Proposta de criação do PARQUE ESTADUAL SÃO BARTOLOMEU Foto: Fátima Sonoda Documento para consulta pública Brasília-DF, 08 de abril de 2013 1 Diretor-Presidente Henrique Brandão Cavalcanti Superintendente-Executivo Cesar Victor do Espírito Santo Administrativo-Financeiro Carlos Daniel Martins Schneider Eduardo B. Passos Paulo Henrique Gonçalves Projeto estudos para criação de unidades de conservação no Estado de Goiás Coordenação Geral - Paulo de Tarso Zuquim Antas Coordenação Executiva - Mara Cristina Moscoso Coordenação do Meio Biótico - Paula Hanna Valdujo Administrativo-financeiro - Paulo Henrique Gonçalves Consultores setoriais Sistema de Informação Geográfica Renato Prado dos Santos e Edivaldo Lima de Souza Meio Físico Tadeu Veiga e Ana Raíssa Amorim dos Santos Meio Biótico Vegetação Marcelo Brilhante de Medeiros, Glocimar Pereira Silva e Renata Corrêa Martins Fauna Ictiofauna - Pedro de Podestà Uchoa de Aquino e Henrique Breda Arakawa Herpetofauna - Almir de Paula, Mara Souza e Albuquerque e Silva, Paula Hanna Valdujo e Renato Sousa Recoder Avifauna e Mastofauna- Lucas Aguiar Carrara de Melo e Luciene Carrara Paula Faria Socioeconomia Mara Cristina Moscoso e Maurício Galinkin Levantamento Fundiário Nilvanda da Silva Alves de Lima e Ernane Faria 2 S PIDIAR ALNA Secretário do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos Leonardo de Moura Vilela Superintendente de Unidades de Conservação José Leopoldo de Castro Ribeiro Gerente de Àreas Protegidas Gilvânia Maria Silva Coordenadora do Projeto Cerrado Sustentável Susete Araújo Pequeno 3 Sumário APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................... 6 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7 CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA ..................................................................................... 8 Caracterização Física .............................................................................................................. 8 Alto Paraíso de Goiás - Contexto socioeconômico................................................................... 11 Demografia ............................................................................................................................................12 Saúde .....................................................................................................................................................12 Educação ................................................................................................................................................12 Infraestrutura e saneamento .................................................................................................................13 Renda .....................................................................................................................................................13 Políticas públicas....................................................................................................................................14 Contexto econômico ..............................................................................................................................15 Setor Primário .................................................................................................................................................15 Setor Secundário............................................................................................................................................16 Setor Terciário ................................................................................................................................................16 Projetos planejados ou em execução .....................................................................................................16 Turismo ambiental e cultural .................................................................................................................16 Nova Roma - Contexto socioeconômico ................................................................................. 17 Demografia ............................................................................................................................................17 Saúde .....................................................................................................................................................18 Educação ................................................................................................................................................18 Infraestrutura e saneamento .................................................................................................................19 Renda .....................................................................................................................................................19 Políticas públicas....................................................................................................................................20 Contexto econômico ..............................................................................................................................21 Setor Primário .................................................................................................................................................21 Setor Secundário............................................................................................................................................22 Setor Terciário ................................................................................................................................................22 Turismo ambiental e cultural .................................................................................................................22 Cavalcante - Contexto socioeconômico .................................................................................. 23 Demografia ............................................................................................................................................24 Saúde .....................................................................................................................................................25 Educação ................................................................................................................................................25 Infraestrutura e saneamento .................................................................................................................25 Renda .....................................................................................................................................................26 Políticas públicas....................................................................................................................................26 Contexto econômico ..............................................................................................................................27 Setor Primário .................................................................................................................................................28 Setor Secundário............................................................................................................................................28 Setor Terciário ................................................................................................................................................29 Projetos planejados ou em execução .....................................................................................................29 Turismo ambiental e cultural .................................................................................................................29 Meio Físico .......................................................................................................................... 30 Geologia e recursos minerais .................................................................................................................30 Grupo Araí ......................................................................................................................................................30 Grupo Bambuí ................................................................................................................................................30 Coberturas detrito-lateríticas ferruginosas ...................................................................................................30 Depósitos aluvionares recentes ....................................................................................................................31 Relevo ....................................................................................................................................................31 Clima ......................................................................................................................................................31 Solos ......................................................................................................................................................31 4 Águas .....................................................................................................................................................33 Qualidade ambiental .............................................................................................................................33 Vegetação ........................................................................................................................... 35 Fauna.................................................................................................................................. 37 Métodos ................................................................................................................................................38 Peixes.....................................................................................................................................................39 Anfíbios e Répteis ..................................................................................................................................39 Mamíferos .............................................................................................................................................40 Atributos Principais .............................................................................................................. 42 Bibliografia ......................................................................................................................... 44 Sumário de tabelas Tabela 1: Plantas presentes nos cerrados rupestres do Parque Estadual São Bartolomeu ............................................35 Tabela 2. Espécies da fauna detectadas durante os trabalhos .....................................................................................41 Sumário de mapas Mapa 1. Localização do Parque Estadual São Bartolomeu em Alto Paraíso de Goiás, Nova Roma e Cavalcante, unidades de conservação e Comunidades Quilombolas próximas ............................................................................................... 