo da fachada principal das casas de engenho (as quais ele chamou de nortenhas164), ao longo de uma ou duas fachadas (denominada de solares165) e alpendres em forma de “U” em “L” (no caso do Bungalows166). Ele concluiu que o avarandado periférico sistematicamente construído ao longo de, pelo menos, três lados do núcleo retangular da casa, tem sido freqüentemente considerado como uma criação brasileira. Na realidade, esse tipo só existiu, comprovadamente, em Pernambuco, a partir do século XIX, quando já se faziam sentir no país outras influências que não a portuguesa.167 Esse espaço tinha, pelos menos, quatro funções: a) climática, a proteção dos raios solares e conseqüente refrescamento da casa; b) na frente da casa ele era espaço 160 LEMOS, 1989, pág 30. GOMES, 1998, pág. 95. 162 MORRISON, 1953, pág. 263-264, citado por GOMES, 1989, pág.103. 163 LEMOS, 1989, pág. 27. 164 Casas nortenhas - devido à semelhança com as casas rurais do norte de Portugal. GOMES, 1998, pág.49. 165 Solares - por sua semelhança com as casas rurais e urbanas de Portugal. GOMES, 1998, pág.53. 166 Bungalows - por sua semelhança com os bungalows anglo-indianos, um tipo de casa desenvolvido no século XIX pelos colonizadores ingleses a partir de um padrão da região de Bengala, Índia. GOMES, 1998, pág.97. 74 161 para receber visitantes, uma espécie de ante-sala; c) o alpendre da frente era também um lugar estratégico para o dono do engenho controlar os escravos em seus afazeres, lugar aprazível de onde ele dava as ordens; d) o alpendre posterior da casa era espaço anexo à cozinha que servia para alguns trabalhos domésticos e lugar para refeições. Segundo Lemos, “o ciclo canavieiro transformou o alpendre posterior da casa bandeirista na varanda, local de estar, de comer, de trabalhar”168. Essa mudança de função fez com que o alpendre posterior deixasse de ser um puxado e integrasse o corpo da casa, embora de forma tímida, uma vez que não era um cômodo fechado como os demais. Por isso Lemos distingue “alpendre” de “varanda”, afirmando que varanda é espaço “entalado entre dois compartimentos, totalmente aberta para o exterior, possuindo, no máximo, um peitoril ou guarda-corpo”169. Apesar dessas definições buscarem estabelecer uma clara diferença entre esses dois espaços, o que se tem hoje sob a denominação de varanda são as duas coisas. É possível visualizar nos exemplos abaixo a presença tanto da varanda como do alpendre. Na casa 9 encontra-se a varanda e na casa 12 encontra-se o alpendre, tais como nas definições acima, mas ambos sob o mesmo rótulo, ou seja, varandas. Figura 9 - Planta baixa da casa 9 De maneira geral, a varanda corresponde à denominação do alpendre do século XIX. O que existe de novo é a varanda, tal como Lemos a definiu, sob o rótulo de sacada. Sacada é o nome dado à varanda localizada no segundo pavimento das casas. A 167 GOMES, 1998, pág. 132. LEMOS, 1978, pág. 197. 169 LEMOS, 1989, pág. 28. 168 75 casa 17 exemplifica bem essa variação, pois no segundo pavimento encontram-se as duas, varanda e sacada (segundo a denominação do entrevistado), ambas com as mesmas características. Figura 10 - Planta baixa da casa 17 Figura 11 - Planta baixa da casa 12 Na amostra analisada, a presença da varanda é marcante em quase todas as residências, das menores às maiores casas, confirmando esta como unidade característica dessas casas. A varanda hoje, alpendrada ou não, encontra-se tanto na frente, como na parte posterior das casas, ou em volta delas. No entanto, a sua função mudou. Não está mais ao lado da cozinha para servir de sala de jantar, e não está mais na frente da casas como ponto estratégico de controle do dono da casa. Mas ainda continua sendo espaço para receber visitantes, seja localizada na frente, na lateral ou na parte posterior das casas, geralmente próximas da área de lazer. 76 De fato, ela aparece em 2º lugar como espaço mais utilizado para receber visitantes. Sua proximidade da área de lazer, além de confirmar esse espaço como propício para receber visitantes, dá à varanda outra característica típica do modo de vida contemporâneo. Nela pode-se encontrar aparelhos de ginástica, TV e aparelhos de som. Juntamente com a sala de TV, ela é o terceiro lugar mais usado para atividades físicas. Lemos observa que a varanda foi considerada, até início do séc. XX, como o “centro das atenções, seria realmente o local de estar da família”170. Entretanto, ela é, na grande maioria, um dos espaços menos utilizados pela família, aparecendo em 2º lugar na Tabela 2. Só em algumas das casas analisadas, a ambientação requintada tenta resgatar o velho hábito do espaço de estar da família com sofás aconchegantes, redes, almofadas, como, por exemplo, a casa 26. A proprietária dessa casa, em entrevista, fez questão de ressaltar que “na minha casa, o lugar mais aconchegante é a varanda, estou fazendo de tudo pra isso. Nela vai ter rede, sofás...uma decoração atrativa”. Ainda assim, seria diferente do espaço anexo à cozinha, lugar de grande permanência da família, que deu origem à sala de jantar. A varanda é, nas casas analisadas, como uma sala de estar aberta com característica mais informal. 3.3. Espaços aos quais visitante não tem acesso Confirmando a tendência em estabelecer espaços diferentes para visitantes e habitantes, os quartos - que já foram citados como espaços de maior tempo de permanência da família - são considerados pelos entrevistados como primeiro espaço onde visitante não tem acesso. Cerca de 72% das respostas afirmaram isso. Além dos quartos, outros espaços que o visitante não tem acesso são, em segundo lugar o escritório e, em terceiro, a cozinha. Isso confirma, por um lado, o escritório como o segundo espaço mais restrito e, por outro lado, a cozinha como o espaço reservado aos moradores. Só as pessoas mais íntimas chegam na cozinha, estabelecendo uma clara distinção nas relações sociais. Dos entrevistados que responderam qual é o segundo espaço onde o visitante não tem acesso, 12,% citaram o escritório. 77 Tabela 4- Espaço onde visitante não tem acesso Cômodos Quartos Varanda Escritório/biblioteca Mezanino Sala de TV Sala de estar Quintal Quarto da mãe Cozinha Total % de respostas Primeiro No 18 3 3 1 0 0 0 0 0 25 92,59 % 72 12 12 4 0 0 0 0 0 100 Segundo No 3 1 12 0 1 0 0 1 5 23 85,19 % 13,04 4,35 52,17 0,00 4,35 0,00 0,00 4,35 21,74 100 Terceiro No % 2 2 5 2 1 1 1 0 5 19 70,37 10,53 10,53 26,32 10,53 5,26 5,26 5,26 0,00 26,32 100 3.3.1. Escritório O escritório aparece na casa brasileira no séc. XIX com o nome de ‘gabinete’. Lemos considerou o gabinete como a “novidade no programa da época, dependência destinada aos livros e ao trabalho intelectual. (...) Esse espaço é a nova dependência que viria dar às residências uma aura de intelectualidade”171. Sua presença na amostra em mais de 63% das casas, confirma sua permanência no programa de necessidades das residências. Na amostra, ele pode ser encontrado tanto em casas com cerca de 100m2, até em casas acima de 500m2 e, com uma incidência maior, nas construções da décadas de 80 e 90. A crescente popularização de novas tecnologias, como o computador, modernizou esse espaço. O escritório é disparado o lugar mais citado com ocorrência de computadores na casa, cerca de 52,78% (Tabela 5). Consequentemente, é o espaço definido para as atividades de trabalho e estudo, com mais de 40% das indicações (Tabela 6). Embora, em alguns escritórios possa se encontrar televisores e aparelhos de som, ele é um dos espaços com clara definição de atividade. Essa definição das atividades pode justificar o fato dele não estar entre os espaços mais utilizados para receber visitantes. Ao contrário, do total de respostas sobre qual é o segundo espaço onde o visitante não tem acesso, 12% citaram o escritório. Em 170 171 LEMOS, 1989, pág 134. LEMOS, 1978, pág. 134. 78 alguns casos, os visitantes são recebidos a negócios pelos proprietários, que são trabalhadores autônomos. É o caso da residência 17, por exemplo, um dos poucos casos onde o entrevistado diz ser o escritório um dos lugares de maior permanência. Isso confirma sua função específica, o trabalho. Por outro lado, o escritório é pouquíssimo usado pelos habitantes, como se pode perceber pela Tabela 1. Com a popularização dos computadores, autores especulam sobre o aumento do número de pessoas trabalhando em casa. Isso seria como uma volta a essa prática, já que o trabalho em casa é um hábito antigo, que remonta aos tempos medievais172, para dizer o mínimo. Em recente estudo sobre o modo de vida, Tramontano afirmou que “o local de trabalho tende a ocupar novamente o espaço da habitação, que deverá alojar um número mínimo de pessoas, talvez - e com, aparentemente, crescente probabilidade uma única, criando o cenário que abrigará um novo tipo de força de trabalho, completamente fragmentada”173. Essa tendência pode se confirmar em outros centros, mas essa perspectiva ainda não se verifica no modo de vida das pessoas e famílias da amostra estudada, embora a média de computadores seja alta, 1,7 por casa. Vale a pena ressaltar que, como são casas de estudantes de arquitetura, muitos fazem trabalhos esporádicos (desenhos de projetos) em casa com auxílio do computador. No entanto, essa não é a principal renda da família, não caracterizando ainda o tipo de trabalho ao qual Tramontano se referiu. De fato, cerca de 68% das pessoas com as duas maiores rendas na família são empregados: a) de empresa do setor privado, público ou de economia mista; b) empregador titular ou proprietários de empresas; c) servidores públicos; d) mais de 25% são aposentados; e) apenas 6% são profissionais liberais. A pequena quantidade de profissionais autônomos, pode explicar o alto índice, mais de 80%, de pessoas que trabalham fora de casa (incluindo pessoas além daquelas com as duas maiores rendas), e isso pode explicar, ainda, a pouca utilização do escritório para atividades diárias dos membros das famílias. Outro fator importante que pode provocar mudanças na função dos escritórios é o crescente número de computadores nos quartos. É o segundo espaço com maior índice de presença dessas máquinas possibilitando que os serviços esporádicos sejam feitos nos quartos e não no escritório. 172 173 TRAMONTANO, 1998, pág. 216. TRAMONTANO, 1998, pág. 216. 79 A combinação desses fatores faz com que o escritório, na maioria das casas, seja um espaço subutilizado. Em um dos questionários, a entrevistada identifica o escritório como um “espaço abandonado”. Talvez a presença dele nos programas de necessidades das residências continue sendo uma relíquia do status que o “gabinete” tinha no século XIX. Em vez de se constituírem em espaços necessários de trabalho e estudo, têm apenas uma função marginal e “decorativa” de baixa utilização. Tabela 5 – Localização dos equipamentos Cômodos Aparelhos de som Nº Computadores % Nº Equip. de ginástica % Nº TV % Nº % Área de lazer 4 5,63 1 2,78 7 36,84 2 2,41 Copa 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1 1,20 Cozinha 4 5,63 1 2,78 0 0,00 11 13,25 Dependência de empregada 5 7,04 0 0,00 0 0,00 9 10,84 Escritório/biblioteca 9 12,68 19 52,78 0 0,00 5 6,02 Mezanino 2 2,82 0 0,00 1 5,26 3 3,61 Quartos 17 23,94 11 30,56 4 21,05 20 24,10 Sala de estar 16 22,54 3 8,33 0 0,00 8 9,64 Sala de jantar 1 1,41 0 0,00 0 0,00 2 2,41 Sala de TV 7 9,86 0 0,00 3 15,79 16 19,28 Sala íntima 4 5,63 0 0,00 1 5,26 5 6,02 Varanda 2 2,82 1 2,78 3 15,79 1 1,20 71 100 36 100 19 100 83 100 Total Tabela 6 – Atividades Cômodos Área de lazer Interativo Lazer passivo Neces. comuns Neces. privadas Tar. domésticas Trab./Estudar 14 15,56 10 11,24 0 0,00 1 2,38 1 3,45 1 copa 0 0,00 0 0,00 1 2,13 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Cozinha 2 2,22 3 3,37 16 34,04 0 0,00 19 65,52 0 0,00 Qto de emp. 1 1,11 3 3,37 1 2,13 6 14,29 5 17,24 1 2,86 Esc./Biblio. 4 4,44 7 7,87 1 2,13 2 4,76 0 0,00 14 40,00 Mezanino 3 3,33 2 2,25 0 0,00 1 2,38 0 0,00 0 0,00 Quartos 5 5,56 14 15,73 2 4,26 21 50,00 0 0,00 6 17,14 Sala de estar 20 22,22 13 14,61 3 6,38 1 2,38 0 0,00 4 11,43 Sala de jantar 10 11,11 3 3,37 16 34,04 1 2,38 2 6,90 4 11,43 Sala de TV 9 10,00 18 20,22 3 6,38 3 7,14 1 3,45 3 8,57 Sala íntima 3 3,33 6 6,74 1 2,13 4 9,52 1 3,45 0 0,00 19 21,11 90 100 10 89 11,24 100 3 47 6,38 100 2 42 4,76 100 0 29 0,00 100 2 35 5,71 100 Varanda Total 2,86 80 Conclusão Diante desse quadro sobre a ocupação e utilização dos espaços, fica evidente a forte divisão do espaço doméstico em áreas mais destinadas à família e área mais destinadas a visitantes, revelando características muito interessantes da ocupação de alguns espaços, como se segue. a) O fato da cozinha ser o espaço de convívio da família (lugar para refeições, conversas e até para assistir televisão), estabelece grande diferença em relação às casas da primeira metade do século XX, quando a copa era espaço de convívio da família. Estabelece, também, diferença em relação às casas coloniais que tinham a varanda dos fundos como lugar de refeição e de permanência. E, definitivamente, é diferente da cozinha laboratório da proposta modernista. Ou seja, as cozinhas dessas casas contemporâneas apresentam-se com características próprias, fruto da aglutinação de atividades desses outros espaços. b) A materialização do aumento da noção de privacidade, expressas pela comodidade e conforto encontrados nos quartos, fazem desses os espaços de maior permanência. A generalização desse conforto aos demais membros do grupo familiar, não se restringindo aos donos da casa (em grande parte da amostra), pode ser sinal de alguma mudança na estrutura patriarcal característica da família nuclear. c) O fato da sala de estar e da sala de jantar serem espaços para receber visitantes, e o pouco uso deles por parte dos habitantes, remete esses às características encontradas nas casas coloniais e na casa-grande de engenho. As salas de visitas eram usadas especificamente para esse fim, e as salas de jantar eram o espaço para refeições apenas em ocasiões especiais. d) Outra caracterização da ocupação e uso desses espaços contemporâneos é a presença da sala de TV como o segundo espaço coletivo da família (o primeiro é a cozinha). Esse espaço reforça, por um lado, a sala de estar como espaço formal, a permanência da sala de visitas e, por outro lado, a privacidade da família pelo fato deste não ser acessível diretamente aos visitantes. e) Mais uma característica dessas residências é o desaparecimento ou o pouco uso de alguns cômodos como, por exemplo, o quarto de hóspedes e o escritório. O desaparecimento do quarto de hóspedes é claramente a confirmação do espaço doméstico como de domínio privado, restrito à família. A pouca utilização do 81 escritório, está relacionada com um uso multifuncional dos quartos, onde encontramos aparelhos de som e computadores. As constatações desse primeiro nível de análise dão um mapeamento das atividade desenvolvidas nessas residências. Essas informações serão melhor entendidas, segundo as premissas desse trabalho, quando confrontadas com os dados da análise configuracional das casas. 82 Capítulo 4 - Uma análise configuracional Teorias são abstrações através das quais entendemos o mundo. Uma teoria arquitetônica, deve aprofundar nossa compreensão do fenômeno arquitetônico Hillier Esse capítulo tem como objetivo descrever a Sintaxe Espacial das residências, ou seja, fazer essencialmente uma caracterização dos sistemas estudados em termos das suas permeabilidades e impermeabilidades ao movimento das pessoas no interior destes edifícios, e em relação aos seu exterior. Esse estudo será feito com o auxílio da técnica de convexidade e de suas variáveis analíticas, conforme descritas no capítulo 2. Neste capítulo, serão lançadas ainda hipóteses interpretativas das implicações sociais destes padrões espaciais, com base nos recentes estudos envolvendo o espaço doméstico sob esse enfoque. Essas hipóteses serão posteriormente verificadas, na medida do possível, no capítulo 5. 