9 Mapa 2. A chapada onde está localizado o parque estadual abriga as cabeceiras e áreas de recarga das bacias dos rios São Bartolomeu, Almas e das Pedras ..........................................................................................................................10 Mapa 3. Estradas estaduais e federais no entorno do Parque Estadual São Bartolomeu ..............................................11 Mapa 4. Geologia, relevo e hidrografia do Parque Estadual São Bartolomeu ...............................................................32 Sumário de figuras Figura 1: Evolução da população de Alto Paraíso de Goiás por situação de domícilio no período de 1991 a 2010.........12 Figura 2: Avaliação da qualidade do ensino público em Alto Paraíso de Goiás, conforme o Ideb 2011. ........................13 Figura 3: Distribuição da renda da população com 10 ou mais anos de vida, estratificada com base no salário mínimo, no município de Alto Paraíso de Goiás e no estado como um todo..............................................................................14 Figura 4: Distribuição setorial do PIB municipal de Alto Paraíso de Goiás em 2010, conforme o Instituto Mauro Borges (2013). .......................................................................................................................................................................15 Figura 5: Evolução da população de Nova Roma por situação de domícilio no período de 1991 a 2010........................18 Figura 6: Avaliação da qualidade do ensino público em Nova Roma, conforme o Ideb 2011. .......................................19 Figura 7: Distribuição da renda da população com 10 ou mais anos de vida, estratificada com base no salário mínimo, no município de Nova Roma e no estado como um todo. ...........................................................................................20 Figura 8: Distribuição setorial do PIB municipal de Cavalcante em 2010 conforme o Instituto Mauro Borges (2013). ...23 Figura 9: Evolução da população de Cavalcante por situação de domícilio no período de 1991 a 2010. .......................24 Figura 10: Avaliação da qualidade do ensino público em Cavalcante, conforme o Ideb 2011. ......................................25 Figura 11: Distribuição da renda da população com 10 ou mais anos de vida, estratificada com base no salário mínimo, no município de Cavalcante e no estado como um todo. ............................................................................................26 Sumário de fotografias Foto 1: Bromelia goyazensis em afloramentos cerrado rupestre na bacia do rio São Bartolomeu. Foto: M. Brilhante ..34 Foto 2: Ponto de amostragem no rio São Bartolomeu. Foto: P. Aquino. ......................................................................38 Foto 3: Ponto de amostragem em cerrado e mata de galeria. Foto R. Recoder. ...........................................................38 Foto 4: Ponto de amostragem em mata seca ou decidual, com outros ecossistemas próximos. Foto: Aves Gerais. ......38 Foto 5: Perereca Phyllomedusa oreades. Foto: R. Recoder. .........................................................................................39 Foto 6: Lygodactylus klugei. Foto: R. Recoder. ............................................................................................................39 Foto 7: Mineirinho ou carvoeiro Charitospiza eucosma, espécie campestre de São Bartolomeu considerada como ameaçada de extinção no bioma Cerrado. Foto: Aves Gerais.......................................................................................40 Foto 8: Veado-campeiro Ozotoceros bezoarticus em campo recém-queimado de São Bartolomeu em outubro de 2012. Foto: Aves Gerais. ......................................................................................................................................................41 5 APRESENTAÇÃO O Governo do Estado de Goiás, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – Semarh, desenvolve com recursos de doação do Fundo Global para o Meio Ambiente – GEF e recursos próprios, o Projeto Cerrado Sustentável Goiás, como parte do Programa Cerrado Sustentável – uma iniciativa do Governo Federal e dos Governos de Estado de Goiás e Tocantins para promover a conservação da biodiversidade e a adoção de políticas e práticas sustentáveis de uso dos recursos naturais do Bioma Cerrado. O Acordo de Doação do GEF para o Estado de Goiás foi assinado no dia 14 de junho de 2010 (Acordo de Doação nº TF097157) e tem prazo de execução de três (3) anos a partir da data de sua efetivação. Para o cumprimento das metas do Projeto, o Governo do Estado de Goiás deve ampliar o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC) em, no mínimo 80.000 hectares (oitenta mil), em área de unidades de conservação do grupo de proteção integral. Para assessorar a Semarh no cumprimento desta meta, foi necessária a contratação de consultoria de pessoa jurídica especializada no processo de criação de unidades de conservação. Esta contratação foi efetuada após um processo de seleção pública, via edital, em que foram estabelecidas as regras e o termo de referência. Foi vencedora do certame a Fundação Pró-Natureza – Funatura, que executou o trabalho por meio do contrato no 009/2012 com o Governo de Goiás. Nesse volume apresentamos a proposta de criação do Parque Estadual São Bartolomeu, subsidiada pelos estudos da Geodiversidade, Biodiversidade e Socioeconomia, que será apresentada e discutida em consultas públicas. Com a criação desta unidade de conservação, o Governo de Goiás garantirá a proteção de importantes parcelas da biodiversidade e demais atributos naturais do cerrado goiano e proporcionará um benefício para as atuais e futuras gerações do estado. Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado de Goiás 6 INTRODUÇÃO Para apoiar a efetivação do projeto “Criação de Unidades de Conservação no Estado de Goiás” pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de Goiás, a Fundação Pró-Natureza reuniu uma equipe de profissionais com experiência nos vários temas abordados e unidades de conservação. Através da análise dos dados primários e secundários dos componentes de biodiversidade, geodiversidade e socioeconomia, contando com o apoio de imagens de satélite e sistemas de informação geográfica, foi feito um diagnóstico de 15 áreas potenciais no estado fornecidas pela Semarh-GO. A partir dessa avaliação foram escolhidas as cinco com maior representatividade dos elementos fundamentais para a conservação da geo e biodiversidade goianas, bem como o entendimento de sua inserção no ambiente econômico e político local. O resultado final visa ampliar o Sistema de Unidades de Conservação de Goiás com áreas de proteção integral. A atividade está inserida no Projeto Cerrado Sustentável Goiás, componente 1 - Proteção da Biodiversidade pela Expansão e Consolidação de Áreas Protegidas no Corredor Ecológico Paranã-Pirineus e na APA João Leite. Na seleção da categoria de unidade de conservação de proteção integral buscou-se equilibrar a necessidade de proteção de amostras das ricas biodiversidade e geodiversidade encontradas com a possibilidade da unidade representar uma fonte potencial de emprego e renda para os municípios envolvidos. Nesse contexto foram avaliadas as potencialidades do ecoturismo e turismo de aventura, os quais permitem a inserção ou expansão de serviços para os visitantes na economia local. A Funatura apresenta uma síntese dos estudos, onde foram abordados em maior profundidade os elementos que levaram à proposta da criação do Parque Estadual São Bartolomeu situado nos municípios de Alto Paraíso de Goiás, Nova Roma e Cavalcante. O parque estadual insere-se em uma matriz maior de conservação das chapadas mais altas do estado de Goiás e da região Centro-Oeste, pela vizinhança com o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e a Reserva Particular do Patrimônio Natural Cara Preta. O parque nacional já é uma das zonas-núcleo da Reserva da Biosfera Goyas e Sítio do Patrimônio Mundial Natural da Humanidade, títulos conferidos pela Unesco, o setor da Organização das Nações Unidas ligado à educação, ciência e cultura. Além dessas unidades de conservação, é contíguo à futura Estação Ecológica de Nova Roma, em processo de criação. Seus limites englobam as cabeceiras e parte das bacias dos rios São Bartolomeu, das Pedras e Almas, todos de grande importância histórica e cultural para o estado de Goiás. Além de conservar os ambientes típicos dessas chapadas e mantê-los em estágio próximo ao encontrado pelos primeiros bandeirantes a chegar ao estado, preserva as cabeceiras dos rios utilizados para turismo de aventura, ecoturismo e turismo cultural. A proteção dessas cabeceiras também é estratégica como zona de recarga dos aquíferos que irão abastecer as atividades agropecuárias do vale do rio São Bartolomeu, nos municípios de Alto Paraíso de Goiás e Nova Roma, situadas fora de seus limites, na região mais plana de seu vale. O pico do Pouso Alto, ponto culminante do estado de Goiás e de toda a região CentroOeste, é o marco desse parque estadual. A seus pés estão os campos rupestres de altitude com sua múltipla flora e fauna endêmicas, com espécies somente existentes nesse ecossistema em todo o mundo. Por todo o parque estadual existem mirantes naturais de suas belezas cênicas e do vale do rio São Bartolomeu, do rio Macacão, bem como de parte do Vão do Paranã. Os rios 7 encachoeirados, convidativos para turismo de aventura e ecoturismo, são bordejados por veredas de buritis ou matas de galeria. Nas altitudes um pouco mais baixas ocorre a mata de palmeiras, cerradão e um fragmento de mata estacional decidual ou mata seca na região próxima ao Moinho, em Alto Paraíso de Goiás. Compõem ainda o parque estadual atributos culturais importantes como resquícios de uma das primeiras regiões goianas ocupadas durante o período colonial. CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA A área de conservação é multidisciplinar desde a sua origem. O campo de criação de unidades de conservação espelha isso com bastante propriedade, por necessitar do aporte de ramos diferentes da ciência e da gestão. Nesse documento discriminam-se os resultados obtidos por cada componente setorial, sendo o esforço sintetizado na análise conjunta que resultou na proposta de unidade de conservação na área de estudo. A mesorregião da Chapada dos Veadeiros é uma das áreas com maior riqueza de biodiversidade no país, sendo objeto de vários trabalhos por especialistas de diferentes instituições e organizações não governamentais. É considerada, pelo Ministério do Meio Ambiente desde 2007, uma das áreas prioritárias para a conservação do bioma Cerrado. O Parque Estadual São Bartolomeu engloba os diferentes elementos chave para a biodiversidade e geodiversidade dessa porção do bioma. A sua localização na região nordeste do estado, onde estão vários municípios com carências socioeconômicas muito claras, possibilita a expansão de uma atividade econômica sustentável através de ações de ecoturismo centradas no parque estadual. Alto Paraíso de Goiás e, ainda em menor escala, Cavalcante já são conhecidas nacional e mundialmente como áreas centrais do turismo de aventura, cultural e ecoturismo. A criação do parque estadual possibilita a expansão dessas atividades já consolidadas localmente. Fornece também a oportunidade de agregar ao município de Nova Roma fontes novas de emprego e renda ou expandir atividades já existentes e estabelecer novas, principalmente a partir da localização de sua sede no vale do rio Paranã. Para associar a conservação dos recursos da biodiversidade e geodiversidade com a oportunidade de estabelecer uma nova atividade econômica escolheu-se como a categoria de unidade de conservação de proteção integral o parque estadual. Após a implantação do parque e elaboração de seu plano de manejo atividades ligadas ao turismo na natureza ou de aventura poderão ser estabelecidas, criando um novo pólo para essas atividades no Estado. Caracterização Física O Parque Estadual São Bartolomeu situa-se nos municípios de Alto Paraíso de Goiás, Nova Roma e Cavalcante (mapa 1). Engloba a chapada de mesmo nome, com as cabeceiras dos rios São Bartolomeu, Almas e das Pedras (mapa 2). Pelos limites propostos abrange uma área de 54.372,42ha, desde 600m de altura até o Pico do Pouso Alto, com 1.691m. 8 O planalto extenso é recortado por vales escavados das cabeceiras e formadores dos rios São Bartolomeu, Almas e das Pedras. Pela diferença de altitude existem inúmeros mirantes naturais das áreas do parque estadual e do vale do rio Macacão, ao sul do mesmo. Mapa 1. Localização do Parque Estadual São Bartolomeu em Alto Paraíso de Goiás, Nova Roma e Cavalcante, unidades de conservação e Comunidades Quilombolas próximas 9 Mapa 2. A chapada onde está localizado o parque estadual abriga as cabeceiras e áreas de recarga das bacias dos rios São Bartolomeu, Almas e das Pedras A área do parque pode ser acessada por rodovias estaduais como a GO-118 (parte da federal BR-010). Asfaltada, essa estrada faz a ligação de Goiânia e Brasília com Arraias e o restante do estado de Tocantins, além do nordeste goiano. O limite ocidental do parque acompanha seu traçado em boa parte (mapa 3). Somente na área da RPPN Cara Preta essa estrada não está nas vizinhanças dos limites do parque estadual. Ao sul passa a GO-239, via de ligação em leito natural entre Alto Paraíso de Goiás e o vale do rio Paranã. Já próxima do vale do rio Paranã recebe a GO-116, também em leito natural e se conecta com a GO-114, a qual interliga Flores de Goiás com Nova Roma. 10 Mapa 3. Estradas estaduais e federais no entorno do Parque Estadual São Bartolomeu Alto Paraíso de Goiás - Contexto socioeconômico Em um estudo da Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás (Seplan, 2011), denominado “Relatório: Caracterização Socioeconômica dos Municípios Goianos”, divulgado em abril de 2011, Alto Paraíso de Goiás é classificado – em termos de indicadores socioeconômicos – no grupo 6, onde estão os municípios com “baixo dinamismo econômico e um grau considerável de carências sociais, .... As atividades econômicas são de baixo valor agregado, havendo em muitos casos uma agricultura de subsistência principalmente no Norte e Nordeste Goiano “(p. 16 e 17). Esse grupo apresenta, pois, as piores condições sociais entre os 246 municípios existentes em Goiás, e Alto Paraíso coloca-se na posição 225, só sendo superado em 21 municípios goianos por piores condições socioeconômicas da população, de acordo com o estudo referenciado. 11 Demografia O município de Alto Paraíso de Goiás registrou um grande crescimento populacional entre 1991 e 2000, de quase 50%, taxa esta que declinou na década seguinte para pouco mais de 10%, de acordo com os dados dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A área rural do município sofreu uma redução de população no período considerado, caindo de 1.862 para 1.666 habitantes entre 1991 e 2010, e passou a representar apenas 24,2% do total, em 2010, enquanto em 1991 tinha 44,4% dos habitantes (figura 1). Figura 1: Evolução da população de Alto Paraíso de Goiás por situação de domícilio no período de 1991 a 2010 A declaração de cor ao Censo 2010, por parte da população, mostra uma predominância de pardos, que alcança quase 52% do total. O IBGE (2012) estima que, em 2012, Alto Paraíso de Goiás tinha 6.992 habitantes, um crescimento da ordem de 0,8% em relação ao ano anterior. Saúde O IBGE informava, para este mesmo ano, que o hospital geral municipal dispunha apenas de 28 leitos, e que haviaquatro ambulatórios públicos, além do que funcionava no referido hospital. O IBGE acrescenta que quatro desses estabelecimentos públicos ofereciam tratamento dentário (IBGE, 2010). Educação Na pré-escola e no ensino fundamental houve recuo significativo nos alunos matriculados na rede municipal de ensino. Por outro lado, a rede privada de ensino mostra crescimento da ordem de 100% na pré-escola e 50% no ensino fundamental. 12 A avaliação da qualidade do ensino público em Alto Paraíso, realizada pelo Inep (2012) através da pesquisa do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mostra que a rede de ensino municipal atingiu a pontuação 4,1, em 2011, relativa à 4ª série/5º ano do ensino fundamental, conseguindo superar a meta prevista para esse ano, que era de 4,0. Já a rede estadual ficou aquém da meta proposta para a 8ª série/9º ano para 2011, de 4,2, alcançando apenas 3,7 (figura 2). Prev 2011 Efet 2011 4,2 4,1 4 3,7 Mun 4ª/5º Est 8ª/9º Figura 2: Avaliação da qualidade do ensino público em Alto Paraíso de Goiás, conforme o Ideb 2011. Infraestrutura e saneamento De acordo com o Censo Populacional 2010, do IBGE, 76,8% dos moradores de Alto Paraíso tinham seus domicílios atendidos pela rede geral de distribuição de água (100% dos domicílios urbanos, inclusive do distrito de São Jorge), sendo 9,9% servidos por nascentes existentes na própria propriedade e 9,6% por nascentes fora da propriedade. Em 2008 o sistema de captação de Alto Paraíso de Goiás tratava com fluoretação apenas 84% da água que entregava. Em 2010 havia, no município, 124 domicílios que não dispunham de energia elétrica, 90% deles na área rural, com um total de 419 habitantes (6,8% do total). A coleta de lixo atendia quase 80% dos moradores de Alto Paraíso, sendo que 16% destes utilizavam caçambas do serviço de limpeza. Renda O município possui população mais pobre que a do Estado como um todo, pois enquanto neste 28,3% das pessoas com 10 anos ou mais recebiam uma remuneração mensal de até um salário mínimo (figura 3), em Alto Paraíso esse percentual eleva-se para 36,5%, de acordo com os dados do Censo Demográfico de 2010, do IBGE (2011). Segundo essa 13 fonte, a faixa de renda entre um e cinco salários mínimos abrangia apenas 25,6% das pessoas com mais de 10 anos em Alto Paraíso, enquanto no Estado registrava 32,9%. Figura 3: Distribuição da renda da população com 10 ou mais anos de vida, estratificada com base no salário mínimo, no município de Alto Paraíso de Goiás e no estado como um todo. Conforme se observou anteriormente, quase 52% da população de Alto Paraíso declarase “parda”, e os dados do Censo com relação a essa variável mostram que esse grupo populacional recebe, em média, menos da metade da remuneração daqueles que se declararam “brancos”. Políticas públicas O município possui Plano Diretor (Lei nº 617, de 18 de agosto de 2000) e conta com Conselho Municipal de Meio Ambiente (Condema) atuante. Territórios da cidadania - Aquisição de produtos agropecuários: 310 toneladas de milho, valor R$ 90.210,00; - Ampliação da cobertura dos agentes comunitários de saúde à população: 15 agentes, população coberta: 6.982 hab, repasses acumulados de R$ 117.999,00; - Ampliação do acesso da população dos territórios à atenção básica por meio da estratégia Saúde da Família: três equipes de Saúde na Família, população coberta de 6.982 hab, repasse em 2010=Zero, repasses acumulados: R$ 240.000,00; - Programa Bolsa Família. Benefício: Bolsa Família / 2010. 662 famílias atendidas, com o valor de R$ 739.622,00 executado; 14 Contexto econômico Alto Paraíso foi recentemente classificado pela Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado de Goiás como detentor de uma economia de pequeno porte – com crescimento intermediário, situando-se entre os 63 municípios desse grupo (Segplan, 2012, p. 33). Como “vocações” de Alto Paraíso o estudo (p. 34) aponta como principais a produção de soja e milho1 e na área de extração vegetal a produção de madeira em toras. Seu potencial turístico está em “ecoturismo, aventura, mirante, cachoeiras, mirantes, turismo rural, esportes náuticos, parques e sítios arqueológicos”. O município é, também, sede do Arranjo Produtivo Local de Turismo da Chapada dos Veadeiros. O número de empresas em funcionamento no município de Alto Paraíso reduziu-se em 20% entre 2006 e 2010, de acordo com o Cadastro Central de Empresas do IBGE (2012c), caindo de 279 para 222, no período considerado. O Produto Interno Bruto (PIB) municipal alcançou, em 2010, o valor de R$ 51,3 milhões, dos quais 28% gerados pelo setor primário da economia, 62% pelo setor de serviços e 10% pela indústria (figura 4). A Administração Pública é responsável por 44% do PIB do setor terciário, ou seja, dos 62% cerca de 27% são originários da atividade do setor público no município (IMB, 2013). Setor Primário 28% Serviços 62% Indústria 10% Figura 4: Distribuição setorial do PIB municipal de Alto Paraíso de Goiás em 2010, conforme o Instituto Mauro Borges (2013). Setor Primário O setor primário contribuiu com 28% do PIB municipal, em 2010. É citada, também, a produção de tangerina, que seria a segunda maior do Estado, porém em revisão recente o IBGE deixa de informar essa produção em Alto Paraíso de Goiás. 1 15 Lavouras temporárias Dentre as lavouras temporárias, em 2011 a cana de açúcar e o milho foram as que geraram maior valor, e somadas representaram quase 85% do total em 2011. Silvicultura A silvicultura registra uma forte queda na produção de carvão vegetal, entre os anos de 2007 e 2011, com sua produção reduzindo-se, em 2011, a 17% da registrada em 2007. Já a produção de madeira em tora, indicada pela Segplan (2012) como uma das “vocações” do município, reduziu-se, no último ano, a 42% da registrada em 2007 como se observa nos dados do IBGE. Pecuária e produtos de origem animal Houve um movimento de especialização no rebanho bovino, que registra um aumento de 61% no número de vacas ordenhadas, no período 2007-2011, elevando-se particularmente neste último ano, enquanto o rebanho como um todo reduziu em 7,5% no município. Setor Secundário A indústria contribuiu com 10% na geração do PIB municipal, em 2010. Segundo dados do Instituto Mauro Borges, em 2011 havia, no município, dez consumidores industriais de energia elétrica. Setor Terciário O principal setor da economia de Alto Paraíso é o de Serviços, especialmente devido ao fato de o município ter se tornado destino místico e turístico há décadas. A participação desse setor na geração do PIB municipal alcançou 62%, em 2010, aí incluída a Administração Pública, que responde por um pouco mais que um quarto do PIB total. Projetos planejados ou em execução O 3º Balanço do Plano de Aceleração do Desenvolvimento 2 – PAC-2 (2011/2014) do Governo Federal, informa que no programa “Cidade Melhor” a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a partir de novembro de 2007, aplicou cerca de R$ 3,7 milhões em “ações preparatórias” de seu projeto de implantação de esgotamento sanitário