4.1. Características básicas do sistema espacial Os dados geométricos, como tamanho do lote e a área construída das residências explicitam um tipo de variação da amostra em estudo. No conjunto, as casas variam de 100m2 até mais de 500 m2, e os lotes entre 350 m2 – como, por exemplo, em Samambaia - até mais de 1000 m2 – no Lago Sul. Essa diversidade também se manifesta quanto aos dados sintáticos básicos: o número de espaços convexos nas residências varia de 11 a 69 (casa 21 e a casa 3, respectivamente). A média de espaços convexos para a amostra é de 30,30. O tamanho sintático dos sistemas é medido pelo número de espaços convexos e é visualizado pelos grafos justificados. Os grafos foram construídos tendo como espaçoraíz o exterior, conforme exposto no capítulo 2. Como a amostra é composta por 83 sistemas com grandes variações de espaços convexos, se analisada quanto à sua profundidade em relação ao exterior, é fácil identificar algumas características comuns (daqui para frente, ‘profundidade’ deverá sempre ser entendida como em relação ao exterior). A profundidade dos grafos varia de 5 a 13 níveis. A Tabela 7 apresenta as casas agrupadas em função desses níveis de profundidade (9 grupos) e seus respectivos números de espaços convexos. Tabela 7 – Níveis de profundidade dos sistemas Nº de Níveis 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Níveis de Profundidade 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Imóvel Número de Espaços convexos 15, 11, 12 25, 24, 17, 17, 16, 35, 22, 24, 37, 35 32, 36, 45, 19, 27,34 33 36 47, 43 34, 69 44, 40 19, 21, 23 7, 12, 13, 15, 20, 9, 16, 26, 27, 22 1, 4, 5, 14, 18, 29 25 10 6, 28 2, 3 8, 17 % de casas por níveis 11,11 18,51 18,51 22,22 3,7 3,7 7,4 7,4 7,4 Nesta tabela é possível verificar que os maiores sistemas - com 47 e 69 espaços convexos – apresentam diferentes níveis de profundidade, sendo que o primeiro sistema com profundidade total de 11 níveis e o segundo com 12, mostra que os maiores sistemas não são, necessariamente, os mais profundos, como se poderia pensar a priori. Os sistemas mais profundos – com 13 níveis - são os que possuem 44 e 40 espaços convexos, ou seja, não são os maiores do conjunto. A primeira constatação em relação a esse aspecto, é que a maioria das casas, cerca de 63%, está entre os níveis 6 e 8 de profundidade. Nesses níveis estão também as casas com as maiores médias de integração da amostra, com exceção da casa 19 – com 5 níveis, dando uma característica do conjunto. A principal constatação, no entanto, é a grande variação dos tamanhos dos sistemas nos níveis onde estão as casas mais integradas. Isso mostra que maior integração independe do tamanho do sistema. Numa correlação direta entre essas duas categorias (integração e tamanho), o valor de –0,6865 confirma, até surpreendentemente, uma forte correlação inversa entre elas. A Figura 12 ilustra isso mostrando sistemas com praticamente mesmo tamanho como, por exemplo, a casa 5 (com 45 espaços convexos), que está entre as mais integradas, enquanto a casa 8 (com 44) está entre as mais segregadas da amostra. 84 Figura 12.a – Grafo da casa 5, com 45 espaços convexos Figura 12.b – Grafo da casa 8, com 44 espaços convexos 85 4.2. Variáveis analíticas Como vimos na Capítulo 2, as variáveis escolhidas para essa análise sintática são: integração média dos sistemas, entropia, distributividade, simetria, ordem de integração, grau de fechamento e grau de funcionalidade. A Tabela 8 mostra os valores encontrados para essas medidas. 4.2.1. Integração média dos sistemas A média de integração dos sistemas da amostra apresenta uma considerável variação, sendo que a menor é 0,603 e a maior é 1,147. Apesar dessa variação, o conjunto apresenta-se com uma certa uniformidade, ou seja, com exceção das casas 19 e 23 que apresentam as maiores médias – 1,147 e 1,011, respectivamente – as demais casas estão com índices abaixo de 1. Comparando as médias de integração das casas da amostra com as casas estudadas por Amorim, em Recife, as casas 3, 8 e 17 são menos integradas que a casa de Pontual, a menos integrada da amostra dele. A casa mais integrada da mesma amostra é a de Svenson, com média de integração de 1,229, a qual supera as maiores integrações do conjunto estudado aqui, ou seja, a casa 19 com 1,147 e a casa 23 com 1,011. Mas, cerca de 63% dessa amostra (17 casas) superam a segunda maior medida de integração da amostra de Amorim, ou seja, a casa de Reynaldo com 0,832. Se comparada aos sobrados coloniais estudados por Trigueiro, cerca de 70% da amostra (19 casas) superam o sobrado menos integrado daquele estudo, com 0,693 e a maior integração do conjunto estudado aqui, também supera a maior integração encontrada por ela, o sobrado 2 com 1,137. Pode-se concluir então, diante dos estudos apresentados, que as casas dessa amostra são bem integradas. Isso é confirmado pela média do conjunto estudado (0,85) que está entre as médias dos conjuntos de Amorim e Trigueiro, respectivamente, com 0,81 e 0,90. Isso significa que as casas estudadas em Brasília são exemplos de sistemas que – a partir das hipóteses encontradas na literatura – deveriam favorecer um uso mais intenso e informal de seus espaços. 86 Tabela 8 - Dados gerais das varáveis sintáticas Tipos Imóvel a b Nível de c d Total Conv. RRA Máxima Profund. Média Simetria Menor Sim. Distribu- Dist. (norm.) tividade (norm) Integração Entropia Grau de Grau de Funcion. Fecham. casa19 4 2 9 15 5 1,359 0,952 0,510 6,500 1,000 2,750 0,942 1,147 0,825 0,80 0,27 casa23 4 6 2 12 5 1,596 1,064 0,702 1,000 0,072 2,000 0,650 1,011 0,867 0,86 0,42 casa12 6 2 10 6 24 6 1,777 1,091 0,676 1,000 0,072 2,000 0,650 0,964 0,818 0,78 0,38 casa5 15 10 10 10 45 8 1,664 1,101 0,661 1,250 0,114 0,800 0,184 0,960 0,838 0,85 0,58 casa15 5 3 4 5 17 6 1,640 1,145 0,581 1,429 0,145 1,125 0,310 0,949 0,807 0,75 0,35 casa20 7 1 8 16 6 1,859 1,148 0,569 0,778 0,035 1,000 0,262 0,945 0,750 0,92 0,56 casa13 8 1 8 17 6 2,016 1,141 0,615 0,889 0,054 0,889 0,218 0,937 0,738 0,92 0,41 casa16 11 3 6 2 22 7 1,867 1,180 0,711 1,444 0,147 0,571 0,095 0,915 0,822 0,83 0,50 casa1 10 10 8 4 32 8 2,171 1,209 0,641 0,778 0,035 0,600 0,106 0,904 0,724 0,78 0,41 casa26 9 3 5 7 24 7 1,912 1,204 0,637 2,000 0,241 1,000 0,262 0,891 0,780 0,88 0,33 casa7 12 4 9 0 25 6 1,158 1,221 0,742 0,923 0,059 0,563 0,092 0,876 0,946 0,86 0,36 casa27 13 8 9 7 37 7 2,150 1,226 0,684 1,176 0,102 0,762 0,169 0,867 0,753 0,93 0,43 casa9 17 8 7 3 35 7 2,068 1,266 0,657 1,333 0,129 0,400 0,028 0,851 0,761 0,78 0,34 casa22 16 8 9 2 35 7 1,723 1,231 0,765 1,059 0,082 0,458 0,051 0,848 0,874 0,75 0,43 casa25 13 4 10 6 33 9 2,130 1,263 0,789 1,357 0,133 0,941 0,239 0,845 0,806 0,81 0,39 casa4 13 9 9 5 36 8 2,031 1,276 0,694 1,000 0,072 0,636 0,120 0,836 0,788 0,84 0,44 casa21 4 3 4 11 5 2,035 1,356 0,754 0,571 0,000 0,571 0,095 0,815 0,818 0,83 0,27 casa14 8 6 5 19 8 2,320 1,343 0,707 0,727 0,026 0,357 0,012 0,814 0,741 0,77 0,47 casa6 13 6 10 8 37 11 2,210 1,310 0,783 1,313 0,125 0,947 0,241 0,811 0,792 0,71 0,35 casa29 14 7 10 3 34 8 1,924 1,339 0,754 1,000 0,072 0,619 0,114 0,786 0,838 0,81 0,41 casa18 12 8 7 27 8 2,004 1,384 0,738 0,800 0,039 0,350 0,009 0,780 0,818 0,83 0,41 casa28 14 8 16 5 43 11 2,119 1,382 0,786 0,792 0,037 0,955 0,244 0,758 0,817 0,81 0,47 casa10 15 8 6 6 35 10 2,023 1,386 0,805 1,500 0,157 0,522 0,076 0,755 0,841 0,80 0,34 casa2 9 8 8 9 34 12 2,587 1,442 0,956 1,125 0,093 1,000 0,262 0,726 0,796 0,67 0,35 casa8 16 16 6 6 44 13 2,586 1,588 0,990 1,000 0,072 0,375 0,019 0,662 0,820 0,79 0,48 casa17 13 16 5 6 40 13 2,445 1,612 0,980 0,905 0,056 0,379 0,020 0,654 0,841 0,71 0,33 12 2,751 1,751 1,101 0,865 0,049 0,327 0,000 0,603 0,837 0,74 0,38 1,278 0,119 0,848 0,203 0,849 0,809 0,81 0,40 casa3 28 24 13 4 69 Total 309 184 210 115 818 Média Entropia do conjunto 30,30 1,282 0,925 4.2.2. Entropia A medida de entropia ou “fator de diferenciação”, conforme definida no capítulo 2, quantifica o grau de diferenciação entre os valores de integração dos sistemas. Essa medida é importante porque indica se um sistema estabelece ou não grandes diferenciações sintáticas entre os seus lugares, isto é, se existem simultaneamente espaços extremamente integrados e espaços extremamente segregados no sistema. A amostra é composta por residências que apresentaram uma pequena variação nas medidas de entropia, ou seja, cerca de 24,2% de variação entre a maior e a menor medida, sendo elas 0,95 e 0,72, respectivamente. Entre os estudos de Hanson, Amorim e Trigueiro, a menor medida de entropia foi de 0,42 e a maior de 0,87, respectivamente, encontradas por Hanson (entre as casas vernaculares da França) e Amorim. Isso significa que, em face da literatura existente, o maior índice de entropia até hoje identificado encontra-se nesta amostra. Todas as casas dessa amostra superam o menor índice encontrado por Hanson. Apenas 3 casas da amostra estudada têm índices maiores do que a casa mais entrópica dos arquitetos modernistas do Recife, estudadas por Amorim. Mas, cerca de 89% (24 casas) têm índices de entropia maiores do que o segundo índice encontrado por ele, de 0,85. Com relação aos sobrados coloniais, cerca de 63% superam a menor entropia do conjunto de Trigueiro. Diante dessas evidências, pode-se concluir que essas medidas são altas, indicando esses sistemas como muito entrópicos, ou pouco diferenciados. De maneira geral, as casas estudadas não apresentam espaços extremamente integrados e outros extremamente segregados. Isso significa, diante das hipóteses sociológicas, que não existe grandes distâncias das categorias de pessoas e/ou práticas envolvidas nessas casas. As casas que apresentaram os maiores e menores índices de entropia, são bons exemplos do que são diferenciações no sistema. A casa 1, por exemplo, tem a menor medida de entropia 0,72. A variação entre o seu espaço mais integrado – sala de jantar, com 1,559 – e o menos integrado – o banheiro da suíte4, com 0,461 – é muito grande se comparada à casa 7. Esta última, com 0,95 de entropia, tem como espaço mais integrado o quintal (com 1,348) e o exterior, menos integrado, com 0,863. Essa variação entre os espaços mais integrados e os menos integrados é que dá a diferenciação sintática do sistema, a qual não se revelou muito elevada na amostra. Para visualizar o quanto o conjunto estudado é entrópico em relação aos demais estudos mencionados, foi calculada a entropia de cada um desses conjuntos, conforme Tabela 9. A comparação a seguir será feita com base nos dados de cada um deles. Se comparado aos dados levantados por Amorim e por Trigueiro, o conjunto mostra-se apenas levemente mais diferenciado. As casas modernistas do Recife, com 0,936 de entropia, são mais homogêneas que o conjunto estudado, que tem 0,925, e os sobrados coloniais em Recife constituem um conjunto mais homogêneo que os outros dois, com 0,954. Tabela 9 – Entropia dos conjuntos Autores Hanson Amorim Trigueiro Franciney Amostras Entropia do conjunto Casas vernaculares na Normandia – França 0.841 Casas de arquitetos em Londres 0,865 Casas das “estrelas” (Loos, Meier, Hejduk e Botta) 0,975 Casas de arquitetos modernista em Recife 0,936 Sobrados coloniais 0,954 Casas modernista em Natal (refor., não reformadas e novas 0,930 construções) Casas em Brasília 0,925 Em relação aos demais estudos empíricos disponíveis na literatura, existe uma diferença entre as casas estudadas no Brasil e as estudadas por Hanson em Londres e em Paris. Os conjuntos analisados por ela apresentam-se bem mais diferenciados do que os de Amorim, de Trigueiro e do conjunto em estudo. No caso das casas dos arquitetos de Londres, a diferenciação é significativa, pois a entropia do conjunto é de 0,86, bem abaixo da amostra desse estudo (0,925), e o mais diferenciado é o conjunto de casas vernaculares na França com 0,84. Entre a média das casas das “estrelas”, a entropia foi bem alta, 0,98, sendo este o conjunto mais homogêneo de todos. Essas diferenciações sintáticas entre os conjuntos, especialmente com relação àqueles que dizem respeito a casas de arquitetos, chamam a atenção pois acredita-se que as casas de arquitetos são mais idiossincráticas que as demais. Amorim considerou essa hipótese quando do seu estudo em Recife, mencionando vários críticos que abordam essa discussão. O pressuposto é de que as casas de arquitetos são diferentes das casas convencionais, entre outras coisas, por não serem modelos reproduzidos em grande número e por que revelam a personalidade do próprio arquiteto. Segundo Amorim, 89 “casas de arquitetos são individuais e únicas, talvez posa vir a ser um tipo, mas nunca como um modelo para ser reproduzido”174. A comparação entre os dados do estudo das casas modernistas do Recife e os dados das casas em Brasília - mais especificamente em relação à integração dessas casas – permite verificar que essa diferenciação nem sempre acontece. A diferença é muito pequena, o que não confirma a hipótese levantada, de que as residências de arquitetos são muito diferenciadas entre si. É importante ficar claro que isso acontece apenas em relação a integração dos sistemas e não quanto a outros aspectos dessas residências, que não são objetos desse estudo. Mesmo assim, é curioso notar como uma faceta fundamental na configuração destes edifícios (exatamente aquela mais relacionada aos modos comportamentais que neles se desenvolvem, a saber, sua sintaxe), nega a suposta idiossincrasia destes projetos. 4.2.3. Distributividade No conjunto estudado, as medidas de distributividade (Tabela 8) chamam a atenção pela sua heterogeneidade: a discrepância entre a maior, com 2,750, e a menor, com 0,346, mostra sistemas muito distributivos e outros pouquíssimos distributivos. A casa 19, com maior distributividade, é o exemplo de configuração que não constrói, como um todo, fortes barreiras entre as várias pessoas e/ou as práticas que usam/ocupam os espaços, e a casa 9, no outro extremo, é um exemplo de configuração que estabelece essas barreiras. Para entender melhor esses dados, basta verificar a composição da configuração das casas 19 e 9. A casa 19 tem a presença absoluta de espaços tipo “c” e “d” , ou seja, cerca de 80% dos espaços da casa. A grande presença desses tipos significa que a maioria dos espaços estão ligados aos outros de forma a criar anéis, propiciando diferentes rotas na casa, para os mesmos destinos. O inverso acontece na casa 9, onde os espaço tipo “a” e “b” superam os tipos “c” e “d” em mais de 70% dos casos. A presença desses tipos de espaços sinaliza para uma estrutura mais em árvore, 174 No original: “Architect’s house are individual and unique, perhaps aimed to become a type, but never as a model to be reproduced”. AMORIM, 1999, pág. 65. (minha tradução). 90 onde os espaços são mais segregados. Para melhor visualização dessas estruturas, ver os grafos das casas 19 e 9 na Figura 13. Dada a heterogeneidade das medidas de distributividade do conjunto, conforme mencionado, elas serão comparadas com outras encontradas na literatura. Para que seja mais facilmente visualizado, os dados foram normalizados entre 0 e 1 (mais próximo de zero implica em sistemas menos distributivos), tendo como parâmetro a medida de distributividade do estudo de Holanda, a maior entre os estudos a que tive acesso. Figrua 13 a – Grafo casas Figrua 13b – Grafo casa 19 Após essa normalização, a média do conjunto ficou em 0,220, ou seja, um índice muito baixo. Isso significa que os sistemas da amostra apresentam-se pouco distributivos. Embora o parâmetro usado para comparação tenha sido muito alto (2,9) fazendo com que a média de distributividade do conjunto seja tão baixa, o valor normalizado evidenciou uma das características desse conjunto. Isto é, a amostra é composta, na grande maioria, por sistemas que são: a) muito anelares quando envolvem os espaços dos setores social, serviço e de lazer; b) extremamente em árvore, quando envolvem os espaços do setor íntimo. Embora algumas casas sejam muito distributivos, em parte de seus sistemas, a grande quantidade de espaços não-distributivos (geralmente encontrados no setor íntimo e de serviço), fazem com que o índice de distributividade seja baixo. Os sistemas das casas 5 e 2, são bons exemplos dessa estrutura, um misto de parte muito distributiva e outra extremamente em árvore. 91 Figura 14 a – Grafo casa 2 Figura 14b – Grafo casa 5 Teoricamente, isso significa que, de maneira geral, os sistemas têm uma estrutura que controla mais o acesso aos diversos cômodos da residência. Internamente ao conjunto, a diferença entre os sistemas indica que existem estruturas que investem mais fortemente no controle do acesso a certas dependências em particular, nomeadamente o setor íntimo. Isso resulta em práticas e utilização dos espaços de maneira mais especializada e segregada. 4.2.4. Simetria Outra medida envolvendo os espaços tipos a, b, c e d, como vimos, é a medida de simetria. Segundo a literatura, ela dá um perfil do edifício quanto ao grau de classificação das pessoas e/ou das práticas cotidianas. É uma outra maneira de caracterizar o grau de diferenciação interna do sistema, só que de maneira mais local, ao contrário da integração e da entropia que tratam o sistema globalmente. Na casa 19 – onde o índice de simetria de 6,500, é o maior da amostra - a ausência de espaços tipo “b” evidenciou o número de espaços “a” e “d”, dando a esta casa um maior número de espaços que favorecem à integração. Na casa 21 - com o menor índice de simetria, ou seja, 0,571 - a ausência de espaços tipo “d”, evidenciou os espaços “b” e “c”, que contribuem para uma maior segregação desse sistema (ver Tabela 8). 