em Alto Paraíso de Goiás, investiu R$ 1,5 milhões em suas obras e outros R$ 300 mil em novas “ações preparatórias” a partir de agosto de 2011 (p. 25). Esse mesmo órgão federal investiu cerca de R$ 880 mil em obras no abastecimento de água em áreas urbanas de Alto Paraíso, desde novembro de 2007, como informa o citado documento (p. 90). Turismo ambiental e cultural Alto Paraíso de Goiás é um dos municípios que fazem parte da região turística da Chapada dos Veadeiros. O atrativo mais conhecido, nacional e internacionalmente, é o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV). O Parque é um dos Sítios do Patrimônio Mundial Natural e zona núcleo da Reserva da Biosfera Goyaz, reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), 16 em 2001. No município existe uma comunidade negra rural quilombola, denominada Vão do rio Ocão. Atualmente Alto Paraíso é o município que possui dez reservas particulares do patrimônio natural (RPPN), o maior número no Estado, e que são: Escarpas do Paraíso, Mata Funda, Fazenda Branca Terra dos Anões, Cara Preta, Vita Parque, Vale dos Sonhos, Terra do Segredo, Vale Encantado e Cachoeira dos Cristais, Caminho do Silêncio e Campo Alegre, sendo esta última a segunda maior da região, com 7.500 hectares, a primeira é a RPPN Serra do Tombador, em Cavalcante. Alto Paraíso é o município que possui a melhor infraestrutura para a atividade turística na região, conta com bancos, restaurantes, hotéis, pousadas, empresas de ecoturismo e um centro de atendimento ao turista (CAT). O distrito de São Jorge, pertencente a este município, também possui estrutura para o turismo e é onde está localizado o centro de visitantes do PNCV, sua principal entrada. A cultura regional é muito forte, e ultimamente tem sido divulgada no evento Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que ocorre anualmente no distrito de São Jorge, promovido pela organização não governamental Casa de Cultura Cavaleiros de Jorge. Nova Roma - Contexto socioeconômico Em termos dos indicadores socioeconômicos, o estudo “Relatório: Caracterização Socioeconômica dos Municípios Goianos”, divulgado em abril de 2011 (Seplan, 2011), classificada Nova Roma no grupo 6. Neste grupo estão os municípios com “baixo dinamismo econômico e um grau considerável de carências sociais,....”. Nova Roma coloca-se na posição 238, só sendo superado em oito municípios goianos por piores condições socioeconômicas da população, de acordo com tal publicação. Demografia O município de Nova Roma vem sofrendo um esvaziamento populacional nas três últimas décadas, de acordo com os dados dos censos demográficos do IBGE, quando perdeu quase 27% de sua população. A área rural do município sofreu significativa redução de população no período considerado, caindo de 3.428 para 2.045 habitantes entre 1991 e 2010 (figura 5). A queda foi de 40%, e passou a representar 58,9% do total (em 2010), enquanto em 1991 possuía 72,3% dos habitantes de Nova Roma. A declaração de cor ao Censo 2010, por parte da população, mostra uma forte predominância de indivíduos autodeclaradamente pardos, que alcança 67,4% do total. O IBGE estima que em 1 de julho de 2012 Nova Roma tinha 3.434 habitantes, uma redução da ordem de 1,1% em relação a 2010. 17 Figura 5: Evolução da população de Nova Roma por situação de domícilio no período de 1991 a 2010. Saúde Em dezembro de 2009 haviam, em Nova Roma, dois ambulatórios públicos municipais, de acordo com informações do IBGE (2010), não existindo hospital no município. Educação As matrículas nas séries iniciais do ensino fundamental, existente apenas na rede municipal, reduziram-se, em 2012, a quase a metade daquela registrada em 2005, enquanto nos anos finais as matrículas em 2012 ficaram abaixo de 40% do verificado nessa rede de ensino em 2005. Na rede estadual, no período aqui considerado, as matrículas nos anos finais do ensino fundamental ficaram em dois terços da registrada em 2005, enquanto no ensino médio houve redução de 17% no número de alunos, entre os anos focalizados. Em Nova Roma não existe escola particular, em qualquer nível. A avaliação da qualidade do ensino público em Nova Roma, realizada pelo Inep (2012a) através da pesquisa do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mostra que a rede de ensino municipal atingiu a pontuação 5,4, em 2011, relativa à 4ª série/5º ano do ensino fundamental, superando muito a meta prevista para esse ano, que era de 3,7 (figura 6). O indicador alcançado pela rede municipal ficou acima do previsto para 2021, que era de 5,2. 18 Prev 2011 Efet 2011 5,4 3,9 3,7 3,5 Mun 4ª/5º Est 8ª/9º Figura 6: Avaliação da qualidade do ensino público em Nova Roma, conforme o Ideb 2011. A rede estadual também superou a meta proposta para a 8ª série/9º ano para 2011, que era de 3,5, alcançando o valor de 3,9, valor previsto para o ano de 2013. Com esses resultados, há clara indicação de ganhos na qualidade do ensino em Nova Roma, nas redes públicas e em todas as fases do ensino fundamental. Infraestrutura e saneamento De acordo com o Censo Populacional 2010, do IBGE (2011), 83,6% dos moradores de Nova Roma tinham seus domicílios atendidos pela rede geral de distribuição de água, com os restantes servidos por nascentes existentes na própria propriedade ou fora da propriedade. Talvez por ser operada pela Prefeitura local, não há informações mais detalhadas sobre a rede de água de Nova Roma, seja no Ministério das Cidades, seja nos órgãos estaduais. A coleta de lixo atendia 42,5% dos moradores de Nova Roma, percentual que fica próximo ao de habitantes na zona urbana do município. A maioria dos domicílios (52,8%) queima o lixo que produz. Renda O município possui uma população bem mais pobre que a do Estado como um todo, pois enquanto neste 28,2% das pessoas com 10 anos ou mais recebiam uma remuneração mensal de até um salário mínimo (figura 7), em Nova Roma esse percentual eleva-se para 43,3%, de acordo com os dados do Censo Populacional de 2010, do IBGE (2011). Segundo essa fonte, a faixa de renda entre um e cinco salários mínimos abrangia 18% das pessoas com mais de 10 anos em Nova Roma, enquanto no Estado registra quase 33%. 19 Nova Roma Goiás 43,3 37,4 33,7 28,3 14,4 13,3 11,8 11,8 5,1 4,7 4,3 1,3 Até 1/2 SM até 1 SM de 1 a 2 SM de 2 a 5 SM acima de 5 SM Sem rend. Figura 7: Distribuição da renda da população com 10 ou mais anos de vida, estratificada com base no salário mínimo, no município de Nova Roma e no estado como um todo. Quase 68% da população de Nova Roma declara-se “parda”, e os dados do Censo com relação a essa variável mostram que esse grupo populacional recebe, em média, 69% da remuneração daqueles que se declararam “brancos”. As informações do Censo 2010 relativas à renda domiciliar reforçam o fato de que a população de Nova Roma é mais pobre que a média do Estado de Goiás. Enquanto 1,54% dos domicílios goianos registram um rendimento médio mensal de até meio salário mínimo (SM), no município aqui focalizado temos 5,5 vezes mais domicílios nessa classe. Acumulando-se as classes de renda domiciliar de até um salário mínimo mensal, temos 31,79% do total no município em foco e 15,19% no Estado. Entre os domicílios com renda mensal acima de dois SM, Goiás alcança 56,9% do total, enquanto em Nova Roma eles representam apenas 28,9%. Políticas públicas Territórios da cidadania - Ampliação da cobertura dos agentes comunitários de saúde à população: - 09 agentes, população coberta: 3.633 hab, repasses acumulados de R$ 73.143,00; - Ampliação à saúde bucal na atenção básica: - população coberta: 3.450 hab, repasse acumulado de R$ 33.000,00; - Ampliação do acesso da população dos territórios à atenção básica por meio da estratégia Saúde da Família: 20 - 3 equipes de Saúde na Família, populacão coberta: 3.450 hab, repasse em 2010=Zero, repasses acumulados: R$ 105.600,00; - Programa Bolsa Família. Benefício: Bolsa Família / 2010: - 462 famílias atendidas, com o valor de R$ 560.038,00 executado; Contexto econômico O município de Nova Roma foi recentemente classificado pela Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado de Goiás (Segplan) como detentor de uma “economia de pequeno porte – dinâmica”, situando-se entre os 29 municípios desse grupo (Segplan, 2012, p. 31). Como “vocação” de Nova Roma o documento indica criação de bovinos e a produção de carvão vegetal, esta situando-se como a segunda maior do Estado em 2010. Como potencial turístico, o estudo da Segplan alinha “Ecoturismo, aventura, mirante, cachoeira, turismo rural e esportes náuticos”. O número de empresas em funcionamento no município de Nova Roma reduziu-se em 24% entre 2006 e 2010, de acordo com o Cadastro Central de Empresas do IBGE (2012c), caindo de 33 para 25, no período considerado. O Produto Interno Bruto (PIB) municipal cresceu de R$ 7,4 milhões, no ano 2000, para R$ 21,6 milhões em 2005, quase triplicando em termos nominais, chegando a R$ 34,3 milhões em 2009, quase cinco vezes mais que o valor registrado no início da década, em termos nominais, conforme informações do IMB. Em 2010 subdividia-se por setores da economia em 56,1% gerado pela agropecuária, 38,2% pelo setor de serviços e 5,7% pela indústria. A Administração Pública é responsável por 55% do PIB gerado pelo setor terciário, ou seja, dos 38,2% cerca de 21,2% originam-se da atividade do setor público no município. Setor Primário O setor primário concentra as atividades econômicas que geram 56% do PIB do município. Lavouras temporárias Dentre as lavouras temporárias, em 2011 o milho e o feijão foram as que geraram o maior valor, e juntas representaram 79% do valor total dessas culturas. Extrativismo vegetal Em Nova Roma, a partir da exploração da vegetação natural, registra-se uma queda de 74% na produção de carvão vegetal, entre 2007 e 2011. A madeira em toras teve crescimento de 25% e a lenha de 10%, entre os anos considerados. No município também há coleta de pequi, que em 2007 atingiu uma produção de sete toneladas, reduzida a quatro toneladas em 2011, uma queda superior a 40%. Observa-se, também, tratar-se de uma atividade que tem maior impacto na economia local em relação a de lavouras, representando em 2011 um faturamento acima de 1,5 vezes o registrado pela produção agrícola daquele ano. 21 Setor Secundário Os dados disponíveis, do Instituto Mauro Borges (2012), indicam que o setor secundário da economia de Nova Roma contribuiu com apenas 5,7% do Produto Interno Bruto municipal em 2010. Esta fonte informa, ainda, a existência de apenas dois consumidores industriais de energia elétrica, em 2011. Setor Terciário O setor de Serviços contribuiu com 38,2% do PIB municipal de 2010, e é composto pela totalidade das empresas existentes em Nova Roma, em 2010, de acordo com dados do Cadastro Central de Empresas (IBGE, 2012c). Turismo ambiental e cultural Uma pequena parte do município é abrangida pela Área de Proteção Ambiental Estadual do Pouso Alto (cuja área total é de 695.430ha) e está sendo criada a Estação Ecológica Estadual Chapada de Nova Roma, com 6.930,86ha. Nova Roma é banhada pelo rio Paranã, um dos mais importantes da região, que no período de estiagem apresenta águas claras e várias praias. Outros rios que cortam o município são o São Bartolomeu, das Pedras, Forquilha, Areia, e ainda os córregos Morcego, Lavado, Taboca, Sisnando e Gonçalo Vieira. Os atrativos turísticos são visitados na sua maior parte apenas pela população local. Os principais atrativos são a pesca amadora, praticada principalmente no rio Paranã, e a visitação aos rios e cachoeiras. Nos rios Forquilha e das Pedras, córrego Morcego e riacho do Meio são formadas cachoeiras e corredeiras. As cachoeiras mais conhecidas do município são as do Riacho do Meio, da Faveira, da Brecha, Gêmeas da Cotia e do Salobre. A cachoeira do rio Forquilha é uma das quedas d’água mais belas de Nova Roma, mas em decorrência da dificuldade de acesso, somente com guias é possível visitá-la. As cavernas também são atrativos procurados pelos visitantes locais. As principais são do Brejão, Pedra Rica e a do Salobro. Ainda há várias paisagens a serem contempladas, formadas por nascentes, cânions, chapadões e vales. Os habitantes do município cultivam fortemente a cultura local, boa parte das festividades acontece nas comunidades, e as principais manifestações são “sussia”, “curraleiro” e a congada. Em seu território está a Comunidade Negra Rural Quilombola do Magalhães. 22 Cavalcante - Contexto socioeconômico Cavalcante – em termos de indicadores socioeconômicos – é 4º mais carente entre todos os municípios goianos, só sendo superado – em termos de piores condições de vida – por São Domingos (o pior, último colocado), Flores de Goiás (penúltimo colocado) e Monte Alegre de Goiás (antepenúltimo), de acordo com o estudo da Secretaria de Planejamento de Goiás denominado “Relatório: Caracterização Socioeconômica dos Municípios Goianos”, p. 17, divulgado em abril de 2011. Em contradição com essa situação de carência, o Produto Interno Bruto (PIB) municipal – que é a soma de todos os bens e serviços nele produzidos – atingiu um total de R$ 306,2 milhões em 2010, de acordo com as informações mais recentes do Instituto Mauro Borges (IMB), da Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado (Segplan). Para esse resultado, 81% tem origem na produção da indústria, 5% da agropecuária e 14% do setor serviços, segundo o IMB (figura 8). A perspectiva sob o ângulo da economia local fez com que outro estudo da Segplan, mais recente, classificasse o município como detentor de uma economia de médio porte – dinâmica (Segplan, 2012, p. 18). Agropecuária 5% Serviços 14% Indústria 81% Figura 8: Distribuição setorial do PIB municipal de Cavalcante em 2010 conforme o Instituto Mauro Borges (2013). O PIB por habitante em Cavalcante atingiu, em 2010, o valor de R$ 32.598,59, quase 64 salários-mínimos mensais vigentes nesse ano (R$ 510,00), ou seja, mais de cinco (05) salários-mínimos por mês, por habitante. Os dados do Censo Populacional 2010, do IBGE, mostram que o rendimento médio mensal das pessoas com 10 anos ou mais foi de R$ 733,87, ou seja, 1,4 salário-mínimo, e que 65,3% dos domicílios existentes no município tinham uma renda familiar mensal inferior a dois (02) salários-mínimos. Isso indica que a riqueza gerada no município não fica nele, deixa de beneficiar seus habitantes, e que é preciso um esforço de planejamento e investimento em atividades capazes de distribuir os resultados da atividade econômica entre a população. 23 A atividade de serviços ligados ao turismo – ecoturismo, turismo cultural e similares – tem características que podem produzir essa desejada distribuição de renda e, assim, contribuir para melhorar as condições de vida da população de Cavalcante. Chama a atenção, também, o fato de que em 2010 ainda havia, no município, 1.017 domicílios que não dispunham de energia elétrica, quase todos na área rural, com um total de 3.684 habitantes (39,4% do total), de acordo com as informações do Censo 2010, do IBGE. Certamente contribui para isso o fato de que o município ainda conta com quase a metade de sua população morando na área rural, apesar da população urbana ter mais que dobrado entre 1991 e 2010 (IBGE, Censo 2010). Demografia O IBGE estimou a população do município em 9.429 habitantes, em 1º de julho de 2012. Houve um crescimento significativo da população urbana nas últimas duas décadas, na ordem de 42% (figura 9). A população do município, no mesmo período, apresentou um acréscimo de 13% em seu total. 1991 2010 9.392 8.156 6.155 4.742 4.650 2.001 Urbano Rural Total Figura 9: Evolução da população de Cavalcante por situação de domícilio no período de 1991 a 2010. Cavalcante possui demarcada, em seu território, a Comunidade Negra Rural Quilombola Kalunga, com aproximadamente 230 mil hectares. O Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome (MDS, 2012) informa que existem 12 aglomerados quilombolas no município de Cavalcante: Altamira; Boa Esperança; Buritizinho; Engenho II; Fazenda Gerais; Parida; Pedra Preta; Vão das Almas; Vão do Moleque; Brejão; Taquarussu; e Kalunga. 24 Saúde Em dezembro de 2009, Cavalcante possuía um hospital geral municipal, com 18 leitos, e quatro centros de saúde/unidades básicas de saúde, também municipais, de acordo com informações do Ministério da Saúde (Saúde, 2010); De acordo com essa fonte, em 2008 a mortalidade infantil situava-se em 14,2 mortes por 1.000 nascidos vivos, contra 10,3 registrados em 2005 e 5,1 no ano de 2006. Educação A avaliação da qualidade do ensino público em Cavalcante, realizada pelo Inep/MEC através da pesquisa do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mostra que a rede de ensino municipal atingiu a pontuação 4,1, em 2011, relativa à 4ª série/5º ano do ensino fundamental, conseguindo superar a meta prevista para esse ano, que era de 3,9 (figura 10). Já a rede estadual tinha o Ideb de 3,6 proposto como meta para a 8ª série/9º ano em 2011, mas os seus alunos alcançaram somente 3,4 nos testes realizados, abaixo dos 3,6 registrados em 2007 e bem abaixo da média alcançada no Estado em 2011. 4,5 4 3,5 3 2,5 Prev 2011 2 Efet 2011 1,5 1 0,5 0 Mun 4ª5º Est 8ª9º Figura 10: Avaliação da qualidade do ensino público em Cavalcante, conforme o Ideb 2011. Infraestrutura e saneamento A rede geral de água abastecia 52,9% dos moradores do município, de acordo com o Censo 2010 do IBGE. Chama a atenção o fato de que em 2010 ainda havia, no município, 1.017 domicílios que não dispunham de energia elétrica, quase todos na área rural, com um total de 3.684 habitantes (39,4% do total), de acordo com as informações do Censo 2010, do IBGE. A coleta de lixo atendia 50,3% dos moradores de Cavalcante (IBGE, 2010). 25 Os resíduos sólidos são depositados em um lixão a três quilômetros da cidade, na saída para a comunidade Vão do Moleque, existindo a intenção de implantar um aterro sanitário e coleta seletiva, previstos para 2009 mas não realizados até o fim de 2011 (Fundação O Boticário, 2011, p. 124). Segundo essa fonte, a coleta de lixo hospitalar, realizada por empresa especializada, segue o modo correto de destinação. Renda O município possui uma população muito mais pobre que a média do Estado, pois enquanto neste 28,3% das pessoas com dez anos ou mais recebiam uma remuneração mensal de até um salário mínimo (figura 11), em Cavalcante esse percentual chega a 36,6% (Censo Populacional de 2010, IBGE). O rendimento médio para esses moradores (com dez anos ou mais) de Cavalcante é de R$ 733,87, e alcança R$ 1.180,94 para os habitantes de Goiás, no ano acima referido. Segundo essa fonte, a faixa de renda entre um e cinco salários mínimos abrangia 13,9% das pessoas com mais de dez anos em Cavalcante, enquanto o Estado registra 32,9%. Cavalcante Goiás 47,6 36,6 33,7 28,8 21,1 16,9 12,9 9,4 4,3 até 1/2 SM 6,4 até 1 SM de 1 a 2 SM acima de 2 SM Renda mensal em salários-mínimos sem renda Figura 11: Distribuição da renda da população com 10 ou mais anos de vida, estratificada com base no salário mínimo, no município de Cavalcante e no estado como um todo. Em Cavalcante, a população “sem rendimento”, com 10 anos ou mais, representa 47,6% do total, bem maior que a encontrada em Goiás (33,7). Políticas públicas O município possui Plano Diretor, conta com Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comma) e com o Fundo Municipal de Meio Ambiente (Fumma). 26 Territórios da cidadania - Construção de escolas em Comunidades Quilombolas (p. 16): - meta física: cinco escolas; Escola Quilombola, comunidade Kalunga; valor empenhado: R$ 794.717,33; execução pela prefeitura; - Ampliação da cobertura do trabalho dos agentes comunitários de saúde à população dos territórios da cidadania (p. 35): - meta física: 24 Agentes Comunitários de Saúde; população coberta: 10.398; valor de repasse acumulado: R$188.538,00; - Ampliação do acesso à saúde bucal na atenção básica (p. 39): - meta física: duas equipes; população coberta: 6.900; valor de repasse acumulado: R$63.000,00; - Ampliação do acesso da população dos Territórios à atenção básica por meio da estratégia “saúde da família” (p.42): - meta física: três equipes; população coberta: 6.900; valor de repasse acumulado: R$ 307.200,00; - Ampliação do acesso da população dos Territórios aos serviços de atendimento móvel de urgência – SAMU 192 (p. 46): uma unidade; - Benefício de prestação continuada de assistência social à pessoa com deficiência (p. 78): - 154 pessoas atendidas; R$929.095 pagos; INSS e CEF; - Benefício de prestação continuada de assistência social à pessoa idosa (p. 84): - 104 pessoas atendidas; R$ 656.849,00 pagos; INSS e CEF; - Programa Bolsa Família (p. 99): - 1.397 famílias atendidas; R$ 1.686.174,00; - Serviço Socioeducativo do PETI (p. 114): - 918 crianças e adolescentes atendidos; R$ 136.000,00 pagos. Contexto econômico Cavalcante foi recentemente classificada pela Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado de Goiás como detentora de uma economia de médio porte – dinâmica (Segplan, 2012, p. 18); Como “potencialidades” de Cavalcante, esse estudo aponta como principais a “criação de bovinos e a produção de madeira em tora. Como principais atividades industriais, a geração de energia e extração de manganês (1º, maior do Estado)”. Seu potencial turístico está em “ecoturismo, aventura, cachoeiras, mirantes e parques”. O número de empresas em funcionamento no município de Cavalcante aumentou 30% entre 2006 e 2010, de acordo com o Cadastro Central de Empresas do IBGE (2012), passando de 179 para 232, no período considerado. O Produto Interno Bruto (PIB) municipal em 2010 cresceu quase 65% em relação ao ano anterior, e alcançou o valor total de R$ 306,2 milhões, dos quais 5% foram gerados pelo setor primário da economia, 81% pela indústria e 14% pelo setor de serviços, em valores aproximados, de acordo com informações do Instituto Mauro Borges (2013). 