92 Se comparado ao conjunto estudado por Hanson, das 27 casas da amostra, apenas o índice da casa 19 supera o maior índice encontrado por ela. Cerca de 92% dos sistemas da amostra estão abaixo das casas consideradas por ela como sendo pouco simétricas. Dada a grande variação das medidas de simetria da amostra, foi feita uma normalização desses valores, onde os parâmetros foram o máximo e o mínimo da própria amostra. Estes foram normalizados variando de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de zero, menor a simetria. A média do conjunto, depois de normalizado, ficou em 0,119 (Tabela 8) - esse baixo valor confirma a tendência do conjunto de ser pouco simétrico, em comparação com os dados de Hanson. A hipótese é que baixos índices indicam que os sistemas classificam fortemente os vários papéis e status nessas residências. Esse atributo caracteriza esses sistemas sob um outro aspecto, ou seja, são pouco simétricos apesar de não serem muito diferenciados sintaticamente, conforme a medida de entropia vista anteriormente, e de serem muito integrados. Por um lado, a correlação entre simetria e entropia é baixíssima, praticamente nula: 0,064. Por outro lado, a correlação entre simetria e integração é positiva, mas não é muito forte: 0,53. As baixas medidas de simetria, em contraste com as altas medidas de entropia, e as altas medidas de integração, colocam dificuldades na caracterização dessa amostra, uma vez que a simetria (uma medida local) não reflete nem a entropia, nem a integração do sistema como um todo (medidas globais). Esse descompasso pode ser resultado de problemas como: a) uma possível inconsistência teórica, a qual exigiria um estudo mais aprofundado, ultrapassando o alcance do presente trabalho, e/ou b) a falta de outros estudos para comparação, inclusive da própria região estudada, pelos quais se possa revelar uma recorrência desta contradição entre medidas locais e globais, denotando até mesmo uma determinada família configuracional. No primeiro caso, o aprofundamento, do ponto de vista teórico, seria no sentido de verificar se demonstrações formais foram feitas ou se apenas testes quantitativos175. Estes testes não são mais do que uma verificação da hipótese levantada, diferentemente de uma demonstração mais formal. A diferença é que um teste numérico pode-se revelar satisfatório para um certo valor, mas, para algum valor diferente daquele testado, ele 175 Como parece sugerir em HILLIER, 1996, pág. 321. 93 pode não ser válido. Já uma demonstração matemática mais formal comprova a validade da hipótese para qualquer valor dado. No segundo caso, é possível que a contradição seja indicativa de configurações que, consistentemente, investem em baixa simetria, mas em alta integração e alta entropia. Pela literatura, isto significaria que haveria uma forte classificação em nível local, ao mesmo tempo em que haveria uma fraca classificação em nível global176. A evidência aqui tratada parece confirmar a hipótese da literatura em termos de categorias excludentes, típicas de uma classificação forte. Entretanto, uma pesquisa mais aprofundada será necessária para a verificação desta hipótese. 4.2.5. Ordem de integração A partir da tabela de integração das residências, visualiza-se a ordem com que os seus espaços são apresentados. A Tabela 10 mostra os espaços de atividades (citados pelos entrevistados), a circulação mais integrada e o exterior, ordenados pelas suas medidas de integração. É fácil verificar, nesta tabela que os espaços de atividades do setor social (sala de jantar e de estar) são os mais integrados das casas. A varanda e a área de lazer, também estão entre os mais integrados. Por outro lado, o exterior e quarto de empregada são os mais segregados dos sistemas (para maiores detalhes sobre a ordem de integração de todos os espaços convexos das casas, ver anexo 4). A partir da Tabela 10 é possível verificar a incidência em que aparecem os espaços “principais”: sala, cozinha, quarto principal e exterior (conforme definidos no capítulo 2). Vale ressaltar que foi considerada como sala tanto de estar como de jantar, tomando uma ou outra, no caso de maior integração. A Tabela 11 mostra a ordenação predominante do conjunto. 176 Ver, por exemplo, a discussão de Hanson sobre distributividade e simetria (HANSON 1998, pág. 188), assim como sua citação dos conceitos de classification e frame, de Bernstein (idem, pág. 118). 94 Tabela 10 – Ordem de integração Imóvel Ordem de integração Casa1 Casa2 Casa3 Casa4 Casa5 Casa6 Casa7 Casa8 Casa9 Casa10 Casa12 Casa13 Casa14 Casa15 Casa16 Casa17 Casa18 Casa19 Casa20 Casa21 Casa22 Casa23 Casa25 Casa26 Casa27 Casa28 Casa29 S.jantar > Circ. > estar > copa > área de lazer > varanda > qto1 = escritório = exterior > qto2 > qto empregada > cozinha 1,559 1,267 1,053 1,014 0,954 0,932 0,881 0,881 0,881 0,863 0,780 0,737 Estar > circ. > varanda > área de lazer > s. jantar = cozinha > s. TV/int. > escritório > qto. emp. > exterior = qto 1 > qto 2 1,046 1,010 0,936 0,871 0,766 0,766 0,753 0,747 0,668 0,601 0,601 0,529 Circ. > estar > área de lazer > s.jantar > escrit. > cozinha > qto1 > varanda > exterior > copa > qto2 > TV/Int. > qto. emp. 0,908 0,816 0,772 0,765 0,730 0,687 0,678 0,671 0,666 0,580 0,562 0,504 0,436 Estar/Jantar > TV/Int. > varanda > cozinha > circ. > área de lazer > escritório > qto1 = qto2 >exterior > qto. emp. 1,442 1,328 1,173 1,097 1,040 0,970 0,814 0,737 0737 0,696 0,677 Área de lazer > Varanda > TV/Int. > qto1 > circ. > estar/jantar > qto2 > cozinha > copa = qto. emp.> escritório > exterior 1,513 1,496 1,333 1,202 1,161 1,077 0,997 0,983 0,863 0,863 0,847 0,761 Estar > varanda > s.jantar > área de lazer > circ. > TV/Int. > cozinha > qto1 > qto2 > escritório = exterior > qto. emp 1,277 1,187 1,160 1,121 1,097 0,943 0,917 0,651 0,635 0,601 0,601 0,580 Estar > circ. > cozinha > qto1 > s.jantar > exterior > qto2 1,417 1,256 1,083 1,005 0,891 0,863 0,825 Estar > circ, > TV/Int, > s,jantar > varanda > área de lazer > qto1 > cozinha > qto2 > qto empregada > exterior 1,010 0,995 0,924 0,911 0,880 0,771 0,728 0,704 0,675 0,626 0,511 Circ,> estar/jantar > varanda > cozinha > área de lazer > exterior > qto1 = qto2 > escritório > qto empregada 1,522 1,327 1,161 0,919 0,884 0,868 0,837 0,837 0,868 0,709 Jantar > circ, > cozinha > estar = TV/Int > varanda > área de lazer > escritório = qto1> qto2 = exterior > qto, empregada > 1,242 1,101 1,064 0,969 0,969 0,889 0,821 0,745 0,745 0,598 0,598 0,563 Circ,> cozinha = varanda > estar/jantar > qto1 > área de lazer > exterior > escritório> qto empregada > qto2 1,479 1,151 1,151 1,102 1,057 0,977 0,878 0,750 0,740 0,709 Circ, > s,jantar > cozinha > s,estar > qto1 > qto2 > exterior 1,626 1,273 1,171 1,045 0,887 0,887 0,496 Circ, > s, estar > cozinha > qto1 > qto2 > escritório > exterior 1,414 1,359 0,955 0,841 0,768 0,654 0,589 Estar/jantar > circ,> qto1 > cozinha > exterior > qto2 1,722 1,464 0,887 0,791 0,650 0,636 Jantar = circ, > cozinha > estar = qto1 > varanda > qto2 > exterior 1,250 1,250 1,184 0,938 0,938 0,833 0,804 0,643 Circ, > s,jantar = TV/Int > cozinha > estar > varanda > qto1 = qto2 > área de lazer > escritório > qto empregada > exterior 1,021 0,968 0,968 0,846 0,798 0,695 0,663 0,663 0,629 0,619 0,499 0,457 Circ, > cozinha > estar > qto1 = qto2 > s,jantar > varanda > qto, empregada > exterior 1,356 1,006 0,931 0,866 0,866 0,678 0,671 0,600 0,547 Varanda > estar > circ, > cozinha/copa > exterior > qto1 = qto2 1,962 1,681 1,239 1,177 0,759 0,736 0,736 Circ, > estar > copa > qto1 > qto2 > cozinha > exterior 1,757 1,387 1,146 0,976 0,909 0,850 0,538 Estar/jantar > circ, > cozinha > qto1 = exterior > qto2 1,327 1,206 0,737 0,664 0,664 0,492 Circ, > s,jantar > qto1 > TV/Int, > cozinha/copa > varanda > estar > área de lazer > qto emp, > escritório = exterior > qto2 1,308 1,206 1,080 1,020 0,919 0,860 0,844 0,761 0,749 0,737 0,737 0,698 Estar > circ, > cozinha > qto1 > qto2 > exterior 1,424 1,306 1,119 0,746 0,712 0,627 Circ, = s,jantar > estar > cozinha > area de lazer > TV/Int, > escritório > qto1 > exterior > qto2 > varanda > qto, empregada 1,268 1,268 1,197 1,118 1,103 0,894 0,867 0,833 0,759 0,702 0,691 0,629 S, jantar > circ, > varanda > cozinha > estar > qto1 = qto2 > exterior > qto empregada 1,569 1,263 1,233 1,177 0,941 0,822 0,822 0,664 0,595 s, jantar > circ, > estar > copa > área de lazer > varanda = TV/Int, > cozinha > qto1 = qto2 > escritório > qto, emp,> exterior 1,463 1,346 1,173 1,147 1,019 0,989 0,989 0,961 0,934 0,934 0,917 0,677 0,651 Circ, > s,jantar > cozinha > área de lazer > estar > qto1 > qto2 = escritório > copa = TV/Int, > qto, emp, > exterior > varanda 1,273 1,096 0,913 0,906 0,869 0,863 0,720 0,720 0,646 0,646 0,621 0,600 0,558 Estar > circ, > copa > TV/Int,> cozinha > s,jantar > qto1 > escritório > área de lazer = exterior > qto2 > qto,empregada 1,327 1,185 1,071 1,046 0,916 0,898 0,787 0,735 0,705 0,705 0,640 0,630 Tabela 11 – Ordem de integração dos “principais” espaços Ordem de integração Sala > cozinha > quarto principal >exterior Sala > cozinha > exterior > quarto principal Sala > exterior > cozinha > quarto principal Sala > Quarto principal > cozinha > exterior Cozinha > sala > quarto principal> exterior Imóveis 2, 4, 6, 7, 8, 10, 13, 14, 17, 23, 27, 28, 29 9,19, 21, 22, 25, 26, 3 1 5, 15, 20 12, 16, 18 Ocorrência 13 7 1 3 3 % 48,15 25,93 3,70 11,44 11,11 95 A seqüência “sala > cozinha > quarto principal > exterior” aparece em quase 50% dos casos, seguida pela seqüência “sala >cozinha > exterior > quarto principal”, com quase 26% dos casos. Essas duas seqüências mostram uma clara definição de estrutura doméstica da amostra com as seguintes características: a) o forte investimento nos espaços do setor social (sala de estar e jantar); b) a distância na relação com o exterior, sinalizando uma fraca relação público/privado; c) o isolamento dos quartos confirmando o seu status sempre diferenciado dentro da casa. Em recente estudo sobre espaços domésticos no Distrito Federal, verificou-se que essa seqüência também foi a predominante. Esse enfraquecimento da relação com exterior pode “evidenciar a pouca importância da interface público/privado e a tendência à interiorização das residências”177, sinalizando esta como uma das características das casas em Brasília. 4.2.6. Grau de funcionalidade No conjunto, as casas têm entre 1 e 17 espaços de transição ou circulação, apresentando uma média de 5,5 para o conjunto da amostra. Já o número de espaços de atividade variam entre 5 e 48, com uma média de 20. Os valores extremos são encontrados nas casas 3 e 21. Essas casas exemplificam a diversidade da amostra, pois a primeira tem 6 espaços convexos e a segunda 65 espaços. À primeira vista, é difícil afirmar o que significam esses valores absolutos. Por isso, são melhores avaliados quando relativizados para o número total de espaços convexos da casa, gerando o grau de funcionalidade. O grau de funcionalidade permite identificar se um sistema apresenta uma orientação mais transicional ou uma orientação mais funcional. Um sistema com orientação mais transicional indica uma configuração que investe forte nos espaços de circulação, significando maior classificação dos espaços e de seus usos. Os valores encontrados na amostra, conforme Tabela 8, indicam a casa 2 (com 0,67) e a casa 27 (com 0,93), respectivamente, com o menor e o maior grau de funcionalidade. Se comparada à amostra de Amorim, a casa 27 supera a medida da casa de Svenson (com 0,75), a mais funcional da amostra. A grande maioria, cerca de 70,4% 96 das casas dessa amostra, superam o maior índice de funcionalidade encontrado por ele. Isso caracteriza o conjunto aqui estudado como tendo um layout de orientação mais funcional que de transição, conforme a alta média do conjunto, de 0,79, em vista da média das casas dos arquitetos em Recife, que é de 0,699. A Figura 15 ilustra um sistema muito funcional, onde existe só uma circulação entre os quartos. Segundo a hipótese, o alto índice de funcionalidade significa pouca classificação/separação entre rótulos, ou seja, não existe a proliferação de espaços mediadores entre os vários lugares da casa o que aumentaria a distância sintática entre as categorias de usuários (habitantes, empregados e visitantes). Amorim chamou de mediadores os espaços de circulação. Para ele, esses espaços são “uma típica característica de casas modernas que é penetrantemente presente, controlando o acesso de setor para setor, prevenindo encontros indesejáveis”178. Figura 15 – casa 27 Portanto, o alto grau de funcionalidade da amostra indica, por um lado, que o fato de não investir muito em espaços de transição como espaços mediadores, sugere um investimento em espaços de atividades que façam esse papel de transição, por outro lado, as casas da amostra apresentam uma características tipicamente não modernistas, conforme Amorim. A Figura 16, exibe um dos sistemas mais transicionais da amostra. 177 FRANÇA, 1999, pág. 4. 97 Figura 16 – Casa6 4.2.7. Grau de fechamento O grau de fechamento permite analisar a casa sob um outro aspecto, o da acessibilidade relativa entre cômodos, isto é, a medida em que a casa se constitui como sistema de espaços convexos que podem ou não ser isolados entre si por meio de portas e paredes. Em outras palavras, se o layout é mais aberto ou compartimentado. As casas 16 e 19 são, respectivamente, as casas com configuração mais compartimentada e menos compartimentada da amostra estudada. Na casa 16, todos os cômodos são isolados por portas. A sala de estar, por exemplo, é completamente isolada do restante da casa. Até o pequeno corredor, onde encontra-se o banheiro social, possui porta. A cozinha é um espaço fechado que não se abre nem para a sala de jantar. Até a área de serviço é fechada para o corredor lateral externo, caracterizando este como um sistema altamente compartimentado. 178 No original: “Mediation, however, is a typical characteristic of modern houses that is pervasively present, controlling access from sector to sector, and preventing, undesirable enconunters.”AMORIM, 2001, pág. 19.12. 98 Figura 17 a - casa 16 Já a casa 19, com o menor grau de fechamento, apresenta mais franco acesso entre os cômodos: a abertura da cozinha para a sala de jantar, e dessa para a circulação que leva diretamente à sala de estar, sem portas, fazem com que os espaços fechados se reduza à área intima, os quartos. À primeira vista, poder-se-ia dizer que esse franco acesso é devido à pequena escala da casa 19, com cerca de 100m2., mas verificando-se a casa 9, com mais de 400m2 e a segunda com menor índice de fechamento, fica evidente que a questão não é simplesmente em função de característica geométricas (no caso, tamanho global da área construída), e sim de características topológicas. Figura17b – casa 19 Na casa 9, o espaço da churrasqueira, por exemplo, é formado por dois espaços convexos. A sala de estar/jantar forma um único espaço convexo e é aberta para o hall de entrada, formando com este, dois espaços convexos abertos. Esse franco acesso entre 99 espaços do setor social reduz os espaços fechados à área íntima e à de serviço. Isto, em proporção ao número total de espaços convexos, gera um baixo índice de fechamento. As casas 19 e 9 - juntamente com as casas 2, 3, 6, 7, 10, 12, 15, 17, 21, 25, 26, ou seja, quase 50% da amostra - são menos compartimentadas que a casa de Holanda, com 0,40. Nenhuma casa da amostra é mais compartimentada que as casas do mercado imobiliário inglês – 0,77, citadas por Hanson. Quase 40% da amostra são tanto ou mais compartimentadas que as casas dos arquitetos londrinos – 0,42 em média, também citadas por ela179. Para Hanson, o baixo índice de fechamento das casas dos arquitetos de Londres é resultado da complexidade de seus espaços. Segundo ela, “a maioria dos cômodos é constituída por domínios espaciais mais complexos, feitos de uma mistura de espaços funcionais e transições, e é isto que confere às casas dos arquitetos um grau de peculiaridade que tanto contrasta com a configuração estereotipada e ‘em caixas’ de muitas casas modernas da especulação imobiliária”180. Entretanto, isto não é sempre assim. Para Holanda, o baixo índice de fechamento de sua casa, por exemplo, não é devido à proliferação de espaços convexos em cada cômodo, como sugeriu Hanson. Ao contrário, ele resulta da “minimização do fechamento dos espaços [onde] a economia de elementos de circulação é grande, sendo muitas delas incorporadas aos diversos cômodos”181. Considerando que tanto Hanson quanto Holanda concluíram que os índices encontrados por eles são baixos, o conjunto da amostra, apresenta-se pouco compartimentado, já que a média é de 0,43. Por outro lado, como os argumentos de ambos para esses baixos índices são diferentes, o que justifica esse valor para a amostra em estudo? No conjunto analisado, pode-se encontrar tanto exemplos próximos do que Hanson sugeriu, quanto próximos às características citadas por Holanda. A casa 17, com a complexidade de espaços convexos, se aproxima dos exemplos do primeiro caso. A casa 26, por sua vez, apesar de não ter um pátio interno (como na casa átrio de Holanda), tem a cozinha aberta para sala de jantar, que também é aberta para sala de estar. Essa configuração minimiza o fechamento e dá uma característica próxima do exemplo estudado por Holanda. 179 HANSON, 1998, pág. 230. HANSON, 1998, pág. 230, citada por HOLANDA, 2000, pág.12. 181 HOLANDA, 2000, pág. 12. 180 100 Figura 18 – casa 17 - Planta de convexidade A casa 3, é um misto das características apresentadas por Hanson e por Holanda. Ela possui cômodos como, por exemplo, a sala1 (composta por quatro espaços convexos) e vários espaços de circulação compostos por mais de um espaço convexo. Isso dá uma maior complexidade ao espaço, como sugeriu Hanson. Essa residência tem também o mezanino e o estar superior que são espaços de atividades e fazem papel de circulação, aproximando-se do exemplo de Holanda. Figura 19a – Planta baixa casa 3 101 Na casa 3, ao mesmo tempo em que existem espaços de atividades que servem de passagem (economizando elementos de circulação), existem espaços de atividades, compostos por vários espaços convexos (dando complexidade aos espaços). Ela tem, portanto, espaços abertos por motivos diferentes, ora pela complexidade dos espaços convexos, ora pelo franco acesso a outro ambiente. Figura 19b – Planta de convexidade casa 3 Na amostra estudada, com baixo índice de fechamento, chama a atenção o fechamento da cozinha. De maneira geral, as cozinhas são espaços isolados sintaticamente do sistema por meio de portas e paredes. De fato, em 24 casos, cerca de 88,89% dos casos, a cozinha não tem abertura nem para a sala de jantar. Somente em um caso, a casa 26, encontra-se a chamada cozinha americana, como já foi mencionado. Nas demais casas, só são abertas para a copa e, na grande maioria, são fechadas para os outros cômodos da casa. De maneira geral, as residências têm baixo grau de fechamento pela predominância da abertura do setor social, especialmente, sala de estar e jantar, cerca de 55% da amostra. A existência de várias varandas, como espaços convexos abertos, também auxiliam numa configuração pouco fechada. Embora sejam abertas na grande maioria, as salas de estar em alguns casos, formam espaços convexos distintos das sala 102 de jantar, como no caso das salas em “L”. Isto é, são espaços “recortados” configuracionalmente de maneira a definir melhor os ambientes entre si. A casa 10 é um bom exemplo desse tipo de configuração espacial (ver casas 18 e 22 – Anexo 3). Em síntese, esta amostra parece sugerir que a distinção feita por Holanda não é muito importante, pois as duas estratégias para se conseguir maior fluidez espacial encontram-se indistintamente utilizadas. Curioso mesmo é notar que um dos atributos tidos como típicos de uma arquitetura moderna mais erudita – aquela fluidez – foi aparentemente incorporado numa amostra mais “vernacular” como esta, ainda que num recorte de classe social específico. Figura 20 – casa 10 – Planta baixa e Planta de convexidade 103 Conclusão As informações relativas à configuração espacial das residências, segundo as variáveis analíticas, indicaram algumas características do conjunto: a) Esses sistemas são bem integrados e muito entrópicos, significando que são configuracionalmente propícios a um intenso convívio entre as pessoas, uma vez que não existem espaços muito segregados e outros muito integrados. b) Os sistemas mostram-se pouco distributivos e pouco simétricos. A baixa distributividade indica que, de maneira geral, esses sistemas criam mecanismo de controle do acesso aos diversos cômodos das residências. Por outro lado, os baixos índices de simetria caracterizam essas estruturas domésticas com forte indício de formalidade, classificando os vários papéis e atividades no espaço. Juntas, significam aumento da privacidade local, ainda que mantendo, pela alta integração, facilidade de contato global. c) As características anteriores, aliadas ao fato desses sistemas serem funcionais (alto índice de funcionalidade), sinalizam para a possibilidade de existirem espaços de atividades que são mediadores do acesso de um espaço para outro, como estratégia de controle. d) Os sistemas, pela ordem de integração das casas, isolam-se de maneira explícita em relação ao espaço público, sinalizando pouca relação entre esses dois “mundos”. A segregação do exterior nos sistemas é tão grande quanto a segregação dos espaços destinados aos empregados. Esse isolamento indica uma tendência à formalidade dessas casas, pois pode, por um lado, dificultar o acesso de visitantes e, por outro, estabelecer grandes distinções na relação com os empregados. A ordem de integração mostrou também o forte investimento desses sistemas nos espaços dos setores social e de lazer, que estão entre os espaços mais integrados. Como essa configuração suporta o cotidiano das diversas categorias de usuários nesse espaço, segundo informações do capítulo 3, será melhor compreendido no próximo capítulo, quando será feito o cruzamento das informações configuracionais, com o uso e ocupação dessas residências. 104 Capítulo 5 – Espaço doméstico: morfologia e modo de vida O estudo da ocupação e utilização dos espaços, feito no capítulo 3, permitiu identificá-los em relação às preferências de seus habitantes. Essas preferências revelaram o conjunto de espaços destinados à cada função: receber visitas, fazer refeições, descanso e lazer. O estudo da configuração das residências, feito no capítulo 4, permitiu entendê-lo como um sistema de relações espaciais. Este capítulo destina-se a caracterizar espacialmente o modo de vida através do cruzamento dos dados dos capítulos anteriores. Em primeiro lugar, isto será feito considerando os espaços de forma individual, conforme foi apresentado no capítulo 3. Essa caracterização sintática específica dos principais cômodos permitirá evidenciar a sua importância na configuração, aliada às informações de utilização e função. Em segundo lugar, será feita uma leitura do complexo como um todo. 5.1 - Os espaços - seus usos e suas medidas sintáticas 5.1.1. A cozinha De acordo com os dados dos questionários e entrevistas, um dos espaços preferidos das famílias é a cozinha. É o espaço coletivo de maior tempo de permanência dos moradores da amostra. Em termos sintáticos, no sistema como um todo, a cozinha é um dos espaços mais bem integrados, estando em mais de 78% dos casos acima da média de integração das casas. Essa é uma das características morfológicas que bem suportam a ampla utilização desse espaço pelas pessoas da amostra. Outra característica constatada desse espaço foi a sua bi-permeabilidade. Esse aspecto é melhor entendido quando se verifica que a cozinha está presente, na grande maioria dos casos, em um dos anéis de permeabilidade das casas. Geralmente, está no anel formado pelos espaços do setor social (sala de jantar e estar) e os espaços do setor 105 de serviço (área de serviço, quintal). Isso é mostrado pelos grafos de permeabilidade, por exemplo, das casa 7 e 17. Esse dado é confirmado pelo fato da cozinha ser do tipo “c”, em cerca de 62% dos casos. É um espaço que têm características mais distributivas, conforme visto anteriormente. O fato da cozinha ser espaço mais integrado revela uma mudança na configuração das casas contemporâneas em relação às casas típicas da arquitetura doméstica colonial, onde as cozinhas eram segregadas espacialmente182. Nos grafos de permeabilidade é possível visualizar também que sua profundidade sintática em relação ao exterior é, em mais de 59% entre os níveis 3 e 4. Esses níveis são pouco profundos se comparados aos espaços do setor social como sala de jantar e sala de estar, também localizados nesses níveis. No restante, em mais de 40%, estão a 5 ou 6 passos sintáticos do exterior. Nesse sentido, os extremos são as cozinhas das casas 13 e 20, onde elas estão no nível 6, máximo de profundidade dessas casas, junto com os quartos e banheiros, os espaços mais profundos desses sistemas. Outra característica sintática das cozinhas é o seu fechamento, conforme visto no capítulo 4. Esse fechamento é um indicativo da estratégia usada para isolar, tanto em termos de acessibilidade como de visibilidade, este espaço do restante do sistema. Uma vez que ela é pouca profunda em relação ao exterior (estando em alguns casos no mesmo nível das salas de estar), o artifício é utilizado para isolar a cozinha dos espaços mais usados para receber visitantes, dando assim uma relativa privacidade ao espaço de convívio da família. Isso revela uma dicotomia entre o formal e o informal nas casas, pois assim, espacialmente separados, esses espaços evidenciam a classificação das atividades e não permitem a superposição delas, mesmo em momentos diversos. Na única casa em que se encontra a cozinha aberta para a sala de jantar (casa 26), a proprietária, ao ser questionada sobre o que mais gosta na casa respondeu: “da cozinha americana, gosto de receber as pessoas na cozinha...”. Nessa casa a cozinha é tida como sinônimo de status, uma vez que existe uma segunda cozinha, montada juntamente com a área de serviço, que é mais usada no dia-a-dia pela empregada, conforme declarou a proprietária, enquanto a cozinha americana é usada mais freqüentemente por ela. 182 Trigueiro concluiu, que as cozinhas eram tão segregadas quanto o alojamento dos escravos, por serem espaços reservados aos serviçais. Para ela, “a rua é extremamente segregada como também o são todos os espaços reservados a atividades que pressupõem a presença de estranhos ou serviçais – loja, quarto de hóspedes homens, cozinha, alojamento de escravos. TRIGUEIRO, 1995, pág. 6. 106 Essa característica peculiar da cozinha encontrada na casa 26 remonta às cozinhas da casa colonial paulistana do início do século XIX, descritas por Lemos. Segundo ele, a “extroversão” da cozinha ainda permanecia, fazendo surgir a chamada cozinha “de fora” ou cozinha “suja”, o lugar onde o serviço grosso era feito183. Neste caso específico, dois aspectos chamam a atenção: primeiro, o caráter simbólico dado à cozinha (“de dentro”), um lugar de representação para os visitantes; segundo, revela uma maior distância social entre patrões e empregados. Ambos os aspectos reforçam o status social dado à cozinha nessa casa. Tantos os aspectos peculiares da casa 26, quanto as demais características desta amostra, indicam as mudanças configuracionais nos sistemas estudados, em face das residências coloniais ou modernas estudadas por outros autores. As características da cozinha nessas casas, como sua alta integração e sua pouca profundidade em relação ao exterior, mostram a importância e o status desse espaço dentro da estrutura doméstica contemporânea, diferentemente das casas coloniais. Por outro lado, essas mudanças indicam ainda que a cozinha não assumiu as funções concebidas na proposta modernista. Ao se manterem como o lugar de convívio e interação entre os membros da família, as cozinhas da amostra deixam de ser espaço estritamente funcional, como proposto pelo Movimento Moderno. 5.1.2. Quartos Diferente das cozinhas, os quartos são, em cerca de 89% dos casos espaços tipo "a" (49%) ou "b” (40%). Esses espaços têm, portanto, características não-distributivas, formando estruturas em árvore. Essa estrutura ramificada evidencia o controle do acesso a esses espaços, favorecendo assim a sua segregação e dificultando, ou mesmo impedindo, o acesso por parte de pessoas externas ao grupo familiar. Essa segregação abrange todos os quartos da casa, desde os quartos usados pelos habitantes até os quartos de empregada. No sistema como um todo, os quartos estão 183 “Enquanto não houver prova em contrário, podemos perfeitamente dizer, com base nos fatos sabidos e análise dos aspectos sociais da época, que a cozinha “de fora” da casa paulista sempre foi a verdadeira cozinha, a que sempre existiu e que as novas condições econômicas, principalmente, sugeriram ou toleraram a segunda cozinha, a “de dentro”, aquela freqüentada inclusive pelo patrão, pelo chefe...”. LEMOS, 1978, pág. 102. 107 entre os espaços menos integrados da casa (ver Tabela 12). Na grande maioria, cerca de 76%, estão abaixo da média de integração das residências e com poucas exceções, aparecem acima da média, revelando bem a estratégia morfológica de isolamento desses espaços. Os quartos só estão acima do índice de integração dos banheiros, dos roupeiros, do exterior e do quarto de empregada, que são os espaços mais profundos e segregados das casas analisadas. A segregação espacial desses cômodos corresponde ao seu isolamento social. Essa segregação espacial junto com as informações de uso como, por exemplo, o superequipamento desses espaços (televisores, computadores, som, aparelhos de ginásticas) e sua multifuncionalidade, como vimos no capítulo 3, confirma o seu status nas estruturas domésticas das casas da amostra. Mais do que isso, esse isolamento espacial confirma a busca, cada vez maior, por privacidade. Em entrevista com a moradora da casa3, a casa mais segregada de toda amostra, ela disse: “até pra comer nós usamos o quarto, no quarto nós temos tudo...”. A grande quantidade de espaços tipo ‘b’, quanto aos quartos, é explicada pela forte presença das suítes que caracterizam o conjunto. Nesses casos, o quarto faz o papel de distribuidor, ou seja, dele se pode ir para o banheiro ou para o roupeiro e, em algumas casas, também para a varanda. Desta maneira, esses espaços formam o complexo mais segregado das residências, e também os mais profundos, considerandoos a partir do exterior, o que é coerente com estratégia de isolamento desses espaços. O elevado número de suítes na amostra, dando conforto e individualidade aos moradores, como vimos no capítulo 3, e a sua segregação espacial, indicam possível mudanças das relações no núcleo familiar. Por um lado, a generalização desse conforto aos demais membros do grupo familiar, não se restringindo aos donos da casa (em grande parte da amostra), indica que não há mais essa grande diferença de status interno. Por outro lado, o fato dessas suítes (independente de serem dos donos) estarem no mesmo nível de profundidade em relação ao exterior (em alguns casos o quarto do casal é menos profundos que o dos filhos – casas 12) e igualmente segregadas (abaixo da média de integração) na maioria absoluta, sinalizam o processo de enfraquecimento do domínio patriarcal, característico da família nuclear brasileira do passado184. 184 TRIGUEIRO, 1995, pág. 6 e 7. 108 Os quartos de empregada, por sua vez, encontram-se abaixo da média de integração, em todas as casas, sem exceção. Essa baixa integração reproduz a segregação da área destinada aos serviçais, como observou Trigueiro185. Embora segregados, como nos sobrados coloniais, eles podem ser divididas em dois grupos; a) segregados e profundos em relação ao exterior – sendo na maioria tão profundos quanto os quartos dos habitantes ou salas de TV e Íntima - (mais de 55% dos casos); b) segregados mas não tão distantes relativamente ao exterior, como o eram nos sobrados coloniais, referidos por Trigueiro - (cerca de 44,5%). Essas duas situações indicam, por um lado, que algumas casas carregam ainda características encontradas nos antigos sobrados coloniais. Por outro, denota uma nova relação entre empregados e patrões, sugerindo maior autonomia dos primeiros em relação aos últimos, na medida em que empregados são menos controlados pelos patrões, em face do âmbito público (isto é, do espaço ‘exterior’, ou da ‘rua’, conforme DaMatta). De qualquer maneira, ambas situações indicam também, a pouca inserção dos serviçais no contexto social das residências. 5.1.3. Salas de estar e estar/jantar Os dois principais espaços do setor social: as salas de estar e jantar, embora na maioria dos casos sejam espaços abertos um para outro, podem ser encontrados em espaços convexos distintos - só sala de estar e só de jantar - ou no mesmo espaço convexo, no casos das salas de estar/jantar. Por isso, embora tenham as mesmas características sintáticas, para efeito estatístico elas foram divididas em três categorias: a) estar/jantar; b) estar; c) jantar. As salas de estar/jantar aparecem na amostra em cerca 37% dos casos, e estão acima da média de integração das casas em todos os casos. Juntamente com a sala de estar são os lugares mais usado para receber visitantes, conforme dados dos questionários. Por outro lado, são os lugares de menor tempo de permanência da família, como vimos. A sala de estar, aparece em 17 casas, sintaticamente ela é espaço muito integrado, estando em cerca 94% dos casos acima da média dessas residências. Na amostra, como um todo, é o espaço de atividade mais integrado em mais de 59% dos 185 TRIGUEIRO, 1995, pág. 6. 