27 O PIB por habitante em Cavalcante evoluiu de R$ 4.131,05, em 2000, para R$ 17.541,77 em 2005, passando a R$ 32.598,59 em 2010, o que representa um crescimento de quase 700% no período considerado, em termos nominais. Estudo da Fundação O Boticário indica que, em 2011 (p. 124/125), havia em Cavalcante, três hotéis urbanos, dois hotéis-fazenda, 11 pousadas, quatro campings, 14 restaurantes e uma operadora de turismo, 42 “condutores de visitantes” e 17 guias da comunidade Kalunga. Setor Primário O setor primário da economia de Cavalcante é responsável por 5% do PIB municipal, de acordo com as informações do Instituto Mauro Borges (IMB). Lavouras temporárias Dentre as lavouras temporárias, em 2011 o milho e o feijão foram as que geraram o maior valor, representando mais de 80% do total em 2011. Lavouras permanentes Na lavoura permanente em Cavalcante colhe-se banana e café, ficando o valor dessa produção em torno de 10% da produção agrícola local. A banana apresentou uma grande valorização no período aqui focalizado, passando de R$ 400 para R$ 1.000 a tonelada (+ 150%). O café também sofreu uma valorização entre 2007 e 2011, de R$ 3.500 para R$ 4.000 a tonelada (+ 14,3%). Extrativismo vegetal Em Cavalcante, a partir da exploração da vegetação natural, registra-se uma contínua queda na produção de lenha, madeira em tora e carvão vegetal, entre 2007 e 2010, que em 2011 prosseguiu apenas para madeira em tora. Pecuária e produtos de origem animal O rebanho bovino existente em Cavalcante, no ano de 2011, representava 0,3% do total do Estado de Goiás, e os outros principais rebanhos do município tinham participação próxima a essa no total do estado. Os rebanhos de muares, asininos e bubalinos apresentam participações maiores no total do Estado, de 3,8%, 2,6% e 1,6%, respectivamente. Observa-se uma queda no número de cabeças dos principais rebanhos, de forma geral, entre os anos considerados, à exceção dos suínos e equinos, que ficaram estáveis. Os plantéis de galos e galinhas registram forte queda, entre 2007 e 2011, em torno de 30% e 20%, respectivamentre, e o de bovinos caiu 13%. Setor Secundário O setor secundário contribuiu com cerca de 81% do Produto Interno Bruto municipal em 2010. Esta fonte informa, ainda, a existência de apenas seis consumidores industriais de energia elétrica, em 2011, que utilizaram somente 52 MWh no referido ano. As seis empresas industriais instaladas em Cavalcante recolheram menos que R$ 1 mil de ICMS aos cofres públicos, em 2011 (IMB, 2012). 28 A compensação financeira recebida pelo município, normalmente contabilizada como originada da indústria de geração de energia elétrica, devido à instalação do reservatório da UHE Cana Brava representou, em 2009, cerca de 50% do Valor Bruto da Transformação industrial do município, de acordo com informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel, 2012b) e do IMB (2012). Setor Terciário O segundo setor em importância na economia de Cavalcante é o de Serviços. A participação na geração do PIB municipal foi de 14%, em 2010. Está incluída a Administração Pública, responsável por mais da metade do valor gerado no setor terciário e que responde por 8%, aproximadamente, do PIB municipal total, de acordo com informações do IMB (2013). Dados do IBGE, do Ministério da Saúde e do Instituto Mauro Borges/Segplan-GO, indicam que o município não tem rede de ensino ou serviços médicos privados. O município conta com uma agência bancária, do Banco do Brasil, de acordo com informações do IMB, mas segundo o estudo da Fundação O Boticário (2011, p. 124), em 2011 a cidade possuia quatro agências bancárias, incluindo a que funciona na agência dos Correios, além do “Banco do Povo”. Havia em Cavalcante, ao final de 2011, três hotéis urbanos, dois hotéis-fazenda, 11 pousadas, quatro campings, 14 restaurantes e uma operadora de turismo, 42 “condutores de visitantes” e 17 guias da comunidade Kalunga conforme essa mesma fonte. Projetos planejados ou em execução A Aneel, através do Banco de Informações de Geração (BIG)2, informa que existe um projeto, em outorga, de usina hidroelétrica – tipo UHE – a ser construída no município de Cavalcante, denominada “Tamboril”, com potência instalada de 21.996 kW, de propriedade da Centrais Elétricas Rio das Almas S.A (Aneel, 2012). Entretanto, em outro documento dessa mesma fonte informa (Aneel, 2012b) que a PCH das Centrais Elétricas Rio das Almas S.A., anteriormente referida, é denominada “Santa Mônica”, com potência de 30.000kW, a ser instalada no rio das Almas, em Cavalcante. Turismo ambiental e cultural Cavalcante é um dos municípios que fazem parte da região turística da Chapada dos Veadeiros. O atrativo mais conhecido, nacional e internacionalmente, é o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV), com quase 70% de sua área inserida no território do município. O Parque é um dos Sítios do Patrimônio Mundial Natural reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2001. Atualmente, Cavalcante conta com quatro reservas particulares do patrimônio natural (RPPN): Vale das Araras, Soluar, Varanda da Serra e Serra do Tombador, sendo esta a maior do Estado de Goiás. 2 acesso em http://www.Aneel.gov.br/aplicacoes/ResumoEstadual/GeracaoTipo, em 11/09/12. 29 Meio Físico Descrevem-se aqui os principais atributos do meio físico da São Bartolomeu, situada no município de Alto Paraíso de Goiás, Nova Roma e Cavalcante. A área foi inspecionada em sobrevoo de reconhecimento e em percurso terrestre, além do conhecimento prévio dos consultores do local. Representa o Complexo Montanhoso Veadeiros – Araí, em seu segmento sul. Abrange um único domínio geoambiental, caracterizado por chapada instalada sobre quartzitos e rochas associadas do Grupo Araí. Ao sul de seus limites estende-se outro domínio, correspondente ao vale do São Bartolomeu, escavado em sedimentos pelito-carbonáticos do Grupo Bambuí. O topo da chapada é coberto por campos e cerrados rupestres, enquanto os flancos condicionam pequenas drenagens encaixadas, revestidas por matas. A ocupação humana da chapada é incipiente, porém bastante acentuada no vale ao sul do parque. A oeste se estende o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros e a RPPN Cara Preta. O mapa 4 ilustra a geologia, o relevo e os principais cursos d’água. Geologia e recursos minerais A área e entorno abrangem diversas unidades litológicas, estruturadas em torno de ENEWSW, que é a direção dessa porção da Faixa Brasília. Suas feições principais são descritas a seguir, da mais velha para a mais nova: Grupo Araí O Grupo Araí corresponde a um conjunto de rochas sedimentares e vulcânicas, com idade de formação Paleo a Mesoproterozóica (entre 2.000 e 1.600 milhões de anos), deformadas e metamorfizadas em baixo grau. Sustenta a Chapada dos Veadeiros e compreende 2 formações: Formação Arraias – composta por quartzitos e Formação Traíras – composta por quartzitos, siltitos e ritmitos. Grupo Bambuí O Grupo Bambuí ocorre ao longo do vale do rio São Bartolomeu, que se estende ao sul da área potencial, tem idade de formação Neoproterozóica (entre 800 e 600 milhões de anos). Apresenta somente uma de suas litofácies, chamada Subgrupo Paraopeba que compreende siltitos e argilitos e calcários. Coberturas detrito-lateríticas ferruginosas As coberturas detrito-lateríticas ferruginosas (N1dl) são representadas por lateritos (ou canga) com carapaça ferruginosa. Ocorrem ao sul da área, sobre as rochas do Grupo Bambuí. Podem formar depósitos supergênicos de manganês, entre outros metais. 30 Depósitos aluvionares recentes Na área em foco predominam drenagens pequenas e encaixadas, o que restringe o desenvolvimento de aluviões. Ao sul da chapada desenvolvem-se depósitos aluvionares associados aos vales amplos do rio São Bartolomeu e do seu tributário arroio Buriti. São acumulações de sedimentos de calha e de planície de inundação, compostos por areias, cascalhos, material silto-argiloso e turfa. As frações mais grossas podem conter concentrações de rutilo e zircão. O vale do rio São Bartolomeu abriga ocorrências minerais: calcário nas rochas carbonáticas do Grupo Bambuí e ouro em aluviões (mapa 4). Relevo A área é representativa do segmento sul do Complexo Montanhoso Veadeiros – Araí. Trata-se do extremo sudeste da Chapada dos Veadeiros. A partir dela estende-se o Vão do Paranã (mapa 4). O relevo da porção em foco delineia paisagens notáveis pela beleza cênica e oferece substrato para habitats variados. Quartzitos são rochas resistentes à erosão e resultam em elevações marcantes no espaço investigado. A oeste da área potencial destaca-se o pico do Pouso Alto (1.691m), ponto culminante do estado de Goiás e de toda região Centro-Oeste. A chapada alonga-se segundo E-W, com cotas predominantes entre 1.200 e 1.400m. O flanco sul mostra nítido ravinamento, com pequenas drenagens entalhadas até 600m. Essa borda acidentada recebe inúmeras denominações locais: Serra de São Pedro, Serra do Brejão e Serra da Piedade. O vale do rio São Bartolomeu estende-se ao sul em cotas entre 500 e 600m. O Vão do Paranã estende-se a leste, em cotas entre 500 e 400m. Clima Prevalece na região clima tropical de savana, com 2 estações bem definidas quanto ao regime pluviométrico. A altitude da Chapada dos Veadeiros influencia as condições climáticas locais e ocasiona temperaturas mais amenas e chuvas mais acentuadas do que no Vão do Paranã, que se estende a leste. Solos A erosão é o processo dominante na formação da paisagem. As rochas quartzosas da chapada formam solos rasos e pobres, com muitos afloramentos de rocha. Predominam cambissolos e neossolos litólicos pouco férteis. No vale ao sul, desenvolvem-se solos mais estruturados e férteis, derivados de rochas argilosas e carbonáticas. Os topos aplanados e as vertentes íngremes permanecem sem uso. O vale ao sul do parque estadual está amplamente ocupado por pecuária e cultivos de grãos. 31 Mapa 4. Geologia, relevo e hidrografia do Parque Estadual São Bartolomeu 32 Águas A chapada divide as águas de formadores dos rios das Almas (norte) e São Bartolomeu (sul), ambos da bacia do Tocantins. É a zona de recarga de inúmeras nascentes de encosta, responsáveis pela formação de pequenas drenagens encaixadas: córrego Passagem À-toa, arroio Buriti, córrego Cancela e córrego da Onça. Essas águas são utilizadas nas propriedades rurais fora do parque estadual e compõem atrativos turísticos como cachoeiras e rios encachoeirados. Os leitos têm declividade acentuada, com corredeiras e pequenas quedas dágua condicionadas a camadas de quartzitos, mais resistentes à erosão. Sobre as rochas argilo-carbonáticas, ao sul da área, os terrenos mais planos permitem o desenvolvimento de leitos meandrantes em planícies aluvionares. É o caso do baixo curso do arroio Buriti e dos rios coletores, São Bartolomeu e Macacão. Qualidade ambiental O parque estadual é representativo do Complexo Montanhoso Veadeiros - Araí, aqui estabelecido sobre rochas do Grupo Araí. O relevo da Chapada dos Veadeiros compõe paisagens com notável beleza cênica e proporciona suporte para habitats variados, em porção drenada por formadores dos rios das Almas e São Bartolomeu, da bacia do Tocantins. A oeste estende-se o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros. A cobertura vegetal da área permanece íntegra e contrasta com o vale ao sul, dominado por agropecuária. De todo modo, as drenagens correm para fora da área, o que reduz o risco de contaminação por agroquímicos (herbicidas, inseticidas e fertilizantes), além de fornecer um importante serviço ambiental para essas atividades econômicas. A leste se estende o Vão do Paranã. Assinala-se a importância da área para futuras pesquisas geomorfológicas. À maneira do Parque Nacional a oeste, as feições de relevo ali presentes podem fornecer elementos importantes para compreensão da evolução regional da paisagem e a formação de relevos residuais: sucessão climática; processos