109 casos. Essa alta integração da sala de estar confirma, sintaticamente, esse espaço como o mais importante espaço do setor social. A sala de estar juntamente com estar/jantar, são, em 87% dos casos, espaços do tipo ‘c’ ou ‘d’, isto é, são espaços distributivos, pertencentes a anéis de permeabilidade, ora em anéis que se formam unindo-os aos espaços do setor de serviço, ora compondo anéis com os espaços do setor social e de lazer. Em alguns casos, ocorre em ambos. Essa bi-permeabilidade da sala e sua alta integração, a caracteriza como espaço de fácil acessibilidade, tanto local como globalmente. As salas de estar e estar/jantar são também os espaços menos profundos em relação ao exterior. São mais profundos somente em relação às garagens, varandas, jardins e os halls de entrada. Encontram-se na grande maioria – (cerca de 77%) nos níveis 3 e 4 de profundidade em relação ao exterior, conforme pode-se ver, por exemplo, no grafo justificado da casa 12. Figura 21 - Casa 12 – Plantas e grafo justificado Entretanto, se comparada às casas coloniais, onde as salas eram, normalmente, no nível 2 ou 3, essa profundidade em relação ao exterior aumentou. Para se ter uma idéia do distanciamento em relação ao exterior, para chegar à sala de estar, uma pessoa irá encontrar, normalmente, o jardim, um hall externo, e o hall de entrada ou vestíbulo, como espaços mediadores e, portanto, como artifícios de distanciamento da casa do exterior. 110 Esses espaços também têm a característica de ser lugar aberto, ou seja, não são isolados dos demais cômodos por portas e paredes. Na grande maioria, cerca de 85% dos casos, a sala de estar é aberto para a sala de jantar ou para a sala de TV, como nas casas 8 e 1. Em outros casos são abertas para as circulações. O caso extremo acontece na casa 16, um bom exemplo de espaço fechado, onde a sala de estar é fechada até para a circulação por meio de uma porta. O fato desse espaço ser pouco usado pelos habitantes não é devido à segregação desse em relação aos demais espaços da casa. Pelo contrário, na maioria absoluta dos casos, é espaço altamente integrado, sendo aberto, distributivo e raso em relação ao exterior. Seu pouco uso, portanto, não está relacionado à configuração, mas a regras e convenções que se superpõem aos padrões espaciais, negando sua potencialidade copresencial. Voltarei a comentar este aparente paradoxo. 5.1.4. Sala de Jantar Sintaticamente, a sala de jantar é o segundo espaço mais integrado do setor social. Das 17 casas em que aparece, está acima da média de integração das casas em cerca de 88%. Juntamente com a sala de estar e estar/jantar, é o espaço de atividades com maior integração e os menos profundos dos sistemas, estando localizados nos níveis 3 e 4 de profundidade em relação ao exterior. Esse espaço tem a característica de ser bi-permeável, sendo na maioria dos casos, tipo ‘d’. É o espaço que está em dois anéis, geralmente em - a) um anel que o liga aos demais espaços que compõe o setor social (sala de estar, varandas), as quais em muitos casos são ligadas também à área de lazer); e b) um outro anel que se liga à cozinha e aos demais espaços do setor de serviço. Ou seja, essa alta integração e pouca profundidade das salas de jantar, assim com as salas de estar, as coloca como espaço muito acessível, tanto para visitantes, como para atividades coletivas da família. No entanto, seu pouquíssimo uso, por parte dos habitantes, e para receber visitantes só em ocasiões especiais, caracteriza-a como espaço estritamente formal. 111 5.1.5. Sala de TV e Sala íntima A sala de TV e a sala íntima têm, como visto anteriormente, praticamente a mesma função. De acordo com dados do questionário, em ambas pode-se encontrar televisores, aparelhos de ginásticas e aparelhos de som. Juntas elas estão presentes em mais de 51% da amostra sendo que algumas casas possuem os dois espaços (o caso das casas 3, 5, 8, 6 e 22). Sintaticamente, elas apresentam algumas características muito parecidas e algumas diferenças, como se segue. Em comum, o fato de serem espaços bem integrados e mais profundos em relação ao exterior. A sala de TV, está presente na amostra em cerca de 10 casas, ou seja aproximadamente 37% do conjunto. Dessas, oito estão acima de média de integração, ou seja, cerca de 80% dos casos. Quanto à sala íntima, das nove ocorrências, 77% estão acima da média de integração das casas. Tanto a sala de TV quanto a sala íntima são espaços muito integrados nos sistemas estudados. Outra característica sintática dessas salas é sua profundidade, pois cerca de 80% delas estão acima do nível 4. A maioria está entre os níveis 4 e 7, mas há casos de salas íntimas encontradas até no nível 11 de profundidade sendo, portanto, mais profundos que outros espaços do setor social. Entre as diferenças sintáticas, estão o fato das salas íntimas serem mais caracterizadas como espaços tipo ‘c’, enquanto as salas de TV’s são mais do tipo ‘b’. Ou seja, uma encontra-se em anel, enquanto a outra favorece mais estruturas em árvores e segregadas. Isso acontece porque as salas de TVs, em grande parte, fazem o papel de ligação entre o setor social e o íntimo, e as salas íntimas - embora também possam ser encontradas no mesmo nível de profundidade das salas de TVs e também fazer a função de ligação entre esses dois setores – têm a característica de formar um anel com quartos e varandas. Ambas, no entanto, são os espaços coletivos reservados à família. Nos grafos de permeabilidade fica claro que essas salas marcam a divisão, na maioria dos casos, da estrutura doméstica das casas em dois blocos: a) um bloco formado pelos espaços do setor íntimo; b) um bloco formado pelos espaços do setor social e de serviço. Isso é visível nos grafos justificados das casas 2, 3, 4, 5, 8, 10, 17, 22, 25 e 29, onde o primeiro bloco tem a formação em árvore e o segundo é anelar (Anexo 3). Isso contribui para o alto grau de funcionalidade encontrado para o conjunto (ver capítulo 4), pelo que espaços de atividades são também usados como mediadores/circulações. 112 As salas de TV e íntima são indicadas como o terceiro espaço de maior tempo de permanência da família, e como os espaços reservados para atividades coletivas dos habitantes das residências da amostra. Por outro lado, foram indicados como o terceiro espaço usado para receber visitantes. Isto significa que esta superposição categórica habitante/visitante é coerente com sua característica sintática de transição entre o setor social e o setor íntimo. 5.1.6. A Varanda As varandas estão presentes em mais de 70% das casas da amostra, num total de 41 varandas. Isso representa uma média de 1,5 varanda por casa, número significativo que confirma a forte presença desse elemento na composição das residências do conjunto analisado. Elas podem ser encontradas tanto junto aos quartos, como também, próximas às salas de estar e jantar e ainda junto à área de lazer. Quando encontradas junto aos quartos, esses espaços são profundos em relação ao exterior, geralmente os mais profundos espaços do complexo, juntamente com os banheiros e os roupeiros. Para se ter uma idéia dessa localização, das 41 varandas, cerca de 30%, estão acima do nível 7 de profundidade e são tipicamente do tipo 'a' e 'b', constituindo o topo das estruturas em árvore, típicas do setor íntimo das casas. A grande maioria das varandas, no entanto, está localizada em níveis pouco profundos, com relação ao exterior, variando de 2 a 6 níveis, sendo que 90% estão localizadas entre os níveis 2 e 4. Elas constituem espaços do tipo ‘c’ e ‘d’, sendo que 45% são do tipo ‘d’, ou seja, pertencem a mais de um anel de permeabilidade. Elas estão localizadas em anéis unindo espaços do setor social (como sala de estar e jantar) a espaços da área de lazer. Sua pouca profundidade, é coerente com sua utilização para receber visitantes (ver casas 8, 12, 3, 10, 9,17, 5). Esse espaço é, também, o segundo na lista dos espaços menos utilizados pela família (ver Tabela 2). Novamente, têm-se, por um lado, a clara definição entre os espaços destinados à família e aos visitantes e, por outro, o fato de que não é a segregação desse espaço no sistema configuracional que o faz ser pouco usado pelos moradores. 113 5.1.7. Escritório O escritório está presente em cerca de 60% na amostra. Sintaticamente é um espaço pouco profundo, e geralmente encontra-se no mesmo nível das salas de estar, jantar e do lavabo, variando entre os nível 3 e 6 de profundidade em relação ao exterior. Nos casos mais profundos, estão próximos às salas íntimas e de TV. Apenas em dois casos os escritórios estão localizados junto aos quartos. O nível mais profundo é encontrado na casa 28, onde o escritório está no nível 9, formando anel com os quartos. O outro nível mais profundo é encontrado na casa 17, um sistema dos mais profundos da amostra, com 13 níveis. Nesse caso, o escritório está localizado no oitavo nível desta residência. Embora pouco profundo em relação ao exterior, os escritórios são espaços segregados. Dos dezoito casos, cerca de 77% estão abaixo da média de integração das casas. Não costumam fazer parte de anéis, sendo espaços terminais em mais de 83% dos casos. O isolamento do escritório é coerente com sua pouca utilização, como foi constatado no capítulo 3. Além dessa subutilização pelos membros da família, esse cômodo foi o segundo espaço citado como lugar onde o visitante geralmente não tem acesso. Marginal tanto em termos configuracionais como ocupacionais, esses dados sugerem que o escritório está perdendo a sua função, sendo ainda mantido apenas como um sinal de status, como comentado no capítulo 3. 5.1.8. Área de lazer A área de lazer, conforme já mencionado, é o complexo geralmente formado por piscina, churrasqueira, jardins e quadras de esportes. Esse conjunto compõe a área externa da casa, normalmente ocupando os fundos ou a parte lateral do lote. Ele está presente em mais de 59% da amostra e contribui para o aumento da integração dos sistemas analisados, isto é, na presença da área de lazer, espaços como salas de estar, de jantar e, em alguns casos, até quartos, são abertos para essa área “externa”. Essas ligações criam mais um anel de permeabiliade nas residências estudadas. 114 Nas casas que têm áreas de lazer, é comum formarem-se pelo menos três anéis envolvendo esse espaço: a) um dos anéis liga essa área a espaços do setor social, principalmente, salas de estar e jantar; b) outro anel liga-a aos espaços do setor de serviço e c) um terceiro anel é criado em torno da casa, através do quintal. Isso é visível, por exemplo, nas casas 29, 5,10, 8, 9 e 17. Esses anéis contribuem para sua pouca profundidade (entre o segundo e o quarto nível em relação ao exterior), assim como para sua alta integração. Em mais de 73% das ocorrências, a área de lazer é menos profunda ou igual à sala de estar, estando localizadas nos níveis 2 e 3 de profundidade. O franco acesso à área de lazer é favorecido pelas rotas feitas através dos quintais e jardins das casas. A ausência de barreiras físicas facilitam o uso desse espaço para recepcionar visitantes de maneira menos formal. Segundo dados dos questionários, a área de lazer é o espaço destinado a grandes recepções, como festas dançantes ou churrasco. Mais de 67% das respostas deram a ela essa função, em vez da área interna da casa. Nesse sentido, a área de lazer também está incluídas entre os espaços usados para receber visitantes, o sexto espaço mais citado. Por outro lado, esse espaço nem consta da lista dos espaços de maior permanência da família (ver Tabela 1), estabelecendo novamente a distinção entre locais acessíveis a visitantes e lugares para os habitantes. 5.1.9. O Exterior A relação das casas com o exterior (rua) é expressa pela medida de integração desse espaço. Essa medida está abaixo da média de integração dos sistemas em 92,59% dos casos, indicando a forte segregação desse espaço. Somente nas casas 3 e 8 esse índice encontra-se acima da média. A segregação fica evidente quando do estudo da ordem de integração das residências. A seqüência sala > cozinha > quarto principal > exterior é predominante no conjunto, com mais de 48,5%, sendo o exterior ainda menos integrado que o quarto principal. Essa pouca integração com o exterior sugere a pouca importância dada à relação entre público e privado, e aponta para a instrospecção da vida familiar nesta amostra. 115 Diante dessa caracterização dos espaços de atividade, entendendo seus usos e status dentro dos espaços domésticos, é possível identificar algumas características predominantes nos sistemas dessa amostra. O gráfico 3, mostra os espaços comuns a todos os sistemas, que foram mencionados na análise, agrupados segundo as suas medidas de integração, da maior para a menor medida. No gráfico 4, estão os demais espaços citados na análise, também agrupados como no gráfico 3. Esses gráficos, dão um perfil morfológico do conjunto, indicando uma tendência da amostra, quanto a sua organização espacial. Espaços comuns a todos os sistemas 2 casa 1 casa 3 casa 5 casa 7 casa 9 casa 12 casa 14 casa 16 casa 18 casa 20 casa 22 casa 25 casa 27 casa 29 1,8 1,6 Integração 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Circ. Estar Cozinha Qto 1 Qto 2 casa 2 casa 4 casa 6 casa 8 casa 10 casa 13 casa 15 casa 17 casa 19 casa 21 casa 23 casa 26 casa 28 Média Exterior Demais espaços 2,2 2 casa 1 casa 3 casa 5 casa 7 casa 9 casa 12 casa 14 casa 16 casa 18 casa 20 casa 22 casa 25 casa 27 casa 29 Integração 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Jantar Varanda copa TV/Int. Lazer Escrit. casa 2 casa 4 casa 6 casa 8 casa 10 casa 13 casa 15 casa 17 casa 19 casa 21 casa 23 casa 26 casa 28 Média Qto emp. 116 Tabela 12 - Integração do cômodos Imóvel Cômdos Sala Circ. Jantar Estar Varanda Cozinha TV/Int. casa 1 1,267 1,559 1,053 0,932 0,737 casa 2 1,01 0,766 1,046 0,936 0,766 0,753 0,908 0,765 0,816 casa 3 1,014 0,671 0,687 0,504 casa 4 1,442 1,04 1,173 1,097 1,328 casa 5 1,077 1,161 1,496 0,983 1,333 0,917 0,943 casa 6 1,097 1,16 1,277 casa 7 1,256 0,891 1,417 0,995 0,911 1,01 casa 8 casa 9 1,327 casa 10 casa 12 1,522 1,101 1,102 casa 13 1,242 0,969 1,273 1,045 1,479 1,626 1,087 copa 0,58 0,863 Lazer 0,88 0,704 0,919 0,889 1,064 1,151 Escrit. 0,969 1,151 Exterior Qto emp. 0,881 0,881 0,863 0,803 0,78 0,871 0,601 0,747 0,529 0,601 0,668 0,772 0,678 0,73 0,562 0,666 0,436 0,97 0,737 0,814 0,737 0,696 0,677 1,513 1,202 0,847 0,997 0,761 0,863 1,121 0,651 0,737 0,635 0,601 0,58 0,825 0,863 1,005 0,924 Qto 2 0,954 1,083 1,161 Qto 1 0,771 0,728 0,675 0,511 0,884 0,837 0,714 0,837 0,868 0,709 0,821 0,745 0,745 0,598 0,598 0,563 1,057 0,75 0,74 0,977 1,171 0,887 0,654 0,709 0,878 0,887 0,496 0,768 0,589 0,626 casa 14 1,359 1,414 0,955 0,841 casa 15 1,722 1,464 0,791 0,887 0,636 0,65 0,938 0,804 0,643 0,663 0,457 0,499 0,6 casa 16 1,25 1,25 0,938 0,833 1,184 casa 17 1,021 0,968 0,798 0,695 0,846 1,356 0,678 0,931 0,671 1,006 0,866 0,866 0,547 1,962 1,177 0,736 0,736 0,759 casa 18 casa 19 1,681 1,239 casa 20 1,387 1,757 0,85 casa 21 1,327 1,206 0,737 casa 22 casa 23 1,308 1,424 1,206 0,844 0,86 1,306 0,919 0,968 0,629 1,146 0,663 0,976 0,909 0,538 0,664 0,492 0,664 0,737 0,698 0,737 0,712 0,627 0,867 0,702 0,759 0,822 0,664 0,595 1,02 0,761 1,08 0,894 1,103 0,833 1,119 0,619 0,746 0,749 casa 25 1,268 1,268 1,197 0,691 1,118 casa 26 1,263 1,569 0,941 1,233 1,177 casa 27 1,346 1,463 1,173 0,989 0,961 0,989 1,147 1,019 0,934 0,917 0,934 0,651 0,677 casa 28 1,273 1,096 0,869 0,558 0,913 0,646 0,704 0,906 0,863 0,72 0,72 0,6 0,621 0,916 1,046 1,071 0,705 0,787 0,735 0,64 0,705 0,63 0,993 0,961 0,947 0,932 0,924 0,839 0,763 0,739 0,664 0,647 casa 29 Média 1,385 1,185 0,898 1,327 1,264 1,115 1,038 0,822 0,629 5.2. Os sistemas e o modo de vida Diante das evidências sobre uso dos espaços e suas características sintáticas, a clara distinção entre habitantes e visitantes é visível na configuração dos sistemas estudados. Estes últimos podem ser classificados, a grosso modo, em dois tipos: a) sistemas compostos por uma forte estrutura em árvore do setor íntimo em contraste com a estrutura bem anelar que integra os setores social, de serviço e de lazer; b) sistemas com estrutura tipicamente em árvore em todos os setores, ou que possuem, no máximo, um anel. Nos dois grupos, existe uma constante: o isolamento espacial dos espaços destinados aos aposentos dos moradores das residências analisadas. Entre as casas que compõem o grupo b, chamam a atenção as casas 7, 13, 18, 20 e 14, que possuem um único anel formado pelo acesso principal e o de serviço. No sistema formado pela casa 7 encontra-se um segundo anel, mas este é formado por uma construção anexa, enquanto a casa 21 é uma típica estrutura em árvore, já que o único anel existente é formado por espaços externos à casa, os quintais. A grande maioria das residências, mais de 77% dos casos da amostra, faz parte do primeiro grupo. Nestas casas, o número de anéis formado pelo setor social, de serviço e de lazer dá a estas uma permeabilidade muito grande. Se por um lado, esses setores são muito permeáveis, dando uma característica anelar ao sistema, por outro, contrastam com a estrutura em árvore formado pelo setor íntimo (ver Anexo 3). O controle do acesso ao setor íntimo é muito evidente. Geralmente só se tem um único acesso, o qual é feito através dos espaços de circulação. Às vezes, este acesso se dá por mais de um espaço convexo de circulação, o que aumenta a segregação desse setor em relação ao setor social (ver casas 1 e 6). Em outros casos, o acesso é feito só através das salas de TV ou íntima (ver casas 4 e 5). Nestes casos, estas salas fazem o papel de circulação em direção aos quartos. Há situações que usam os dois recursos, ou seja, circulação e sala íntima ou de TV, como é o caso das casas 8 e 17. As salas de TV e íntima - assim localizadas próximas aos quartos – funcionam como espaços de transição entre uma estrutura anelar e outra em árvore. Esses espaços, juntamente com as circulações, fazem o papel de controladores do fluxo de pessoas para as áreas mais isoladas do sistema. Segundo Amorim, “o acesso controlado determina uma clara identificação da fronteira do setor, cruzar essa fronteira sem permissão pode ser entendido como uma transgressão do código de comportamento social”186. Isso explica porque as salas de TV e íntima são pouco usadas para receber visitantes, como já foi mencionado. Somente as pessoas mais íntimas chegam a esses cômodos. Estas salas são, portanto, elementos muito importantes na estrutura das casas estudadas. São localizadas de maneira que estabelecem fronteira entre os setores, resguardando assim a privacidade da família. Dessa forma a configuração dessas residências revelam uma estrutura com características, ao mesmo tempo, informais (quando do franco acesso aos espaços do setor social) e formais (na restrição aos espaços dos setor íntimo). Do ponto de vista da relação entre membros do núcleo familiar e pessoas extragrupo, essa fronteira indica que alguns espaços têm seu uso limitado para estes últimos. Os espaços como sala de estar, jantar, varandas e área de lazer são espaços reservados aos visitantes, uma vez que são pouco usados pelos habitantes, enquanto as salas de TV/Íntima, como misto de espaços para visitantes e habitantes, são mais segregadas. Os espaços do setor social são muito integrados e formam um complexo anelar envolvendo também o setor de serviço e lazer. Aqui um paradoxo em face da literatura existente, pois os espaços mais integrados dos sistemas, não são os espaços mais usados pelos habitantes e sim reservado aos visitantes. Hanson, por exemplo, comentou como a formalidade do “parlour” nas residências da classe trabalhadora inglesa, pela qual este espaço somente é utilizado em momentos muito especiais, coincide com sua enorme segregação.187 A estratégia configuracional detectada na localização da sala de TV e íntima, como espaços mediadores (além das circulações) pode sinalizar ainda mais uma divisão da estrutura doméstica que corresponde ao modo de vida nessas casas. Além da separação entre espaços para visitante e habitantes, há uma divisão entre os cômodos destinados aos habitantes. Basicamente, as dependências mais usadas coletivamente por estes são a cozinha e salaTV/íntima. A cozinha é, entre estes, o espaço com acesso menos controlado e o espaço eleito para interação familiar. Essa preferência é explicitada pelo proprietário da casa 19 quando afirmou que: “momento em família é na 186 No original: “controlled access determines a clear identification of the sectors’ boundaries. Crossing the ‘clear boundaries‘ without permission could be understood as a transgression of social codes of behaviour”. AMORIM, 2001, pág. 19.4. (minha tradução) 187 HANSON, 1998, pág. 128. 119 cozinha; na cozinha tem uma mesa feita só para nós (com 5 lugares). (...) quando tem uma visita é na sala de jantar onde tem uma mesa maior”. Os quartos, por outro lado, são os lugares que marcam o processo de individualização nas relações intra-grupo. Esse processo é caracterizado pelo isolamento espacial e pela infraestrutura encontrada nesses cômodos, como vimos. Essa individualização é reafirmada pelo proprietário da casa 18 quando declarou: “O quarto é grande, tem TV, vídeo, tem a sacada, tem o banheiro. Onde envolve lazer (TV, vídeo) é no quarto. Na sala tem tudo, mas é mais formal. (...) o quarto é muito agradável, eu tenho uma liberdade, eu não fico preso.” Essa característica foi detectada configuracionalmente quando da análise da medida de simetria, indicando que haveria uma forte classificação das pessoas e/ou práticas que se realizam em nível local, ao mesmo tempo em que haveria uma fraca classificação em nível global. A evidência aqui tratada parece confirmar a hipótese da literatura em termos de categorias excludentes, típicas de uma classificação forte, que se manifestam na exacerbação do individualismo pela segregação dos quartos superequipados, e pelo isolamento/exclusividade de utilização do espaço da sala como instância formal. Por outro lado, a proliferação de anéis, que permite um aumento da integração em termos globais, parece facilitar a re-união da família, de outra maneira separada dos seus quartos. Isto potencializa a acessibilidade aos locais de convívio coletivo – cozinha e salas íntima e/ou de TV. Entretanto, uma pesquisa mais aprofundada será necessária para a verificação desta hipótese. Se na idade média o espaço doméstico era um misto de público e privado, com a idade moderna esse passou a ser um espaço de domínio unicamente privado. O que se têm nesta amostra é a confirmação, ou mesmo a exacerbação, do processo de caracterização do espaço doméstico como sendo espaço estritamente privado, culminando no isolamento social. Isto é, essa característica do isolamento social chegou individualmente aos membros da família, na medida em que cada um tem seu “mundo” no próprio quarto. Na relação habitantes e empregados, os sistemas apresentam características interessantes. O setor de serviço, composto por área de serviço e, em muitas casas, também pela dependência de empregada (quarto e banheiro), são espaços muito segregados, conforme já mencionado. Segundo Trigueiro, nos sobrados coloniais estudados em Recife, os espaços destinados aos serviçais eram, também, segregados 120 espacialmente. Assim como nos sobrados, as dependências de empregadas também são segregadas na amostra estudada, estando em 100% dos casos abaixo da média de integração das casas. Por outro lado, as dependências de empregada estão, em alguns casos, tão próximas do exterior quanto os espaços para receber visitantes, e em outros casos, tão profundas quanto as salas de TV/íntima, ou os quartos dos habitantes. Os dois casos, entretanto, evidenciam a distância socio-morfológica dos empregados do convívio familiar mais íntimo. A análise configuracional das residências estudadas permitiu constatar alguns elementos do jeito de viver em família em Brasília, para a faixa social que estudei. Esse jeito combina concepções modernas (conquista da individualidade), heranças históricas (a permanência da sala de visitas), e novas escolhas (a cozinha como espaço de convívio familiar), que apontam para uma nova síntese socio-espacial do espaço doméstico contemporâneo. 121 Conclusão___________________________________________ O estudo morfológico e o levantamento sobre a utilização dos cômodos em 27 casas do Distrito Federal permitiu entender como a configuração do espaço está relacionada com o modo de vida das pessoas que as habitam. O estudo da sua configuração revelou a estrutura espacial como uma condição para as práticas sociais nas residências. Casas podem ser aparentemente muito diferentes, mas muito parecidas quando estudadas sob o ângulo das suas estratégias espaciais, as quais estão imbuídas de características sociais que constituem estilos e jeitos de viver. Essa perspectiva faz do estudo morfológico uma área importantíssima para a arquitetura como atividade profissional e acadêmica que concebe e constrói espaços residenciais. O estudo sintático e de uso das casas revelou características muito peculiares da amostra selecionada. A cozinha e os quartos, por exemplo, são os primeiros indicativos dessa sua peculiaridade. A cozinha, apresenta-se, quanto ao uso, mais próximas das casas coloniais do que das casas modernistas, pois é lugar de permanência. Sintaticamente, ela está mais próxima das casas modernistas do que das coloniais, pois não são mais espaços isolados espacialmente, mostrando o novo status desse ambiente. Os quartos, por sua vez, são o símbolo do isolamento social confirmado pela sua segregação espacial, revelando o caráter estritamente privativo do espaço doméstico. De uma maneira geral, as características configuracionais e de uso das residências dessa amostra são expressas pela clara divisão entre espaços destinados aos visitantes e aos habitantes. Essa separação define os quartos e suas dependências (banheiro, roupeiro etc) como espaços de uso mais intenso dos habitantes e, como espaços coletivos para o uso destes, as salas de TV/íntima e a cozinha. Com exceção da cozinha, os demais espaços de maior uso dos habitantes têm o acesso altamente controlado. Por outro lado, os espaços destinados aos visitantes, ou seja, os espaços do setor social (sala de estar, jantar e varandas) e de lazer, são altamente permeáveis. Nessa amostra, constata-se um processo constante de isolamento social detectado na configuração espacial dessas casas, onde o afastamento e o enfraquecimento da relação com exterior é evidente. A configuração das casas é 122 coerente com a separação entre habitantes e visitantes, até o isolamento dos membros do núcleo familiar, quando cada um tem seu “espaço” de privacidade. Do ponto de vista estritamente sintático, esse conjunto revela características próprias que o difere de alguns estudos de casas pré-modernistas (coloniais ou ecléticas) e modernistas. Essas casas têm características diferentes das casas modernistas como, por exemplo, seu alto grau de funcionalidade (significando pouco investimento em espaços de circulação). Por outro lado, têm características muito modernistas como a fluidez espacial, detectada pelo baixo grau de fechamento. O isolamento do setor íntimo em relação exterior e da integração da cozinha, indicam uma configuração mista de características modernas e pré-modernistas nessas residências. Além disso, esse conjunto é homogêneo em relação às médias de integração dos seus sistemas (que são consideradas altas) e possui uma certa uniformidade quanto à ordem de integração dos seus principais espaços. Essas características sinalizam uma tendência na configuração espacial dessas casas. Diante dessa tendência é possível afirmar que existe um genótipo do conjunto estudado, o qual indica um misto de características pré-modernistas, modernistas e pós-modernistas. Isso revela que as casas estudadas em Brasília, ao mesmo tempo em que adotam apenas algumas das premissas do Movimento Moderno, resgatam alguns atributos seculares do espaço doméstico brasileiro, e exploram novas possibilidades em sua constituição morfológica. Em relação à aplicação da teoria da Sintaxe Espacial, é certo que uma teoria é criada com o objetivo de se constituir em “linguagem universal” onde comparações possam ser feitas e, justamente por isso, ousamos em comparações com estudos feitos em outras regiões do país e em até em outros países. No entanto, a falta de estudos de casas da região Centro-Oeste, utilizando a Sintaxe Espacial, para uma maior aproximação da análise feita nesse trabalho, reforçou a convicção da importância da continuidade dessa pesquisa, em Brasília. Nesse sentido, alguns aspectos ainda precisam ser investigados como, por exemplo, a alta integração do setor social em contraste com o seu pouco uso por parte dos moradores. A possibilidade de entender esse paradoxo exige maior tempo de pesquisa e talvez uma fonte maior de dados. Outro aspecto, em relação à teoria é a necessidade de aprofundar o estudo de suas hipóteses. Conforme foi mencionado no capítulo 4, percebeu-se uma possível inconsistência teórica em relação à medida de simetria. Isso porque as hipóteses 123 levantadas não foram verificadas na amostra, sinalizando para a necessidade de um maior rigor na demonstração matemática de algumas variáveis da Sintaxe. Finalmente, o estudo do espaço arquitetônico sob esse enfoque, além de importante, como já foi mencionado, é extremamente interessante. Embora, em alguns momentos, tenha sido muito exaustivo, dadas as dificuldades enfrentadas em um estudo exploratório (isso leva a considerar possível margem de erro), o desafio de fazê-lo o tornou ainda mais prazeroso. A experiência desse estudo me inspira a continuar pesquisando o que mais a configuração espacial pode nos revelar sobre os espaços arquitetônicos. 124 Bibliografia__________________________________________ 1. ACAYABA, Marlene Milan. Residências em São Paulo: 1947 – 1975. Projeto, São Paulo, 1986. 2. AMORIM, Luiz Manuel do Eirado. 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Sintaxe de uma Casa-Átrio Moderna, In.: Cadernos Eletrônicos da Pós, Brasília, 1999, página da Rede Mundial www.unb.br/fau/pos_graduacao. 25. HOLANDA, Frederico. & KOHLSDORF, Gunther. Arquitetura como situação relacional. Brasília, 1995, (mimeo). 26. HOLANDA, Frederico. O espaço de exceção, Tese de doutorado apresentada na Universidade de Londres, 1997, (mimeo). 27. JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. Ática, São Paulo, 1996. 28. KOPP, Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. Editora Nobel, São Paulo, 1990. 29. LEMOS, Carlos A .C. Cozinhas, etc. Editora Perspectiva, São Paulo, 1978. 126 30. LEMOS, Carlos A. C. Alvenaria Burguesa: breve história da arquitetura residencial de tijolos em São Paulo a partir do ciclo econômico liderado pelo café. Editora Nobel, 2º edição, 1989. 31. LEMOS, Carlos A. C. História da casa brasileira. Editora Contexto, São Paulo, 1989. 32. LOUREIRO, Cláudia. Classe, controle, encontro: o espaço escolar. Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999 (mimeo). 33. LYOTARD, Jean-François. The Post-modern condition: A report on Knowledge. University of Minnesolta Press, Minneapolis, 1984. 34. MONTEIRO, Circe Gama. Activity Analysis in houses of Recife, Brasil. In.: Anais do 1º International Space Syntax Symposium, Volume II, Londres, 1997, pág. 20.1 ss. 35. PEPONIS, J. Espaço, cultura e desenho urbano no modernismo tardio e além dele. In.: Boletim do IA, nº 51, 1989.Trad. Frederico de Holanda. 36. PEPONIS, J. The spatial culture of factories. Human Relations, 38, 1985, pp. 357390. 37. PROST, Antoine. e VINCENT, Gérard. Org. História da Vida Privada: Da Primeira Guerra a nossos dias. Companhia das Letras, São Paulo,1992. 38. RYBCZYNSKI, Witold. Casa: pequena história de uma idéia. Editora Record, Rio de Janeiro, 1986. 39. SHANON, C E WEAVER, W. The mathematical theory of communication. 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The dinner procession goes to the kitchen: a suntactic approach to nineteenth and early twentieth century British houses. In: Anais do 1º International Space Syntax Symposium, Volume II, Londres, 1997, pág. 19.1ss. 46. VAUTHIER, L.L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I, FAUUSP e MEC-IPHAN, São Paulo, 1975. 47. VERÍSSIMO, Francisco Salvador & BITTAR, Wiliiam Seba Mallmann. 500 anos da casa no Brasil – as transformações da arquitetura e da utilização do espaço de moradia. Ediouro Publicações S.A, Rio de Janeiro, 1999. 128 Anexos 129 Anexo 1 Universidade de Brasília Mestrado em Arquitetura e Urbanismo Tema: Espaço Doméstico Contemporâneo em Brasília Aluna: Franciney Carreiro de França QUESTIONÁRIO I – IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO 1.1 - Nome:________________________________________Período:_______Turma:_______ II – IDENTIFICAÇÃO DA MORADIA 2.1 – Endereço: ____________________________________________________________ Setor_________________________ Cidade____________________ 2.2 – Situação da moradia: Própria Alugada Cedida 2.3 - Desenhe o lote com suas dimensões; Desenhe a planta baixa da sua casa (indicando os acessos: portas internas e externas) com as dimensões aproximadas dos cômodos; localizando-a no lote; Desenhe, se existente, a área de lazer (churrasqueira, piscina, etc). Caso necessite de mais espaço, usar o verso dessa página. III – DESCRIÇÃO DA MORADIA 3.1 – A casa foi projetada para a sua família ? 