erosivos pretéritos e atuais; fases evolutivas registradas em terraços, platôs e couraças lateríticas; neotectônica, etc. 33 Foto 1: Bromelia goyazensis em afloramentos cerrado rupestre na bacia do rio São Bartolomeu. Foto: M. Brilhante 34 Vegetação Nesta área há, entre 500 e 800 m de altitude, a predominância de cerrados rupestres (vegetação associada aos ambientes rochosos), além das formações de veredas e matas de galeria que ocorrem ao longo de córregos. As formações rupestres ocorrem geralmente sobre afloramentos rochosos, em solos arenosos ou pouco profundos. As espécies mais típicas do cerrado rupestre, presentes nos remanescentes em bom estado de conservação do parque estadual, estão listadas na tabela 1. Tabela 1: Plantas presentes nos cerrados rupestres do Parque Estadual São Bartolomeu Nome Científico Anacardium humile Annona crassifolia Astronium fraxinifolium Brosimum gaudichaudii Caryocar cuneatum Cecropia sp Copaifera langsdorffii Davilla elliptica Dimorphandra mollis Dipteryx alata Eugenia dysenterica Himatanthus obovatus Hymenaea stigonocarpa Kielmeyera spp. Lafoensia pacari Magonia pubescens Paepalanthus spp. Palicourea rigida Plathymenia reticulata Pterodon pubescens Qualea grandiflora Roupala montana Salacia crassiflora Salvertia convallariodora Sclerolobium paniculatum Solanum lycocarpum Nome Comum Cajuzinho-do-cerrado Araticum Gonçalo-alves Mama-cadela Pequi Embaúba Copaíba, pau-d´óleo Lixeirinha Faveira Baru, cumbaru Cagaita Burra-leiteira Jatobá Pau-santo Pacari Tingui Sempre-vivas, chuveirinho Bate-caixa Vinhático Sucupira-branca Pau-terra Carne-de-vaca Bacupari Folha-larga Carvoeiro Lobeira Na região sudoeste dessa área potencial também foi observado o predomínio de cerrado s.s. rupestre em áreas acima de 600 m e, nas vertentes, matas de galeria e matas secas. Nas matas de galeria de afluentes do rio São Bartolomeu da região sul da área potencial ocorre com frequência Guadua sp. (taboca) em densos agrupamentos, como possível indicação de distúrbios freqüentes como o fogo. Nas vertentes, árvores formam um mosaico entre mata e cerrado stricto sensu (típico), com predominância de Sterculia 35 striata (chichá), Dipteryx alata (barú), Acrocomia aculeata (macaúba), Caryocar cuneatum (pequi), Lafoensia pacari (pacari), Tabebuia caraiba (caraíba), Alibertia concolor (marmelada de cachorro), Magonia pubescens (tingui), Roupala montana (carne-de-vaca), Hancornia speciosa (mangaba), Pseudobombax longiflorum (imbiruçú), Cybistax antissifilitica (ipê-verde), Qualea parviflora (pau-terrinha), Davilla elliptica (lixeirinha) e Palicourea rigida (bate-caixa). Dentre as espécies registradas, várias são utilizadas como frutíferas ou oleaginosas (babaçu, cajuzinho-do-cerrado, baru, cagaita, pequi, jatobá e araticum), medicinais (paud´óleo ou copaíba, pacari, sucupira-branca, bate-caixa e mama-cadela) e madeireiras (gonçalo-alves e peroba). A probabilidade de ocorrência de espécies raras (com populações pequenas) e endemismos (restritos a essa área e adjacências) é bastante elevada na região da São Bartolomeu. Como a maior parte das espécies raras na mesoregião da Chapada dos Veadeiros está associada aos campos, é provável o incremento dos números desses grupos com o desenvolvimento de mais pesquisas no local. As espécies ameaçadas registradas em campo incluem o baru Dipteryx alata e pacari Lafoensia pacari. A região tem um amplo potencial de abrigar espécies raras e com potencial ornamental, principalmente das famílias das sempre-vivas (Eriocaulaceae) e dos pireques (Xyridaceae), mas as dificuldades de acesso durante os trabalhos de campo limitaram o registro das mesmas, mais típicas dos campos e cerrados rupestres em regiões acima de 900 m. Os afloramentos rochosos que caracterizam os campos e cerrados rupestres na região limitaram as atividades agropecuárias e ainda permitem atualmente um bom estado de conservação para os remanescentes naturais nesse polígono. Porém, a pecuária é a maior ameaça à integridade da vegetação nativa nessa área potencial, principalmente para as formações florestais nas vertentes da região sul. O fogo, ainda muito utilizado para a renovação de pastagens, tem um potencial elevado de impactar em especial essas formações vegetacionais. Exemplos desse impacto incluem a fragilidade de um fragmento ainda importante de mata seca que ocorre externamente a essa área potencial, às margens do rio São Bartolomeu, na região sudeste. Os municípios que compõem a área potencial São Bartolomeu registraram dados de literatura de 67 espécies raras (espécies com populações reduzidas naturalmente), 38 endêmicas (espécies da região) e 10 ameaçadas de extinção. Os padrões muito elevados de riqueza (número de espécies), diversidade beta (composição de espécies entre diferentes áreas), endemismos e raridades da flora tornam a mesorregião da Chapada dos Veadeiros como um todo uma área prioritária para a criação de áreas protegidas (Felfili et al., 2007; Lenza et al., 2011; Medeiros et al., 2012). Felfili et al. (2004) apontaram a necessidade de estabelecer uma rede de áreas protegidas e corredores ecológicos nessa região. Considerando as áreas ainda em bom estado de conservação e as características da flora da mesorregião da Chapada dos Veadeiros, o PE São Bartolomeu é essencial para o estabelecimento dessa rede de áreas protegidas. 36 Fauna A região do nordeste goiano destaca-se pela presença de dois ambientes especiais para anfíbios e répteis, onde são encontradas espécies raras e de distribuição restrita: os cerrado de altitude sobre rochas e as matas secas, associadas a solos ricos em calcário. Algumas espécies de répteis e de anfíbios ocorrem apenas na região do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros e Parque Estadual São Bartolomeu, como a perereca Hypsiboas ericae e a rãzinha Leptodactylus tapiti. Com isso esta região se destaca como uma área muito importante para conservação da fauna do Cerrado. O Cerrado abriga pelo menos 837 espécies de aves, sendo pelo menos 607 delas conhecidas do estado de Goiás. O estado abriga 19 espécies ameaçadas de extinção e 24 quase ameaçadas globalmente, 22 aves são consideradas ameaçadas conforme a lista do Ministério do Meio Ambiente. A principal ameaça à conservação das espécies de aves ameaçadas é a destruição dos ambientes naturais provocada por ações humanas. A transformação da paisagem afeta principalmente as espécies mais exigentes, com baixa capacidade reprodutiva, dependentes de ambientes específicos e com distribuição restrita. Além desse fator, a captura ilegal para o tráfico de animais silvestres pressiona diretamente algumas espécies, principalmente psitacídeos e pássaros canoros. Alguns ecossistemas são especialmente importantes para a conservação da fauna no estado de Goias como as matas secas, ambientes alagados e campos rupestres. A mata seca é a formação florestal potencialmente mais ameaçada de todo o mundo, onde ocorrem três espécies de aves restritas a este ambiente: ciganinha Pyrrhura pfrimeri, maria-preta-do-nordeste Knipolegus franciscanus e piolhinho-do-grotão Phyllomyias reiseri, além do mocó Kerodon acrobata e de diversas espécies de anfíbios e répteis que não vivem em nenhum outro tipo de ambiente. O cerrado vem sofrendo rápido declínio nas últimas décadas em decorrência da expansão do agronegócio, de modo que de 36 espécies de aves exclusivas do Cerrado com ocorrência em Goiás, 22 estão ameaçadas de extinção. Por fim, os campos rupestres nas porções mais elevadas das chapadas do nordeste de Goiás abrigam aves endêmicas do Cerrado, anfíbios de distribuição restrita que só se reproduzem em riachos e várias espécies ameaçadas de extinção. Considerando 117 espécies de aves típicas do Cerrado ou Mata Atlântica e/ou ameaçadas de extinção com ocorrência em Goiás, 35 não possuem registro oficial em nenhuma unidade de conservação de proteção integral do estado. Outras 38 espécies foram catalogadas em apenas uma unidade de conservação, demonstrando que mais de 62% destas espécies não estão bem representadas nas áreas protegidas de Goiás conforme os dados disponíveis. De 51 espécies de mamíferos ameaçados e/ou endêmicos com ocorrência em Goiás, 25 não foram registradas em nenhuma das Unidades de Conservação do estado. Trata-se de um valor significativo que ressalta a importância de estudos específicos que contemplem a ocorrência desses grupos e seus habitats. O planejamento da conservação desses habitats mapeia as áreas prioritárias para preencher essas lacunas e a criação do Parque Estadual São Bartolomeu se insere nesse esforço a nível estadual e nacional. 37 Métodos Para a realização dos trabalhos diferentes métodos científicos bem estabelecidos foram utilizados. A região do Parque Estadual São Bartolomeu apresenta rios de pequeno porte. Foram realizadas amostragens em quatro trechos de rios (Foto 2). As capturas foram feitas por meio de peneiras, redes de arrasto e rede de espera. Os levantamentos de anfíbios e répteis foram realizados nos diversos ambientes acessíveis dentro da área de estudo. Foram amostrados ambientes de cerrado e floresta, contemplando-se tanto os ambientes terrestres quanto as drenagens. Um total de 13 pontos de amostragem foram utilizados para inventariar a herpetofauna da região (Foto 3), sendo feitas capturas por meio de buscas ativas de dia e à noite. A amostragem de avifauna e mastofauna na São Bartolomeu foi conduzida em 9 pontos de amostragem que avaliaram diferentes ecossistemas: pastagem, campo limpo, cerrado típico, cerrado rupestre, campo rupestre, cerradão, vereda, mata ciliar, mata de galeria e mata estacional. A maioria apresentou a configuração de mosaico típica do Cerrado (Foto 4). As aves foram identificadas por observação visual direta e/ou detecção auditiva de sua vocalização específica. O levantamento de mamíferos foi focado na detecção de espécies de médio e grande porte. O principal método utilizado foi observação direta e registro de pegadas, fezes e tocas. Para complementar o levantamento de dados foi utilizada uma armadilha fotográfica com sensores de movimento (Tigrinus, modelo 6.0). Foto 2: Ponto de amostragem no rio São Bartolomeu. Foto: P. Aquino. Foto 3: Ponto de amostragem em cerrado e mata de galeria. Foto R. Recoder. Foto 4: Ponto de amostragem em mata seca ou decidual, com outros ecossistemas próximos. Foto: Aves Gerais. 