3.2 – Quantos m2 de área construída tem a casa: 3.3 – Quantos pavimentos: 3.4 – Quando foi construída a casa: 3.5 – Quantos m2 tem o lote: Sim Não a - até 100 m2 b - mais 100 até 200m2 c - mais 200 até 300 m2 d - mais 300 até 400 m2 e - mais 400 até 500 m2 f - mais de 500 m2 a – um c – três b – dois d – mais de três a – década de 60 b – década de 70 c – década de 80 d – década de 90 a) até 350 m2 b) mais 350 até 500m2 c) mais 500 até 1000 m2 d) mais 1000 m2 130 IV – UTILIZAÇÃO DOS ESPAÇOS 4.1. Enumere, de acordo com a importância, os 3 espaços de maior tempo de permanência da família: 1 – para o primeiro espaço de maior tempo; 2 – para o segundo espaço de maior tempo; 3 – para o terceiro espaço de maior tempo. Sala de estar Sala de jantar Cozinha Mezanino Quartos Sala de TV Qual?_______________ Varanda Escritório/biblioteca Outro? Qual a principal atividade no espaço mais utilizado?_________________________________ ____________________________________________________________________________ 4.2. Enumere os 3 espaços de menor tempo de permanência da família: 1 – para o primeiro espaço de menor tempo; 2 – para o segundo espaço de menor tempo; 3 – para o terceiro espaço de menor tempo; Sala de estar Sala de jantar Cozinha Mezanino Quartos Varanda Sala de TV Escritório/biblioteca Outro? Qual?_________________ (Desconsiderar espaços como: despensa, lavabo, área de serviço, banheiro, etc.) 4.3. Enumere os 3 espaços mais utilizados para receber visitantes: 1 – para o primeiro espaço mais utilizado; 2 – para o segundo espaço mais utilizado; 3 – para o terceiro espaço mais utilizado; Sala de estar Sala de jantar Sala de TV Quartos Mezanino Varanda Cozinha Escritório/biblioteca Área de lazer Outro? Qual?____________ Por que esse é o espaço mais utilizado? ______________________________________________ _____________________________________________________________________________ 4.4. Enumere os 3 espaços onde normalmente o visitante não tem acesso: 1 – para o primeiro espaço; 2 – para o segundo espaço; 3 – para o terceiro espaço; Sala de estar Sala de TV Mezanino Sala de jantar Quartos Varanda Cozinha Escritório/biblioteca Área de lazer Outro? Qual?___________ 131 (Desconsiderar espaços como: despensa, lavabo, área de serviço, etc.) 4.5. Qual o espaço MAIS utilizado quando há festas/recepções? (Escolha apenas uma das opções). a) Área social interna da residência b) Área externa (jardins, pátio, área de lazer, etc) Por que esse espaço? _____________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 4.6 - Assinale com um X as atividades referentes a cada espaço: Cômodos Tarefas Domésticas1 Lazer Passivo2 Lazer Interativo3 Necessidades Necessidades Trabalhar/ Comuns4 Privadas5 Estudar Outro? Qual? Sala de estar Sala de jantar Cozinha Sala de TV Escritório/Biblioteca Quartos Sala íntima Dependência de empregada Mezanino Varanda Área de lazer (churrasqueira, piscina, sauna, quadra de esportes) Outros? Quais? Legenda: 1 – Tarefas domésticas (cozinhar, lavar louça, lavar roupa, passar) 2 – Lazer passivo (ver TV, ler, ouvir música, jogos de computador, fazer ginástica) 3 – Lazer interativo (encontrar amigos, beber, namorar) 4 - Necessidades comuns (tomar café, almoçar, jantar) 5 - Necessidades privadas ( escovar, tomar banho, dormir, repousar, fazer amor) 4.7. Assinale com X a localização dos equipamentos: Cômodos TV Aparelhos de Computadores som Equip. de ginástica Outro Equip. Qual? Sala de estar Sala de jantar Sala de TV Cozinha Escritório/ biblioteca Quartos Sala íntima Dependência de empregada Mezanino Varanda Área de lazer Outro espaço? Qual? V – INFORMAÇÕES GERAIS 5.1 – Quantos veículos há no domicílio? _______________ 5.2 – Quantos televisores? ________________ 5.3 – Quantos vídeos-cassete? _____________ 5.4 – Quantos computadores? _________ Com acesso à Internet ? Sim Não 132 5.5 – Morar neste bairro é: a) muito ruim b) ruim c) regular d) bom e) muito bom Por que?_______________________________________________________________________ 5.6 – Morar na sua casa é: a) muito ruim b) ruim c) regular d) bom e) muito bom Por que ?_______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 5.7 – O que você mais gosta da casa quanto à distribuição dos espaços ou dos espaços em si? Por que? _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ 5.8 – O que você mudaria na casa em relação à distribuição dos espaços ou dos espaços em si? Por que? _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ VI – IDENTIFICAÇÃO DOS HABITANTES 6.1 – Nº de habitantes:______ 6.2 – Nº de adultos (acima de 18 anos):______ 6.3 - Nº de adolescentes (de 12 a 18 anos): _____ 6.4 - Nº de crianças (abaixo de 12 anos): ______ 6.5 – Quantos trabalham (ocupação remunerada): ______ 6.6 – Grau de instrução das pessoas que possuem as maiores rendas (citar o grau de parentesco): Primeira pessoa (pai, mãe, etc):______________ Segunda pessoa (pai, mãe, etc): _____________________ Instrução: a - nenhum Instrução: a - nenhum b - primeiro grau incompleto b - primeiro grau incompleto c - primeiro grau completo c - primeiro grau completo d - segundo grau incompleto d - segundo grau incompleto e - segundo grau completo e - segundo grau completo f - terceiro grau incompleto f - terceiro grau incompleto g - terceiro grau completo g - terceiro grau completo h - pós-graduação incompleta h - pós-graduação incompleta i - pós-graduação completa i - pós-graduação completo 6.7 – Classificação da ocupação das pessoas que possuem maiores rendas: Primeira pessoa: a – Empregado em empresa de setor privado, público ou de economia mista; b – Profissional liberal ou trabalhador sem vínculo de emprego; c – Empregador titular ou proprietário(a) de empresa; d – Vive de rendimentos de capital, inclusive aluguéis; e – Aposentado; f – Servidor público g – Outra Segunda pessoa: a – Empregado em empresa de setor privado, público ou de economia mista; b – Profissional liberal ou trabalhador sem vínculo de emprego; c – Empregador titular ou proprietário(a) de empresa; d – Vive de rendimentos de capital, inclusive aluguéis; e – Aposentado; f – Servidor público g – Outra 133 6.8 – Local de trabalho da principal ocupação da: Primeira pessoa com maior renda: a - em casa b - fora de casa (empresa, órgão público, outros, indeterminado) c – não trabalha Segunda pessoa com maior renda: a - em casa b - fora de casa (empresa, órgão público, outros, indeterminado) c – não trabalha Outras pessoas (citar o grau de parentesco): Quem: ______________________ a – em casa b – fora de casa c – não trabalha Quem: ______________________ a – em casa b – fora de casa c – não trabalha 6.9 – Renda familiar mensal: a - até 10 salários mínimos b - mais de 10 até 20 salários mínimos c - mais de 20 até 30 salários mínimos d - mais de 30 até 40 salários mínimos e - mais de 40 até 50 salários mínimos f - mais de 50 salários mínimos 134 Anexo 2 – Roteiro de entrevista a) Quanto tempo você passa em casa, tirando o tempo de dormir: num dia comum num fim de semana b) Quais as principais atividades num dia comum ? descreva as atividades; descreva o ambiente onde elas acontecem; o que caracteriza esse espaço para essa atividade ? c) c) Quais as principais atividades num final de semana ? descreva as atividades; descreva o ambiente onde elas acontecem; o que caracteriza esse espaço para essa atividade ? d) Há um momento em que todos (ou a maioira) dos habitantes se reúnem ? Para quê ? descreva a atividade e o ambiente onde isso acontece e) Descreva os espaços mais usados para receber visitantes, porque esses espaços? f) O quem mais gosta de fazer em casa ? Onde ? g) O que gostaria de fazer em casa e não o faz por falta de lugar apropriado ? 135 Anexo 3 – Plantas baixas, Plantas de convexidade e Grafos justificados Casa 1 Grafo – casa 1 Casa 2 Casa 2 Grafo – casa 2 136 Casa 3 Casa 3 Casa 3 – Grafo justificado 137 Casa 4 Casa 5 Casa 4 – Grafo justificado Casa 5 – Grafo justificado 138 Casa 6 Casa 7 Casa 7 139 Casa 8 Casa 8 Casa 8 140 Casa 9 Casa 9 Casa 9 141 Casa 10 Casa 12 Casa 10 Casa 12 142 Casa 13 Casa 14 Casa 13 Casa 14 143 Casa 15 Casa 16 Casa 15 Casa 16 144 Casa 17 Casa 17 145 Casa 18 Casa 18 146 Casa 19 Casa 20 Casa 19 Casa 20 147 Casa 21 Casa 23 Casa 21 Casa 23 148 Casa 22 Casa 22 Casa 22 149 Casa 25 Casa 25 Casa 25 150 Casa 26 Casa 27 Casa 26 Casa 27 151 Casa 28 Casa 28 152 Casa 29 Casa 29 Casa 29 153 Anexo 4 – Tabelas de Integração CASA 1 número Espaço 7 Sala de jantar 9 Jardins internos/cir. 1 Quintal 14 Circulação 2 Hall de entrada 3 Garagem 6 Quintal fundos 28 Circulação 8 Sala de estar/tv 11 Copa 13 Lavanderia/oficina 17 Circulação 31 Área de lazer 4 Varanda 10 Escritório 16 Quarto2 5 Corredor lateral ext. 15 Quarto1 27 Circulação 32 Exterior 29 Quarto empregada 12 Cozinha 19 Suíte 18 Banheiro 22 Quarto3 24 Quarto4 23 Quarto2 30 Banheiro empregada 20 Suíte 25 Quarto4 21 Banheiro suíte 26 Banheiro quarto4 Média Integração 1,559 1,502 1,322 1,267 1,192 1,192 1,081 1,067 1,053 1,014 0,965 0,965 0,954 0,932 0,881 0,881 0,863 0,863 0,863 0,803 0,780 0,737 0,737 0,711 0,711 0,687 0,665 0,605 0,588 0,555 0,483 0,461 0,904 Tipo (a,b,c,d) c d d b c d d c c b a b d c b b c a c a b a b a a b a a b b a a 154 CASA 2 Número Espaço 11 Sala de estar 8 Hall 17 Circulação 7 Varanda 10 Varanda 6 Área de lazer 18 Escada 3 Circulação 9 Corredor externo 4 Circulação 5 Corredor externo 1 Garagem 13 Circulação 14 Sala de Jantar 15 Lavabo 16 Cozinha 25 Sala íntima 12 Escritório 24 Jardim 22 Circulação 2 Quintal 21 Qto empregada 20 Despensa 26 Circulação 23 Jardim 33 Suíte3 34 Exterior 19 Banh. Empregada 28 Suíte2 27 Suíte1 32 Banh. Suíte3 29 Circulação Suíte 31 Banh. Suíte1 30 Banh. Suíte2 Média Integração 1,046 1,022 1,010 0,936 0,936 0,871 0,871 0,863 0,863 0,823 0,801 0,766 0,766 0,766 0,766 0,766 0,753 0,747 0,735 0,729 0,705 0,668 0,658 0,635 0,622 0,601 0,601 0,539 0,529 0,523 0,494 0,449 0,440 0,386 0,726 Tipo (a,b,c,d) d d c d d c b d d c c d d c a c b a c c c a a b a b a a b b a b a a 155 CASA 3 Número Espaço 2 Hall de entrada 4 Circulação 9 Escada 6 Circulação 8 Circulação 33 Circulação 10 Sala de estar 1 Quintal 13 Sala de estar 11 Sala de estar 3 Corredor lateral ext. 14 Área de lazer 15 Sala de estar/jantar 5 Escritório 34 Mezanino 22 Circulação 35 Circulação 7 Lavabo 61 Estar subsolo 19 Cozinha 21 Despensa 18 Escada 36 Suite1 32 Corredor lateral ext. 17 Varanda 71 Exterior 12 Sala de estar 39 Circulação 16 Jardim interno 24 Circulação 40 Circulação 38 Cozinha mezanino 65 Estar subsolo 62 Circulação 63 Depósito 64 Estar subsolo 20 Copa 37 Closet1 26 Área de serviço 44 Circulação 45 Suite4 58 Depósito 42 Suite3 41 Suite2 66 Copa subsolo 69 Banheiro subsolo 70 Sauna 47 Estar superior Integração 0,908 0,898 0,859 0,851 0,837 0,818 0,816 0,811 0,811 0,808 0,779 0,772 0,765 0,730 0,724 0,722 0,700 0,693 0,689 0,687 0,683 0,678 0,678 0,673 0,671 0,666 0,664 0,642 0,634 0,610 0,609 0,606 0,589 0,587 0,581 0,581 0,580 0,576 0,563 0,563 0,562 0,548 0,530 0,528 0,513 0,507 0,507 0,504 Tipo d c b c d b c c d c c d d a b c b a d b a c b c c a a c a c b a b b a a a b b c c a b b b a a c 156 46 Varanda superior 52 Banheiro suite1 27 Circulação 59 Closet4 30 Quarto empregada 43 Suite3 56 Closet2 67 Adega 68 Adega 48 Circulação 28 Quarto empregada 29 Banheiro empregada 60 Banheiro suite4 31 Banheiro empregada 53 Banheiro suite3 55 Varanda superior 57 Banheiro suite2 51 Quarto 49 Banheiro superior 50 Closet 54 Varanda superior Média 0,501 0,499 0,493 0,490 0,489 0,467 0,464 0,451 0,451 0,450 0,436 0,436 0,433 0,433 0,415 0,415 0,412 0,403 0,401 0,401 0,363 0,603 c a b b b b b a a b a a a a a a a b a a a 157 CASA 4 Número Espaço 5 Sala de estar/jantar 10 Sala íntima 8 Varanda 14 Sala íntima 11 Cozinha 2 Hall de entrada 9 Circulação 3 Garagem 7 Área de lazer 16 Circulação 24 Corredor lateral externo 1 Quintal 25 Varanda 13 Varanda 20 Área de serviço 27 Varanda 15 Escritório 4 Quintal 23 Varal 6 Corredor lateral externo 12 Lavabo 29 Suite1 32 Suíte2 28 Quarto 30 Banheiro social 31 Quarto 37 Exterior 26 Banheiro externo 18 Quarto empregada 19 Banheiro empregada 21 Circulação 33 Closet2 34 Closet1 22 Quarto empregada 35 Banheiro suíte1 36 Banheiro suíte2 Média Integração Tipo (a, b, c, d) 1,442 d 1,328 d 1,173 d 1,134 b 1,097 c 1,040 c 1,040 c 0,989 c 0,970 d 0,952 b 0,952 c 0,917 d 0,901 c 0,893 c 0,885 c 0,834 a 0,814 a 0,801 c 0,788 c 0,776 c 0,765 a 0,737 b 0,737 b 0,716 a 0,716 a 0,716 a 0,696 a 0,687 a 0,677 a 0,677 a 0,615 b 0,594 b 0,594 b 0,507 a 0,492 a 0,492 a 0,837 158 CASA 5 Número Espaço 14 Área de lazer 11 Varanda 13 Varanda 15 Varanda 12 Sala íntima 10 Sala de TV 20 Corredor lateral externo 34 Suíte do casal 16 Área de serviço 4 Corredor lateral externo 7 Circulação 5 Sala de estar/jantar 19 Circulação 28 Circulação 1 Quintal 6 Circulação 32 Suíte1 21 Corredor lateral externo 17 Cozinha 3 Hall de entrada 33 Suíte2 35 Suíte3 36 Circulação suíte do casal 2 Garagem 31 Sauna 18 Copa 24 Quarto empregada 26 Circulação 23 Quarto empregada 38 Banheiro suíte do casal 8 Banheiro 9 Escritório 29 Banheiro 30 Banheiro 39 Closet1 22 Lavabo 45 Exterior 41 Closet3 43 Closet2 37 Closet suíte do casal 25 Banheiro empregada 27 Quarto do caseiro 40 Banheiro suite1 42 Banheiro suíte3 44 Banheiro suíte2 Média Integração Tipo (a,b,c,d) 1,513 d 1,496 d 1,374 c 1,346 c 1,333 d 1,295 d 1,202 d 1,202 c 1,171 d 1,161 c 1,161 d 1,077 d 1,052 d 1,028 b 1,005 d 1,005 c 0,997 b 0,990 c 0,983 c 0,962 c 0,962 b 0,962 b 0,942 b 0,910 c 0,880 a 0,863 c 0,863 b 0,863 b 0,852 a 0,852 a 0,847 a 0,847 a 0,774 a 0,774 a 0,765 b 0,761 a 0,761 a 0,744 b 0,744 b 0,724 a 0,677 a 0,677 a 0,615 a 0,601 a 0,601 a 0,960 159 CASA 6 número Média Espaço 7 Sala de estar 12 Varanda 10 Sala de jantar 4 Área de lazer 8 Escada 13 Varanda 9 Circulação 6 Hall de entrada 11 Sala de TV 24 Circulação 18 Cozinha 1 Quintal 35 Corredor lateral ext. 2 Entrada principal 16 Escada 17 Circulação 25 Circulação 14 Circulação 20 Depósito 5 Garagem 3 Quintal 36 Escritótio 19 Área de serviço 23 Circulação 29 Suíte 26 Sala íntima 27 Banheiro 28 Quarto1 30 Quarto2 31 Banheiro 32 Quarto3 15 Ateliê 37 Exterior 21 Cozinha2 22 Quarto empregada 33 Closet 34 Banheiro suíte Integração Tipo (a,b,c,d) 1,277 d 1,187 d 1,160 d 1,121 d 1,097 b 1,097 d 0,989 c 0,970 c 0,943 c 0,943 b 0,917 c 0,901 d 0,893 c 0,878 c 0,870 c 0,841 d 0,814 b 0,807 b 0,807 a 0,776 d 0,759 c 0,737 a 0,726 c 0,664 c 0,651 b 0,635 a 0,635 a 0,635 a 0,635 a 0,635 a 0,635 a 0,631 a 0,601 a 0,580 a 0,580 a 0,537 b 0,453 a 0,811 160 CASA 7 número Média Espaço 2 Sala de estar 1 Quintal 7 Circulação 6 Cozinha 3 Garagem/varanda 4 Corredor lateral 15 Cozinha 12 Suíte 5 Sala de jantar 25 Exterior 16 Área de serviço 8 Quarto 9 Quarto 10 Quarto 11 Banheiro 14 Banheiro suíte 23 Escada externa 18 Sala de estar anexo 19 Cozinha anexo 13 Suíte 17 Área de serviço 21 Circulação anexo 24 Sótão 20 Quarto anexo 22 Banheiro anexo Integração Tipo (a,b,c,d) 1,417 d 1,348 d 1,256 b 1,083 c 1,062 c 1,023 d 1,023 c 1,005 b 0,891 a 0,863 a 0,850 b 0,825 a 0,825 a 0,825 a 0,825 a 0,825 a 0,789 b 0,778 c 0,757 c 0,708 a 0,628 a 0,614 c 0,594 a 0,588 a 0,489 a 0,876 161 CASA 8 Número Média Espaço 6 Sala de estar/lareira 23 Escada 24 Escada 25 Sala TV 7 Sala de jantar 8 Varanda 29 Circulação 4 Hall de entrada 15 Circulação 9 Área de lazer 10 Circulação 26 Suíte1 2 Quintal 14 Cozinha 37 Escada 33 Suíte2 19 Área de serviço 31 Quarto 30 Banheiro social 32 Quarto 16 Circulação 5 Corredor lateral externo 17 Quarto empregada 18 Quarto empregada 20 Depóstio 21 Depósito 22 Churrasqueira 1 Quintal 38 Sala mezanino 11 Quarto 27 Closet1 13 Lavabo 3 Garagem 34 Closet2 36 Closet 39 Sala mezanino 44 Exterior 40 Suíte3 12 Banheiro 28 Banheiro suíte1 35 Banheiro Suíte2 42 Varanda 41 Banheiro Suíte3 43 Depósito mezanino Integração Tipo (a,b,c,d) 1,010 d 0,995 b 0,965 b 0,924 b 0,911 d 0,880 d 0,841 b 0,809 c 0,785 d 0,771 d 0,728 b 0,728 b 0,712 c 0,704 a 0,704 b 0,675 b 0,668 c 0,668 b 0,661 a 0,661 a 0,652 c 0,648 c 0,626 a 0,626 a 0,618 a 0,618 a 0,618 a 0,612 d 0,600 b 0,595 b 0,595 b 0,590 a 0,562 c 0,559 b 0,550 a 0,511 b 0,511 b 0,507 b 0,499 a 0,499 a 0,474 a 0,442 b 0,436 a 0,387 a 0,662 162 CASA 9 Número Média Espaço 2 Hall de entrada 9 Sala de estar/jantar 1 Quintal 11 Circulação 7 Varanda 28 Escada 3 Garagem 4 Corredor lateral externo 8 Circulação 5 Varanda 10 Cozinha 12 Circulação suíte 6 Área de lazer 29 Circulação 35 Exterior 13 Quarto 14 Quarto 15 Banheiro social 24 Despensa 25 Churrasqueira 26 Sauna 30 Escritório 20 Despensa 21 Banheiro 22 Quarto empregada 23 Despensa 16 Suíte 27 Cozinha 17 Banheiro suíte 32 Varanda 31 Banheiro escritório 18 Varanda 19 Jardim interno 33 Jardim interno 34 Jardim interno Integração Tipo (a,b,c,d) 1,522 c 1,327 c 1,255 d 1,191 b 1,161 d 1,132 b 1,043 c 0,967 c 0,948 c 0,919 c 0,919 b 0,902 b 0,884 c 0,884 b 0,868 b 0,837 a 0,837 a 0,837 a 0,822 a 0,822 a 0,822 a 0,714 b 0,709 a 0,709 a 0,709 a 0,709 a 0,703 b 0,693 a 0,683 a 0,584 b 0,570 a 0,563 a 0,563 a 0,484 a 0,484 a 0,851 163 CASA 10 número Média Espaço 10 Sala