38 Peixes Nos rios pequenos as comunidades de peixes não apresentam grandes variações de composição entre as estações. O pequeno porte dos indivíduos não permite que eles realizem grandes deslocamentos, tornando assim as populações isoladas e características para cada trecho. As amostragens realizadas no Parque Estadual São Bartolomeu resultaram no registro de 15 espécies, distribuídas em cinco famílias e duas ordens. A família com mais representantes foi a dos lambaris, piranhas e assemelhados (Characidae) oito espécies. Apesar de não ter sido coletada, existem registros de pirapitinga Brycon nattereri nas bacias próximas à poligonal proposta para criação da Unidade de Conservação. Essa espécie encontra-se na Lista Nacional de Invertebrados Aquáticos e Peixes Ameaçados de Extinção (Instrução Normativa 05/04), incluída na categoria vulnerável. As espécies de lambaris exclusivos da região do Alto Tocantins Astyanax goyanensis, Astyanax unitaeniatus e Ancistrus aguaboensis foram registradas em São Bartolomeu. São características de cursos d`água encaixados de cabeceiras, com suas águas correntes, claras e substrato composto predominantemente por cascalho e seixos. Anfíbios e Répteis Foram registradas 24 espécies de anfíbios e répteis em São Bartolomeu, sendo 14 anfíbios, sete lagartos, um quelônio e duas serpentes. Onze espécies são exclusivas do Cerrado, das quais três estão restritas ao Planalto Central ou Chapada dos Veadeiros: os anfíbios Bokermannohyla pseudopseudis, Leptodactylus tapiti e Phylomedusa oreades. Merece destaque o registro da lagartixa Lygodactylus klugei, que não era previamente conhecido desta região. L. klugei tem diversos registros na Caatinga, mas no Cerrado foi amostrado apenas em São Domingos. Outro registro de grande destaque na região de São Bartolomeu foi a rãzinha Leptodactylus tapiti, uma espécie descrita em 1978, a partir de exemplares coletados no Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (Sazima e Bokemann, 1978). Além da série-tipo, apenas recentemente foram coletados novos indivíduos, também dentro dos limites do Parque Nacional. Este é o primeiro registro da espécie fora dos limites do mesmo e reforça a importância da região de São Bartolomeu para conservação de espécies raras de anfíbios. Foto 5: Perereca Phyllomedusa oreades. Foto: R. Recoder. Foto 6: Lygodactylus klugei. Foto: R. Recoder. 39 Aves Duzentas e onze espécies de aves foram catalogadas em São Bartolomeu. Vinte e cinco espécies de maior interesse para conservação foram identificadas, sendo 12 ameaçadas de extinção, 15 exclusivas do Cerrado e quatro espécies típicas da Mata Atlântica. Seis espécies estão categorizadas simultaneamente como endêmicas e ameaçadas, justificando o valor final. Merece destaque o encontro das seguintes espécies: (1) Inhambu-carapé (Taoniscus nanus) - menor espécie da família das codornas, registrada apenas nos campos rupestres, é considerada exclusiva do Cerrado e ameaçada de extinção; (2) Maracanã (Primolius maracana) - essa ararinha ameaçada possui ampla distribuição geográfica ao sul da Amazônia, entretanto sofreu fortes reduções populacionais devido à perda de seu habitat e captura para o comércio ilegal; (3) limpa-folha-do-brejo (Syndactyla dimidiata) exclusividade das florestas do Cerrado, categorizada como em perigo de extinção em Minas Gerais e ocorre em baixa densidade na maior parte de sua distribuição; (4) piolhinho-do-grotão (Phyllomyias reiseri) - espécie exclsiva do Cerrado associada às matas secas; (5) papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta) - pequena ave exclusiva do Cerrado classificada como ameaçada de extinção; (6) maria-preta-de-gargantavermelha (Knipolegus nigerrimus) - espécie típica da Mata Atlântica, com poucos registros em Goiás; (7) flautim (Schiffornis virescens) - espécie típica da Mata Atlântica e pouco comum em Goiás; (8) tico-tico-de-máscara (Coryphaspiza melanotis) - espécie singular e considerada ameaçada de extinção. Foto 7: Mineirinho ou carvoeiro Charitospiza eucosma, espécie campestre de São Bartolomeu considerada como ameaçada de extinção no bioma Cerrado. Foto: Aves Gerais. Mamíferos O estudo de campo no Parque Estadual São Bartolomeu detectou 20 espécies de mamíferos, sendo nove espécies de maior destaque para conservação, das quais sete são ameaçadas de extinção e duas endêmicas do Cerrado. Merece destaque o registro das seguintes espécies: (1) Anta (Tapirus terrestris) - maior mamífero terrestre brasileiro, alcançando 260Kg (Paglia et al. 2012). Ocorre, preferencialmente, em hábitats florestais úmidos onde se alimenta de folhas, frutos e flores. A destruição de seu habitat e a caça são as principais causas do declínio populacional; (2) Veado-campeiro (Ozotoceros 40 bezoarticus) - associado a campos abertos do Cerrado, Pantanal e Pampas, o veadocampeiro ocorre na região central e sul do Brasil e consta na lista global e de Minas Gerais. A perda de habitat e a caça são os principais fatores que ameaçam a espécie que já foi extinta em várias localidades do país. (3) Tatu-canastra (Priodontes maximus) maior tatu existente, de hábito noturno e fossorial, difícil de ser observado. Apesar da ampla distribuição, é naturalmente raro e está ameaçado. 4) Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) - presente nas listas de espécies ameaçadas global, nacional e de Minas Gerais; (5) Mocó (Kerodon acrobata) - Endêmico do Cerrado, está estritamente associado aos afloramentos de calcário e matas secas do nordeste goiano, com provável ocorrência em Tocantins. Foto 8: Veado-campeiro Ozotoceros bezoarticus em campo recém-queimado de São Bartolomeu em outubro de 2012. Foto: Aves Gerais. Tabela 2. Espécies da fauna detectadas durante os trabalhos Peixes Anfíbios Répteis Aves Mamíferos Total de Espécies Listadas 15 14 10 211 20 Espécies mais Destacadas para Conservação 8 3 25 8 41 Atributos Principais Como resultado dos diferentes trabalhos temáticos foram levantados os principais atributos de geodiversidade, biodiversidade, socioeconômicos e de conservação relacionados ao Parque Estadual São Bartolomeu. Eles estão em consonância com o exposto nas leis do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, do Sistema Estadual de Unidades de Conservação e legislação ambiental (Lei 9.985/2000 - SNUC e Lei 14.247/2002 – SEUC) Objetivo São Bartolomeu 01. Preservar a diversidade biológica Fitofisionomias e fauna dos campos e cerrados de altitude, os de maior altura no estado e na região Centro-Oeste. 02. Preservar/restaurar amostras de ecossistemas Campos rupestres e cerrado de altitude: Cerrado sensu strictu; Cerradão; Fragmento de mata seca na região próxima ao Moinho. Baru Dipteryx alata e pacari Lafoensia pacari; Espécies raras nos campos rupestres e limpos de altitude; Três espécies de peixes endêmicos do alto Rio Tocantins; 03. Proteger espécies raras, endêmicas ou Espécies de répteis e anfíbios endêmicas do bioma nas formações rupestres e riachos ameaçadas de extinção de encosta; Doze aves ameaçadas e dezenove endêmicas (15 do Bioma Cerrado e 4 do Bioma Mata Atlãntica); Sete mamíferos ameaçados e dois endêmicos do Bioma Cerrado. Uso como fonte de frutos e oleagionosas englobam sete espécies; Plantas medicinais somam 5 espécies; Duas árvores utilizadas como fontes de madeira; 04. Preservar recursos da flora e da fauna Plantas ornamentais como pireques e sempre-vivas; As cabeceiras são as áreas de desova dos peixes ameaçados; Peixes com uso ou potencial para aquariofilia; 05. Proteger paisagens e belezas cênicas Planalto extenso com alguns vales encaixados; Borda do planalto com o vale do rio Macacão e vale do rio Paranã, produzindo áreas de rara beleza cênica. 06. Proteger recursos hídricos e fluxo de recursos hídricos Cabeceiras do rio das Almas, do rio das Pedras, do rio São Bartolomeu e ribeirão da Forquilha, todos com importância para o abastecimento de água regional, locais de ecoturismo ou turismo de aventura já estabelecidos e uso em atividades agropecuárias a jusante. Zona de recarga de vasto grupo de cabeceiras de importância local e regional. 42 Objetivo São Bartolomeu Assinala-se a importância da área para futuras pesquisas geomorfológicas. À maneira do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, a oeste, as feições de relevo presentes fornecem elementos importantes para compreensão da evolução regional 07. Propiciar pesquisa científica e estudos da paisagem e a formação de relevos residuais: sucessão climática; processos erosivos pretéritos e atuais; fases evolutivas registradas em terraços, platôs e couraças lateríticas; neotectônica 08. Propiciar educação ambiental com conscientização Implementar programas de educação ambiental com visitas a campo, para consolidar conceitos e a consciência da importância que o patrimônio da UC tem para a preservação de ambientes que futuras pesquisas poderão encontrar descobertas relevantes para a Humanidade 09. Propiciar visitação com recreação (ecoturismo) Potencial ecoturístico: Rios encachoeirados; Encostas com aclive forte com condições para escalada; Mirantes naturais do entorno nas regiões mais elevadas; Campos limpos e rupestres produzem paisagens atrativas para fotografia, meditação e outros usos indiretos; Aves ameaçadas e comunidades de matas e campos atrativas para observadores de aves; Mamíferos de porte no cerrado possibilitam seu uso em ecoturismo; 10. Contribuir para o monitoramento ambiental Papel relevante 11. Contribuir para o entendimento da relação entre o fluxo hídrico, as paisagens naturais e a biota como elementos Papel relevante fundamentais para a manutenção dos processos ecológicos responsáveis pela biodiversidade local. 12. Contribuir para a implementação dos objetivos da Convenção da Diversidade Biológica. Papel relevante 13. Contribuir para implementação da Convenção RAMSAR. Não se aplica 14. Ampliar e consolidar os ganhos de qualidade na área da educação As recentes avaliações do Ideb/Inep indicam que está sendo dada atenção à melhoria da qualidade do ensino, o que poderá ser "turbinado" com a instalção da UC e implementação de grupos de pesquisa que envolvam a comunidade e, em especial, as escolas, com os técnicos interagindo com e capacitando os docentes. 15. Abertura de novos horizontes, ampliando perspectivas de vida para a população A interação com turistas de outras culturas e perpectivas trará nova perspectiva de vida para a população, o que somado à melhoria da qualidade de vida irá contribuir para a permanência de novas gerações no município. 43 Objetivo 17. Geração de ocupação e renda, redução da pobreza São Bartolomeu Além das pessoas diretamente contratadas para a criação e manutenção da UC, o fluxo turístico irá gerar demanda para setores como alojamento e alimentação, educação, guias turísticos e toda a infraestrutura que é necessária para oferecer condições adequadas à recepção de turistas. Essas condições já existem em Alto Paraíso, mas não em Nova Roma. Seria, então, a ampliar e proporcionar ainda melhores condições na qualidade do atendimento em Alto Paraíso e seu desenvolvimento em Nova Roma. Bibliografia FELFILI, J.M.; SILVA-JÚNIOR, M.C.; SEVILHA, A.C.; FAGG, C.W.; WALTER, B.M.T.; NOGUEIRA, P.E.; RESENDE, A.V. 2004. Diversity, floristic and structural patterns of cerrado vegetation in Central Brazil. Plant Ecology 175: 37-46. FELFILI, J.M.; SILVA-JÚNIOR, M.C.; WALTER, B.M.T.; REZENDE, A.V.; SILVA, P.E.N.; FELFILI, M.C. 2007. Comparação dentro e entre sistemas de terra na Chapada dos Veadeiros. In: FELFILI, J.M.; REZENDE, A.V. & SILVA-JÚNIOR, M.C. (Eds.). Biogeografia do Bioma Cerrado: Vegetação e Solos da Chapada dos Veadeiros. UnB/Finatec: Brasília. p.97-110. LENZA, E.; PINTO, J.R.R.; PINTO, A.S.; MARACAHIPES, L.; BRUZIGESSI, E.P. 2011. Comparação da vegetação arbustiva-arbórea de uma área de cerrado rupestre na Chapada dos Veadeiros, Goiás, e áreas de cerrado sentido restrito no bioma Cerrado. Revista Brasileira de Botânica 34 (3): 247-259. MEDEIROS, M.B.; WALTER, B.M.T.; SILVA, G.P.; GOMES, B.M.; LIMA, I.L.P.; SILVA, S.R.; MOSER, P.; OLIVEIRA, W.L.; CAVALCANTI, T.B. 2012. Vascular flora of the Tocantins river middle basin, Brazil. Check List 8 (5): 852-885. 44