de estar/jantar 21 Circulação 12 Cozinha 7 Hall de entrada 11 Sala de estar 22 Sala de TV 34 Varanda 6 Circulação 16 Área de serviço 2 Garagem 35 Área de lazer 3 Corredor lateral externo 4 Corredor lateral externo 14 Cozinha 1 Quintal 23 Circulação 30 Circulação suíte2 8 Lavabo 9 Escritório 27 Suíte1 15 Despensa 17 Circulação 32 Closet2 5 Corredor 24 Quarto 25 Quarto 26 Banheiro social 28 Closet1 31 Suíte2 36 Exterior 18 Banheiro empregada 19 Quarto empregada 20 Quarto empregada 33 Banheiro suíte2 29 Banheiro suíte1 Integração Tipo (a,b,c,d) 1,242 d 1,101 b 1,064 c 1,009 c 0,969 c 0,969 b 0,889 d 0,881 c 0,881 c 0,828 c 0,821 d 0,801 d 0,788 c 0,775 a 0,757 c 0,757 b 0,757 b 0,745 a 0,745 a 0,745 b 0,718 a 0,702 b 0,605 b 0,598 a 0,598 a 0,598 a 0,598 a 0,598 b 0,598 a 0,598 b 0,563 a 0,563 a 0,563 a 0,499 a 0,494 a 0,755 164 CASA 12 Espaço 12 Circulação 8 Hall de entrada 16 Circulação suíte 10 Cozinha 23 Varanda 13 Sala de estar/jantar 11 Varanda 21 Suíte do casal 2 Garagem 7 Área de serviço 15 Circulação 3 Entrada 5 Pátio de serviço 6 Área de lazer 1 Jardim 24 Exterior 4 Corredor lateral externo 20 Banheiro suíte 14 Escritório 9 Quarto empregada 17 Quarto 18 Banheiro 19 Quarto 22 Banheiro empregada número Média Integração Tipo (a,b,c,d) 1,479 d 1,328 c 1,177 c 1,151 c 1,151 d 1,102 c 1,079 d 1,057 c 1,035 d 1,035 c 1,015 b 0,996 c 0,977 c 0,977 d 0,925 d 0,878 c 0,809 c 0,784 a 0,750 a 0,740 b 0,709 a 0,709 a 0,709 a 0,563 a 0,964 CASA 13 número Espaço 7 Circulação 5 Sala de estar/jantar 9 Cozinha 3 Sala de estar/jantar 8 Área de serviço 2 Garagem 6 Quintal fundos 10 Lavabo 11 Jardim interno 12 Quarto 13 Quarto 14 Banheiro social 15 Quarto 4 Corredor lateral 16 Depósito 1 Quintal 17 Exterior Média Integração 1,626 1,273 1,171 1,045 1,045 0,944 0,887 0,887 0,887 0,887 0,887 0,887 0,887 0,770 0,681 0,665 0,496 0,937 Tipo (a,b,c,d) c c c c c c c a a a a a a c a b a 165 CASA 14 número Espaço 6 Circulação 9 Sala estar 2 Hall de entrada 10 Circulação 14 Cozinha 8 Corredor lateral 7 Quarto 1 Quintal 4 Suíte 3 Corredor lateral 5 Banheiro 15 Área de serviço 11 Banheiro 12 Escritório 13 Quarto 19 Exterior 17 Banheiro suíte 16 Quintal fundos 18 Quintal fundos Média número Média CASA 15 Espaço 5 Sala de estar/jantar 7 Circulação 16 Quintal fundos 2 Garagem 6 Circulação 1 Quintal 3 Corredor lateral 8 Circulação 11 Suíte 4 Corredor lateral 9 Banheiro 14 Cozinha 15 Área de serviço 17 Exterior 12 Quarto 13 Quarto 10 Banheiro suíte Integração Tipo (a,b,c,d) 1,414 c 1,359 b 1,140 c 0,955 b 0,955 b 0,930 c 0,841 a 0,822 c 0,768 b 0,752 c 0,736 a 0,707 b 0,654 a 0,654 a 0,654 a 0,589 a 0,561 a 0,544 b 0,431 a 0,814 Integração Tipo (a,b,c,d) 1,722 d 1,464 b 1,220 d 1,171 c 1,045 c 0,976 d 0,976 d 0,944 b 0,887 b 0,861 c 0,836 a 0,791 c 0,714 c 0,650 a 0,636 a 0,636 a 0,610 a 0,949 166 CASA 16 número Média Espaço 2 Garagem 4 Corredor lateral 14 Área de serviço 7 Sala de jantar 10 Circulação 13 Cozinha 3 Sala de estar 16 Quarto TV 1 Quintal 5 Circulação 15 Despensa 17 Varanda 21 Quintal 8 Quarto do dono 9 Quarto da filha 11 Banheiro2 12 Quarto 18 Circulação 22 Exterior 6 Banheiro1 19 Quarto fundos 20 Banheiro fundos Integração Tipo (a,b,c,d) 1,406 d 1,324 c 1,324 c 1,250 d 1,250 c 1,184 c 0,938 c 0,938 b 0,900 b 0,865 c 0,833 a 0,833 a 0,833 a 0,804 a 0,804 a 0,804 a 0,804 a 0,703 b 0,643 a 0,625 a 0,536 a 0,536 a 0,915 167 CASA 17 Número Espaço 9 Circulação 12 Escada 7 Sala de jantar 21 Sala íntima 10 Cozinha 22 Circulação 38 Circulação 8 Sala de estar 13 Circulação 6 Corredor lateral ext. 16 Área de serviço 4 Varanda 5 Hall de entrada 25 Suíte2 26 Suíte master 11 Despensa 23 Suíte1 24 Circulação 27 Varanda 20 Área de lazer 39 Corredor lateral ext. 14 Escritório 15 Lavabo 2 Garagem 3 Varanda 17 Circulação 32 Circulação suíte master 36 Circulação 29 Banheiro suíte2 1 Quintal 30 Banheiro suíte1 31 Varanda 28 Varanda 18 Banheiro de empreg. 19 Quarto empregada 33 Banheiro suíte master 34 Closet suíte master 37 Sacada 40 Exterior 35 Banheiro suíte master Média Integração Tipo (a,b,c,d) 1,021 b 1,003 b 0,968 c 0,968 b 0,846 d 0,815 b 0,804 b 0,798 c 0,781 b 0,731 d 0,731 d 0,695 d 0,666 c 0,663 b 0,663 b 0,659 a 0,647 b 0,647 b 0,640 b 0,629 d 0,623 d 0,619 a 0,619 a 0,616 c 0,609 d 0,599 b 0,558 b 0,547 b 0,542 a 0,540 c 0,532 a 0,532 a 0,527 a 0,499 a 0,499 a 0,474 b 0,470 a 0,462 a 0,457 a 0,409 a 0,653 168 CASA 18 Número Espaço 6 Escada 5 Circulação 14 Circulação 7 Cozinha 2 Garagem 3 Sala de estar 24 Terraço 9 Banheiro 15 Suíte casal 17 Suíte2 18 Quarto 8 Circulação 1 Quintal 4 Sala de jantar 25 Terraço 26 Depósito 19 Varanda quartos 21 Banheiro suíte 16 Sacada suíte do casal 23 Banheiro suíte2 11 Quintal fundos 10 Quarto empregada 27 Exterior 20 Varanda quartos 22 Banheiro suíte 12 Banheiro 13 Quintal fundos Média Integração 1,356 1,327 1,177 1,006 0,945 0,931 0,931 0,866 0,866 0,866 0,843 0,790 0,701 0,678 0,678 0,678 0,671 0,657 0,643 0,643 0,624 0,600 0,547 0,529 0,520 0,499 0,499 0,780 Tipo (a,b,c,d) b c c b c c b a b c c b b a a a c b a a b a a a a a a 169 CASA 19 número Espaço 2 Varanda 5 Sala de estar 1 Quintal 4 Varanda 12 Corredor lateral 7 Circulação 8 Circulação 3 Varanda 6 Cozinha/copa 13 Quintal fundos 14 Corredor lateral 15 Exterior 9 Quarto 10 Banheiro 11 Quarto Média Integração Tipo (a,b,c,d) 1,962 d 1,681 d 1,308 d 1,308 d 1,308 d 1,239 d 1,239 c 1,177 d 1,177 c 0,942 d 0,905 d 0,759 a 0,736 a 0,736 a 0,736 a 1,147 CASA 20 número Média Espaço 4 Circulação 3 Sala de estar 2 Garagem 10 Copa 7 Suíte 5 Quarto 6 Banheiro 8 Quarto 9 Quarto 12 Cozinha 15 Corredor lateral 1 Quintal 13 Área de serviço 14 Quintal fundos 11 Banheiro suíte 16 Exterior Integração 1,757 1,387 1,146 1,146 0,976 0,909 0,909 0,909 0,909 0,850 0,850 0,753 0,753 0,676 0,643 0,538 0,945 Tipo (a,b,c,d) c c c c b a a a a c c a c c a a 170 CASA 21 número Espaço 2 Sala de estar/jantar 1 Quintal 3 Circulação 6 Cozinha 8 Corredor lateral 10 Corredor lateral 4 Quarto 5 Banheiro 11 Exterior 9 Quintal fundos 7 Quarto Média Integração 1,327 1,206 1,206 0,737 0,737 0,737 0,664 0,664 0,664 0,531 0,492 0,815 Tipo (a,b,c,d) b c b b c c a a a c a CASA 23 número Média Espaço 2 Garagem 3 Sala de estar 4 Circulação 8 Cozinha 10 Quintal fundos 1 Quintal 9 Corredor lateral 11 Corredor lateral 5 Quarto 6 Quarto 7 Banheiro 12 Exterior Integração 1,424 1,424 1,306 1,119 1,119 1,045 0,979 0,922 0,746 0,712 0,712 0,627 1,011 Tipo (a,b,c,d) d c c c d c c c a a a a 171 CASA 22 número Espaço 17 Circulação 12 Escada 10 Sala de jantar 19 Suíte1 5 Garagem 23 Sala superior 1 Garagem 11 Bar 16 Circulação 6 Escada 18 Circulação suíte do casal 20 Circulação suíte2 21 Circulação suíte3 7 Cozinha/copa 4 Hall de entrada 14 Varanda 13 Sala de estar 32 Banheiro suíte1 9 Lavabo 24 Área de lazer 3 Quarto empregada 2 Escritório 35 Exterior 22 Sala de TV 27 Banheiro suíte do casal 28 Banheiro suíte3 29 Suíte3 30 Suíte do casal 31 Suíte2 33 Banheiro suíte2 15 Depósito 34 Área verde (fundos) 25 Lavanderia 8 Banheiro empregada 26 Banheiro Média Integração Tipo (a,b,c,d) 1,308 c 1,255 b 1,206 d 1,080 c 1,055 c 1,020 c 0,998 c 0,967 c 0,967 c 0,938 b 0,929 b 0,929 b 0,929 b 0,919 c 0,910 d 0,860 b 0,844 a 0,780 a 0,767 a 0,761 b 0,749 b 0,737 a 0,737 a 0,731 b 0,698 a 0,698 a 0,698 a 0,698 a 0,698 a 0,698 a 0,693 a 0,659 a 0,599 a 0,591 a 0,580 a 0,848 172 CASA 25 número Média Espaço 9 Circulação 12 Sala de jantar 6 Sala de estar 13 Cozinha 18 Área de lazer 3 Garagem 4 Área de serviço 10 Escada 1 Quintal 5 Corredor lateral 24 Sala íntima 7 Garagem 11 Banheiro 14 Escritório 17 Churrasqueira 8 Hóspedes 19 Circulação 15 Área de serviço 23 Despensa 16 Circulação 2 Quintal 33 Exterior 26 Suíte do casal 27 Circulação 25 Varanda 28 Quarto 20 Banheiro empregada 21 Ateliê 22 Quarto empregado 30 Closet suíte 29 Quarto 31 Banheiro 32 Banheiro suíte Integração Tipo (a,b,c,d) 1,268 c 1,268 d 1,197 d 1,118 c 1,103 d 1,089 d 1,076 c 1,062 b 1,049 d 0,966 c 0,894 c 0,876 c 0,867 a 0,867 a 0,867 c 0,833 a 0,817 b 0,809 c 0,772 a 0,765 c 0,759 a 0,759 a 0,702 c 0,696 b 0,691 c 0,674 a 0,629 a 0,629 a 0,629 a 0,566 b 0,555 a 0,555 a 0,469 a 0,845 173 CASA 26 número Média Espaço 7 Sala de jantar 16 Circulação 3 Varanda 6 Varanda 9 Cozinha 2 Corredor lateral 4 Corredor lateral 8 Sala de estar 10 Área de serviço 1 Quintal 20 Circulação suíte casal 5 Quintal fundos 17 Quarto 18 Banheiro 19 Quarto 11 Circulação 15 Quintal fundos 13 Área fundos 21 Closet casal 24 Exterior 22 Banheiro suíte 12 Quarto empregada 14 Banheiro empregada 23 Suíte casal Integração Tipo (a,b,c,d) 1,569 d 1,263 b 1,233 d 1,177 d 1,177 c 0,996 c 0,996 d 0,941 a 0,941 c 0,925 d 0,908 b 0,863 c 0,822 a 0,822 a 0,822 a 0,797 c 0,729 b 0,709 c 0,672 b 0,664 a 0,655 a 0,595 a 0,595 a 0,523 a 0,891 174 CASA 27 número Espaço 10 Sala de jantar 18 Circulação quartos 11 Sala de estar 20 Circulação 9 Copa 13 Sala de estar 33 Área de lazer 30 Quintal 1 Varanda 16 Sala de TV 6 Cozinha 4 Corredor lateral ext. 21 Suíte2 24 Suíte1 23 Banheiro 25 Escritório 19 Escritório suíte 5 Área de serviço 34 Varanda 2 Quintal 12 Lavabo 14 Sala de estar 3 Garagem 31 Quintal 32 Quintal 15 Sala de estar 17 Sala de TV 7 Despensa 22 Banheiro suíte2 29 Banheiro suíte1 26 Suíte master 8 Quarto empregada 37 Exterior 27 Closet suíte master 28 Banheiro suíte master 35 Quarto empregada 36 Banheiro empregada Média Integração Tipo (a,b,c,d) 1,463 d 1,346 c 1,173 c 1,173 d 1,147 c 1,019 d 1,019 c 1,009 b 0,989 d 0,989 b 0,961 c 0,943 d 0,934 b 0,934 b 0,917 a 0,917 a 0,878 c 0,855 c 0,855 d 0,841 c 0,834 a 0,814 c 0,788 c 0,748 a 0,748 a 0,742 c 0,737 a 0,721 a 0,706 a 0,706 a 0,691 b 0,677 b 0,651 a 0,558 a 0,558 a 0,554 b 0,465 a 0,867 175 CASA 28 número Média Espaço 12 Circulação 25 Escada 11 Sala de jantar 26 Circulação 14 Circulação 15 Cozinha 7 Área de lazer 13 Banheiro 27 Circulação 10 Sala de estar 19 Área de serviço 37 Suíte3 28 Sala de jogos 17 Sala de som e bar 5 Corredor lateral 22 Circulação 8 Hall de entrada 6 Corredor lateral 2 Quintal 35 Suíte2 36 Suíte4 42 Escritório 32 Suíte1 16 Copa 1 Acesso principal 3 Garagem 38 Closet3 20 Quarto de passar roupa 29 Sala de jogos 4 Quintal 18 Sala de TV 21 Quarto empregada 23 Despensa 24 Quarto empregada 9 Escritório 43 Exterior 40 Banheiro suíte4 41 Banheiro suíte2 33 Closet1 34 Banheiro suíte1 30 Varanda 39 Banheiro suíte3 31 Varanda Integração Tipo (a,b,c,d) 1,273 c 1,189 b 1,096 d 1,096 c 1,016 c 0,913 b 0,906 d 0,900 a 0,894 c 0,869 c 0,869 c 0,863 c 0,840 b 0,818 b 0,787 c 0,778 c 0,768 c 0,728 c 0,720 d 0,720 c 0,720 c 0,720 d 0,708 b 0,704 a 0,700 d 0,700 b 0,681 b 0,677 a 0,674 b 0,660 c 0,646 a 0,621 a 0,621 a 0,621 a 0,615 a 0,600 c 0,583 a 0,583 a 0,575 a 0,575 a 0,558 b 0,558 a 0,472 a 0,758 176 CASA 29 número Espaço 11 Sala de estar 21 Escada 8 Hall de entrada 14 Copa 22 Sala de TV 9 Hall de entrada 1 Quintal 15 Cozinha 12 Sala de jantar 2 Acesso principal 16 Área de serviço 23 Circulação 3 Quintal 4 Corredor lateral 24 Suíte do casal 25 Circulação suíte1 13 Lavabo 10 Escritório 6 Corredor lateral 5 Corredor lateral 7 Área de lazer 34 Exterior 31 Suíte2 32 Suíte3 17 Quarto empregada 18 Banheiro empregada 19 Quarto empregada 20 Área de serviço 26 Suíte1 27 Banheiro suíte1 28 Closet suíte do casal 29 Banheiro suíte do casal 30 Banheiro suíte2 33 Banheiro suíte3 Média Integração Tipo (a,b,c,d) 1,327 c 1,185 b 1,071 c 1,071 c 1,046 b 0,999 c 0,946 d 0,916 c 0,898 a 0,847 c 0,816 c 0,816 b 0,801 c 0,801 c 0,787 b 0,787 b 0,773 a 0,735 a 0,711 c 0,705 c 0,705 c 0,705 a 0,640 b 0,640 b 0,630 a 0,630 a 0,630 a 0,630 a 0,613 a 0,613 a 0,613 a 0,613 a 0,520 a 0,520 a 0,786 177 Anexo 5 – Integração normalizada Para efeito de comparação com universo mais amplo, foram pesquisadas a menor e maior médias de integração, entre os estudos de Hanson, Trigueiro e Amorim. Nesses estudos estão: casas vernaculares na França, casas de arquitetos em Londres, e casas de arquitetos famosos do movimento moderno (Loos, Meier, Botta e Hejduk), estudadas por Hanson; casas de arquitetos modernistas do Recife, estudadas por Amorim; sobrados coloniais e casas modernistas em Natal estudados por Trigueiro. As medidas de integração desses estudos são apresentadas em RRA (Real Relative Assymmetry, ou Relativa Assimetria Real), medida tradicionalmente utilizada na literatura para o estudo de espaços internos de edifícios. A RRA é, na verdade, a base para a medida de integração, que é simplesmente o inverso da RRA, utilizada neste trabalho. Para que não houvesse confusão entre as duas maneiras de se calculara integração, optou-se por se fazer esse estudo em separado, a título de um exercício comparativo com outros trabalhos disponíveis na literatura. Isso ajuda a entender o quanto integrado são os sistemas aqui estudados, diante das pesquisas já realizadas. Os dados usados nessa comparação estão nas tabelas desse anexo. Em todo esse universo disponível, a casa mais integrada foi uma casa vernacular estudada por Hanson, (com índice de 0,600) e a casa mais segregada foi uma residência de Loos, também estudada por ela (com de 1,968). Para melhor visualização dos dados da amostra, diante desses conjuntos, aqueles foram normalizados188 entre 0 e 1, onde os valores mais próximos de zero significam, aqui, maior integração, e os valores mais próximos de 1, maior segregação. Os valores normalizado dessa amostra estão na Tabela 5g desse anexo. Após essa normalização, a média do conjunto estudado foi de 0,498. A baixa medida indica que, de maneira geral esse conjunto é pouco segregado, confirmando a análise feita em relação aos estudos de Trigueiro e Amorim. Isso significa que as casas estudadas em Brasília são exemplos de sistemas que – a partir das hipóteses encontradas na literatura – deveriam favorecer um uso mais intenso e informal de seus espaços. 188 Para o cálculo de normalização será usada a fórmula: Vnorm = (V – Vmin)/(Vmáx – Vmin), onde Vnorm é o valor gerado entre 0 e 1; V é o valor a ser normalizado; Vmin é o valor mínimo da faixa de valores definida e o Vmáx é valor máximo da faixa de variação. 178 Tabela 5 a- Casa vernaculares da Normandia - França (HANSON, 1998, pág.84) Imóvel casa7 casa15 casa6 casa9 casa17 casa16 casa1 casa10 casa11 casa3 casa12 casa13 casa2 casa4 casa5 casa8 Média Entr. do conj. RRA média 1,52 1,40 1,30 1,15 1,15 1,14 1,12 1,12 1,10 1,02 0,96 0,96 0,95 0,93 0,89 0,60 1,08 0,841 Entropia 0,61 0,72 0,71 0,49 0,68 0,68 0,76 0,78 0,86 0,84 0,69 0,76 0,66 0,60 0,66 0,42 Tablea 5b - Casas de arquitetos em Londres (HANSON, 1998, pág.227) Imóvel RRA (média) casa10 1,912 casa18 1,880 casa9 1,842 casa14 1,667 casa17 1,646 casa13 1,490 casa11 1,449 casa2 1,434 casa5 1,379 casa1 1,342 casa4 1,313 casa3 1,297 casa12 1,294 casa6 1,292 casa16 1,280 casa8 1,197 casa7 1,038 casa15 0,815 Média 1,420 Entr. do conj. Tabela 5c - Casa das "estrelas" arquitetônicas (HANSON, 1998, pág. 267) Imóvel Loos Hejduk Botta Meier Média Entropia do conj. RRA (média) 1,968 1,832 1,396 1,388 1,646 0,975 0,865 Tabela 5d - Casa de arquitetos modernista em Recife (AMORIM, 1999, pág. 77) RRA Entropi Integração Índice de a Imóvel Média Mínima Funcion. Svenson 0,884 0,432 0,74 1,229 0,750 Reynaldo 1,255 0,878 0,84 0,832 0,600 Domingues 1,261 0,846 0,87 0,825 0,740 Campelo 1,279 0,754 0,85 0,825 0,710 Borsoi 1,460 0,873 0,77 0,734 0,730 Esteves 1,537 0,918 0,87 0,684 0,690 Amorim 1,566 0,912 0,75 0,682 0,730 Pontual 1,559 1,065 0,79 0,672 0,650 Média 1,35 0,81 0,81 0,700 Entr. do conj. 0,936 179 Tabela 5e - Sobrados coloniais em Recife (TRIGUEIRO, 1995, pág.12-13) RRA Entropia Integração Imóvel Máxima Média Mínima Sobrado 1 1,390 1,009 0,575 0,855 1,053 Sobrado 2 1,317 0,952 0,467 0,809 1,137 Sobrado 3 2,337 1,538 0,827 0,803 0,711 Sobrado 4 2,029 1,512 0,854 0,861 0,693 Média 1,25 0,83 0,90 Entropia do conj. 0,954 Tabela 5f – Casas modernistas em Natal, casas reformadas e não-reformadas e novas construção (TRIGUEIRO, 2000, pág. 40.2) Imóvel RRA (média) conv2 1,78 reform2 1,58 conv9a 1,58 conv3 1,50 moder9 1,43 nova7 1,40 moder3 1,35 reform1 1,35 conv9a 1,34 conv1 1,32 moder7 1,31 reform3 1,30 moder10 1,28 reform5 1,28 nova12 1,24 moder5 1,23 moder4 1,20 nova10 1,20 nova6 1,16 moder8 1,14 conv5 1,11 moder1 1,08 moder1 1,08 moder2 1,05 reform4 1,02 conv4 1,02 moder6 1,00 média 1,27 Entropia 0,930 do conj. Tabela 5g – Casas da amostra Imóvel casa19 casa23 casa12 casa5 casa15 casa20 casa13 casa16 casa1 casa26 casa7 casa27 casa9 casa22 casa25 casa4 casa21 casa14 casa6 casa29 casa18 casa28 casa10 casa2 casa8 casa17 casa3 Média Entro. RRA RRAn (Média) 0,952 0,257 1,064 0,339 1,091 0,359 1,101 0,366 1,145 0,398 1,148 0,401 1,141 0,395 1,180 0,424 1,209 0,445 1,204 0,442 1,221 0,454 1,226 0,458 1,266 0,487 1,231 0,461 1,263 0,485 1,276 0,494 1,356 0,553 1,343 0,543 1,310 0,519 1,339 0,540 1,384 0,573 1,382 0,572 1,386 0,575 1,442 0,615 1,588 0,722 1,612 0,740 1,751 0,841 1,282 0,498 0,925 180